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O perfil psicológico do estudante de contabilidade da FEA/USP

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Academic year: 2021

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O perfil psicológico do estudante de contabilidade da FEA/USP SARAH KUWANO RODRIGUES MOLINARI

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO EDSON LUIZ RICCIO

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Resumo

O presente trabalho verifica que existe um perfil comum aos estudantes do curso de graduação em Ciências Contábeis da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) através do teste de personalidade Myers-Briggs Type Indicator, também conhecido pela sigla MBTI. Este perfil é semelhante ao perfil dos estudantes do curso de graduação em Administração da FEA/USP e diferente do perfil dos estudantes do curso de pós-graduação em Controladoria e Contabilidade da FEA/USP. Outro objetivo específico do presente estudo mostrar que as características dos estudantes de contabilidade são compatíveis em parte com as características especificadas no The CPA Vision Project- 2011 and beyound. A predominância de um perfil psicológico pode ser negativa para o desenvolvimento de uma profissão. São exemplos de conseqüências negativas: diferentes maneiras de perceber a realidade podem ser reprimidas e discussões para soluções inovadoras podem levar mais tempo para surgir. Um exemplo de conseqüência positiva é o aprimoramento das técnicas existentes.Atrair diferentes perfis de estudantes para o curso de contabilidade pode melhorar a dinâmica em sala de aula e o progresso da pesquisa em contabilidade. A dificuldade é atrair menos estudantes STJ para o curso de contabilidade. Portanto, se a imagem da profissão contábil atrai estudantes do perfil STJ é preciso esclarecer que um contador que apenas domina técnicas contábeis e memoriza regulamentos governamentais será substituído por um software e contadores com capacidade de ampla análise do ambiente econômico e habilidades inter-pessoais tendem a ser um diferencial competitivo das empresas, na função de controller, por exemplo.

1.INTRODUÇÃO

O presente trabalho verifica se existe um tipo de personalidade comum aos estudantes do curso de graduação em Ciências Contábeis, do curso de graduação em Administração de Empresas e do curso de pós-graduação em Controladoria e Contabilidade da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) através do teste de personalidade Myers-Briggs Type Indicator, também conhecido pela sigla MBTI.

Também é verificado se tal perfil dos estudantes de Contabilidade é compatível com as características de personalidade recomendadas pelo The CPA Vision Project- 2011 and

beyound, tratado neste texto como Projeto Visão. Este projeto foi desenvolvido pelo American Institute of Certified Public Accountants – que é tratado neste texto pela sua sigla AICPA .

Sobre a delimitação do tema, o presente estudo não pretende criar nenhum teste psicológico, apenas utiliza um teste já conhecido, de eficácia comprovada e amplamente utilizado em pesquisas internacionais, o MBTI. Além disso, os resultados obtidos são aplicáveis somente aos alunos do curso de graduação em Contabilidade da FEA/USP. Generalizações sobre a personalidade de todos os estudantes de Contabilidade do Brasil com

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base nos resultados do presente trabalho serão válidas se apoiadas por estudos empíricos realizados com estudantes de outras faculdades e regiões do país.

O objetivo geral deste trabalho é averiguar se há traços de personalidade semelhantes nos estudantes que escolhem o curso de Ciências Contábeis.

A justificativa do presente estudo é a inexistência de estudos sobre a personalidade do estudante de Contabilidade no Brasil até 2003. Este estudo verifica a existência de um perfil de personalidade predominante entre os estudantes de contabilidade, assim como ocorre entre estudantes norte-americanos.

2.METODOLOGIA

O presente trabalho é composto por uma revisão da literatura e estudo empírico. Obviamente, a revisão da literatura é necessária para o entendimento do estudo empírico.

O estudo empírico é baseado na comparação dos resultados dos testes de personalidade respondidos pelos estudantes dos cursos de graduação em Ciências Contábeis e Administração da FEA/USP. Os resultados dos testes dos estudantes do curso de pós-graduação em Controladoria e Contabilidade da FEA/USP também são analisados.

O teste aplicado é uma versão do MBTI traduzida de Benfari (1991:156). O MBTI não é um teste de personalidade reconhecido e validado no Brasil, porém, foi escolhido a fim de manter a comparabilidade com estudos realizados no exterior.

Cinco alunos do curso de contabilidade da FEA/USP ingressantes de 2001 responderam ao teste no caráter de “teste piloto” e foi identificada a necessidade de diminuir a distância entre a alternativa e o espaço a ser assinalado a fim de facilitar o preenchimento do teste.

Depois que a formatação e eventuais erros de tradução foram corrigidos, o teste foi enviado por e-mail a todos os 117 alunos do curso de pós-graduação em Controladoria e Contabilidade e a todos os 50 alunos de graduação ingressantes de 2001 do período diurno.

No começo de 2004, de acordo com a Secretaria Departamento de Contabilidade e Atuária da FEA/USP, existem 741 alunos matriculados no curso de Ciências Contábeis. Destes, 199 alunos matriculados no período diurno e 542 no noturno.

Para verificar se existe diferença entre o tipo psicológico dos alunos dos períodos diurno e noturno, foi aplicado um teste piloto nas turmas de ingressantes de 2003 da FEA/USP dos dois períodos.

O “teste de duas amostras para proporções” é utilizado com o objetivo de verificar estatisticamente se há ou não diferença significativa entre as proporções de tipos psicológicos verificados nas diferentes amostras. Este teste é detalhadamente explicado no tópico 5.4 do presente estudo. Não foi encontrada diferença significativa entre os tipos de personalidade predominantes nos alunos de diferentes períodos, portanto, não existe a necessidade de aplicar o teste na população inteira, ou seja, todas as turmas dos períodos diurno e noturno.

As turmas de ingressantes no curso de contabilidade do período diurno dos anos de 2001, 2002 e 2004 e também responderam ao teste de personalidade. Foi aplicado o mesmo teste estatístico para proporções para verificar se as diferenças entre as proporções de cada tipo psicológico são justificáveis exclusivamente por fatores amostrais.

As turmas de ingressantes no curso de administração da FEA/USP dos anos de 2001 e 2004 também responderam ao teste de personalidade e seus resultados foram comparados aos

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resultados da turma de ingressantes no curso de contabilidade dos anos de 2001 e 2004 através do teste de duas amostras para proporções.

Dos 117 alunos do curso de pós-graduação em Controladoria e Contabilidade da FEA/USP, 41 responderam ao teste de personalidade. Seus resultados foram comparados ao somatório dos resultados das turmas de graduação ingressantes nos anos de 2001, 2002, 2003 e 2004. A soma dos resultados das turmas de graduação é aceitável pois os resultados dos testes estatísticos confirmam que as proporções dos tipos psicológicos são equivalentes nas quatro amostras.

Os resultados dos testes de personalidade dos estudantes de contabilidade podem indicar conseqüências para o comportamento em sala de aula, rumos da pesquisa e da própria imagem do contador na sociedade. Essas conseqüências são abordadas na conclusão do presente trabalho.

3.TEORIA JUNGUIANA DA PERSONALIDADE

Todo indivíduo possui uma personalidade. A personalidade muitas vezes é entendida como o comportamento demonstrado pelo indivíduo aos demais. Hall et al (2000:32) explicam

“Embora a palavra seja usada em vários sentidos, a maioria desses significados populares se encaixa em um ou dois tópicos. O primeiro uso iguala o termo à habilidade ou à perícia social. A personalidade de um indivíduo é avaliada por meio da efetividade com que ele consegue eliciar reações positivas em uma variedade de pessoas em diferentes circunstâncias. (...) O segundo uso considera a personalidade do indivíduo como consistindo-se na impressão mais destacada ou saliente que ele cria nos outros. Assim, podemos dizer que uma pessoa tem uma “personalidade agressiva” ou uma “personalidade submissa” ou uma “personalidade temerosa”.”

O psicólogo Carl Gustav Jung nasceu em julho de 1875 em Kesswil, Suíça. Seu pai era pastor protestante e a mãe de Jung também era filha de pastor.

Jung cursou medicina na Universidade de Basiléia e recebeu seu diploma em 1900, ano em que leu o recém-publicado livro Interpretação dos sonhos, de Freud. Após se especializar em psiquiatria – para desgosto de seus professores, pois a psiquiatria não tinha prestígio na época – e atuar como médico psiquiatra em Zurique, Jung pôde confirmar na prática algumas das teorias de Freud.

Entretanto, as diferenças pessoais e também quanto ao entendimento do comportamento do indivíduo levaram ao fim da amizade em 1913. De acordo com Friedman e Schustack (2004:117)

“(...) Jung acreditava que as metas e motivações dos indivíduos eram tão importantes na determinação do curso da vida deles quanto eram os impulsos sexuais. Ele passou a acreditar na existência de arquétipos universais (símbolos emocionais), reconhecidos por ele repetidamente nas conversas com seus pacientes. Enquanto Freud acreditava que grande parte da personalidade já estava formada na metade da infância, aproximadamente, Jung preferia ver a personalidade em termos de suas metas e orientação futuras.”

Jung dedicou sessenta anos a análise de processos da personalidade humana. De acordo com Hall (2000:86),

“Talvez o aspecto mais proeminente e distintivo da visão de Jung dos seres humanos é que ela combina teleologia com causalidade. O comportamento humano é condicionado não

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apenas pela história individual e racial (causalidade), mas também pelas metas e aspirações (teleologia). Tanto o passado como realidade quanto o futuro como potencialidade orientam o nosso comportamento presente. “

Jung faleceu em 1961 aos 85 anos de idade. Sua obra é composta por volumosos escritos que influenciam diversos psicólogos.

De acordo com a teoria junguiana, os principais sistemas que compõe a personalidade - ou psique - são o ego, o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo, ou seja, a personalidade é formada pelos pensamentos, os sentimentos e os comportamentos conscientes e inconscientes. Na Psicologia Analítica de Jung, a energia psíquica é conhecida como libido, ou seja, é diferente do conceito Freudiano, pois a libido para Jung representa toda a energia psíquica do indivíduo, não apenas sua energia psíquica sexual.

Quanto à personalidade, Jung identifica dois tipos gerais de atitude – a Introversão e a Extroversão – e quatro funções psicológicas: Sensação, Intuição, Pensamento e Sentimento. Os tipos gerais de atitude são definidos de acordo com o comportamento em relação ao objeto. Na psicologia analítica de Jung, objeto é tudo aquilo que é externo ao indivíduo, enquanto o conteúdo interno do indivíduo recebe o nome de subjetivo. A atitude extrovertida direciona predominantemente a energia psíquica para o objeto, ao contrário da atitude introvertida, que favorece o direcionamento da energia psíquica para o subjetivo.

Jung (1991:316) diferencia o comportamento de um indivíduo introvertido e um extrovertido:

“O introvertido se comporta abstrativamente, está sempre preocupado em retirar a libido [energia psíquica] do objeto como a prevenir-se contra um superpoder do objeto. O extrovertido, ao contrário, comporta-se de modo positivo diante do objeto. Afirma a importância dele na medida em que orienta constantemente sua atitude subjetiva pelo objeto e a ele se reporta. No fundo, o objeto nunca tem valor suficiente para ele e, por isso, é necessário aumentar sua importância.”

Jung (2002:36) descreve os indivíduos introvertidos e extrovertidos:

“Finalmente, fundamentado em muitas observações e experiências, cheguei a apresentar dois tipos básicos de comportamento ou de atitude, ou seja, a introversão e a extroversão. A primeira atitude, quando normal, é caracterizada por um ser hesitante, reflexivo, retraído, que não se abre com facilidade, que se assusta com os objetos e sempre está um pouco na defensiva, gostando de se proteger por trás do escudo de uma observação desconfiada. A segunda, quando normal, é caracterizada por um ser afável, aparentemente aberto, de boa vontade, que se adapta bem a qualquer situação, se relaciona com facilidade com as pessoas e, não raro, se lança despreocupadamente e confiante em situações desconhecidas sem levar em conta a eventualidade de certos riscos.”

Além dos tipos gerais de atitude Introversão e Extroversão, Jung identificou quatro funções psicológicas para complementar sua descrição dos Tipos Psicológicos, pois Jung constatou que indivíduos do mesmo tipo geral de atitude não se comportam de forma exatamente semelhante.

São quatro as funções psicológicas básicas: Sensação, Intuição, Pensamento e Sentimento.

As funções Sensação e Intuição, são chamadas de perceptivas ou irracionais porque são responsáveis apenas pela constatação dos fatos, sem avalia-los conscientemente. Em oposição, as funções Pensamento e Sentimento são chamadas de judicativas ou racionais porque envolvem julgamento e ponderação consciente.

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As funções irracionais Sensação e Intuição , além de se oporem às funções racionais Pensamento e Sentimento, também são opostas entre si. A função Sensação consiste na apreensão pura dos cinco sentidos. Por ser uma função irracional, seus conteúdos têm forma de dados. De acordo com Jung (2003:8)

“(...) a sensação, função dos sentidos; ela seria o que os psicólogos franceses chamam “la fonction du réel”, a soma total de minhas percepções de fatos externos, vindas até mim por meio dos sentidos. (...) A sensação me diz que alguma coisa é ; não exprime o

que é, nem sequer qualquer outra particularidade da coisa em questão.”

Em oposição à função Sensação, a função Intuição consiste na percepção além dos cinco sentidos. É a função psicológica de significado mais complexo. Jung (1991:430) define Intuição

“É a função psicológica que transmite a percepção por via inconsciente. Tudo pode ser objeto dessa percepção, coisas internas ou externas e suas relações. O específico da intuição é que ela não é sensação dos sentidos, nem sentimento e nem conclusão intelectual, ainda que possa aparecer também sob estas formas.”

As funções racionais Pensamento e Sentimento são opostas entre si, e também são opostas às funções irracionais. A função Pensamento consiste no julgamento. É uma função racional assim como a função Sentimento e por isso seus conteúdos têm caráter de “derivado” ou “produzido”. De acordo com Jung (2003:8)

“Na sua forma mais simples, o pensamento exprime o que uma coisa é. Dá nome a essa coisa e junta-lhe um conceito, pois pensar é perceber e julgar (essa faculdade é chamada ‘apercepção’ na psicologia alemã).”

Por fim, em oposição à função Pensamento, a função Sentimento consiste na avaliação das coisas percebidas. De acordo com Jung (2003:8)

“O sentimento nos informa, através de percepções que lhe são inerentes, acerca do

valor das coisas. É ele que nos diz, por exemplo, se uma coisa é aceitável, se ela nos agrada

ou não. Deve-se ainda a tal faculdade o fato de podermos ou não reconhecer certa coisa sem uma determinada reação sentimental.”

O indivíduo possui as quatro funções psicológicas descritas neste tópico, porém elas não são igualmente bem desenvolvidas. A função mais desenvolvida na consciência, é chamada de função dominante. Por conseqüência, a função inferior ou menos desenvolvida, reprimida no inconsciente, é a oposta à função dominante. Por exemplo, se o indivíduo tem como dominante a função racional Pensamento, sua função inferior é o Sentimento.

A função secundária é contrária à função dominante. Se a função dominante é racional, a função secundária é irracional.

Jung (1991:382) esclarece

“Mostra a experiência que a função secundária é sempre de natureza diversa, mas não oposta à função principal; assim, por exemplo, o pensamento como função principal, pode facilmente unir-se à intuição como função secundária, bem como à sensação, mas nunca, como ficou dito, ao sentimento.”

Combinando um tipo geral de atitude – Introversão ou Extroversão – com uma função psicológica principal – Sensação, Intuição, Sentimento ou Pensamento – Jung descreve oito possíveis tipos psicológicos.

Schultz e Schultz (2002:94) resumem as características dos tipos psicológicos definidos por Jung

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Extrovertido pensamento Lógico, objetivo, dogmático

Extrovertido sentimento Emotivo, sensível, sociável; mais típico das mulheres do que dos homens

Extrovertido sensação Extrovertido, busca o prazer, adaptável

Extrovertido intuitivo Criativo, capaz de motivar outros e aproveitar oportunidades Introvertido pensamento Mais interessado em idéias do que nas pessoas

Introvertido sentimento Reservado, não demonstra, mas é capaz de emoções profundas Introvertido sensação Sem interesse pelo exterior, expressa-se em buscas estéticas

Introvertido intuitivo Mais preocupado com o inconsciente do que com a realidade cotidiana

QUADRO 1 – OS TIPOS PSICOLÓGICOS DE JUNG.

4.MYERS-BRIGGS TYPE INDICATOR

O Myers-Briggs Type Indicator (MBTI) é um teste de personalidade desenvolvido por Katharine Cook Briggs e sua filha Isabel Briggs Myers durante a década de 1940 com base na teoria da personalidade que Jung apresenta em seu livro “Tipos psicológicos”. Este teste identifica dezesseis diferentes tipos de personalidade.

Sobre o surgimento MBTI, Casado (1993:63) explica

“O Indicador foi desenvolvido em estágios, a partir de 1942. Desde então, através de observações e comportamentos, de relatos de preferências e de discussões entre as autoras e os sujeitos, foram elaborados e validados itens que viriam a compor o MBTI. As formas F e

G, mais completas, foram finalmente concluídas em 1977.”

O MBTI é composto de diversos pares de frases de significados opostos e o indivíduo deve escolher apenas a frase de cada par que melhor descreve sua personalidade. Schultz e Schultz (2002:105) exemplificam o MBTI

Que resposta se aproxima mais da maneira como você se sente ou age? 1 Quando você vai a algum lugar por um dia, você prefere:

planejar o que e quando vai fazer ou simplesmente ir ?

2 Você tende a ter:

amizades profundas com poucas pessoas ou amizades amplas com várias pessoas diferentes ? 3 Se tiver um trabalho especial a fazer, você gosta de:

organiza-lo cuidadosamente antes de começar ou

descobrir o que é necessário à medida que for executando? 4 Quando algo novo começa a ficar na moda, você geralmente:

é um dos primeiros a experimentar ou não fica muito interessado?

5 Quando a verdade não é algo muito gentil, você tende a contar: uma mentira gentil ou

a verdade indelicada ?

QUADRO 2 – ITENS DE AMOSTRA DO INDICADOR DE TIPOS MYERS-BRIGGS

Dessa forma, é possível identificar a preferência por um tipo geral de atitude – Introversão (I) ou Extroversão (E) – e também a preferência por dois tipos de funções psicológicas definidas por Jung: Sensação (S) ou Intuição (N) e Pensamento (T - Thinking) ou Sentimento (F - Feeling). Além das preferências entre as funções psicológicas da teoria junguiana, o MBTI identifica a preferência entre o par de funções Julgar (J) ou Perceber (P).

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Tal par de funções foi incluído por Isabel Myers a fim de identificar a orientação do indivíduo para o ambiente externo. Sobre o par de funções Julgar ou Perceber, Hall et al (2000:109) explicam que:

“A distinção J-P avalia se a orientação de um indivíduo em relação ao mundo exterior vem do par de função racional (julgar) ou do irracional (perceber). Os extrovertidos têm uma orientação externa dominante, de modo que, nos extrovertidos, o escore J-P indica que o par da função contém a função dominante. Uma pessoa que recebe uma classificação ESTJ no MBTI, por exemplo, teria o pensamento (T) como função dominante, porque essa pessoa prefere o pensamento do par de função racional e o J indica que o par de função racional ou de julgamento é dominante.”

Dos quatro pares de fatores de personalidade apresentados acima, o MBTI indica qual fator de cada par é predominante sobre o outro, por exemplo, se a personalidade é predominante introvertida ou extrovertida: não indica que uma personalidade é somente introvertida e não possui extroversão alguma, indica apenas que existe a preferência pela atitude introvertida. O MBTI classifica a personalidade através da combinação do tipo geral de atitude predominante e as três funções psicológicas mais utilizadas pelo indivíduo.

5.ESTUDOS ANTERIORES

Não são encontrados estudos que verificam a personalidade dos estudantes do curso de graduação em ciências contábeis no Brasil. No entanto, diversos estudos identificam a predominância dos tipos psicológicos ESTJ e ISTJ entre os estudantes de contabilidade de faculdades norte- americanas.

5.1.Wolk e Nikolai (1997)

Em Personality Types of Accounting Students and Faculty: Comparisons and Implications, os autores aplicam o teste MBTI em 94 formados em contabilidade por uma das

maiores universidades do meio-oeste norte-americano, 152 estudantes do curso de graduação em ciências contábeis de uma outra grande universidade também do meio-oeste dos Estados Unidos e também em 98 professores de contabilidade em um encontro anual de professores.

É verificado que 40% dos graduandos, 35% dos formados e 49% dos docentes são do tipo ISTJ. Já 44% dos graduandos, 27% dos formados e 14% dos docentes são do tipo ESTJ. Ou seja, a soma dos tipos STJ (ISTJ + ESTJ) totaliza 84% entre os graduandos, 62% entre os formandos e 63% entre os docentes. Os demais 15 tipos psicológicos ocorrem em 16% dos graduandos, 38% dos formandos e 37% dos docentes.

Quanto ao tipo geral de atitude, é verificado que a maioria dos estudantes é extrovertida, enquanto a maioria dos professores é introvertida, pois 55% dos graduandos e 52% dos formados – preferem a atitude Extroversão (E) enquanto 60% dos professores preferem a atitude Introversão (I).

Além disso, quanto às funções psicológicas, é verificado que a maioria dos estudantes e dos professores preferem as funções Sensação, Pensamento e Sentimento, uma vez que 79% dos graduandos, 60% dos formados e 56% dos docentes preferem a função Sensação (S). A função Pensamento (T) é preferida por 65% dos graduandos, 80% dos formados e 87% dos docentes.Por fim, a função Julgamento (J) é preferida por 69% dos graduandos, 77% dos formados e 74% dos docentes.

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É discutida a capacidade dos programas dos cursos de contabilidade atrair os estudantes de tipos psicológicos demandados pela profissão. De acordo com Wolk e Nikolai (1997:7),

“Do mesmo modo, pesquisas demonstrando uma relação entre o tipo de personalidade do estudante e a escolha de um curso acadêmico. (Moody, 1998; Cooper & Miller, 1991; Myers & Myers, 1993). Esta relação pode, em parte, ser explicada pelos esteriótipos associados com determinadas carreiras. (Shackleton,1980).” (Tradução livre)

O estudo exploratório argumenta que uma conseqüência da predominância da combinação STJ em sala de aula é a propensão dos docentes não inovarem técnicas de ensino e se limitarem a ensinar a parte técnica da contabilidade. De acordo com Wolk e Nikolai (1997:11),

“Docentes de contabilidade poderiam se beneficiar da consciência dos estilos de aprendizagem utilizados pelos vários tipos de estudantes, e de uma compreensão dos pontos fortes e fracos de cada tipo de estudante, assim como do seu próprio tipo de personalidade.”

(Tradução livre) 5.2.Wheeler (2001)

Em The Myers-Briggs Type Indicator and applications to accounting education and research, o autor analisa dezesseis estudos publicados entre 1980 e 2000 que utilizam o

MBTI na verificação do tipo psicológico dos contadores

Dos dezesseis estudos analisados por Wheeler, dez trazem informações sobre a personalidade dos profissionais de contabilidade e seis sobre os estudantes de contabilidade.

Uma característica comum aos resultados dos dezesseis estudos é a comprovação que a maioria dos profissionais e estudantes de contabilidade apresenta preferência para os tipos de personalidade ESTJ e ISTJ.

O autor conclui que apesar dos esforços para as mudanças nos cursos de contabilidade feitas pela AECC (Accounting Education Change Comission), as porcentagens de ESTJ e ISTJ continuam a representar a maioria dos estudantes de contabilidade.

Sobre os profissionais de contabilidade, Wheeler (2001:143) observa que

“Apesar de duas décadas de mudanças na profissão contábil, pesquisas indicam que a distribuição dos tipos de personalidade entre os contadores é extraordinariamente estável (STJ) através do tempo, localização e tamanho da firma.” (Tradução livre)

Sobre os estudantes de contabilidade, Wheeler (2001:143) afirma que

“Graduandos de contabilidade possuem uma distribuição dos tipos de personalidade semelhante à dos profissionais de contabilidade. (...) Na educação contábil, um processo de filtragem pode estar ocorrendo para diminuir a preferência E-,N-, F-, e P- nos estudantes de contabilidade.” (Tradução livre)

5.3.Kovar, Ott e Fisher (2003)

Em Personality preferences of accounting students: a longitudinal case study, os

autores aplicam o teste MBTI em três diferentes amostras, com o intuito de verificar se as mudanças curriculares para atrair diferentes tipos de estudantes para os cursos de

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contabilidade sugeridas pela Accounting Education Change Comission (AECC) em 1990 atingiram seu objetivo.

A primeira amostra é composta por 149 estudantes de contabilidade formados em 1993 e cursaram o currículo baseado em competências técnicas e elaborado antes das mudanças sugeridas pela AECC. A segunda amostra é composta por 161 estudantes de contabilidade que entre cursavam o terceiro semestre do novo currículo entre 1998 e 1999. Por fim, a terceira amostra é composta por 150 estudantes de contabilidade formados em 2000 e cursaram o novo currículo. Todos os estudantes envolvidos nesse estudo pertencem à mesma universidade e os autores reconhecem que essa é uma limitação do estudo.

A primeira amostra é a única a apresentar a maioria dos estudantes com preferência para a atitude Extroversão (E), pois 45% dos estudantes preferem a atitude Introversão (I).

Quanto às funções, a combinação STJ, além de ser predominante na primeira amostra, aumentou com o novo currículo e, como pode ser observado na Tabela 1, somente a função Pensamento (T) apresenta queda depois da implantação do novo currículo da AECC. A preferência pelas funções Sensação (S) e Julgamento (J) também aumentou com o novo currículo da AECC. Ou seja, os resultados obtidos são contrários aos esperados pela AECC.

I S T J STJ

1º amostra 45% 80% 64% 68% 38%

2º amostra 63% 86% 58% 78% 43%

3º amostra 55% 84% 63% 80% 46%

TABELA 1 - RESULTADOS DE KOVAR ET AL (2003)

Os autores concluem, assim como Wheeler, que apesar dos esforços para atrair e reter estudantes de diferentes habilidades e conseqüentemente de diferentes tipos psicológicos, a pouca diversidade cresceu entre os estudantes de contabilidade, ou seja, aumentou a predominância da combinação STJ. De acordo com Kovar et al (2003:76)

“Os resultados indicam que as preferências de personalidade dos estudantes atraídos e retidos no programa não mudaram significativamente durante este período de 8 anos, apesar de intensos esforços de reformulação do recrutamento e do currículo. Na verdade, os resultados sugerem um aumento em direção a menor diversidade na população de estudantes, com uma proporção maior de estudantes exibindo as preferências do estereotipo de contabilidade.” (Tradução livre)

6.PESQUISA EMPIRICA

No começo do ano 2004, de acordo com a Secretaria Departamento de Contabilidade e Atuária da FEA/USP, existiam 741 alunos matriculados no curso de Ciências Contábeis. Destes, 199 alunos matriculados no período diurno e 542 no noturno.

Na FEA/USP, o curso no período diurno é concluído em quatro anos, enquanto no período noturno são necessários cinco anos. Ao contrário do curso diurno, no período noturno não há aulas em todos os dias da semana, fato que justifica a maior duração deste curso. De acordo com o site da FUVEST1, a cada ano ingressam 50 alunos no curso diurno e 100 alunos no curso noturno de contabilidade.

O curso de administração admite 210 novos alunos por ano, sendo 100 no período diurno e 110 no noturno, também de acordo com o site da FUVEST.

1 FUVEST – Fundação para o Vestibular.Disponível em http://www.fuvest.br, acesso

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O curso de pós-graduação em Controladoria e Contabilidade possui cerca de 120 alunos de mestrado e doutorado. Esse número inclui alunos que já cumpriram os créditos mínimos e estão elaborando a dissertação ou tese.

6.1.Tratamento dos dados

Jung identifica relações entre o gênero e as preferências pelas funções psicológicas Sensação-Intuição (S ou N) e Pensamento-Sentimento (T ou F). De acordo com o psicólogo, as mulheres tendem a preferir a função Sentimento (F) mais freqüentemente do que os homens, por exemplo. Jung (1991:339) declara

“Pelo fato de o sentimento ser, indiscutivelmente, uma peculiaridade mais visível na

psicologia feminina do que o pensamento também se encontram entre o sexo feminino os tipos sentimentais mais pronunciados.”

Por essa razão, os resultados do teste psicológico também são apresentados separados por gênero a fim de averiguar como a distribuição dos tipos psicológicos pode ser diferente entre os sexos nas amostras testadas.

A análise dos resultados dos testes psicológicos é feita considerando principalmente as funções psicológicas Sensação (S), Intuição (N), Pensamento (T), Sentimento (F), Julgamento (J) e Percepção (P), pois as funções são independentes das atitudes psicológicas Extroversão (E) e Introversão (I). É possível somar as quantidades de tipos com as mesmas funções psicológicas - ISTJ e ESTJ, por exemplo - para analisar a composição da amostra.

Além disso, é feita a separação de cada letra que compõe o tipo psicológico para verificar qual atitude ou função psicológica predomina na amostra. Por exemplo, em uma amostra composta por 20 indivíduos do tipo ESTJ, 15 indivíduos do tipo ENTP e 10 indivíduos do tipo INFP. Somente sobre tal amostra é possível concluir que:

• 35 são extrovertidos (E) e 10 são introvertidos (I), ou seja, a maioria dos indivíduos é extrovertida (E);

• 25 preferem a função Intuição (N) e 20 preferem a função Sensação (S), conclui-se que a maioria dos indivíduos é intuitiva (N);

• 35 preferem a função Pensamento (T) e 10 preferem a função Sentimento (F), portanto, a maioria dos indivíduos prefere a função Pensamento (T);

• 25 preferem Perceber (P) e 20 preferem Julgar (J), é possível afirmar que a maioria dos indivíduos prefere a função Percepção (P).

Os resultados dos testes psicológicos são apresentados por quantidades dos tipos e quantidades por letra na próxima seção.

6.2.Apresentação dos resultados

Nesta parte do presente estudo são apresentados os resultados dos testes psicológicos respondidos pelos ingressantes no curso de contabilidade de 2001 a 2004, dos ingressantes no curso de administração de 2001 e 2004 e dos alunos do curso de pós-graduação em controladoria e contabilidade da FEA/USP. É apresentada uma tabela com o tamanho da amostra e as quantidades dos tipos psicológicos em porcentagem e as porcentagens por letra. Estas porcentagens são calculadas de acordos com o exemplificado na seção anterior.

Por exemplo, sobre amostra dos ingressantes de 2001, é possível afirmar que o tamanho da amostra é de 34 estudantes, dos quais 71% preferem a atitude Extroversão (E), 29% preferem a atitude Introversão (I), 65% preferem a função Sensação (S), 35% preferem a função Intuição (N), 59% preferem a função Pensamento (T), 41% preferem a função

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Sentimento (F), 74% preferem a função Julgamento (J) e 26% preferem a função Percepção (P). Além disso, a combinação ESTJ + ISTJ (STJ) representa 41% dos estudantes da amostra.

Valores em % Identificação da amostra Tamanho da amostra E I S N T F J P STJ Amostra 1: Ingressantes 2001 34 71 29 65 35 59 41 74 26 41 Amostra 2: Ingressantes 2002 38 63 37 68 32 53 47 78 22 33 Amostra 3: Ingressantes 2003 104 63 37 57 43 62 38 69 31 43 Amostra 4: Ingressantes 2004 44 66 34 64 36 68 32 64 36 31 Amostra 5: Pós-graduação 41 73 27 49 51 49 51 63 37 22 Amostra 6: Adm 2001 31 77 23 52 48 58 42 61 39 35 Amostra 7: Adm 2004 42 79 21 50 50 57 43 64 36 29 Feminino Amostra 1: Ingressantes 2001 16 69 31 63 37 50 50 69 31 38 Amostra 2: Ingressantes 2002 18 78 22 67 33 39 61 61 39 45 Amostra 3: Ingressantes 2003 40 58 43 58 43 63 37 70 30 39 Amostra 4: Ingressantes 2004 16 62 38 56 44 69 31 56 44 38 Amostra 5: Pós-graduação 15 87 13 53 47 47 53 60 40 13 Amostra 6: Adm 2001 16 88 13 56 44 63 38 69 31 37 Amostra 7: Adm 2004 22 91 9 55 45 50 50 64 36 27 Masculino Amostra 1: Ingressantes 2001 18 78 28 67 33 67 33 78 22 39 Amostra 2: Ingressantes 2002 20 61 39 50 50 70 30 65 35 39 Amostra 3: Ingressantes 2003 64 67 33 56 44 61 39 69 31 40 Amostra 4: Ingressantes 2004 28 68 32 68 32 68 32 68 32 29 Amostra 5: Pós-graduação 26 65 35 46 54 50 50 65 35 27 Amostra 6: Adm 2001 15 67 33 47 53 53 47 53 47 33 Amostra 7: Adm 2004 20 65 65 45 55 65 35 65 35 30

TABELA 2: RESULTADOS DO TESTE DE PERSONALIDADE

6.3.Teste de proporções para duas amostras

A respeito do teste de duas amostras para proporções, Stevenson (2001: 282) destaca:

“A finalidade de um teste de duas amostras é decidir se as duas amostras independentes foram extraídas de duas populações, ambas com a mesma proporção de elementos com determinada característica. O teste focaliza a diferença relativa (diferença divida pelo desvio padrão da distribuição amostral) entre as duas proporções amostrais. Pequenas diferenças implicam apenas variação casual devida à amostragem (aceitação de H0), enquanto que grandes diferenças implicam precisamente o contrário (rejeição de H0). A

estatística teste (diferença relativa) é comparada com um valor tabulado da distribuição normal, a fim de decidir pela aceitação ou rejeição de H0.”

O primeiro passo para a execução de um teste de hipóteses é a definição das hipóteses nula e alternativa:

H0: p1 = p2

H1: p1 ≠ p2

A hipótese nula é a de que a proporção de um determinado tipo psicológico de uma turma é igual à proporção do mesmo tipo em outra. A hipótese alternativa indica o contrário, ou seja, que a proporção dos tipos psicológicos varia de modo não estatisticamente aceitável.

(12)

O cálculo da estatística teste é descrito por Stevenson (2001: 283) e pode ser resumido de acordo com a seguinte fórmula:

(

) (

)

(

) ( ) (

)

1 1 2 2 1 2 1 1 1 x n x n z p p n n − =   − + Sendo: z = estatística teste

x1 = número de sucessos na amostra 1

x2 = número de sucessos na amostra 2

n1 = número de observações na amostra 1

n2 = número de observações na amostra 2

1 2 1 2 x x p n n + = +

O passo seguinte ao cálculo da estatística teste (“z calculado”) é compará-lo com o “z crítico”, extraído da tabela da distribuição normal padrão. A um nível de significância de 5%, o valor do “z crítico” encontrado nesta tabela é de 1,96. Com isso, define-se a região de aceitação de H0 como sendo o intervalo entre –1,96 e +1,96, e a região de rejeição de H0 os

intervalos de –∞ até –1,96 e de + 1,96 até +∞. Portanto, se a estatística teste estiver contida no intervalo de aceitação, então, conclui-se que a hipótese nula não deve ser rejeitada. Caso contrário, rejeita-se a hipótese nula e, portanto, aceita-se a hipótese alternativa.

Desse modo, optou-se por realizar a comparação do tipo psicológico mais freqüente (“STJ”, determinado pela soma dos tipos “ISTJ” e “ESTJ”) e do seu tipo psicológico oposto (“NFP”, obtido pela soma dos tipos “INFP” e “ENFP”).

As comparações através do teste de duas amostras para proporções das amostras utilizadas pelo presente estudo são relacionadas na tabela abaixo e comprovam que não há diferenças entre as proporções de alunos dos tipos STJ e NFP das turmas de graduação de contabilidade e administração, pois o Z calculado está na região de aceitação entre –1,96 e +1,96. Porém, a comparação entre as turmas de graduação e pós-graduação revela uma diferença entre as proporções de STJ entre tais amostras.

Turmas comparadas Z calculado para proporções de STJ Z calculado para proporções de NFP 2003 diurno e noturno 1,21 -0,38 2001 e 2002 0,15 0,92 2001 e 2003 0,08 -0,59 2001 e 2004 0,85 0,77 2002 e 2003 -0,10 -1,62 2002 e 2004 0,72 -0,19 2003 e 2004 0,98 1,53 2001 cont. e adm. 0,47 -0,16 2004 cont. e adm. -0,33 0,77 2001 e 2004 adm. 0,63 0,22 Graduação e pós-graduação 2,35 -0,93

TABELA 3: RESULTADOS DO TESTE DE PROPORÇÕES

(13)

A partir dos resultados dos testes de personalidade respondidos por estudantes que ingressaram no curso de contabilidade da FEA/USP nos anos de 2001 a 2004, conclui-se que os tipos psicológicos STJ são predominantes. A tabela a seguir resume os resultados dos testes.

Tipo Feminino Masculino Total

QTDADE % QTDADE % QTDADE %

INFP 4 4% 5 4% 9 4% INFJ 1 1% 3 2% 4 2% INTP 3 3% 2 2% 5 2% INTJ 5 6% 3 2% 8 4% ISFP 1 1% 3 2% 4 2% ISFJ 3 3% 7 5% 10 5% ISTP 1 1% 1 1% 2 1% ISTJ 14 16% 21 16% 35 16% ESTJ 20 22% 30 23% 50 23% ESTP 2 2% 7 5% 9 4% ESFJ 7 8% 9 7% 16 7% ESFP 6 7% 3 2% 9 4% ENTJ 3 3% 12 9% 15 7% ENTP 3 3% 7 5% 10 5% ENFJ 6 7% 5 4% 11 5% ENFP 11 12% 12 9% 23 10% Total 90 100% 130 100% 220 100%

TABELA 4: RESUMO DOS RESULTADOS DOS TESTES DE PERSONALIDADE

O tipo psicológico STJ (ESTJ + ISTJ) representa 39% dos estudantes de contabilidade da FEA/USP. As principais características do perfil STJ são a necessidade de respeitar regras e prazos, a capacidade de análise crítica, a busca de argumentos racionais para todas as questões, objetividade e o esforço para alcançar objetivos.

Um dos objetivos específicos do presente trabalha é comparar o perfil predominante entre os estudantes de contabilidade e o que CPA Vision Project- 2011 and beyound espera deles.

O propósito principal do CPA Vision Project and Beyound é extrair sentido de um

mundo mutante e complexo. Um contador que age de acordo ao CPA Vision possui as seguintes características:

● Comunicação do quadro geral com clareza e objetividade ● Tradução de informações complexas em conhecimento crítico. ● Percepção e criação de oportunidades.

● Desenho de trajetórias que transformam idéias em realidade.

Comparando a descrição do perfil STJ com as qualidades esperadas do CPA Vision, observa-se que o contador tem condições de atender aos dois primeiros quesitos: comunicação clara e tradução de informações complexas em conhecimento crítico, pois são habilidades racionais, objetivas e que podem ser realizadas através da aplicação de regras e há baixo risco envolvido.

Quanto aos dois outros quesitos, percepção e criação de oportunidades e transformar idéias em realidade, há probabilidade do perfil STJ encontre dificuldades para atendê-los, devido ao alto grau de subjetividade e risco envolvidos. Perceber oportunidades externas ao contexto habitual de regras ou colocar em prática idéias inovadoras sem garantias de sucesso

(14)

são ações que o STJ tem predisposição a evitar se não houver um argumento racional suficientemente forte para tolerar o risco.

Outro objetivo específico do presente trabalho é comparar os perfis psicológicos dos estudantes de contabilidade e administração da FEA/USP. Os testes estatísticos apresentados no tópico anterior do presente estudo revelam que os estudantes dos cursos de graduação em contabilidade e administração da FEA/USP são amostras de uma mesma população, ou seja, representa uma população de estudantes de gestão de empresas.

Assim como os estudantes de contabilidade, a maioria dos estudantes de administração da FEA/USP é do perfil STJ. São do tipo psicológico STJ: cerca de 40% dos contadores e 30% dos administradores.

O terceiro objetivo específico do presente estudo é comparar os perfis psicológicos dos estudantes de Contabilidade do curso de graduação e pós-graduação da FEA/USP. Um estudante de pós-graduação em controladoria pode não ter feito graduação em contabilidade. Dos 41 estudantes do pós-graduação que responderam ao teste de personalidade do presente estudo, 12 não fizeram o curso de graduação em contabilidade: há administradores, economistas e engenheiros na amostra.

De acordo com o teste estatístico apresentado no tópico anterior do presente trabalho, os estudantes do curso de pós-graduação e graduação não são amostras da mesma população. O perfil STJ é a maioria das duas amostras, porém, representa cerca de 40% dos estudantes de graduação e cerca de 20% dos estudantes do curso pós-graduação em controladoria da FEA/USP.

O gráfico abaixo mostra a comparação por letra dos resultados do teste de personalidade respondido por alunos de graduação em contabilidade e pós-graduação em controladoria da FEA/USP.

Por letra: pós-graduação e graduação

73% 27% 49% 51% 49% 51% 63% 37% 38% 66% 61% 66% 32% 68% 39% 39% E I S N T F J P Pós-graduação Graduação

GRÁFICO 1 – PÓS-GRADUAÇÃO E GRADUAÇÃO POR LETRA

De acordo com o gráfico 1, a proporção de alunos extrovertidos do curso de pós-graduação é maior do que no curso de pós-graduação. Além disso, as preferências pelas funções psicológicas Sensação (S) e Pensamento (T) não são predominantes entre os alunos do pós-graduação, ao contrário do ocorrido entre os alunos de graduação.

As conclusões do presente estudo são coerentes com as conclusões de estudos realizados no exterior. Schloemer e Schloemer (1997), Wolk e Nikolai (1997), Wheeler (2001) e Kovar et al (2003) concluem que a maioria dos estudantes de contabilidade é STJ.

A predominância de um perfil psicológico pode ser negativa para o desenvolvimento de uma profissão. São exemplos de conseqüências negativas: diferentes maneiras de perceber

(15)

a realidade podem ser reprimidas e discussões para soluções inovadoras podem levar mais tempo para surgir. Um exemplo de conseqüência positiva é o aprimoramento das técnicas existentes.

Atrair diferentes perfis de estudantes para o curso de contabilidade pode melhorar a dinâmica em sala de aula e o progresso da pesquisa em contabilidade. A dificuldade é atrair menos estudantes STJ para o curso de contabilidade.

Portanto, se a imagem da profissão contábil atrai estudantes do perfil STJ é preciso esclarecer que um contador que apenas domina técnicas contábeis e memoriza regulamentos governamentais pode ser facilmente substituído por um software e contadores com capacidade de ampla análise do ambiente econômico e habilidades inter-pessoais tendem a ser um diferencial competitivo das empresas, na função de controller, por exemplo.

8.BIBLIOGRAFIA

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Referências

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