• Nenhum resultado encontrado

Federal de Uberlândia. Avenida Pará, 1780, Campus Umuarama, CEP , Uberlândia-MG.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Federal de Uberlândia. Avenida Pará, 1780, Campus Umuarama, CEP , Uberlândia-MG."

Copied!
15
0
0

Texto

(1)

QUALIDADE DE VIDA EM ESTUDANTES DO 1º AO 4º ANO DO CURSO DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

RAFAEL DE OLIVEIRA1, ROGÉRIO DE MELO COSTA PINTO2, ROGÉRIO DE RIZO MORALES3, NÍVEA DE MACEDO OLIVEIRA MORALES3, CARLOS HENRIQUE MARTINS DA SILVA4, CARLOS HENRIQUE ALVES REZENDE4, TÂNIA MARIA DA SILVA MENDONÇA5

RESUMO

Objetivo: Verificar as propriedades psicométricas do instrumento genérico de avaliação da QVRS SF-36, aplicado a estudantes de medicina. Metodologia: Foram analisadas as propriedades psicométricas (qualidade dos dados, confiabilidade e validade) do SF-36, respondido de forma auto-aplicada por alunos do curso de medicina da Universidade Federal de Uberlândia que cursavam do segundo ao oitavo período durante o segundo semestre letivo de 2006. Os alunos também foram solicitados a preencher uma ficha contendo dados sócio-demográficos. O grupo controle foi composto por 37 alunos da 67ª turma de medicina, recém-ingressados no curso. Resultados: A caracterização sócio-demográfica revelou diferenças entre os grupos controle e de estudo apenas quanto à Renda Familiar. A taxa de dados perdidos variou de 0 a 1,79% entre os domínios. Foi observado efeito piso nos domínios aspectos físicos e aspectos emocionais; efeito teto só não foi detectado nos domínios vitalidade e saúde mental. A consistência interna do item foi satisfatória para todos os domínios, exceto para o domínio capacidade funcional. O coeficiente alfa-Cronbach (confiabilidade da consistência interna) foi superior a 0,70 em sete dos oito domínios, sendo a exceção o domínio capacidade funcional. A validade discriminante do item obteve 100% de sucesso em todos os domínios. Conclusão: As propriedades psicométricas do instrumento genérico SF-36 na avaliação do impacto da reforma curricular sobre a qualidade de vida em estudantes do 1º ao 4º ano do Curso de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia foram adequadas.

Palavras-chave: SF-36, propriedades psicométricas, QVRS, estudantes de medicina.

¹ Acadêmico de Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia. Avenida Pará, 1780, Campus Umuarama, CEP 38400-902, Uberlândia-MG. ufu_rafa@yahoo.com.br

² Prof. Dr. da Faculdade de Matemática da Universidade Federal de Uberlândia. Avenida Dr. Misael Rodrigues de Castro, 540, Campus Santa Mônica, CEP: 38408-184, Uberlândia-MG. rmcpinto@ufu.br

3

Médico(a) do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia. Avenida Pará, 1780, Campus Umuarama, CEP 38400-902, Uberlândia-MG. rogerio.morales@netsite.com.br / niveamacedo@netsite.com.br 4

Professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia. Avenida Pará, 1780, Campus Umuarama, CEP 38400-902, Uberlândia-MG. carloshm@netsite.com.br / charezende2@yahoo.com.br

5

Fisioterapeuta, pesquisadora do grupo de pesquisa “Qualidade de vida relacionada à saúde” da Universidade Federal de Uberlândia. Avenida Pará, 1780, Campus Umuarama, CEP 38400-902, Uberlândia-MG.

(2)

ABSTRACT

Objective: To test the psychometric properties of the generic health status instrument SF-36 in medical students. Methods: The SF-36 was self-applied to medical students from the Universidade Federal de Uberlândia, who were attending the second to the eighth term on the second semester of 2006. These students were also asked to fill out a paper about social-demographic data. The control group was composed by 37 medical students (class 67), at the fresh year. Results: There were social-demographic differences between control and study groups only in Family Income. Lost data rate varied from 0 to 1,79% in the subscales. It was observed floor effect in the subscales role limitation due to physical problems (RP) and role limitation due to emotional problems (RE); ceiling effect was absent just in subscales vitality (VT) and mental health (MH). Internal consistency was good for all subscales, except physical functioning (PF). Cronbach’s alpha coefficients exceeded the 0,70 criterion for seven of the eight subscales, PF was the exception . Item discriminative validity obtained 100% of success in all subscales. Conclusion: The psychometric properties of SF-36 in the evaluation of the curriculum changes impact over quality of life in medical students from the first to the fourth year of graduation in the Universidade Federal de Uberlândia were adequate.

(3)

1 – Introdução

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), Qualidade de Vida (QV) refere-se à forma como o indivíduo percebe a si mesmo e como avalia suas relações no contexto da cultura e dos valores do meio em que vive, bem como suas próprias metas, expectativas, padrões e conceitos (THE WHOQOL GROUP, 1995). Neste amplo contexto está inserida a esfera da Qualidade de Vida Relacionada à Saúde (QVRS), que pode ser entendida como uma combinação do estado de saúde do paciente com sua resposta afetiva a esta condição (ROSCOL, 2004).

A QVRS é avaliada através de instrumentos, em geral questionários, cuja análise deve ser rigorosa, uma vez que envolvem diversos conceitos subjetivos do indivíduo em relação ao seu estado de saúde (GUYATT et al., 1997). Na literatura encontram-se vários trabalhos sobre QVRS que utilizam diferentes instrumentos para avaliar tanto situações em que há doença diagnosticada quanto condições específicas de uma determinada população, ou mesmo populações específicas, como os estudantes de medicina (GUTHRIE, et al, 1998; RAJ, et al, 2000; SOUZA, et al, 2005).

Alguns estudos apontam que, durante o curso de Medicina, o aluno sofre

um impacto negativo na sua QVRS, ou seja, na percepção de seu bem-estar físico e psicossocial (PARKERSON, et al, 1990; RAJ, et al, 2000). Essa situação pode se refletir de forma significativa no desempenho acadêmico e na saúde do estudante (FURTADO, et al, 2003). Sinais de estresse, depressão e idéias de suicídio podem surgir durante a formação médica (PARKERSON, et al, 1990; FURTADO, et al, 2003; SOUZA, et al, 2005; PORCU, et al, 2005; RAJ, et al, 2000).

Entre estudantes de medicina, a incidência de sintomas depressivos é maior que na população em geral. A prevalência desses sintomas é cerca de quatro vezes maior do que na população geral americana e mais do que sete vezes maior do que na população brasileira (KAPLAN, et al, 1997; PRADO, et al, 1999).

A taxa de suicídio na população médica também supera a taxa da população geral em todo o mundo. Principalmente entre os alunos com melhor desempenho escolar, pois estes se cobram o máximo de excelência e frustram-se diante de qualquer erro (MELEIRO, 1998).

Estudo realizado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, utilizando como instrumentos o “Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL)” e o “Inventário de Habilidades Sociais (IHS)”, detectou que, dos 178

(4)

estudantes do 1° ao 6° ano de medicina avaliados, 65,2% estavam estressados (FURTADO, et al, 2003).

Na Universidade Federal do Ceará, estudo envolvendo 562 alunos do 1° ao 9° semestre do curso, revelou a partir da aplicação do instrumento “General Health Questionnaire (GHQ)” a presença de distúrbios psicológicos em 35,4% da amostra (SOUZA, et al, 2005).

RAJ et al.(2000), através de estudo longitudinal, envolvendo estudantes do último ano de medicina, detectaram prejuízo significativo na qualidade de vida dessa população após sucessivas aplicações do instrumento “The 36-item Short Form Health Survey Questionnaire (SF-36)” no decorrer de dez meses.

Daí a necessidade de se realizar estudos periódicos de avaliação da QVRS nessa população, especialmente diante da tendência atual de reforma curricular dos cursos de Medicina de diversas universidades brasileiras.

A proposta de reformulação do currículo oferecido pelo Curso de Medicina da Faculdade de Medicina da UFU visa contornar os problemas advindos da dicotomia teórico-prática presente no antigo modelo de ensino (flexneriano). Espera-se proporcionar uma melhor qualidade de vida aos alunos através de diversas mudanças, entre elas:

• estímulo à auto-aprendizagem; • integração das disciplinas básicas com as profissionalizantes;

• inserção precoce em atividades de práticas de saúde;

• proposição de horários livres para lazer;

• avaliações formativas, em detrimento das punitivas.

A descrição do perfil da saúde dos estudantes de medicina é de extrema importância para que melhorias possam ser implementadas. Entretanto, para que esse perfil seja analisado de maneira adequada, é essencial que os instrumentos de medida da qualidade de vida tenham suas propriedades psicométricas medidas, mesmo em se tratando de um instrumento já traduzido e validado para a população brasileira, como o SF-36, pois, segundo CICONELLI et al. (1999), para se obter dados com qualidade científica, é imprescindível à metodologia dos estudos que visam mensurar a QVRS testar as propriedades de medida desses instrumentos por meio de múltiplas análises estatísticas.

As propriedades de medida (ou psicométricas) podem variar de maneira considerável para cada população, especialmente naquelas que diferem quanto às características sócio-demográficas e ao estado de saúde

(5)

(McHORNEY et al., 1994; McCARTHY et al., 2002). Tal fato justifica a necessidade de se testar estatisticamente tais parâmetros psicométricos dentro de um contexto cultural específico e na condição de interesse, sendo que os estudantes de Medicina constituem, teoricamente, uma população muito específica, homogênea, e de características socioeconômicas e nível educacional acima da média nacional. Somente dessa forma é possível obter um bom instrumento: válido, confiável e sensível.

A validade verifica se o instrumento realmente mede o conceito alvo, e não outro (GUYATT; FEENY; PATRICK, 1993). A verificação da validade envolve vários aspectos. A validade discriminante do item revela se a correlação de um item com o domínio a que hipoteticamente pertence é maior que a sua correlação com os demais domínios. A validade discriminante verifica o quanto duas medidas teoricamente não associadas realmente não apresentam associação. A validade convergente avalia a associação entre duas medidas diferentes desenvolvidas para um mesmo construto. A validade divergente determina o quanto duas medidas de construtos diferentes não apresentam associação. A validade de critério refere-se ao quanto uma medida corresponde à outra medida acurada ou previamente validada do mesmo conceito

(“padrão ouro”), ou a um critério externo estabelecido pelos pesquisadores (HEALTH..., 2000). A validade de construto consiste em estabelecer e testar hipóteses ou modelos sobre o comportamento do instrumento (McHORNEY et al., 1994). A confiabilidade diz respeito à precisão do instrumento, ou seja, é a estimativa da quantidade de “erro” inerente ao processo de aferição (GRIEP et al., 2003). Essa propriedade é determinada pela consistência interna do item e pela confiabilidade da consistência interna.

A consistência interna do item avalia o quanto cada item contribui no embasamento do construto. Tem-se como padrão que, para uma confiabilidade adequada, a correlação de cada item com o domínio a que teoricamente pertence seja superior a 0,40 (McHORNEY et al., 1994).

A confiabilidade da consistência interna das escalas é acessada usando-se o coeficiente de alfa Cronbach, que é baseado no número de itens em uma escala e na inter-correlação entre os itens. Para o propósito de comparar grupos, medidas com confiabilidade mínima de 0,5 a 0,7 ou preferencialmente maiores, são recomendadas. A análise de escores de pacientes individuais requer maior precisão, com uma confiabilidade minima

(6)

de 0,90, sendo desejados valores acima de 0,95 (McHORNEY et al., 1994).

A responsividade é a capacidade do instrumento de captar mudanças clínicas significativas em uma condição específica (TIDERMARK et al., 2003), ou seja, é a sensibilidade do instrumento às alterações relevantes (CICONELLI et al., 1999). Pode-se, portanto, avaliar uma dada intervenção através da aplicação repetida do instrumento, uma vez que é possível detectar ao longo do tempo a melhora ou piora do indivíduo, tanto nos aspectos físicos quanto emocionais (CICONELLI et al., 1999).

Os instrumentos capazes de aferir a QVRS são classificados em genéricos e específicos. Estes últimos têm maior sensibilidade e são mais apropriados para uma população ou condição alvo, pois incluem aspectos da área de saúde particulares e consideráveis para o grupo estudado. Porém, não podem ser utilizados na comparação entre diferentes populações e condições (DE BOER et al., 1998; PATRICK; CHIANG, 2000).

Os instrumentos genéricos, dentre os quais se destaca o SF-36 pela sua ampla utilização em vários países (WANG et al., 2006), são capazes de detectar o impacto de diversas situações, inclusive doenças, sobre um indivíduo ou uma população. E por isso podem ignorar aspectos relevantes e específicos de uma determinada

condição (PATRICK; CHIANG, 2000), o que os torna, portanto, falhos quanto à sensibilidade. Abordam múltiplos domínios, como o físico, o psicológico e o social; podem ser aplicados em diferentes populações e conseguem detectar repercussões imprevisíveis de uma condição ou intervenção (GUYAT, FEENY & PATRICK, 1993).

A “inespecificidade” dos instrumentos genéricos faz deles uma ótima escolha para os estudos de QVRS, uma vez que são pontuais os casos em que se dispõe de um instrumento específico; vale ressaltar, no entanto, que essa característica não dispensa a análise psicométrica desses instrumentos quando se trabalha com populações distintas (McHORNEY et al., 1994).

2 – Objetivo

O presente estudo tem por objetivo verificar as propriedades psicométricas do instrumento genérico de avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde SF-36, aplicado aos estudantes do primeiro ao quarto ano de medicina da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia.

(7)

3 – Metodologia

3.1- Estudo

O presente estudo consiste na análise das propriedades psicométricas do instrumento genérico de avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde The 36-item Short Form Health Survey Questionnaire (SF-36), respondido após consentimento livre e esclarecido, de forma auto-aplicada, por alunos do curso de medicina da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (FAMED-UFU) que cursavam do segundo ao oitavo período durante o segundo semestre letivo de 2006.

3.2- População

3.2.1: Alunos do segundo ao oitavo

período de medicina (67ª à 61ª turma), matriculados no segundo semestre letivo de 2006, totalizando 223 participantes. Essa amostra se mostrou adequada para a análise psicométrica do SF-36 pois atendeu à recomendação de 5-10 sujeitos para cada item do questionário (180-360 sujeitos) (WANG, et al, 2006).

3.2.2: Grupo controle, composto

por 37 alunos da 67ª turma de medicina.

3.3- Procedimento:

Após consentimento livre e esclarecido os alunos foram solicitados a responder, de forma auto-aplicada, ao questionário genérico de qualidade de vida SF-36, além de uma ficha contendo dados sócio-demográficos. A aplicação dos questionários ocorreu nas salas de aula, durante o último mês do segundo semestre letivo de 2006, após contato prévio com os professores das disciplinas.

A propriedade de reprodutibilidade do instrumento SF-36 foi testada utilizando dados obtidos com alunos do sétimo período (escolhidos com base na comodidade metodológica), 13 dias após a primeira aplicação.

Os alunos da 67ª turma de medicina preencheram o questionário na primeira semana do primeiro semestre letivo de 2006, quando estavam cursando o 1º período, compondo o grupo controle (marco zero) para o estudo.

3.4- Instrumento

O SF-36 é um instrumento genérico para avaliação da QVRS, amplamente utilizado em diversas condições de saúde, multidimensional, traduzido, adaptado culturalmente e validado para a língua portuguesa (WARE; SHERBOURNE, 1992; CICONELLI et al.,1999).

(8)

É dividido em componentes – o físico e o mental. O componente físico agrupa 21 itens ou questões dentro dos seguintes domínios: capacidade funcional, estado geral de saúde, dor e aspectos físicos. O componente mental envolve 14 itens nos domínios saúde mental, vitalidade, aspectos sociais e aspectos emocionais. O item alteração em um ano é analisado à parte, não compõe nenhum dos dois componentes.

Os valores de cada item variam de 0 a 100 pontos, correspondendo, respectivamente, ao pior e melhor estado geral de qualidade de vida. Os escores dos domínios são obtidos a partir das pontuações de seus respectivos itens, assim como os escores dos componentes derivam dos domínios a eles relacionados. A utilização do escore total do instrumento não é indicada, pois pode induzir a subestimação de possíveis problemas específicos (WARE et al., 1993).

3.5- Propriedades psicométricas do SF-36

Foram verificadas, para o grupo composto por alunos do 2° ao 8° período, as seguintes propriedades psicométricas: qualidade dos dados, confiabilidade e validade do SF-36. Por se tratar de um estudo transversal, a responsividade não foi testada.

3.5.1 – qualidade dos dados

A análise da qualidade dos dados envolveu a verificação dos dados perdidos e dos efeitos piso e teto para cada domínio.

Dados perdidos referem-se à proporção de indivíduos que deixaram de responder a pelo menos um item do domínio (McHORNEY et al., 1994). Quanto maior for esse índice pior será a qualidade dos dados, sugerindo menor aceitabilidade e compreensão pelos participantes. São considerados satisfatórios valores inferiores a 20% (CRAMER, 2002).

Os efeitos piso e teto são determinados, respectivamente, pela porcentagem de respondedores que obtiveram os menores e os maiores escores possíveis em cada domínio. São ditos presentes quando superiores a 10% (McHORNEY et al., 1994). Esses efeitos indicam as limitações do instrumento em detectar diferenças na percepção de bem-estar dos indivíduos com os extremos de escore (HEALTH..., 2000).

3.5.2 – confiabilidade

A avaliação da confiabilidade foi realizada através da consistência interna do item e da confiabilidade da consistência interna.

(9)

3.5.3 – validade

A validade foi testada a partir da verificação da validade discriminante do item para todos os domínios. Considera-se satisfatório quando pelo menos 80% dos itens de um domínio apresentam maior correlação com o domínio a que pertencem do que com qualquer outro (HEALTH..., 2000).

Por ser um estudo transversal, não foi possível testar a responsividade.

3.6- Estatística:

A análise estatística descritiva foi utilizada para a caracterização sócio-demográfica.

O coeficiente de correlação de Spearman foi utilizado para determinar a consistência interna do item e a validade discriminante do item.

A confiabilidade da consistência interna foi verificada pelo coeficiente alfa-Cronbach.

O teste de Mann-whitney foi utilizado na comparação das médias das pontuações obtidas pelos estudantes do 2° ao 8° período com as médias do grupo controle.

4 – Resultados e Discussão

Duzentos e vinte e três estudantes de medicina da Universidade Federal de

Uberlândia, que cursavam do 1° ao 4° ano (2° ao 8° período) preencheram o instrumento genérico SF-36, representando um índice de adesão à pesquisa de 79,5%. Todos os dados obtidos foram analisados considerando o grupo como um todo, sem distinção de turmas.

4.1 – Caracterização sócio-demográfica

Observando-se a caracterização sócio-demográfica (Tabela 1), verifica-se que mais de 80% dos estudantes tinham até 23 anos de idade. As mulheres se mostraram maioria (63,2%) entre os acadêmicos. A renda familiar dos estudantes se concentrou principalmente na faixa entre zero e quinze salários mínimos (57,8%). A maior parte dos alunos residia com a família (63,2%), entretanto, quase 25% dos alunos moravam em repúblicas.

A caracterização sócio-demográfica do grupo de estudo permitiu observar que os alunos dos períodos avaliados apresentam um perfil semelhante ao do grupo controle (Tabela 1). Observou-se diferença significativa somente em relação à Renda Familiar, sendo que no grupo controle a maior parte dos estudantes está na faixa de 0 a 10 salários e no grupo de estudo essa proporção é mais homogênea. Observou-se também que no grupo de estudo, 16,6% dos estudantes possui Renda Familiar

(10)

acima de 15 salários mínimos, enquanto que no grupo controle a maior renda é de

15 salários mínimos.

Tabela 1 - Caracterização sócio-demográfica dos alunos do 2º ao 8º Período (grupo de estudo) do Curso de Medicina da FAMED-UFU e do grupo controle.

Estudo Controle *p-valor

Faixa Etária n(223) % n(37) % <20 39 17,5 5 13,5 0,2289 20-21 71 31,8 20 54,0 22-23 74 33,2 9 24,3 24-25 25 11,2 2 5,4 >25 13 5,8 1 2,7 Não especificado 1 0,4 0 0,0 Sexo Masculino 81 36,3 13 35,1 1,00 Feminino 141 63,2 24 64,9 Não especificado 1 0,4 0 0,0 Renda Familiar (Nº. de Salários mínimos/R$350,00) 0-5 38 17,0 14 37,8 0,0005 6-10 52 23,3 13 35,1 11-15 39 17,5 4 10,8 >15 37 16,6 0 0 Não declarado 57 25,5 6 16,2 Moradia Com a família 141 63,2 16 43,2 0,1874 República 55 24,6 14 37,8 Pensionato 11 4,9 4 10,8 Sozinho 6 2,7 1 2,7 Outro ou não declarado 10 4,5 2 5,4 *Teste de Qui-quadrado

Considerando que o presente estudo contou com um grupo controle constituído por estudantes de medicina recém-ingressados no curso, as semelhanças detectadas entre este grupo e o grupo de estudo confirmaram a homogeneidade que se esperava encontrar quando da caracterização

sócio-demográfica dessa população. A única diferença encontrada foi em relação à Renda Familiar, porém, por meio das outras variáveis analisadas pode-se verificar que os grupos são semelhantes.

Deve-se ressaltar que a 67ª turma de medicina (grupo controle) é constituída por alunos ingressados por meio de dois

(11)

processos seletivos distintos, o vestibular convencional e o Programa Alternativo de Ingresso ao Ensino Superior (PAIES), oferecidos pela UFU ao final de cada ano letivo. Como o PAIES seleciona, em três fases, apenas alunos recém-egressos do ensino médio para preencher vinte das quarenta vagas disponíveis, os achados deste estudo podem sugerir que esse processo seletivo contempla estudantes de renda familiar mais baixa que aqueles ingressados através do vestibular, geralmente estudantes provenientes de cursinhos pré-vestibular de alto custo. Porém, devem ser feitos mais estudos para verificar essa hipótese.

4.2 – Qualidade dos dados 4.2.1 – Dados perdidos

Os únicos domínios que não apresentaram algum item em branco foram aspectos físicos e aspectos emocionais. A

taxa de dados perdidos variou de 0 a 1,79% entre os domínios (Tabela 2). A baixa taxa de dados perdidos encontrada nos domínios, bem inferior ao limite máximo sugerido pela literatura (CRAMER, 2002), reflete uma boa aceitabilidade do instrumento pelos estudantes, ou seja, não houve dificuldades importantes em compreender o que era perguntado.

4.2.2 – Efeito piso e efeito teto

Foi observado efeito piso nos domínios aspectos físicos e aspectos emocionais do SF-36. Detectou-se efeito teto em seis dos oito domínios, sendo as exceções os domínios vitalidade e saúde mental (Tabela 2).

Tabela 2 - Dados perdidos, efeito piso e efeito teto nos domínios do SF-36.

DOMÍNIOS DADOS PERDIDOS

(%) EFEITO PISO (%) EFEITO TETO (%)

Capacidade Funcional 0,44 0,00 43,94

Aspectos Físicos 0,00 16,14 48,87

Dor 0,44 0,00 15,69

Estado Geral da Saúde 0,89 0,00 11,65

Aspectos Emocionais 0,00 36,32 34,08

Vitalidade 1,79 1,79 0,00

Saúde Mental 1,34 0,44 0,44

Aspectos Sociais 0,44 0,89 16,14

A presença de efeitos piso e teto em grande parte dos domínios é

característica dos instrumentos genéricos, no entanto, deve ser analisada com cautela.

(12)

O predomínio do efeito teto encontrado neste estudo pode dar a falsa impressão de uma boa qualidade de vida entre os estudantes por não distinguir diferenças sutis entre aqueles com os melhores escores no SF-36.

A detecção simultânea de efeitos piso e teto nos domínios aspectos físicos e aspectos emocionais foi coerente com a literatura, podendo citar como exemplo os resultados obtidos em estudo que testou a confiabilidade e a validade da versão chinesa do SF-36 em pacientes com infarto do miocárdio (WANG, et al, 2006). Esse achado resgata a discussão sobre a necessidade de se inserir novas opções de respostas nos itens que compõem estes domínios a fim de torná-los mais sensíveis às diferenças entre os indivíduos com o melhor ou o pior escore.

4.3 – Confiabilidade

4.3.1 – Consistênica interna do item

O coeficiente de correlação entre os itens e seu próprio domínio foi adequado (> 0,4) em 88,9% dos itens. Em sete dos oito domínios, a consistência interna do item teve taxa de sucesso de 100% (Tabela 3), mostrando que os itens realmente estão medindo aquela dimensão a que foram propostos. O domínio capacidade funcional apresentou taxa de sucesso de 60%, mostrando que a consistência interna do item foi satisfatória para todos os domínios, exceto para o domínio capacidade funcional. Observa-se também, que o domínio capacidade funcional apresentou efeito teto (43,94%), sendo que isso pode influenciar nas propriedades psicométricas.

Tabela 3 - Taxa de sucesso na avaliação da consistência interna do item dos domínios do SF-36.

DOMÍNIOS ITENS (n) VARIAÇÃO DA

CORRELAÇÃO SUCESSO / TOTAL TAXA DE SUCESSO (%) Capacidade Funcional 10 0,12 – 0,85 6 / 10 60 Aspectos Físicos 4 0,76 – 0,89 4 / 4 100 Dor 2 0,81 – 0,97 2 / 2 100 Estado Geral de Saúde 5 0,62 – 0,79 5 / 5 100 Aspectos Emocionais 3 0,85 – 0,88 3 / 3 100 Vitalidade 4 0,81 – 0,84 4 / 4 100 Saúde Mental 5 0,71 – 0,81 5 / 5 100 Aspectos Sociais 2 0,88 – 0,89 2 / 2 100

(13)

4.3.2 – Confiabilidade da consistênica interna

O coeficiente alfa-Cronbach foi superior a 0,70 em todos os domínios do SF-36, exceto no domínio capacidade funcional (Tabela 4). Assim, a

confiabilidade da consistência interna foi satisfatória para a maioria dos domínios. Esse resultado mostra que grande parte da variação dos domínios está sendo explicada pelos itens que os compõe.

Tabela 4 - Coeficiente alfa-Cronbach na avaliação da confiabilidade da consistência interna dos domínios do SF-36.

DOMÍNIOS COEFICIENTE ALFA-CRONBACH

Capacidade Funcional 0,57

Aspectos Físicos 0,85

Dor 0,78

Estado Geral de Saúde 0,74

Aspectos Emocionais 0,83 Vitalidade 0,86 Saúde Mental 0,85 Aspectos Sociais 0,73 4.4 – Validade 4.4.1 – Validade discriminante do item

A validade discriminante do item obteve 100% de sucesso em todos os domínios (Tabela 5), mostrando que foi

adequada como um todo para os oito domínios, ou seja, que realmente o instrumento está conseguindo medir corretamente as dimensões existentes.

Tabela 5: Taxa de sucesso na avaliação da validade discriminante do item dos domínios do SF-36.

DOMÍNIOS ITENS (n) VARIAÇÃO DA

CORRELAÇÃO SUCESSO / TOTAL TAXA DE SUCESSO (%) Capacidade Funcional 10 -0,02 – 0,33 70 / 70 100 Aspectos Físicos 4 0,24 – 0,42 28 / 28 100 Dor 2 0,30 – 0,43 14 / 14 100 Estado Geral de Saúde 5 0,10 – 0,39 35 / 35 100 Aspectos Emocionais 3 0,11 – 0,55 21 / 21 100 Vitalidade 4 0,19 – 0,68 28 / 28 100 Saúde Mental 5 0,19 – 0,71 35 / 35 100 Aspectos Sociais 2 0,18 – 0,62 14 / 14 100

(14)

5 – Conclusão

As propriedades psicométricas do instrumento genérico SF-36 na avaliação do impacto da reforma curricular sobre a qualidade de vida em estudantes do 1º ao 4º ano do Curso de Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia foram adequadas.

Referências Bibliográficas

CICONELLI, R. M. et al. Tradução para a língua portuguesa e validação do questionário genérico de avaliação de qualidade de vida SF-36 (Brasil SF-36). Revista Brasileira de Reumatologia, São Paulo, v. 39, n. 3, p. 143-150, mai/jun. 1999.

CRAMER, J. A. ILAE Subcommission Report. Principles of health-related quality of life: assessment in clinical trials. Epilepsia, New York, v. 43, n. 9, p. 1084-1095, Sept. 2002.

DE BOER, A. G. E. M. et al. Disease-specific quality of life; is it construct? Quality of Life Research, Oxford, v. 7, n. 2, p. 135-142, Feb. 1998.

FURTADO, E. S.; FALCONE, E. M. O.; CLARK, C. Avaliação do estresse e das habilidades sociais na experiência acadêmica de estudantes de medicina de uma universidade do Rio de Janeiro. Interação em Psicologia, Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, p. 43-51, Jul. Dez. 2003.

GRIEP, R. H. et al. Confiabilidade teste-reteste de aspectos da rede social no Estudo Pró-Saúde. Revista Saúde

Pública, São Paulo, v. 37, n.3, p. 379-85, 2003.

GUTHRIE, E. et al. Psychological stress and burnout in medical students: a five-year prospective longitudinal study. Journal of the Royal Society of Medicine, v. 91, p. 237-243, 1998.

GUYATT, G. H. et al. User’s guides to the medical literature. XII. How to use articles about health-related quality of life: evidence-based medicine working group. Journal of Americam Medical Association, Chicago, v. 277, n.15, p. 1232-1237, Apr.1997.

GUYATT, G. H.; FEENY, D. H.; PATRICK, D. L. Measuring Health-related Quality of Life. Annals of Internal Medicine, Philadelphis, v. 118, n. 8, p. 622-629, Apr. 1993.

HEALTH OUTCOMES METHODOLOGY SYMPOSIUM. Glossary. Medical Care, Philadelphia, v. 38, n. 9, p. 7-13, Sept. 2000. Supplement 2.

KAPLAN, H. I..; SADOCK, B. J.; GREBB, J. A. Compêndio de psiquiatria – Ciências do comportamento e psiquiatria clínica. In: Transtorno depressivo maior e transtorno bipolar I. 7ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas; p. 493-529, 1997.

McCARTHY, M. L. et al. Comparing reliability and validity of pediatric instruments for measuring health and well-being of children with spastic cerebral palsy. Developmental Medicine and Child Neurology, London, v. 44, n. 7, p. 468-476, July 2002.

McHORNEY, C. A. et al. The MOS 36-item short form health survey (SF-36): III. Test of data quality, scaling assumptions, and reliability across diverse patient groups. Medical Care, Philadelphis]a, v. 32, n. 1, p. 40-66, Jan. 1994.

(15)

MELEIRO, A. M. A. S. Suicídio entre médicos e estudantes de medicina. Revista da Associação Médica Brasileira, São Paulo, v. 44, n. 2, abr.jun. 1998.

PARKERSON, G. R., et al. The health status and life satisfaction of first-year medical students. Academic Medicine, v. 65, n. 9, p. 586-587, set. 1990.

PATRICK , D. L.; CHIANG, Y. P. Measurement of Health outcomes in treatment effectiveness evaluations: conceptual and methodological challenges. Medical Care, Philadelphia, v. 38, n. 9, p. 14-25, Sept. 2000. Supplement 2.

PORCU, M.; FRITZEN, V.; HELVER, C. Sintomas depressivos nos estudantes de medicina da Universidade Estadual de Maringá. Psiquiatria na Prática Médica, v.34, n.1, jan.mar. 2001. Disponível em: <http://www.unifesp.br/dpsiq/polbr/ppm/o

riginal5_01.htm>. Acesso em 15. dez.

2005.

PRADO, F. C.; RAMOS, J.; VALLE, J. R. Atualização terapêutica – manual prático de diagnóstico e tratamento. In: Porto JAD. Transtornos depressivos. 19º ed. São Paulo: Artes Médicas; 1999. p. 1213-15. RAJ, et al. Health-related quality of life among final-year medical students. Canadian Medical Association, v. 162, n. 4, p.509-510, fev. 2000.

ROSCOL, Isabel Cristina R. Guimarães. Avaliação transversal da qualidade de vida em crianças e adolescentes com artrite idiopática juvenil por meio de um questionário genérico (CHQ-PF-50). Tese (Mestrado em Ciências da Saúde) – Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2004. SOUZA, Fábio Gomes de Matos; MENEZES, Maria da Glória Carneiro. Estresse nos estudantes de medicina da Universidade Federal do Ceará. Revista

Brasileira de Educação Médica, Rio de Janeiro, v.29, n.2, p.91-96, maio.ago. 2005.

TIDERMARK, J. et al. Responsiveness of the EuroQoL (EQ 5-D) and the SF-36 in elderly patients with displaced femoral neck fractures. Quality of Life Research, Oxford, v. 12, p. 1069-1079, 2003.

WANG, W. et al. The psychometric properties of the Chinese version of the SF-36 health survey in patients with myocardial infarction in mainland China. Quality of Life Research, Oxford, v. 15, p. 1525-1531, 2006.

WARE, J. E. et al. SF-36 health survey: manual and interpretation guide. Boston (MA): The Health Institute, New England Medical Center, 1993.

WARE, J. E.; SHERBOURNE, C. D. A 36-item short-form health survey. I. Conceptual framework and item selection. Medical Care, Philadelphia, v. 30, n. 6, p. 473-483, Jun. 1992.

WHOQOL GROUP The World Health Organization Quality of Life Assessment (WHOQOL): position paper from the World Health Organization. Social Science and Medicine, v. 41, n. 10, p. 1403-1409, 1995.

Referências

Documentos relacionados

Pasárgada, uma das maiores e mais antigas favelas do Rio de Janeiro, foi retratada num precioso trabalho de Boaventura de Sousa Santos (1988a) que, por meio

Produto disponível em tecnologia Semplice® Não recomendado para aplicação no chão Não recomendado para áreas de alto tráfego Não recomendado para aplicação ao ar livre

Os resultados da avaliação da qualidade de vida relacionada com a saúde, estudada através do Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form Health Survey (MOS SF – 36 v2),

Os escores dos domínios do SF-36 obtidos foram comparados com os de cuidadores sem doença crônica (idade média = 37,2 anos; DP = 9,1) de crianças e adolescentes saudáveis

Objetivo: Comparar dois questionários de avaliação de qualidade de vida—Saint George’s Respiratory Questionnaire (SGRQ) e Medical Outcomes Study 36-item Short-Form Health

Legenda: n: número; SF-36: Medical Outcomes Study Short Form-36 Health Survey; QVRS: Qualidade de vida relacionada à saúde; SCF: sumário do component físico; FIES: Fundo

Avaliar a qualidade de vida relacionada à saúde de crianças e adolescentes com mielomeningocele por meio do instrumento genérico Child Health Questionnaire

Avaliar a qualidade de vida relacionada à saúde dos estudantes do primeiro ao sexto anos do curso de medicina da Universidade Federal de Uberlândia por meio do Medical