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entrevista fábio assunção

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Academic year: 2021

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domingo. O relógio marca meio dia em ponto. Com seus passos firmes e presença marcante, Fábio Assunção adentra os fundos do Espaço Viga, no bairro do Sumaré, em São Paulo, onde acompanha os ensaios de sua próxima peça como diretor, Dias de vinho e rosas. Tocando o projeto há quase dois anos, o qual tem Carolina Mânica e Daniel Alvim nos papéis principais, a trama, escrita pelo americano J. P. Miller e com estreia dia 13 deste mês, se desenrola em Londres durante a década de 1950 quando o casal Mona e Donal vê sua relação de nove anos desmoronar por causa do alcoolismo. A afeição de Fábio por temas profundos como este não é de hoje: em sua estreia na direção teatral, em 2012, ele escolheu O expresso do pôr do sol, espetáculo que transita na temática do suicídio. Hoje, no entanto, assuntos espinhosos se refletem apenas em sua carreira profissional. Com 43 anos e crente de estar vivendo a melhor fase de sua vida, o paulistano acredita que tenha encontrado o seu caminho para a almejada e indecifrável felicidade. No seu caso, o percurso que leva a ela acontece nas viagens que faz pelo mundo ou pelas andanças por São Paulo, quando está com os filhos João e Ella, nas pesquisas teatrais ou atuando... Mas sempre em seu tempo e nunca à frente dos holofotes.

No ar há 25 anos, Fábio passou cerca de 20 deles exposto a muita gente, dependendo de opiniões e aprovações que nem sempre o levaram a uma satisfação plena. Em um cenário muito mais intimista e vivendo escolhas que agora faz apenas para si mesmo, o ator encara um momento mais maduro, substituindo o excesso de cobranças e expectativas por maior liberdade. Essa leveza é visível em sua aparência e em sua postura afável e despojada, especialmente no trato com o outro. Os cabelos já começam a se tornar grisalhos, destacando ainda mais os olhos azuis, que não deixam de nos encarar a cada indagação.

Considerando-se otimista, o galã acha que o mundo está mudando para melhor. Ainda tem ressalvas em relação à cultura brasileira, acredita que ela está apenas engatinhando, mas vê um potencial imenso nas produções voltadas para a televisão. É nesse cenário que retorna, este mês, para as gravações da última temporada do seriado da TV Globo Tapas & beijos, além de já se preparar para fazer parte do elenco de uma futura novela das sete da mesma emissora. Também estará em um filme já engatilhado que tem como nome provisório A magia do mundo quebrado – no qual contracena com seu filho João e as atrizes Alice Braga e Ingrid Guimarães –, além de se envolver com outros múltiplos projetos. Mas o mais importante em toda história é que Fábio realmente acredita que o sucesso não precisa estar atrelado a aplausos.

DELE E DE

MAIS NINGUÉM

P O R C L A R I A N A Z A N U T T O E R E N A T A V O M E R O F O T O S A N N A C A R O L I N A N E G R I

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| entrevista | fábio assunção

são idolatrados, são colocados como grandes heróis. Mas eu acho que, aqui, a gente deixou a questão da be-bida deteriorando a história de amor só. A gente não está julgando se eles estão fazendo certo ou errado. Eles fizeram o que eles puderam fazer. Eles saem da Ir-landa, se conhecem num aeroporto de Belfast. Ela é de uma família de seis irmãos. Ninguém bebe. O pai não bebe. Ela nunca bebeu. E ela está indo para um mun-do novo em Londres, está inmun-do conhecer uma cidade nova. E encontra esse cara, que é quase um profissional de relações públicas. Ele é um bookmaker, então, lida com apostas, e a bebida é uma forma de se sociabilizar.

Uma sociabilização comum a muitos... Nesse

en-contro, ela começa a beber sem ter ideia de nenhuma consequência, como todos nós fazemos. Ela não se encaixa nessa Londres, entendeu? Ela fica sem fun-ção, passa a ter uma vida doméstica. Ela não conse-gue trabalhar, ainda mais porque eles têm um filho. Então, quer dizer, ela cai em um vazio em Londres e se casa com a bebida ali. E o único momento em que ela encontra com adultos, que ela tem uma vida mais social, é quando ele chega, depois das corridas, com vários casais. Aí eles bebem. Ela acaba se agarrando a isso. É a história de um triângulo amoroso dos dois com a bebida.

Você concorda com o fato de que uma cidade gran-de, ao impor uma individualidade aos cidadãos, prejudica as relações afetivas? Não sei o que é mais

difícil. Às vezes, vou para o interior e falo: “Meu Deus, como eu viveria em uma cidade onde todo mundo se conhece?”. Acho que não tem essa regra. Uma cidade grande te permite as duas coisas. Você ter o seu grupo de amigos, mas também ser um especta-dor da humanidade: você poder andar, ir aos lugares e observar as pessoas de uma forma distanciada. Quase de uma forma anônima. Acho que, em São Paulo, eu tenho isso. Mas, quando viajo, quando vou para ci-dades grandes como Londres, por exemplo, me sinto assim: só um espectador dessa humanidade. Observo os grupos de pessoas. Dá para ver esses perfis. Não acho que é a cidade grande ou a cidade pequena que interfere nessa questão de prazeres ou em dificuldade em relacionamentos. Isso tem a ver com o indivíduo mesmo. Você pode se sentir absolutamente sozinho com muita gente. E tem pessoas que vivem preenchi-das sozinhas, que se sentem felizes não estando casa-das. A lucidez está na arte, na sua ligação com o amor. Eu já me senti de várias formas tanto em lugares pe-quenos, como em lugares grandes. Isso sempre teve a ver com o meu estado de espírito. Sempre!

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Você acha que a entrega ao vício se assemelha com a entrega ao amor? Essa é uma pergunta excelente!

É... Acho que tem semelhanças. Acho que tem seme-lhanças e diferenças. Acho que é uma forma de casa-mento também.

E essa entrega reflete um comportamento um pouco autodestrutivo do ser humano? Sim, eu acho. É algo

bem autodestrutivo. Porque quando a gente fala do ví-cio, na verdade, a gente está falando de dependência. Em uma relação, também, se você é dependente dela não é construtivo. Acho que essas formas de depen-dência, a qualquer coisa, tiram a sua liberdade.

As buscas pelo sucesso, pelo prazer e pelo amor são muito refletidas na peça. Ela mostra muito a nossa eterna procura pela felicidade e, nessa busca, acabamos nos tornando eternos insatisfeitos tam-bém... Sim. Comecei a fazer televisão muito novo e

ela te dá um sucesso meio imediato. Porque você é exposto para muita gente, se é um trabalho de qua-lidade... Acho que sempre você depende da opinião do outro... E o sucesso é, na verdade, a aprovação do outro. Isso realmente é uma felicidade incerta. Eu não busco sucesso assim, não penso em sucesso. Não tenho mais nenhuma ligação com esse tipo de vida de celebridade, ou circuitos de figuras que fazem suces-so. A minha felicidade é, por exemplo, estar aqui [no teatro] pesquisando coisas para a peça.

E como é que você se enxerga nessa procura pela felicidade? Estou eternamente procurando. Estamos

todos procurando. Se vocês souberem onde está, me avisem! Agora, estou com 43 anos, já identifico mui-tos lugares em que tenho certeza de que a felicidade não está. Gosto de trabalhar e acho que sou feliz as-sim. Mas o entorno do meu trabalho tem essa falsa sensação de felicidade. Acho que as relações de hoje são acompanhadas de muita cobrança também. Viver uma história de amor atualmente é complicado. Estou em uma fase de maturidade. Puta, tem que ser muito legal, entendeu? Porque quando vem com muita co-brança, muita coisa, muita expectativa, isso atrapalha. A felicidade está realmente no conhecimento. Aqui, por exemplo, que a gente está há dois meses com uma equipe, pesquisando cada centímetro da peça. Isso me deixa pleno. São as melhores fases da minha vida.

Como você analisa o meio artístico nessa busca?

Cara, não sei mais como é o meio artístico. Vivi 15 anos no Rio. Eu, agora, fiquei duas semanas sendo obrigado a ver notícias do Carnaval e é uma coisa

im-O SUCESSim-O É, NA VERDADE, A

APROVAÇÃO DO OUTRO. ISSO

REALMENTE É UMA FELICIDADE

INCERTA. EU NÃO BUSCO SUCESSO

ASSIM, NÃO PENSO EM SUCESSO.

NÃO TENHO MAIS NENHUMA

LIGAÇÃO COM ESSE TIPO DE VIDA

DE CELEBRIDADE, OU CIRCUITOS

DE FIGURAS QUE FAZEM SUCESSO.

A MINHA FELICIDADE É, POR

EXEMPLO, ESTAR AQUI [NO TEATRO]

PESQUISANDO COISAS PARA A PEÇA.

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