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Academic year: 2021

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Os sons da fala

J.A.C. Uchoa1

Resumo

Estudo dos sons da fala com atenção ao português nordestino, para alunos de Letras com poucos contatos diretos com o professor. Combina-se com textos de aula em ambiente virtual e tarefas de observação de produções orais, inclusive em vídeo.

Palavras-chave

Língua Portuguesa, Português cearense, Fonologia, Fonética, Fonêmica, Ortografia, Grafia, Meios de expressão.

1. Início de conversa

Este é um primeiro texto para disciplina de Fonologia do Português, dedicado quase exclusivamente à fonética articulatória, aplicado-a ao português. Está planejado para a complementação e o aprofundamento de matéria contida nas aulas do Curso de Letras semipresencial do Instituto UFC Virtual, mas pode ser utilizado como texto independente em outros tipos de cursos de fonologia. Esta versão, de março de 2010, tem pontos por corrigir.

Dos textos que conhecemos em vernáculo, uns parecem pouco adequados às características de um curso semipresencial de curta duração e com pouca assistência de professor em sala real. Outros não se prestam, achamos, ao uso fora do âmbito da academia experiente ou foram adaptados apressadamente para o aluno não graduado. Parecem inadequados até para alunos de disciplina com 64 horas presenciais ao longo de um semestre letivo convencional de aproximadamente quatro meses, por serem exclusivamente teóricos, sem sugestão de uso no dia-a-dia dos alunos envolvidos.

Procuramos evitar a complicação, não temos como negar a complexidade dos fenômenos linguísticos. Por isso, contamos com o esforço pela compreensão baseada no confronto entre o que dizemos e a observação da língua portuguesa que se realiza em torno de você. A leitura que imaginamos aqui é feita o tempo todo com lápis e papel (ou teclado) crítica, comparativa, comentada por escrito. Imaginamos também que, daqui a um mês, você vai estar compreendendo2 bem os fenômenos fonológicos do português, para fins práticos.

1 Professor do Curso de Letras da Universidade Federal do Ceará.

2 Para o autor, a preocupação com o “gerundismo”, “vício de linguagem”, não passa de antigerundismo, um

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Este texto pressupõe a existência de outro(s), mais dedicado(s) à variação fonética dos português, às questões prosódicas e às associações entre fonologia e grafia. Um curso completo deveria conter parte especificamente dedicada às visões não clássicas da fonologia, às aplicações de fonologia ao preconceito lingüístico, à pronúncia infantil, à história da língua, à interligação entre os fenômenos fonológicos e as questões psicológicas, sociais, pedagógicas. Por falta de tempo nosso e dos alunos, entretanto, esses temas serão vistos parcamente, apenas ao longo deste, do outro texto, nos exercícios das aulas.

Temos pouco tempo para observar o que está ao alcance dos sentidos, como as constelações, os arbustos (inclusive plantas medicinais) que crescem proibidos nas ruas, a alimentação e outras atividades corpóreas essenciais, como funcionamento do aparelho fonador. Se sabemos pouco da fonética, que pode ser baseada na percepção auditiva ou nos movimentos e posições da articulação dos sons, quanto mais da fonologia, invisível, bem mais abstrata.

Tentemos explicar como se relacionam a fonética e a fonologia e o que têm a ver com os outros “niveis de análise linguística”. Você vem passando numa rua onde há turistas e vê o encontro de duas famílias de uma mesma nacionalidade, alguns louros, alguns de olhos levemente amendoados, que não falam português. O que você vai notar? Primeiro, cadeias de sons estranhos que não lhe dizem nada, inclusive a repetição de sons bem “molhados”, com “shshsh”, “tsh”, “lh”. Segundo, as reações de alegria: risos, abraços. O que você notou tem a ver com duas “realidades”, ou, mais ou menos nos termos de (Ferdinand de) Saussure ou de (Louis) Hjelmslev, certas “substâncais”: nem os sons que você percebe, nem os gestos e demonstrações faciais, gestuais, são língua.

Entre eles, entretanto, com os sons produzidos, seria possível a comunicação, mesmo que não pudessem gesticular, que falassem ao telefone, que houvesse apenas papéis com texto. Estou imaginando a língua russa. Os sons que chegaram a seus ouvidos na cena descrita fazem parte dos sons capazes de serem produzidos e ouvidos por pessoas. Os gestos e expressões faciais também são esperados de pessoas. As pessoas do grupo só compreenderam os sons porque possuem uma língua.

Alguma coisa mudaria se você tivesse estudado fonética? Um pouco, apenas. Você poderia transcrever o que dizem, quer dizer, tomando a “cadeia da fala”, imaginar sinais em um papel que indicaria segmentos pronunciados. Por exemplo, poderia, usando símbolos comuns, transcrever algo que eles dizem repetidamente como “yaidúvmaskvá” (com mais

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destaque em “u” e no “a” final. Com um bom treinamento em transcrição, perceberia que no som correspondente a “d” não é a ponta da língua (ápice) nem a área logo depois da ponta (coroa), que tocam nos montinhos atrás dos dentes (alvéolos) ou atrás dos próprios dentes, como seria de esperar em português. Notaria também que os estrangeiros usam uma melodia de fala bem diferente da nossa, bem típica do russo. Disso, da pronúncia, trata a fonética, sem ligar muito para os significados de unidades, de signos linguísticos.

Nada no que foi transcrito acima, “yaidúvmaskvá”, explica, ao menos, quantas palavras um falante de russo palavras percebe no trecho, muito menos seus significados, da mesma forma que algo transcrito como “dakelashtuashtrãsas” nada significaria para o russo que não conhece a língua portuguesa, nem mesmo lhe possibilitaria dizer quantas unidades há aí.

Se você conhecesse tecnicamente a fonologia do russo, saberia que, numa sílaba que não é a mais forte da palavra, sons como “ó”, “ô”, “á” (como em “será”) ou “â” (como em “cera” não distinguem sentidos. Se você as pessoas dizerem às vezes “yaidúvmaskvá”, “yaidúdamói”, vai terminar achando que há duas partes nessas cadeias de sons, que aí há 3 coisas: “yaidú”, “vmaskvá” e “damói” e estará no rumo certo para aprender a língua.

Associando a audição das “frases” com situações que observar, pode vir a entender que se trata de 'ya' (correspondente ao português 'eu'), “idu” ('vou'), “v moskvá” (para Moscou) ou “domoi” ('para casa'). Nesse ponto, você já tem conhecimentos inconscientes (a) da fonologia (consegue a partir dos sons chegar a singnificados), (b) da morfologia, (c) da sintaxe da língua russa. Também terá chegado a isso o russo que, sabendo fonética, transcreveu “dakelashtuashtrãsas” e agora perceber que há nessa cadeia de sons os signos 'di' 'akélas' 'tuas' 'trãsas' (aqui empregamos não a ortografia comum, mas uma forma de representação fonética sem detalhes, praticamente fonológica e com sinais fáceis), quer dizer, mais ou menos, “cabelos agrupados de certa maneira”, “distantes nesse momento de quem fala e de quem ouve”, “pertencentes à pessoa com quem se fala”.

Brevemente, é impossível separar completamente a fonética e a fonologia ou fonêmica, e as teorias atribuem a esses termos conceitos bem variados. Por enquanto, o termo

fonologia será utilizado de forma mais ou menos vaga, com valor que vai do sentido mais

geral, incluindo a fonêmica e a fonética, ao sentido mais particular e tradicional. Neste último sentido, é fonêmico o elemento ou traço que serve para distinguir o sentido dos itens lexicais. Interessa, agora, saber que, ao empregar o termo fonética, restringimos nosso objeto

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de estudo à pronúncia de unidades lingüísticas como é percebida por alguém atento ou treinado para tal finalidade.

A inseparabilidade dos aspectos fonêmico e fonético vem da inseparabilidade entre as coisas efetivamente integradas na realidade. A separação é possível e talvez necessária apenas na análise humana, para um fim determinado e momentâneo. Quando compreendemos uma frase, recebemos por nossos ouvidos (ou também por condução óssea, se é nossa própria voz) um sinal de som conduzido por um ou mais meios (o ar, o telefone). As impressões recolhidas no pavilhão auditivo que se inicia com a orelha vão ao interior do cérebro por nervos e são trabalhadas, para a decodificação.

No estudo da pronúncia, pode-se recortar a realidade percebida para chegar ao exame dos sons quanto a sua percepção, inclusive à forma como são ouvidos, quanto a suas

propriedades físicas, para nos restringirmos à acústica. Podemos também, como fazemos

quase exclusivamente neste primeiro texto, abordar os sons quanto a sua produção no aparelho fonador, com visão articulatória.

Alguns lingüistas insistiram na excelência de critérios e termos acústicos na descrição e classificação dos sons da fala, mas esses termos continuam a soar estranhos até em cursos mais longos. Além disso, habituados à inevitável ligação entre o articulatório, o acústico e o perceptivo em nossas experiências de fala, associamos o tempo todo a percepção das propriedades acústicas dos sons a nossas impressões articulatórias.

Uma prova irrefutável dessa habilidade de associar a impressão acústica ao movimento no próprio aparelho é a aquisição da fonologia pelos bebês. Em torno dos dois anos de idade, ao ouvir nova palavra em contexto, acertam a maior parte dos traços fonéticos de uma palavra na primeira tentativa (observe seus sobrinhos e relate as experiências). Os adultos, ao ouvirem pela primeira vez uma palavra estrangeira (e até de sua própria língua) precisam de várias repetições (não nos pergunte agora por quê), mas também, na maior parte dos casos, conseguem aprender a pronúncia sem descrição que faça referência as partes do aparelho fonador.

Sugerimos que tenha sempre perto, ao ler este texto, espelhinho de mão ou outro aparelho fonador (vivo, claro, de alguém que aceite colaborar), papel e material de escrever, de preferência lapiseira com grafite mole, ou teclado. Imaginamos que, neste ponto, você tenha observado processos de fonação integrada em discurso bem real, como que está sendo sugerido em aula do curso semipresencial, em vídeos. Reveja os pontos indicados no texto da

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aula, preste atenção aos lábios, aos movimentos e posicionamentos no interior da boca. Encerramos esse primeiro contato desejando que você tenha mais interesse nas tarefas e na observação não-exigida, que ansiedade causada pela expectativa de cobranças e avaliações.

Utilizamos aqui símbolos do Alfabeto Fonético Internacional, cuja tabela será exposta adiante adaptada para este curso e, anexa no fim do texto, em sua versão completa oficial de 2005. Para poder ler as transcrições fonéticas, instale em seu computador pelo menos a(s) fontes do SIL Doulos IPA93.3

2. Passeando com os sons pelo aparelho fonador

2.1 O aparelho fonador

As coisas de que tratamos no estudo criterioso, metódico, sujeito a discussão (isto é, científico, lingüístico) da língua não foram inventadas, mas estão perto, ou melhor, em você. Os conhecimentos para as atividades humanas são implícitos, entretanto, funcionam muito bem, sem estarmos conscientes de sua existência, de suas características. O estudante de Letras é o indivíduo privilegiado do qual se espera que venha a compreender de forma explícita tais conhecimentos. Bem mais difícil foi o trabalho dos pioneiros que, na Antiguidade, sem manuais de lingüística, fizeram a análise fonética e fonológica de suas línguas, para criar os primeiros silabários e alfabetos.

Se você ouvir frases em uma língua desconhecida, não distinguirá segmentos fônicos, fonemas, palavras, porque a cadeia da fala é um continuum. Quando se ouve língua conhecida, entretanto, um programa recebe pistas fônicas e distingue unidades, porque as identifica com base em um léxico mental. Quando você ouviu uma cadeia fônica em “O meu amor me chamou,” verso de A Banda, disponível em nosso curso, o programa chamado língua portuguesa atuou, porque, da divisão em palavras à divisão em segmentos, tudo é uma abstração ou a aplicação de instruções inconscientes da língua portuguesa.

A frase do verso supracitado nos leva a uma transcrição fonética assim:

3 Pelo menos o arquivo IPA93dr.ttf (tipo normal, utilizado aqui) e, se possível, também os arquivos

IPA93db.ttf, IPA93dc.ttf e IPA93di.ttf, para ler negrito e itálico. No Windows, copie o(s) arquivo(s), vá a

Iniciar, Painel de Controle, Aparência e temas, Fontes. Lá veja as fontes já instaladas. Ponha o cursor do

mouse sobre o nome da pasta (Fontes) na linha de cima do navegador, pressione o lado direito do mouse, clique em “Colar”, veja se o nome SILDoulosIPA93 aparece com as outras fontes.

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Temos representados nos versos acima segmentos fônicos, como se realmente se separassem, indicações de sílabas relativamente mais fortes (“-mor”, “-mou”, precedidas por sinal de acento), indicação de tom ascendente na última sílaba, correspondente no verso, na linguagem escrita, a uma vírgula, nos versos “Estava à-toa na vida, / o meu amor me chamou, / pra ver a banda passar (...)”. Cada uma dessas coisas percebidas corresponde a uma propriedade acústica, que só vem a existir porque algo acontece, e pode ser descrito, no aparelho fonador.

O que chamamos aparelho fonador é um ambiente utilizado para a fala, incluindo os órgãos de dois aparelhos, o respiratório e o digestivo, que, por sua vez, mantêm áreas em comum. Nomeamos, no que dizemos abaixo, os órgãos importantes para a fala nas línguas mais conhecidas4. Veja a figura abaixo, examine-se, pense na descrição que oferecemos a

seguir.

Mais importante que a alimentação (compare a quantidade de segundos que pode passas sem respirar com a quantidade de semanas que pode passar sem comer), a respiração pode ocorrer não só com a passagem do ar pelo nariz e pelas fossas nasais, mas também por onde vão os alimentos: pelos lábios e “ao largo” dos dentes e da língua. A faringe é passagem para o ar e os alimentos, sendo cavidade onde se encontram os caminhos oral, nasal e faringal. Depois da faringe, especializam-se os órgãos, ou há risco de morte. Os alimentos seguem por um tubo flácido, o esôfago, para uma bolsa também flácida, o estômago, misturando-se um pouco com o ar, sem maiores problemas.

O caminho do ar, entretanto, não pode receber alimento, é exclusivo depois da faringe. Por isso, há uma porta na entrada da laringe, a epiglote, que se fecha para os alimentos passarem adiante. Em seguida, dentro da laringe há outra porta, as cordas vocais, em cuja 4 Há línguas nas quais a faringe (informe-se sobre o árabe, o hebraico, o aramaico, línguas semíticas, as

línguas do povo cariri) e até a epiglote podem ter funções. Em português, esses órgãos podem distinguir as vozes das pessoas (é freqüente faringalização que, forte, pode ser considerada defeito), até por se

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abertura, a glote, deve passar apenas o ar. A laringe é continuada pela traquéia, por onde o ar chega aos (ou vem dos) brônquios e pulmões.

Isso tudo, no que nos interessa, serve para a produção de sons cujas propriedades acústicas (amplitude, freqüência, ressonância, duração) chegam aos ouvidos de todo ser humano normal e são desprezadas ou valorizadas, conforme a fonologia de cada língua.

Antes de continuar, fale com alguém que entenda de instrumentos musicais, e pense sobre as semelhanças entre esses instrumentos e o aparelho fonador humano. Em que se assemelham quanto a:

(a) fonte de energia - observe sanfona, gaita, piano, violão, tambor: de onde vem ar, golpe, toque?

(b) a produção de notas musicais de diferentes frequências - onde isso acontece nos aparelhos acima?

(c) como acontece a ressonância, que ajuda a distinguir o timbre de cada instrumento e aumenta a perceptibilidade desse som: como interferem as dimensões, os materiais, o tamanho e a forma das cavidades (em violão, banjo, balalaica e fagote, em você, com um aparelho fonador humano?

(d) que modificações das notas básicas são possíveis, para produzir ruídos diferentes, além de sons musicais?

Vamos para uma sessão de conscientização do aparelho fonador. Na descrição que faremos, vamos privilegiar apenas dois parâmetros da classificação dos sons, a saber, ponto (zona seria mais exato, mas é menos comumente usado) e modo de articulação. Depois, continuando a descrição, vamos ver outros dois parâmetros: cavidade de ressonância, com destaque para a nasalidade, e vibração das cordas vocais, responsável pelo vozeamento.

2.2 Pontos e modos de articulação

Durante a descrição que se segue, veja a figura abaixo e sinta seus órgãos. O espaço chamado faringe é ponto de passagem do ar e dos alimentos. A laringe “limita-se” com a passagem para as fossas nasais (até o nariz), a boca (concluída com os lábios), o esôfago (que

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vai até o estômago) e a laringe (continuada pela traquéia, que segue na direção dos pulmões). Para a fala em português, contribuem:

a. Os pulmões, de onde vem o ar, que se dirige para a laringe. [a+en 100316]

b. Na laringe, antes de passar para a laringe, de onde vai à boca e às fossas nasais, a glote pode estar completamente aberta (para a respiração e os sons “aspirados”), e o esôfagoNote que faltam no desenho o esôfago e o estômago (continuação dos espaço que desce da faringe, mais próximo da coluna), a traquéia e os pulmões (continuação da laringe).

Fig. 1 O aparelho fonador

Fonte: http://uab.unb.br/mod/book/print.php?id=1298

Toque os lábios superiores (LS) e inferiores com a língua (Lg) e continue movendo-a, toque com a ponta (Ápice, Ap) os dentes superiores (DS), sinta-os. Agormovendo-a, continue até a parte dos trás dos dentes superiores, chegue às gengivas, ao ponto onde começa a carne, que chamamos alvéolos (Al, leito onde ficam os dentes). Se continuar o movimento com a língua a partir dos alvéolos, passa pequena curva e chega a parte dura no céu da boca, chamada

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Não deve ser difícil classificar as consoantes sublinhadas de 'os meninos de Jati' pronunciadas como nessa cidade em pleno Cariri como ápico-dentais (simplificadamente, dentais), ou em Itapajé, no Norte, como ou lâmino-alveolares ou corono-alveolares (de forma simplificada, alveolares). De fato, é muito provável que, enquanto as pessoas do Cariri e de outras regiões dizem ] a gente de Itapajé prefira dizer 'do Jati' e, em vez dos sons

oclusivos [] e [], façam uso de [] (em Jati) e [] (em 'onde'), sons classificáveis como africados, pois começam com fechamento total (oclusão), mas usam o ar da liberação como

fricativo. Atenção, quando dizemos que um som é oclusivo ou africado, estamos falando de

modo, de como é articulado. Quando dizemos que é apical (produzido com o ápice, a ponta

da língua), laminar (ou coronal), dental, alveolar, estamos falando de ponto (ou zona), onde ou com que é articulado.

Para ter maior consciência das sutilezas e da variação na classificação dos sons com base na anatomia, vamos a uma pequena experiência. Experimente sentir a língua (ápice e lâmina) tocando, ao mesmo tempo, um pouco dos dentes superiores, os alvéolos e o começo do palato duro. É mais ou menos isso que acontece quando pronuncia as consoantes de “Já achei” //. Os sons produzidos aí são chamados pós-alveolares por terem a parte de cima do canal tocada depois dos alvéolos, ou álveo-palatais, por abrangerem no toque essas duas partes.

Frisamos esse último item para fazer notar que, “paralelamente” aos órgãos passivos da articulação, localizados em geral na parte de cima da boca, há os órgãos ativos (é o maxilar inferior que é móvel, não o superior). Acima, usou várias partes da língua: a ponta ou ápice (Ap), a coroa ou lâmina (Co, La), que podem ser chamadas conjuntamente frente da língua, daí os sons frontais ou ântero-linguais, denominações genéricas bastante úteis, ou apicais, coronais (laminares), denominações mais específicas.

Retomemos o passeio. Se continuar, a partir do palato duro, chegará, com a ponta da língua, a uma área em que o céu da boca apresenta mais uma discreta curva e chega a parte mais suave. Aí começa o palato mole, ou véu palatino (de velum, daí as consoantes velares) onde pode pronunciar, cuidadosamente, "Cá... cá...". O passeio com a ponta parou logo no início do véu, a não ser que você esteja entre os privilegiados que conseguem (se conseguiu, comunique-nos) levar a ponta da língua à úvula (de "uvinha", em latim, tão apropriado quanto o que se dizia no interior, campanhinha). De qualquer maneira, concentre-se no espelhinho, abra a boca, tente ver todo o percurso. Ao olhar no espelho, sopre o ar forçando

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na saída da faringe, perto da raiz da língua e verá que a úvula, a ponta no fim do véu palatino, sobe.

A úvula, abaixada, pode encontrar-se com partes posteriores da língua para a produção de sons uvulares, como na produção de “r vibrante múltiplo” do português em dialetos do português, em diversas línguas européias (francês, alemão, holandês) e em hebraico moderno.

Vamos considerar um pouco apenas os articuladores inferiores, móveis, ativos (é o maxilar inferior que é móvel, pode subir), que se situam “paralelamente” aos órgãos passivos da articulação, localizados em geral na parte de cima da boca. Acima, usou várias partes da

língua: a ponta ou ápice (Ap), a coroa ou lâmina (Co, La),5 que podem ser chamadas

conjuntamente frente da língua. Quando continua para o véu palatino e a úvula (superiores, imóveis, passivos), tende usar outras partes da língua: o dorso (Do) e a raiz (Ra). Os sons pronunciados com o ápice (ou ponta) e a lâmina (ou coroa) podem ser chamados mais genericamente, para finalidade prática ou para ser fiel à maior variação, em fonologia,

anteriores ou ântero-linguais, em vez de apicais, laminares, coronais. Da mesma forma,

em vez de termos específicos como dorsal, pode-se dizer que os sons articulados com o dorso ou a raiz são posteriores ou póstero-linguais.

Demonstramos isso no diagrama que se segue, de forma pouco exata:

LS DS Al pA PD VP Uv CV

LI DI LAp LCo LAn LDo LRa CV

ABREVIATURAS

Lábio Superior, Dentes Superiores, Alvéolos, região pós-Alveolar, Palato Duro, Véu Palatino, Úvula, Cordas Vocais. Lábio Infierior, Língua (Ápice, Coroa, parte Anterior, Dorso, Raiz).

Abaixo da faringe vem a laringe, fechada em sua parte superior pela epiglote, primeira nova defesa do aparelho fonador (no nariz e adjacências há mecanismos protetores), que precisa estar fechada na ingestão de alimentos. Dentro da laringe há as cordas vocais. O espaço entre elas se chama glote (verifique se seus pais conhecem a expressão “cair no goto”, usada quando há engasgo) defesa final contra a passagem de corpos estranhos, alimentos. 5 É bem comum a divisão da língua como na fórmula mnemônica de Macambira, Apcódora, em 4 partes:

ápice (Ap) ou ponta, (2) Coroa (Co) ou Lâmina (La), Dorso (Do) e Raiz (Ra). Silva (2001: 30) divide-a em 5 partes: ápice, lâmina, parte anterior, parte média e parte posterior. Obviamente, não há demarcação física possível, apenas zonas relativamente estabelecida.

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A consoante oclusiva glotal (glotal stop), comum em dialetos do inglês para /t/ em certas posições, por exemplo em “Le[] me see you” ('Deixe-me vê-la', 'Deixe eu ver você'), não tem valor fonêmico em português.6 Surge separando palavras iniciadas por vogais em

enumerações ('Sentam-se aí Rute, Antônia, Elda, Olga, Adalberto') ou aparece em pessoas (há que as chame tatas) correspondendo a /k/ e /g/, como em 'Se você apa[]asse lo[]o o ci[]arro...'

Os sons correspondentes a 'r' e 'rr' podem ser bem diferentes, conforme as línguas e os dialetos, os graus de formalidade e as posições nas palavras (inicial ou finalmente, entre vogais, depois de consoantes). Pense nos sons, que, com base em uma gramática tradicional você diria serem vibrantes, quer dizer, produzidos com a ponta da língua contra os alvéolos, em uma expressão como (pensando em um festival em Guaramiranga) pronunciamos clara e cuidadosamente “rolar na arte da serra”: [] ou [h.].

As expressões “vibrante” e “vibrante simples” não se aplicam apropriadamente às pronúncias do Nordeste e de outras regiões do Brasil, a não ser, talvez, nos grupos consonantais como em 'preá', 'brio', 'traça', 'endro', 'crasso', 'ogro', 'cafre' e 'palavra'. Fora desses ambientes, a forma “simples” realiza-se, entre vogais (dentro de palavras ou no final), como tepe (inglês “tap”), uma “batidinha” única da ponta da língua nos alvéolos, ressalvados alguns apagamentos bem comuns, dos quais trataremos abaixo.

Antes de consoantes ou de silêncio (pode realizar-se também como tepe, ou como qualquer som fricativo “posterior”, quer dizer, velar ([x] - []), uvular ([] - []), ou glotal ([h] - []). Determinar se a realização acontece em uma dessas três zonas exige muita paciência. Somos programados para não perceber essa diferença, por isso, em muitos cursos, simplesmente se decide recomendar um único par de símbolos, que pode ser o velar (veja acima) ou glotal (levando-se em conta a grande possibilidade dessa realização no Nordeste).

Neste caso, quando usar a primeira variante (não vozeada) e quando usar a segunda (vozeada)? Recomendamos, se você não quer recorrer a exaustivos testes de audição, adotar a forma vozeada ([] ou [] antes de consoantes vozeadas (por exemplo, em “bordar gardênias”), mas empregar a forma não vozeada nos outros casos (antes de pausa, antes de consoante não vozeada), como em “acertar quase tudo e sair”.

6 Em alemão mostra limites entre morfemas, antes de vogais. Tem valor fonêmico, entre outras, em línguas

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É comum o apagamento da forma simples nos finais de palavra (“comer açúcar”) e antes de som fricativo pós-alveolar [Z] e, principalmente, alveolar ou dental [s], como em “nem percebe a energia que vem das pessoas”.

Quanto à forma dita “múltipla”, representada na escrita com 'r' inicial de palavra e com 'rr' medial, realiza-se em partes do Brasil e em Portugal como vibrante (uvular ou velar), mas, em nossa região, como fricativa. Vale, então, o que dissemos acima sobre as consoantes fricativas velares, uvulares e glotais, com uma mudança: aqui, não é tão importante nem constante a assimilação regressiva (um som seguinte impõe seu traço ao anterior). Isso quer dizer que é normal ouvir “e[]ado, com um murmúrio glotal quase inaudível, ou “e[x]ado”, como se ouvia até recentemente em ligações da TELEMAR, hoje, Oi. Não discutimos aqui a pouca exatidão e se chamar todo som não oclusivo glotal de fricativo.

Note que o relaxado murmúrio glotao simbolizado por [] ocorre freqüentemente no Nordeste como realização das fricativas vozeadas [], [] e []. Exemplos deste último uso econômico acontecem em “Tava”, “Mais ela” (preposição significando companhia, utilizada pelo menos no português nordestino e em galego) e “Eu já vi”. Essa pronúncia é comum nos centros urbanos em fala menos formal, mas pode lexicalizar-se (ser sempre empregada para uma mesma palavra) em certos lugares (como em 'cavalo').

2.3 Os traços vozeamento e nasalização

As pregas vocais que chamamos cordas e o espaço entre elas, a glote, além do papel crucial na proteção do aparelho respiratório, têm diversos papéis na fala. vogais e a glote têm pelo menos três papéis na fala. Serve para a articulação das consoantes glotais, é parte responsável pelos tons ou sons musicais timbre na produção das vogais, pelo vozeamento e pela música da fala. No sentido deste texto, voz é termo que designa apenas a vibração das cordas vocais, diferindo levemente de quando se diz que alguém tem “voz bonita” e de muitos outros usos.

A voz possibilita a produção de sons musicais, tons, notas, úteis também à música. Na linguagem verbal, distingue itens lexicais nas línguas tonais, indica emoções e atitudes, serve para a entoação que indica rupturas sintáticas e atos de fala nas frases, representados na escrita pelos sinais de pontuação. Trataremos mais disso na parte de prosódia.

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Veja a figura abaixo. Se você desenha um aparelho fonador para descrever um som específico, precisa traçá-lo de forma compatível com o que acontece num aparelho fonador real ao pronunciar esse o som representado. Nos dois desenhos, há vibração das cordas vocais, os sons são vozeados. Em um deles, há ressonância nas fossas nasais, porque o véu palatino permite a passagem do ar.

Fig. 2 Véu, úvula, cordas vocais (vibrando) Fonte: http://uab.unb.br/mod/book/print.php?id=1298

Modificada por diferentes caixas de ressonância, na boca (cuja cavidade muda de tamanho e forma conforme as posições da língua), nas fossas nasais e nos lábios (vogais não-arredondadas e não-arredondadas), voz faz possível a distinção dos timbres (a impressão que o ouvido humano tem da variação de ressonância). Os diferentes timbres caracterizam as vogais e servem para a identificação dos produtores de voz (que instrumento está tocando, quem está falando).

Finalmente, é extremamente funcional, na maioria das línguas mais conhecidas, a distinção, possibilitada pela vibração ou falta de vibração das cordas vocais, entre (a) sons

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parte das consoantes, e (b) sons não-vozeados (ditos tradicionalmente surdos), outra parte das consoantes.

Estamos passando longe dos conceitos de acústica, mas precisamos entender melhor a ressonância. Para se entender bem a nasalização, é preciso lembrar que mais comumente a voz (que está nas consoantes vozeadas) pode ressoar em uma ou mais de uma cavidade. Sons puramente nasais são comuns quando se cantarola e em interjeições como “Hum” e “Ã-hã” (divirta-se procurando outras reapresentações gráficas para essas frases não-racionais), nas quais a cavidade fica fechada e o ar se escoa completamente pelas fossas nasais. As consoantes nasais são, de fato, sons oro-nasais, com oclusão na boca e ressonância adicional nas fossas nasais. Nas vogais nasais ou nasalizadas, há basicamente diversos tipos de ressonância oral e labial, conforme as posições da língua e a abertura dos lábios, mais ressonância na cavidade nasal.

2.4 Exercícios sobre articulação

Para se exercitar antes da próxima seção, que trata da codificação, pelo Alfabeto Fonético internacional, siga as sugestões abaixo. À medida que vai vendo (não tenha preconceito contra o gerúndio, antes, enfrente a corrupção e o egoísmo!) novos termos, resista ao hábito de decorar (ou memorizar, dá quase na mesma) sem compreender. Descubra porque existe este termo, qual sua origem. E não escreva “consoante fricativo”, “som fricativas”, pense! Os alunos de Letras precisam estar entre os melhores, mais competentes usuários da língua, além de serem capazes de explicar tudo que pode ser explicado, e responder por que, em muitos casos, algo não é explicável com os conhecimentos possuídos.

1. Sinta os lábios ao pronunciar, ora da forma mais espontânea possível, ora atentamente, 'meu ibope'. A transcrição fonética pode ser  Preste atenção aos 4

sons consonantais, quer dizer, produzidos com ruído por há obstáculos no canal de articulação. Nos sons 1, 3 e 4, os lábios se fecham completamente. No segundo, só se aproximam e a língua pode ficar alta em sua parte de trás. Se os 4 soam diferentes, o que mais distingue cada um? Ou, perguntando de outra maneira, em que são iguais, em que são diferentes?

2.. Experimente dizer a frase 'Vai ver as favas azuis!' Você pode pronunciar ou não o som correspondente a “r”. Quantos tipos de consoantes há aí, como são pronunciadas, em que

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se distinguem entre si? Ajudamos respondendo a uma parte. Em duas das consoantes, pode-se examinar como o som é pronunciado, para ver o modo de articulação e, ao mesmo tempo, onde e com que o som é pronunciado, para ver o ponto de articulação. Em dois dos sons, produzindo algo que se percebe como “fricção” (daí, som fricativo), aperta-se o LI contra os DS (são labiodentais). Nos outros dois, aperta-se a coroa da língua (quase o ápice) ou o ápice, contra os alvéolos (ou os dentes: como você pronuncia?), por isso, essas consoantes são ditas, além de fricativas, alveolares (ou dentais), falando só do ponto do articulador passivo, ou, mais pormenorizadamente, ápico-dentais, corono-alveolares (depende de como você pronuncia, não adianta decorar a resposta). Agora responda: se as consoantes são iguais entre si, duas a duas, quanto ao modo e ao ponto de articulação, em que se distinguem, como se classifica esta característica, onde isto acontece e como?

3. Experimente dizer a frase mal inventada (observe as letras sublinhadas): Se a chance já surgisse e eu um dia visse como estava tia Zilce!

Parte dos sons foi abordada acima. Onde acontece a produção dos outros, em seu aparelho fonador? Descubra seus símbolos fonéticos e como eles se classificam. Para ajudar, informamos que dois deles são fricativos, dois são africados (o que isso significa?), parte deles, quanto às cordas vocais, é não-vozeada, a outra parte é vozeada. Em que ponto ou zona são articulados, levando-se em conta os articuladores ativos (que sobem) e os passivos (que esperam em cima)?

4. Experimente dizer “Marco, marcas, marque”. Sinta a parte da língua e a parte do céu da boca, em cada caso. Onde as consoantes oclusivas que iniciam as últimas sílabas, representadas ortograficamente com “c”, “c” e “qu”, respectivamente, são pronunciadas?

Pense, experimente e sinta quantas vezes for necessário, pense novamente e anote, antes de continuar.

Agora, descubra como sua(s) gramática(s) classificam esses sons, esse fonema. O que você acha, comparando sua experiência e o que leu na gramática?

Vai ter problema em classificar honestamente, conforme a pronúncia, os sons consonantais antes de /u/, de /a/ e de /i/. É assim, porque são pronunciados um na parte de trás da boca, antes de vogal posterior (diz-se que é uvular), o outro no centro, antes de vogal central (no véu, por isso, velar) e último, finalmente, /i/,vogal anterior, bem à frente, palatal.

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Por causa dessas diferentes pronúncias e classificações, as transcrições seriam [],

[], [].

5. Onde você pronuncia os sons:

a. Correspondente a “r” ou a “rr” em 'O rei corria sem roupa'?

b. Correspondentes a “r” em: 'Por aqui, por todo o barco, querem pegar os pargos'? Sua gramática talvez diga que parte desses sons é “vibrante”. Você concorda com isso?

c. Correspondentes às pronúncias “relaxadas” (nos três casos, trata-se de sons produzidos no mesmo lugar!) correspondentes a “j” em “Tu já tem paletó”, a “v” em “Tav' era bom lá” e a “s” com som de “z” em “Foi por “caso” do frio”. A expressão corresponde a “cas do frie”, em bom dialeto com o “s” igual a “r”, quer dizer, “por causa do frio”. Tratamos dessa outra “língua” em outro texto.

No fechamento deste item e fechando seu exercício, vamos recapitular. O que chamamos aparelho fonador inclui:

(1) fonte de energia, os pulmões, o meio vibrátil que é o ar, que se desloca pela traquéia e ganha a laringe, para funcionar na...

(2) fonação, produção de voz, que, em sentido restrito, é só o som musical, o tom, a nota que se faz nas cordas vocais).

(3) A articulação, em sentido mais restrito, tem a ver apenas com o (a) modo e o (b)

ponto, o como e o onde o som é produzido.

(4) Os sons podem ainda ser modificados nas cavidades de ressonância: a principal, a boca, pode assumir muitos formatos diferentes. As outras, lábios, fossas nasais e faringe, são acrescentadas, ou seja, um som mais comumente é oral nasalizado, oral faringalizado, etc. Há línguas como as da família cariri, nas quais a faringalização pode ser funcional, distinguir significados, mas é mais comum esse fenômeno apenas caracterizar o timbre de certas pessoas. Se a faringalização é muito forte, pode ser vista como defeito a ser corrigido: as pessoas fanhas ou fanhosas geralmente faringalizam, não nasalizam.

Estamos concluindo este primeiro texto. Para facilitar sua compreensão dos símbolos que usamos, adaptamos para você, abaixo, a tabela do Alfabeto Fonético Internacional, já que

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a tabela oficial é sempre em inglês (trá-la-emos no próximo texto), daí a sigla IPA para International Phonetic Alphabet.

3. Transcrição fonética

3.1 Para perceber e representar a fala

Como nas outras atividades humanas, perceber sons é algo que exige treino, para se tomar consciência de fatores “subjetivos”, quer dizer, inconscientes, não declarados, que alteram os resultados. O problema não é que alguém possa errar, ao tentar perceber com exatidão ao que ouve. É bem mais sério. Ao aprender uma língua, nossa cognição nos programa para não ouvir o que é irrelevante para o uso da língua. Lembrando um exemplo nosso bem acima, falantes dos dialetos mais conhecidos do inglês tendem a não perceber o vozeamento como relevante, enquanto falantes do português são programados para não notar a aspiração (depois das consoantes oclusivas não-vozeadas) como relevantes para o léxico.

O que você ouve é muito mais resultado do preenchimento de expectativas, que da interpretação “objetiva” de propriedades acústicas e articulatórias realmente produzidas. É comum quem transcreve uma conversa registrar em várias linhas do texto frases completamente diferentes das que foram ditas, por ter-se enganado com uma única palavra no início do trecho.

Mesmo que você evite tais distorções, não pense que está livre de decisões extralingüísticas. Transcrever foneticamente é representar sons levando em conta só a pronúncia como é percebida, dependendo das circunstâncias que envolvem uma realização da língua, do interesse do transcritor, de seu grau de conhecimento de fonética.

Há alguns anos, trabalhamos, no Núcleo de Pesquisa e Especialização em Lingüística, com a transcrição de fitas gravadas para diversos projetos. Em um deles, colaborando com um colega de outra universidade, verificamos se eram realizadas como alveolares ou dentais, no Vale do Jaguaribe, os fonemas /t/, /d/ e /n/, portanto, não nos preocupávamos, por exemplo, com a realização de vogais. Em outro, investigamos tão-somente as “heização”, ou seja, a realização das consoantes fricativas vozeadas labiodental / v /, alveolar (ou dental) / z / e pós-alveolar /  / como consoante fricativa (ou, diríamos, talvez melhor, aspirada) glotal vozeada (ou murmurada!) /  /.

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Numa transcrição, há decisões a serem tomadas, quanto ao que se registra ou se despreza. Por exemplo, na pesquisa supracitada, tínhamos que decidir, para /t/, /d/ e /n/ antes de / i /, se se tratava de realização apical (com o ápice, a ponta da língua) e/ou dental (como no Cariri) ou produzida com a lâmina da língua contra os alvéolos. Neste último caso, para /t/ e /d/, espera-se que a pronúncia seja também africada, quer dizer, comece com oclusiva, mas, na fase de liberação, o ar seja aproveitado para fricativa, ficando tudo [] ou []. Como classificar e anotar, no caso da variante “caririense”, se uma pronúncia fosse apical, mas ocorresse nos alvéolos? Como lidar com o fato de que as pronúncias ouvidas não podem ser classificadas como [t] ou como [], pois há pronúncias intermediárias, mais ou menos palatalizadas [, e em diferentes graus, mas não propriamente africadas?

Deve ter observado que não é possível exigir uma transcrição fonética única para cada palavra da língua, embora seja possível, desde que se obedeça a certas decisões teóricas e metodológicas, estabelecer uma só representação fonêmica (fonológica) para cada item lexical da língua. Isso acontece porque, excluídos os impedimentos articulatórios (células em preto na tabela do IPA), qualquer som pode ocorrer nas frases pronunciadas em uma língua: há um número limitado de fonemas na língua portuguesa ou em um de seus dialetos, mas um número ilimitado de fones (sons da fala) em frases realizadas de um discurso em português. Se você perguntar o nome de uma aluno seu, em classe, fingir quatro vezes que não compreendeu e ele repetir, verá que apresenta pronúncias diferentes em cada vez.

Uma transcrição fonética pode ser mais exata (estrita, pormenorizada, “narrow”, []) ou menos exata (“ampla”, genérica, “broad”, []). Os dados registrados em uma transcrição mais genérica coincidem com uma representação fonêmica, se não estiver misturada com dados ortográficos, como em “compleivo” (som africado) ~ “compleivo” (som oclusivo dental). Os dados incluídos numa transcrição bem exata de

“coquinho” incluiriam até os fatos de a primeira realização fonema /k/ palatal [c], enquanto a segunda é uvular [q]. A segunda vogal é a mais longa das três, mas normalmente não se indica isso na transcrição. O fonema simbolizável com [] pode ser realmente oclusivo nasal, sentindo-se o toque no palato, ou um som aproximante, semivogal nasalizada []. O fonema /u/7 átono final, pode ser desvozeado (o que se representa com um pequeno círculo subposto

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ao símbolo da vogal). A ortografia, a representação fonêmica e a transcrição fonética podem ficar assim: [qo] - [ko] – “coquinho”.

Talvez suas necessidades de transcrição sejam de apenas dois tipos.

Primeiro, você quer saber como se pronuncia o som representado por um símbolo gráfico do IPA, talvez porque o encontrou em transcrição fonética. Basta localizar o símbolo na tabela, observar como está colocado em sua célula, e que informações sobre o som são fornecidas na coluna e na linha correspondentes ao símbolo.

Para ]8, há na tabela as seguintes informações:

Modo de articulação: Fricativo (primeira coluna)

Zona de articulação: Pós-alveolar (ou álveo-palatal, na primeira linha) Papel das cordas vocais: Vozeado (está na segunda posição de uma célula) Se você sabe o que significam os termos fricativo, pós-alveolar e vozeado, resolveu o problema. Se não sabe, pode se informar a respeito, ou tentar descobrir comparando o símbolo em questão com outros das mesmas coluna e linha. Por favor, se acha que um termo desses é mera questão de memorização sem justificativas, está errado. Descubra o que significa a palavra correspondente ao termo.

Uma segunda necessidade talvez seja transcrever um som que você ouviu. Comece, tentando reproduzir o som em voz alta ou mentalmente e descubra:

Modo de articulação: Como você o pronuncia, o que faz com os órgãos: articulador ativo e passivo.

Zona de articulação: Onde a articulação acontece, que órgãos usa. Papel das cordas vocais: Há ou não vibração na laringe, nas cordas vocais? No item 3.3 encontrará indicações sobre terminologia para os modos de articulação, para mais esclarecimento sobre essas questões.

3.2 O Alfabeto Fonético... para a Língua Portuguesa

Você podia até dizer, coloquialmente, M’ é que pode, isso num era internacional?, ao ver um título assim. Pois é, se você precisasse trabalhar com uma língua indígena nunca 8 Se não aparece em seu texto um sinalzinho parecido com um cavalo marinho, pegue, do sítio de nosso curso,

a fonte SIL Doulos IPA 93, arquivo Ipa93dr.ttf e providencie, com a ajuda de seu professor a sua instalação em seu computador.

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estudada, não-classificada em uma família (lingüística), completamente desconhecida, partiria radicalmente de fones. Isso quer dizer que não teria idéia do que é fonêmico, fonológico, relevante, naquela língua. Que não poderia ainda dizer, por exemplo, que “[] e [] são alofones do fonema / /”, como acontece em português brasileiro: em muitas línguas, pertencem a fonemas diferentes.

Mas, já ao transcrever, condicionamos o objeto percebido a nossos princípios, expectativas, finalidades.

Por isso, adaptamos a tabela o Alfabeto Fonético Internacional ao uso prático neste nosso Curso, e explicamos as alterações. Você recebeu, anexa a este texto, tabela oficial do International Phonetic Alphabet, IPA, o Alfabeto Fonético Internacional, que existe desde 1888, na versão atualizada em de 2005. Abaixo, apresentamos uma tabela reduzida e traduzida por nós para o português. Se você quer consultar um bom glossário em inglês, pode ver ou baixar A little encyclopaedia of Phonetics (2002), de Peter Roach, da Universidade de Reading, Reino Unido, no endereço:

http://www.personal.rdg.ac.uk/~llsroach/encyc.pdf (email: p.j.roach@reading.ac.uk). Consulte a tabela dos símbolos que apresentamos abaixo. Quanto ao ponto de articulação, foi excluída depois da coluna das uvulares, uma das faríngeas, importante para a descrição do árabe. Quanto ao modo de articulação, foi apagada depois das fricativas a linha das laterais fricativas. Aliás, essa linha e esse termo são provas de que o significado de científico é bem diferente do que se pensa numa visão simplista. Tal linha traz na versão oficial apenas dois símbolos, que designam um som importante em línguas do grupo asteca e outro importante, ao que se sabe, em galês. O galês, ou Welsh, é língua céltica falada no País de Gales, Wales, no território da Grã-Bretanha, onde é sediada a International Phonetic Association.

A linha das aproximantes (semivogais, veja descrição em outro ponto deste texto) desceu, ficando mais próxima das vogais altas. A mudança se justifica também para conferir maior coerência e iconicidade quanto à abertura. Nas consoantes laterais ainda há contato entre os articuladores, mas não nas aproximantes que, foneticamente vizinhas das vogais, tendem a confundir-se com elas na fonologia do português.

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ALFABETO FONÉTICO INTERNACIONAL (Revisão de 2005)

Reduzida os símbolos comumente usados para o português. Alterada levemente em colunas, linhas e termos, como descrevemos a seguir.

Consoantes (pulmônicas)

Bilabial La- bio-dental

Dental Alveolar Alveopa-latal

Retroflexo Palatal Velar Uvular Glotal

Plosivo       Nasal       Vibrante   Tepe   Fricativo         Lateral aprox.    Aproxi-mante ()    Vogais

Nasais (ver as orais) Anterior Central Posterior

  Fechado  



   Meio-fe-chado

 

 Meio-Aber-to    Aberto  Arredon-dado

Quanto aos termos, no IPA original, ao lado do termo “tap”, aportuguesado como tepe (“batidinha”, tradicionalmente “vibrante simples”) há o termo “flap”, que desprezamos. Preservamos o termo “plosivo”, que é substituído em português por oclusivo, porque também as nasais são oclusivas (na boca, embora o ar fique livre em sua passagem para as fossas nasais). Preferimos alveopalatal a pós-alveolar, seguindo muitos autores, porque nos parece que caracteriza os sons do português em chuta (verbo) e juta (planta e fibra) a área dessas duas zonas e uma grande porção da língua, não valendo para nós uma articulação que tome apenas uma pequena área depois dos alvéolos.

É bem icônica a tabela acima, o que facilita seu aprendizado. Queremos dizer são muito significativas as convenções da tabela, há grande semelhança entre suas representações e o que acontece no aparelho fonador real. Nas descrições que fazemos no restante deste item, mostraremos o seguinte:

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a. As posições dos termos na primeira coluna, referente aos modos de articulação, correspondem de perto aos graus de fechamento do canal articulatório: sons mais fechados em cima, mais abertos em baixo, incluídas, aí, as vogais.

b. As posições na primeira linha correspondem às zonas de articulação de um aparelho fonador com a boca voltada para o lado direito da folha (primeira margem à direita). Vai-se, portanto, dos lábios à glote.

c. Nas vogais, como nas consoantes, a posição mais à esquerda fica na direção dos lábios. O som [i] corresponde à região do palato, [a] ao centro da boca, ao véu palatino, [u] à úvula. A vogal mais fechada é muito aberta, se comparada com as consoantes aproximantes, semivogais.

d. Se há dois símbolos consonantais numa célula, o da esquerda é não-vozeado, o da direita é vozeado. Se só há um (caso de r, l, m, n) a posição mostra a tendência (espera-se que [l] seja vozeado), mas o tipo de vozeamento pode variar.

e. Se uma casa está vazia e em branco, não se considerou relevante pôr um símbolo aí, mas um som com essas características é possível. Pode haver vibrante bilabial (o símbolo é []), crianças o pronunciam imitando motor de carro. Se a célula está em negro, o som é considerado impossível (casos de vibrante velar e de lateral bilabial).

f. Não está nessa tabela, mas, nas vogais, dois símbolos juntos, como em [], [ ], [ ], correspondem a um som não-arrendondado e a outro arredondado. Faltam em nossa tabela, porque consideramos isso irrelevante em português (embora ocorra, nunca é fonêmico), mas está lá na versão oficial.

Aproveitamos o parágrafo acima para lhe lembrar, primeiro, que se fala de “fone”, mas de “fonema do português” (ou do galês, do esperanto, do alemão, do fulniô). Um fonema /o/ do português pode ter pouco a ver com um fonema /o/ do russo, englobando um conjunto de fones diferentes, que se distribuem de maneira diferente.

Vamos contar um caso prático, vindo de nossa experiência no ensino de Português para Estrangeiros. Percebemos, há alguns anos, que falantes de russo, estudando português, tendiam a escrever (e dizer) algo como (esquecemos as palavras reais) “as alunas novas”, referindo-se a dois rapazes. Para um professor formado em lingüística, corrigir textos escritos ou falados só riscando e baixando nota é um absurdo. Temos que explicar, descobrir que

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estratégia fez o aluno chegar àquela realização que consideramos falha. Aparentemente, os alunos russos cometiam erro de concordância, confundindo masculino e feminino.

Pois não era isso. Acontece que, em russo, só em posição tônica são distintos os fonemas /a/ e /o/ (que pode ser realizado como aberto ou fechado, não tem importância, ao contrário do que acontece em português. Em posição átona, em russo, os sons centrais [] e [] correspondem tanto a /a/ quanto a /o/, de forma que колокол, ‘sino’, e колокола,9 “sinos’,

transliterados no alfabeto latino como kolokól e kolokolá, são pronunciados mais ou menos [] e [],10 respectivamente.

3.2 A terminologia fonética, exemplificada com o português

Vamos a algumas experiências com classificação e transcrição. Considerando que há graus de abertura, temos alguns grupos de tipos de modos de articulação.

1. Fechamento máximo: consoantes oclusivas e nasais, vibrantes, tepe. Observe e pense em porque se escolheram os símbolos para “Careta de medo”, o que justifica o os termos em negrito: [].

O fechamento máximo ocorre de forma variada, a partir da qual são classificados os sons, conforme os termos descritos de forma sucinta a seguir.

• Plosivo vs. oclusivo. O primeiro termo está na tabela oficial do IPA, o segundo em livros brasileiros, sendo mais comum em obras sobre o português. Designam os mesmos sons, com motivações diferentes. Uma “plosão”, no nosso caso, é para fora, explosão, e acontece por causa da oclusão, fechamento total simples, com liberação súbita do ar.

Na prática, um som plosivo pode ser “não-liberado” (“not released”), cessando o esforço articulador só na oclusão. Isto acontece regularmente em línguas como o vietnamês e o cantonês (outra língua da China, diferente do mandarim de Pequim). Em português, é alofone, por exemplo, de /b/ em pronúncias de “Sabe?”; em inglês, acontece, por exemplo,

9 Em russo e em muitas outras línguas, principalmente eslavas, como búlgaro, ucraniano e o sérvio, é utilizado o

alfabeto cirílico, construído a partir do alfabeto grego para a evangelização no Velho Eslavônio pelos ortodoxos Cirilo e Metódio.

10 O símbolo [] representa l velarizado, coarticulado com aproximante [w], porque a língua se ergue em sua

parte posterior. É um “l colorido de u”, “l escuro”, “dark L”, como o de “well”, em inglês ou em dialetos do português em mal (em Portugal e, talvez, ainda, no Sul do Brasil). Em geral, diz-se que l tem cor de vogal: o do português brasileiro é central, o do francês e do alemão são anteriores, palatais, lembrando “i”.

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nos “advérbios” de afirmação e negação, grafado “Yep” e “Nope”... de fato, não se ouve aí propriamente “p”, apenas ocorrem “yes” sem [s] e “no”, com fechamento imediato dos lábios. Há também sons implosivos, que são produzidos com o ar que ingressa, que vem de fora

• Nasal. Nestes, a oclusão na boca não causa (ex)plosão, por que o ar escapa para a cavidade nasal.

• Vibrante. Em vez de fechamento total, tem toques. Não é comum no português nordestino. A vibrante simples é chamada comumente pelos lingüistas Tepe, de tap, “batidinha”, porque a língua dá um toque rápido na boca, entre os alvéolos e o palato. Na vibrante múltipla, há três toques pelo menos, nos lábios (um com o outro), nos alvéolos ou na úvula.

2. Fechamento suficiente forçar a corrente de ar e produzir ruído: consoantes

fricativas em “Já há chuvas”: []. Nas fricativas, há impressão de fricção, pois o ar é

forçado num estreitamento, sem explosão ou fechamento consistente no canal.

• O português está entre as línguas mais ricas em som fricativos (compare com o espanhol). Temos as formas não-vozeada e vozeada de labiodentais, dentais (Romário) ou alveolares e pós-palatais (última transcrição, acima). Como se não bastasse, no Nordeste e em outras áreas do Brasil, os fonemas [], sempre, e [r], em fim de sílaba, se for realizado, são fricativos, geralmente glotais (há áreas nas quais é igualmente fricativo, mas velar ou uvular).

3. Pode haver um movimento entre os articuladores, sem qualquer grau de fechamento que produza oclusão ou que leve a forçar a passagem do ar acontece com as consoantes

aproximantes (semivogais, semiconsoantes!), inclusive laterais. Experimente dizer:“Ei, e a

au la?”, []. Aqui, não se ouve claramente ruído, mas se sente movimento no aparelho fonador, na relação com os outros segmentos: o alteamento da língua, por exemplo, é “nur angedeutet”11, 'só indicado'.

• Na lateral aproximante, a impressão do som acontece quando a língua se move, afastando-se do céu da boca. Se não, produz-se uma curiosíssima vogal lateral. Experimente, prolongando o som de “l” em l::::::::::á. A transcrição é [l.:la]. (Não experimente em público, use com moderação, pois se parece com expressão de baixo calão).

11 Pronuncia-se [. A expressão, muito apropriada, é utilizada em SCHUBIGER, Maria

(25)

4. Percepções acontecidas sem ruído e sem percepção de movimento leve, que se distinguem apenas pelo timbre, quer dizer, a sensação auditiva de que dois sons são diferentes, só porque há configurações diferentes no aparelho fonador, que levam a ressonâncias diferentes. Experimente comparar o que dissemos acima sobre “Ei, e a aula”, para [j], [w] e [l], com o que acontece em “Ah, é aí”, para [a], [] e [i]. No segundo caso, você percebe algo como [a], mesmo que a língua fique parada por alguns segundos, ao longo de toda a pronúncia. Trata-se das vogais, sons de articulação livre. A percepção das diferenças vem exclusivamente dos diferentes tipos de ressonância da voz, da vibração das cordas vocais, conforme as modificações na cavidade bucal, determinadas pelas diferentes posições da língua, e da abertura dos lábios. A língua continua descendo, o que está associado às subclassificações a seguir.

(a) Altas. O termo corresponde a fechado, pois o articulador ativo, a língua, está mais que para as outras vogais. Veja os símbolos para as altas anterior e posterior. Fizemos diferença entre formas tônicas, mais tensas, altas, extremas (anterior, posterior), e formas átonas, relaxadas, menos extremas (tendendo à centralização da língua):

[] 12, “Vinte cibites e um surdo.”

(b) Médias-altas. Mantivemos velhas tradições, com 1 símbolo para /e/, um para /o/, mas vários símbolos para /a/. Voltamos ao assunto em (d):

[], “Seboseira sem nome na lã” (c) Médias-baixas. Só 1 símbolo para //, 1 para //.

[fl“Nova Floresta”

(d) Baixas (isto é, abertas). Reveja tudo até em cima: cumprimos, para as realizações de /a/, a tradição máxima, de Macambira, com símbolos diferentes para variante tônica oral [], átona final [], outras átonas [], qualquer realização nasal [], precedendo a semivogal [w]: []. Não se impressione: isso é discutível, você pode simplificar.

[] “Lá faltava água”.

Para curiosos: como o som vocálico central médio relaxado, a aproximante / semivogal anterior e a correspondente posterior são difíceis de nomear claramente isoladas, com o próprio som, recebem nomes próprios, de origem hebraica. São xuá (“schwa”) para [], iode (“yod”) para [] e uau (“vav”, “waw”) para [w].

Paramos aqui, pedindo desculpa pelo freio abrupto, para voltar logo em novo texto.

12 Na prosódia, não seguimos o clássico do AFI, porque o sinalzinho de agudo para a entoação, útil para as

(26)

BIBLIOGRAFIA

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LYONS, John. Lingua(gem) e linguística. Uma introdução. Rio de Janeiro: Guanabara – Koogan, 1987. Cap. 3, “Os sons da língua”.

MACAMBIRA, José Rebouças. Fonologia do português. 2. ed. Fortaleza: Imprensa Universitária da UFC, 1987.

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TRUBETZKOY, Nikolaus S. Grundzüge der Phonologie. [Princípios da fonologia] 7. ed., Göttingen (Alemanha): Vandenhoeck & Ruprecht, 1989 [1. ed: 1939].

Os nomes estrangeiros acima pronunciam-se, nesta ordem e aportuguesando, “glísan”, “háiman”, “láions”, “chúbiga”, “píass(e)”, “trubetscói”.

Referências

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