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Operadores de Fatorização na Física Matemática

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Operadores de Fatorização na Física

Matemática

Mario Goto

Departamento de Física

Centro de Ciências Exatas

Universidade Estadual de Londrina

CEP 86051-970 - Londrina - PR

06 de maio de 1994

Revisto em 26 de agosto de 1994

Abstract Tel. (ramal) : 4256/4266 Categoria : artigo

Área : Ciências Exatas e Tecnologia

(2)

GOTO, M. Operadores de Fatorização na Física Matemática.

RESUMO : Apresenta-se a aplicação dos operadores de fatorização para a resolução das principais equações diferenciais lineares de segunda ordem da Física Matemática como alternativa para o método de Frobenius. Em equações mais simples, a fatoração reduz a equação diferencial de segunda ordem a um par de equações diferenciais de primeira ordem, cada qual fornecendo uma das soluções linearmente independentes. Em outras, geral-mente equações de auto-valores, os operadores de fatorização são identificados como operadores de levantamento e de abaixamento de índices, de modo que basta resolver a equação diferencial correspondente ao auto-valor de nível mais baixo, onde uma simples integração é suficiente. Verifica-se que a maio-ria das equações diferenciais comumente estudadas na Física Matemática podem ser fatoradas.

PALAVRAS CHAVES : Equações diferenciais lineares; Operadores dife-renciais; Operadores de fatorização.

(3)

GOTO, M. Factorization Operators in Mathematical Physics.

ABSTRACT : We present applications of factorization operators to solve linear second order differential equations as an alternative to the Frobenius method in Mathematical Physics. In some simple examples, the factorization reduces a second order differential equation to a pair of first order differential equations, each one giving one of the linearly independent solutions. In other, generally eigenvalue equations, the factorization operators are identified with the eigenfunctions index raising and lowering operators; in these cases, one just need to solve the lowest eigenvalue differential equations, where a simple integration is enough. We can also confirm that the majority of Mathematical Physics differential equations can be factored.

KEY-WORDS : Linear differential equations; Differential operators; Fac-torization operators.

(4)

OPERADORES DE FATORIZAÇÃO NA FÍSICA MATEMÁTICA

(Factorization Operators in Mathematical Physics)

Mario Goto1

1

INTRODUÇÃO

As leis da Física, quando possíveis, são preferencialmente formuladas através de equações matemáticas, em geral, sistemas de equações diferen-ciais pardiferen-ciais de segunda ordem. Em muitas aplicações, as variáveis podem ser separadas, originando um conjunto de equações diferenciais ordinárias [TIJONOV & SAMARSKY, 1972; BOYCE & DiPRIMA, 1965]. Uma classe muito especial, e uma das principais matérias de estudo da Física-Matemática, são as equações diferenciais ordinárias, lineares, de segunda ordem, cuja forma geral é

A(x)y00(x) + B(x)y0(x) + C(x)y(x) = D(x), (1) ou, desde que A(x) 6= 0,

y00(x) + P (x)y0(x) + Q(x)y(x) = R(x) , (2) onde y0(x) = dy dx , y 00(x) = d2y dx2 , etc..

Excetuando alguns casos mais simples, a técnica usual aplicada na res-olução destas equações diferenciais é o método de Frobenius. As soluções de-finem as funções especiais da Física-Matemática [ARFKEN, 1966; BUTKOV, 1968].

Uma alternativa muito elegante e simples, e que nem sempre tem mere-cido a devida atenção, é o método da fatoração, ou fatorização. Em casos mais simples, a fatoração de uma equação deferencial de segunda ordem re-sulta num par de equações diferenciais de primeira ordem, cujas soluções

1Departamento de Física/CCE - Universidade Estadual de Londrina, PR, Brasil, Caixa

(5)

podem ser obtidas por integração direta. Em equações de auto-valores, a fatoração define operadores que atuam no levantamento e no abaixamento de índices das auto-funções, bastando, portanto, resolver a equação para o nível fundamental, por exemplo. Este procedimento é aplicado, princi-palmente, na Mecânica Quântica [DICKE & WITTKE, 1960; POWEL & CRASEMANN, 1961], servindo como modelo o oscilador harmônico simples, assim como os operadores de momento angular[GASIOROWICZ, 1974], e em aplicações mais recentes, na resolução de alguns sistemas quânticos mais com-plexos [KIMEL, 1982; GOTO, 1993], indicando também implicações teóricas mais profundas da Física teórica em modelos fatorizáveis [ALVES & DRIGO FILHO, 1988].

Possivelmente, nem todas as equações diferenciais de segunda ordem po-dem ser fatoradas, nem se conhecem regras precisas ou as condições necessárias para que as mesmas sejam fatoráveis, apesar de a idéia ser antiga e aparente-mente simples, de certa maneira lembrando o método utilizado para a obtenção das raízes da equação algébrica de segundo grau.A equação deferencial linear homogênea de segunda ordem, equação [1], caso D(x) = 0, com os operadores diferenciais evidenciados, fica

∙ A(x) d 2 dx2 + B(x) d dx + C(x) ¸ y(x) = 0, (3)

que tem uma forma similar à equação algébrica de segundo grau,

ax2+ bx + c = 0. (4) Equações diferenciais, no entanto, são muito mais complexas que as equações algébricas, pois as variáveis envolvidas são operadores diferenciais e funções atuando sobre uma outra função, a ser determinada. Entretanto, o procedi-mento usado na resolução da equação algébrica de segundo grau pode servir como um guia importante no tratamento destinado às equações diferenciais. Por exemplo, uma maneira simples de resolver a equação [4] é colocar na forma µ x + b 2a ¶2 − b 2 4a2 + c a = 0. (5) Se desejarmos prosseguir na fatoração, podemos considerar

µ x + b 2a + α ¶ µ x + b 2a + β ¶ = 0. Desenvolvendo,

(6)

µ x + b 2a ¶2 + (α + β) µ x + b 2a ¶ + αβ = 0

e comparando com a equação [5], temos

α =−β = ∓ µ b2 4a2 − c a ¶ ,

resultando na forma fatorada à x + b 2a− r b2 4a2 − c a ! à x + b 2a + r b2 4a2 − c a ! = 0. (6)

Esta equação é satisfeita se à x1+ b 2a − r b2 4a2 − c a ! = 0 (7) ou à x2+ b 2a + r b2 4a2 − c a ! = 0. (8)

Neste sentido, a equação algébrica de segundo grau [4] foi transformada em duas equações algébricas de primeiro grau, cujas soluções são imediatamente identificadas.

Ao contrário de uma equação algébrica de segundo grau, não há proced-imento geral conhecido para transformar uma equação diferencial linear de segunda ordem em duas equações diferenciais de primeira ordem, que identi-ficariam de forma mais simples as duas soluções linearmente independentes. Evidentemente, isto poderia ser feito se fosse possível fatorar a equação difer-encial, equação [3]. Neste sentido, os primeiros trabalhos foram desenvolvidos por [INFELD & HULL, 1951], com o estabelecimento de algumas regras e procedimentos a serem seguidos. Como, de qualquer maneira, não se trata de uma regra geral de fatoração, cada caso deve ser analisado em função das suas peculiaridades que, às vezes, indicam uma regra simples de fatoração. É o que se pretende mostrar nos exemplos apresentados, inicialmente para equações diferenciais a coeficientes constantes.

Este é um dos trabalhos que vem sendo usado junto aos alunos bolsistas do Curso de Física da UEL que integram o Grupo PET/Capes como um guia

(7)

inicial no estudo de diversos aspectos das equações diferenciais da Física-Matemática, com ênfase nos operadores, suas propriedades algébricas e as possíveis aplicações na Física.

2

EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES

DE SEGUNDA ORDEM A COEFICIENTES

CONSTANTES

Uma equação diferencial linear de segunda ordem a coeficientes constantes tem a forma geral

∙ Ad 2 dt2 + B d dt + C ¸ x(t) = 0. (9)

Um exemplo familiar é a equação clássica do oscilador harmônico simples unidimensional [SYMON, 1972],

d2x dt2 + ω

2x = 0. (10)

É imediato verificar que pode ser fatorada como µ d dt+ iω ¶ µ d dt − iω ¶ x = 0 (11) ou µ d dt − iω ¶ µ d dt+ iω ¶ x = 0, (12)

as duas soluções linearmente independentes x1(t) e x2(t) satisfazendo às

equações diferenciais de primeira ordem, µ d dt− iω ¶ x1(t) = 0 (13) e µ d dt + iω ¶ x2(t) = 0, (14) respectivamente, para

(8)

x1(t) = eiωt e x2(t) = e−iωt . (15)

A equação na forma geral pode ser exemplificada pela equação do os-cilador harmônico simples, unidimensional, com amortecimento,

d2x dt2 + 2γ dx dt + ω 2 x = 0. (16) Usando o caso sem sem amortecimento como exemplo, pode-se tentar a fatoração µ d dt+ Ω ¶ µ d dt + Ω ∗ ¶ x = 0, (17) ou seja, µ d2 dt2 + (Ω + Ω ∗)d dt+ ΩΩ ∗ ¶ x = 0,

de modo que, para

Ω = a + ib, (18) resulta

(Ω + Ω∗) = 2a = 2γ e ΩΩ∗ = a2 + b2 = ω2, ou seja,

Ω = γ + i(ω2− γ2)1/2. (19) As soluções procuradas são obtidas das equações de primeira ordem,

µ d dt+ Ω ∗ ¶ x1(t) = 0 e µ d dt + Ω ¶ x2(t) = 0 , (20) resultando x1(t) = e−Ω ∗t = e x2(t) = e−Ωt , (21)

que correspondem, evidentemente, às conhecidas soluções para os três casos possíveis de um oscilador harmônico simples com amortecimento.

(9)

3

EQUAÇÕES DIFERENCIAIS LINEARES

DE SEGUNDA ORDEM A COEFICIENTES

VARIÁVEIS

A fatoração de uma equação diferencial linear de segunda ordem a co-eficientes variáveis é uma tarefa um pouco mais complexa que no caso dos coeficientes constantes. O método dos operadores de fatorização é pouco uti-lizado na resolução de equações diferenciais, por ser de difícil aplicação, e a sua vantagem aparece em poucas situações mais simples da Mecânica Quân-tica, quando a sua elegância e simplicidade se tornam visíveis. Pretende-se mostrar, neste trabalho que o método é muito mais abrangente, po-dendo ser aplicado para a maioria das equações diferenciais usuais da Física Matemática, apesar de não oferecer nenhum formalismo de aplicabilidade geral ao propósito da fatoração, muitas vezes valendo-se da intuição, através da apresentação de alguns exemplos simples, estendendo o procedimento para as equações tradicionais da Física Matemática, como as equações de Legen-dre, de Bessel, etc..

3.1

EXEMPLOS DE FATORAÇÃO IMEDIATA

Apresenta-se nesta subsecção algumas equações diferenciais cuja fatoração é relativamente simples que podem servir de guia para os casos mais com-plexos. Considere

d2y dx2 −

6

x2y = 0. (22)

Pode-se tentar a fatoração na forma de produto de dois operadores diferen-ciais, µ d dx + f ¶ µ d dx − f ¶ y = 0, (23)

onde f (x) é uma função arbitrária. Resulta em µ d2 dx2 − f 0− f2 ¶ y = 0,

(10)

f0+ f2 = 6 x2.

Supondo, para um parâmetro α constante,

f = α x =⇒ f 0 =xα2 e f 2 = α 2 x2, (24)

chega-se a uma equação algébrica de segundo grau em α,

α2− α − 6 = 0, cujas raízes são

{α} = {−2, 3}, correspondentes às duas soluções para f (x),

f (x) = ½

=−2/x

= 3/x . (25) Para α = −2, a fatoração fica

µ d dx − 2 x ¶ µ d dx + 2 x ¶ y = 0, (26) e para α = 3, µ d dx + 3 x ¶ µ d dx − 3 x ¶ y = 0, (27)

de modo que uma das soluções deve satisfazer à equação diferencial de primeira ordem µ d dx + 2 x ¶ y = 0, (28) e a outra, µ d dx− 3 x ¶ y = 0, (29)

cujas soluções base são, respectivamente,

y1 = 1/x2 e y2 = x3 . (30)

(11)

y00+ 1 xy

0 a2

x2y = 0 , (31)

que, através de procedimentos análogos ao caso anterior, resulta em µ x d dx ± a ¶ µ x d dx ∓ a ¶ y = 0, (32) as soluções bases y1 = xa e y2 = x−a (33)

obtidas a partir das equações diferenciais de primeira ordem µ

x d dx ∓ a

y = 0 . (34) A equação diferencial seguinte,

y00 ( + 1)

x2 y = 0 (35)

surge como a parte radial da equação de Laplace

∇2Φ = 0

em coordenadas polares esféricas. Pode ser fatorada como µ d dx − x ¶ µ d dx +x ¶ y = 0 (36) ou µ d dx + + 1 x ¶ µ d dx − − 1 x ¶ y = 0, (37) as soluções podendo ser procuradas através das equações diferenciais de primeira ordem µ d dx + x ¶ y = 0 (38) e µ d dx − + 1 x ¶ y = 0 , (39) respectivamente y1 = x− e y2 = x+1 . (40)

(12)

3.2

EQUAÇÃO DE LEGENDRE

A equação de Legendre,

(1− x2)y00− 2xy0+ λy = 0 , (41) é uma das principais equações diferenciais da Física-Matemática, parte an-gular do desenvolvimento o operador laplaciano em coordenadas esféricas.

A sua fatoração pode ser tentada, multiplicando inicialmente por (1−x2),

∙ (1− x2) d dx(1− x 2 ) d dx + (1− x 2 )λ ¸ y = 0 , (42) através de ∙ (1− x2) d dx + f ¸ ∙ (1− x2) d dx − f ¸ = (1− x2) ∙ d dx(1− x 2) d dx − f 0 ¸ − f2 .

Considere, para α constante,

f0 =−α = f =−αx ,

de modo que a equação acima fica

∙ (1− x2) d dx − αx ¸ ∙ (1− x2) d dx + αx ¸ = (1−x2) ∙ d dx(1− x 2) d dx + α(α + 1) ¸ −α2 . Definindo os operadores Lα = d dx(1− x 2) d dx + α(α + 1) , (43) Qα = (1− x2) d dx + αx (44) e Q+α =−(1 − x2) d dx + αx , (45) verifica-se que

(13)

QαQ+α =−(1 − x 2) Lα−1 + α2 (46) e Q+αQα =−(1 − x2)Lα+ α2 . (47) Como Lαyα= 0 (48)

é a equação de Legendre para λ = α(α + 1), resultam

Q+αQαyα = α2yα , (49)

e

QαQ+α yα−1 = α2yα−1 . (50)

Multiplicando, pelo lado esquerdo, a primeira equação por Qαe a segunda

por Q+α , resultam

Qα(Q+αQα) yα = (QαQ+α)Qαyα = α2Qαyα (51)

e

Q+α(QαQ+α) yα−1 = (Q+αQα)Q+αyα−1 = α2Q+αyα−1 . (52)

A equação [51], combinada com a equação [46], resulta (QαQ+α)Qαyα=

£

−(1 − x2)Lα−1+ α2¤Qαyα = α2Qαyα ,

ou seja,

Lα−1(Qαyα) = 0 . (53)

Do mesmo modo, combinando as equações [52] e [47], resulta (Q+αQα)Q+α yα−1 = £ −(1 − x2)Lα+ α2 ¤ Q+αyα−1 = α2Q+αyα−1 , e portanto Lα(Q+α yα−1) = 0 . (54)

Destes resultados, pode-se concluir que

(14)

para C e C0constantes. Estas contantes podem ser determinadas

substituindo-se a primeira relação na substituindo-segunda, por exemplo, resultando Q+α Qαyα = CC0yα ,

que, comparado com a equação [49], implica CC0 = α2 . Se considerar C = C0 = α , resultam yα−1 = 1 αQαyα (55) e yα = 1 αQ + αyα−1 . (56)

Para α = 0, pode-se impor

Q0y0 = (1− x2)

d

dxy0 = 0 , (57)

cuja solução, convenientemente normalizada, é o polinômio de Legendre de ordem zero,

y0 = P0 = 1. (58)

Para α = inteiro positivo, a equação [56] fornece os polinômios de Legendre de ordem , P (x), pela aplicação sucessiva dos operadores de lev-antamente de índice Q+ ,

P (x) = 1Q+P−1 . (59)

De uma maneira geral, a condição

Q+0Q0y0 = (1− x2) d dx(1− x 2 ) d dxy0 = 0 , (60)

fornece também a segunda solução da equação de Legendre, através da inte-gração de

(1− x2) d

dxy0 = cte. = C ,. que resulta, para | x |< 1, por exemplo, na função

(15)

y0(x) = Z C (1− x2) dx = C1+ C2· 1 2ln (1 + x) (1− x) . (61) C1 = 0 e C2 = 1 corresponde à segunda solução da equação de Legendre de

ordem zero, as soluções correspondentes a inteiros positivos sendo obtidas pela aplicação sucessiva dos operadores de levantamento de índices Q+.

3.3

FUNÇÕES ESFÉRICAS DE BESSEL

Funções esféricas de Bessel são as soluções da parte radial da equação de Helmholtz

∇2Ψ + k2Ψ = 0, escritas em coordenadas polares esféricas.

Considerando

Ψ(r, θ, ϕ) = R(r) Θ(θ) Φ(ϕ),

a equação radial fica

r2d 2R dr2 + 2r dR dr + £ k2r2− ( + 1)¤R = 0, (62) que pode ser transformada na equação de Bessel de ordem semi-inteira

r2d 2Z dr2 + r dZ dr + " k2r2 µ + 1 2 ¶2# Z = 0 (63) para R(r) = Z(kr) (kr)1/2. (64)

Se, ao invés disto, for definida a relação

R(r) = u(kr) kr , (65) tal que dR dr = 1 kr du dr − u kr2

(16)

e d dr µ r2dR dr ¶ = r2d 2R dr2 + 2r dR dr = r k d2u dr2, a equação [62] fica d2u dr2 + ∙ k2 ( + 1) r2 ¸ u = 0, (66)

ou, em forma de uma equação de auto-valores, d2u dr2 − ( + 1) r2 u =−k 2 u, (67)

cujo lado esquerdo pode ser fatorado como ∙ d dr − r ¸ ∙ d dr + r ¸ u =−k2u (68) ou ∙ d dr + ( + 1) r ¸ ∙ d dr − ( + 1) r ¸ u =−k2u, (69)

podendo-se verificar facilmente que ∙ d dr −r ¸ ∙ d dr + r ¸ = ∙ d dr + ( + 1) r ¸ ∙ d dr − ( + 1) r ¸ =H (70) para H = d 2 dr2 − ( + 1) r2 . (71) Definindo os operadores D = ∙ d dr + r ¸ (72) e D+= ∙ d dr − r ¸ , (73) resultam as relações D++1H = H+1D++1 (74)

(17)

e

D+1H +1 =H D+1. (75)

Usando a equação de auto-valores

H u = −k2u (76) ficam D++1H u = H+1D++1u =−k2D++1u e D+1H +1u+1 =H D+1u+1 =−k2+1D+1u+1, sugerindo que D++1u = Cu +1 e D+1u +1 = C0u , desde que k2+1 = k2 = k2.

Isto é, os auto-valores são completamente degenerados, os operadores D+ e D atuando como operadores de levantamento e de abaixamento de índices dos auto-estados ou, na nomenclatura da Mecânica Quântica, como oper-adores de criação e de aniquilação,

u+1 = 1 kD + +1u (77) e u−1 = 1 kD u . (78)

Os operadores de criação e de aniquilação permitem relacionar os vários auto-estados, de modo que, conhecendo-se um destes auto-estados, pode-se obter os demais. Neste caso, pode-se obter o auto-estado para o caso = 0, quando a equação de auto-valores fica

H0u0 = d2u 0 dr2 =−k 2u 0 , (79)

(18)

u0,1 = cos kr e u0,2 = sen kr. (80)

Como, pela definição usada,

u (r) = rR (r),

que deve ser nula na origem, r = 0 , a solução fisicamente aceitável é

u0(r) = sen kr =⇒ R0(r) =

sen kr

kr . (81) Os demais auto-estados podem ser obtidos pela aplicação sucessiva dos operadores de criação. Por exemplo,

u1(r) = 1 kD + 1u0 =− 1 k ∙ d dr − 1 r ¸ u0 =− cos kr + 1 krsen kr. (82) Do ponto de vista da Física Matemática, as auto-funções u (r) são as funções esféricas de Bessel.

4

RELAÇÕES DE RECORRÊNCIA E

OP-ERADORES

Foi visto nas secções precedentes a fatorização de algumas equações difer-enciais lineares de segunda ordem, com a introdução de operadores que, em problemas de auto-valores, funcionam como operadores de levantamento e de abaixamento de índices, ou na linguagem da Mecânica Quântica, operadores de criação e de aniquilação.

Muitas das equações da Física Matemática são equações de auto-valores, discretos, com as auto-funções obedecendo a relações de recorrência [AR-FKEN, 1966]. Nestes casos, pode-se mostrar que os operadores de levanta-mento e de abaixalevanta-mento de índices podem ser derivados diretamente das re-lações de recorrência. Uma aplicação sucessiva do operador de levantamento e do operador de abaixamento de índices, ou vice-versa, que corresponde a uma transformação identidade, resulta em geral na equação diferencial original, mostrando que os operadores de fatorização coincidem com os operadores de levantamento e de abaixamento de índices. No entanto, como as relações de

(19)

recorrência são derivadas a partir da função geratriz, sendo portanto conheci-das as soluções da equação diferencial considerada, nestes casos, a fatoração como método de resolução de equações diferenciais se torna redundante.

Mesmo assim, a identificação dos operadores de levantamento e de abaix-amento de índices é interessante, deixando mais claras as relações entre as auto-funções, além do interesse matemático intrínseco destes operadores, que atuam sobre o espaço vetorial definido pelas mesmas; além disso, o conheci-mento da álgebra destes operadores pode se tornar importante no estudo das propriedades físicas e matemáticas de um determinado sistema.

A seguir, faz-se a identificação dos operadores de levantamento e de abai-xamento de índices para diversas equações diferenciais da Física Matemática, a partir de pares de relações de recorrência.

Veja que, com exceção da equação de Bessel, as demais podem ser resolvi-das, com certa facilidade, para as auto-funções de nível mais baixo (auto-valor nulo), a partir das quais pode-se obter as demais pela aplicação sucessiva dos operadores de levantamento de índices.

4.1

EQUAÇÃO DE LEGENDRE

(1− x2)y00− 2xy0 + ( + 1)y = 0. (83)

As relações de recorrência úteis são

P+1 = xP − (1− x2) + 1 P 0 , ≥ 0 (84) e P −1 = xP +(1− x 2) P0 , ≥ 1, (85) podendo-se de imediato identificar os operadores de levantamente e de abai-xamento de índices, definidos por

P+1 =− 1 ( + 1) ∙ (1− x2) d dx − ( + 1)x ¸ P (86) e P−1 = 1∙ (1− x2) d dx + x ¸ P , (87)

(20)

que coincidem com os operadores previamente definidos na secção anterior, equações [44] e [45], respectivamente.

4.2

EQUAÇÃO DE BESSEL

x2y00+ xy0+ (x2− n2)y = 0. (88)

Pode-se usar as relações de recorrência

Jn−1+ Jn+1 =

2n

x Jn (89) e

Jn−1− Jn+1 = 2Jn0 (90)

que definem os operadores de levantamento e de abaixamento de índices, respectivamente Jn+1=− ∙ d dx − n x ¸ Jn (91) e Jn−1= ∙ d dx + n x ¸ Jn. (92)

4.3

EQUAÇÃO DE HERMITE

y00− 2xy0 + 2ny = 0. (93) Usa-se as ralações de recorrência

Hn+1= 2xHn− 2nHn−1 (94)

e

Hn0 = 2nHn−1, (95) correspondentes aos operadores de levantamento e de abaixamento de índices

Hn+1 =− ∙ d dx − 2x ¸ Hn (96)

(21)

e

Hn−1 = 1 2n

d

dxHn . (97) Pode-se ver que os operadores de levantamento e de abaixamento de índices, neste caso, não são simétricos pela substituição

∂x −→ − ∂ ∂x , como nos casos anteriores.

4.4

EQUAÇÃO DE LAGUERRE

xy00+ (1− x)y0 + ny = 0. (98) Parte-se das relações de recorrência

Ln+1= (2n + 1− x)Ln− n2Ln−1 (99) e xL0n= nLn− n2Ln−1 , (100) resultando Ln+1 = ∙ x d dx + n + 1− x ¸ Ln (101) e Ln−1 = 1 n2 ∙ x d dx − n ¸ Ln . (102)

4.5

EQUAÇÃO DE CHEBYCHEV, TIPO I

(1− x2)y00− xy0+ n2y = 0 (103) Tem-se as relações de recorrência

(22)

e

(1− x2)Tn0 =−nxTn+ nTn−1 , (105)

resultando nos operadores de levantamento e de abaixamento de índices, respectivamente Tn+1 =− ∙ (1− x2) n d dx − x ¸ Tn (106) e Tn−1 = ∙ (1− x2) n d dx + x ¸ Tn . (107)

4.6

EQUAÇÃO DE CHEBYCHEV, TIPO II

(1− x2)y00− 3xy0+ n(n + 2)y = 0. (108) As relações de recorrência

Un+1− 2xUn+ Un−1= 0 (109)

e

(1− x2)Un0 =−nxUn+ (n + 1)Un−1 (110)

definem os operadores de levantamento e de abaixamento de índices, respec-tivamente Un+1 =− 1 (n + 1) ∙ (1− x2) d dx − (n + 2)x ¸ Un (111) e Un−1 = 1 (n + 1) ∙ (1− x2) d dx+ n x ¸ Un . (112)

(23)

5

CONCLUSÕES

Apresentamos, através de exemplos, a fatoração de várias equações difer-enciais lineares de segunda ordem, mostrando ser, em alguns casos, uma alternativa simples e elegante para a resolução destas equações diferenciais.

Mostramos também que em equações diferenciais envolvendo problemas de auto-valores, podemos obter facilmente os operadores de fatorização a partir das relações de recorrência, sendo identificados como os operadores de levantamento e de abaixamento de índices, que fazem a conexão entre as auto-funções. Nestes casos, não se deve considerar a fatoração como um método de resolução destas equações diferenciais, pois as soluções já são con-hecidas a partir do momento em que são concon-hecidas as relações de recorrên-cia, derivadas a partir das funções geratrizes. No entanto, os operadores de levantamento e de abaixamento de índices tem interesses físicos e matemáti-cos intrínsematemáti-cos, justificando os esforços na sua identificação, assim como no estudo das suas propriedades.

Do ponto de vista didático, podemos enriquecer muito o estudo das equações diferenciais com a introdução do método dos operadores de fatoriza-ção, que fornece uma maneira simples e elegante de se resolver uma série de equações diferenciais lineares de segunda ordem da Física Matemática, além da introdução dos recursos dos operadores de levantamento e de abaixam-ento de índices nos problemas de auto-valores, importantes principalmente no contexto da Mecânica Quântica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, N. A.; DRIGO FILHO, E. The Factorisation Method and Supersymmetry, J. Phy. A: Math. Gen. v.21, p. 3212-3225, 1988. ARFKEN, G.Mathematical Methods for Physicists. New York: Academic

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Referências

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