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DOM HENRIQUE CÉSAR FERNANDES MOURÃO

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Academic year: 2021

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Caros irmãos,

Apenas depois de três meses da morte de D. Vicente Priante, bispo de Corumbá, outro grave luto atingiu a nossa Congregação ... a morte de

DOM HENRIQUE CÉSAR FERNANDES MOURÃO Bispo de Cafelândia

ocorrida nesta capital, quinta-feira santa, 29 de março último, com a idade de 68 anos Dom Henrique Mourão, primeiro bispo de Campos e segundo de Cafelândia, nasceu no dia 28 de novembro de 1877. Seus pais, Vitório Pereira Mourão e Maria Vitória Fernando Mourão, profundamente cristãos, o educaram no santo temor de Deus, entre as belezas naturais e os encantos do Rio de Janeiro, capital do então Império do Brasil.

Nos primeiros anos não frequentou as escolas públicas, mas fez o curso primário em escola particular, e parte no Ginásio do Instituto S. Bento, que, então mantinha um externato gratuito, muito frequentado. Mais tarde entrou no Colégio Salesiano de Niterói na época dirigido pelo inesquecível P. Pedro Rota, que seria depois por 18 anos Inspetor.

Inteligência vasta e profunda, coração grande e generoso, desde aquele tempo era para seus irmãos e jovens, mais coração do que cabeça, mais pai que superior. Perto dele todos se sentiam bem: salesianos e alunos, pais dos jovens e benfeitores. O pequeno Mourão foi imediatamente cativado pelo encanto daquela pedagogia que em última análise era o genuíno espírito de Dom Bosco, ele e os dois condiscípulos, os irmãos Helvécio e Emanuel de Oliveira, agora, respectivamente arcebispos de Mariana e Goiás. A graça de Deus e a bondade do diretor

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fizeram com que os três, que um dia seriam fulgidíssimas figuras do episcopado brasileiro, dessem o nome à Sociedade Salesiana.

Em seguida a vocação de Henrique foi bastante contrariada. Não estava mais ao seu lado o bom P. Rota, transferido para o Colégio de Las Piedras, no Uruguai. Informado da dificuldade que passava seu ex-aluno, convidou-o para que fosse para lá. Deixaram-no ir, e sua vocação foi salva. Progrediu nos estudos e o clérigo dava cada vez mais provas da sua viva inteligência.

No dia 6 de novembro de 1895 foi mandado para a Itália, onde se laureou em Filosofia em Roma com Helvécio Gomes de Oliveira e José Santana, o primeiro aluno do Colégio São Joaquim em Lorena, aberto em 1890. Os três recordarão depois, sempre, a afetuosa acolhida da Casa Mãe de Turim, onde se encontraram, sem mais, numa família, numa verdadeira família, como no antigo colégio de seu primeiro diretor, o P. Rota; falarão sempre da infinita bondade do P. Rua, o primeiro sucessor de Dom Bosco; do padre Durando, do padre Lazzero, do padre Barberis, do padre Cerruti, que eram, então, do Capítulo superior. Tocaram com as mãos a realização daquilo que Dom Bosco quer: não uma Congregação dividida em inspetorias conforme a nacionalidade dos sócios, mas uma Congregação que se abstraísse de qualquer Pátria, para todos considerar-se irmãos e filhos do mesmo Pai; unidos todos, num único esforço, para uma única conquista: a conquista do Reino de Deus, nas almas e no céu.

Dom Henrique Mourão, forjou, então a sua formação salesiana, haurindo-a das puras fontes da Casa Mãe de Turim e da própria Roma,

caput mundi. Nestes anos frequentou também os cursos de ciências físicas

e matemática.

Retornando ao Brasil em 1898, iniciou a sua carreira de professor e educador salesiano nas Escolas Dom Bosco de Cachoeira do Campo (MG). Um aluno do seu tempo, o atual arcebispo de Fortaleza, D. Antonio de Almeida Lustosa escrevia numa sua recente carta: D. Henrique Mourão, em Cachoeira do Campo o tive como professor gozava de tal ascendência sobre os alunos que as suas palavras orientavam a opinião geral. Ninguém

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tinha a coragem de discutir o que ele afirmava. Eu me recordo que sem querer, se imitava seus gestos, suas palavras, e o seu modo de caminhar... Durante a sua permanência em Minas, recebeu sucessivamente as ordens sagradas das mãos do venerando bispo de Mariana, Dom Silvério Gomes Pimenta.

Foi ordenado sacerdote no dia 30 de novembro de 1901 com a idade de 24 anos e dois dias. Depois de um ano de permanência em Lisboa, para onde foi mandado para encaminhar a edição portuguesa do Boletim Salesiano, o vemos fazer parte do grupo de professores do Colégio São Joaquim em Lorena (SP).

Ele entendia de tudo e fazia de tudo: aula, disciplina, administração, ministério, canto, teatro. Era também ótimo e muito procurado pregador.

Naqueles anos, o Colégio passava por enormes dificuldades, especialmente financeiras. Não era tão conhecido, portanto, tinha poucos alunos. Foram três os grandes lutadores daquele tempo em Lorena: o P. Leão Muzzarelli, diretor, o padre José dos Santos e o nosso P. Henrique Mourão, conselheiro escolar. A estes coube o árduo empreendimento de equiparar o colégio. E se saíram bem. Vieram alunos de todas as partes, e o colégio ergueu-se se consolidando como granito. Quantas personalidades públicas se formaram dentro daqueles muros.

Em 1908, quando devidamente organizados se concentraram em Lorena os aspirantes à vida salesiana para fazer num ginásio equipado, equiparado, os estudos secundários, estes jovens, futura esperança da Inspetoria, foram confiado ao P. Henrique Mourão. Esteve com eles três anos, isto é, de 1909 a 1911. Mais tarde os acompanhou para Cachoeira do Campo, onde ficaram dois anos, até à fundação do colégio de Lavrinhas, o primeiro clássico aspirantado com ginásio equiparado e faculdades reconhecidas de filosofia e pedagogia. O Colégio São Manoel de Lavrinhas deu até os dias de hoje falanges de vocações, mas quem colocou as bases foi o P. Henrique Mourão, seja com relação aos estudos, seja com relação à sólida formação religiosa.

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Em 1915 foi eleito diretor do Liceu Coração de Jesus em São Paulo, que por um sexênio dirigiu com rara competência e eficácia educativa.

Do atual diretor, P. João Batista Costa, desta imensa casa modelo, foi descoberto no arquivo um livrinho de ouro – talvez a única cópia remanescente – escrito naqueles anos, mais com o coração do que com a caneta, pelo nosso P. Henrique Mourão, que revela, em toda sua beleza, uma alma vibrante dos mais puros e santos dos ideais salesianos.

É sobre o sistema preventivo. O autor falou com entusiasmo ao inspetor, P. Carletti um mês antes de morrer, uma conversação que tiveram sobre a nossa pedagogia e o P. Henrique Mourão deplorava ter se esgotado a edição. Façamos votos que a reimprimam, perpetuando-se assim em tão sábias páginas a lembrança e a lembrança e o ensinamento de um mestre educador.

Quanto à sua obra material, P. Henrique Mourão, foi um construtor e um organizador.

Transformou e reformou por completo o Liceu Coração de Jesus, tornando-o maior um dos maiores colégios modernos: talvez o maior em toda a Congregação salesiana. Teve a rara coragem de derrubar o prédio das salas de aula que avançavam pelo centro invadindo e dividindo o pátio maior. Era construção sólida, mas que diminuía o espaço necessário para o recreio de tantos jovens estragando a estética do edifício. Foi ele que ergueu a colossal ala esquerda que tem os salões de estudo e a saída das aulas dos estudantes e dos aprendizes; ele organizou a enfermaria, a sala das armas e da banda, os antigos laboratórios de física e de química, o gabinete dentário, a secretaria geral e seus anexos. Em 1916 incrementou o curso ginasial que estava tísico, tísico; encaminhou o Curso Comercial que as autoridades reconheceram e legalizaram. Foi ele também que iniciou a série, em edições esplêndidas, dos textos didáticos PSS (Padres Salesianos) sempre reimpressos até os dias de hoje.

Naturalmente, como em todas as coisas do Senhor, e especialmente porque tais encontrou muitas dificuldades: pouca saúde, pouco dinheiro, pouco compreendido... e depois da primeira guerra mundial, a febre espanhola em 1918; o tifo em 1919... e muitas outras dificuldades...

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Mas sempre o sustentaram duas grandes forças: uma devoção ilimitada a Dom Bosco e a Maria Auxiliadora e a confiança em seu inspetor, Padre Pedro Rota, o mestre, o pai de sua alma.

Terminado o seu tempo de diretor do Liceu, o inspetor se serviu dele para encargos de confiança... Foi enviado para Fortaleza, no Ceará, para examinar a possibilidade de uma proposta do arcebispo, Dom Emanuel; visitou também os salesianos das casas da Baía, Pernambuco e Rio Grande do Sul.

Em 1923 o encontramos como diretor do aspirantado de Lavrinhas enriquecido com um novo pavilhão construído. Foi lá que o surpreendeu a nomeação para Administrador Apostólico da futura Diocese de Campos (RJ). Que sacrifício distanciar-se de seus aspirantes, dos seus irmãos salesianos, da sua amada Congregação! Mas o coração e a alma continuaram sempre indelevelmente salesianos.

***

Em Campos exerceu tão bem seu trabalho que depois de um ano e meio, a Santa Sé o nomeava bispo da mesma diocese sendo consagrado no dia 18 de outubro de 1925.

Em onze anos de governo, o bispo reativou e revigorou a vida cristã no povo com o ensino do catecismo e multiplicando as paróquias. Fundou o Ginásio e a escola Normal Maria Auxiliadora que confiou às FMA. Comprou o Ginásio Bittencourt para transformá-lo em Ginásio Diocesano. Num bairro, na periferia da cidade, fundou o seminário. A velha catedral foi refeita a partir das bases, e lá está, como joia de arquitetura e para atestar a atividade, o espírito e o gênio do primeiro bispo de Campos.

No entanto, aquele clima não era indicado para ele e principalmente por causa disso, a Santa Sé em 1936 o transferiu para a diocese paulista de Cafelândia da qual tomou posse no dia 10 de março de 1936.

O novo campo de trabalho era bem maior, atingindo 35.000km2 e

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Dom Mourão se meteu a trabalhar com renovada energia. Quando começou, as paróquias eram apenas 18. Ele elevou a 50. Surgiram numerosos igrejas e capelas, casas paroquiais, numerosos institutos de educação, como a Faculdade de Comércio e o Colégio Dom Bosco para os jovens e a Escola Normal e o Colégio Maria Auxiliadora para as meninas. Todos os quatro ele confiou aos Salesianos e às FMA.

Oh! A juventude. Foi sempre o conforto e a alegria, a doce inspiração de sua alma; salvar a juventude das insídias da heresia protestante e das atrações dos vícios, o anseio angustioso e o santo tormento do seu coração de bispo salesiano.

- Excelência, o senhor fez o testamento? Pergunta o Inspetor, P. Carletti quase nas vésperas de sua morte.

- Não, porque não tenho nada para deixar. O pouco que eu tinha, coloquei nos colégios que dei aos salesianos. – Morreu mesmo como um pobre, sem de seu, um real em caixa e com umas roupas velhas, quase fora de uso.

Para os futuros padre da diocese construiu um magnífico seminário no qual ele tinha sua residência quase habitual como sentinela atenta para que seus seminaristas crescessem com o espírito e a alma de seu amado pai, Dom Bosco. Ultimamente havia elaborado um grandioso plano, de acordo com a Nunciatura Apostólica, o desmembramento do vastíssimo território em quatro dioceses: Cafelândia, Lins, Marília, Tupã.

- “Nec moras, nec quies”- nem demora, nem descanso. Quando foi feito bispo, lhe sugeriram este lema, que ele aceitou sorrindo em harmonia com o nome, e mais que com o nome, com as características que trazia. Não foi novo programa, mas a continuação daquilo que sempre havia feito.

Dom Mourão ficou nove anos em Cafelândia; foram nove visitas pastorais; um por ano como em Campos.

Não se contentava em visitar as sedes paroquiais, mas ia a todas as capelas e sítios. Não se limitava em crismas, mas confessava e pregava para povo.

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O padre Luiz Marcigaglia, a quem devo grande parte de todas estas anotações, me disse – Eu o acompanhei uma vez para visitar uma capela. Fiquei profundamente edificado vendo o zelo e a bondade, a humildade do nosso bispo pelo modo de tratar aquele povo pobre que o rodeava por todos os lados, dificultando o caminho, feliz por vê-lo. E com que unção pregava. Linguagem clara, bem à vontade. Explicava o catecismo; explicava o sacramento da Crisma; passava horas e horas no confessionário, indiferente ao calor e ao cansaço. Tinha a mesma amabilidade com todos: pobres ou ricos que fossem. Tagarelava afavelmente sempre com bom humor, dando conselhos, exortando, fazendo o bem... Eu pensava comigo mesmo: Este é D. Mourão, o já erudito professor, criterioso diretor, culto literário, exímio escritor, ei-lo agora, bispo: é o bom pastor no meio de suas ovelhas.

Mas no final do ano seguinte, a saúde de D. Mourão estava muito abalada, ele se obstinava em não parar e continuava a trabalhar.

No mês de setembro passado realizou-se aqui em São Paulo o jubileu do Instituto Dom Bosco para celebrar os 25 anos das Escolas Profissionais gratuitas. Esta casa, anexa ao santuário de Maria Auxiliadora, surgiu do desmembramento Escolas Profissionais do Liceu Coração de Jesus. Uma parte foi transferida para este Instituto, ficando sob a dependência do Liceu, do qual D. Mourão era diretor. Eis porque o Instituto teve a honra de tê-lo como seu primeiro diretor. Ele não podia faltar nos festejos deste jubileu. Ele consagrou o altar de N. S. Aparecida e pronunciou um belíssimo discurso exaltando, de sua parte, a grande figura do P. Rota que foi o fundador do Instituto.

Voltou para Lins. Ficou um mês na Santa Casa onde conseguiu uma melhora, mais aparente que real. Um mal insidioso e não bem definido, o prostrava cada vez mais, dia a dia.

No dia 21 de janeiro deste ano, quando terminou o retiro espiritual em Campinas, os diretores estavam reunidos para as costumeiras conferências do inspetor, P. Orlando Chaves, eis que chega de repente, D. Mourão de passagem para uma vizinha estação de águas termais. Numa bela improvisação, disse estar feliz no meio de velhos amigos, que lhe

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recordavam os velhos tempos. Ali cumprimentou um por um com insólita efusão e muita ternura. Pressentimento de seu próximo fim!

Passou de novo, depois de pouco tempo porque se sentia pior. Depois de consultados os médicos e de exames clínicos, voltou para a sua Lins voltando para o hospital da Santa Casa. O mal foi diagnosticado, “um câncer no pâncreas”. Caso perdido. Para ele nada foi falado, mas aconselharam ir para São Paulo onde eram melhores os recursos médicos.

Neste ponto, vamos refletir um pouco.

Através de fatos e coisas referentes ao nosso falecido, alguma coisa apareceu no seu perfil moral e sobre sua grande personalidade.

Há outra coisa. Dom Mourão foi, antes de tudo, uma alma profundamente boa, de uma bondade sincera, simples, espontâneo. Viveu para seus alunos e irmãos como salesiano; para os seus padres e seu povo, como bispo. Permaneceu sempre com alma salesiana, profundamente arraigado a Maria Auxiliadora e a Dom Bosco e observante das nossas Regras quanto pode. De caráter pronto e ágil, mas sempre simples, sincero e leal. Teve inimigos que o fizeram sofrer. Jamais se vingou. Esperava e rezava; e era o primeiro ir ao encontro para o abraço de reconciliação. O Senhor lhe deu belíssimos dons naturais: inteligência, imaginação viva, visão larga, de futuro, vontade ferra. Mas era mais rico de dons sobrenaturais, como a reta intenção (via somente Deus) e a fé (confiava só em Deus). Conforme o seu lema, como vimos, D. Mourão não podia estar sossegado e parar; a fleuma, a lentidão, ou pior, a inércia eram contra a sua natureza. Trabalhava continuamente, sadio ou doente, com dinheiro ou sem dinheiro. Construía e demolia, mas logo reconstruía com grandeza e solidez. Quando julgava ser uma obra necessária para a glória de Deus e o bem das almas se colocava dentro, sem poupar, nem forças, nem sacrifícios. Confiava somente na Providência divina. E Deus sempre lhe deu razão. Para suas realizações precisava de muito dinheiro. Sabia encontrar e quando não o tinha mais dívidas fazia, mas não parava.

Trabalhou também em outro campo, bem diverso, as vocações. Que o digam os anos passados nas casas de formação. Aqueles salesianos de meia idade, que não estão entre os velhos e nem entre os jovens, foram

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formados por ele para a vida salesiana, tendo como base o senso prático, do amor ao trabalho e ao sacrifício até o heroísmo. Quis que os filhos de D. Bosco e as FMA nas duas dioceses por onde passou, porque é salesiano. Também por outro motivo, deu Lins e Tupã para os salesianos do Mato Grosso para que os transformassem em colégios masculino e feminino em sementeiras de belas e sólidas vocações. – “No interior do Estado de São Paulo, existem muitas, dizia; e o provavam os mil ou mais aspirantes do inspetor, P. Orlando Chaves”. Uma vez chegados em Lins e Tupã, serão também dos senhores. Não pensem mais tanto na Itália e na Europa. A guerra fechou os mares e pelos estragos que está semeando, e quem sabe por quantos anos, mesmo depois, os Superiores Maiores, não poderão mais ajudá-los; a quatro anos que não vem mais ninguém reforçar nossas pobres fileiras. Mas os Salesianos do Mato Grosso escutaram os sábios e iluminados conselhos, e agora, também a inspetoria missionária tem dois grandes aspirantados em Cuiabá e Tupã e o seu noviciado numa encantadora colina em Campo Grande.

***

Mas voltemos à cabeceira do grande agonizante.

Haviam-lhe feito crer, - com mentiras de afeiçoados parentes que estava melhor. E ele com o otimismo de sempre não se convence. Preocupava-se, porém, não com os Sacramentos dos Enfermos, mas em fazer os exercícios espirituais no Santuário de Aparecida.

- ... tudo, apenas dizia ao padre Carletti. – Ali sempre os fiz com os meus padres, como o senhor, padre Carletti, que sempre faz com seriedade, todo ano, entre aqui e nas Missões. Mas é necessário fazê-lo de vez em quando sozinho, não pregando nem dirigindo os outros. – Para o P. Carletti o coração se apertava. Pouco antes havia falado com a Irmã daquele setor (estava numa clínica do Hospital Santa Catarina), uma irmã que por muitos anos de experiência havia adquirido um olho clínico tal, de confundir um médico. Havia-lhe falado a irmã: Que esperam para dar-lhe a Unção dos Enfermos? É gravíssimo.

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- Ex.cia não seria bom pensar no Viático? - Que diz, P. Carletti? Não estou nos extremos.

- No entanto, a irmã do setor, aquela idosa, que nunca erra, me disse que está no fim. – O bispo ficou sério. Depois de uma pausa, murmurou. Ah! É assim? Diga, então, que hoje não recebo ninguém. Quero preparar-me para a Confissão de toda a minha vida. Diga ao Capelão beneditino que venha à tarde com todo o necessário. – E recebeu os sacramentos com fé e fervor que comoveu a todos.

O P. Luiz Marcigaglia, na última visita que lhe fez em nome dos bispos salesianos do Brasil, lhe disse: Que devo dizer-lhes, Ex.cia, em seu nome?

- Estamos nas mãos da Providência, lhe respondeu, lentamente. Que se faça sempre a vontade de Deus... e parou tomado pelo torpor e a sonolência.

Pouco antes que morresse o P. Caletti quis uma última bênção: - Me abençoe, Ex.cia, e comigo o Mato Grosso, Lins, Tupã – A este último nome que foi uma das maiores de suas vitórias, sorriu, e levantou a mão: Benedictio Dei Omnipotentis... A mão caiu inerte. O P. Carletti, estando de joelhos, a sustentou e o acompanhou no gesto de abençoar: -

Patris et Filii et Spiritus Santi. Amen. O agonizante falou distintamente até

o fim todas as palavras da bênção.

***

Não escrevemos nada sobre os solenes funerais. Foram uma apoteose. Tendo morrido na quinta-feira santa, dia 29 de março às 20h50 foi necessário esperar até segunda-feira depois da Páscoa para as solenes exéquias. Foram celebradas no Liceu, o seu Liceu, onde ficou exposto, feito o embalsamamento, três dias e três noites. Para o transporte até sua diocese, a ferrovia Sorocabana e Noroeste colocaram à disposição vagões de luxo. Os funerais foram feitos a expensas do Estado.

Dom Henrique Mourão foi grande porque foi bom e caridoso. Grande por ter ensinado a doutrina de Jesus com a palavra e com o

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exemplo; grande porque passou a vida evangelizando os pequenos e os pobres. – Vere magnus est, qui magnam habet caritatem (Da Imitação de Cristo). – Qui autem fecerit et docuerit, hic magnus vocabitur in regum

cœlorum.

Não obstante tudo isso, o recomendo à caridade das vossas orações. Rezem também por quem se professa

Vosso em Jesus e Maria P. JOSÉ REINERI

Representante do Sr. P. Pedro Ricaldone Reitor Mor dos Salesianos.

Dados para o Necrológio

DOM HENRIQUE MOURÃO *Porto - Portugal: 28-11-1877 + São Paulo - SP: 29-03-1945 com 68 anos de idade

44 de sacerdócio 18 de episcopado

LINHA DO TEMPO

ACONTECIMENTO LUGAR DATA

Nascimento Porto (Portugal) 28/11/1877

Primeiro Colégio Salesiano Colégio Santa Rosa Niterói (RJ)

Noviciado Foglizzo (It) 1895

Vestidura Valdocco – P. Miguel Rua 05/04/1894 Profissão perpétua Ivrea (It) 04/10/1894

Estudante Roma – Sacro Cuore 1895-1897

Clérigo Cachoeira do Campo (MG) 1898-1901

Tonsura e Ordens Menores Mariana (MG) 17 /12/1898 D. Silvério Gomes Pimenta Subdiaconado Mariana (MG) 21/09/1891 D. Silvério Gomes Pimenta Diaconado Cachoeira do Campo (MG) 24/11/1901 D. Silvério Gomes Pimenta Presbiterado Cachoeira do Campo (MG) 24/11/1901 D. Silvério Gomes Pimenta Conselheiro Escolar Cachoeira do Campo (MG) 1901-1904

Conselheiro Escolar Niterói (RJ) 1905 Conselheiro - professor Lorena (SP) Escola Agrícola 1908-1911 Conselheiro dos Aspirantes Cachoeira do Campo (MG) 1912-1913 Diretor S. Paulo – Liceu Coração de Jesus 1915-1921

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Diretor Lavrinhas (SP) 1923-1924

Administrador Apostólico Campos (RJ) 1925 Ordenação Episcopal Campos (RJ) 18/10/1925

Bispo Diocesano Campos (RJ) 1926-1935

Bispo Diocesano Cafelândia (SP) 1936-1945

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