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NAIANA CORDEIRO ADELINO

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

NAIANA CORDEIRO ADELINO

O PAPEL DO ENSINO SUPERIOR NO FOMENTO À ECONOMIA SOLIDÁRIA: NARRATIVAS DE MULHERES DO SEGMENTO DO ARTESANATO

NATAL 2021

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NAIANA CORDEIRO ADELINO

O PAPEL DO ENSINO SUPERIOR NO FOMENTO À ECONOMIA SOLIDÁRIA: NARRATIVAS DE MULHERES DO SEGMENTO DO ARTESANATO

Monografia apresentada ao curso de graduação em Administração, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Administração.

Orientador: Prof. Dr. Washington José de Souza.

Coorientador: Profª. Msc. Suzana Melissa de Moura Mafra

NATAL 2021

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NAIANA CORDEIRO ADELINO

O PAPEL DO ENSINO SUPERIOR NO FOMENTO À ECONOMIA SOLIDÁRIA: NARRATIVAS DE MULHERES DO SEGMENTO DO ARTESANATO

Monografia apresentada ao curso de Graduação em Administração, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Administração.

Aprovada em: 14/04/2021

BANCA EXAMINADORA

______________________________________ Prof. Dr. Washington José de Souza

Orientador

______________________________________ Profª. Msc. Suzana Melissa de Moura Mafra

Coorientadora

______________________________________ Prof. Msc. Bruno Luan Dantas Cardoso

Examinador

______________________________________ Profª. Msc. Teresa Júlia de Araújo Melo

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Por todo o carinho, afeto e cuidado que meus pais me deram durante toda a minha existência, dedico esta monografia a eles. Com muita gratidão.

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AGRADECIMENTOS

À Deus, primeiramente pelo dom da vida, pois, mesmo em meio a um momento tão delicado, me concedeu a graça de conseguir terminar o meu sonhado curso. Agradeço imensamente a Ele por não ter me permitido fraquejar nos momentos que achei que era impossível continuar.

Aos meus pais que desde sempre me incentivaram a buscar a educação como um caminho libertador. Obrigada por vibrarem com as minhas conquistas e compreenderem a minha ausência. Sem o apoio e a dedicação de vocês nada disso seria possível.

Gratidão a todos os professores que passaram pelo meu caminho nesta universidade, todos agregaram grande conhecimento na minha trajetória. Em especial ao professor Washington, pela oportunidade ser sua bolsista e me permitir mergulhar em um lado da Administração tão especial e importante antes desconhecido por mim, sem dúvidas foi a minha melhor escolha.

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“Pés, pra que te quero, se tenho asas para voar?” (Frida Kahlo)

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RESUMO

A monografia tem como objetivo sintetizar, a partir do método história de vida, o que a Economia Solidária representa na vida das mulheres que estão à frente de empreendimentos econômicos solidários do segmento da produção de artesanato assessorados pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Por meio da história de vida e auxílio do software IRAMUTEQ, a pesquisa revela que as mulheres sócias de empreendimentos econômicos solidários de Natal, na atividade produtiva de artesanato, encontram na economia solidária: i) Importância dos agentes, das assessorias e das parcerias desenvolvidas em todo o percurso dos empreendimentos; ii) Identificação da perspectiva de comunidade, de vida, de transformação, de envolvimento familiar e da comunidade como um todo; iii) Relevância e agradecimentos dos agentes envolvidos em todo o processo; iv) Identificação da perspectiva de renda; v) Avaliação de melhoria da estruturação dos grupos de artesanato ligado fortemente ao apoio da universidade e dos outros órgãos responsáveis pelo fomento da Economia Solidária.

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ABSTRACT

The monograph aims to synthesize, based on the History of Life method, what Solidarity Economy represents in the lives of women who are in charge of solidary economic enterprises in the handicraft production segment advised by the Federal University of Rio Grande do Norte (UFRN ). Through the life story and the help of the IRAMUTEQ software, the research reveals that women members of solidarity economic enterprises in Natal, in the productive activity of handicrafts, find in the solidarity economy: i) Importance of agents, advisors and partnerships developed in the entire course of the undertakings; ii) Identification of the perspective of community, life, transformation, family involvement and the community as a whole; iii) Relevance and thanks from the agents involved in the entire process; iv) Identification of the income perspective; v) Evaluation of improvement in the structuring of craft groups strongly linked to the support of the university and other bodies responsible for promoting the Solidarity Economy.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES Gráfico 1 – Gráfico 2 – Gráfico 3 – Quadro 1 – Quadro 2 –

Crescimento das atividades em Economia Solidária... Número de sócios em EES por Atividade Econômica Principal segundo sexo... Número de Sócios em EES por Categoria Social Segundo Sexo... Desafios x Possibilidades de acordo com o estudo de Oliveira (2005) .... Variáveis para análise do trabalho da mulher na Economia Solidária...

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18 19 21 27 Figura 1 – Dendograma de classes... 31 Gráfico 4 – Locais de Comercialização de Empreendimentos Econômicos Solidários

liderados por mulheres em atividade de produção artesanal. Brasil, 2009 a 2013 (em %)... 32

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CECAFES - Central de Comercialização da Agricultura Familiar e Economia Solidária DIESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

EES – Empreendimentos Econômico Solidários ES – Economia Solidária

IFRN - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte

IRAMUTEQ - Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires

OASIS - Organização de Aprendizagem e Saberes em Iniciativas Solidárias e Estudos no Terceiro Setor

RESF - Rede de Economia Solidária e Feminista SENAES – Secretaria Nacional de Economia Solidária

SEMTAS – Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social UERN – Universidade Estadual do Rio Grande do Norte

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 13

2 ECONOMIA SOLIDÁRIA: AVANÇOS E INFLEXÃO COMO POLÍTICA PÚBLICA NO BRASIL ... 15

3 ESTUDOS ANTERIORES ... 19

4 MATERIAL E MÉTODOS... 27

5 RESULTADOS ... 31

5.1 EXPERIÊNCIAS DE MULHERES ARTESÃS NA ECONOMIA SOLIDÁRIA ... 31

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 37

REFERÊNCIAS ... 40

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1 INTRODUÇÃO

A Economia Solidária é uma forma de organização de trabalho que surge como um meio alternativo de distribuição de renda e de inclusão social. Consiste em um modo de produção avesso ao capitalismo, que tem como objetivo o seu desenvolvimento para estruturar uma nova maneira de empreender, gerar renda e empregabilidade. Também é considerada por ser um movimento social, pois não tem como finalidade a acumulação de riquezas, e sim a busca principalmente por um desenvolvimento humano justo, mantendo o viés social, político e econômico sempre em harmonia.

Nós costumamos definir economia solidária como um modo de produção que se caracteriza pela igualdade. Pela igualdade de direitos, os meios de produção são de posse coletiva dos que trabalham com eles – essa é a característica central. E a autogestão, ou seja, os empreendimentos de economia solidária são geridos pelos próprios trabalhadores coletivamente de forma inteiramente democrática, quer dizer, cada sócio, cada membro do empreendimento tem direito a um voto. (SIGER, 2008, p. 289)

Esse conceito vem para fazer com que possamos repensar a relação da economia com o lucro, transformando o trabalho construído, um benefício para a sociedade como um todo, e não para uma pequena parcela dela. A Economia Solidária não coloca a importância centrada somente no que diz respeito a renda, mas sim a importância do trabalho coletivo, das mudanças que podem ocorrer a partir das pessoas estarem trabalhando juntas e ao mesmo tempo de como isso está vinculado a uma relação com a comunidade e com o espaço em que elas vivem. Singer (2000) contribui com esta reflexão ao afirmar que:

(...) para os trabalhadores e trabalhadoras que foram estigmatizados por serem pobres – sobretudo mulheres e negros, vítimas da discriminação por gênero e raça – a experiência cooperativa enseja verdadeiro resgate da cidadania. Ao integrar a cooperativa, muitos experimentam pela primeira vez em suas vidas o gozo de direitos iguais para todos/as, o prazer de poderem se exprimir livremente e de serem escutados/as e o orgulho de perceber que suas opiniões são respeitadas e pesam no destino do coletivo. Para assim verificar a trajetória política dos participantes destes empreendimentos que visam princípios totalmente diferentes dos propostos na economia capitalista. (SINGER, 2000, p. 27).

A experiência cooperativa citada por Singer (2000) é confirmada por ALVES et al (2016, p. 244) quando ele aborda que “a Economia Solidária se baseia na ideia de que os benefícios da atividade econômica devem estar ao alcance daqueles que a realizam, ou seja, dos

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trabalhadores”. Dessa forma, essa experiência é de extrema importância para fazer com que homens e mulheres se sintam parte do movimento da Economia Solidária composto por iniciativas solidárias que representam um espaço portador de alternativas societárias, de politização das relações da vida, das relações de gênero, de empoderamento social e de construção da cidadania. Cattani (2003) entende que, em um contexto geral, a Economia Solidária não é somente uma alternativa para os pobres e excluídos, mas também uma forma de proporcionar avanços em diversos domínios e contextos, e envolve de maneira responsável inúmeros segmentos da sociedade. Essa nova economia se propõe a recuperar socialmente o que o progresso tecnológico proporcionou e excluiu em determinados momentos.

Para o Grupo de Trabalho de Mulheres do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (2017) as mulheres são maioria na construção da Economia Solidária. Em contrapartida, a igualdade de participação entre homens e mulheres, em todos os seus espaços, ainda é um grande desafio a ser superado. Afirmar que hoje as mulheres se encontram em condição de igualdade, sendo que, em nosso cotidiano de fato, isto não se reflete, é uma pauta que não deve ser reproduzida, pois, ainda existe uma grande disparidade na condição de igualdade entre homens e mulheres. Por outro lado, podemos avaliar o movimento da Economia Solidária como alternativa para mudarmos o quadro geral de desigualdade entre homens e mulheres. Segundo Guérin (2005) essa é uma tarefa cotidiana de quem acredita nesse novo jeito de organizar, produzir, comercializar e consumir, pois, a Economia Solidária é caminho para se pensar a divisão sexual do trabalho e pautar uma abordagem feminista em processos de trabalho.

Este trabalho aborda uma pesquisa com foco nos dois temas supracitados – Economia Solidária e Trabalho Feminino – em contexto de mulheres trabalhadoras de empreendimentos econômicos solidários do segmento da produção de artesanato de Natal/RN. Assume que as mulheres de tais empreendimentos deparam-se com uma dinâmica de gestão voltada para o bem coletivo, com valores democráticos e solidários, diferentemente do modelo convencional que se observa no sistema capitalista, por um lado, e na gestão do lar, por outro.

A pesquisa partiu da seguinte questão: que aprendizagens organizacionais revelam mulheres, majoritariamente donas de casa, em empreendimentos econômicos solidários geradores de ganhos financeiros restritos e incertos? Para trazer respostas a esse questionamento, a pesquisa traz como principal objetivo sintetizar, a partir do método História de Vida, o que a Economia Solidária representa na vida das mulheres que estão à frente de empreendimentos econômicos solidários do segmento da produção de artesanato assessorados pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

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O interesse pessoal para realização deste trabalho, deu-se a partir do meu ingresso como bolsista na Organização de Aprendizagem e Saberes em Iniciativas Solidárias e Estudos no Terceiro Setor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (OASIS/UFRN), onde pude conhecer e me aprofundar um pouco mais sobre a realidade da economia solidária, reconhecendo que, conforme afirma Serrano (2013), a Extensão Universitária é um processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre Universidade e Sociedade. A partir disso, juntamos a Economia Solidária e o trabalho já desenvolvido pela equipe da OASIS - Organização de Aprendizagens e Saberes em Iniciativas Solidárias, com as mulheres artesãs de Natal/RN.

O principal tema escolhido foi a Economia Solidária porque, mesmo reconhecendo avanços das mulheres no trabalho, quando estas realidades são comparadas a dos homens, ainda precisamos aprofundar algumas especificidades relacionadas a condições de como ocorrem igualdade e equidade. Para além desse fato, quando falamos em pesquisar o tema Economia Solidária na Administração, nos deparamos com inúmeros estudos, porém, com um baixo quantitativo quando voltado para a importância da mulher, tomando como base empírica empreendimentos econômicos solidários. Nas consultas realizadas na Biblioteca Digital de Monografias da UFRN, constatamos que são poucos os estudos desenvolvidos sobre a importância do papel da Economia Solidária na vida de mulheres trabalhadoras, principalmente quando pesquisamos o ramo de artesanato.

A contribuição deste trabalho para a Universidade Federal do Rio Grande do Norte está em apresentar resultado de pesquisa em tema atual, envolvendo gênero e desigualdade a partir vivências de mulheres artesãs, do município de Natal/RN. Tais mulheres assumem posturas de liderança e de representatividade social. Compreendendo que, além de enaltecer e divulgar suas histórias, este trabalho irá inspirar outras pessoas da comunidade acadêmica a desenvolverem trabalhos nesse campo tão importante e pouco discutido dentro da Administração.

2 ECONOMIA SOLIDÁRIA: AVANÇOS E INFLEXÃO COMO POLÍTICA PÚBLICA NO BRASIL

Nos anos 1980, o Brasil vivia em meio a um contexto de dívida externa, ajuste fiscal e desemprego. De acordo com o pensamento de BITTENCOURT (2014), a Economia Solidária se apresenta como uma resposta dos trabalhadores às consequências do crescimento

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desenfreado do capitalismo industrial. Esse movimento surgiu na Inglaterra no século XIX e chegou ao Brasil no final do século XX, mas realmente teve sua intensificação a partir da década de 80. “A economia solidária surge como reação à crise na forma de numerosas iniciativas locais.” (FRANÇA FILHO, 2006).

Já nos 1990, a exclusão dos trabalhadores do mercado de trabalho contribuiu fortemente para que as práticas a Economia Solidária se alastrassem em todo país tornando-se visibilizadas conforme pontua Silva (2015) relembrando que é neste momento que alguns trabalhadores que estão excluídos do mercado de trabalho, se inserem nessa nova prática, e que fatores econômicos, políticos e sociais acabam por contribuírem para a criação de uma economia paralela, com uma dimensão menor e acoplada ao sistema hegemônico, com diretrizes de produção, trabalho e escoamento que visa o coletivo e as decisões horizontais. A partir desse momento, inicia-se o debate teórico sobre o lugar que a Economia Solidária ocupa, as práticas, a dimensão, os limites e suas possibilidades.

O período que se caracteriza pela expansão da Economia Solidária no Brasil são os anos 2000. Silva (2015), explica que no decorrer deste tempo, foram surgindo alguns órgãos vinculados a questão do trabalho, e analisando esse contexto, os sindicatos majoritariamente são vinculados a organizações maiores e na maioria das vezes a liderança, os conselhos ou parcela dos membros são partidários, pode-se dizer que a partir disso surgem as disputas políticas e as questões da organização dos trabalhadores dentro da Economia Solidária.

“Esse período se caracteriza pela expansão da articulação das instituições universitárias com os movimentos sociais e do terceiro setor, assim como há expansão das atividades das igrejas na ajuda aos Empreendimentos Econômicos Solidários (EES’s), organismos como a Cáritas continuam por acompanhar os EES’s. Existe também nesse período a articulação das universidades para trocas de experiências não só entre si, mas com os movimentos e os EES’s.” (SILVA, 2015, p. 5)

Em 2003, o Governo Federal criou a Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego. A SENAES atua como articuladora das políticas federais de apoio a ES. Também foi criado o Conselho Nacional de Economia Solidária (CNES), órgão responsável pela interlocução entre governo e sociedade civil que atua em prol da ES. Em paralelo a isso surgiu também o Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), que fortaleceu ainda mais o movimento e ajudou a aumentar consideravelmente o número de programas municipais e estaduais de ES (BITTENCOURT, 2014).

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O Gráfico 1 abaixo resume dado importante que confirma esse crescimento. O Observatório Nacional da Economia Solidária e do Cooperativismo, Unidades da Federação, aponta que, até o ano de 1983, havia apenas 512 empreendimentos, do ano de 1984 ao ano de 1993, 2.160 empreendimentos. Do ano de 1994 ao ano de 2003, tivemos um salto para 8.695 empreendimentos, finalizando com 8.271 empreendimentos dos anos 2004 a 2013. No mais, cabe registrar que as perspectivas para a Economia Solidária são instáveis devido ao cenário político, econômico e social que vão se modificando de acordo com os governos que assumem os postos de liderança. Se tivermos a Economia Solidária estabelecida como uma política nacional, torna-se menos vulnerável aos interesses políticos de governos que possam ter a intenção de desestabilizar a Economia Solidária para beneficiar outros interesses políticos.

Gráfico 1 – Crescimento das atividades em Economia Solidária

Fonte: Elaboração própria, 2021.

De acordo com o Observatório Nacional da Economia Solidária e do Cooperativismo, Unidades da Federação, dos anos de 2009 a 2013, os Empreendimentos Econômicos Solidários (EES) por Atividade Econômica Principal, obtiveram uma somatória de 19.708 empreendimentos. Desse total, as atividades de Produção ou Produção e Comercialização representam 11.081, o que daria em porcentagem aproximadamente 56,22%, um número significante quando comparados as demais atividades citadas pelo observatório. O estado que possui maior destaque nessa atividade é estado do Pernambuco, com um total de 1.228 empreendimentos divididos em Associação, Cooperativa, Grupo Informal e Sociedade Mercantil. O Rio Grande do Norte ocupa a 12ª posição, com a representação de 346 empreendimentos. No que diz respeito à quantidade de sócios em Empreendimentos de

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 10000 Até 1983 De 1984 a 1993 De 1994 a 2003 De 2004 a 2013

EES por Atividade Econômica Principal segundo Período de Início do Empreendimento

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Economia Solidária, o DIESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos apresenta os dados abaixo indicados.

Gráfico 2 – Número de sócios em EES por Atividade Econômica Principal segundo sexo

Fonte: Elaboração própria, 2021.

Nota-se que o número de homens se sobrepõe ao número de mulheres quando comparamos os empreendimentos de uma forma global. Porém, na avaliação a seguir, considerando o Número de Sócios em EES por Categoria Social segundo Sexo, ao realizar o filtro da categoria Artesãos, temos a seguinte informação.

Na imagem abaixo (Gráfico 3), podemos perceber que em todos os estados do Brasil nós temos o sexo feminino predominante na categoria do artesanato. Isso demonstra um grande avanço e conquista feminina. Para Nobre (2003), a economia solidária se propõe romper a divisão social do trabalho: a separação entre o proprietário dos meios de produção e a pessoa que vende sua força de trabalho, com a propriedade coletiva, entre trabalho intelectual e trabalho manual, com a gestão democrática e práticas inovadoras de organização do trabalho.

0 200.000 400.000 600.000 800.000 1.000.000 Homens Mulheres

Número de Sócios em EES por Atividade Econômica Principal segundo Sexo

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Gráfico 3 – Número de Sócios em EES por Categoria Social Segundo Sexo

Fonte: Elaboração própria, 2021.

As experiências alternativas de geração de renda surgem para as mulheres como possibilidade de acesso à propriedade dos meios de produção mediante a propriedade coletiva, e à remuneração; e, principalmente, como a oportunidade de vivenciar outra relação de trabalho baseada no companheirismo, na gestão democrática. (NOBRE, 2003 p. 5).

O debate sobre mulheres e gênero na economia solidária ainda é pequeno frente às contribuições das mulheres nas práticas inovadoras. Apesar notarmos um grande crescimento das mulheres no mercado de trabalho. Faz-se necessário considerar alguns pontos de avanço na luta feminina pelo rompimento das opressões e de barreiras existentes uma sociedade patriarcal. Muitas mulheres encontram na economia solidária uma maneira de estar se encontrando e conseguindo minimizar a carga de vida que elas têm em casa.

3 ESTUDOS ANTERIORES

Neste tópico, abordar-se-á os principais temas discutidos em estudos anteriores que discorrem sobre o Feminismo e a Economia Solidária. Esses estudos irão contribuir para uma melhor compreensão do contexto da mulher artesã na ECOSOL.

Em sua tese, Soares (2019) entende que a significativa participação das mulheres na Economia Solidária resultou na formação de uma rede nacional de empreendimentos autogeridos por mulheres: a Rede Economia Solidária e Feminista - RESF. O objetivo do estudo

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foi investigar como ocorrem as práticas organizativas de mulheres em empreendimentos da Economia Solidária e como eles refletem a racionalidade substantiva de uma gestão feminista. Considerando esse objetivo, optou-se por realizar o estudo na RESF, uma rede de abrangência nacional que no Ceará atua em 26 empreendimentos formados por mulheres nas áreas de artesanato, confecção, agricultura ecológica e familiar e alimentação.

Para alcançar tal objetivo, a autora realizou a pesquisa com uma abordagem metodológica quantitativa e qualitativa, sendo a primeira parte da coleta a utilização de dados de duas fontes: a base de dados mapeada no Brasil nos anos de 2010 a 2013 pelo Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária [SIES] e 150 questionários estruturados em escala Likert de cinco posições junto às mulheres que compõem a RESF no estado do Ceará, e a segunda realizada através da observação das práticas das mulheres no cotidiano da gestão dos empreendimentos da RESF, outra fonte qualitativa foram as entrevistas semiestruturadas realizadas junto a cinco produtoras da rede, sob o enfoque da história oral temática.

Como primeiro objetivo específico a autora elencou identificar e analisar o nível

relacionamento das práticas feministas de autogestão empregadas pelas mulheres com as dimensões de justiça de gênero. Os resultados da análise evidenciaram que ao trabalhar a

questão da redistribuição, não se deve considerar apenas as questões econômicas que a dimensão redistribuição costuma abordar, pois a redistribuição na análise se dividiu em dois fatores, o de redistribuição produtiva e o de redistribuição reprodutiva. Para o segundo objetivo específico a autora considerou descrever e analisar as práticas feministas de autogestão

realizadas por mulheres no contexto dos empreendimentos da RESF. De forma a entender esse

objetivo ela utilizou a abordagem da história oral para aproximar-se do ponto de vista das mulheres da RESF. Observou que não é possível separar a questão da emancipação da mulher da questão econômica na ES e na RESF. A questão econômica que está vinculada à dimensão da justiça de gênero em termos de redistribuição de recursos, de oportunidades e de direitos é uma das questões mais apontadas na pesquisa realizada. Enfatiza que as mulheres se preocupam sim com suas liberdades e sua emancipação, mas a superação da condição econômica está intimamente ligada a essa emancipação, especialmente em contextos de crise e escassez, em que a mulher, como primeira afetada, preocupa-se primeiramente com a questão da manutenção da família. Para o terceiro e último objetivo do estudo, foi elencado elaborar uma proposta de

práticas feministas de autogestão para o contexto das mulheres que se organizam coletivamente. Foram identificadas novas práticas feministas, no contexto da autogestão, a

partir das interações e dinâmicas das mulheres no contexto das mulheres que se organizam coletivamente na RESF.

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Os resultados da pesquisa acima referida indicaram novas práticas feministas de gestão na RESF, sob o paradigma da autogestão: 1) possibilita o trabalho flexível sob a perspectiva da alteridade; 2) desenvolve a aprendizagem coletiva e em rede; e 3) promove uma gestão orgânica de conflitos. A pesquisa apontou que a gestão feminista empreendida na RESF está vinculada a uma concepção de interdependência entre bem-estar individual e coletivo, acompanhada pelo comprometimento com a questão da mulher. As falas das mulheres refletem que elas não estão reunidas apenas para gerar renda, segundo elas, a união do grupo e da rede é um fator de sucesso de seus empreendimentos.

Oliveira (2005) também analisou o processo de empoderamento de mulheres trabalhadoras nos Empreendimentos de Economia Solidária. Para a autora, as iniciativas solidárias possibilitam a vivência grupal, a experiência coletiva de tomada de decisões, o acesso à educação, a ocupação dos espaços públicos. Essas temáticas foram discutidas através das trajetórias de empoderamento psicológico, social e político de mulheres, apresentando os desafios, possibilidades e conquistas. Para o desenvolvimento do estudo foi utilizado o método biográfico através das modalidades histórias de vida, que possuem relatos orais e trajetórias. Essa modalidade vem possibilitando estudos que evidenciam a riqueza das especificidades das narrativas, permitindo o debruçar-se sobre alguma fase, ciclo ou atividade da vida, evidenciada por uma questão de pesquisa. A pesquisa demonstrou que os empreendimentos de Economia Solidária possibilitam o empoderamento de mulheres. No entanto, a análise das entrevistas e o diálogo com os autores supracitados evidenciaram que esse processo é constituído também por desafios a serem superados. Diante do exposto, a autora elaborou uma síntese dessa discussão, elencando alguns desses desafios e possibilidades de empoderamento de mulheres nas iniciativas solidárias, quais sejam:

Quadro 1 – Desafios x Possibilidades de acordo com o estudo de Oliveira (2005)

DESAFIOS POSSIBILIDADES

Para alcançar o empoderamento é fundamental que as mulheres enfrentem a subalternidade histórica que marca o gênero feminino, reforçada em muitas culturas;

Experienciar uma outra lógica de trabalho, de produção, de processo decisório possibilita aos trabalhadores/as o exercício da participação, da representatividade, do debate;

O individualismo a que mulheres e homens são sujeitos também requer ser desconstruído e questionado, para que seja possível a construção do coletivo e o comprometimento com os outros/as;

O sentimento de pertença, a empatia vivenciada no grupo, a partilha das dificuldades e conquistas potencializam o aumento da autoestima, o comprometimento com cada integrante do grupo; A apreensão dos conhecimentos, a valorização do

saber, a autonomia, o empoderamento são processos constituídos por diferentes ritmos, recebendo

A Economia Solidária, enquanto espaço de politização, intensifica a capacidade de expansão da participação de seus integrantes em outros espaços

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interferência histórica, cultural, étnica, política e da trajetória de cada pessoa e grupo;

públicos de decisão, bem como em outros movimentos sociais;

Para que o empoderamento ocorra em sua amplitude é mister combater o isolamento político, buscando fortalecer as redes de cooperação, que garantem a sustentação do movimento da Economia Solidária;

O incentivo à qualificação e à educação continuada trazem consigo o desenvolvimento da autonomia, da criticidade e da capacidade de argumentação e proposição;

O empoderamento nas iniciativas solidárias requer superar a busca de trabalho e renda apenas para a subsistência, procurando a politização dos espaços produtivos e decisórios;

O processo grupal caracteriza-se na principal potencialidade da Economia Solidária, pois desafia a construção coletiva, a valorização de cada sujeito, enaltecendo potencialidades e capacidades;

Apresenta-se também como desafio o desenvolvimento de uma visão feminista na Economia Solidária, valorizando as subjetividades, os vínculos, as relações e a participação de homens e mulheres.

A participação em redes de cooperação, de troca e intercâmbio compreende a vivência da solidariedade, da cooperação, do enfrentamento conjunto dos desafios e da construção de propostas.

Fonte: Elaboração própria, 2021.

A referida pesquisa evidenciou a presença das mulheres nos empreendimentos, bem como seu protagonismo e a capacidade de constituir espaços de geração de trabalho e renda a partir das atividades apreendidas ao longo de atividades que permitiram socialização, tais como: cozinhar, limpar, costurar, bordar, fazer artesanato. Essas atividades constituíram-se como pertencentes ao espaço privado ou atividades “tidas como femininas”, entretanto, caracterizam-se em um dos potenciais da Economia Solidária.

Santos (2009), por sua vez, faz considerações sobre o lugar das mulheres na economia e do não reconhecimento delas como sujeitos econômicos. Analisou o modo de produção capitalista, dando ênfase a relações desiguais de gênero e à divisão sexual do trabalho, tentando identificar diferenças entre o modelo capitalista e a economia solidária. O trabalho em si, buscou analisar a Economia Solidária como processo em construção e de afirmação dos diversos sujeitos com destaque para o lugar das mulheres nesse espaço e, principalmente, a necessidade de aprofundamento da análise das desigualdades de gênero existentes, tomando como referencial teórico político a divisão sexual do trabalho. Para a autora, é importante reconhecermos que o debate sobre Economia Solidária, Gênero e Mulheres ainda é pequeno e insuficiente diante da grande participação e contribuição das mulheres nas experiências de Economia Solidária, pois, segundo dados obtidos no mapeamento nacional da Economia Solidária dos Empreendimentos Econômicos Solidários mapeados, a participação relativa dos homens é superior à das mulheres (64% homens e 36% mulheres). Por esse motivo, para ela a Economia Solidária e a Economia Feminista têm percorrido caminhos distintos, levando em consideração os poucos debates e articulando Economia Solidária, gênero e mulheres. Para a

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autora existe uma contradição neste fato, já que temos uma grande participação e contribuição das mulheres na Economia Solidária.

Todo tipo de atividade transformadora tradicionalmente realizada por mulheres, ou seja, todos os bens e serviços que são produzidos, realizados e consumidos dentro do espaço familiar, e pelos quais não seja cobrada uma contrapartida financeira, precisamente por este motivo permanecem fora do foco de interesse da economia tradicional. Neste sentido, a perspectiva da economia feminista direciona uma crítica que propõe um olhar estranho à tradição econômica desde o estabelecimento da economia como disciplina científica autônoma no século XVIII. (FERNANDEZ, 2018, p. 560)

Na visão de Fernandes (2018) a economia tradicional não contempla em seu objeto de estudo a perspectiva de gênero e, também, não aborda a produção doméstica e a troca de valores de uso. Em suas definições, apenas consideram como pertencentes ao âmbito econômico aqueles bens e serviços que se destinam às transações mercantis, à troca no mercado, e aos quais, por isso mesmo, foi atribuído um preço de mercado.

O aporte da economia feminista busca tornar visível a contribuição das mulheres para a economia. São pesquisas que consideram o trabalho de forma mais ampla, incluindo o trabalho informal, o trabalho doméstico não remunerado (o assim chamado trabalho invisível), a divisão sexual do trabalho na família, buscando integrar a reprodução como fundamental à nossa existência. (FERNANDEZ, 2018, p. 579)

Santos (2009) aponta que a Economia Solidária se propõe romper com a divisão social do trabalho, ou seja, propõe o fim da relação patrão-empregado. Explica que a ES precisa incorporar a divisão sexual do trabalho como instrumento de análise, o que significa atentar para o papel feminino nos grupos de produção, na organização, no acesso às finanças, na comercialização e no consumo. Acreditando que o movimento da Economia Solidária também pode representar uma alternativa para fortalecer o rompimento do atual modelo de representação, que muitas vezes propões a valorização do trabalho do homem e subordinação do trabalho realizado por mulheres. Finaliza alertando que as experiências no Brasil e no mundo demonstram que uma outra Economia Solidária já acontece e que, por isso, precisamos nos mobilizar e fortalecer esse movimento, reafirmando uma cultura solidária, de paz, feminista e antirracista.

Sobre a divisão sexual do trabalho abordada acima, no estudo de Santos (2009), é importante destacar a linha teórica desenvolvida pelas sociólogas Danièle Kergoat e Helena Hirata. Essa divisão de tarefas, de acordo com Kergoat (2009 apud Sucupira 2016, p. 18), pode

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sofrer grandes alterações no tempo e no espaço, mas sempre irão possuir dois princípios de organização: primeiro, o da separação, entendendo que existem trabalhos de homens e outros trabalhos de mulheres; o segundo, o da hierarquização, a partir do que trabalho de homem tem mais valor que trabalho de mulher. Tem por característica, destinar primeiro os homens à esfera produtiva e posteriormente as mulheres à esfera reprodutiva. Consequentemente, isso gera ocupação pelos homens das funções de grande prestígio social agregado (políticas, religiosas, militares). Nela, a produção masculina “vale” mais que reprodução, produção masculina “vale” mais que produção feminina, tanto em termos de valorização social quanto econômica. No entanto, essas diferenças observadas entre atividades dos homens e das mulheres são apenas construções sociais e não produto de um destino biológico. A divisão sexual do trabalho é, portanto, a base material das relações sociais de sexo. É o que está em pauta nas relações transversais entre homens e mulheres, entendidas como desiguais, hierarquizadas, assimétricas ou antagônicas, de exploração e de opressão, entre duas categorias de sexo socialmente construídas (HIRATA, 2002, apud SUCUPIRA 2016, p. 18).

A pesquisa de Melo (2018) teve como objetivo revelar, à luz do construto utilidade social, dimensões do trabalho e da produção na economia solidária com base em vivências de mulheres em empreendimentos do segmento artesanato. A estratégia utilizada para coleta de dados se deu por intermédio de observação e da realização de grupos focais. Ao todo, foram realizados 12 grupos focais e os dados coletados foram analisados por meio da análise de conteúdo e análise lexicográfica, com auxílio do software IRAMUTEQ.

Como principais resultados, Melo (2018) afirma que foi possível compreender que as variáveis mais fortes no processo de explicar a viabilidade desses empreendimentos foram a sociabilidade e o conhecimento e não a variável renda, como em análises de viabilidades tradicionais. Foi comprovado nesse estudo que a sobrevivência desses empreendimentos não se dá apenas pelo viés econômico e monetário e sim pelas relações sociais, culturais e afetivas da utilidade social, como também pela capacidade que os empreendimentos possuem de desenvolverem dinâmicas associativas, estabelecerem laços cooperativos com base na confiança, na solidariedade e sensação de pertencimento.

Outro ponto constatado no estudo de Melo (2018), no que se refere a renda, os valores mensais de remuneração são inferiores a um salário-mínimo, ou seja, rendimentos muito baixos e até mesmo inexistentes, e esse é um fator que impacta diretamente na permanência dos sócios e na longevidade dos empreendimentos. Apesar da restrição de perfil socioeconômico pesquisado neste estudo, os pressupostos levantados são que os empreendimentos de artesanato assumem uma condição de promotores de bem-estar, por vincular trabalho e arte, e, nessa

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condição, a dimensão econômica aparece subordinada à utilidade social. Além deste, Melo (2018) pressupõe que pode assumir que os mecanismos de avaliação de desempenho centrados no viés economicista, monetário e de mercado não são suficientes para avaliar empreendimentos econômicos solidários que assumem elevada representatividade comunitária e relevância social.

Faria (2011) faz uma reflexão sobre os grupos produtivos de mulheres no âmbito da economia solidária. A autora teve como base o estudo sobre a participação das mulheres rurais e suas organizações na economia solidária no Brasil, feito a partir da sistematização dos dados cadastrados no primeiro Mapeamento Nacional da Economia Solidária. O estudo faz parte das iniciativas da AEGRE/MDA (Assessoria Especial de Gênero Raça e Etnia do Ministério de Desenvolvimento Agrário) como parte das atividades do Programa de Organização Produtiva para Mulheres Rurais (POPMR). Segundo a autora, esse programa foi criado em 2008 com o objetivo de fortalecer as organizações produtivas de trabalhadoras rurais, garantindo o acesso das mulheres às políticas públicas de apoio à produção e à comercialização. Ao longo do artigo é realizada uma síntese sobre o que é a Economia Solidária e sobre os grupos de mulheres rurais na economia solidária, enaltecendo suas características e levando em consideração o acesso a renda, a gestão e participação das mulheres nesse contexto.

Como resultados, Faria (2011) faz algumas reflexões importantes, em que aponta que, nos debates com as mulheres, é bastante apontada a necessidade de ampliar as informações e a formação para que seja garantido um maior acesso às políticas públicas. A autora entende que há desconhecimento das políticas e programas disponíveis e afirma que um desafio fundamental é colocar na agenda a necessidade de que o trabalho doméstico e de cuidados devem ser uma responsabilidade compartilhada entre todos, e, para isso, faz-se necessário buscar formas de socialização de uma parte desse trabalho e que ele seja assumido também pelos homens.

Outro ponto a destacar de Faria (2011) é que há concentração de mulheres no artesanato e na industrialização (beneficiamento) de alimentos que tem combinação com a produção agrícola. Para a autora, os desafios maiores estão concentrados no acesso ao crédito, comercialização e acesso à capacitação. Finaliza informando que mesmo diante da necessidade de se continuar investigando sobre os processos dos grupos, têm-se como indicação geral que para fortalecer os grupos de mulheres e avançar em sua autonomia econômica, sugere-se ter um conjunto de políticas integradas em relação ao crédito, à assistência técnica e à comercialização.

Conforme cita Faria (2011), o trabalho doméstico e de cuidados deve ser de responsabilidade compartilhada por todos e um tema a discutir é o da dupla jornada. A dupla jornada de trabalho a que as mulheres estão submetidas vem sendo denunciada pelos

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movimentos feministas brasileiros e suas teóricas desde a década de 1970, como fator-chave para as desigualdades de gênero. Trata-se de importante barreira para o desenvolvimento profissional feminino, um elemento que gera sobrecarga na vida de muitas mulheres. (SUCUPIRA, 2016, p. 16)

A multiplicidade de papeis tende a ser julgada como característica inerente ao universo feminino, relacionado ao talento que é atribuído a mulher de ter a capacidade de desempenhar diferentes tarefas concomitantemente. Saber lidar com essa característica é decisivo para o desempenho de uma mulher que busca a realização profissional e pessoal. Embora seja naturalizado que a conciliação entre trabalho/família gera pressões que são mutuamente incompatíveis, pensar diferente e quebrar esse mito se torna uma necessidade na medida em que mulheres, especificamente mães que trabalham fora de casa, apresentam melhores índices de bem-estar e de satisfação do que aquelas que não o fazem. (CHERLIN, 2001, VANDEWATER ET AL., 1997).

Para Sucupira (2016, p. 17), as mulheres de dupla jornada possuem a sensação de lutar contra o relógio para conseguir cumprir as obrigações que ambos os lugares reclamam – e que em muitos casos elas também desejam cumprir. A autora denomina a “dupla jornada” como “dupla presença”, e, nesse caso, considera-se uma dupla ausência porque dificilmente experimentam uma sensação de plena realização nesses dois âmbitos; pelo contrário, considera a vida é uma maratona diária, um estresse, uma jornada interminável. Desse modo, a persistência das desigualdades de gênero em âmbito de trabalho, se explica em sua grande maioria, pela grande sobrecarga de trabalho reprodutivo na qual as mulheres estão submetidas. Pesquisas recentes brasileiras que discorrem sobre os usos do tempo identificam uma grande desigualdade na distribuição do tempo de trabalho profissional e de trabalho doméstico e familiar entre homens e mulheres. (SUCUPIRA, 2016, p. 19).

Independentemente das circunstâncias e dos motivos que levam as mulheres a buscar autonomia financeira, predominam o instinto de independência, circundadas pela dinâmica família/trabalho, isto é, pelo papel que desempenha perante a sociedade, exigindo o exercício de diferentes atividades simultâneas. Rotulado de “dupla jornada”, o acúmulo de tarefas causado pela multiplicidade de papeis é, frequentemente, considerado a causa de conflitos e desgastes. Nesta perspectiva, a mulher contemporânea ou é culpada por trabalhar ou é culpada por deixar de fazê-lo para se dedicar ao lar e à família. (JABLONSKI, 1996, ROCHA-COUTINHO, 2003).

A discussão acima permite sintetizar um quadro de variáveis úteis para orientar pesquisas com mulheres em empreendimentos econômicos solidários. Considerando que a

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presente pesquisa contempla papéis de mulheres em atividades produtivas de artesanato, o quadro abaixo, delineado a partir da discussão acima, é traçado com o intuito de orientar a discussão realizada no item 2 deste artigo.

Quadro 2 - Variáveis para análise do trabalho da mulher na Economia Solidária

VARIÁVEL FONTE

Utilidade Social Melo (2018)

Divisão Sexual do Trabalho Santos (2009); Kergoat (2009 apud Sucupira 2016). Emancipação Feminina Soares (2019)

Empoderamento Feminino Oliveira (2005)

Dupla Jornada Oliveira (2005); Faria (2011); Sucupira (2016); Jablonski (1996); Rocha-Coutinho (2003).

Fonte: Elaboração própria.

4 MATERIAL E MÉTODOS

O método escolhido para realização desta pesquisa foi a História de Vida, por entender que é uma metodologia de estudo qualitativa, que tem por objetivo a compreensão do relato de história de vida da percepção de quem é entrevistado. Diferente dos demais métodos, Barros (2000) ressalta que, nesta abordagem metodológica, a análise do objeto de pesquisa não irá partir da elaboração de hipóteses ou suposições previamente estabelecidas, e sim, a partir da relação que será construída entre o pesquisador e sujeito, em que o saber será desenvolvido através dessa interação. Para tanto, é de suma importância que haja entre o sujeito entrevistado e o pesquisador uma linha tênue de confiança e segurança, isto é, que ambos estejam à vontade, para que juntos possam construir o desenvolvimento da pesquisa.

A metodologia de História de Vida não é uma biografia, ou um “romance sobre a vida de alguém”, é uma metodologia que utiliza uma variedade de fontes e procedimentos de coleta de dados: documentos pessoais (autobiografias, diários, cartas, fotografias e objetos pessoais), e também entrevistas biográficas (orais ou escritas). (MAESTRI; MINDAL, 2013, p. 14563)

Para Josso (2004 apud Maestri; Mindal 2013, p. 14563), nas últimas décadas, a metodologia de História de Vida vendo sendo cada vez mais utilizada na área das ciências humanas, contrapondo-se a hegemonia de modelos funcionalistas, marxistas e estruturalistas.

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Cabe ressaltar que neste trabalho optou-se por compreender cinco histórias de vida de mulheres que estão inseridas no mesmo ramo de atuação, nesse caso específico, o de artesanato. Para isso, utilizou-se uma amostragem não probabilística por julgamento (MALHOTRA, 2012), que é compreendida como uma forma de amostragem por conveniência, no qual os elementos da população são escolhidos com base no julgamento dos pesquisadores sobre sua adequação para atender o objetivo proposto pelo estudo.

Levando em consideração o momento delicado em que estamos enfrentando devido a pandemia do COVID-19, optou-se por realizar as entrevistas através da plataforma do Google Meet, que oferece um serviço de comunicação por vídeo e áudio, promovendo a interação entre pessoas. Desta forma, fazendo com que tanto as entrevistadas como a pesquisadora se sentissem seguras e confortáveis para realização da entrevista. Para facilitar o processo de coleta dos dados que ocorreu no período de 03 a 14 de fevereiro de 2021, as entrevistas foram registradas em gravador de áudio de um aparelho celular para posterior transcrição. Por questões éticas, antes da gravação, as pesquisadas foram questionadas sobre a intenção de adotar este procedimento e autorizaram a gravação de suas narrativas.

Dentro de um vasto campo de mulheres que desenvolvem a prática do artesanato na região do estado do Rio Grande do Norte, a amostra escolhida para ser estudada foram 6 (seis) mulheres de diferentes faixas etárias que variam entre 39 e 70 anos de idade. Por falta de disponibilidade da representante de um dos grupos, realizamos as entrevistas com cinco mulheres, cada uma representando um grupo artesanal diferente. Considerando as questões éticas, os nomes foram substituídos por “Mulher 1”; “Mulher 2” até “Mulher 5”, para resguardar as identidades das entrevistadas.

Para condução da entrevista foi solicitado que as entrevistadas fizessem uma breve apresentação pessoal, informando dados como, nome, idade, nível de escolaridade e observações pessoais que achassem pertinentes. Após esse momento inicial, foi utilizado um roteiro de entrevista, iniciando com a seguinte pergunta gerativa “O que é Economia Solidária e como ela mudou a sua vida?”, deixando que as entrevistadas se sentissem a vontade para relatar a sua história de vida com o artesanato. Foram feitas intervenções em alguns momentos da entrevista para questionar alguns pontos importantes para análise da pesquisa, como, por exemplo, o que elas achavam a respeito da contribuição da UFRN para as associações em que estavam inseridas e de que forma era formada a composição da sua renda familiar.

Após as entrevistas, todas as falas das representantes dos grupos foram transcritas, inseridas em um corpus para que, por meio do software IRAMUTEQ, pudéssemos alcançar o objetivo deste trabalho, uma vez que conforme explica Souza et al. (2018), existem uma série

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de vantagens no processo de análise dos dados por meio de softwares e entre elas estão o auxílio na organização e na separação das informações, o aumento na eficiência do processo e a facilidade na localização dos segmentos de texto, além da agilidade no processo de codificação, comparado aos processos realizados manualmente.

Dentre os inúmeros softwares disponíveis, optamos por trabalhar com o IRAMUTEQ, compreendido da seguinte forma por Souza et al. (2018) p. 2:

O IRAMUTEQ (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires), criado por Pierre Ratinaud e mantido até 2009 na língua francesa, mas que atualmente conta com dicionários completos em várias línguas. O IRAMUTEQ é desenvolvido na linguagem Python e utiliza funcionalidades providas pelo software estatístico R. No Brasil, ele começou a ser utilizado em 2013 em pesquisas de representações sociais, entretanto, outras áreas também se apropriaram do seu uso, e contribuem para a divulgação das várias possibilidades de processamento de dados qualitativos, visto que permite diferentes formas de análises estatísticas de textos, produzidas a partir de entrevistas, documentos, entre outras.

Além disso, Camargo e Justo (2018) afirmam que o IRAMUTEQ tem sido cada vez mais presente nos estudos em Ciências Humanas e Sociais, especialmente nos quais há um número volumoso de dados a ser analisado. Por oferecer aos pesquisadores a possibilidade de utilizar diferentes recursos técnicos de análise léxica, o IRAMUTEQ apresenta forte rigor estatístico aplicado em suas análises.

Para a análise textual desse estudo, foi utilizada a classificação hierárquica descendente (CHD), que para Souza et al. (2018) é explicada como segmentos de texto que são classificados em função dos seus respectivos vocabulários, apresentando, em sua maioria, cerca de três linhas. A variação dessas ocorre conforme a transcrição do pesquisador e o tamanho o seu corpus, caracterizado pelo conjunto de texto que se pretende analisar. O conjunto desses segmentos é fracionado em função da frequência das formas reduzidas. Essa interface permite, com base no corpus inicial, a associação de cada texto, permitindo assim o agrupamento das palavras que são estatisticamente significativas e a análise qualitativa dos dados.

Para realizar a CHD, passou-se por algumas etapas que serão descritas a seguir: (i) a preparação e a codificação do texto inicial, (ii) a classificação hierárquica descendente; realizada pelo processamento dos dados; e (ii) a interpretação das classes. Cada entrevista foi codificada, separada por uma linha de comando, escolhida conforme o número sequencial das entrevistadas, sendo **** * entrevista_01, **** * entrevista_02 até **** *entrevista_05).

Após a transcrição realizada no Word 2016 do pacote Office 365, o arquivo foi salvo como Documento de Texto (.txt). As perguntas utilizadas para o desenvolvimento da entrevista

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foram excluídas do corpus, mantendo nele somente as respostas das entrevistadas de forma completa. Para melhor compreensão, quando possuímos um corpus composto por mais de um tema, preparamos ele de forma temática (com sublinhas de comando), que foi o caso desse estudo específico, que gerou-se seis temas, sendo eles:

a) *tema apresentação: dados pessoais;

b) *tema_informacao_empreendimento: apresentação do empreendimento em que elas fazem parte;

c) *tema_importancia_ecosol; d) *tema_importancia_universidade; e) *tema_fonte_de_renda.

Foi realizada uma revisão de todo o arquivo, corrigindo erros de digitação e pontuação, a uniformização das siglas e a junção de palavras compostas, por exemplo, “economia_solidaria com underline, em substituição ao espaço. Desse modo, a expressão no corpus foi processada pelo sistema, não como duas palavras, mas, sim, como expressão. Todas as observações devem ser realizadas de forma cuidadosa pelo pesquisador, para que o processamento seja feito com o maior aproveitamento das palavras compostas no corpus (SOUZA ET AL.,2018). Por fim, após o processamento dos dados pelo software, foi obtido uma retenção 83,19%, que é considerado um bom aproveitamento de UCE o índice igual ou superior a 75%. Além disso, foi criado o dendograma das classes, que além de apresentar individualmente cada classe e também demonstra a ligação que ocorre entre elas, conforme figura abaixo.

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Figura 1 – Dendograma de classes

Fonte: Software IRAMUTEQ, dados da pesquisa (2021).

Conforme ilustrado na Figura 1, obteve-se um dendograma com cinco classes. Estas servirão como base para a fundamentação e construção teórica deste trabalho, destrinchadas na seção a seguir.

5 RESULTADOS

Após realizada a introdução, revisão de literatura e procedimentos metodológicos, esta seção apresenta os principais resultados desta pesquisa. A seção foi dividida em dois tópicos que inicialmente optou-se por fazer uma breve explanação acerca da expansão da Economia Solidária no Brasil e logo adiante foi realizada as análises das entrevistas com auxílio do software IRAMUTEQ, que demonstram as experiências de lideranças femininas em empreendimentos econômicos solidários do artesanato.

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Ao avaliar a classe mais independente - Classe 5, nota-se que essa classe está diretamente relacionada com uma avaliação de melhoria da estruturação dos grupos de artesanato e ligado fortemente ao apoio da universidade e dos outros órgãos responsáveis pelo fomento da Economia Solidária. Palavras como CECAFES, UFRN, Apoio, OASIS e Feira, nos levam a compreensão de que o suporte dos projetos da UFRN, do IFRN, da prefeitura e demais órgãos, fazem a diferença no desenvolvimento pessoal e profissional dessas mulheres.

Gráfico 4 - Locais de Comercialização de Empreendimentos Econômicos Solidários liderados por mulheres em atividade de produção artesanal. Brasil, 2009 a 2013 (em %)

Fonte: SIES.SENAES. Elaboração: DIEESE.

O gráfico acima demonstra os locais de Comercialização de Empreendimentos Econômicos Solidários liderados por mulheres em atividade de produção artesanal no Brasil. Ele reafirma a ideia que foi repassada pelas mulheres em que as feiras são espaços de grande significância para o desenvolvimento e apoio dos trabalhos artesanais. A extensão na Universidade possibilita a relação entre universidade e sociedade, que acontece como uma troca no qual a sociedade dá para a universidade a chance de esta colocar em prática seus conhecimentos acadêmicos por meio de um processo educativo, cultural e científico (Serrano, 2013). Esta ideia é reafirmada a partir dos depoimentos abaixo, que mostram o quão é significante a dedicação diária nos projetos de ensino, pesquisa e extensão.

A universidade através da OASIS, foi muito importante, muito importante mesmo, porque foi quando a gente começou a melhorar como Economia Solidária porque a gente teve mais palestras, tivemos mais oficinas, e tivemos todo apoio de suporte de fazer o projeto da loja, então isso foi muito bom mesmo, quando a gente começou a ter o apoio da OASIS melhorou muito a nossa vida. (Mulher 5)

Quando a gente conheceu o setor de economia solidária, a gente começou a ter outras possibilidades, a gente passou por qualificações, de marketing, de fixação de preço, trabalhar o coletivo, a cooperação, melhorar o produto e uma das principais parceiras da gente foi a UFRN. (Mulher 1)

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Foram assim indispensáveis mesmo com nós, tinha muitas coisas que a gente não tinha conhecimento e foi a partir da OASIS que a gente começou a ter um certo conhecimento de como vender, de uma forma em geral de tudo, com relação ao artesanato, tivemos uma contribuição muito grande sempre. (Mulher 3)

A universidade foi muito importante na nossa vida, pra o nosso empreendimento, tivemos muitos seminários, reunião e aprendemos muito com a universidade. (Mulher 2)

A UFRN e os demais agentes envolvidos na formação e desenvolvimento desses empreendimentos, oportunizou a essas mulheres vivenciar coisas que talvez sem esse contato, poderiam não ter sido conquistadas. A universidade abre portas e amplia os horizontes de todas as pessoas que passam por ela de forma direta ou indireta.

Ao se analisar o processo socioeducativo presente na participação da população em grupos de economia solidária, buscam-se pressupostos pedagógicos que falem sobre uma educação problematizadora. Esse processo de educação possibilita a transformação da realidade e do educador e é capaz de auxiliar o educando a problematizar a realidade e a destruir os mitos. (FREIRE, 2005, p. 5).

A partir da afirmação de Paulo Freire, podemos perceber que com a criação de projetos como os que a OASIS desenvolve, as universidades passam a ter um papel fundamental na disseminação da Economia Solidaria. Sennett (2009, p.49) nos ensina que “à medida que uma pessoa desenvolve sua capacitação, muda o conteúdo daquilo que ela repete.”

“Foi muito importante, porque também tinham os debates e nos fazia entender que realmente a gente precisava estar lá, porque a Economia Solidária tanto é sala de aula como constante, todo dia a gente tá inovando, né? São muitas inovações.” (Mulher 4)

“Faço curso de bordado online do IFRN – Mulheres Mil, termino agora em final de abril, e pretendo fazer outras coisas que melhorem mais a minha coordenação lá na associação.” (Mulher 5)

Notamos com os relatos acima, que esse processo de capacitação citado por Sennett, tem grande valia para o aprendizado das mulheres, pois a cada debate, a cada curso e a cada informação recebida, elas saem com uma nova formação tanto pessoal como profissional, que está diretamente ligado a qualidade do produto oferecido.

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Partindo para a Classe 2, a segunda mais independente, podemos identificar que nesta classe é trazido uma perspectiva de comunidade, de vida, de transformação, de envolvimento familiar e da comunidade como um todo.

A Economia Solidária representa muitas coisas boas na minha vida e na vida das sócias e filhas da comunidade, a economia é um jeito diferente de produzir, vender, comprar, trocar... (Mulher 2)

Ao participar da Economia Solidária, os trabalhadores passam a se organizar coletivamente de forma a se apoiarem, fazendo com que a prática solidária transcenda as linhas do trabalho convencional.

As iniciativas de Economia Solidária empenham-se em construir alternativas socioeconômicas sustentáveis, assumindo um compromisso com um modelo de desenvolvimento que consiga integrar sustentabilidade econômica, social, ambiental e cultural, contribuindo assim para o aprimoramento do próprio ser humano, ganhando na riqueza dos relacionamentos e no convívio social comunitário. (SANTOS, 2010, p. 2)

Nós como seres humanos, estamos sempre em busca de respeito, atenção e consideração. A valorização humana é de extrema importância para que consigamos desenvolver nossas habilidades plenamente, e a Economia Solidária possibilita a quem faz parte dela, vivenciar isso, além de conseguir conectar pessoas para que juntas possam construir um excelente trabalho em equipe.

Economia Solidária pra mim foi muito bom porque eu aprendi mais a entender as pessoas, né, porque a gente trabalha mais em equipe, lá na associação que até então a gente trabalhava individual, cada uma fazia seu trabalho, e cada uma vendia por si mesmo, né? (Mulher 5)

Olhe, a Economia Solidária ela é uma forma de produção coletiva e uma forma de alternativa de sobrevivência também, e de mudanças, mudanças da forma com que a gente tem vivido... (Mulher 4)

Há uma grande identidade no empreendimento nosso, que metade do empreendimento é família, a metade do empreendimento são mulheres que são irmãs, eu sou sobrinha, só aí vão seis, então é um percentual bem grande. Foi quase uma associação familiar... (Mulher 1)

Busca-se a compreensão da Economia Solidária como uma perspectiva diferente da lógica capitalista tradicional, uma vez que os seus objetivos e princípios são claramente diferentes dos objetivos dos empreendimentos capitalistas. Ao avaliar as Classes 1 e 3, notamos que elas possuem uma linha tênue e, por este motivo, serão analisadas juntas. Na Classe 1, são

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identificadas falas que que tratam dos agentes, das assessorias e parcerias desenvolvidas em todo o percurso dos empreendimentos. Ao analisar o corpus, a palavra “junto” tem relação com estar junto/chegar junto, ou seja, da importância desses agentes para o desenvolvimento do grupo, dos programas de apoio já citados anteriormente na Classe 5.

No decorrer desse percurso aí a gente entrou no projeto de fomento da prefeitura, que deu direito, a gente já participava das feiras né, mas a parte principal mesmo de qualificação sempre quem fez foi a UFRN, ou com a parceria da incubadora, ou o professor Washington conseguindo parceiros. (Mulher 1)

Para melhor compreensão desta análise, vale pontuar que Washington José de Sousa é professor do Departamento de Administração Pública e Gestão Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), tem experiência na área de Administração, com ênfase em Gestão Social, atuando principalmente nos seguintes temas: Economia Solidária, Trabalho Voluntário, Qualidade de Vida no Trabalho e Responsabilidade Social Corporativa. É membro do Conselho Estadual de Economia Popular Solidária (Rio Grande do Norte) como representante do segmento Instituições de Ensino Superior (IES) e está à frente da Organização de Aprendizagens e Saberes em Iniciativas Solidárias (OASIS).

Essas pessoas motivam a gente, porque elas consomem o que a gente produz, elas chegam junto quando a gente precisa, se forma um círculo de apoio, então isso faz totalmente diferença quando você tem um apoio entendeu? (Mulher 1)

Já na Classe 3, as palavras que aparecem em destaque são

prefeitura/professor/participar/saber. Elas elencam a importância desses agentes envolvidos,

mostra que elas necessitam desse apoio, que precisam dos agentes que dão suporte, como, por exemplo, os projetos da prefeitura, o nome do professor Washington, os projetos de extensão desenvolvidos na universidade. Na classe 5 é avaliado importância da universidade, e já na Classe 3 elas elencam quem são esses agentes que prestam essa assessoria.

Bem... A Economia Solidária eu conheci através da associação que foi na SETHAS, um órgão da prefeitura. (Mulher 5)

Pra mim essas três universidades que é a UERN, o IFSOL e a OASIS foram muito importantes,, muito importantes mesmo, porque através primeiramente a OASIS que deu suporte maior a gente, que a gente foi aprendendo e se interessando mais, fui aprendendo as coisas e correndo atrás de outros projetos e assim tá se melhorando cada dia mais, tá sendo ótimo. (Mulher 5)

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O professor Washington conhece a gente desde o comecinho, da primeira feira que a gente foi, eu disse a ele que a gente já tem, a gente já tá quase completando a maioridade juntos, ele já passou por todas as fases que a gente passou.” (Mulher 1)

A gente era acompanhado pelo professor Washington a gente fazia muita troca solidária nas feiras. (Mulher 1)

A Classe 4 traz uma perspectiva de como as mulheres entendem o contexto pessoal delas. Nessa classe, podemos identificar perspectiva de renda, de como as atividades que elas desenvolvem compõe a sua renda familiar. As palavras que obtêm maior destaque nessa classe são renda/cooperativa/casa/mulher/mãe/menino/dificuldade. Ou seja, essas palavras identificam a condição da mulher em meio a sua rotina de trabalho, a conciliação da sua jornada enquanto mãe, mulher, filha e artesã.

No que diz respeito a renda, podemos identificar que o artesanato na maioria dos casos, atua como uma forma de complementar a renda dessas mulheres que são beneficiadas algumas por aposentadoria, pensão, BPC, e outras pelo Bolsa Família.

Eu sou a chefe de família, tô separada, tenho duas filhas, atualmente eu moro com meu irmão, minha cunhada, minha mãe e minha sobrinha [...] eu vivo do artesanato em si hoje, é meu meio de sobrevivência. (Mulher 1)

Eu sou aposentada, agora tem umas que vivem mesmo através do clube. [...] eu e outras pessoas a gente tem aposentadoria e outras não tem aposentadoria tem pensão, e outras não tem nada... (Mulher 2)

Tem algumas aposentadas, que tem BPC, bolsa família e outras vive da costura, as que vive da renda do artesanato infelizmente sofrem mais, muitas vezes precisa da ajuda de outros membros da família. (Mulher 4)

Praticamente algumas vivem de bolsa família que recebem, bolsa família que é um valor muito irrisório, e aí com esse trabalho da Economia Solidária elas aprenderam a fazer sabão, a confeccionar vassouras, a reutilizar material reciclado, caixas, retalhos, tudo nós reaproveitamos como uma forma delas ganharem, né? (Mulher 3)

A gente a maioria todo mundo é pensionista, é aposentada, então não é a renda principal, é tipo uma ajuda, um complemento, mas em outras associações aí existem pessoas que realmente vivem disso, agora a gente não, é só um complemento. (Mulher 5)

É importante frisar que apesar de para muitas mulheres o artesanato não ser a principal fonte de renda, ele possui grande significância financeira para essas mulheres e que, mesmo com todas as dificuldades enfrentadas pelo caminho, os pontos positivos se sobressaem, pois

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elas buscam emancipação financeira, por mais que no final seja pouco, o pouco faz toda a diferença na vida delas.

Eu diria que hoje jamais uma costureira de renda mínima, ela conseguiria manter como a gente tem mantido juntas, tem muitas dificuldades, mas eu acho que tem muito avanço. (Mulher 4)

Com o decorrer do tempo a gente vai passando por dificuldades financeiras e a gente em si não consegue viver do artesanato, só do artesanato, porque aqui no Rio Grande do Norte a gente não tem onde escoar mercadoria. (Mulher 1)

A Economia Solidária eu entendo como um movimento que agrega, que compões alguns grupos e esses grupos eles têm a oportunidade de desenvolver alguns trabalhos e tem a oportunidade de tá no mercado de trabalho, como muitos tem dificuldade, não tem como escolher, e através Economia Solidária, da SEMTAS, da Economia Solidária, foi uma forma dessas mulheres se envolverem de algumas forma e poder ser alguém na vida. (Mulher 3)

Outro ponto mencionado, foi a forma como o artesanato traz a sensação de envolvimento, as atividades que são desenvolvidas fazem sentido para a vida delas e isso permite que o trabalho realizado ultrapasse as barreiras do profissional, o que faz com que essas mulheres tenham a sensação de “ser alguém na vida”, de sentir-se parte integrante do todo, de pertencimento e orgulho ao empreendimento que fazem parte. Nesse caso específico de se reconhecer como mulher e o seu papel na sociedade.

Em síntese, esta pesquisa revela que, as mulheres sócias de empreendimentos econômicos solidários de Natal, na atividade produtiva de artesanato, encontram na economia solidária: i) importância dos agentes, das assessorias e das parcerias desenvolvidas em todo o percurso dos empreendimentos (Classe 1); ii) identificação da perspectiva de comunidade, de vida, de transformação, de envolvimento familiar e da comunidade como um todo (Classe 2); iii) relevância e agradecimentos dos agentes envolvidos em todo o processo (Classe 3); iv) identificação da perspectiva de renda (Classe 5); v) avaliação de melhoria da estruturação dos grupos de artesanato ligado fortemente ao apoio da universidade e dos outros órgãos responsáveis pelo fomento da Economia Solidária (Classe 5).

Referências

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