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Tratamento Clínico do Linfedema

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Academic year: 2021

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Tratamento Clínico do Linfedema

Maria Del Carmen Janeiro Perez

O tratamento clínico do linfedema enfatiza as medidas de prevenção do desenvolvimento e progressão da doença. A terapia medicamentosa visa diminuir o edema e prevenir e tratar as infecções. A redução mecânica do edema tenta diminuir e manter o diâmetro do membro e a terapêutica psicológica é importante para minimizar o impacto que essa doença causa na imagem do paciente .1,2,3,4,5 Envolve medidas que podem ter

resposta variável, exigindo do paciente e do médico persistência, pois o tratamento pode ser caro e demorado.5

Prevenção e tratamento das infecções: higiene rigorosa, com tratamento de micoses interdigitais usando-se antimicóticos tópicos e de lesões de pele com antissépticos, quando houver. Na prevenção das infecções usa-se a antibioticoterapia profilática (geralmente penicilina benzatina uma vez ao mês). Nos surtos agudos de celulite, erisipela ou linfangite, o tratamento deve ser instituído inicialmente com antibióticos/quimioterápicos de amplo espectro, ajustando-os

posteriormente de acordo com a cultura e antibiograma, se não houver melhora do quadro.5

Prevenção e redução do edema: reduzir e manter o volume do membro é o principal objetivo no tratamento do linfedema; no entanto, as medidas com esse objetivo são paliativas e, algumas delas, criticadas na literatura. Na fase precoce, quando os tecidos ainda estão relativamente preservados, pode-se reduzir o membro ao pode-seu tamanho inicial. No entanto, após o desenvolvimento da fibrose, os tecidos não retornam à sua normalidade, mesmo com todas as medidas para tentar reduzir o volume, aceitando-se um certo grau de edema residual. As alterações do tamanho do membro são avaliadas subjetivamente e também objetivamente, com medidas de circunferência do mesmo em vários locais e cálculos de volume através de técnicas de deslocamento de água. As medidas terapêuticas utilizadas para redução do edema são várias e podem ser empregadas individualmente ou em conjunto.5,6,9

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ELEVAÇÃO DAS EXTREMIDADES: É um método simples e efetivo de reduzir o edema. Diminui a ação da gravidade, produzindo uma redução máxima do volume entre dois a cinco dias de repouso continuado no leito, na posição de Trendelenburg (Figura 1). A dificuldade é manter-se esse repouso fora do ambiente hospitalar. O paciente é orientado para levantar os pés da cama e dormir com os membros elevados. Durante o dia deve fazer períodos de repouso, com elevação das extremidades.

Figura 1 - Elevação dos pés da cama.

TERAPIA FÍSICA COMPLEXA DESCONGESTIVA: Realizada regularmente, pode auxiliar na drenagem linfática e melhorar o tônus dos tecidos, constando de massagem manual, tratamento das lesões de pele, enfaixamento compressivo e exercícios isométricos. O tratamento pela terapia física complexa, como descrito por Földi,7,8 inicia-se

com a massagem manual proximal do lado contralateral ao membro afetado, para estimular o fluxo nos linfáticos normais, preparando-os para receber o fluido do lado envolvido, o que evita a piora do edema na raiz do membro e genital, complicação associada com o uso de aparelhos de compressão pneumática.6 Continua-se a massagem no

membro comprometido, iniciando-se pelas porções mais proximais (Figura 2) até chegar às mais distais, massageando cada segmento suavemente, com pressões menores que 40 mmHg, do sentido distal para o proximal, tentando empurrar o fluido para as veias, os linfáticos profundos ou para os linfáticos

contralaterais (Figuras 3a e 3b). Após a massagem é feito enfaixamento compressivo (Figura 4) com faixas inelásticas, mantidas até a próxima sessão, sendo o paciente orientado a fazer exercícios isométricos (nadar, caminhar, bicicleta, outros). As lesões de pele também são tratadas adequadamente. Geralmente são realizadas 4-5 sessões semanais, diminuindo-se uma por diminuindo-semana, para obter o melhor resultado em um mês. Os pacientes são mantidos com contenção elástica (meias de alta compressão) após obter o máximo de redução do volume com o tratamento.

Figura 2 - Massagem manual (gângliosproximais).

Figura 3a - Massagem manual das cadeias linfáticas (distal para proximal).

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Figura 3b - Massagem manual das cadeias linfáticas (distal para proximal).

Figura 4 - Enfaixamento compressivo (distal para proximal)

COMPRESSÃO PNEU MÁTICA INTERMITENTE: São utilizadas botas ou luvas, que são insufladas e desinsufladas, criando um gradiente de pressão que empurra o fluido para fora do membro afetado. Podem ter um único compartimento ou múltiplos, que se insuflam seqüencialmente, facilitando a drenagem no sentido proximal (Figura 5). As sessões podem ser de uma até oito horas ao dia, dependendo do tamanho do membro ou do edema ser refratário à compressão. Vários autores mostraram a efetividade do método para a redução do volume do membro.9 No

entanto, é bastante criticado porque somente retira os líquidos, o que leva ao aumento do conteúdo protéico do interstício e piora da fibrose e do prognóstico da extremidade.7,8

Também pode haver aumento do edema nas porções mais proximais da extremidade, levando à formação de anel fibroso que pode levar progressivamente à piora do edema distal. Em recente estudo, observamos que a compressão pneumática intermitente é efetiva na redução da circunferência dos membros doentes, porém não altera significativamente o transporte da macromolécula de Dextran99mTc,

o que leva a concluir que sua eficácia deve-se à remoção de líquidos.10,11 Nos intervalos das sessões, os pacientes são mantidos com o uso de contenção elástica, com meias ou luvas de alta compressão ou faixas inelásticas ou pouco elásticas.

Figura 5 - Aparelho de compressão pneumática intermitente seqüencial.

A contenção elástica, com meias (Figura 6) ou luvas de alta compressão, ou com o uso de faixas pouco elásticas, é imprescindível como medida associada às citadas ou mesmo isolada, para manter o volume do membro estável.1,2,3,4,5,6,9

O uso do calor, através de raios infravermelhos, que desnatura as proteínas e facilita sua remoção pelos capilares venosos semipermeáveis, é utilizado por autores chineses. Atualmente estuda-se o mesmo efeito com microondas observando-se redução do edema por alteração da proteína extracelular, sem alteração do fluxo linfático à linfocintilografia.12

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Terapia medicamentosa5

Diuréticos - são pouco utilizados atualmente, pois somente retiram líquidos, podendo levar a complicações como hemoconcentração e ter efeitos deletérios locais, pelo aumento de proteínas no interstício.

Benzopironas - também utilizadas topicamente em massagem, têm ação proteolítica através de ação de macrófagos, facilitando a remoção das proteínas dos tecidos e diminuindo sua concentração no interstício, reduzindo a fibrose e remodelando o subcutâneo. No entanto, devem ser usadas com cautela em pacientes com insuficiência hepática, sendo relatadas complicações graves.

Corticóides - são utilizados para diminuir a fibrose dos tecidos e ganglionar, secundárias a processos inflamatórios, ao uso de medicamentos quimioterápicos e à radioterapia, sendo que por via intralinfática tem uma ação mais específica.

Antiinflamatórios não hormonais – usados quando há sinais de inflamação dos tecidos no paciente com linfedema, diminuindo a permeabilidade capilar e a dor produzida por substâncias tóxicas do processo infeccioso. Anti-histamínicos: têm pouca indicação, porém diminuem as manifestações da liberação da histamina, como o prurido e o extravasamento de líquido para o interstício, que pode agravar o linfedema.

Anticoagulantes e fibrinolíticos: usados por alguns autores para diminuir o processo de trombose da linfa, não são mais utilizados pelos especialistas por seu custo e complicações, bem como resultados especulativos.

Linfocinéticos – pelo efeito de proteólise decorrente dda produção de enzimas por macrófagos, diminuem a concentração protéica dos tecidos linfedematosos, passando os fragmentos das proteínas para os capilares venosos com mais facilidade. A associação cumarina-rutina e diosmina-hesperidina parecem aumentar o calibre dos vasos e o fluxo linfático pelo se efeito linfagogo.

Atualmente, autores japoneses pesquisam a

que aumentam a atividade macrofágica no interstício, com remoção e diminuição das proteínas intersticiais, levando à melhora do linfedema. Embora os resultados pareçam promissores, ainda se necessita melhor avaliação do método.

O uso da amitriptilina oral no linfedema também é controverso. Quando o linfedema for secundário a uma causa determinada e passível de tratamento, tal como filariose, TBC ganglionar, linfogranuloma venéreo, a medicação adequada deve ser instituída para a cura da doença de base, além das medidas de tratamento do edema.

Terapêutica de suporte: Outras medidas podem auxiliar no tratamento do linfedema, tais como: perda de peso em pacientes obesos e dieta pobre em sal; exercícios como andar, nadar, etc., que melhoram o fluxo nos linfáticos residuais; não se recomenda o uso de álcool; devem evitar-se roupas apertadas em coxas ou cintura.

Também o apoio psicológico é importante, principalmente nas mulheres mais jovens, acometidas pelo linfedema precoce e também pós-mastectomia. Os pacientes devem ser esclarecidos quanto à sua doença e o que esperar de sua evolução, que depende de sua total colaboração para obter bons resultados com as medidas terapêuticas indicadas; quando necessário, devem ser encaminhados para terapia de apoio adequada. O seguimento regular desses pacientes é necessário e o reconhecimento e tratamento de malignização tardia, apesar de rara (1-2%), deve ser imediato.13

O prognóstico do linfedema é difícil, devido à multiplicidade de causas e pode ser reservado. Consideram-se os achados linfográficos de algum valor. Assim, pacientes que apresentam aplasia ou hipoplasia distal na linfografia, são considerados de bom prognóstico, com evolução lenta do edema e raras complicações. Aqueles em que o achado linfográfico é de hipoplasia proximal, associada ou não à distal, a progressão para edema severo é rápida com complicações a despeito do tratamento clínico bem instituído.2

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O linfedema, algumas vezes desencadeado de forma obscura, ainda é uma doença de tratamento paliativo. Maiores estudos no campo da fisiologia e fisiopatologia podem no

futuro, levar a uma esperança de tratamento mais eficaz nesses pacientes, agindo-se nos estágios iniciais da moléstia, antes que as alterações irreversíveis dos tecidos ocorram.

REFERÊNCIAS

1. Bouabci AS. Tratamento do linfedema. In: Bouabci AS. Clínica Cirúrgica Alípio Correia Netto. 4a edição.

São Paulo: Cordeiro AK, Baracat FF, Mayall RC, et al. Tratamento clínico dos linfedemas. In: Cordeiro AK, Baracat FF, editores. Linfologia. São Paulo: Fundo Editorial BYK-Procienx; 1983. p. 171-178.

2. Degni M, Nunes P. Linfedema. In: Maffei FHA, Lastória S, Yoshida WB, Rollo HÁ, editores. Doenças vasculares periféricas. 2a edição. Rio de Janeiro:

MEDSI; 1995. p. 1063-1110.

3. Földi E, Földi M, Weissleder H. Conservative treatment of lymphoedema of the limbs. Angiology 1985;36(3):171-180.

4. Silveira PRM. Linfedemas pós-inflamatórios: tratamento clínico. In: Garrido M, Pinto-Ribeiro A, editores. Linfangites e erisipelas. 2ª edição. São Paulo: Revinter; 1999:163-168.

5. Földi E. Massage e damage to lymphatics. Lymphology 1995;28(1):1-3.

6. Földi M. Lymphology today. Angiology 1983;34:84-90.

7. Andrade MFC. Linfedema pós-inflamatórios: terapia física complexa. In: Garrido M, Pinto-Ribeiro A,

editores. Linfangites e erisipelas. 2ª edição. São Paulo: Revinter; 1999. p. 155-160.

8. Rooke TW, Gloviczki P. Nonoperative management of chronic lymphedema. In: Rutherford R, editor. Vascular surgery. 4ª edição. Philadelphia: WB Saunders; 1994. p. 1920-1927.

9. Perez MCJ. Compressão pneumática intermitente seqüencial no linfedema dos membros inferiores: avaliação linfocintilográfica com dextran marcado com tecnécio 99m. São Paulo, 1997. [Tese - Doutorado – UNIFESP/EPM].

10. Perez MCJ, Miranda Jr F, Castiglioni MLV, Amorim JE, Nakano LCU, Barros Jr N, Burihan E. Efeito da compressão pneumática intermitente seqüencial sobre o linfedema dos membros inferiores: avaliação quantitativa pela linfocintilografia. Cir Vasc Angiol 1999;15(2):65-69.

11. Liu NF, Olszewski W. The influence of local hiperthermia on lymphedema and lymphedematous skin of human leg. Lymphology 1993;26(1):28-37. 12. Quadros LGA, Baracat FF, Grabert HH, Lima GR.

Linfangiossarcoma pós-mastectomia (síndrome de Stewart-Treves): relato de um caso e revisão da literatura. Rev Paul Med 1988;106(4):238-40.

Versão prévia publicada:

Nenhuma

Conflito de interesse:

Nenhum declarado.

Fontes de fomento:

Nenhuma declarada.

Data da última modificação:

13 de outubro de 2000.

Como citar este capítulo:

Perez MCJ. Tratamento clínico do linfedema. In: Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponivel em: URL: http://www.lava.med.br/livro

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Sobre a autora:

Maria Del Carmen Janeiro Perez Professor Adjunto, Doutor da Disciplina de Cirurgia Vascula Departamento de Cirurgia

da Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina, São Paulo, Brasil.

Endereço para correspondência:

Rua Napoleão de Barros, 715. 04039-900 São Paulo - SP Fax: +11 5571 4785 Correio eletrônico: delcarmen.dcir@epm.br

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