Ordem dos Advogados do Brasil
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA FEDERAL
CRIMINAL DE FOZ DO IGUAÇU - PARANÁ.
Autos n.º 5005325-03.2016.4.04.7002
A ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL- SEÇÃO DO
PARANÁ, serviço público federal independente, com personalidade jurídica
regulamentada pela Lei 8.906/94, situada na Rua Brasilino Moura, n° 253, Ahú,
Curitiba,
Paraná,
através
de
seus
representantes
legais,
vêm
respeitosamente, perante Vossa Excelência, nos termos do art. 49, § único,
da Lei 8.906/94, expor e requerer o seguinte:
1 – DOS FATOS
Os advogados Willy Costa Dolinski (OAB/PR 28.302) e
Raimundo Araújo Neto (OAB/PR 14597) requereram perante esta Seccional
assistência nesta demanda, para garantir o cumprimento das prerrogativas
profissionais, conferidas pela Lei sob nº 8.906/94.
Relata o MPF que os achados de auditoria
apontaram irregularidades perpetradas pelos advogados assistidos, as quais
justificaram a sua inclusão nesta demanda, pois inexigiram licitação fora das
hipóteses previstas em lei, incorrendo nas penas do artigo 89, combinado
com o artigo 99, § 1º, da Lei 8.666/93.
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Desta forma, o requerimento foi deferido.
2. DA INTERVENÇÃO DA OAB
Assim, se observa que o tema é muito relevante de
modo a justificar a habilitação da OAB/PR como assistente do presente feito,
notadamente em decorrência de sua finalidade institucional, conforme
prevê a Lei nº 8.906/94, a saber:
Art. 44. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), serviço público, dotada de personalidade jurídica e forma federativa, tem por finalidade:
I - defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado democrático de direito, os direitos humanos, a justiça social, e pugnar pela boa aplicação das leis, pela rápida administração da justiça e pelo aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas;
II - promover, com exclusividade, a representação, a defesa, a seleção e a disciplina dos advogados em toda a República Federativa do Brasil.
(...)
A OAB pode de acordo com o art. 49 da Lei
8.906/94, intervir em processo em que sejam acusados ou ofendidos os
advogados. Isto significa que a OAB tem interesse de atuar nos casos que
envolvam direitos e garantias de seus membros. Vejamos:
“Art. 49. Os Presidentes dos Conselhos e das Subseções da OAB têm legitimidade para agir, judicialmente e extrajudicialmente, contra qualquer pessoa que infringir as disposições ou fins desta lei.
Parágrafo único. As autoridades mencionadas no caput deste artigo têm, ainda, legitimidade para intervir, inclusive como assistentes, nos inquéritos e processos em que sejam indiciados, acusados ou ofendidos os inscritos na OAB”.
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Outrossim, o artigo 54 do EAOAB fixa que a OAB
PODE REPRESENTAR EM JUÍZO INTERESSES INDIVIDUAIS DOS ADVOGADOS,
vejamos:
“Art. 54. Compete ao Conselho Federal:
I - dar cumprimento efetivo às finalidades da OAB;
II - representar, em juízo ou fora dele, os interesses coletivos ou individuais dos advogados; [...]”
Desta forma, tal assistência não se confunde com a
assistência simples do CPC, uma vez que, entre outras situações, a OAB não
é substituta processual dos advogados nos processos. Nosso interesse é,
portanto, apenas a defesa das prerrogativas profissionais dos advogados.
Assim, conforme acima demonstrado uma das
finalidades da OAB é promover a defesa dos advogados (art. 44, II do EOAB),
atuando, judicial ou extrajudicialmente, contra pessoas que violem nosso
Estatuto (art. 49, § único) – inclusive como assistente - podendo representar
em juízo interesses individuais dos advogados (art. 54, II do EOAB).
Em que pese o advogado exercer a advocacia
pública que está prevista nos artigos 131, 132 e 134 da Constituição Federal e
contar com diplomas legais específicos, o ponto comum com os advogados
particulares, é que todos tratam da atividade de advocacia. Inteligência
compreensiva do artigo 133 da CF segundo o qual “O advogado é
indispensável à administração da Justiça, sendo inviolável por seus atos e
manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.”.
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A advocacia pública, exercida pelo mencionado
advogado, é espécie do gênero advocacia, porque integra a administração
da justiça e não tem natureza e nem atribuições da Magistratura ou do
Ministério Público. Como os demais advogados, seus integrantes postulam
em Juízo ou realizam serviços de consultoria, assessoria ou direção jurídicas,
que são justamente as atividades de advocacia tipificadas no art. 1º do
Estatuto da Advocacia e da OAB.
Sobre o tema, a lição de Paulo Lôbo (Comentários
ao Estatuto da Advocacia e da OAB, 4ª ed. rev. e atual. – São Paulo:
SARAIVA, 2007, PP. 38):
O Estatuto [Lei n. 8.906/94] não disciplina apenas a advocacia privada. Os arts. 131 a 134 da Constituição têm de ser interpretados de modo sistemático, integrado e harmônico. A Constituição não cuida de atividades paralelas e excludentes, umas de outras, mas de uma advocacia de mesma natureza ontológica e jurídica, a advocacia, pouco interessando o interesse patrocinado (estatal ou de pessoa juridicamente necessitada) ou o tipo de vínculo público ou privado do profissional que a exerce.
A corroborar o entendimento acima, cumpre
transcrever o §1º do art. 3º do Estatuto da Advocacia e da OAB:
Art. 3º. (...)
§ 1º Exercem atividade de advocacia, sujeitando-se ao regime desta lei, além do regime próprio a que se subordinem, os integrantes da Advocacia-Geral da União, da Procuradoria da Fazenda Nacional, da Defensoria Pública e das Procuradorias e Consultorias Jurídicas dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas entidades de administração indireta e fundacional.
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Ademais, faz-se necessário mencionar, com alicerce
fixado em decisão exarada pelo Supremo Tribunal Federal, especificamente
na ADI n. 2.652, restou declarado pela Corte Suprema que, no exercício da
advocacia, não existe diferença entre advogado público e particular.
Destarte, resta demonstrada a possibilidade de
atuação deste Conselho Seccional da OAB Paraná em favor dos advogados
públicos assistidos, haja vista que as atividades que exerce se inserem na
gama do exercício da “advocacia pública”, e, portanto, tutelado pelo
Estatuto, sendo irrelevante a origem ou vínculo do profissional que a exerce.
Logo, diante da repercussão da matéria no seio da
advocacia, comparece este Conselho Seccional da OAB para solicitar seu
ingresso no processo, na condição de ASSISTENTE, passando, ainda, a aduzir
as seguintes razões:
3 – DAS RAZÕES DE IMPOSSIBILIDADE DE
RESPONSABILIZAÇÃO DOS ADVOGADOS POR EMISSÃO DE PARECER COM
CONTEÚDO. PRERROGATIVA PROFISSIONAL. VIOLAÇÃO AO DISPOSTO NO
ARTIGO 2º, PARÁGRAFO 3º, DO ESTATUTO DA ADVOCACIA E DA OAB:
Requer este Conselho Seccional da Ordem dos
Advogados do Brasil – Seção Paraná a improcedência desta demanda
interposta em face do mencionado advogado, já que ausente indício que
possa satisfazer a pretensão do Ministério Público Estadual.
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O advogado Raimundo Araujo Neto adotou
conduta lícita, consistente em regular análise da modalidade de licitação a
ser utilizada que culminou na emissão de parecer jurídico. Já o advogado
Willy Costa nem emitiu o parecer.
Sendo o profissional da advocacia indispensável à
administração da justiça e inviolável por seus atos e manifestações no
exercício da profissão, prerrogativa esta patentemente reafirmada pela Lei
nº 8.906/1994 (Estatuto da Advocacia e da OAB) em seu art. 2º, § 3º,
inconstitucional e ilegal se mostra o prosseguimento desta demanda.
É dizer, em outras palavras, que num Estado
Constitucional e Democrático as prerrogativas desempenham uma
importante missão com o escorreito desempenho das atividades funcionais,
sendo que a preservação da liberdade de manifestação e exposição de
argumentos, opiniões e teses pelo advogado, em hipótese alguma, pode
sofrer mitigação.
É evidente que a responsabilização do advogado
em razão de atuação jurídica– pela elaboração de um parecer jurídico –
não atende os comandos constitucionais e legais acima mencionados, o
que, na prática amesquinha direito e prerrogativa definida em lei.
Data venia, a inviolabilidade do advogado ergue-se
como poderosa garantia em prol do cidadão. É, pois, à cidadania que, em
última análise, interessa a prerrogativa que se confere ao advogado.
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Os direitos fundamentais consistem precisamente em
limites ao desempenho de funções dos Poderes Públicos, descabendo impor
restrições à liberdade profissional com medidas e condicionamentos que
atentam contra a inviolabilidade dos advogados.
A OAB, como já dito, tem o dever de defender o
direito dos advogados, seja ele publico ou privado, de exercer a profissão,
descabendo o cerceamento da liberdade profissional do réu, em clara
violência ao art. 2º, § 3º, da Lei nº 8.906/1994, o qual, repita-se, tutela a
advocacia. O Conselho Federal da OAB possui entendimento consagrado
pela edição da Súmula de seu Conselho Pleno n. 05/2012/COP, acerca da
impossibilidade de responsabilização criminal do advogado por emissão de
parecer técnico, verbis:
CONSELHO PLENO SÚMULA N. 05/2012/COP
(DOU, Seção 1, 23.10.2012, p. 119)
O CONSELHO PLENO DO CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL, no uso das atribuições que lhe são conferidas nos arts. 75, parágrafo único, e 86 do Regulamento Geral da Lei nº 8.906/94, considerando o julgamento da Proposição n. 49.0000.2012.003933-6/COP, decidiu, na Sessão Ordinária realizada no dia 17 de setembro de 2012, editar a Súmula n. 05/2012/COP, com o seguinte enunciado: “ADVOGADO. DISPENSA OU INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO.
CONTRATAÇÃO. PODER PÚBLICO. Não poderá ser
responsabilizado, civil ou criminalmente, o advogado que, no regular exercício do seu mister, emite parecer técnico opinando sobre dispensa ou inexigibilidade de licitação para contratação pelo Poder Público, porquanto inviolável nos seus atos e manifestações no exercício profissional, nos termos do art. 2º, § 3º, da Lei n. 8.906/94 (Estatuto da Advocacia e da OAB).”
Brasília, 17 de setembro de 2012. OPHIR CAVALCANTE JUNIOR Presidente
JARDSON SARAIVA CRUZ Relator
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Ora, o profissional da advocacia, cuja função é
essencial e elementar à administração da Justiça, está autorizado a exercer
a advocacia com as prerrogativas a ela inerentes e tais prerrogativas
profissionais, dizendo o Ministro Celso de Mello :
“não devem ser confundidas nem identificadas com meros privilégios de índole corporativa, pois se destinam, enquanto
instrumentos vocacionados a preservar a atuação
independente do advogado, a conferir efetividade às franquias constitucionais invocadas em defesa daqueles cujos interesses lhe são confiados. O Supremo Tribunal Federal, por isso mesmo, compreendendo a alta missão institucional que qualifica a atuação dos Advogados e tendo consciência de que as prerrogativas desses profissionais existem para permitir-lhes a tutela efetiva dos interesses e direitos de seus constituintes, construiu importante jurisprudência, que, ao destacar a vocação protetiva inerente à ação desses imprescindíveis operadores do Direito, tem a eles dispensado o amparo jurisdicional necessário ao desempenho integral das atribuições de que se acham investidos.”
A Constituição Federal e o Estatuto da Advocacia e
da OAB, ao preceituar que o advogado é inviolável por seus atos e
manifestações no exercício da profissão, outra coisa não está fazendo senão
garantir-lhe uma atuação livre, independente, desassombrada, segura e
eficaz.
Ademais, o parecer elaborado pelo advogado foi
praticado no exercício das atribuições constitucionais, estando ausente
improbidade ou imoralidade administrativa.
A
inviolabilidade
do
advogado
por
suas
manifestações e pareceres, aliás, vem sendo diuturnamente externada pela
jurisprudência pátria. Vejamos:
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EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. TRIBUNAL DE CONTAS. TOMADA DE CONTAS: ADVOGADO. PROCURADOR: PARECER. C.F., art. 70, parág. único, art. 71, II, art. 133. Lei nº 8.906, de 1994, art. 2º, § 3º, art. 7º, art. 32, art. 34, IX. I. - Advogado de empresa estatal que, chamado a opinar, oferece parecer sugerindo contratação direta, sem licitação, mediante interpretação da lei das licitações. Pretensão do Tribunal de Contas da União em responsabilizar o advogado solidariamente com o administrador que decidiu pela contratação direta: impossibilidade, dado que o parecer não é ato administrativo, sendo, quando muito, ato de administração consultiva, que visa a informar, elucidar, sugerir providências administrativas a serem estabelecidas nos atos de administração ativa. Celso Antônio Bandeira de Mello, "Curso de Direito Administrativo", Malheiros Ed., 13ª ed., p. 377. II. - Oadvogado somente será civilmente responsável pelos danos causados a seus clientes ou a terceiros, se decorrentes de erro grave, inescusável, ou de ato ou omissão praticado com culpa, em sentido largo: Cód. Civil, art. 159; Lei 8.906/94, art. 32. III. -
Mandado de Segurança deferido.
(Supremo Tribunal Federal. MS 24073, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno, julgado em 06/11/2002, DJ 31-10-2003 PP-00015 EMENT VOL-02130-02 PP-00379)
EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. CONTROLE
EXTERNO. AUDITORIA PELO TCU. RESPONSABILIDADE DE PROCURADOR DE AUTARQUIA POR EMISSÃO DE PARECER TÉCNICO-JURÍDICO DE NATUREZA OPINATIVA. SEGURANÇA DEFERIDA. I. Repercussões da natureza jurídico-administrativa do parecer jurídico: (i) quando a consulta é facultativa, a autoridade não se vincula ao parecer proferido, sendo que seu poder de decisão não se altera pela manifestação do órgão consultivo; (ii) quando a consulta é obrigatória, a autoridade administrativa se vincula a emitir o ato tal como submetido à consultoria, com parecer favorável ou contrário, e se pretender praticar ato de forma diversa da apresentada à consultoria, deverá submetê-lo a novo parecer; (iii) quando a lei estabelece a obrigação de decidir à luz de parecer vinculante, essa manifestação de teor jurídica deixa de ser meramente opinativa e o administrador não poderá decidir senão nos termos da conclusão do parecer ou, então, não decidir. II. No caso de que cuidam os autos, o parecer emitido pelo impetrante não tinha caráter vinculante. Sua aprovação pelo superior hierárquico não desvirtua sua natureza opinativa, nem o torna parte de ato administrativo posterior do qual possa eventualmente decorrer dano ao erário, mas apenas incorpora sua fundamentação ao ato. III. Controle externo: É lícito
concluir que é abusiva a responsabilização do parecerista à luz de uma alargada relação de causalidade entre seu parecer e
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o ato administrativo do qual tenha resultado dano ao erário. Salvo demonstração de culpa ou erro grosseiro, submetida às instâncias administrativo-disciplinares ou jurisdicionais próprias, não cabe a responsabilização do advogado público pelo conteúdo de seu parecer de natureza meramente opinativa. Mandado de segurança deferido. (MS 24631, Relator(a): Min.
JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 09/08/2007, DJe-018 DIVULG 31-01-2008 PUBLIC 01-02-2008 EMENT VOL-02305-02 PP-00276 RTJ VOL-00204-01 PP-00250).
Inclusive, o posicionamento do Superior Tribunal de
Justiça – STJ é firme no sentido de que a simples emissão de parecer jurídico,
sem a necessária comprovação da efetiva relação ou nexo de causalidade,
é manifestamente incapaz de imputar ou tipificar enquadramento de tal
conduta criminosa, a propósito, confira-se:
“RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS – DENÚNCIA. ARTIGO 89 DA LEI 8.666/93. PROCURADORES MUNICIPAIS – SIMPLES EMISSÃO E APROVAÇÃO DE PARECER JURÍDICO OPINANDO PELA DISPENSA DE PROCEDIMENTO LICITATÓRIO – IMUNIDADE DO ADVOGADO – ATIPICIDADE DA CONDUTA – AUSÊNCIA DE QUALQUER ELEMENTO INDICIÁRIO VÁLIDO – TRANCAMENTO – RECURSO PROVIDO.
1. Recorrentes denunciados juntamente com outros 10 corréus como incursos no artigo 89, caput, da Lei 8.666/93, pois teriam colaborado com dispensa indevida de licitação para realização de obra pública, beneficiando a empresa contratada em exatos R$ 21.607.812,96.
2. Resta evidenciada a atipicidade das condutas dos recorrentes, uma vez que foram denunciados apenas pela simples emissão e suposta aprovação de parecer jurídico, sem demonstração da presença de nexo de causalidade entre a conduta a eles imputada e a realização do fato típico.
3. O regular exercício da ação penal – que já traz consigo uma agressão ao status dignitatis do acusado – exige um lastro probatório mínimo para subsidiar a acusação. Não basta mera afirmação de ter havido uma conduta criminosa. A denúncia deve, ainda, apontar elementos, mínimos que sejam, capazes de respaldar o início da persecução criminal, sob pena de subversão do dever estatal em inaceitável arbítrio. Ausente o requisito indiciário do fato alegadamente criminoso, falta justa causa para a ação penal.
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4. Recurso provido para trancar a ação penal em tela somente em relação aos ora recorrentes. (RHC 39644/RJ, relatora ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 17/10/13, DJe 29/10/13).Acrescente-se ainda que, a jurisprudência do STJ
pregoa que para a caracterização do ato de improbidade administrativa,
faz-se necessária a presença do elemento dolo, na conduta do agente, o
que não se verificou em nenhum momento nos autos, sequer indícios de
participação ou auferimento de vantagem, a propósito, confira-se:
ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE. ATO ÍMPROBO. ELEMENTO SUBJETIVO. DOLO NÃO CARACTERIZADO. PRECEDENTES.
1. Pleiteia o Ministério Público a condenação do agravado por improbidade administrativa, decorrente da celebração de "termos e aditivos sem o necessário procedimento licitatório e sem o devido procedimento de dispensa ou inexigibilidade de licitação por mais de dez anos".
2. As considerações feitas pelo Tribunal de origem afastam a prática do ato de improbidade por violação de princípios da administração pública, uma vez que não foi constatado o elemento subjetivo do dolo na conduta do agente, mesmo na modalidade genérica, o que não permite o reconhecimento de ato de improbidade administrativa previsto no art. 11 da Lei 8.429/92.
3. O Tribunal a quo decidiu de acordo com a jurisprudência desta Corte, no sentido de que "a caracterização do ato de improbidade por ofensa a princípios da administração pública exige a demonstração do dolo lato sensu ou genérico" (EREsp 772.241/MG, Rel. Min. Castro Meira, Primeira Seção, DJe 6/9/2011. Outros precedentes: AgRg nos EREsp 1.260.963/PR, Rel. Min. Humberto Martins, Primeira Seção, Dje 3/10/2012; e AgRg nos EAREsp 62.000/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, DJe 18/9/2012. Incidência da Súmula 83/STJ.) Agravo regimental improvido. AgRg no AREsp 456.655/PR, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 25/03/2014, DJe 31/03/2014).
ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PREFEITO DE CAMPINÁPOLIS/MT. ALEGAÇÃO DE PROMOÇÃO PESSOAL INDEVIDA EM JORNAL LOCAL (FOLHA DO ARAGUAIA). ART. 11 DA LEI 8.429/92. ELEMENTO SUBJETIVO (DOLO) NÃO CONFIGURADO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
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1. A Lei da Improbidade Administrativa (Lei 8.429/92) objetiva punir os praticantes de atos dolosos ou de má-fé no trato da coisa pública, assim tipificando o enriquecimento ilícito (art. 9o.), o prejuízo ao erário (art. 10) e a violação a princípios da Administração Pública (art. 11); a modalidade culposa é prevista apenas para a hipótese de prejuízo ao erário (art. 10). 2. Não se tolera, porém, que a conduta culposa dê ensejo à responsabilização do Servidor por improbidade administrativa; a negligência, a imprudência ou a imperícia, embora possam ser consideradas condutas irregulares e, portanto, passíveis de sanção, não são suficientes para ensejar a punição por improbidade; ademais, causa lesão à razoabilidade jurídica o sancionar-se com a mesma e idêntica reprimenda demissória a conduta ímproba dolosa e a culposa (art. 10 da Lei 8.429/92), como se fossem igualmente reprováveis, eis que objetivamente não o são.3. O ato ilegal só adquire os contornos de improbidade quando a conduta antijurídica fere os princípios constitucionais da Administração Pública coadjuvada pela má-intenção do administrador, caracterizando a conduta dolosa; a aplicação das severas sanções previstas na Lei 8.429/92 é aceitável, e mesmo recomendável, para a punição do administrador desonesto (conduta dolosa) e não daquele que apenas foi inábil (conduta culposa).
4. No presente caso, a conduta imputada ao recorrente (e destacado na Sentença e no Acórdão condenatórios) consiste na suposta realização de promoção pessoal indevida nos meses de agosto e setembro de 2003, quando, em Jornal Local (Folha do Araguaia), houve publicação de matéria jornalística que apresentava a imagem do recorrente e trechos do periódico que afirmavam o seguinte: A Administração do prefeito Joaquim Matias Valadão saiu na frente e já deu inicio às obras; (...); O Bananeira está de parabéns por ter conseguido incluir Campinápolis dentro do programa de construção de casas populares do Governo Blairo, já no primeiro ano. Não podemos esquecer e sempre devemos lembrar: ele (prefeito) corre atrás das coisas; Joaquim Bananeira, o político do Vale do Araguaia.
5. Insta salientar, ainda, que a primeira passagem do periódico que foi apontado na Sentença possui caráter informativo acerca das ações governamentais, enquanto a segunda alude a um comentário feito por um morador do próprio Município de Campinópolis/MT, sendo o terceiro insuficiente para a configuração de ato de improbidade.
6. Ademais, não houve associação à conduta do recorrente do elemento subjetivo doloso, qual seja, o propósito desonesto, não havendo que se falar, portanto, em cometimento de ato de improbidade administrativa tipificado no art. 11 da Lei 8.429/92. Precedentes: REsp. 939.142/RJ, Rel. Min. FRANCISCO
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FALCÃO, Rel. p/ Acórdão Min.LUIZ FUX, DJe 10.04.2008; AgRg no REsp. 1.260.963/PR, Rel. Min.BENEDITO GONÇALVES, DJe 14.05.2012.7. Recurso Especial provido, para absolver o recorrente da conduta ímproba que lhe é imputada, a despeito do parecer Ministerial oficiar pelo seu desprovimento. (REsp 1186192/MT, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 12/11/2013, DJe 02/12/2013)
Não existe nos autos, a efetiva ou mesmo indireta
comprovação de erro grave, inescusável, de ato ou omissão praticado com
dolo pelo advogado; ou ainda a real existência de prejuízo ao erário público,
as quais não podem ser presumidas, e sim, devidamente provadas.
Desse modo, conclui-se que o advogado não
realizou práticas ilegais, tendo em vista que desempenhou atos no exercício
da profissão, razão pela qual, em estrita observância à jurisprudência dos
Superiores Tribunais e os fundamentos jurídicos ora oferecidos, imperioso seja
julgada improcedente a presente demanda, pois a elaboração de parecer
foi praticada no exercício de suas funções, não podendo atribuir ao
advogado público, a responsabilidade por eventuais problemas licitatórios,
quando atua ofertando parecer, sem qualquer caráter decisório.
4 - PEDIDOS
Assim, requer-se:
a) que a Ordem dos Advogados do Brasil – Seção
Paraná seja nomeada assistente no presente feito, com base no art. 49, §
único, da Lei 8.906/94, uma vez que uma das finalidades da OAB é promover
a defesa dos advogados (art. 44, II do EOAB), podendo representa-los em
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