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SENTENÇA. OSCAR STEPHANO GONÇALVES COUTINHO, qualificado nos autos, através de advogado

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Academic year: 2021

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2ª Vara Mista de Cabedelo/PB

Fórum Des. Júlio Aurélio Moreira Coutinho, s/n, BR-230, KM 01 - Camalaú, Cabedelo - PB, 58310-000 Tel.: (83)-3250-3191;

e-mail: cbd.2vara@tjpb.jus.br

SENTENÇA

Nº DO PROCESSO: 0806322-57.2017.8.15.0731

CLASSE DO PROCESSO: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7)

ASSUNTO(S) DO PROCESSO: [Rescisão / Resolução, Indenização por Dano Moral] AUTOR: OSCAR STEPHANO GONCALVES COUTINHO

REU: GFT CONSTRUCOES E INCORPORACOES LTDA

Vistos, etc.

OSCAR STEPHANO GONÇALVES COUTINHO, qualificado nos autos, através de advogado legalmente constituído, ajuizou AÇÃO DE RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO E DO SERVIÇO C/C DANOS MORAIS E MATERIAIS em face de GFT CONSTRUÇÕES E INCORPORAÇÕES LTDA, também qualificado, alegando, em síntese, que adquiriu um imóvel junto à construtora ré e, após algum tempo desde a aquisição, seu imóvel passou a apresentar problemas de desplacamento das cerâmicas instaladas em pisos e paredes, assim como infiltrações e fissuras.

Narrou que comprou o imóvel em Agosto/2016, pelo programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal, e que, nesse mesmo ano, o piso da sala começou a dar problemas, começou a descolar.

Relatou que o primeiro descolou uma parte da sala, mas já era perceptível que noutras partes o piso iria descolar, mas a empresa não realizou nenhum tipo de vistoria no apartamento conforme solicitado pela esposa do proprietário.

Já no início de 2016, com a chegada de chuvas do começo do ano, os três quartos do imóvel foram danificados devido a infiltrações. Informou que proprietários sempre ligavam para a empresa para saber a respeito dos reparos, mas a ré não tinha/tem a política de manter uma comunicação mais direta, respeitosa com os moradores, formal motivo pelo qual o autor passava e-mail solicitando informações a fim de saber se os serviços para a correção das infiltrações já tinham sido feitos.

Ressaltou que foram obrigados a ficar durante todo o período chuvas com o apartamento mofado, pois a empresa disse que só consertaria algo após o término das chuvas.

Enfatizou que, no início de 2016, foi enviada à construtora notificação solicitando a realização de manutenção corretiva no piso de todo o apartamento, tendo em vista que as solicitações pelo telefone restaram infrutíferas, e mesmo com as correções pontuais e específicas que a construtora fazia quando algumas cerâmicas descolavam, eles não queriam saber se as cerâmicas estavam ocas.

Afirmou que a empresa, mesmo com notificação, não compareceu, e somente após idas e vindas e informação de que haviam contratado um perito é que a empresa ré trocou parte das cerâmicas da sala, ressaltando que não resolveu, pois ainda existe cerâmicas ocas na sala.

Sustentou que, no ano de 2015, o piso do banheiro deu um problema, e que, no ano de 2016, além do piso da sala, o do terraço soltou todo e várias fissuras surgiram no apartamento. Ademais, em março de 2016, foi enviado novamente o e-mail para a construtora, perguntando sobre as infiltrações, e sobre o descontentamento do

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autor, no tocante à não realização da vistoria solicitada e da negativa da construtora em trocar as cerâmicas “ocas” defeituosas do apartamento.

Explanou tratar-se de muito tempo de sofrimento durante os anos de 2015, 2016 e 2017, e o autor sabia que seria necessário proceder com a troca do piso de todo o apartamento.

Frisou que, nesse mesmo período, foi solicitada por diversas vezes a troca da cerâmica de todo o apartamento, tendo em vista que, de tempos em tempos, as cerâmicas se descolavam, recomendação também solicitada pelo perito engenheiro do CREA contratado pelo autor.

Defendeu que lutou pelo sonho da casa própria e, mesmo sendo profissional liberal, conseguiu pagar à empresa a quantia de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), tendo financiado o restante pela Caixa Econômica Federal e, desde que chegou, só se deparou com problemas e mais problemas, com a falta de respeito da construtora, que limitavam-se a culpar o fabricante do piso de cerâmica, numa situação de flagrante contrassenso, vez que a construtora reutilizou as mesmas cerâmicas (que não quebraram) na sala, na varanda e na cozinha, ou seja, quando elas descolavam, eles reaproveitavam as cerâmicas, porém, as assentavam de maneira correra, o que não foi feito quando o piso do apartamento foi assentado pela primeira vez, denotando deficiência técnica.

Enfatizou que as infiltrações do quarto do casal chegaram a gotejar dentro de casa, o guarda-roupa, o painel da TV, todos tiveram de passar por manutenções que, por sinal, todos os custos com o marceneiro foram pagos pelo autor, pois a empresa se negava a indenizá-los.

Destacou que, por meses, dormiu com o quarto mofado, úmido, e só depois de muito reclamar, a empresa compareceu e disse que havia resolvido o problema; contudo, em Julho/2017, tiveram que entrar novamente em contato com a empresa para, novamente, tomar providências quanto às infiltrações, que eram reincidentes.

Narrou que, no início do ano de 2017, passaram pelo constrangimento de ter tido a cerâmica da parede da cozinha descolada, e só depois que toda a cerâmica de uma parede fora retirada pela empresa ré que se informou ao autor que a construtora não tinha mais da mesma cerâmica, e que seria necessário procurar no mercado de Recife.

Já quando comunicaram o ocorrido à empresa, seus prepostos informaram que estavam a pesquisar a mesma cerâmica no mercado de Recife, e que isso levaria pelo menos mais um mês.

Apontou que foi o autor quem teve de tomar iniciativa, e decidiu colocar um porcelanato na parte que descolou para não ficar com a cozinha desajustada e, novamente, arcou com os custos da diarista e da vinda do marceneiro para desmontar e montar os móveis para a reforma da cozinha, pois a construtora se negava a pagar tudo, assim como foram os proprietários que arcaram com o custo do porcelanato.

Ato contínuo, quando pensavam que os problemas da cozinha haviam acabado, em meados do ano de 2017, o piso do chão descolou, e a família teve de, novamente, entrar em contato com a construtora ré para que pudesse corrigir os problemas. Contudo, naquele mesmo tempo, as cerâmicas do corredor do apartamento também descolaram.

Ressaltou que foi o autor quem, novamente, arcou com os custos para o marceneiro vir desmontar e montar os móveis da cozinha, além de arcar com os custos de limpeza e do apartamento, mais a contratação da diarista.

Ato contínuo, as fissuras da parede da sala já haviam passado por correções da construtora novamente, com a promessa de que estariam corrigidas, e que não mais voltariam a aparecer. Salientou o autor que,

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mais uma vez de boa-fé, mandou fazer um painel da sala e pintar toda a sala já em Março/2017; contudo em Setembro/2017, as fissuras voltaram na sala, na parede da cozinha, inclusive fissurando uma cerâmica, assim como por trás de um guarda-roupas no quarto do seu filho.

Enfatizou que todos os moradores do prédio estavam levando pequenos choques dos eletrodomésticos, e tiveram as mais variadas desculpas do ocorrido da construtora, até que se descobriu que a ligação do fio-terra de todo o prédio não havia sido instalada, e o eletricista, após muitas idas e vindas, descobriu o problema e fez a instalação.

Destacou que as conversas dos moradores do condomínio, assim como o seu celular e o da sua esposa estão disponíveis para uma possível perícia.

Ressaltou que foi encaminhada até notificação para a construtora solicitando a presença de um eletricista em caráter de urgência para averiguar a parte elétrica do prédio, como das instalações da unidade 403, tendo em vista que, além dos choques, os proprietários levavam, os disjuntores do apartamento disparavam toda a vez que os dois chuveiros elétricos eram ligados.

Aduziu haver passado por um enorme constrangimento quando, em Maio/2017, em pleno sábado à tarde, com a casa cheia de familiares, o disjuntor do apartamento passou a disparar sem parar, tendo ficado sem TV, sem rádio, totalmente sem energia elétrica em casa. Que ligou para o celular do construtor informando o ocorrido e cobrando soluções, porém, para sua surpresa, foi informado que o eletricista era terceirizado, e não sabia se este poderia comparecer ao apartamento. Contudo, este, por sorte, compareceu e, após duas horas de trabalho, resolveu o problema.

Informou que, no ano de 2016 e 2017, compareceu na construtora ré pedindo o dinheiro da compra do apartamento de volta, pois não aguentava mais os problemas com o piso, as infiltrações, os problemas elétricos, fissuras, etc. Que a empresa pediu um tempo, pois explicou que estava numa situação difícil devido à crise; contudo, depois de um tempo, ficou sabendo que todas as unidades de um prédio que a empresa construiu em João Pessoa, no bairro do Bessa, foram vendidas, mas a empresa não mais mencionou o ressarcimento do dinheiro.

Afirmou que, até o momento do ingresso desta ação, a empresa não conseguiu sanar os problemas de infiltração, nem solucionar o problema do piso. Ainda, afirmou que os prepostos da ré encaminhados à sua residência assumiram posturas indevidas, como averiguar os problemas novamente apontados, assim como o arquiteto afirmar que o que ocorria era normal, mostrando fotos do prédio em que morava e afirmando que ocorria o mesmo por lá.

Concluiu que, desse modo, não sobrou alternativa, senão socorrer-se ao Poder Judiciário.

Requereu a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos, ou seja, pagamento de danos morais e materiais. Subsidiariamente, requereu o abatimento proporcional do preço do imóvel, cumulado com obrigação de fazer, consistente em reformar o imóvel nos moldes determinados pelo Sr. Perito do Juízo, ocasião em que deverá, por disposição da ré, um hotel para que permaneça durante o prazo da reforma as expensas deste, assim como arcar com todas as despesas com montagem e desmontagem dos móveis planejados do imóvel, limpeza do imóvel ao término da reforma, lavagem dos sofás e cortinas, deixando claro que o desejo do autor é de ter o seu dinheiro de volta. Também requereu indenização a título de danos materiais no valor de R$ 4.165,10 (quatro mil cento e sessenta e cinco reais e dez centavos), assim como indenização por danos morais no valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais).

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Juntou à inicial o instrumento particular de promessa de compra e venda de bem imóvel (ID nº

11151716), o contrato de financiamento do imóvel (ID nº 11151789), a certidão de inteiro teor do imóvel (ID nº 11151858), extrato de conversa no Whatsapp (ID nº 11151894), reclamação de ocorrência em 01.08.2017 encaminhada por e-mail (ID nº 11151905), notificação encaminhada à construtora (ID nº 11151934, ID nº 11151957), fotografias dos problemas no apto 403 nos anos de 2015 e 2016 (ID nº 11152037), o relatório da vistoria técnica do apartamento (ID nº 11152175), e recibos de valores despendidos pelo autor em razão do apartamento (ID nº 11152252).

Em despacho de ID nº 11160695, fora deferida a gratuidade judiciária, bem como designada audiência de conciliação, a qual restou infrutífera diante da ausência de composição, conforme atesta termo de ID nº 12673761, vez que a procuradora da ré propôs a troca de todo o piso do apartamento, bem como o reparo de todo e qualquer vício que seja de responsabilidade da construtora.

Em sede de contestação, foram arguidas preliminares de impugnação à justiça gratuita e de denunciação à lide às empresas Cerâmica Almeida LTDA e Nova Ideia Representações LTDA.

No mérito, afirmou que a referida obra contou e obedeceu a todos os requisitos legalmente impostos, foram feitas as anotações de responsabilidade técnica dos profissionais responsáveis pela obra, bem como tinha alvará de construção.

Destacou que todo os projetos arquitetônicos e de esgotamento sanitário foram devidamente aprovados pela Prefeitura Municipal de Cabedelo, sendo estes, por óbvio, os projetos originais seguidos criteriosamente pela ré.

Que, após a conclusão da obra, o Ed. Residencial Mar Mediterrâneo, foi vistoriado pelo Corpo de Bombeiros Militar, órgão que atesta os requisitos de segurança exigidos legalmente, restando certificado que o empreendimento atendeu às exigências consignadas na Lei nº 9.625/2011, conforme certificado de aprovação nº 01-01923/2015.

Ato contínuo, após a conclusão da obra, o empreendimento também foi vistoriado pela Prefeitura Municipal de Cabedelo, que não encontrou qualquer irregularidade, tendo-se emitido as cartes de Habite-se, constando que a empresa autora observou todos os planos aprovados para a construção e prescrições do art. 32 da Lei Complementar nº 03/98.

Salientou que, para que imóveis sejam comprados por meio de financiamento junto à Caixa Econômica Federal, ou qualquer outra instituição financeira, os engenheiros desta empresa pública realizam criteriosa análise do bem, a fim de saber se ele atende aos padrões da Caixa Econômica Federal, sendo certo que o bem adquirido pelo autor passou por tal vistoria e foi regularmente aprovado.

Frisou que, quase três anos depois, o Banco do Brasil novamente avaliou o imóvel e a conclusão não foi diferente: a avaliação recentemente emitida, tendo em vista que um dos proprietários originários vendeu seu apartamento através de financiamento bancário pactuado pelo comprador, quando o Ed. Res. Mar Mediterrâneo, foi novamente vistoriado pelos engenheiros especializados, e qual não foi a conclusão senão a de que o imóvel está em perfeitas condições.

Reconheceu que os imóveis tiveram um problema quanto ao “desplacamento” das cerâmicas do piso. Sucedeu que tal problema não ocorreu por má-prestação de serviço da ré.

Que a cerâmica empregada no imóvel foi adquirida através da empresa Nova Ideia Representações LTDA, que “vendeu a imagem” da Cerâmica Almeida LTDA, como uma das maiores produtoras de pisos e

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revestimentos do Brasil, apresentado o piso fabricado pela técnica chamada de “via seca” que, como o próprio site da empresa afirma, tem como matéria prima essencialmente a argila, havendo economia de água, ao contrário da fabricação que as cerâmicas de “via úmida”.

Afirmou que a cerâmica empregada no imóvel foi justamente esta com fabricação através da via seca. Sucede que, no final de 2016, o mercado da construção civil começou a realizar a divulgação da percepção de que já havia algum problema comum nas cerâmicas, eis que registraram um aumento absurdo com relação a reclamações acerca do “desplacamento” da cerâmica.

Que tanto é assim que a Sinduscon-SP encomendou uma pesquisa com a empresa Neoway Criactive e as conclusões foram as seguintes: “20,7% das construtoras pesquisadas identificaram desplacamento dos revestimentos cerâmicos internos nas paredes de suas obras; A tipologia de estrutura foi identificada entre alvenaria estrutural e concreto armado convencional; 46,8% do tipo de base utilizada para a aplicação da cerâmica foi direto no bloco, outros 44,2% em revestimento de argamassa; Em 100% dos casos pesquisados o processo de fabricação da cerâmica é por via seca. Houve uma grande variedade de modelos e dimensões da cerâmica; As argamassas AC II e AC I são utilizadas em proporções similares, sendo ambas em 49,3% das obras; Houve desplacamento em 509.296,03 m2; de revestimento interno das paredes; Em geral, o desplacamento ocorre até o segundo ano após a aplicação da cerâmica (81,4%)”.

Ainda, que a ConstriLIGA, portal especializado, convidou construtores representantes do setor cerâmico e pesquisadores para discutir o assunto, e recolheu-se os seguintes relatos: “Fábio Villas Boas – O desplacamento cerâmico sempre aconteceu, mas eram casos esporádicos, geralmente associados a falhas da mão-de-obra. Isso mudou há cerca de dois anos e meio, quando nosso controle de qualidade detectou um volume significativo de cerâmicas se soltando em banheiros e cozinhas. Ao estudar esses casos, percebemos que não era um problema localizado. Também vimos que, ao longo do tempo, as patologias se alastravam e mais peças se soltavam. Em reunião do Comitê de Tecnologia do SindusCon-SP, descobrimos que todas as 26 empresas que participavam do encontro enfrentavam, em maior ou menor grau, o mesmo problema. A partir daí começamos a buscar pontos de convergência. Contratamos uma empresa de pesquisa que estudou o caso. Constatamos que, nesse grupo de empresas, as argamassas utilizadas eram diferentes, assim como as bases. Algumas usavam cerâmica sobre emboço, outras sobre bloco e drywall. O único ponto em comum foi a cerâmica produzida por via seca fornecida por diferentes fabricantes.”. “Villas Boas – Temos dois conjuntos de obras simultâneas. Um deles utiliza cerâmica 100% produzida por via úmida. O outro é 100% via seca. A equipe de assentamento e as condições da base são iguais nos dois casos. Como explicar que em um conjunto a taxa de patologia é praticamente zero e no outro tivemos que arrancar 100% das placas? Em uma única obra foram 1600 cozinhas derrubadas por causa dessa patologia.”

“Borghi – Tivemos problemas com revestimento cerâmico em um empreendimento realizado em fases. Nas torres em que aplicamos via úmida não houve qualquer problema. Já naquelas que usamos via seca, o desplacamento beira 100%.”

Atentou que a empresa ré enfrentou um problema generalizado de que todas as construtoras que empregaram cerâmica fabricada por “via seca” em suas obras também relataram. Ainda, o autor levanta questionamentos quanto à constatação aqui apresentada, pois afirma que, em alguns casos, foi utilizada a mesma cerâmica para realizar os reparos.

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para que não fosse utilizada uma peça de marca diversa, dando diferença de cor, foi a de utilizar uma técnica diferente de colagem, que não é a técnica padrão utilizada habitualmente na construção civil.

Afirmou que foi empregada a técnica da dupla colagem, quando a cola é aplicada tanto no piso quanto na pedra, a fim de possibilitar que a cerâmica tenha mais aderência.

Frisou que foram trocadas as cerâmicas de diversos apartamentos, inclusive na unidade do autor, e que, ainda que leve-se a entender da narração de seus fatos que os problemas vêm aparecendo de forma contínua desde 2015, não houve essa continuidade; que, na verdade, aconteceu um problema em seu piso em 2015, ele foi reparado, e voltou a acontecer em 2017.

Explanou que, no final do mês de Julho/2017, especificamente no dia 31, uma funcionária da empresa, bem como o arquiteto e o pedreiro, compareceram ao apartamento para a reparação do imóvel. Contudo, tais funcionários foram destratados pela esposa do autor. Que, ainda assim, a funcionária compareceu novamente ao apartamento do autor ofertando a troca do piso, a qual fora recusada pelo autor e sua esposa.

Sustentou que não teve a oportunidade de avaliar a questão do custeio de diarista e do montador de móveis, bem como outros pleitos feitos pelo autor, haja vista ter o autor efetuado ligação para a funcionária da ré afirmando que não queria mais trocar as cerâmicas, pois iria buscar o Judiciário.

A respeito dos problemas de infiltração e fissuras na parece, afirmou que é comum a ocorrência em edifícios recém-construídos em virtude da movimentação de materiais e componentes da construção, além disso, podem ser consequência da ocorrência de vibrações na área, como pode ser o caso do imóvel em questão, já que situado próximo à margem da BR-230.

Com relação às instalações elétricas do edifício, defendeu que o problema foi pontual, e imediatamente reparado pela empresa ré, como confessado na inicia, não havendo necessidade de troca de instalação elétrica.

Concluiu que o autor vem a juízo exigir prestações, sem que tenha permitido que a empresa fizesse os devidos reparos em seu apartamento, e que o imóvel foi adquirido pelo autor em Agosto/2015 e, desde este momento, o autor e sua família fazem uso do bem, de modo que a restituição do valor pago pelo imóvel representará enriquecimento ilícito.

Requereu o acolhimento das preliminares arguidas. Ainda, requereu a total improcedência da demanda inicial. Subsidiariamente, requereu que a restituição da quantia paga pelo autor deverão ser arbitrados valores mensais, corrigidos monetariamente, pelos meses em que o autor ficou e continuou com o usufruto do imóvel, arbitrando espécie de aluguel a ser abatido do valor a ser restituído o autor. Por fim, que este abatimento proporcional do preço não venha acompanhado da obrigação de reformar o imóvel, já que a referida medida de abatimento já garante ao consumidor a devolução de parte do que já foi pago ou que deixe de pagar quantia ainda faltante.

Juntou à contestação os certificados do imóvel (ID nº 13051722, ID nº 13051772, ID nº 130551853, ID nº 13051868), os comprovantes de compra dos pisos de cerâmica (ID nº 13051887), matéria a respeito do problema dos desplacamentos cerâmicos (ID nº 13051938, ID nº 13051951), registro de ocorrência policial da funcionária da ré informando haver sido destratada pela esposa do autor (ID nº 13051997), o e-mail encaminhado ao autor (ID nº 13052033), o contrato de manutenção de fachadas em geral (ID nº 13052046), matéria a respeito de queda no preço dos imóveis em 2016 (ID nº 13052068), o contrato particular de promessa de compra e venda de imóvel (ID nº 13052090, ID nº 13052174), os recibos dos valores despendidos pelos serviços de corretagem prestados ao imóvel (ID

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nº 13052192), e o perfil do arquiteto, da funcionária e do pedreiro encaminhados ao imóvel do autor (ID nº 13052204, ID nº 13052219, ID nº 13052230).

Em impugnação à contestação, o autor rechaçou a preliminar de impugnação à contestação.

No mérito, o autor afirmou que a ré confessou o descumprimento das normas técnicas (nº 13753), destacou que a ré, quando apresentou sua contestação, confessou a existência de desplacamento das cerâmicas no apartamento do autor, colocando culpa nas empresas fabricante e revendedoras das cerâmicas.

Ressaltou que a ré, ao justificar a recolagem da mesma cerâmica no apartamento do autor (as que descolam), confessou que utilizou uma técnica de colagem simples, ou seja, quando se passa a cola só no piso, relatando, inclusive, que é a técnica habitualmente utilizada na construção civil. Ainda, afirmou que, posteriormente, foi utilizada a técnica da dupla colagem, quando a cola é aplicada tanto no piso quanto na pedra, a fim de possibilitar que a cerâmica tenha mais aderência.

Aduziu haverem utilizado no seu apartamento uma técnica diferente da recomendada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas, de nº 13753.

Explanou que todas as cerâmicas descolaram, sendo elas as do piso e as do revestimento da parede da cozinha, em área superior a 900 cm², fica claro que a ré descumpriu o que foi estabelecido pela ABNT.

Defendeu que a ré, ao não aplicar aquilo que determina a norma, visando baratear os custos da obra, puxou responsabilidade objetiva para si, haja vista que assumiu o risco, pois os problemas enfrentados no apartamento do autor, bem como na área comum, foram gerados pela deficiência técnica, ao não se aplicar aquilo que todo o profissional da área deve respeitar.

Sustentou que, das fotografias trazidas aos autos no corpo da impugnação, é possível vislumbrar que todos os apartamentos deram problema com a cerâmica, infiltrações, além das áreas comuns do edifício.

Ressaltou que o prédio passou por criteriosa avaliação de órgãos competentes, assim como a Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, os quais foram ludibriados, pois os referidos problemas não poderiam ser detectados por simples vistoria, mas apenas com o decurso do tempo.

No tocante à avaliação realizada pelo Banco do Brasil, na vistoria do apartamento nº 201, vendido recentemente, foi realizada depois que o piso foi trocado. Que o novo proprietário confirmou essa informação através de conversa pelo Whatsapp no dia 26.03.2018. Destacou, inclusive, que o referido apartamento passou cerca de dois anos disponível para venda, e somente deixou de estar disponível porque o proprietário vendeu o bem por preço abaixo do praticado no mercado.

Afirmou que, no mesmo sentido, a ré afirma que já reformou vários apartamentos, mas não informou que só providenciou a reforma depois que foi ameaçado de responder na justiça, como é de conhecimento de todos os moradores, e porque a construtora não tem mais da mesma cerâmica original que foi assentada inicialmente nos apartamentos.

Ressaltou que, a respeito da visita dos prepostos da ré em seu apartamento, quem os recebeu foi a sua esposa, que à época estava grávida, e que desconhecer qualquer proposta feita pela empresa. Pelo contrário, a funcionária afirmou que a ré não tinha qualquer responsabilidade sobre o ocorrido, e o arquiteto chegou a apresentar fotos do seu apartamento mostrando infiltrações, e defendendo que era algo normal.

Apontou que, insatisfeitos, os réus providenciaram um boletim de ocorrência três dias depois do ocorrido, e que, quanto ao único e-mail encaminhado ao autor, também tempos depois da referida visita, o proprietário

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da empresa informa que o autor fez uma contraproposta avaliada por ele – ou seja, não há que se falar em recusa por parte do autor, vez que este ofertara outra medida.

Lembrou que a ré reconhecer que vários apartamentos apresentaram problemas no piso, e tenta imputar sua responsabilidade à empresa Cerâmica Almeida LTDA, produtora da Cerâmica, assim como à empresa Nova Ideia Representações LTDA, que realizou a venda dos produtos à ré. Contudo, tal argumento não merece prosperar, vez que as cerâmicas foram recolocadas no apartamento do autor e não descolaram mais.

Ainda, mencionou que, para o revestimento da cozinha, também tiveram o mesmo problema alegado pela ré, ou seja, as cerâmicas de revestimento também descolaram, assim como na cozinha do apartamento nº 301 e na cozinha do salão de festas, onde a ré colocou outra cerâmica, desvalorizando o imóvel, vez que as que já estavam no local eram envernizadas, e as colocadas eram foscas, vez que a ré não tinha mais desse mesmo revestimento, obrigando o autor a aguardar pesquisa da empresa ou colocar cerâmica similar.

Comunicou novos defeitos encontrados no imóvel, como a reincidência das infiltrações em seu imóvel, as fissuras nas paredes, a presença de coliformes fecais na cisterna e da caixa d’água do prédio e correções na fachada do prédio que estão fora de estética.

Reiterou os fatos e fundamentos apresentados em exordial, e rechaçou o pleito de abatimento dos alugueis da restituição devida ao autor.

Concluiu que percebe-se dessa forma a má-fé da empresa, que tenta a todo o custo colocar para terceiros uma responsabilidade que lhe cabe, não cabendo no presente caso o deferimento da Denunciação à Lide.

Requereu a total procedência da demanda inicial.

Juntou à impugnação as normas NBR nº 13753 (ID nº 14322234), o laudo de análise bacteriológica ( ID nº 14322240), comprovantes de pagamento da cerâmica (ID nº 14322253), comprovante de ITBI (ID nº 14322260), as notificações encaminhadas à ré (ID nº 14322272, ID nº 14322273), a nota fiscal de prestação de serviço (ID nº 14322274), vídeo do local (ID nº 14347534, ID nº 14406245, ID nº 14406250, ID nº 14406264, ID nº 14406276, ID nº 14406296, ID nº 14406312), fotografia do local (ID nº 14356671).

Intimadas as partes para especificarem as provas que ainda pretendiam produzir, o autor requereu a designação de perícia técnica, bem como produção de prova testemunhal; a ré, por sua vez, requereu a produção de prova testemunhal e documental.

Em manifestação de ID nº 14997927, o autor comunicou que a notificação encaminhada à ré foi recebida em 13.04.2018, porém, apenas em 06.06.2018, a empresa compareceu para realizar os reparos, mandando um pedreiro tirar a cerâmica, e depois não mais apareceu, o que comprova total descaso com os moradores do condomínio. Fotografias do local de remoção da cerâmica e notificação encaminhada à ré no corpo da manifestação.

Intimada a ré a manifestar contraditório, esta comunicou que a conclusão do referido reparo restou prejudicada em razão do atraso na entregue dos produtos adquiridos para o serviço, gerado pela greve dos caminhoneiros, paralisação iniciada em Maio/2018. Que, portanto, não pode prevalecer o argumento de total descaso com relação aos seus clientes.

Em saneador de ID nº 17739218, fora mantido o benefício da justiça gratuita, bem como indeferida a denunciação à lide requerida pela ré. Ainda, foram delimitados os fatos sob os quais recairá a atividade probatória, distribuídos os ônus probatórios, e delimitadas as questões de direito relevantes para a decisão de mérito. Por fim, foi designada audiência de instrução e julgamento, e foram recolhidos os depoimentos, conforme atesta termo de ID nº

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19571090.

Em pedido liminar (ID nº 17982864), o autor comunicou gatos novos, afirmando que o chão da sua sala estourou no dia 23.11.2018, sendo o local onde o filho recém-nascido do casal mais brinca. Enfatizou ainda não ter obtido o reparo e assistência devidos por parte da empresa ré. Requereu que a ré seja obrigada a pagar aluguel de imóvel, compatível com o do objeto do litígio até o trânsito em julgado.

Juntou ao pedido liminar conteúdo de mídia (ID nº 17982905, ID nº 17982943). Em manifestação a respeito do contraditório,

Em manifestação do contraditório (ID nº 19224297), a ré reiterou a tese de que o ocorrido na residência do autor guarda relação com o produto da cerâmica, não com a prestação do serviço da ré.

Já em manifestação de ID nº 19146837, o autor comunicou que, no dia 26.01.2019, fez uma festa de aniversário do seu filho, e que durante a arrumação do local, percebeu que escorria muita água pelo elevador, o que o levou a desligar o equipamento e contatar a construtora, que encaminhou um eletricista ao local, o qual verificou que a água estava escorrendo por uma janela que dá acesso ao elevador; janela esta que não estava com a vedação adequada, levando a empresa técnica Otis a interditar o elevador por 72 (setenta e duas) horas. Destacou que a festa foi realizada numa área comum no último andar do prédio, o que acarretou com a locomoção de equipamentos pesados (necessários para a festa) pela escada, assim como os convidados, para chegar ao local, necessitavam subir esses degraus, dentre eles a genitora do autor, que sofreu AVC e encontra sua locomoção limitada em razão disso.

Juntou à manifestação vídeos do evento (ID nº 19146853, ID nº 19146870).

Em manifestação de ID nº 19466131, a ré juntou parecer técnico de vistoria realizada no apartamento do autor no dia 25.02.2019 (ID nº 1946631, ID nº 19466144).

Em contraditório, o autor defendeu que a ré está obrigada a cumprir com a NBR 12.721, em especial registrar o memorial no cartório de registro de imóveis, onde a edificação foi construída, até mesmo porque não poderia vender as unidades, em conformidade com a Lei nº 4.591/64, art. 32, alínea “g”.

Observou que, através de memorial descritivo apresentado que a cerâmica que deveria ter sido aplicada nos apartamentos, não corresponde com a marca da cerâmica que foi posta, muito menos com as dimensões as quais o réu se comprometeu em colocar através do memorial descritivo. A ré colocou uma cerâmica de qualidade e marca inferior, assim como dimensões inferiores deste material.

Também apontou deficiência técnica da ré que, além de comprar uma cerâmica de qualidade inferior, sequer cumpriu as orientações do próprio fabricante na colocação das peças. Em conclusão, a ré comprou material inferior ao descrito no memorial descritivo, com valor em nota de R$ 8,00 (oito reais) por metro quadrado, assim como dimensões bem inferiores. Por fim, sequer cumpriu as orientações do fabricante em sua colagem.

Requereu a juntada do memorial descritivo que foi devidamente registrado no cartório de registro de imóveis de Cabedelo/PB, como também do e-mail resposta da cerâmica, e da apostilha do Sinduscon – MG, como meio de prova documental.

Juntou à manifestação informações para arquivo no registro de imóveis (ID nº 19538142), e-mails trocados (ID nº 19537711), a ficha técnica das placas cerâmicas para revestimento (ID nº 19538162), a convenção condominial do edifício (ID nº 19538704).

Em decisão liminar de ID nº 20337294, fora indeferida a concessão da tutela de urência, vez que não se podia precisar o tempo de realização da obra, e dos depoimentos prestados colhe-se que quase todas as

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unidades do condomínio estão habitadas e, não obstante a insurgência pessoal do autor, outros condôminos também questionam e sofrem com os vícios apontados. Ainda, fora designada perícia técnica.

Foram apresentados os quesitos ao perito por parte do autor (ID nº 21896010) e da ré (ID nº 219000665).

Parecer técnico juntado ao evento de ID nº 22916316.

O autor se manifestou a respeito do laudo pericial (ID nº 24390761). Com a manifestação, juntou parecer técnico elaborado por pessoa contratada (ID nº 24390763), vídeos do apartamento (ID nº 24385183), fotografias do local (ID nº 24386285).

A construtora ré, igualmente (ID nº 24391942). Juntou à manifestação o contrato de prestação de serviços técnicos profissionais de engenharia (ID nº 249391944) e os autos de processos análogos à problemática apreciada na presente demanda (ID nº 24392099, ID nº 24392100).

O Sr. Perito respondeu às manifestações das partes a respeito do laudo pericial (ID nº 25618902). Em manifestações de ID nº 27027478 e ID nº 27027728, respectivamente, autor e ré se manifestaram sobre os esclarecimentos prestados pelo perito.

O Sr. Perito apresentou esclarecimentos complementares sobre as respostas aos quesitos nº 02, 03 e 05 realizadas pela ré no laudo pericial (ID nº 29723197).

As partes se manifestaram quanto aos referidos quesitos (ID nº 30973123, ID nº 30974044).

Em nova manifestação, o Sr. Perito formula esclarecimentos solicitados pela parte ré sobre os quesitos nº 02 e 03 do laudo pericial (ID nº 32564773).

Quanto aos documentos apresentados pelo autor, a ré defendeu que estes não servem como prova, mas, sim, no máximo, eventual jurisprudência paradigma acerca da matéria objeto da lide. Ainda, salienta que as referidas sentenças podem vir a ser objetos de medida recursal e, portanto, são inservíveis ao fim objetivado pela parte autora.

No que concerne à resposta ao ofício remetido ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, igualmente sustenta que não se aplica, vez que, muito embora consigna que as obras na BR-230 iniciaram-se no ano de 2018, a perícia realizada nos presentes autos ocorreu em Julho/2019, momento em que o perito judicial designado vistoriou o imóvel já com os efeitos nefastos decorrentes do aumento colossal de fluxo de veículos e de máquinas pesadas, bem como da modificação geográfica do solo através da compactação.

Já quanto aos esclarecimentos prestados pelo Sr. Perito, a construtora ré afirmou que o expert não respondeu ao quesito formulado desde a primeira apresentação de questionamentos que, inclusive, possui o condão de demonstrar a existência de excludente de ilicitude – culpa exclusiva de terceiros – e, assim, afastar a responsabilidade da ré.

Em manifestação de ID nº 33349131, o autor requereu o julgamento antecipado da lide, afirmando que diariamente sua família corre riscos à saúde devido ao ambiente em que vivem. Reiterou os fatos e argumentos apresentados nas suas peças iniciais. Juntou à manifestação sentença (ID nº 33427258).

Em despacho de ID nº 33437469, foi afastado o pedido de julgamento antecipado da lide do autor e deferido o pleito da ré para intimar o perito a prestar novos esclarecimentos.

Esclarecimentos prestados pelo Sr. Perito em ID nº 3349189.

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complementação dos honorários periciais não merece prosperar, vez que os quesitos suplementares formulados pela peticionante e respondidos pelo expert judicial designado são absolutamente idênticos àqueles formulados na primeira manifestação das partes. Ainda, afirmou que, à luz das declarações do Sr. Perito, verifica-se que os vícios constantes no imóvel podem ser oriundos das obras intensas ocorridas na BR-230. Requereu o julgamento antecipado da lide, sendo julgada totalmente improcedente a demanda inicial.

O autor, por sua vez, reiterou os fundamentos jurídicos e os pleitos apresentados em inicial, requerendo a total procedência da demanda inicial.

Em despacho ID nº 35164950, foi indeferido o pleito de complementação de honorários pericias, assim como fora encerrada a instrução probatória, sendo as partes intimadas a apresentar as razões finais.

Em razões finais do autor, este afirmou que o imóvel apresentou três tipos de vícios construtivos que não foram sanados pela ré, quais sejam, os desplacamentos, as infiltrações e as fissuras. Sustentou a sua defesa a partir do confronto da tese formulada em inicial com as provas carreadas aos autos, e trouxe cópia do processo trabalhista ajuizado pelo arquiteto da ré em face da construtora (ID nº 36559877).

Também apontou a possibilidade de a ré, na condição de devedora se desfazer dos seus bens no decorrer do processo. Desta forma, também junta certidões a respeito do que aduz se a dilapidação do patrimônio da ré em contramão ao patrimônio da CFT (ID nº 36559851, ID nº 36559852, ID nº 36559853, ID nº 36559854, ID nº 36559856, ID nº 36559857, ID nº 36559858, ID nº 36559859, ID nº 36559860, ID nº 36559861, ID nº 36559862, ID nº 36559863, ID nº 36559864, ID nº 36559865). Também junta fotografias de outras construções executadas pela ré (ID nº 36559882).

Nas razões finais da ré, sustenta-se que existe na presente demanda apenas duas causas de pedir, quais sejam, deito no piso e infiltrações no imóvel comprado, assim como dois pedidos sucessivos, quais sejam, restituição do valor pago e ressarcimento moral e material, ou abatimento no preço e reforma do imóvel.

Apontou que, a respeito dos depoimentos do Sr. Josivaldo Cipriano dos Santos, e do Sr. Jailson Vilberto de Sousa e Silva, estes demonstraram claro interesse no feito, o que impossibilita conferir a estes a força probatória de prova testemunhal.

Ressaltou que, a respeito do depoimento do Sr. Enrico Santana, graduado em engenharia civil, é possível depreender que os hipotéticos vícios são passíveis de solução.

Defendeu que todos os problemas foram resolvidos até o ano de 2017, não tendo sido posteriormente realizado qualquer reparo em face da proibição expressa da esposa e causídica do autor para qualquer funcionário da peticionante ingressar em seu apartamento, mas não por expressa negativa de resolução por parte da ré.

Apresentou no corpo das razões finais fotografias para demonstrar a distância do imóvel periciado com as colossais obras de triplicação da BR-230, afirmando que o imóvel encontra-se a menos de 50 (cinquenta) metros da rodovia, fator este que defende haver ensejado as fissuras, infiltrações e desplacamentos de cerâmica no imóvel do autor.

Requereu a total improcedência da demanda inicial. Vieram-me os autos conclusos.

Eis o relato. Passo à decisão.

Trata-se de ação de responsabilidade por fato de produto e serviço c/c indenização a título de danos materiais e morais, mediante a qual pretende o autor obter o reconhecimento de responsabilidade civil da ré em razão

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das fissuras, infiltrações e desplacamentos de cerâmica ocorridos em seu apartamento, por vício de construção da obra operada pela demandada. Uma vez reconhecida, requer a restituição imediata da quantia paga pelo imóvel, sem prejuízo de eventuais perdas e danos, a título de indenização por danos morais mensurados em R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais) e materiais mensurados em R$ 4.165,10 (quatro mil cento e sessenta e cinco reais e dez centavos). Subsidiariamente, requer o abatimento proporcional do preço do imóvel, cumulado com obrigação de fazer, consistente em reformar o imóvel nos moldes determinados pelo Sr. Perito do Juízo, ocasião em que deverá a ré por à disposição do autor para que lá permaneça durante a reforma, assim como arque com as despesas com a montagem e desmontagem dos móveis planejados, a limpeza do imóvel após o término da obra, e lavagem dos sofás e cortinas.

A ré, por sua vez, afirma que sempre buscou atender às reclamações do autor a respeito da estrutura do seu imóvel, contudo, ficou proibida pelo próprio autor e por sua esposa a prestar seus serviços de reparo. Ainda, defende que o ocorrido com o desplacamento das cerâmicas deu-se em razão do produto, sendo culpa da fabricante que o material esteja descolando de pisos e paredes. Quanto ás fissuras e infiltrações, afirma que sua aparição guarda relação com as obras de triplicação da BR-230, que instalaram-se a menos de 50 (cinquenta) metros do imóvel do autor.

Ponto controverso da presente demanda cinge em verificar se a ré construiu o imóvel do autor dentro da legalidade e qualidade para com os clientes, se o problema do desplacamento das cerâmicas guarda qualquer nexo causal com o serviço prestado pela ré; a assistência prestada pela ré em razão das reclamações do autor; a origem dos problemas com infiltração e fissuras nas paredes.

Pontos processuais preliminares já apreiados e superados em sede de decisão saneadora, passa-se à análise do mérito.

1. Da Legislação Que Regulamenta a Relação Jurídica Instaurada Entre as Partes

No caso dos autos, cuida-se de demanda de natureza indenizatória, de forma que para a procedência do pedido é necessária a comprovação dos pressupostos da responsabilidade civil, quais sejam: (i) a ocorrência de ato ilícito proveniente de ação ou omissão do agente, (ii) o resultado danoso e (iii) o nexo de causalidade entre a conduta e o efeito danoso, nos termos dos arts. 186 e 927 do Código Civil.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Nada obstante, é aplicável ao presente caso o Código de Defesa do Consumidor, vez que a relação estabelecida por meio do contrato em questão é de consumo, pois o construtor se enquadra no conceito de fornecedor, o comprador se enquadra na definição de consumidor.

E, em se tratando de relação de consumo, a responsabilidade da construtora é objetiva, no que diz respeito aos danos causados ao consumidor e decorrentes dos serviços técnicos de construção, bem como da qualidade do material empregado na obra, conforme preceitua o artigo 12, do CDC:

Art. 12. O fabricante, a produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações

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insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.

Logo, a responsabilidade somente poderá ser afastada nas hipóteses previstas no artigo 12, § 3º, do CDC, quais sejam, se comprovada que não colocou o produto no mercado, que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste, ou a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Ademais, mormente o que consta no inciso VIII do art. 6º, incidirá a inversão do ônus da prova, nas hipóteses de hipossuficiência do consumidor e verossimilhança de suas alegações. Contudo, uma vez determinada a inversão do ônus da prova, esta não deve ser compreendida como absoluta, de modo que não exclui disposição do Código Civil segundo a qual a prova deve ser feita por quem faz a alegação, devendo a parte autora apresentar um mínimo probatório capaz de sustentar o que aduz.

2. Das Ponderações Iniciais a Respeito das Provas Colacionadas e Produzidas nos Autos 2.1.Das Provas Trazidas Pelo Autor

O autor junta aos autos contrato de compra e venda, bem como contrato financiamento bancário, comprovando que adquiriu o imóvel objeto desta demanda com a ré e mediante financiamento da Caixa Econômica Federal (ID nº 11151716 a ID nº 11151876, vide índice).

Também junta cópias de conversas no grupo de condomínio em aplicativo de mensagens, bem como cópias de e-mails e notificações encaminhados à construtora ré, comprovando que comunicou as patologias da construção à empresa, bem como que as reclamações não vinham apenas de seu apartamento (ID nº 11151905 a ID nº 11151957, ID nº 14322272, ID nº 14322273).

Colaciona fotografias e vídeos (ID nº 11152051, ID nº 11152063, no corpo da manifestação de ID nº 14322227, ID nº 14347528, ID nº 14356671, ID nº 14406245, ID nº 14406250, ID nº 14406264, ID nº 14406276, no corpo da manifestação de ID nº 149997927, ID nº 14406296, ID nº 14406312, ID nº 17982905, ID nº 17982943, ID nº 24385183 a ID nº 24386281, ID nº 28999061 a ID nº 28999062). da área privativa do seu apartamento, bem como da área comum do edifício, mostrando, em muitos cômodos do apartamento do autor, e em áreas de convivência comum do condôminos, a ocorrência de infiltrações, inundações internas no chão, pelas paredes, no próprio elevador do condomínio, além da aparição de fissuras, bem como da falha de aderência da cerâmica (cerâmica “fofa”, oca), ou o seu total desplacamento, seja nas paredes, seja no piso

Junta a norma técnica da ABNT que rege o “Revestimento de piso interno ou externo com placas cerâmicas e com utilização de argamassa colante” (ID nº 143222234), bem como a ficha técnica das placas de cerâmica usadas pela ré quando da construção do imóvel (ID nº 19538162), e o memorial descritivo do empreendimento (ID nº 19538704, ID nº 31896599, ID nº 21902231), para consubstanciar sua alegação a respeito do desatendimento às normas técnicas e ao que constou no memorial descritivo quando da execução do empreendimento.

O autor também junta sentenças (ID nº 33427258, ID nº 31859865) que entende análogas ao presente caso; inclusive, uma delas proferida na presente comarca, na unidade judiciária da 4ª Vara Mista de Cabedelo/PB, em face da construtora, neste processo também ré. As referidas jurisprudências foram analisadas dentro de suas limitações, porquanto ainda são passíveis de tornarem-se matéria recursal, não atendem à complexidade desta demanda, tampouco apreciam todas as teses aqui levantadas, ou todas as espécies de provas que aqui foram produzidas.

Ainda junta, no decorrer do caderno processual, comprovantes de pagamento, que atentam os valores que foram despendidos em virtude dos reparos necessários ao imóvel, estes a serem mencionados em tópico

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específico.

Por fim, junta os autos de ação trabalhista ajuizada pelo então arquiteto da construtora em face da ré e, a respeito destes autos, se dará maior destaque aos prints acostados em (ID nº 36559877 - Pág. 44-70), vez que guardam maior relação com o caso em tela.

2.2.Das Provas Trazidas pela Ré

Os documentos de licença emitidos por órgãos competentes ao empreendimento da empresa ré (ID nº 13051722, ID nº 13051722, ID nº 13051853, ID nº 13051868), comprovando que o prédio foi aprovado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo, pela Secretaria de Planejamento do Uso e Ocupação do Solo e da Secretaria de Receita Municipal da Prefeitura de Cabedelo/PB, da Diretoria de Atividades Técnicas do Corpo de Bombeiros Militar.

Acosta comprovantes de pagamento dos pisos da marca Nevado (ID nº 13051887), bem como contrato de prestação de serviço de manutenção de fachadas em geral (ID nº 13052046), este último mediante a qual se compromete a prestadora a remover as fissuras das fachadas norte, sul e leste do edifício dentro do prazo de cinco dias. Matérias jornalísticas que discutem a respeito dos desplacamentos cerâmicos (ID nº 13051938, ID nº 13051951, ID nº 13051986), que atestam tratar-se de um problema abrangente a nível nacional, e comum a outras construtoras.

Junta também o e-mail encaminhado pela esposa do autor (ID nº 130520330), o qual retrata a insatisfação desta última com as declarações proferidas pelos então prepostos da ré. Ao passo que, em ID nº 13051997 , junta boletim de ocorrência, em que consta declaração da preposta da ré de que fora agredida física e verbalmente pela esposa do autor.

Ainda, junta petições de demandas ajuizadas em face da fabricante da cerâmica comprada (ID nº 24392099, ID nº 24392100), comprovando haver outros casos de insatisfação com o material.

2.3.Dos Laudos Periciais Técnicos Particulares e o Laudo Pericial Técnico Judicial

O autor (ID nº 11152187 e ID nº 11152203), assim como a ré (ID nº 191466131), juntaram aos autos o laudo pericial elaborado pelos respectivos experts que contrataram. Os laudos foram analisados dentro de suas limitações, porquanto são provas produzidas unilateralmente.

Ressalte-se que os profissionais que elaboraram os respectivos pareceres foram arrolados como testemunhas, e estes prestaram depoimentos idôneos, completos, técnicos e de boa-fé.

Contudo, ao oportunizar às partes a produção de prova pericial técnica, a ambas também foi oportunizado, de modo igual, o levantamento de quesitos, bem como pedidos de esclarecimento ou complementação, ou até mesmo impugnações ao que constou no laudo. Desta forma, destaca-se a ênfase na análise do laudo de ID nº 22916316.

Em sede de laudo pericial técnico judicial, o expert nomeado para analisar o objeto desta demanda obteve as seguintes conclusões:

1 – A respeito das infiltrações:

“Durante a inspeção no local encontramos diversos pontos de infiltração em alguns ambientes, a saber: quarto casal (muito afetado, com cheiro forte de mofo, paredes e teto com muitas evidências de infiltrações), neste mesmo quarto encontramos infiltrações provenientes da fachada. O mesmo ocorre no quarto do filho onde presenciamos destacamento da pintura bastante evidente, bem como a mesma ocorrência na esquadria. Flagramos infiltrações no entorno das esquadrias, que irradiam de

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cima abaixo das mesmas. Essa situação revela-se por alguns fatores, dentre eles podemos destacar: ausência de “pingadeiras” na fachada do imóvel que tem como objetivo disciplinar as águas das chuvas que escorrem pela fachada, e portanto, protegem as esquadrias. Da mesma forma a má aplicação ou até mesmo ausência de vedação adequada das esquadrias (janelas), ocasiona uma oportunidade para que a água tenha acesso ao interior do imóvel e provoque o estrago que se evidencia nas imagens. O resultado é o destacamento e desgaste da pintura e da massa de regularização do reboco, o surgimento de bolor, mofo e comprometimento dos móveis que compõe o ambiente. Existe uma clara e evidente correlação entre o surgimento de pontos de infiltração no teto do apartamento, em especial nos quartos, sala, banheiro e cozinha, com o acúmulo de água de chuvas na área de lazer do edifício, localizada acima do apartamento vistoriado. Constatamos muitos flagrantes de água empossada e sem destino disciplinado, ou seja: esses acúmulos de água fazem com que a mesma procure pontos sem a devida impermeabilização e, portanto a ocorrência de infiltrações. Também encontramos ao longo da periferia do prédio, em especial na área de lazer e na área do deck da piscina, uma vedação que já sofreu intervenção em seu mastique elástico, e este apresentam ao longo de muitos pontos certas fissuras e destacamento, o que deixa abertura para que a água possa penetrar e ocasionar as infiltrações. Tal situação pode acontecer desde o uso de material inadequado, ou de má qualidade, associados a uma aplicação inadequada do produto, bem como ausência ou até má aplicação da solução de impermeabilização que deve ser realizada sempre em áreas de lazer, em especial logo acima de unidades autônomas. Exemplo ainda mais evidente, encontramos no piso do deck que, apesar de já ter sido trocado, o mesmo apresenta destacamento contundente, e sobre este, podemos presenciar, com uma simples pressão sob o piso, que existe água acumulada embaixo da cerâmica e, portanto, um ponto claro de infiltração que ocorre e tem repercussão ao longo do teto do imóvel vistoriado. Também identificamos no teto de gesso manchas e evidências próximas dos armários planejados da cozinha, entre outros pontos semelhantes”.

2 – A respeito das trincas e fissuras

“[...] O piso cerâmico da fabricante CERÂMICA ALMEIDA, medindo 40 x 40, para o piso e 30x46 para as paredes foram adquirido pela representante comercial duas ocasiões: a primeira em 07/07/2014 (1.152m²) da cerâmica para o piso e a segunda em 12/07/2014 (960m²) da cerâmica para a parede [...]. As patologias encontradas e facilmente perceptíveis espalham-se por vários ambientes do imóvel, repetindo-se sistematicamente. Nosso comentário: Desta feita, já que as patologias não se apresentam em um ponto ou local especifico e, portanto excluindo-se o restante dos demais ambientes, tem-se uma proliferação e repetição das patologias, o que nos remete, em tese, a avaliar algumas possibilidades, são elas:

- Se a aplicação do piso foi inadequada e generalizada, esta comprometeu o desempenho e resultado final e por si só é fator de causa, produzindo o efeito tão indesejado, ou;

- Se estas patologias começaram a surgir logo após a aplicação, podem, em tese, terem surgido pelas anomalias intrínsecas nas peças cerâmicas, muito provavelmente pelo seu processo de fabricação, em particular, daquele lote específico e, portanto maculando o produto final das peças que o compõe, ou;

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- Tanto a aplicação, como a fabricação e desta feita a junção destas duas ocorrências (dentre tantas possibilidades, nos acostamos as que muito provavelmente podem ter ocorrido, já que acontecem na maioria absoluta dos casos, segundo a literatura e experiência na prática), podem ter contribuído (em conjunto) para o surgimento dessas tão corriqueiras patologias. Entendendo, por se tratar de um imóvel residencial (apartamento) e, portanto um tráfego de pessoas muito baixo, como também sua localização (a poucos metros da beira mar) que propicia uma presença constante de umidade no ambiente, bem como a repetição sistemática do evento patológico nas peças, sendo elas praticamente de um mesmo lote fabricado (em tese), o que nos inclina ainda mais para patologias que surgiram decorrentes de defeitos intrínsecos de fabricação das peças, em especial pelo sistema de fabricação denominado via seca, e que tem sido objeto de estudo e debate entre fabricantes, construtores, estudiosos e professores da área. Tais estudos, embora corroborados em diversos casos de destacamento de tais peças cerâmicas depois de sua aplicação, ainda não são conclusivos, tendo em vista as diversas situações de aplicação, ora seguindo todas as recomendações de norma, ora deixando a desejar em um o mais itens recomendados para a sua aplicação. Ainda assim, se faz necessário destacar que no caso em questão o piso ao se destacar apresentar muitas áreas vermelhas a vista, isto nos faz crer que a quantidade de argamassa colante não tenha sido suficiente para recobrir a totalidade da peça, e, por conseguinte pode ser fator que tenha contribuído ainda mais para seu destacamento, até porque percebemos movimentação do piso, com elevação do mesmo e conseguinte quebra e trinca das peças. Tal resultado também foi agravado pelas juntas que não apresentaram uniformidade e espessura recomendada para o tamanho das peças cerâmicas (5 mm), e tal situação atenua o resultado final quando aplicado. Esse conjunto de anomalias aqui relatadas nos permite seguir por essa linha e assim asseverar que essa é a tendência sobre a qual nos acostamos e que ao nosso ver é a mais aceita como causa das patologias encontradas”.

Ainda, quando da resposta aos quesitos levantados pelas partes, atenta-se para o fato de que algumas constatações não foram conclusivas a partir do que fora analisado in loco.

Destarte, das respostas aos quesitos do autor, conclui-se em suma que: (1) é obrigatório o atendimento às normas técnicas; (2 e 3) é possível que a construtora tenha usado o método da dupla colagem na cerâmica, mas o executou de maneira irregular, porquanto não restou preenchida toda a área vermelha da peça; (4) que não foi possível atestar se o piso tinha resistência adequada para não gerar o descolamento das cerâmicas; (5 e 6) que as juntas estão irregulares, porquanto não atenderam ao padrão recomendado do fabricante de cerâmica; (7, 9 e 10) que, para reparar as áreas de infiltrações, foram usados mastiques elásticos, não podendo-se afirmar se foram colocados por cima do rejunte danificado, mas que já estavam com rachaduras, e se mostravam ineficientes na impermeabilização, e na prevenção a destacamento, fissuras e descolamento de placa; (8) que é necessário adentrar ao apartamento do autor para corrigir os problemas de infiltrações da fachada; (11) que o serviço na fachada por si só tem como resultado final uma alteração estética que pode desvalorizar o imóvel; (12) que a aplicação do material de mastique elástico foi pontual onde surgiram as fissuras e rachaduras; (13) que o documento do memorial descritivo é o documento legal que norteia tanto quem compra quanto quem vende, identificando o que será utilizado no empreendimento; (14 e 15) que no memorial consta que as cerâmicas aplicadas seriam das marcas Elizabeth, Pamesa, Portobello ou Incefra, e as cerâmicas aplicadas no imóvel não correspondem às constantes no memorial, tanto em dimensão, quanto em marca e qualidade; (16 e 17) que não necessariamente a cerâmica utilizada é inferior, e a

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aplicação dela, por si só, não implica deduzir que surgirão problemas, mas fato é que a cerâmica utilizada é diferente daquela constante no memorial descritivo, e caso fossem respeitadas as normas e recomendações da fabricante, ter-se-ia um melhor resultado final; (18) que não foi possível verificar se as novas cerâmicas aplicadas na garagem foram instaladas pelo método de dupla colagem, mas que emitiam um som oco; (19) que as cerâmicas da escada foram trocadas pontualmente, contudo, não se faz obrigatória a troca daquilo que não apresenta problemas construtivos.

Quanto aos quesitos da ré, (1) é possível que as fissuras na parede do autor e na fachada do prédio tenham relação com a acomodação da estrutura do edifício; (2 e 3) que, em contrapartida, não é possível afirmar a relação direta de causa e efeito entre as fissuras e o intenso movimento de carros na BR-230, ou a obra de ampliação desta rodovia; (4) que as intervenções vistoriada foram informadas como executadas pela construtora ré; (5 e 9) que não foi objeto de perícia verificar se o edifício foi executado conforme o projeto elaborado por engenheiro, e não obteve acesso às especificações de todos os materiais utilizados, apenas os que estão no processo em si; (6) que o fato de fissurar não quer dizer que tudo está indo mal, mas sim que alguma peça está respondendo aos esforços feitos sobre ela; (7) que ficou evidente que o sistema utilizado no prédio não funcionou como deveria, tendo a estrutura apresentado movimentações, e os componentes elásticos não atenderam adequadamente ao problema das infiltrações; (8) que o acesso ao imóvel deve ser facilitado para que se possa investigar e agir sobre o problema em questão; (10) que existem diversas opções de materiais para aplicar em fissuras e juntas de dilatação, e antes de utilizar quaisquer desses materiais, se faz necessário entender o conjunto das situações que podem provocar tais fissuras e atuar conforme preconiza normas técnicas; (11 e 12) que não sabe mensurar o teor de absorção das placas de cerâmica, vez que não foi feito o teste necessário; (13 e 14) que o sistema atua com os elementos de argamasse, colagem e mão-de-obra, mas também a regularização, rejuntamento, juntas de dilatação, entre outros; (16) que os problemas de infiltração e desplacamento cerâmico não são de difícil reparação, sendo possível solucioná-los com a boa técnica aliada a materiais de qualidade.

Em respostas aos questionamentos das partes, o Sr. Perito reitera suas sustentações e respostas, bem como esclarece que, quanto às normas técnicas, estas não representam obrigatoriedade, mas recomendação.

2.4.Dos Depoimentos Colhidos em Sede de Audiência de Instrução

Fora designada audiência de instrução e julgamento, sede na qual foram colhidos os depoimentos das testemunhas e declarantes arrolados.

Cumpre destacar, inicialmente, que a ré afirma que os depoimentos dos senhores Josivaldo Cipriano dos Santos e Jailson Vilberto de Sousa e Silva por estarem maculados de parcialidade, vez que o primeiro afirmar positivamente, do questionamento do juízo a respeito de ter algum interesse no processo; assim, como o segundo declarou que também ingressará com demanda judicial em face da empresa ré pelas ocorrências no seu apartamento.

Nada obstante o fato de que, às partes de um processo, é facultada a impugnação à prestação de depoimento de terceiro(a) arrolado(a) como testemunha apenas em sede de audiência, e antes de iniciado o depoimento, mediante contradita (Art. 457, § 1º, CPC/15), insta esclarecer ser consabido que, no Direito Brasileiro, não existe o princípio da hierarquia das provas – salvo em situações específicas, cuja prova normalmente é intrínseca à natureza do objeto da demanda –, de modo que o depoimento das testemunhas supracitadas será valorado de acordo com a credibilidade que a prova fornecer como elemento de convicção, e também serão confrontados com as demais provas apresentadas no caderno processual para se buscar a verdade real.

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A partir dos entendimentos dos especialistas que atuaram no presente caso, sejam os experts

arrolados pelas partes, seja o Sr. Perito nomeado judicialmente, a causa do desplacamento das peças de cerâmica, assim como das infiltrações e fissuras do imóvel, não necessariamente se dão por uma causa em específico, mas por um conjunto de fatores, sendo que uns podem contribuir mais do que outros para o aparecimento de patologias na construção.

Do mesmo modo, a execução da construção em atendimento ou não às normas técnicas e às recomendações dos fabricantes dos materiais nem sempre implicaria no insucesso da estrutura, devendo cada espaço ser analisado dentro do que os profissionais chamam de “sistema”.

Contudo, as teses levantadas nos autos, em confronto com já acostadas, os depoimentos testemunhais colhidos e a perícia judicial designada apontam para uma falha na prestação de serviço da ré que acabou por ensejar nessas diversas patologias, evitáveis com o uso dos materiais e metodologias corretos, e reparáveis em tempo mais hábil do que o que estava sendo paliativamente executado. Explico.

3.1.Das Vistorias de Instituições Financeiras ao Imóvel

O primeiro ponto a ser superado diz respeito à tese de que, caso a construção da unidade imobiliária não estivesse dentro do seu padrão regular, não haveria a aprovação da vistoria da instituição financiadora da compra e venda do imóvel.

O autor rechaça esta tese, vez que, ao questionar um morador de uma das unidades recém-adquirida à época, este informou que a vistoria realizada pelo seu banco financiador ocorreu em momento posterior à troca do piso do apartamento (ID nº 14322214 - Pág. 9).

Entendo que o referido ponto carece de relevância a título de análise, tendo em vista que no caso dos autos, a Caixa Econômica Federal está atuando como agente financeiro na intermediação do negócio de compra e venda do imóvel, e não como prestadora de serviços. Nesse sentido, estabelece a Lei nº 10.188/2001:

Art. 4º. Compete à CEF: [...]

Parágrafo único. As operações de aquisição, construção, recuperação, arrendamento e venda de imóveis obedecerão aos critérios estabelecidos pela CEF, respeitados os princípios da legalidade, finalidade, razoabilidade, moralidade administrativa, interesse público e eficiência, ficando dispensada da observância das disposições específicas da lei geral de licitação.

Não destoa deste entendimento a jurisprudência pátria:

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. SFH. VÍCIOS DE CONSTRUÇÃO. PRESCRIÇÃO VINTENÁRIA. SÚMULA 194 STJ. CAIXA SEGURADORA S/A. DANOS NÃO COBERTOS PELA APÓLICE. ATUAÇÃO DA CEF COMO AGENTE FINANCEIRO. RESPONSABILIDADE PELO MATERIAL UTILIZADO OU PELA TÉCNICA DE CONSTRUÇÃO RESPECTIVA. IMPOSSIBILIDADE. [...] 8. Desse modo, concluiu a perícia que, sendo o objetivo do laudo comprovar a existência/inexistência de desmoronamento (total ou parcial) decorrente de causas externas, não cabe falar em orçamento indenizatório, diante da inexistência de ocorrência de sinistro. 9. Não há que se falar, do mesmo modo, em responsabilidade da CEF pela indenização que visa o ressarcimento por vícios na construção do imóvel, pois atuou como agente financeiro, oportunizando a construção e a aquisição do imóvel pelos mutuários, situação na qual deve responder ---única e exclusivamente -- pelas contendas relacionadas ao financiamento, consoante

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entendimento pacificado no âmbito do Superior Tribunal de Justiça (REsp 897.045/RS). A fiscalização empreendida pelos agentes do banco tem o condão tão só de acompanhar o cronograma físico-financeiro das obras para liberação das parcelas do financiamento, jamais ensejando responsabilidade acerca do material utilizado ou da técnica de construção respectiva. TRF5. AC582236/CE, Des. Fed. Paulo Roberto de Oliveira Lima, Segunda Turma, Julgamento: 01/09/2015, Publicação: DJE 03/09/2015. 10. Ao que consta, o imóvel foi livremente indicado pelo mutuário e a fiscalização realizada pela CEF ocorreu apenas em função de seu interesse em que o empréstimo fosse utilizado para os fins descritos no contrato de mútuo, bem como para verificar se o valor do bem declarado pelos contratantes correspondia ao de mercado, além de indicar se o imóvel, a ser negociado, poderia servir de garantia ao financiamento proporcionado. 11. Apelação improvida. (TRF5 -Apelação Civel -: 00073371920114058200, Relator: Desembargador Federal Ivan Lira de Carvalho (Convocado), Data de Julgamento: 28/06/2016, Segunda Turma, Data de Publicação: DJE -Data::01/08/2016 - Página::122).

Portanto, afasto a referida tese.

3.2.Do Desplacamento das Peças de Cerâmica

O autor levanta que as cerâmicas no seu imóvel, bem como nas áreas comuns do seu edifício, vêm desplacando por reiteradas vezes. Defende que esta patologia se deu em razão da aplicação do método incorreto para fixar a pedra de cerâmica no piso – colagem simples, ao invés de colagem dupla –, de a construtora haver utilizado cerâmica cuja marca é de qualidade inferior àquela que consta no memorial descritivo de sua obra, e de não haver guardado a distância mínima devida entre as peças – vez que o rejunte instalado fora de espessura maior que a recomendada, impedindo a peça de “trabalhar”, de se acomodar.

A construtora, por sua vez, não nega o desplacamento, contudo, defende que ocorrera em virtude de tratar-se de um problema mais abrangente, que vêm acometendo outras construtoras por todo o território nacional, e que, portanto, não é algo que tenha dado causa, tratando-se de patologia causada por defeito da peça operado pela fabricante da cerâmica.

Pois bem. Quanto ao método utilizado, o fato incontroverso é que a colagem dupla seria a recomendada para o presente caso, vez que as medidas da cerâmica aplicada superam a dimensão de 900 cm², conforme vislumbra-se em comprovante emitido em Março de 2014 (ID nº 13051887), o qual aponta que a construtora ré adquiriu 960 (novecentas e sessenta) peças de medidas 30x46 (1.380 cm²) e 1.152 (hum mil cento e cinquenta e duas) peças de 40x40 (1.600 cm²), todas da marca Almeida.

Não é unânime, todavia, a conclusão pela inutilização do método de colagem dupla por parte da construtora não é unânime, vez que, o expert arrolado pelo autor afirmou não haver constatado a colagem dupla nas peças que pode analisar, o arquiteto arrolado pela ré afirmou que a colagem fora executada pelo método simples com desempenadeiras de espessuras altas, e o Sr. Perito nomeado para atuar no presente processo afirmou ser possível que a ré tenha utilizado o método de colagem dupla.

Dos depoimentos testemunhais, depreende-se o seguinte:

(expert arrolado pelo autor) que esteve no local objeto do litígio, e que ficou impressionado com o piso, vez que andava pelo apartamento e ecoava um som de oco, o que demonstra o descolamento

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da cerâmica (Minuto 00:54 – Vídeo 005), que, se remover uma placa de cerâmica, é possível vislumbrar onde tem cola e onde não tem (Minuto 01:14 – Vídeo 005), que, inclusive, ao olhar o contrapiso, também se verifica isso, é possível ver se fizeram colagem dupla (Minuto 01:29 – Vídeo 005), que na colagem dupla, na pedra é passada a cola num sentido, e no chão, noutro sentido, e cola-se isso (Minuto 01:33 – Vídeo 005), que, quando pegou a pedra de cerâmica não tinha colagem dupla (Minuto 01:57 – Vídeo 005)

(arquiteto arrolado pela ré) que quando se tem uma desempenadeira com dentes maiores, pela altura, presume-se que ela pega mais cola, e se está automaticamente fazendo uma dupla colagem, porque este método nada mais é do que dar altura de cola (Minuto 00:03 – Vídeo 022), que, se a fabricante da cerâmica estabelece que o rejunte mínimo é de meio centímetro, não tem problema a construtora estabelecer um rejunte de distância menor, somente não podem estar coladas (Minuto 00:42 – Vídeo 022), que a solução adequada para se corrigir rejuntes externos é remover os que estão trincados e substituí-los, ou pelo mesmo material, ou por uma base mais elástica, chamada de “poliuretano” (Minuto 01:30 – Vídeo 022), que nisso ambas as técnicas foram feitas no prédio do autor, mas não pode fiscalizar a execução, e quem a executou foi uma empresa terceirizada ( Minuto 02:00 – Vídeo 022), que no momento da construção da obra foi usado o método da colagem simples, mas com desempenadeiras de espessuras altas, e que a cerâmica do apartamento não exigia dupla colagem (Minuto 03:41 – Vídeo 022)

Da conclusão do Sr. Perito, depreende-se:

2) Se ocorreu dupla colagem nas peças aplicadas no apartamento do Autor?

RESPOSTA: É possível que sim. Entretanto, evidenciamos em peças destacadas do piso que a cola não recobriu toda a extensão vermelha das peças, o que é recomentado, pois com a cola recobrindo toda a extensão da peça temos uma colagem uniforme e ainda mais eficiente.

De fato, é o que vislumbra-se das fotografias e vídeos acostados aos autos pelo próprio autor, onde as cerâmicas apresentam-se desplacadas no piso, e com a área vermelha da peça pouco ou nada cobertas por cola (ID nº 17982864 - Pág. 7, ID nº 17982905, ID nº 17982943), levando à dedução de que, ou fora utilizado o método de colagem simples conforme afirma o arquiteto arrolado pela ré, ou fora utilizado o método de colagem dupla de maneira mal executada conforme destaca o Sr. Perito.

A respeito da distância mínima a ser guardada entre as peças (espessura do rejunte), importante salientar que a ficha técnica da fabricante da cerâmica utilizada no apartamento do autor assim dispõe (ID nº 19538162 - Pág. 21):

“Nota: É extremamente importante seguir as orientações do fabricante quanto a largura da junta, pois a mesma é calculada para, dentre outras funções, suportar as dilatações e movimentações sofridas pela cerâmica e pela estrutura. Caso a junta tenha largura insuficiente, poderá ocasionar o “estufamento” cerâmico e posterior descolamento, uma vez que a cerâmica não terá por onde se expandir. FIGURA 3 Exemplo de estufamento cerâmico, típico de revestimento com largura insuficiente das juntas de assentamento” (vide Figura 3).

A figura demonstrada na ficha técnica corresponde à segunda imagem, inferior à esquerda, do laudo pericial técnico judicial, acostado em ID nº 22916316 - Pág. 17.

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