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EXCLUSÃO DA SUCESSÃO DOS HERDEIROS E LEGATÁRIOS EM CASOS DE INDIGNIDADE

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Academic year: 2021

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EXCLUSÃO

DA

SUCESSÃO

DOS

HERDEIROS

E

LEGATÁRIOS EM CASOS DE INDIGNIDADE

Rita de Cássia Andrade Juíza de Direito - João Pessoa - PB

Sumário:

1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

2. DAS HIPÓTESES DE INDIGNIDADE E SEUS EFEITOS LEGAIS

3. PREVISIBILIDADE DE EXCLUSÃO AUTOMÁTICA DO HERDEIRO INDIGNO ATRAVÉS DE ALTERAÇÃO NA LEGISLAÇÃO PENAL

1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

Em princípio, aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários segundo a lei vigente ao tempo de sua ocorrência. Na sucessão legítima tem capacidade para suceder as pessoas físicas nascidas ou já concebidas. Tratando-se, porém, de sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, as pessoas jurídicas e organização fundacional por constituir-se.

A abertura da sucessão representa, portanto, o início de todo direito hereditário, onde o domínio e a posse da herança transmitem-se, de pronto, aos herdeiros legítimos e testamentários, admitindo-se pelos novos parâmetros do Código Civil, o cônjuge como herdeiro necessário, juntamente com os descendentes e ascendentes.

Leciona Orlando Gomes, que “considera-se indigno o herdeiro

ou legatário que cometeu atos ofensivos á pessoa ou à honra do “de cujus”, ou atentou contra a sua liberdade de testar, reconhecida a indignidade em sentença judicial”. Essa noção doutrinária só se refere à indignidade

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cometida contra o morto, não incluindo a figura do cônjuge ou companheiro, descendente ou ascendente.

O instituto da indignidade tem origem no Direito Romano, onde os bens do herdeiro declarado indigno passavam para a Fazenda Pública. A herança lhe era atribuída, mas a lei o privava do direito hereditário. O quinhão do herdeiro passava para o Fisco e, raramente para outras pessoas que houvesse se destacado por sua compaixão ou piedade para com o “de

cujus”, ou eram nomeados através de disposição de última vontade.

No Direito comum, desenvolveu-se a tendência para atribuir aos herdeiros do indigno a parte que lhe caberia na herança, tendência essa que atravessou o tempo e prevalece até hoje no sistema sucessório brasileiro, tendo-se o indigno como pessoa inexistente ou pré-morta ao titular da herança, mas os seus descendentes sucedem através do mecanismo da representação (art. 1816 do C. Civil).

O fundamento da indignidade reside, para alguns doutrinadores, na presumida vontade do “de cujus”, que excluiria o herdeiro se houvesse a possibilidade de emitir a sua emoção derradeira.

Outras correntes preferem atribuir os efeitos da indignidade, previstos em lei, ao propósito de prevenir ou reprimir o ato ilícito, impondo uma pena civil ao transgressor, independente da sanção penal.

A sanção civil consiste em privar o indigno ao direito de suceder, e em qualquer dos casos de indignidade, será declarada por sentença, cuja ação prescreve em quatro anos, contados da abertura da sucessão.

2. DAS HIPÓTESES DE INDIGNIDADE E SEUS EFEITOS LEGAIS

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A aptidão para suceder é comum aos parentes sucessíveis, legatários e ao cônjuge sobrevivente. Todavia o próprio C. Civil, no Capitulo V, consagrado aos Excluídos da Sucessão, define em seu artigo 1.814, incisos I a III, as condutas consideradas indignas, e a forma de exclusão da herança em qualquer dos casos, verbis:

Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros e legatários:

I- que houverem sido autores, co-autores ou

participes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se

tratar, seu cônjuge, companheiro,

ascendente ou descendente;

II- que houverem acusado caluniosamente em

juízo o autor da herança ou incorrerem em crime contra sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;

III- que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade.

Portanto, os herdeiros que houverem sido autores ou cúmplices em crime de homicídio doloso, em sua forma tentada ou consumada, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, ou contra o cônjuge, companheiro, os ascendentes ou descendentes deste será excluído da sucessão. Além do homicídio ou sua tentativa, o herdeiro que acusar caluniosamente o autor da

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cônjuge ou companheiro, ou, ainda, induzir por meio de ardil ou coação para que o autor da herança seja forçado a testar, alterar ou revogar testamento ou, ainda, inibir o autor de testar quando não desejava fazer, também será sujeito à penalidade imposta pela lei civil, sendo declarado indigno, e de conseguinte excluído da sucessão.

O texto do art. 1.816 do novo C. Civil, estabelece que “são

pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do herdeiro do excluído sucedem, como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão”. Como visto, tanto no regramento antigo de 1916, quanto no atual, os bens que o

indigno deixa de herdar são devolvidos aos seus descendentes como se morto estivesse, isto devido ao caráter personalíssimo da pena, que não passará da pessoa do condenado (CF, art. XLV). Portanto a infâmia do réu não se transmitirá aos seus descendentes como ocorria nas Ordenações Filipinas, nos crimes de Lesa Majestade, onde os parentes do filho indigno também eram excluídos da sucessão, pela maldade do pai.

Vê-se, porém, que representação do herdeiro excluído ocorre tão somente na linha reta descendente, não podendo, em conseqüência, ser sucedido pelos ascendentes ou colaterais, havendo, assim, nestes casos, uma considerável limitação na ordem da vocação hereditária.

Outro reflexo da indignidade é que herdeiro excluído não terá direito ao usufruto ou à administração dos bens que aos seus sucessores couberem na herança, nem á sucessão eventual desses bens (§ único do art. 1.816 do C. Civil). Todavia, se durante o período entre a data da abertura da sucessão e o reconhecimento do ultraje auferiu vantagens do cúmulo, deverá repô-lo ao conjunto dos bens, ante o presumível logro ou maquinação. Devendo ser indenizado das despesas com a conservação dos bens enquanto permaneceram em sua posse, evitando-se, assim, o enriquecimento sem causa (§ único do art. 1.817 do C. Civil).

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De outra parte, o artigo 1.817, do C. Civil, estabelece que “são validas as alienações onerosas de bens hereditários a terceiros de boa-fé, e os atos de administração legalmente praticados pelo herdeiro, antes da sentença de exclusão, mas aos herdeiros subsiste, quando prejudicados, o direito de demandar-lhe as perdas e danos”. De sorte que, se durante o período entre a data da abertura da sucessão e o reconhecimento da indignidade houve alienação de bens a terceiros de boa-fé, esses contratos devem ser respeitados, na sua pureza originária, em homenagem aos princípios da lei entre as partes (lex inter partes) e o da observância do pactuado (pacta sunt servanda).

3. PREVISIBILIDADE DE EXCLUSÃO AUTOMÁTICA DO

HERDEIRO

INDIGNO

ATRAVÉS

DE

ALTERAÇÃO

NA

LEGISLAÇÃO PENAL

Estabelecidos os casos em que pode ocorrer a exclusão dos herdeiros ou legatários da sucessão e seus conseqüentes efeitos, para que o instituto da indignidade tenha eficácia no mundo jurídico, é necessário que o interessado na exclusão, ou o Ministério Público, promovam a competente ação declaratória de indignidade, a qual deverá ser intentada no prazo de quatro anos a partir da abertura da sucessão.

Trata-se de um processo de cognição de rito ordinário, assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ele inerentes, onde o herdeiro poderá, conforme o caso, manter-se numa posição cômoda e regular, achando-se, inclusive, com direito de ingressar em juízo para requerer sua parte na herança, tomando-se, por exemplo, o caso potencialmente divulgado na mídia nacional da universitária Suzane Louise Von Richthofen, que sob a alegação de “estado de necessidade”

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busca obter o volumoso acervo patrimonial deixado pelos pais brutalmente assinados, com a sua confessa participação na execução do crime.

Nesse contexto, a Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania aprovou no último dia 25 de abril, em caráter conclusivo, substitutivo do Projeto de Lei 7418/02, do Deputado Paulo Baltazar (PSB-RJ), que inspirado no caso Suzane Richthofen, obteve junto a CCJ a exclusão automaticamente do direito de herança os autores ou cúmplices de homicídio voluntário, ou de tentativa de homicídio, praticado contra pessoas das quais são herdeiros.

Também foi aprovado o Projeto de Lei 141/03, do mesmo autor, que tramitava em conjunto, e que exclui da herança quem matar ou tentar matar o cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente.

O relator do projeto, Deputado Odair Cunha (PT-MG), inclui no texto dispositivo para impedir que o condenado que já tenha cumprido pena volte a ter direito à herança, pois, como já vimos, embora o Código Civil já estabeleça a previsão para que se dê a exclusão dos herdeiros indignos, no entanto, essa exclusão não é automática. É necessário que a parte interessada ou o Ministério Público, após a condenação criminal, obtenha no juízo cível decisão deferindo o pedido de declaração de indignidade do herdeiro ou legatário.

Segundo o autor, “a finalidade da proposição é reprimir esse tipo de delito considerado de extrema gravidade, cuja proposta foi discutida com juízes e advogados que, conjuntamente, reconheceram a necessidade iminente de preencher essa lacuna na legislação penal”.

Já na opinião do Deputado Mineiro, “é conveniente que se adote medida legislativa para tornar regra essa exclusão, independentemente de qualquer pedido de interessado ou do Ministério Público, obtendo-se, ainda ganho no que se refere à economia processual. Assevera, ainda, que “seria uma injustiça a concessão de herança a quem

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tenha planejado um crime contra parente”. Esse também é o raciocínio do Deputado Maurício Rands (PT-PE), que participou ativamente da discussão do projeto, o qual entende que essa alteração no Código Penal, resultará em maior celeridade à Justiça nas questões relativas a exclusão da herança.

Ressalte-se, por oportuno, que a aprovação da exclusão automática da herança para assassino de parente veio em boa hora, pois é grande a perplexidade da sociedade diante da evolução de crimes dessa natureza, nos levando a ponderar sobre os valores morais que infelizmente estão sendo depreciados e colocados em posição inferior aos valores patrimoniais.

Em maio de 2004, o publicitário Luiz Rugai e sua mulher, Alessandra, foram assassinados a tiros em casa, havendo fortes indícios de envolvimento do filho, Gil, no crime, para encobrir desfalque na empresa da família e, após passar dois anos preso, foi libertado no último dia 11, graças a uma decisão de ofício da 2a

. Turma do STF, no HC 86346, sob o

fundamento da ausência de justificativa para a sua segregação cautelar. Há poucos dias, o menor R.B. da S. de 17 anos, confessou ter estrangulado a mãe, Zeli Boeira de Abreu, 33, após uma discussão por causa do fraco desempenho do garoto no colégio.

De maneira que, diante da torpeza e leviandade desses crimes, não é difícil perceber a oportunidade e conveniência da alteração na legislação penal, viabilizando de forma efetiva a exclusão do herdeiro indigno do rol sucessório, restando a aprovação do Senado e a sanção integral da Presidência da República, por ser favorável ao interesse público.

Mas as opiniões se dividem entre penalistas, civilistas e demais operadores do direito, havendo aqueles que entendem que enquanto não

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poderá promover a exclusão definitiva do indigno. O Professor Damásio de Jesus enfatiza que “a condenação criminal do filho por homicídio doloso contra o pai repercute de forma absoluta na esfera jurídica, impedindo a sucessão dos bens”.

Entendemos que a partir da condenação no juízo de primeiro grau, o juiz de família ou sucessões já pode determinar a exclusão do herdeiro condenado, não havendo necessidade de aguardar o trânsito em julgado da sentença condenatória, pois uma interpretação contrária afastaria o efeito automático da condenação penal, esbarrando-se, nos mesmos obstáculos de procedibilidade para a exclusão do herdeiro no juízo sucessório.

Não obstante o artigo 5º, inciso LVII, categorize de forma extravagante que “ninguém pode ser considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença condenatória”, há que se reconhecer que o assassinato em família por motivo repugnante, vil, na sua maioria motivado por interesses patrimoniais, suscita indignação moral à coletividade, e ultrapassa o pensamento do legislador constituinte, provocando uma nova reflexão ou consciência no espírito dos elaboradores e aplicadores do direito, a justificar a exclusão do herdeiro indigno sem delonga ou adiamento.

Maio de 2006 Rita de Cássia Andrade

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