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Contribuição do Gabinete para os Meios de Comunicação Social para a consulta pública sobre o Livro Verde

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Academic year: 2021

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Contribuição do Gabinete para os Meios de Comunicação

Social para a consulta pública sobre o Livro Verde sobre a

distribuição em linha de obras audiovisuais na União Europeia

Em nome do GMCS - Gabinete para Meios de Comunicação Social (Presidência do Conselho de Ministros de Portugal), tenho o prazer de lhe enviar a nossa contribuição para a consulta pública sobre o Livro Verde sobre a

distribuição em linha de obras audiovisuais na União Europeia - Rumo a um mercado único digital: oportunidades e desafios, que foi proposta pela

Comissão a 13 de Julho de 2011.

Em primeiro lugar, o GMCS gostaria de felicitar a Comissão pela produção de um documento tão útil e pertinente e que vem contribuir grandemente para o alcance dos objetivos que integram a estratégia Europa 2020, no âmbito do fomento a um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo (sendo um dos pontos-chave para a obtenção do mesmo a criação de uma sociedade digital, recorrendo à utilização das tecnologias da informação e da comunicação).

Consideramos que as questões tratadas no Livro Verde abordam corretamente o impacto do desenvolvimento tecnológico sobre a distribuição e o acesso a obras audiovisuais e cinematográficas, e que este constitui um contributo muito útil para o debate sobre as oportunidades e desafios da distribuição em linha de obras audiovisuais. Todavia, do nosso ponto de vista, sentimos que há algumas questões que devem ser levantadas e tratadas com maior profundidade.

O Mercado Único Europeu, uma das mais importantes conquistas da U.E., poderá em breve ser alterado: para além da livre circulação de pessoas, bens e serviços, passaria a ser possível, também, a livre circulação de obras

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2 audiovisuais (em formato digital), este seria um desenvolvimento crucial, tendo em conta os novos desafios que a revolução tecnológica tem vindo a impor ao mercado audiovisual tradicional. A introdução da tecnologia digital tem vindo a provocar um enorme impacto na produção, comercialização e distribuição de conteúdos audiovisuais na Europa e no mundo, impacto esse que tem levado o mercado a sofrer rápidas e profundas alterações, dando-se a emergência de novos modelos de negócio, com o fim de responder às necessidades dos consumidores e garantir o crescimento e o emprego nas indústrias culturais e criativas. A digitalização é essencial para a preservação e disponibilização do património cultural europeu, e o estabelecimento de um mercado em que as obras audiovisuais possam circular livremente, sem estarem limitadas ao seu espaço nacional constitui uma enorme mais-valia para a divulgação e a disseminação da cultura dos vários Estados-Membros (até agora voltados apenas para o consumo da produção nacional ou de produtos audiovisuais não europeus – nomeadamente norte-americanos), contribuindo, assim, para o aumento da coesão social no espaço europeu. Tendo em conta o paradigma atual em que se inserem as obras audiovisuais (sintetizado de forma objetiva e pertinente no Livro Verde), especialmente no que diz respeito aos avanços tecnológicos, é, portanto, de extrema importância o desenvolvimento de um mecanismo único de distribuição.

Novos tipos de aplicações oferecem um novo potencial para a disseminação cultural, mas também são uma fonte de novos desafios. É imperativo criar um mercado em que as obras culturais audiovisuais possam mover-se para além dos seus limites territoriais ou linguísticos para o benefício de todos os cidadãos, todavia, para que se alcance este benefício para a totalidade dos cidadãos europeus de forma equitativa e democrática, seria necessário que todos os cidadãos tivessem acesso à internet e que esta fosse incluída no serviço universal, o que já por si constitui um desafio. Mas os desafios da digitalização não estão apenas confinados ao mercado por si só, mas abrangem outras dimensões, tais como a nível da competitividade, da qualidade e do acesso ao conteúdo e é neste ponto que o papel das empresas de radiodifusão de serviço público se torna muito importante e, como tal, esta

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3 questão deve ser explorada de forma mais aprofundada, tendo, contudo, em atenção a preservação da natureza e da sustentabilidade destes mesmos sistemas de radiodifusão públicos e privados. Os grandes investimentos em conteúdos originais que as empresas de radiodifusão europeias têm vindo a efetuar contribuiu grandemente para que estas criassem uma imagem estabelecida, tornando-se reconhecidas pela sua programação de qualidade e a sua capacidade para responder à procura de um público (cada vez mais) alargado; facto este que deve ser salientado e tido em conta ao longo do debate.

Com o aumento dos serviços não lineares, o respeito dos direitos de autor terá que ser igualmente preservado e garantido, todavia será necessário serem criadas novas formas para assegurar a proteção desses mesmos direitos, como, por exemplo, através de um sistema coletivo de licenciamento ou de uma espécie de “passaporte” digital europeu. A legislação referente a direitos de autor deve ser revista e adaptada à era digital, procurando, também, torna-la mais transparente e eficiente, a fim de tornar mais simples e rápido o processo de obtenção de licenças de utilização e reprodução de conteúdo, mas também de forma a garantir a justa proteção das obras e autores para além das suas fronteiras. A harmonização dos conceitos de autoria e transmissão de direitos das produções audiovisuais poderá, com efeito, facilitar o licenciamento transfronteiras das obras audiovisuais, na medida em que tornará o processo mais transparente. Contudo, a hipótese avançada pelo Livro Verde para a criação um regime de direitos de autor único mas facultativo poderia conduzir ao levantamento de novos obstáculos, uma vez que a sua aplicação em paralelo com a proteção territorial (podendo o autor optar pelo sistema único ou pelo sistema de proteção nacional) poderia constituir um bloqueio à inovação ao contribuir para que os problemas constatados atualmente não fossem ultrapassados, mas apenas mantidos. Sempre que um autor não opte pelo regime de proteção único, as obras que façam uso da sua criação ficarão limitadas pelos obstáculos burocráticos e pelas dificuldades na obtenção de licenças (as mesmas que o Livro Verde descreve e que se procuram neutralizar), dificultando grandemente a sua distribuição, o que constituirá um

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4 handicap em relação a outras obras que não sofram destas limitações e que

gozarão de uma maior capacidade de distribuição e, portanto, de obtenção de lucro, o que, por consequência, enviesará o mercado em termos de competitividade e concorrência.

Entendemos que a salvaguarda da liberdade de expressão e informação e dos demais direitos fundamentais, bem como do pluralismo e da diversidade são princípios fundamentais que não deverão ser esquecidos nesta discussão. Como tal, consideramos que é de extrema relevância a procura de um equilíbrio em que seja possível dar origem a uma legislação que prime por uma verdadeira e justa proteção dos direitos dos autores e das suas obras, mas cujos contornos não lhe permitam que esta se sobreponha, de forma alguma, aos direitos fundamentais, à liberdade de expressão e informação.

As questões da acessibilidade são também um assunto que deverá ser estudado com maior profundidade, uma vez que os media possuem um papel preponderante no que diz respeito à integração das pessoas com deficiência. A disponibilização de obras audiovisuais em linha poderá contribuir grandemente para que as pessoas com deficiência tenham mais possibilidades de acesso a conteúdos, em condições de igualdade com as demais, na medida em que a disponibilização de conteúdos em formato digital permitirá aumentar o leque de oferta de conteúdos onde se insiram serviços de acessibilidade (tais como: legendagem, áudio-descrição, fornecimento de interpretação para língua gestual, etc.). É, portanto, essencial a adoção de legislação e regulação que promovam a inclusão, podendo em certos casos fazer sentido introduzir a obrigatoriedade de fornecimento de serviços/ferramentas de acessibilidade.

A indústria digital possui um enorme potencial que ainda não se encontra a ser totalmente explorado devido à ausência da existência de um verdadeiro mercado digital único, encontrando-se o setor audiovisual atual extremamente fragmentado, uma vez que os vários pequenos mercados que o constituem se encontram muito limitados às suas fronteiras nacionais ou linguísticas, o que os torna mais frágeis e menos competitivos (a nível global). Esta questão constitui um problema fundamental que deve ser corrigido de forma urgente no sentido

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5 de ser possível alcançar e assegurar a independência da Europa em relação aos Estados Unidos da América no que diz respeito à distribuição de conteúdos, especialmente uma vez que, como salienta o Livro Verde, a União Europeia é, atualmente, o segundo maior consumidor de produtos televisivos no mundo e produz mais filmes do que qualquer outra região (que, obviamente, não estão a ser distribuídos e promovidos da melhor forma possível, pois os cidadãos dos vários EMs continuam a consumir poucos conteúdos dos restantes EMs, que não os do seu país de origem). A digitalização das obras cinematográficas e televisivas constitui um elemento chave para uma melhor promoção das obras audiovisuais (no espaço europeu e a nível mundial) e é, também, um veículo extremamente importante para a melhoria da distribuição e acesso aos conteúdos. Todavia, para o fazer é necessário ter acesso a recursos materiais e tecnológicos caros, cuja aquisição comporta gastos avultados, uma despesa que os produtores independentes, as salas de cinema e as pequenas e médias empresas da área do audiovisual podem não ser capazes de comportar. Desta forma, será extremamente importante que a União Europeia possa fornecer ajuda e apoio financeiro aos produtores independentes e pequenas e médias empresas, caso contrário, alguns destes poderão não possuir as capacidades para lidar com os encargos inerentes à revolução digital e correrão o risco de desaparecer.

O Livro Verde, ao lançar a discussão sobre estas questões e ao procurar encontrar consensos relativamente às ações a serem tomadas a fim de alcançar um mercado único digital que simplifique a distribuição de conteúdos criativos, poderá conduzir a desenvolvimentos que ajudem a contribuir para satisfazer as atuais expectativas dos consumidores (que querem assistir a qualquer coisa, em qualquer lugar, a qualquer hora e em qualquer dispositivo à sua escolha), na medida em que visam que se encontrem vias que facilitem e respondam a estas novas procuras. O mercado único digital, quando concretizado, constituirá um grande passo para que a Europa ocupe uma posição cimeira a nível mundial no que diz respeito à distribuição e comercialização de obras audiovisuais (o que necessariamente se irá repercutir de forma positiva na produção e no emprego). No entanto, consideramos que

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6 há alguns obstáculos à implantação do mesmo que poderão ser um pouco difíceis de superar, nomeadamente no que diz respeito à questão do valor subjetivo das obras criativas. Se é certo que a criação de um direito, a nível europeu, à remuneração para os autores, artistas e executantes do sector audiovisual, a fim de garantir uma remuneração proporcional às utilizações em linha das suas obras (após estes terem transmitido o seu direito de disponibilização) poderia contribuir para o aumento da remuneração daqueles, também não pode deixar de se admitir que poderá ter impactos negativos superiores ao ganho esperado (designadamente porque pode levar à criação de uma série de obstáculos burocráticos que tornariam o processo de obtenção de licenças mais lento e oneroso, com efeitos adversos ao nível da competitividade). Assim, talvez seja preferível não se prever tal direito, deixando-se esta matéria à livre negociação entre autores e produtores. É de extrema importância que seja alcançado um equilíbrio justo entre a remuneração dos autores, produtores e intérpretes e o livre acesso por parte dos consumidores ao conteúdo produzido pelos primeiros. Aplicar preços demasiado baixos poderá fazer com que a soma não represente o pagamento justo que os criadores e produtores deveriam receber pelo seu trabalho, mas a aplicação de preços excessivamente altos poderá igualmente conduzir a efeitos indesejáveis, na medida em que os consumidores tenderão a procurar obter os mesmos conteúdos por vias ilegais. A pirataria é, portanto, um dos principais obstáculos ao mercado único digital e é crucial que, para que este funcione em pleno, sejam criados instrumentos para combatê-la e uma legislação forte para prevenir e penalizar a ocorrência desta. Este novo contexto torna necessária a criação de um novo enquadramento jurídico que seja capaz de dar resposta aos problemas anteriormente referidos, de modo a permitir um ambiente de segurança jurídica aos operadores, isto implica que terá de ser dado um tratamento a algumas questões fundamentais da propriedade intelectual, nomeadamente no que diz respeito ao licenciamento europeu das obras, a gestão coletiva de direitos e as exceções e limitações, de modo a que seja possível um cumprimento efetivo do direito de autor nas redes digitais.

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7 O setor audiovisual europeu encontra-se extremamente fragilizado devido à sua fragmentação, o que reduz a capacidade de escolha e prejudica os interesses do consumidor. Isto impede a indústria audiovisual de se desenvolver e competir em economias de escala e de se tornar uma grande potência no ambiente fortemente competitivo que existe no espaço da World

Wide Web. O desenvolvimento do mercado único digital, ao permitir a livre

circulação de conteúdos e serviços audiovisuais online dentro da UE e das suas fronteiras, irá estimular o crescimento e criar empregos e novos modelos de negócios, oferecendo novas oportunidades para os artistas e criadores e promovendo o desenvolvimento de novas formas de expressão cultural. Constitui, portanto, uma importante oportunidade para a Europa impulsionar a sua economia, estimular a diversidade da sua produção criativa e melhorar a coesão cultural entre os cidadãos europeus, indo, assim, ao encontro dos objetivos definidos na Estratégia Europa 2020.

Lisboa, 18 de Novembro de 2011 Pedro Berhan da Costa Director

Referências

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