Gestão Estratégica em Medicina Laboratorial -
nº 37
Outubro / 2007 Sociedade Brasileira de Patologia Clínica Medicina Laboratorial IMPRESSO ESPECIAL CONTRATO N.º 05020027-9/200 ECT/DR/RJEmpresas familiares
Muitas empresas nasceram da vontade, do esforço - muitas vezes, individual - e da capacidade
em-preendedora de um fundador e de sua família. Mesmo aquelas que se tornaram grandes corporações
ao longo dos anos e das gerações não deixaram de manter pessoas com laços familiares em cargos
de direção, ao mesmo tempo que abriram espaço para que profissionais sem vínculo de parentesco
trabalhem em postos estratégicos.
Para o consultor e PhD em administração, Domingos Ricca, as empresas familiares devem se
pre-ocupar com sua profissionalização, o que não significa, necessariamente, contratar administradores
“externos”. Além desses aspectos, Ricca aborda, nesta entrevista, vantagens e desvantagens das
empresas familiares, sucessão e como lidar com o relacionamento entre membros da família que
con-vivem em casa e no trabalho. Domingos Ricca é autor de livros sobre empresas familiares e marketing
de varejo e diretor da DS Consultoria Educacional e Empresarial.
Leia o artigo completo na página 5.
Lista de Verificação em Diagnóstico
Molecular
Em uma iniciativa pioneira da SBPC/ML, o Programa de
Acreditação de Laboratórios Clínicos (PALC) lançou, no
primeiro semestre de 2007, a Lista de Verificação em
Diagnóstico Molecular. O documento está disponível em
português e espanhol para atender também aos países da
América Latina.
A proposta para desenvolver a Lista surgiu da
necessida-de necessida-de aproximar o Programa da SBPC/ML dos
laborató-rios que atuam na área de biologia molecular.
Nesta entrevista, a diretora de acreditação, Luisane Vieira, explica como foi a elaboração da Lista do
PALC, as dificuldades iniciais e alguns aspectos importantes abordados nos diversos itens.
A Lista de Verificação em Diagnóstico Molecular está disponível para consulta e download no site da
SBPC/ML (www.sbpc.org.br), na página do PALC.
Por que a SBPC/ML decidiu elaborar uma lista de verificação para
diagnóstico molecular?
Luisane Vieira
A área de diagnóstico molecular está em franca expansão, e no futuro prevê-se que vários testes em uso no momento serão substituídos por testes moleculares, agregados ou não a sistemas de diagnóstico por imagem. Contudo, no PALC tínha-mos apenas dois auditores com experiência nesta área. Em 2006, participei como instrutora em um Curso de Auditor Interno PALC, cujos alunos eram pesquisadores em laboratórios que usavam técnicas moleculares, provenientes de vários países da América Latina*. Ao ministrar as palestras, principalmente as de Controle da Qualidade, percebi um gap de comunicação devido, principalmente, a diferenças de conceituação e ao retrospecto em laboratório de pesquisa comum a quem atua na área de biologia molecular. Ficou claro que precisávamos aproximar o PALC deste universo e harmonizar os conceitos. A Lista de Verificação em Diag-nóstico Molecular surgiu como o melhor caminho para o início desta tarefa.
É uma novidade no Brasil?
Luisane Vieira
Sim, ao que eu saiba, nenhum outro programa de acreditação de laboratórios clínicos abordou esta questão.
Quais os critérios que foram adotados na elaboração da lista?
Luisane Vieira
Primeiramente, a lista deveria seguir o padrão da Lista de Requisitos PALC, mas, ao contrário desta, não seria uma lista “aberta”. Ou seja, ela diria “o quê” e também o “como” fazer. Em segundo lugar, para sua elaboração reuniríamos especialistas, tanto auditores como profissionais que atuam em setores de diagnóstico molecu-lar em laboratórios acreditados pelo PALC. Em terceiro lugar, ela seria colocada no site da SBPC/ML para consulta pública antes da aprovação pela Comissão de Acreditação de Laboratórios Clínicos (CALC).
Lista de Verificação em
Diagnóstico Molecular
A área de
diagnóstico
molecular está
em franca
expansão
Foto: arquivo SBPC/MLNo primeiro semestre de 2007, o Programa de Acreditação de
Laboratórios Clínicos (PALC), da SBPC/ML, lançou a Lista
de Verificação em Diagnóstico Molecular, com versões em
português e espanhol.
Iniciativa pioneira entre programas de acreditação no
Bra-sil, a Lista do PALC surgiu da necessidade de aproximar o
Programa aos laboratórios que atuam na área de biologia
molecular.
Nesta entrevista, a diretora de acreditação da SBPC/ML,
Luisane Vieira
, explica como a Lista foi preparada, seu
ob-jetivos e os pontos mais importantes que são abordados.
A Lista de Verificação em Diagnóstico Molecular está
dispo-nível no site da SBPC/ML (www.sbpc.org.br), na página do
Gestão Estratégica em Medicina Laboratorial -
Na elaboração da lista foram usados como referência documentos
de outras instituições?
Luisane Vieira
Na elaboração da lista de verificação em diagnóstico molecular foram usadas a Norma do PALC Versão 2007 e a Molecular Pathology Checklist, de dezembro de 2006, do Laboratory Accreditation Program (CAP), mais a experiência dos especialistas na área. Decidimos não “reinventar a roda”, preferimos nos basear em listas já existentes.
Foi necessário adequar à realidade dos laboratórios
brasileiros?
Luisane Vieira
Mesmo partindo de um ponto sólido, há sempre a necessidade de adaptação à nossa realidade. No caso específico, por exemplo, o pessoal da área de diagnóstico molecular usa intensamente termos em inglês e, sempre que possível, procuramos encontrar termos equivalentes em português. Precisamos também adaptar aspectos legais como, por exemplo, os que envolvem testes forenses e de paternidade.
O texto inicial foi colocado em consulta pública antes de
ser finalizado. Quais as principais contribuições recebidas nessa
etapa?
Luisane Vieira
Infelizmente, temos que dizer que a cultura de participação em consultas públi-cas na nossa comunidade é incipiente, e nessa fase não pudemos contar com colaborações expressivas. Mas vamos persistir nessa política, pois acreditamos que muitas cabeças pensam sempre melhor do que algumas. Durante a fase de consulta pública foi questionado o uso dos termos “controle interno” e “controle da reação” nesta lista, em vez dos termos consagrados na área (“controle exógeno” e “controle endógeno”). Contudo, lembramos que um dos objetivos da elaboração desta norma é o de aproximar o pessoal da “Biomol” do PALC, e vice-versa. A nomenclatura padrão (mundial) na área de acreditação é avaliação externa da qualidade, controle interno da qualidade e controle da reação. Este uso será estimulado, mas os termos que são usados na Lista de Verificação em Diagnóstico Molecular ficarão no glossário como sinônimos e nada impede a continuidade de seu uso no dia-a-dia. Não podíamos, contudo, abandonar a nomenclatura usada e conhecida em toda a comunidade global de laboratórios clínicos acreditados em função desta especificidade. É uma solução “salomônica”, mas espero que atenda à nova comunidade que pretendemos incluir no programa.
Quais as principais dificuldades na elaboração da lista de
verifica-ção?
Luisane Vieira
A principal dificuldade foi minha, ao elaborar o primeiro esboço que serviu de base para o grupo, uma vez que tinha a intenção de produzir um esqueleto harmônico com a linguagem e com a filosofia do PALC e me deparei com as especificida-des da área, inclusive de terminologia. Mas, na verdade, isto apenas reforçou a necessidade da lista de verificação. Depois, com a excepcional colaboração dos especialistas convidados e da equipe do PALC, foi tranqüilo.
A lista será usada como referência em auditorias do PALC? Nos
la-Foram
adaptados
aspectos legais
que envolvem
alguns testes
Houve a
preocupação de
adequar termos
específicos da
área
A lista está
sendo usada,
como teste, em
auditorias
externas
Os itens
abordam as
principais
técnicas
em uso
boratórios que serão auditados em 2007, a lista de Biologia Molecular
será utilizada?
Luisane Vieira
Esta questão será definida em breve pela CALC, da SBPC/ML. A lista já é usada no treinamento de novos auditores e está sendo amplamente divulgada para servir de base para a preparação destes setores para auditoria externa PALC. Também vem sendo utilizada, em teste, em auditorias exter-nas. Mas ainda não está definido se será adotada formalmente em auditorias externas, quando e em quais circunstâncias e como será o período de transição. Essa lista de verificação será empregada na complementação de auditorias a serem realizadas em laboratórios que utilizam técnicas de diagnóstico molecular, como uma ferramenta para melhorar a comunicação entre auditores e auditados e de forma a propiciar a criação de um referencial de garantia da qualidade apli-cável às especificidades do setor. A lista será revista periodicamente, sempre que necessário, para acompanhar a velocidade de mudanças que caracteriza o setor de diagnóstico molecular.
Quais os aspectos mais importantes que a lista de verificação de
diagnóstico molecular apresenta?
Luisane Vieira
Ela é uma lista elaborada com a colaboração de especialistas do setor que atuam em setores técnicos de laboratórios que são referência na área e são acreditados pelo PALC. Portanto, conseguimos refletir as melhores práticas do país e, ao mesmo tempo, gerar um documento acessível, em português e em espanhol, disponibilizado amplamente como forma de democratizar esta expertise, colocando-a ao alcance de nossos auditores não especialistas e ao alcance de toda a comunidade laboratorial da América Latina. Ao mesmo tempo, a lista é prescritiva e aborda as principais técnicas em uso, deixando pouco espaço para a subjetividade. Por outro lado, ela deverá ser revista periodicamente, para não “caducar”.
Pode avaliar quantos laboratórios no Brasil fazem
diag-nóstico molecular?
Luisane Vieira
Não creio que haja uma estatística precisa em nível nacional. Den-tre os laboratórios acreditados pelo PALC são mais de dez. Temos, inclusive, um laboratório de pesquisa em parasitologia com foco em biologia molecular, vinculado à Fiocruz, acreditado pelo PALC, o Laboratório de Epidemiologia Molecular de Doenças Infecciosas (Lemdi). Contudo, é claramente uma das áreas que mais se expande nos laboratórios clínicos no momento.
O PALC contará com auditores especialistas em Biologia Molecular?
Luisane Vieira
Esta questão também será definida pela CALC. Minha opinião pessoal é que todos os auditores do PALC sejam capacitados a auditar os setores de biologia molecular, ou melhor, que todos os auditores do PALC sejam capazes de auditar todos os setores de um laboratório clínico. Isto significa manter e reforçar a filoso-fia vitoriosa do nosso Programa. Na prática, todos os auditores do PALC têm sua expertise específica em um ou mais setores do laboratório, mas, se for necessário, são capazes de auditar outros setores, na dependência da equipe de auditoria e do laboratório auditado.
* Parte do Projeto ARCAL, da Agência Internacional de Energia Atômica – IAEA, na sigla em inglês
Gestão Estratégica em Medicina Laboratorial - 5
Empresas familiares
O que caracteriza as empresas familiares?
Domingos Ricca
Elas são a forma predominante de empresa em todo o mundo. Ocupam uma parte tão grande da nossa paisagem eco-nômica e social que nós sequer nos damos conta. Nas economias capitalistas, a maioria das empresas se inicia com as idéias, o empenho e o investimento de indivíduos empreendedores e seus parentes. Estima-se que 40% das 500 maiores empresas listadas pela revista Fortune sejam de propriedade de famílias ou por elas controladas. As empresas familiares geram metade do Produto Nacional Bruto (PNB) dos Estados Unidos e empregam metade da força de trabalho. Na Eu-ropa, elas dominam o segmento das pequenas e médias, e, em alguns países, chegam a compor a maioria das grandes empresas. A empresa familiar tem suas peculiaridades. É caracterizada pela gestão baseada na hereditariedade.
Quando vários membros da família trabalham na empresa, há risco de que desavenças familiares
contaminem o negócio. Existem meios eficazes de reduzir essa possibilidade ou evitar que isso
aconteça?
Domingos Ricca
Para orientar a empresa familiar, no sentido de minimizar esses problemas, dois tópicos básicos de gestão são neces-sários: profissionalização e planejamento de sucessão familiar.
Profissionalização é o instrumento que consegue diferenciar os interesses da família com os da empresa, minimizando o conflito. Por exemplo: separação de propriedades e de posições hierárquicas. São estabelecidos critérios gerais, que irão nortear as decisões e posturas dos administradores, como: contratação, remuneração, tomada de decisões na promoção de funcionários.
Planejamento de sucessão familiar tem como ponto central a escolha do sucessor e deve ser orientado por critérios claros que defendam os interesses da empresa.
Os pontos críticos de uma sucessão são treinamento, avaliação na escolha dos sucessores, comparação do perfil do sucedido com o do sucessor, em relação ao exigido pela empresa, e associação do sucesso da empresa com a imagem do fundador.
O que uma empresa familiar precisa fazer para se profissionalizar? Alguns consultores são favoráveis
a contratar um administrador sem vínculos com a família. Concorda com essa opinião?
Domingos Ricca
É preciso lembrar que, para uma empresa se tornar profissional, o primeiro passo não é contratar administradores pro-fissionais que não pertençam à família. O fundamental é a atitude que a família assume diante da profissionalização. Muitos executivos contratados por estas empresas queixam-se de problemas como falta de clareza na orientação que a família pretende imprimir à empresa e das dificuldades de conseguir resultados onde há muitas situações questioná-veis. O meio mais eficaz para minimizar tais problemas é planejar a inclusão de profissionais com perfis vinculados às áreas de atuação, sendo ou não essas pessoas membros da família. A profissionalização deve estar respaldada em um projeto de sucessão. A profissionalização não ocorre sem a conscientização familiar e o engajamento daqueles que
Muitas empresas têm sua origem na capacidade empreendedora de
um fundador e de sua família. Ao longo dos anos elas continuaram
a manter em cargos de direção
pessoas com laços familiares, mas também contrataram
profissionais sem vínculo de
parentesco para trabalhar em postos estratégicos.
O PhD em administração e consultor
Domingos Ricca
mostra as
características das empresas
familiares e aborda assuntos importantes como
profissionaliza-ção, sucessão e relacionamento entre os membros da família.
Ricca é autor de livros sobre empresas familiares e
marke-ting de varejo e diretor da DS Consultoria
Educacional e Empresarial (www.empresafamiliar.com.br).
Gestão Estratégica em Medicina Laboratorial
Rua Dois de Dezembro, 78 Salas 909/90 CEP 22220-00 - Rio de Janeiro - RJ Tel. (2) 077-00 Fax (2) 2205-8 imprensa@sbpc.org.br http://www.sbpc.org.br Presidente 2006/2007 Wilson Shcolnik Diretor de Comunicação Octavio Fernandes da Silva Filho
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Jornalista responsável
Roberto Duarte - Reg. Prof. RJ 280JP Jornal da SBPC/ML - Periodicidade mensal
detêm a propriedade da empresa.
Se for decidido contratar um executivo “externo”, que perfil ele deve ter, levando em conta que vai
lidar com pessoas que têm vínculos muito fortes entre si e que podem ter opiniões completamente
diferentes sobre como gerenciar a empresa?
Domingos Ricca
Caso haja necessidade de contratar um administrador externo, o primeiro passo é a conscientização que a família as-sume diante da profissionalização. A melhor indicação é que se contrate alguém da família, com qualificação necessária para assumir o cargo e que já tem vínculo com os valores e a cultura da família.
Quais são as vantagens e desvantagens de uma empresa familiar que podem ajudar ou prejudicar o
seu crescimento no mercado em que atua?
Domingos Ricca
A maior vantagem é que a empresa familiar estabelece vínculo com a comunidade onde está inserida, principalmente em relação ao peso do nome e da cultura familiar. A maior desvantagem é que a proximidade das relações entre as pessoas faz com que haja uma confusão entre papéis vinculados ao grau de parentesco e a ação profissional.
Como o fundador pode saber que chegou o momento de pensar em sucessão?
Domingos Ricca
Não se pode dizer o momento exato para que isso aconteça. É necessário que o fundador esteja comprometido com a perpetuação da sua empresa e com o acompanhamento daqueles que são alvo da sucessão, além do desenvolvi-mento de um Conselho de Administração, passo esse fundamental para que o crescidesenvolvi-mento exponencial do número de herdeiros não faça com que a empresa se torne um cabide de empregos.
Como lidar com a sucessão sem que ela seja traumática para fundador e herdeiros e ponha em risco
a sobrevivência da empresa?
Domingos Ricca
Planejando com antecedência e desenvolvendo o Conselho de Administração. Uma consultoria externa é importante nesta situação, pois é a única figura que não está envolvida emocionalmente, passando a fazer a mediação do processo.
Quando o fundador chega à conclusão que é melhor vender a empresa do que passá-la para os
her-deiros, existem maneiras de evitar que seja deflagrada uma guerra interna na família, quando outros
membros fazem parte da empresa?
Domingos Ricca
É difícil que isso aconteça, pois a grande maioria dos empresários tem como propósito de vida fazer com que a em-presa que fundou se torne fonte de renda para as futuras gerações. Quando se toma a decisão de venda é, em grande parte, pela falta de herdeiros interessados em dar continuidade ao sonho do fundador, ou pela briga pelo poder entre a segunda e terceira geração, principalmente pela inclusão dos agregados (noras e genros). Assim sendo, não existe maneira de se evitar tal guerra. Ela não é conseqüência e sim, causa da venda.
Uma crítica que se ouve de algumas empresas familiares é que membros mais novos da família são
admitidos em cargos de chefia sem ter a experiência ou o conhecimento necessários. Isso pode
provocar ressentimentos em outros empregados. Como lidar com essa situação?
Domingos Ricca
Carisma e liderança não há como transferir por hereditariedade. Qualquer herdeiro só conseguirá o respeito do corpo organizacional a partir do momento que prove sua competência.