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LÍNGUA ESCRITA: PORTUGUÊS/SINAIS (SW)

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Academic year: 2021

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LÍNGUA ESCRITA: PORTUGUÊS/SINAIS (SW)

Bianca Ribeiro PONTIN Erika Vanessa de Lima SILVA1 ABSTRACT: This article is an attempt to exemplify how the writing of sign language has been applied in Brazil, in some institutions, since 1996. Languages are symbolic representations, being them oral or signed, as well as their writing. For that reason, deaf children, on writing, express their ideas graphically through a system in which language is the sign language. It has been observed that the main difficulty of the deaf, when writing an oral language, is its syntax, because of the grammatical structure of oral languages is different from signed languages. During the process of learning an oral language, deaf children transfer to their new language the system of meanings that they already have, which is the sign language and in this way they continue developing it and having awareness of its linguistic operation. Sign language writing contributes to the register of everything that is experienced by the Deaf; with the possibility of the creation of a sign language dictionary in different countries.

KEYWORDS: writing, symbolic representation, meaning construction, literacy

Introdução

Este artigo visa mostrar a existência de outra escrita, a escrita dos surdos chamada de escrita de sinais ou escrita da língua de sinais.

Antes se faz uma breve conceituação do que é a escrita. Normalmente a escrita é a representação dos sons articulados na fala, em forma de sinais gráficos com o objetivo de conservá-la ou transmiti-la. Porém antes da fala há idéias e palavras, estas possuem fonemas. Assim, a fala acontece antes de a pessoa estar alfabetizada.

Na alfabetização, o indivíduo aprende a escrever proximamente à oralidade, pois é a forma natural de passar as representações dos sons para o papel. Com o tempo de escolarização e o letramento, o indivíduo vai conhecendo as regras da gramática, os diferentes gêneros, as normas, outros atributos e assim vai aprimorando a escrita com características próprias distanciando-se um pouco da oralidade. Sobre a escrita, refere-se a qualquer língua e no caso do país como o Brasil, a língua é portuguesa.

Não iremos aprofundar sobre a leitura, pois este trabalho focará somente sobre a escrita existente para os surdos e o quanto ela é significativa.

Surdos, são pessoas com deficiência auditiva e que utilizam a língua de sinais como meio de comunicação e expressão; representam uma minoria lingüística e cultural. Existem comunidades de surdos em todos os países e que cada país tem a sua própria língua de sinais.

Estas línguas de sinais são denominadas línguas de modalidade gestual-visual ou espaço-visual, pois a informação lingüística é recebida pelos olhos e produzida pelas mãos juntamente com o rosto através de expressões faciais e movimentos do corpo. No Brasil, a língua de sinais é a LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais; língua recentemente oficializada em âmbito nacional sob a lei n° 10.436 de 24 de abril de 2002.

1 Bianca Ribeiro Pontin: Graduanda do Curso Superior de Letras/LIBRAS, pólo UFSM, turma 2006. Professora

de LIBRAS para ouvintes em empresas.

Érika Vanessa de Lima Silva: Formada em Pedagogia – Educação Infantil e Anos Iniciais pela Universidade Luterana do Brasil- 2009; Graduanda do Curso Superior de Letras/LIBRAS, pólo UFSM, turma 2006. Professora de LIBRAS-EAD na ULBRA e professora substituta na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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Os principais articuladores da língua de sinais são as mãos que se movimentam no espaço em frente ao corpo ou em algum ponto de articulação no corpo, articulando sinais em determinadas locações neste espaço. Um sinal pode ser articulado com uma ou duas mãos, tanto com a mão direita ou com a mão esquerda, porém os sinais que são articulados somente com uma mão, normalmente são produzidos com a mão dominante, que seria a mão direita para os destros e a mão esquerda para os canhotos. Já os sinais que são articulados com as duas mãos, ocorrem e apresentam algumas restrições em relação ao tipo de interação e ou utilização entre ambas as mãos.

A língua de sinais é uma língua completa, com estrutura independente da língua portuguesa, ou seja, da língua falada. Conhecem-se os componentes ou unidades ou parâmetros do sinal que isoladamente não possui o seu significado, são elas: configuração de mão (CM); locação da mão (LM); movimentos da mão (M); orientação da mão (OM) e expressões não-manuais (ENM) que significam expressões faciais e corporais.

Todos esses componentes formam os sinais na língua de sinais. Cada unidade tem seu caráter distintivo assim como na língua oral, o que pode ser observado na distinção do significado dos fones das palavras como, por exemplo, bala, cala, fala, gala, mala, rala, sala; isso mostra que a troca de apenas um dos parâmetros muda o significado dos sinais.

Como em qualquer língua, a complexidade se faz presente e para abstrair o significado delas são necessários os contextos discursivos.

A escrita de sinais

Quando se refere à escrita de sinais ou escrita da língua de sinais, é necessariamente aprender a ler e escrever em LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais). A escrita de sinais vem sendo aplicada no Brasil em algumas instituições, desde 1996, trazida pela pesquisadora surda Marianne Stumpf. Esse sistema permite que a criança construa melhor a função semiótica, ou seja, tem a possibilidade de contar com uma representação mental indispensável para seu desenvolvimento cognitivo.

Na verdade, as línguas são representações simbólicas, quer seja uma língua oral ou uma língua de sinais, assim como suas escritas. Por isso, a criança surda, ao escrever, expressa suas idéias graficamente por meio de um sistema cujo uso supõe a compreensão da sua forma de construção que no caso é a língua de sinais.

A principal dificuldade dos surdos, quando escrevem em uma língua oral, é a sintaxe devido à estrutura gramatical de a língua portuguesa ser diferente a da língua sinalizada (STUMPF, 2007) e isso explica o porquê a maioria dos surdos escreverem “português errado”, quando na verdade eles escrevem de acordo com a língua sinalizada.

Ao aprender a língua portuguesa, conforme Stumpf:

A criança transfere para sua nova língua o sistema de significados que já possui na sua própria língua e quando ela aprende a ver sua língua como um sistema específico entre muitos, passa a conceber seus fenômenos dentro de categorias mais gerais e isso leva à consciência das operações lingüísticas. Isso vai ser mostrado ao longo deste artigo. (STUMPF, 2005: 45)

Foi dito que a escrita de língua oral é representada pelos fonemas e então a escrita de sinais é representada graficamente pela configuração de mão, movimentos e locação juntamente com outros símbolos para orientação da mão e expressão não-manual caso seja necessário. Lembrando que a expressão facial e os movimentos do corpo são muito importantes para as línguas de sinais e também podendo ser representada na Escrita de Sinais.

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Como por exemplo, observe as figuras:

A

B

C

Figura 1 – Exemplo na escrita de sinais As estruturas que compõem a escrita da língua de sinais são: (a) Orientações e posições de mãos

(b)Tipos de contatos (c) Configurações de mãos (d)Movimentos de dedos

(e) Movimentos de braços e apontação (retos, curvos, flexões-rotação, circulares) (f) Expressões faciais

(g)Localizações de símbolos da cabeça (h)Movimentos de cabeça

(i) Orientações de olhar (j) Movimentos de corpo (k)Símbolos de pontuações (l) Dinâmicas de movimentos

A escrita da língua de sinais, assim como a escrita da língua oral, possui suas regras, suas formas de escrever e tem também suas modificações ao longo do tempo. O interessante é que a escrita de sinais também denominado como SignWriting (SW) foi inventada por Valerie Sutton em 1974 como sistema para anotar os movimentos da dança e não especificamente para a língua de sinais2.

A experiência da escrita de sinais nas escolas

A pesquisadora Stumpf apresentou resultados positivos sobre a aplicação desta escrita de sinais para os alunos nos anos iniciais do ensino fundamental e constatou que os alunos que sabem bastante a língua de sinais têm muita facilidade para a escrita de sinais.

As escolas de surdos precisam colocar rapidamente a escrita de sinais no currículo, pois suas aulas proporcionam oportunidades importantes para os surdos de aprender também língua de sinais. Exercitamos muitas aprendizagens de sinais quando procuramos pela melhor grafia de um sinal. (STUMPF, 2002: 65).

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Para aprofundamento deste assunto: http://www.signwriting.org/ e

http://www.signwriting.org/library/history/hist010.html com texto em português escrito por Ronice Müller de Quadros.

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Para o usuário natural da língua de sinais, no caso as crianças surdas, a compreensão da estrutura da língua acontece naturalmente no contato com a língua. As crianças surdas têm mais interesse na escrita de sinais, por que representa a própria língua da criança surda e ela se sente mais feliz em ser alfabetizada utilizando a própria escrita de sinais.

Aqui no Brasil, já nos acostumamos com a questão da língua de sinais como primeira língua e a língua portuguesa na modalidade escrita como segunda. Porém a pesquisadora Stumpf, realizou um trabalho onde mostra a escrita da língua de sinais como a primeira língua escrita dos surdos.

Crê-se que a comunidade surda que utiliza língua de sinais merece ter também sua escrita. Crianças devem escrever sinais uma vez que usam língua de sinais.

Os surdos precisam escrever nas suas línguas de sinais. Precisam intercambiar através de grafismos suas expressões lingüísticas, como os ouvintes o fazem utilizando os diferentes alfabetos inventados para as diversas línguas orais. Todos sabem a importância da invenção da escrita para o desenvolvimento da cultura da humanidade. Os surdos e as comunidades surdas também precisam dar esse salto [...] O alfabeto da escrita da língua de sinais pode ser comparado a outros alfabetos que são usados para escrever outras línguas, por exemplo, o alfabeto romano. Esse alfabeto é utilizado para escrever várias línguas faladas. No entanto, cada língua pode adicionar ou subtrair alguma de seus símbolos. O mesmo conjunto de símbolos é usado para escrever diferentes línguas, tais como o inglês, o português, o francês, o italiano. O alfabeto romano é internacional, mas a escrita de cada língua varia. (STUMPF, 2007: 03)

Alfabetização pela escrita de sinais

Na alfabetização de crianças ouvintes, as crianças aprendem o alfabeto e vão escrevendo sílabas de acordo com o que ouve e fala. Por isso é normal as crianças errarem as grafias porque escrevem conforme o som se apresenta. Com o tempo de escolarização, de letramento, de práticas de leituras e escritas, as crianças vão conhecendo as regras próprias da gramática e da ortografia, dos diferentes gêneros e aprimorando a escrita.

O inicio da alfabetização na língua de sinais, igualmente como acontece com ouvintes, inicia-se na família, mas esta muitas vezes não sabe LIBRAS e não tem o conhecimento do que se precisa para utilizar a língua dentro de casa, estimulando a comunicação e o aprendizado de novos vocábulos.

Por exemplo: para o surdo, o contato e acesso à informação em casa se dão através da televisão com o uso da legenda (closed caption) ou com intérprete de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais). Já para os ouvintes, esta comunicação com a família já é algo comum e habitual visto que todos conversam e recebem informações de diferentes meios.

No processo da alfabetização dos surdos, a ação e ou o efeito é um pouco diferente. A língua de sinais é a língua natural do surdo, a sua primeira aquisição e base para todo o posterior aprendizado e nem todas as crianças ao entrar na escola já sabe essa língua. Na escola a alfabetização na escrita de sinais pode ser desenvolvida, pois possui semelhança visual à língua de sinais podendo ser gradualmente adquirida de modo natural, através da utilização dos códigos de comunicação e do processamento do aprendizado que se inicia com o alfabeto.

Após isso, se inicia um processo individual de construção da gramática da LIBRAS a qual apresenta cinco aspectos: expressões não manuais, movimento, configuração de mão,

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localização e orientação da mão que o individuo se apodera gradativamente através da prática e estímulo a utilização da Língua.

Com a alfabetização em língua de sinais, dá-se inicio à alfabetização na língua portuguesa, neste momento é importante a introdução da escrita da língua de sinais como apoio a esta alfabetização, visto que para alunos surdos o visual torna – se necessário. Caso o processo seja invertido, mesmo que o aluno desenvolva habilidades de codificação e decodificação, apresentará muita dificuldade para atribuir sentido ao que lê.

A relação dos surdos com a língua de sinais é a mesma do ouvinte com a língua materna, ele não tem consciência das estruturas gramaticais de sua língua, mas as usa corretamente, e adquire fluência sem esforço. Para aprender uma língua estrangeira o aprendiz ouvinte só alcança o resultado positivo depois de um estudo árduo e demorado. Já o surdo acresce, a dificuldade natural de aprender uma língua estrangeira, o fato de não ter o mapeamento oferecido pela fala e o fato, ainda mais relevante, de não possuir, em grande parte das vezes, uma língua de sinais consistente. (STUMPF, 2005:45)

Baseado em experimentações e pesquisas de Stumpf, no ano de 2008 e 2009, faz-se uma nova observação para o projeto de escrita da língua de sinais com a turma de Educação Infantil com sete alunos e de terceira série do Ensino Fundamental com nove alunos, todos os alunos surdos da escola Frei Pacífico3. Os surdos em geral apresentam um déficit de informações sobre o que acontece no dia-a-dia, em vista da dificuldade que a maioria encontra com a leitura e escrita do português e também pelo fato da maioria dos pais serem ouvintes e não se comunicarem através da língua de sinais.

Pela observação das situações em sala de aula é visível que a maioria dos alunos apresentasse grande dificuldade para compreender palavras e textos do português. Estes alunos apresentavam total dependência da professora em cada palavra para entenderem os significados.

Com isso foi evidente que os alunos precisam aprender primeiro a escrita da língua de sinais, a qual servirá de apoio para que venham a assimilar melhor o português e possam vir a realmente entender um texto escrito. Porque é um grande sofrimento para o aluno surdo ser obrigado a entender a escrita da língua portuguesa sem primeiro uma base de escrita na sua língua materna. Introduzir a escrita de sinais e o aprendizado posterior do português pode ajudar a estimular o aluno auxiliando em seu desenvolvimento ao fazer uma comparação entre os textos na escrita de sinais e em português. Tal comparação instiga o aluno a estimular seu raciocínio.

Os alunos, por exemplo, copiam do quadro e escrevem no caderno a palavra “casa” em português, mas com o tempo não conseguem lembrar-se do significado. Com a escrita de sinais utilizada como suporte, ajuda-o a lembrar do significado.

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Figura 2 – Escrita da palavra casa na Língua de Sinais

Outro exemplo: conta-se aos alunos sobre Páscoa em texto escrito na língua portuguesa. Durante a leitura do texto, pergunta-se para os alunos sobre a palavra JESUS e os mesmos desconhecem. Mostra-se a eles o sinal de JESUS e eles reconhecem, para confirmar mostra se a imagem de Jesus, o reconhecimento foi ainda maior.

Posteriormente foi colocado no quadro o texto em escrita da língua de sinais, os alunos entenderam e passaram a comparar com o texto em língua portuguesa e assim faz-se a construção de conhecimento das palavras da língua oral, aumentando o vocabulário lingüístico.

Figura 3- Texto escrito em português e em sinais

Entre os especialistas em educação de surdos é consenso que o uso da língua de sinais como forma de comunicação dentro da sala de aulas é condição indispensável para que a educação aconteça, pois, sem interação efetiva entre aluno-professor, professor-aluno e aluno com seus pares, o processo educativo não pode avançar.

No entanto, o impacto que a língua de sinais possa ter no letramento de crianças surdas ainda foi muito pouco explorado por pesquisadores de educação; e o fato de que, se a educação bilíngüe usa duas línguas, aprender a escrever nas duas línguas seria uma conseqüência lógica para a criança surda. Isto começa a ser pesquisado nas escolas e classes para surdos.

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Assim como a escrita de língua de sinais não tem ainda reconhecimento formal na educação dos surdos, também a língua de sinais tem muito pouco espaço nos currículos das escolas e classes especiais.

A escrita visual direta da língua de sinais Sign Writing pode levar ao bilingüismo pleno. Enquanto isso, pelas dificuldades de ensinar que apresenta e a necessidade que representa como instrumento de inserção social, o português escrito poderá contar com um referencial lingüístico consistente na L1 que possibilitará trabalhar a L2 com propriedade. (STUMPF, 2007:14)

É de suma importância os alunos surdos o acesso a duas línguas, a língua portuguesa e a língua de sinais, pois isso possibilita a construção do sujeito surdo enquanto cidadão na sociedade, mas isso poderá ser bem alcançado quando a escrita do português for introduzida depois da escrita de sinais, estimulando assim leitura e escrita.

Percebe-se que quanto maior o estimulo visual dentro da sala de aula, mais rápido será o desenvolvimento dos alunos. A configuração das mãos com o movimento e a locação dos sinais apresentada repetidamente, é base para a criança surda se apropriar dos significados e mais tarde dos sentidos abstratos. A iconicidade em muitos significados na língua de sinais é aproveitada para facilitar o aprendizado da criança surda.

Crianças surdas, de famílias ouvintes, pouco ou nada têm de acesso às conversas, às narrativas de histórias, e às informações compartilhadas no dia a dia. Quando chegam à escola, diferentes das crianças ouvintes, parecem ter pouca bagagem de conhecimento de mundo. Conforme Karnopp (2004, p. 35): “A escola deveria ser uma fonte importante de conhecimento para as crianças surdas, de pais ouvintes, mas ainda são poucas as que adotam a língua de sinais na educação de seus alunos.”

Dentro do contexto escolar é conhecida a importância desta escrita, pois é comum os alunos esquecerem as palavras da língua portuguesa. A escrita da língua de sinais pode facilitar muito a vida de alunos surdos. Enquanto os ouvintes nas séries iniciais já conseguem ler e entender o significado de muitas palavras para o Surdo isso não ocorre.

Segue exemplo abaixo:

Figura 4 – Exemplo de texto escrito em língua portuguesa

Para os alunos ouvintes a leitura deste texto se dá de maneira mais fácil, pois eles contam com a oralidade para ajudar na compreensão das palavras. Já os alunos surdos por não

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terem a oralidade não compreendem de maneira tão fácil, visto que seu vocabulário acaba sendo mais restrito.

Figura 5 – Texto em língua portuguesa e em língua de sinais

O uso do SW juntamente com a lingua portuguesa facilita a compreensão dos alunos surdo e lhes dá uma leitura autonoma, visto que solicitarão menos o auxilio do professor e utilizarão o SW como apoio tornando o aprendizado natural sem sentimento de obrigação, longe de barreira linguistica e/ou sentimento de incapacidade.

Alunos de Letras/Libras: prós e contras sobre a escrita da língua de sinais: divergências de opinião

Fazendo uma breve retrospectiva sobre a educação de surdos chegamos ao Congresso de Milão em 1880 onde lá foi votada a forma de comunicação e aprendizagem dos alunos surdos. A maioria, em torno de cento e quarenta ouvintes, votou a favor do oralismo, enquanto seis surdos votaram contra. Essa decisão influencia até os dias atuais a aquisição da língua portuguesa por parte dos alunos surdos, visto que muitos deles não conseguiam a compreensão do que estava sendo dito o que fez com que tivessem dificuldades e receio da língua.

Comparando os dias atuais ao congresso de Milão, encontramos o mesmo embate. Em uma turma de somente alunos surdos do curso de Letras/LIBRAS, situada no pólo da Universidade Federal de Santa Maria, no ano de 2007, levantou-se a questão da escrita da língua de sinais; se esta deveria ser ensinada nas escolas de surdos.

As opiniões foram diversas, mas cerca de 80% dos alunos colocaram que são a favor do ensino e 20% dos alunos se colocaram contra. No ano seguinte esse percentual passou a ser 50% a favor e 50% contra. Em 2009 quando questionados novamente 80% se colocou a favor e somente 20% contra.

Aqueles que são contra alegaram que tem receio de que os alunos rejeitem a língua portuguesa e também a perda de tempo no ensino escolar. Outro motivo é da dificuldade dos alunos adultos aceitarem este tipo de escrita pela complexidade desta, pois são símbolos a mais para escrever e também por serem acostumados a escrever o português.

Os favoráveis lembraram-se da possibilidade e importância de registrar os sinais de batismo, o qual é o sinal criado para a pessoa, pois na comunidade surda, ao apresentar ou comentar ou falar da pessoa, ao invés de soletrar datilologicamente o nome da pessoa, é dado um sinal que dura por toda a vida.

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Hoje já tem disciplina de escrita da língua de sinais em alguns cursos de graduação nas várias Universidades Federais do Brasil, por exemplo, em curso de licenciatura de Letras/LIBRAS utiliza-se esta disciplina em quinze pólos espalhados pelo Brasil, multiplicando o sistema de escrita e difundindo em várias comunidades brasileiras.

Mesmo a despeito de mais de um século de proibição de seu uso nas escolas de surdos, preconceito e marginalização por parte da sociedade como um todo, as línguas de sinais resistiram, demonstrando a necessidade essencial de sua utilização pelo povo surdo. (STROBEL, 2008: 49)

Recentemente alguns livros de literatura surda apresentam a escrita da língua de sinais como: Uma menina chamada Kauana (1997), Rapunzel Surda (2003), A cigarra surda e as formigas (2004), o menino, o pastor e o lobo (2006), Cinderela Surda (2007), Feijãozinho Surdo (2009), Manoelito: O palhaço tristonho (2009); a maioria desses livros são mais focados para público infanto-juvenil.

Literatura surda significa que quaisquer livros de literatura adaptados para a cultura surda ou também quaisquer histórias que têm a língua de sinais, a identidade e a cultura surda, pois é importante o estímulo e o contato da criança com esse tipo de literatura para o conhecimento, construção e identificação do sujeito surdo.

A Escola Estadual de Educação Especial Dr. Reinaldo Fernando Coser, localizada na cidade de Santa Maria no estado do RS tem usado diretamente a escrita da língua de sinais, desde 2001, e faz parte do currículo da disciplina de língua de sinais. É utilizada nas séries iniciais como Educação Infantil até o Ensino Médio.

Nesta escola a escrita da língua de sinais foi introduzida, desde 2001, após o curso de formação de instrutor de LIBRAS, qualificado pelo FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), no qual o professor Fabiano Souto ensinou o básico desta escrita.

Graças à tecnologia, a escrita da língua de sinais também pode ser utilizada no computador com o software chamado de SW-Edit4. Pensa-se que no futuro a escrita da língua de sinais pode chegar até aos celulares e/ou outros programas de computadores e outros novos meios de comunicação.

Para finalizar, deixa-se um refletir sobre a utilização desta alternativa eficaz para a alfabetização. Um pensar nesta alternativa para se fazer registros de pessoas surdas que marcaram a história; e além do registro da cultura, da literatura e de tudo que é vivenciado pelos surdos.

Um pensar desta alternativa para os analfabetos se comunicarem já que surdos analfabetos “falam” com as mãos.

[...] pode registrar qualquer língua de sinais sem passar pela tradução da língua falada. O fato do sistema representar unidades gestuais faz com que ele possa ser aplicado a qualquer língua de sinais do mundo. Para usar o SignWriting, é preciso saber bem uma língua de sinais. Cada língua de sinais vai adaptá-lo à sua própria ortografia. (STUMPF in LODI et all: 62)

Deixa-se em aberto a possibilidade de construir dicionários de línguas de sinais de diversos países. Uma possibilidade também de auxiliarem na aprendizagem da língua de sinais para os alunos, ou não, e ouvintes. A escrita de sinais, assim, deve ser ensinada, estimulada e participante do currículo escolar do aluno surdo. Afinal, se o aluno ouvinte

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aprende a escrita da língua portuguesa como parte indispensável do aprendizado, porque o aluno ouvinte não tem o aprendizado equivalente de sua língua: a língua de sinais?

Referências

BOLDO, Jaqueline & OLIVEIRA, Carmem Elisabete . A cigarra surda e as formigas. Erechim-RS: CORAG (Companhia Rio-grandense de Artes Gráficas), 2004.

KARNOPP, Lodenir Becker; PEREIRA, Maria Cristina da Cunha. “Concepções de leitura e de escrita e educação de surdos”. In: LODI, Ana Claudia Balieiro et all. Leitura e escrita no contexto da diversidade. Porto Alegre: Editora Mediação, 2004.

KUCHENBECKER, L. G. O Feijãozinho Surdo.Tradução para escrita da língua de sinais: RIZZI, Angélica. Manoelito: O palhaço Tristonho. Porto Alegre: E. do Autor, 2009. RIBEIRO, Sergio. O menino, o pastor e o lobo. Taboão da Serra: Casa da Cultura Surda, 2006.

SILVA, E.V.L. e LARA, A.P.G. Canoas/RS: Editora da ULBRA, 2009.

STUMPF, Marianne Rossi. Aprendizagem da escrita de língua de sinais pelo sistema de SignWriting: língua de sinais no papel e no computador. Tese de Doutorado. Porto Alegre, UFRGS, 2005.

______. Escrita de Sinais I. Apostila do Curso de Licenciatura Letra/LIBRAS da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, UFSC: 2007.

______. Escrita de Sinais III. Apostila do Curso de Licenciatura Letra/LIBRAS da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, UFSC: 2009.

______. “Transcrições de Língua de Sinais Brasileira em Sign Writing”. In. LODI, Ana Balieiro et all. Letramento e minorias. Porto Alegre: Mediação, 2009.

SUTTON, Valerie. Um sistema de escrita para língua de sinais. Tradução de Mariane Rossi Stumpf. Florianópolis:[s.n.], 2007.

STROBEL, KARIN. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2008.

______. Uma menina chamada Kauana. Tradução: SUMPF, Marianne R.; COSTA, Antonio Carlos da Rocha. Rio de Janeiro: FENEIS, 1997.

SILVEIRA, C. H.; ROSA, F. S.; KARNOPP, L. B. Rapunzel Surda. Canoas/RS: Editora da ULBRA, 2003

Referências

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