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Síntese de práticas de suprimento sustentável

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Síntese de práticas de suprimento sustentável

PÉRICLES NUNES DA SILVA (UFF) – periclesns@gmail.com IARA TAMMELA (UFF) – iaratammela@gmail.com

EDWIN BENITO MITACC MEZA (UFF) – emitacc@id.uff.br

Resumo: A preocupação com a sustentabilidade pelas empresas tem aumentado a cada ano que passa. Pressionadas por legislações mais restritivas, cuidado com a imagem e reputação da marca e mudanças nas preferências dos consumidores, as organizações têm buscado inserir práticas sustentáveis em seus processos de negócio. Considerando que muitas empresas escolhem focar seus esforços nas atividades principais de seus processos produtivos (core business) contando com parceiros para o fornecimento de insumos e serviços necessários para a produção de seus produtos, é importante que as ações em prol da sustentabilidade não se restrinjam aos limites da empresa, mas levem em conta toda a cadeia de suprimentos. Este trabalho aborda o tema do suprimento sustentável, com o objetivo de identificar, sintetizar e classificar práticas que o setor de compras de uma empresa precisa desempenhar para promover a sustentabilidade na organização e em toda a cadeia de suprimentos. Ao todo foram identificadas 97 práticas na literatura que, após análise utilizando princípios da análise de conteúdo, foram sintetizadas para 43, sendo propostas 6 categorias para organizá-las. Os resultados serão utilizados como insumo para pesquisa futura sobre a prática do suprimento sustentável por uma empresa de economia mista do setor de óleo e gás.

Palavras-chave: Suprimento sustentável, gestão da cadeia de suprimentos sustentável, Compras.

1. Introdução

No atual ambiente de negócios, onde as empresas se especializam cada vez mais em suas atividades principais (core business) as atividades da área de suprimentos/compras têm seu impacto no desempenho das organizações muito mais evidente. De acordo com pesquisa realizada nos Estados Unidos, em 2012, cerca de 62% do faturamento das indústrias de manufatura foi utilizado na aquisição de insumos (US CENSUS, 2012).

Segundo pesquisa realizada por Hartmann et al. (2012) com 306 empresas de 8 setores, o desempenho das atividades de compras e gerenciamento de suprimento tem impacto direto no sucesso financeiro das empresas, sendo que essa influência está ligada ao desempenho operacional em custos, qualidade e inovação nas atividades de suprimento.

No entanto, no atual mundo dos negócios, é preciso conciliar os objetivos de lucro da organização com o respeito ao meio ambiente e a satisfação dos públicos de interesse nas atividades da empresa, ou seja, clientes, empregados, fornecedores e a comunidade local (CRESPIN-MAZET; DONTENWILL, 2012).

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Nesse cenário onde os materiais e serviços fornecidos pelos fornecedores representam a maior parte da produção de valor agregado de uma organização, o impacto social e ambiental da empresa pode ser visto como uma função do processo de seleção e relacionamento com o mercado fornecedor, bem como dos requisitos solicitados. Em outras palavras, empresas sustentáveis requerem uma rede de suprimento sustentável (KRAUSE et al., 2009; TATE et

al., 2012). Assim, fica evidente o papel central da área de compras nos esforços para o

desenvolvimento da sustentabilidade nas empresas.

As empresas começaram a perceber o papel central do departamento de compras na integração dos princípios de desenvolvimento sustentável através dos demais setores da mesma. Muitas organizações têm colocado o suprimento sustentável como uma prioridade estratégica em suas políticas de responsabilidade social e ambiental (CRESPIN-MAZET; DONTENWILL, 2012).

Neste sentido, o objetivo deste artigo é sintetizar as práticas de suprimento sustentável identificadas na literatura classificando-as em categorias de modo a ajudar as organizações que desejam ter uma atuação sustentável em relação à cadeia de suprimentos. A metodologia considerou as seguintes atividades: a) revisão de literatura sobre o gerenciamento de cadeias de suprimento sustentável e sobre o suprimento sustentável e b) identificação e classificação das práticas de suprimento sustentável listadas na literatura.

O artigo está estruturado da seguinte forma: inicialmente será abordada a gestão da cadeia de suprimentos sustentável (GCSS), ambiente no qual está inserido o próximo tópico do artigo, o suprimento sustentável. Em seguida o artigo trata da identificação, síntese e classificação de práticas de suprimento sustentável na política de compras e por fim traz os principais resultados e conclusões obtidos.

É importante ressaltar que a presente pesquisa faz parte de um estudo maior que aborda a prática do suprimento sustentável numa empresa de economia mista do setor de óleo e gás. Este artigo tem o objetivo de apresentar apenas parte dos resultados do estudo.

2. Gestão da Cadeia de Suprimentos Sustentável (GCSS)

As discussões sobre sustentabilidade são direcionadas pela noção básica de que o desempenho deve ser medido não apenas pelos lucros, mas também pelo impacto da cadeia de suprimentos nos sistemas ecológicos e sociais. Para ser realmente sustentável, uma cadeia de suprimentos deve se manter próspera ao longo dos anos sem provocar danos ambientais e sociais, mantendo a fidelidade e satisfação dos consumidores (PAGELL; WU, 2009).

As primeiras pesquisas em gerenciamento da cadeia de suprimentos, examinavam questões como o meio ambiente, segurança e direitos humanos de maneira isolada, sem considerar o potencial de inter-relação entre esses e outros aspectos da responsabilidade social (CARTER; ROGERS, 2008; SEURING; MÜLLER, 2008)

Pressões exercidas pelo governo, clientes e outras partes interessadas têm despertado às empresas a incorporar práticas sustentáveis às atividades de suas cadeias de suprimento. Entretanto, essas pressões externas só desencadeiam ações de produção e suprimento sustentáveis nas empresas quando as organizações e suas cadeias de suprimento possuem os recursos internos (competências) necessários à implementação das práticas de gestão da cadeia de suprimentos sustentável (GOLD et al., 2010).

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Na pesquisa efetuada por Gold et al. (2010) são destacadas cinco competências/recursos que incentivam a cadeia de suprimentos sustentável: (1) trabalho em equipes multifuncionais, (2) relacionamento colaborativo com os fornecedores, (3) compreensão de aspectos sociais e ambientais da sustentabilidade pelos profissionais de compras, (4) habilidades técnicas dos profissionais de compras e (5) políticas e procedimentos de compras abrangentes. Ou seja, boa parte do esforço necessário para se obter uma cadeia de suprimentos sustentável vem do setor de compras/suprimentos.

Carter e Rogers (2008) definem o gerenciamento da cadeia de suprimentos sustentável como a união dos objetivos estratégicos de uma organização nas dimensões social, ambiental e econômica de forma que se obtenha uma coordenação dos processos de negócio para melhorar o desempenho de longo prazo da organização e de toda a cadeia de suprimentos.

Pagell e Wu (2009) sintetizam o conceito de cadeia de suprimentos sustentável como aquela que possui um bom desempenho nas dimensões social, ambiental e econômica da sustentabilidade. Segundo os autores, a GCSS nada mais é do que o conjunto de ações gerenciais que são tomadas para tornar a cadeia de suprimentos mais sustentável.

Já Ahi e Searcy (2013), após uma análise comparativa de 22 definições de gerenciamento da cadeia de suprimentos verde e 12 definições de gestão da cadeia de suprimentos sustentável (GCSS) definem a GCSS como a criação de cadeias de suprimento coordenadas por meio da integração voluntária de aspectos econômicos, ambientais e sociais para gerenciar de maneira eficiente e eficaz os fluxos de materiais, informações e capital associados às atividades de compras, produção e distribuição de produtos e serviços, de forma a atender os requisitos das partes interessadas e melhorar a lucratividade, a competitividade e a resiliência da organização no curto e longo prazos.

3. Suprimento sustentável

Como pôde ser visto no item anterior, para que uma organização efetivamente incorpore a sustentabilidade em seus processos de negócio ela precisa estabelecer uma cadeia de suprimentos sustentável para concepção de seus produtos e/ou serviços. E essa relação sustentável com o mercado fornecedor passa, em grande parte, pelo setor de compras/suprimentos da organização ou seja, a empresa deve praticar o suprimento sustentável, que será apresentado nesta seção do artigo.

O grande desafio da inclusão da sustentabilidade como prioridade competitiva das empresas, assim como são o custo e a qualidade, reside no fato da dificuldade de se identificar e/ou garantir os componentes sustentáveis dos produtos que a empresa adquire de seus fornecedores (KRAUSE et al., 2009).

Assim, apesar de ser um objetivo estratégico de muitas empresas, a sustentabilidade dificilmente está refletida nas práticas e estratégias de suprimento (MEEHAN; BRYDE, 2011). Enquanto os departamentos de compras possuem à sua disposição diversos critérios tradicionais de seleção de fornecedores, como custo, qualidade e prazo de entrega, orientados para a sustentabilidade econômica da empresa, existe pouco consenso sobre quais atributos são críticos para assegurar sustentabilidade ambiental e social na seleção de fornecedores (GOEBEL et al., 2012).

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Dessa forma, Meehan e Bryde (2011) sustentam que a atividade de compras possui papel essencial na sustentabilidade, pois as políticas e práticas devem se estender além das fronteiras das organizações, incorporando toda a cadeia de suprimentos. A atividade de compras necessita de diretrizes sustentáveis para tomar decisões que levem em conta as dimensões ambientais, econômicas e sociais.

Nesse sentido, Schneider e Wallenburg (2012) destacam que o suprimento sustentável deve garantir a seleção de fornecedores que ofereçam insumos de qualidade a preços competitivos, possuam boas práticas de preservação ambiental e reforcem os valores e padrões sociais da empresa.

Krause et al. (2009) explicam que algumas empresas escolhem focar seus esforços sustentáveis apenas nas dimensões econômica e ambiental, ao passo que outras incluem ainda aspectos sociais e culturais às suas práticas.

Pagell et al. (2010) definem o suprimento sustentável como o gerenciamento de todos os aspectos à montante da cadeia de suprimentos para maximizar o desempenho nas esferas social, ambiental e econômica. Para os autores, os novos comportamentos e atitudes dos gerentes de compras sinalizam uma importante mudança de longo prazo através das novas práticas da área de compras no nível micro (políticas de compras das empresas), que acabam representando mudanças na dinâmica competitiva no nível macro (tendências de mercado).

Já Walker et al. (2012) definem o suprimento sustentável como a busca dos objetivos de desenvolvimento sustentável através da atividade de compras e do processo de suprimento. O suprimento sustentável deve ser consistente com os princípios do desenvolvimento sustentável, promovendo uma sociedade forte, saudável, justa, que conviva em harmonia com o meio-ambiente, promovendo uma boa governança (WALKER; BRAMMER, 2009).

Meehan e Bryde (2011) mostram que as empresas tendem a focar suas práticas sustentáveis em aspectos ambientais, como redução do consumo de energia, por exemplo. Hoejmose e Adrien-Kirby (2012) relatam que a melhoria da dimensão ambiental da cadeia de suprimentos pode levar a benefícios além do desempenho ambiental, como oportunidades de redução de custos de produção por meio da redução de desperdícios e prolongamento da vida útil ou reuso dos ativos, criando vantagens competitivas.

Por outro lado, as práticas sociais na política de compras podem trazer melhorias para o aprendizado organizacional, o que acaba influenciando o desempenho dos fornecedores e consequentemente permitindo que a organização reduza seus custos de suprimento. Além disso, tais práticas auxiliam na criação de uma marca forte e na redução do risco de atenção negativa da mídia (HOEJMOSE; ADRIEN-KIRBY, 2012).

4. Práticas de suprimento sustentável na política de compras

A inclusão dos fatores sociais e ambientais junto aos fatores econômicos cria processos de decisão mais complexos para os departamentos de compra. É necessário ir além das métricas financeiras e monitorar novos conjuntos de riscos como a segurança dos empregados, poluição, desperdício, impacto das atividades do fornecedor nas comunidades locais e ainda o risco de um impacto negativo na imagem corporativa da empresa. Ou seja, as empresas precisam revisitar proativamente suas decisões de seleção de fornecedores para elevar a sustentabilidade (CRESPIN-MAZET; DONTENWILL, 2012).

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Goebel et al. (2012) reforçam a importância do comportamento ético dos profissionais de compra como forma de relacionar as dimensões social, econômica e ambiental da sustentabilidade nas decisões de compra. Por meio desse comportamento ético é que a responsabilidade social da empresa se estenderá além de seus limites, assegurando que os parceiros da cadeia de suprimento também sejam sustentáveis.

O cenário de produtos do tipo “commodities”, com muitos fornecedores e especificações semelhantes, mostra a dificuldade da decisão dos gerentes de compras em selecionar produtos sustentáveis. A opção pelos insumos de menor custo está parcialmente correta, uma vez que menores custos de aquisição contribuem para a sustentabilidade econômica da empresa. Por outro lado, essa vantagem traz embutido o custo do risco de dano à imagem da organização, podendo ser considerada como socialmente e/ou ambientalmente não sustentável (ARNOLD; HARTMAN, 2005; GOEBEL et al., 2012).

A seleção de fornecedores sustentável caracteriza a intensidade com que as áreas de compras levam em conta os fatores sociais e ambientais na escolha de novos fornecedores. Sendo este um dos principais componentes do comportamento ético da política de compras. Goebel et al. (2012) explicam que o comportamento ético é composto de elementos tangíveis, como um código de conduta e intangíveis, como recompensas e punições.

Uma das formas de promover a mudança de comportamento dos responsáveis pela execução da política de compras nas organizações, aumentando a preocupação com a sustentabilidade, é por meio da adoção de padrões de sustentabilidade ou códigos de conduta. O Pacto Global das Nações Unidas é um desses guias, sendo uma das maiores iniciativas de responsabilidade corporativa do mundo, com a adesão de centenas de empresas (GILBERT; RASCHE, 2008; ONU, 2013).

Hoejmose e Adrien-Kirby (2012) lembram que os códigos de conduta são de longe o modo mais prático de implementar, assegurar e estender uma política de suprimento sustentável na relação com os fornecedores. Códigos de conduta funcionam como uma forma de guia para os empregados manterem padrões coerentes em suas decisões, além de encorajarem as práticas sustentáveis, melhorando a imagem da empresa e se tornando uma verdadeira fonte de vantagem competitiva (PREUSS, 2009).

Goebel et al. (2012) destacam que o código de conduta requer constante atualização para refletir as mudanças nas expectativas dos públicos de interesse, tanto interna quanto externamente. Trata-se de um subsídio importante para que os compradores possam justificar suas decisões de compra e seleção de fornecedores quando, além dos critérios econômicos, forem considerados fatores sociais e ambientais.

Do ponto de vista de Cambra-Fierro et al. (2008), apesar de serem um importante instrumento para direcionar os esforços de suprimento sustentável nas organizações, os códigos de conduta podem não funcionar quando se tratam apenas de padrões burocráticos que, ao invés de promoverem a sustentabilidade nas aquisições podem acabar criando atritos e impasses.

Yu (2008) lembra que outra fonte de insucesso na aplicação dos códigos de conduta reside no não monitoramento e implementação de suas recomendações, fracassando as iniciativas de melhoria dos critérios sociais e ambientais.

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Goebel et al. (2012) também indicam que existe uma forte relação entre o comportamento ético da alta administração e a seleção sustentável de fornecedores. Isto é, a preocupação com a sustentabilidade, pela alta administração, é traduzida em ações especificas pela área de compras, refletindo em uma seleção de fornecedores de forma mais sustentável.

A pressão dos atores externos para que as empresas se tornem mais sustentáveis também tem aumentado, principalmente nos quesitos ambientais. Legislações governamentais e pressão dos consumidores são dois dos maiores estímulos para o engajamento no suprimento sustentável em termos de tratamento justo aos fornecedores (WORTHINGTON et al., 2008).

Outra forma de promover o suprimento sustentável é por meio de incentivos e penalidades. Van Tulder et al. (2009) reconhecem o papel central que a inserção desses fatores podem ter para reforçar a implementação das práticas de suprimento sustentável. Muitas organizações poderiam aumentar a colaboração dos fornecedores com seus objetivos de sustentabilidade utilizando mecanismos de confiança, intervenção de terceiros (certificações), alinhamento de objetivos, efeitos de reputação e sanções diretas.

Há que se mencionar que práticas de suprimento sustentável aplicáveis a um país desenvolvido podem ser distintas daquelas apropriadas para países em desenvolvimento. Assim, as ações tomadas em prol da sustentabilidade devem ser contextualizadas a cada situação. A cultura tem um grande impacto em como as práticas de responsabilidade social e ambiental devem ser implementadas (HOEJMOSE; ADRIEN-KIRBY, 2012).

4.1 Considerações gerais

O processo de coleta de referências bibliográficas sobre práticas de suprimento sustentável iniciou-se com a pesquisa de artigos no sistema de periódicos da Capes. As pesquisas foram feitas nas bases de dados Web of Science, Scopus, Emerald e Science Direct, utilizando as seguintes palavras chave: Sustainable Sourcing, Green Purchasing, Green

Procurement, Sustainable Purchasing e Sustainable Procurement. Em um segundo momento,

material adicional foi identificado a partir da leitura dos primeiros artigos selecionados, valendo-se das referências mais citadas por esses artigos.

Do material coletado e analisado, destacaram-se 4 artigos em que os autores se propuseram a listar práticas de suprimento sustentável e foram bastante citados na literatura. Preuss (2009) lista práticas utilizadas nas aquisições efetuadas por um governo local da Inglaterra buscando estimular o desenvolvimento sustentável naquela região. Meehan e Bryde (2011) identificaram práticas de compras sustentáveis em um levantamento feito com 44 cooperativas de construção de casas na Inglaterra.

Já Tate et al. (2012) listaram práticas de suprimento sustentável encontradas após a análise de conteúdo de 68 relatórios de sustentabilidade de grandes empresas. Por último, Goebel et al. (2012) focam sua análise na incorporação da ética e da sustentabilidade na atividade de seleção de fornecedores, listando práticas identificadas em pesquisa feita com 71 gerentes de compras de empresas de diversos setores.

Enumerando as práticas de suprimento sustentável listadas por Preuss (2009), Meehan e Bryde (2011), Tate et al. (2012) e Goebel et al. (2012) chegou-se ao total de 97 práticas. Notou-se que esses 4 autores definiram algumas práticas com um mesmo sentido/objetivo, mas com sentenças diferentes. De modo a obter uma lista de práticas sustentáveis sem duplicidades

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utilizou-se princípios da análise de conteúdo para analisar o conjunto das práticas.

A análise de conteúdo é um método de pesquisa utilizado para sistematicamente coletar e analisar a composição e troca de comunicação entre meios visuais, auditivos e mídia impressa. Esta técnica utiliza o processo científico para identificar mensagens relevantes para um modelo teórico definido ou em evolução, decodificando mensagens de uma maneira quantificável, utilizando processos explícitos e objetivos para analisar as mensagens e tecer conclusões para melhorar o entendimento de um assunto. É considerada uma técnica qualitativa pois é exploratória por natureza e menos estruturada que a pesquisa quantitativa (HOLDFORD, 2008).

A síntese das práticas foi feita utilizando os princípios de unificação de sentenças semelhantes e definição de categorias, preconizados pela análise de conteúdo (HOLDFORD, 2008). Neste exercício, as práticas foram condensadas de 97 para 43, sendo propostas 6 grandes categorias para organização das mesmas, a saber: Atividades de Suprimento Sustentável; Critérios de Seleção de Fornecedores; Parceria com Fornecedores; Código de Ética; Sustentabilidade Social e Sustentabilidade Ambiental.

O Quadro 1 resume a análise das práticas de suprimento sustentável identificadas na literatura. Nos casos de ambiguidade, em que algumas das práticas relacionadas no quadro poderiam estar enquadradas em mais de uma das categorias propostas, os autores optaram pelo enquadramento naquelas categorias que consideraram mais pertinentes, buscando simplificar o quadro, evitando duplicidades.

O conjunto de práticas, apresentadas no Quadro 1, constitui um importante ponto de partida para avaliar se o setor de suprimentos de determinada empresa possui, em sua rotina de trabalho, a preocupação com a sustentabilidade na cadeia de suprimentos. Neste sentido, esta pesquisa faz parte do primeiro passo de um estudo de caso que está sendo conduzido para analisar a prática do suprimento sustentável por uma empresa de economia mista do setor de óleo e gás.

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QUADRO 1 – Práticas de Suprimento Sustentável.

Atividades de Suprimento

Sustentável Critérios de Seleção de Fornecedores Parceria com Fornecedores Código de Ética Sustentabilidade Social Sustentabilidade Ambiental Comprometimento dos

fornecedores com um alto nível de desempenho ambiental Dar preferência à aquisição de produtos sustentáveis Envolvimento dos fornecedores na redução de riscos e impactos de SMS -Questões de condição de trabalho - Redução de Acidentes, Programas de Direitos do Trabalho, etc.

- (TATE et al., 2012)

Consideração do Impacto Ambiental além dos fornecedores diretos Atendimento à Conformidade regulatória e legal é levado em conta no momento da contratação Envolvimento dos fornecedores nas atividades

de reciclagem - - - (TATE et al., 2012)

Sistema para monitorar e medir o desempenho ambiental Programa de descarte adequado de Embalagens Envolvimento dos fornecedores no desenvolvimento de processos e produtos sustentáveis - - - (TATE et al., 2012)

Sistema para consulta de informações ambientais pelos fornecedores e clientes Redução ou Eliminação da utilização de materiais perigosos e restritos

Auditoria periódica das instalações dos fornecedores para verificar o tratamento de resíduos, armazenagem e disposição final

- - - (TATE et al., 2012)

Enxergar as práticas ambientais como vantagem

competitiva

-Compartilhamento de Tecnologias com os fornecedores para auxiliar a melhoria dos resultados ambientais

- - - (TATE et al., 2012)

- - Disponibilização de relatórios de desempenho ambiental

pelos fornecedores - - - (TATE et al., 2012)

Existe treinamento de suprimento sustentável para os profissionais de compras Certificações ISO 14001 e OSHAS 18001 são utilizadas como critérios de seleção de fornecedores - - - -(PREUSS, 2009), (MEEHAN; BRYDE, 2011), (TATE et al., 2012) Há disseminação de informações sobre o suprimentos sustentável na organização - - - - -(PREUSS, 2009), (MEEHAN; BRYDE, 2011), (TATE et al., 2012) Os fornecedores conhecem a política e as práticas de compras sustentáveis da empresa

- - - (MEEHAN; BRYDE, 2011), (TATE et al.,

2012) A organização ajuda o

desenvolvimento de práticas sustentáveis pelos fornecedores

- - - (MEEHAN; BRYDE, 2011), (TATE et al.,

2012) A organização favorece

fornecedores que possuam uma boa avaliação em critérios de sustentabilidade

Preferir fornecedores que tenham iniciativas para promoção da responsabilidade ambiental - - - -(PREUSS, 2009), (MEEHAN; BRYDE, 2011), (GOEBEL et al., 2012), (TATE et al., 2012) Os fornecedores são

indagados sobre suas práticas em relação à sustentabilidade - - - -As instalações físicas da empresa são projetadas para minimizar o consumo de energia e água (PREUSS, 2009), (TATE et al., 2012) - - - - -Eficiência na utilização de Recursos e eco-eficiência energética (PREUSS, 2009), (TATE et al., 2012) A organização é certificada

com a ISO 14001 /OSHAS

18001 - - - -

-(PREUSS, 2009), (MEEHAN; BRYDE, 2011), (TATE et al., 2012) A organização adotou uma

política de suprimento sustentável - - - - -(PREUSS, 2009), (MEEHAN; BRYDE, 2011) - - -Assegurar que os fornecedores permitam a livre associação e o reconhecimento ao direito de negociações coletivas - (GOEBEL et al., 2012) CATEGORIAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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QUADRO 1 – Práticas de Suprimento Sustentável (continuação).

Fonte: Os autores.

5. Conclusões

O objetivo deste artigo foi sintetizar e classificar práticas de suprimento sustentável identificadas na literatura, criando uma referência para organizações que desejam trazer, para suas atividades de suprimento e para sua cadeia de suprimentos, a preocupação com a sustentabilidade.

A atuação do setor de compras/suprimentos é bastante relevante para demonstrar a real preocupação das empresas com a sustentabilidade, uma vez que grande parte do custo de produção está relacionado com a aquisição de bens e serviços e, por conseguinte, do relacionamento com a cadeia de suprimentos.

Um ponto ressaltado na literatura é que as ações das empresas em relação ao suprimento sustentável não devem deixar de lado a preocupação com os retornos financeiros (dimensão econômica da sustentabilidade), que é a razão de ser da organização. Procedendo desta forma, as empresas mitigam os riscos que a adoção de atitudes e posturas sustentáveis venham a reduzir a competitividade da empresa.

Atividades de Suprimento

Sustentável Critérios de Seleção de Fornecedores Parceria com Fornecedores Código de Ética Sustentabilidade Social Sustentabilidade Ambiental A organização especifica

critérios sustentáveis em

suas minutas contratuais - - - -

-(MEEHAN; BRYDE, 2011) Os riscos de

sustentabilidade são avaliados para contratos importantes É favorecida a contratação de fornecedores locais e regionais - -Existem cláusulas contratuais estimulando os fornecedores a criarem oportunidades para estagiários - (PREUSS, 2009) -Os fornecedores diretos são estimulados a escolherem empresas locais em suas sub-contratações

- - - - (PREUSS, 2009)

-Existe apoio para que as empresas locais tenham condições de participarem do processo de compras

- - - - (PREUSS, 2009)

- - - Código de Ética é divulgado aos

Fornecedores

Assegurar que os fornecedores não utilizem nenhuma forma de trabalho forçado

- (TATE et al., 2012), (GOEBEL et al., 2012) - - -Requerer que os profissionais de compras leiam e entendam o código de ética Assegurar que os fornecedores atendam as leis sobre trabalho infantil

- (TATE et al., 2012), (GOEBEL et al., 2012) - - -É verificada a aderencia das práticas dos profissionais de compras ao código de ética

- - (TATE et al., 2012), (GOEBEL et al., 2012)

- - - O código de ética está formalizado na

organização - -(TATE et al., 2012), (GOEBEL et al., 2012) CATEGORIAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A organização desenvolveu metas para o suprimento

sustentável - - - -

-(PREUSS, 2009), (MEEHAN; BRYDE, 2011) Existe uma política explicita

para favorecer a aquisição de bens e serviços sustentáveis

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As 43 práticas sintetizadas na literatura apresentam diversas oportunidades para que as empresas comecem a adotar comportamentos que podem promover a sua própria sustentabilidade e a sustentabilidade da cadeia de suprimentos onde atuam, fomentando o engajamento dos fornecedores para a criação de uma cadeia de suprimentos sustentável.

Conforme apontado por Carter e Rogers (2008) cadeias de suprimento que integram recursos sociais e ambientais são mais difíceis de imitar, levando a uma liderança na sustentabilidade econômica. Isso ocorre pois o conhecimento criado entre compradores e fornecedores a respeito das atividades sociais e ambientais, tais como redução de desperdícios e desenvolvimento de pequenos fornecedores tem uma forte influência positiva no desempenho dos fornecedores e redução de custos operacionais de toda a cadeia.

A pesquisa apresentada faz parte de um estudo maior que aborda a identificação das práticas de suprimento sustentável conduzidas por uma empresa de economia mista do setor de óleo e gás. Com o intuito de verificar se nas atividades de suprimento da organização estudada existe a preocupação com a sustentabilidade, será realizada uma investigação com base nas considerações teóricas, tomando-se por base as práticas de suprimento sustentável identificadas na literatura e um estudo de caso compreendendo a investigação documental e aplicação de questionário a um grupo de empregados selecionados. Em seguida, serão feitas as análises e conclusões dos resultados encontrados.

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Referências

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