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XVI ENG Encontro Nacional de Geografia Porto Alegre O movimento pendular na Cidade-região de São Paulo

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XVI ENG – Encontro Nacional de Geografia – Porto

Alegre 20010

O movimento pendular na Cidade-região de São Paulo

Leonardo Araujo Cardeal da Costa Instituição: Departamento de Geografia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.

Universidade de São Paulo E-mail institucional:leonardo.araujo.costa@usp.br

Raquel Oliveira da Silva Instituição: Departamento de Geografia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.

Universidade de São Paulo E-mail institucional:raquel.oliveira.silva@usp.br

INTRODUÇÃO

Os dados do Censo Demográfico 2000 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que mais de sete milhões de pessoas trabalham e/ou estudam em municípios distintos daqueles onde moravam. Esses deslocamentos (aqui identificados como movimentos pendulares), em especial, no Estado de São Paulo, entre as Regiões Administrativas de São José dos Campos; Sorocaba; Baixada Santista; Campinas e Região Metropolitana de São Paulo, - regiões que conformam a Cidade-região de São Paulo -, também se mostram como um fenômeno urbano relevante e a partir disso, o trabalho almeja compreender como se manifestam esses deslocamentos (do morar e trabalhar em municípios distintos).

Essas regiões formam o conjunto denominado cidade-região de São Paulo onde as percepções dos limites entre os municípios perdem a nitidez e nem sempre são visíveis as fronteiras municipais devido às conurbações urbanas e, também, a mesmice da paisagem

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(LENCIONI; 2005: 8). Esta cidade-região, segundo Sandra Lencioni, é “um produto associado à reestruturação produtiva” e está relacionada à “dispersão territorial da indústria” (e à concentração territorial das indústrias inovadoras e mais dinâmicas); “ao processo de metropolização do espaço” (que acaba por imprimir características metropolitanas a outros espaços, independentemente de estarem no centro metropolitano); “à revolução da informática e das comunicações”; “ao desenvolvimento de determinadas condições gerais de produção e às transformações no mundo do trabalho”. (LENCIONI; 2005: 8).

A importância dos estudos sobre os movimentos pendulares se deve muito à grande dinâmica populacional e econômica encontrada na cidade-região de São Paulo, que também tem por característica apresentar assimetrias econômico-sociais entre os municípios que a compõe. Desse modo, pretende-se discorrer, primeiramente, sobre o conceito de movimento pendular, apresentando um histórico do debate em torno desse conceito. A partir de idéias, usos e empregos de terminologias referentes a esse fenômeno de deslocamento urbano, discute-se qual seria a melhor forma de utilização desse termo.

O movimento pendular é considerado, nesse estudo, como uma mobilidade populacional interurbana, mais precisamente, entre os municípios que formam cidade-região de São Paulo, através das pessoas que moram e/ou estudam em lugares diferentes de onde residem.

OBJETIVOS

O objetivo desse texto é analisar, a partir das redes territoriais (da rede urbana em questão), os movimentos pendulares existentes entre os municípios que pertencem à cidade-região de São Paulo, nos anos 2000, e sua relação para compreender de que forma esses deslocamentos populacionais contribuem para a coesão interna da cidade-região de São Paulo. Por fim, a partir desse estudo, o texto busca relacionar o movimento pendular com o processo de desenvolvimento da cidade-região de São Paulo, por meio da interpretação dos mapas da REGIC 2008 – Regiões de Influência das Cidades, visto que esta pesquisa se encontra em estágio de levantamento e revisão bibliográfica.

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Para essa pesquisa trabalhamos primeiramente com a busca de fonte bibliográfica, a partir de um quadro teórico de referências e uma boa revisão bibliográfica; com fontes secundárias ou documentais com análise de documentos, estatísticas (censos do IBGE 2000 e a REGIC, por exemplo) com o intuito de dar uma concretude maior ao trabalho, corroborado com boas bases empíricas, e por fim, pesquisas específicas (fonte primária), produzindo informação própria, apontando aspectos que não encontramos nos dados documentais, a partir de trabalhos de campo, visando chegar a um quadro verossímil do fenômeno, por meio de entrevistas (uma estratégia qualitativa de atores diretamente envolvidos) em prefeituras de alguns municípios que conformam da cidade região de São Paulo.

‘MOVIMENTO PENDULAR’, UMA REVISÃO DE CONCEITO

A abordagem sobre mobilidade populacional é um tema tradicional à Geografia Urbana (principalmente para a geografia francesa clássica), e nesse início de século XXI essa questão não poderia fugir do debate sobre as cidades, sua forma, função e estrutura, que acaba por originar novas relações cotidianas entre pessoas e lugares. Por isso, em primeiro lugar, é essencial revisar o conceito de “movimento pendular”, sugerindo uma discussão de qual seria a melhor denominação para esse fenômeno.

O estudo de movimentos pendulares está muito relacionado coma identificação da áreas de influência das cidades (daí a necessidade de analisar a REGIC – Região de Influencia da Cidades – realizada pelo IBGE, bem como a Teoria dos Lugares Centrais de Walter Christaller e os estudos sobre rede urbana do geógrafo francês Michel Rochefort).

O movimento pendular é uma das expressões empíricas que podem caracterizar a vida urbana atual, aumentando a importância dos transportes, sobremaneira o individual. Nesse aspecto, é candente considerar a grande diversidade do uso do termo em expressões, ora aparecendo como “movimento pendular”; ora como “migração pendular”, ou mesmo uma terminologia americana chamada “commuting”.

Um grande crítico sobre tais denominações é o geógrafo francês Max Derruau, que prefere optar pela expressão “migrações alternantes” em detrimento do termo “movimento pendular”. Para esse autor:

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“Nos agrupamentos urbanos, quer se trate de complexos urbanos ou de regiões urbanas, produzem-se intensas deslocações entre os locais de residência e os locais de trabalho. (...) A estas deslocações quotidianas entre a residência e o local de trabalho chama-se migrações alternantes ou movimentos pendulares. Este último termo está mal empregue. A deslocação é comparada à oscilação de um pêndulo, mas a diferença entre aquela e este provém do fato de o pendulo ter um movimento contínuo enquanto na migração dita pendular, existe um duplo estacionamento, no local de trabalho e no local de residência.” (DERRUAU, 1973: 249).

Neste trabalho adota-se o uso do termo “movimento” pendular em relação à “migração” pendular, por determinar que tal fenômeno envolva um deslocamento diário, não acarretando uma fixação definitiva para outro lugar. Assim, “a natureza dos deslocamentos pendulares difere substancialmente da compreendida pelos movimentos migratórios, embora ambos impliquem fluxos de pessoas no território”. (MOURA; BRANCO; FIRKOWSKI, 2005).

A grande diferença é que a migração compreende mudança de residência, os movimentos pendulares abarcam deslocamento entre os municípios de residência e outros municípios, com as finalidades, nesta pesquisa, de estudo e/ou trabalho.

DO MEIO TÉCNICO AO MEIO TÉCNICO CIENTÍFICO INFORMACIONAL – REFORÇANDO OS MOVIMENTOS PENDULARES NA CIDADE REGIÃO DE SÃO PAULO

Um dos principais conceitos para qualquer estudo em Geografia Humana é o conceito de período (sistema temporal). Pode-se fazer da periodização um recurso de método na análise geográfica. A periodização permite estabelecer o que é contemporâneo e o que é herança, é um recurso teórico que não nos permite se separar da história, para não sermos anacrônicos. É primordial dominar o que se compreende sobre espaço e sobre a divisão do tempo em períodos, como disse J. P. Sartre que o entendimento do mundo é dado pelas coisas, pelo Período, a Época. (SARTRE,1990 apud. SANTOS, 2008).

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Cada sistema temporal possui uma (ou mais de uma) variável chave; ela é quem hierarquiza as demais, e a combinação resultante dá estabilidade ao sistema. Assim, a ascensão de uma variável chave nova gera uma crise no sistema temporal instalado, podendo mudá-lo em definitivo, permitindo abordar rupturas no pacto de poder e na modernização tecnológica. Um caso de uma das variáveis chave no período histórico (atual) seriam as técnicas informacionais.

A primeira fase, a de sua construção e difusão do meio técnico-científico-informacional, a partir dos anos 1970, em que se realizou no país, uma grande revolução na área de telecomunicações, a partir da qual o território nacional como um todo deixa de ser

“um arquipélago de mecanização incompleta em que o desenvolvimento urbano era conseqüência imediata da combinação de dois fatores principais: a localização do poder político-administraitivo e a centralização correspondente dos agentes e das atividades econômicas”. (SILVEIRA & SANTOS, 2001).

Posteriormente, uma segunda fase, mais recente, já com a globalização, em que informação e finanças (que acabam se tornando conceitos muito semelhantes) adentram aos estudos de uma geografia renovada, diferenciando os lugares segundo a presença ou ausência de novas variáveis chaves, como a indústria de alta tecnologia.

A partir, da década de 1970, devido à modernização nas comunicações, criam-se maiores possibilidades de fluidez pelo território – fluidez potencial, evidenciada pela presença das infra-estruturas e uma fluidez efetiva, expressada pelo seu uso -, especialmente o território paulista onde se ampliam as redes de transporte que se tornam mais densas e moderna, essencialmente, rodoviário, mas também aeroviário, hidroviário e metro-ferroviário, que de certa forma, possibilitou a formação das cidades médias e acentuou as dinâmicas dos movimentos pendulares.

Todavia, nesse período aumentou-se a convergência à centralização e à concentração da economia, bem como à concentração geográfica e à concentração de renda. Também, nessa época, o processo de urbanização alcança um novo patamar, chegando ao estagio de “metropolização” (LENCIONI, 2003).

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As trocas aumentam e como conseqüência eleva-se a organização do terciário, tanto de serviços públicos como particulares, também de transportes e de bancos. Inicia-se um uma internacionalização dos processos de produção, já que boa parte do aparato produtivo passa a ser subordinado aos recursos exteriores e os recursos internos são menos usados, gerando uma tendência de crescimento do setor terciário e da urbanização.

Chega-se a uma nova etapa, o meio técnico-científico-informacional passa o sofrer influências diretas da globalização. A convergência entre ciência técnica da década de 1970 alia-se com os novos e poderosos recursos da informação, provenientes do período da globalização (que esconde a dinâmica mercadológica), e assim, o mercado, atrelado a ciência, a técnica e a informação torna-se um mercado global.

Dessa maneira, o território adquire novos conteúdos e impõe novas lógicas, muito em conta das grandes possibilidades de produção e, de forma geral, da circulação dos fluxos materiais e imateriais como os insumos, os produtos, o dinheiro, as idéias, as informações, as ordens e os homens, aumentando as práticas dos movimentos pendulares. É o meio-técnico-científico se realizando sobre o território, sobre a rede urbana, sobre a cidade região de São Paulo. Assim, na rede urbana estudada vem ocorrendo uma diminuição relativa do crescimento metropolitano, crescimento acentuado das metrópoles regionais e aumento da importância das cidades médias no contexto da cidade-região de São Paulo, o que gerará novas redes de influencia, de hierarquia das cidades, bem como uma transformação das funções e formas de tais.

A metrópole de São Paulo pode ser um exemplo disso, ela é resultado de uma urbanização que produziu uma aglomeração difusa, conurbando cidades que se expandem por uma vasta área.

Nos dias atuais, a aglomeração na metrópole de São Paulo ocorre de maneira dispersa, implicando numa metrópole que se apresenta territorialmente de forma espraiada, o que ocasiona como bem constata Sandra Lencioni (2008: 4) um “maior tempo de deslocamento de seus habitantes, maior tráfico de veículos e maior movimento pendular entre o local de moradia e o local de trabalho”.

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Na cidade-região de São Pulo, por estar intensamente urbanizada, já não se encontra as tradicionais separações entre zona urbana, zona suburbana e zona rural. A urbanização se faz onde existe infra-estrutura. Há uma reorganização da vida cotidiana. As cidades deixam de ser as sedes da vida cotidiana, para se transformarem em pólos de um sistema articulado em escala mais ampla, a da cidade-região na qual uma parcela da população, como habitantes das Regiões Metropolitanas de São Paulo, Campinas, Baixada Santista e Vale do Paraíba se desloca à trabalho ou estudo diariamente entre elas, gerando uma grande dinâmica de fluxo populacional a cidade-região, consolidando sua formação. O que acaba por elevar, além da mobilidade populacional, o fluxo de capitais, com um amento da oferta no setor de serviços, principalmente de saúde (Fig. 1), de comércio (Fig. 2), trazendo consigo o aumento, também, dos deslocamentos para lazer e para ensino (Fig. 3) como pode ser observado na REGIC 2008.

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Fonte: REGIC 2007

Figura 2: Ensino de pós-graduação - 2005

Fonte: REGIC 2007

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Fonte REGIC 2007

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O movimento pendular aparece, pois, como um fenômeno, gerado dentro do território da cidade-região de São Paulo como um modo de possibilitar o acesso de uma porcentagem da população a uma miríade de bens e serviços (muito deles especializados), ou pelo menos amplificar essa possibilidade de acesso, proporcionando a uma parte da população serviços melhores e diversos, que elas não encontrarão em seu município de origem.

O movimento pendular é uma expressão empírica das recentes mudanças nas dinâmicas da rede urbana no território paulista, nela pode-se notar novas hierarquias urbanas,

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bem como novas zonas de influência das cidades. O movimento pendular abre espaço para compreensão dos fixos e dos fluxos, das infra-estruturas, dos sistemas de engenharias, dos sistemas de suportes, como as rodovias, as ferrovias, as aerovias, as rodoviárias, as ferroviárias e os aeroportos.

Em suma, o movimento pendular confirma que o ir e vir entre os municípios constitui um processo significativo para a dinâmica populacional da cidade-região de São Paulo, promovendo uma maior diversificação e especialização de serviços em sua área, complexificando cada vez mais esta rede urbana.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DERRUAU, Max. Geografia Humana II. Tradução de Arlindo Mota. Lisboa: Editora Presença. Brasil: Livraria Martins Fontes. 1973.

IBGE. Censo Demográfico 2000. Rio de Janeiro. IBGE, 2000.

IBGE. Região de Influência das Cidades: 2007. Disponível em:www.ibge.gov.br. Acesso em: 4 de Jun. 2010.

LENCIONI, Sandra. Concentração e centralização das atividades urbanas:

uma perspectiva multiescalar. Reflexos a partir de São Paulo. In: Revista de Geografia

Norte Grande, nº39, p 7-20. Santiago, 2008.

_______________. São Paulo: uma cidade-região. In: Rodrigo Hidalgo; Trumper, Ricardo; Borsdorf, Axel. (Org.). Transformaciones Urbanas y Procesos Territoriales. Lecturas del Nuevo Dibujo de la Cidad Latinoamericana. 1 ed. Santiago: Editorial Kiminwe, 2005, v. , p. 101-210.

_______________. Uma Nova Determinação do Urbano: o desenvolvimento

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Fani Alessandri. (Org.). Dilemas Urbanos. Novas abordagens sobre a cidade.. 1 ed. São Paulo: Contexto, 2003, v. , p. 35-44.

MOURA, Rosa; BRANCO, Maria Luisa Gomes Castello Branco; FIRKOWSKY, Olga Lúcia C. de. Movimento pendular e perspectivas de pesquisas em aglomerados

urbanos. In: São Paulo em Perspectiva, vol. 19, nº 4. São Paulo Oct./Dec. 2005.

SANTOS, Milton. Técnica, Espaço, Tempo. Globalização e Meio técnico-científico informacional. Ed: Edusp. 174 p. São Paulo, 2008.

SILVEIRA, Maria Laura; SANTOS, Milton. O Brasil: Território e Sociedade no

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