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APAGAMENTO DE SEMIVOGAIS EM DITONGOS ORAIS NO PORTUGUÊS DO SUL DO BRASIL: ESTUDO DE CASOS

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Academic year: 2021

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APAGAMENTO DE SEMIVOGAIS EM DITONGOS ORAIS NO PORTUGUÊS DO SUL DO BRASIL: ESTUDO DE CASOS

Gerusa PEREIRA (UNISUL) ABSTRACT: The present work deals with the description of the deletion process of the semivowels /j/ and

/w/ of the oral diphthongs /aj/,/ej/and /ow/ in oral informers texts of Tubarão (SC) based in the Theory of the Variation and Linguistic Change. It is integrated with the GADIPE Project – UNISUL

KEYWORDS: Sociolinguistics, deletion process of the semivowels, Theory of the Variation and Linguistic

Change

,

oral texts.

0. Introdução: Neste estudo, analisamos o processo de monotongação que vêm sofrendo os ditongos orais tônicos /aj/,/ej/,/ow/, com o apagamento das semivogais orais /j/ e /w/ como nos casos de caixa

(caxa), cadeira (cadera) e touro (toro), em textos orais de informantes de Tubarão (SC). Do mesmo modo

que na maioria das outras formas variantes de fenômenos em variação do português brasileiro, na fala dos informantes de Tubarão, o apagamento destes ditongos orais tônicos pode estar condicionado a fatores de natureza lingüística (estrutural) e extralingüística: social (sexo, idade, escolaridade), diatópica (região e grupo étnico específicos) e diastrática (classe social, profissão, dentre outras). Conhecer o grau de motivação destes fatores constitui-se um dos nossos principais objetivos desta pesquisa.

A opção de trabalharmos com amostra de textos orais de informantes especificamente do município de Tubarão (SC) deve ao fato de o estudo do processo de monotongação destes ditongos orais fazer parte do GADIPE (Grupo de Análise do Discurso: Pesquisa e Ensino), grupo de pesquisa do Programa do Mestrado em Ciências da Linguagem da UNISUL de Tubarão, que aborda propostas voltadas ao aspecto analítico-descritivo de um fenômeno lingüístico aplicado. E, por esta pesquisa constituir-se uma pesquisa de aplicação pedagógica, está inserida em dois outros projetos integrados a este grupo de pesquisa: PROESE (‘Projeto de Ensino, Semiótica e Estilo’: o estudo da língua como objeto de comunicação e significação) e PROCOTEXTOS (‘Projeto de Coleta de Textos’ orais/escritos de falantes/redatores da região da AMUREL)1.

Ressaltamos que os textos orais analisados fazem parte do banco de textos deste último projeto. Também, que este presente artigo constitui-se parte de uma pesquisa maior (dissertação de mestrado).

1. Fundamentação teórica: A perspectiva teórico-metodológica que norteia esta proposta de pesquisa é a da Teoria de Variação e Mudança Lingüística da linha de William Labov, na descrição de fenômenos variáveis da linguagem, a partir de situações reais de uso.

Nesta perspectiva, linguagem e sociedade estão ligadas entre si de uma maneira inquestionável, sendo esta integração a base de sustentação e constituição do ser humano (cf. Alkmim (2001). A história da humanidade é a história de seres organizados em sociedades e detentores de um sistema de comunicação oral, ou seja, de uma língua. Os estudiosos do fenômeno lingüístico assumiram posturas teóricas em consonância com o fazer científico da tradição cultural em que estavam inseridos.

As teorias de linguagem, do passado ou atual, refletem concepções particulares de fenômenos lingüísticos e compreensões distintas do papel deste na vida social. Em cada época, as teorias lingüísticas definem, a seu modo, a natureza e as características relevantes de um fenômeno lingüístico em questão.

Sabemos que todas as pessoas que falam uma língua têm noções básicas de estrutura de funcionamento dessa língua. No entanto, essas estruturas básicas podem sofrer variações devido à influência de vários fatores. Essas variações, que às vezes são tão perceptíveis e bem evidentes, recebem o nome de variação lingüística. Logo, as formas feijão e fejão são variantes de uma mesma variável, por exemplo.

1 AMUREL - Associação dos Municípios da Região de Laguna: Armazém, Braço do Norte,

Capivari-de-Baixo, Grão-Pará, Imaruí, Imbituba, Jaguaruna, Laguna, Orleans, Pedras Grandes, Rio Fortuna,Sangão, Santa Rosa de Lima, São Ludgero, Treze de Maio e Tubarão.

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Processos fonético-fonológicos de variação podem ter natureza semelhante à difusão lexical. Para Labov (1994), a difusão lexical é o resultado de uma súbita substituição de um fonema por outro em palavras que contêm esse fonema. A forma mais velha e mais nova da palavra usualmente se distinguirá por alguns traços fonéticos. Este processo é uma mudança interna que ocorreu mediante condicionamentos lexicais e gramaticais, havendo um elevado grau de consciência social, ou mediante empréstimos de outros sistemas. 2. Objetivos: Através da descrição e análise das amostras orais e escritas constituintes deste estudo, investigamos, numa perspectiva sincrônica, o uso variável da pronúncia dos ditongos orais /aj/,/ej/,/ow/em sílabas tônicas (vocábulos primitivos) e pré-tônicas (vocábulos derivados) relacionado a fatores, tanto de ordem interna ao sistema lingüístico (estrutural), quanto aos de ordem externa ao sistema: natureza social (idade, sexo, escolaridade do falante, natureza diastrática (classe social, profissão, no caso dos pais dos informantes), com o objetivo de:

ƒ promovermos estratégias de ensino de língua materna mais eficientes, dada a aplicação pedagógica que os estudos vinculados ao Grupo de Pesquisa GADIPE preservam; ƒ descrevermos quais são os fatores lingüísticos e extralingüísticos estão motivando o

apagamento dos fonemas semivocálicos /j/ e /w/ na constituição dos ditongos orais /aj/,/ej/,/ow/sob a perspectiva da sociolingüística laboviana;

ƒ mediante os resultados obtidos na fala dos informantes, pretendemos também identificar a extensão desse processo de apagamento das semivogais na produção textual de 1a. série, em fase inicial da aquisição da escrita;

ƒ contribuirmos na realização efetiva de uma gramática descritiva do português falado no Brasil.

3. Metodologia: Em nossa análise, vamos expor o modo como foram coletadas as amostras (Tabelas 1, 2, 3). Nas amostras (Tabelas 1, 2, 3) foram coletadas 14 entrevistas, com duração aproximada de 45 minutos que contém uma conversa em estilo não controlado sobre a vida do habitante da cidade, do PROCOTEXTO de 14 informantes do sexo feminino e masculino. Para esta análise tomamos como variáveis independentes de natureza lingüística: ‘classe de palavras’, ‘tipo de vogal do ditongo’, ‘contexto fonológico anterior’, contexto fonológico posterior; variáveis independentes de natureza extralingüística: ‘idade’, ‘gênero’, ‘escolaridade.’fatores (lingüísticos e extralingüísticos) que possam estar condicionando o processo de monotongação dos ditongos /aj/,/ej/,/ow/.

Operamos os cálculos das amostras através da porcentagem.

4. Análise e discussão dos dados: A análise e discussão das amostras constituintes do nosso estudo partem dos dados das Tabela 1, 2 e 3:

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Tabela 1 - Apagamento da semivogal [j] do ditongo [aj] do contexto posterior à semivogal, segundo

Segundo a Tabela 1, encontramos nas entrevistas dos 14 informantes 75 apagamentos da semivogal [j] do ditongo [aj].

No estudo do contexto posterior à semivogal [j] do ditongo [aj] temos: o fonema palatal [], como em /kaja/, todos com percentual de apagamento da semivogal /j/ de 100%.

Tabela 2 - Apagamento da semivogal [j] do ditongo [ej] do contexto posterior à semivogal, segundo Amostra 1:

Consoantes Ocorrências Percentual (%) Total de ocorrências

Palatal [] 164/164 100

Tepe [] 401/401 100

Labial [m] 3/3 100

Alveolar [nt] 5/5 100

573

Conforme a Tabela 2, temos a distribuição das ocorrências de apagamento da semivogal [j] dos ditongos [ej] coletados na Amostra 1, num total de 573.

Nos contextos posteriores à semivogal /j/, temos como fonemas consonantais: palatais[]; tepe []; labial [m]; alveolar [nt]. Exemplos: /deja/, /anejo/; /feja/; / kejmadia/, /tejnameto/, /koejta/, todos com percentual de apagamento da semivogal /w/ de 100%.

Tabela 3 - Apagamento da semivogal [w] do ditongo [ow] do contexto posterior à semivogal, segundo Amostra 1:

Consoantes Ocorrências Percentual (%) Total de ocorrências

Tepe [] 31/31 100

Velar [k] 190/190 100

Labial [b v] 46/46 100

Alveolar [s t] 297/297 100

572

Na Tabela 3, estão os resultados das ocorrências de pagamento da semivogal [w] dos ditongos [ow] coletadas na Amostra 1, com um total de 572.

Nos contextos posteriores à semivogal /w/, temos os fonemas consonantais: tepe []; velar [k]; labial [bv]; Alveolar [st]. Exemplos: /lavowa/; /’pow ko/; /owba/; /owve/, /lowsa/, /’owto/. Todos com percentual de apagamentos de apagamento da semivogal /w/ de 100%.

Segundo Bisol (1989), os ditongos que vimos na Amostra 1 e que passaram a monotongos devem ser analisados como “falsos” ditongos, pois surgiram diante de uma consoante palatal, como contexto

Consoantes Ocorrências Percentual (%) Total de ocorrências

Palatal [] 75 100 75

Amostra 1:

Consoantes Ocorrências Percentual (%)

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posterior. Exemplos: p[ej]xe ~ p[e]xe, am[ej]xa ~ am[e]xa. Outros os ditongos analisados na Amostra1 estavam contidos em vocábulos, como: p[ow]co ~ p[o]co, cart[ej]ra ~ cart[e]ra, etc., que passam a monotongos por apagamento da semivogal ou reanálise, ou seja, os falantes não têm mais o ditongo /ow/, mas, sim, a vogal /o/, na forma subjacente.

Nesta parte do trabalho, analisamos 14 textos orais de 14 informantes tubaronenses, sob forma de entrevistas catalogadas no banco de dados de textos orais do Projeto de coleta de Textos .Nosso objetivo ao analisarmos as entrevistas desses informantes foi mostrarmos os apagamentos dos ditongos orais. Partindo da Amostra 1, levantamos algumas hipóteses referentes a este processo de apagamento desses ditongos, e que foram investigadas de forma mais exaustiva na dissertação.

Estes 14 textos orais foram distribuídos em 3 tabelas. Essas tabelas estão classificadas em três tipos de ditongos que são /aj/,/ej/,/ow/ditongos em que observamos o apagamento das semivogais: /j/

e /w/. Sendo assim, com /aj/ temos 75 monotongos; com /ej/ 573 monotongos e com /ow/ 572

monotongos.

Variáveis independentes de natureza lingüística

Variável ‘CLASSE DE PALAVRA’ - Na classe de palavra, isto é, verbo e não-verbo, a impressão que temos é a de que se trata de uma situação mais categórica do que variável.

Variável ‘TIPO DE VOGAL DO DITONGO’ - Sabemos que as vogais (o,e,a) junto às semivogais /j/ e /w/ formam os ditongos. Os quais analisamos e observamos que nem todos os ditongos orais formados por essas vogais e semivogais sofrem o processo de apagamento. Por exemplo: noite [’noØ.ti], enquanto que

outro [’oØ.trU] ocorre o apagamento. Assim, podemos ver que nem todo ‘tipo de vogal do ditongo’ pode

favorecer a monotongação.

Variável ‘CONTEXTO FONOLÓGICO ANTERIOR’ - Após análise da Amostra 1 acreditamos que o contexto anterior não esteja condicionando o apagamento da semivogal do ditongo.

Variável independente ‘CONTEXTO FONOLÓGICO POSTERIOR’ - Na Amostra 1, podemos ver que mesmo mudando os fonemas consonantais, houve com mais freqüência o apagamento da semivogal /w/ da sílaba tônica [fi.’coØ]. Também, observamos no contexto lingüístico posterior que os fonemas /t/, /d/, e /g/, não permitem o aparamento quando a vogal do ditongo for acompanhada da semivogal /j/, noite [noj.ti], doido [doj.dU], meiga [mej.ga], exceto colheita .

Variáveis independentes de natureza extralingüística

Variável ‘IDADE’ - Neste artigo, observamos que os textos de informantes com faixa etária diversificada, ou seja, de 12 a 16 anos; 25 a 49 anos e mais de 50 anos, mostrou-nos que tanto informantes jovens como os idosos, tiveram a mesma proporção no uso do apagamento das semivogais /j/ e /w/ em ditongos orais. Variável ‘GÊNERO’ - Nesta pesquisa o uso de apagamento teve a mesma proporcionalidade tanto para informantes do gênero feminino quanto do gênero masculino.

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Variável ‘ESCOLARIDADE’ - Já que sabemos que a escola legítima determinada construções lingüísticas como padrão. Nossa expectativa em relação a estes grupos de fatores é a de que informantes com maior graus de escolaridade poderiam usar a variante com ditongo, mas não foi isso que aconteceu. Pois todos apagaram a semivogal /j/ e /w/ do ditongo oral

5. Considerações finais: Neste trabalho, tomamos como objeto de investigação textos orais de informantes de Tubarão (SC), com base teórico-metodológica da Teoria da Variação e mudança Lingüística.

Portanto, conforme diz Wardhaugh (1993):

Uma mudança fonética se propaga de forma gradual através das palavras em que pode ser aplicada. Por exemplo, uma alteração na qualidade de uma vogal não é instantânea, afetando em algum ponto específico do tempo, de uma só, todas as palavras em que essa vogal ocorra. Em vez disso, somente algumas palavras que têm a vogal serão afetadas num primeiro momento, depois outras, mais outras, e assim sucessivamente, até que a mudança se complete (difusão lexical).

Nossa pesquisa mostrou que os dados dos 14 informantes tubaronenses são condicionantes ao apagamento da semivogal [j] e [w] dos ditongos [aj] [ej] e [ow], ou melhor, são categóricos no total de apagamento. Onde nos mostra uma mudança na pronúncia desses ditongos e até mesmo na contagem dos fonemas em palavras que contêm ditongos que condicionam o apagamento das semivogais do ditongo.

RESUMO: O presente trabalho trata da descrição do processo do apagamento das semivogais /j/ e /w/ dos ditongos orais /aj/,/ej/ e /ow/ em textos orais dos informantes de Tubarão (SC) baseado na teoria da variação e da mudança lingüística. É integrado com o projeto de GADIPE – UNISUL

PALAVRAS-CHAVE: sociolingüística, apagamento das semivogais, teoria da variação e mudança

lingüística, textos orais.

Referências bibliográficas

ALKMIM, Tânia Maria. Sociolingüística (I). In: MUSSALIN, Fernanda e BENTES, Ana Christina (orgs.).

Introdução à lingüística: domínio e fronteiras,v.1, São Paulo: Cortez, 2001.

BISOL, Leda. O ditongo na perspectiva da fonologia atual. In: D.E.L.TA. vol.5, nº 2 (185-224), 1989. _____ Ditongos derivados. In: D.E.L.T.A. VOL. 10, No. Especial, 1994 (123-140).

_____ Introdução a estudo de fonologia do português brasileiro,PortoAlegre: EDIPUCRS, 261 p,1996. LABOV. William. Sociolinguistic Patterns. Philadelphia: University of Pennsylvania Press. 1972. MONTEIRO, José LEMOS – Para compreender Labov – Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

MUSSALIM, Fernanda & BENTES, Anna Cristina (Orgs.). Introdução à lingüística: domínio e fronteiras. Vols. 1 e 2. São Paulo: Cortez Editora. 2001.

SILVA, Thaïs Cristófaro, Fonética e Fonologia do português – 2 ed. – São Paulo: Contexto, 1999. VOTRE, Sebastião Josué. Aspectos da variação fonológica na fala do Rio de Janeiro.

1978. Tese

(Doutorado em Letras) – Departamento de Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

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