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A Escola de Kyoto: Pensar a partir do Nada

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Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST0604

A Escola de Kyoto: Pensar a partir do Nada

Moacir Ribeiro da Silva Mestrando PPGCIR/UFS moacirufs@gmail.com Capes ST 06 – BUDISMOS E CONTEMPORANEIDADE: INTERFACES E PERSPECTIVAS

Resumo: A Escola de Kyoto é um movimento filosófico-religioso no contexto da Universidade Imperial de Kyoto a partir da era Meiji, desenvolveram reflexões tendo como base a problemática do Nada. Mas o que é pensar a partir do Nada? De acordo com seus principais expoente é a confluência resultante de fatores como: um alargamento fruto da compreensão trans-conceitual da realidade, aliado a um repensar da condição religiosa do homem e consequentemente de sua espiritualidade. Pois, como bem frisa Nishida Kitaro, fundador desta escola "a autêntica experiência religiosa pertence ao homem religioso". O caminho metodológico deste trabalho coaduna com o desenvolvimento do nosso projeto de Dissertação em Ciência da Religião no âmbito do PPGCIR/UFS, tendo como linha investigativa "Fundamentos e críticas das idéias religiosas" a pesquisa versa sobre "Abordagem filosófica da mística" sendo referenciada de acordo com a proposta da Fenomenologia da Mística de Juan Martín Velasco e de outros autores que trabalham a questão do Nada com ênfase no estudo comparado da mística. No sentido de sua exposição este trabalho terá um primeiro momento de considerações gerais e abertura para um segundo momento sobre a problemática estabelecida na Escola de Kyoto.

Palavras-chave: Escola de Kyoto, Religião, Espiritualidade, Nada.

Anais do V Congresso da ANPTECRE “Religião, Direitos Humanos e Laicidade”

ISSN:2175-9685

Licenciado sob uma Licença Creative Commons

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Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST0604 1 Considerações iniciais

Partindo dessa agradável possibilidade de construção sobre a esteira da interdisciplinaridade, é que justamente esta pesquisa que tem como linha teórica Críticas e fundamento da Religião, no entorno da Filosofia da Religião, buscar trazer contribuições que visa entender um pouco mais, uma relação de encontro entre o pensamento filosófica oriental e mística, mas precisamente Mestre Eckhart e o tipo de reflexão promovida pela chamada "Escola de Kyoto", no contexto da Universidade Imperial de Kyoto e que trouxe sobre temas perenes da filosofia e religião, reflexões a partir da problemática do Nada.

Quando se pensou no aspecto teórico desta dissertação para o trabalho de compreensão sobre a mística justamente inspirada na interpretação dos filósofos da Escola de Kyoto e como o pensamento da mística especulativa medieval, especificamente como a mística eckhartiana entra no contexto intelectual japonês. Em termos de método compreensivo para mística e sua relação com o Nada como um caminho interpretativo e para sua inserção no contexto das Ciências das Religiões, um dos desafios foi à busca de uma metodologia de trabalho que se evita reducionismo e que fizessem parte do arcabouço metodológico que amplifique a interpretação que Keiji Nishitani faz sobre a mística de Eckhart, entendendo-se que nesse diálogo há uma confluência de pensamento no que tange a importância da mística no contexto da subjetividade de humana e o aspecto religioso pensado a partir deste encontro. Neste sentido, sintonizamos com o que afirma Velasco:

Mas essa descrição de variedades de experiência mística segue uma tentativa de descrever a estrutura do fenômeno místico que se baseia principalmente sobre as atuais formas de experiência mística no cristianismo. Isso não significa que essas formas são mantidas pela única válida, mesmo pelas formas eminentes da experiência mística. Na verdade, cada vez que eu me sinto menos inclinado a distribuir diplomas validade e perfeição entre o estudo fenômenos religiosos. Acontece que essas formas são aqueles que conhecem mais de perto e, assim, permitindo-me um maior conhecimento sobre seus aspectos internos. Eu não, porque a descrição da estrutura do fenômeno místico propõe que isso seja feito de forma inequívoca e nos místicos de todas as tradições. Mas, sim, a descrição é feita com atenção para as formas de misticismo não desperta cristãos e não religioso, frutífero, espera que, para eles, e deixou em aberto a ser enriquecido com as contribuições que os estudos

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de diferentes tradições podem contribuir, contribuíram de fato e eles podem continuar a contribuir.

Neste aspecto, e diante das questões acima elencada encontramos alguns autores que gostaríamos de dialogar na construção teórica dessa pesquisa. Estamos desenvolvendo no âmbito desta pesquisa encontro com autores como: Juan Martín Velasco e sua utilização do método fenomenológico e o desdobramento deste na "fenomenologia da mística", e as obras deste autor que utilizaremos são: O fenômeno místico e outra intitulada, Introducción a la fenomenología de la religíon. Um autor que consideramos importante é o Bernard MacGinn com seu livro "As fundações da mística: das origens ao século V", onde debruçaremos principalmente em sua seção 2 - "Abordagem filosófica da mística". Pesquisadores brasileiros como Cícero Cunha Bezerra e Henrique C. de Lima Vaz também nos auxiliarão na composição deste aporte teórico de estudo. Sendo o primeiro o seu livro – Dionísio Pseudo – Areopagita: Mística e Neoplatonismo, encontra-se justamente neste livro aspectos importantes sobre a problemática do Nada justamente na tradição do neoplatônico cristão que é gestado a partir das influência da influência de Plotino e Proclo e o ápice desta no contexto cristão a partir do Pseudo- Aeropagita. Também utilizaremos outros artigos deste autor. Do segundo pesquisador utilizaremos a obra: Experiência Mística e Filosofia na Tradição Ocidental.

Porém, a presente comunicação que trazemos para este Simpósio Temático é fruto de algumas observações que compõe nosso projeto de dissertação - Na fronteira do nada: A interpretação do nada absoluto de Mestre Eckhart no livro a Religião e o Nada de Keiji Nishitani.

Na fronteira do nada, é uma proposta de identificação de um tipo de trabalho versado na tradição mística medieval, especificamente em nosso caso Mestre Eckhart, a partir de sua concepção do Nada Absoluto e a interpretação de Keiji Nishitani desta concepção eckhartiana.

Em relação à Escola de Kyoto, estes filósofos abriram um diálogo muito produtivo com a tradição cristã, com a noção de realidade no ocidente, como também a questão do niilismo. Entretanto, nossa proposta aqui é tratar de algumas observações sobre o que é o "Pensar a partir do Nada" no contexto de nossa referida escola.

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Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST0604 2 A ESCOLA DE KYOTO: Pensar a partir do Nada

Na Universidade de Kyoto, nasceu um grande trabalho intelectual, que veio estabelecer um diálogo muito produtivo entre o pensamento oriental e ocidental no âmbito da Filosofia e da Ciência da Religião. A começar por Nishida Kitaro (1870 – 145), Tanabe Hajime (1885 -1962) e Keiji Nishitani (1900 -1990). Por conta da notoriedade das reflexões produzida por estes pensadores foram chamado de a “Escola de Kyoto”, tornando-se referência, sobre um tipo de trabalho que tem o Nada, como caminho interpretativo, buscando esboçar uma ontologia inspirado em conceitos religiosos.

Mas o que é pensar a partir do Nada? De acordo com os principais expoentes é a confluência resultante de fatores como: um alargamento, fruto da compreensão trans-conceitual de realidade; abrindo a um repensar da condição religiosa do homem e consequentemente da sua espiritualidade. Pois como bem frisa Nishida Kitaro, fundador desta escola "a autêntica experiência religiosa pertence ao homem religioso".

Nishida em seu livro, Pensar desde la Nada: Ensaios de Filosofia Oriental, que compõe um conjunto de artigos e dentre eles destacamos o intitulado "A lógica do lugar do nada e a cosmovisão religiosa", afirma:

A religião é um fato do espírito. Os filósofos não necessitam fabricá-la desde seus sistemas de pensamento. Unicamente o que deve fazer é explicá-la. E para realizar tal coisa é necessário que ao menos certo ponto compreenda de que se trata. A autêntica experiência religiosa pertence ao homem religioso. (NISHIDA, 2006, p. 33)

Um pouco adiante ainda nos diz: Eu creio que a religião não cabe apenas na esfera da razão (blosse Vernunft). Aquele que pretende falar de religião deverá, ao menos, considerar a consciência religiosa como um fato do seu próprio espírito. (NISHIDA, 2006, p. 25)

As citações anteriores vão dialogar com a questão religiosa a partir da dimensão da subjetividade tendo o nada como uma perspectiva de um encontro de uma transcendência na imanência que o mesmo denomina como autodeterminação do presente absoluto.

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Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST0604 A partir de um confronto do pensamento budista do nada e do esvaziamento, fortemente influenciado de sua prática meditativa, aliado a temas da mística cristã, proporciona uma composição de uma ontologia negativa alinhada de "lugar do nada absoluto", pavimentando assim sua compreensão da experiência religiosa como algo inerente ao homem. (NISHIDA, 2008, p. 49)

Em seu comentário sobre a obra de Nishida, Juan Masiá Clavel (2006, p. 119), nos chama atenção que: "Nishida é um filósofo da religião, mas exatamente, da religiosidade, fato este que tem um interesse pessoal". Aqui encontramos no contexto do pensamento de Nishida sobre a religiosidade um novo direcionamento que compreendendo como um saída diante sobre o aspecto reducionista e secularizante que se estabelece a partir da modernidade. Pois,

Nishida foi um bom conhecedor da tradição oriental, como também estudou a filosofia ocidental e estava familiarizado com obra de autores como Kant, Hegel, Bergson e Willian James. Não renuncia a lógica ocidental por completo, nem se resigna a pensar unicamente com ela. luta consigo mesmo, buscando uma outra lógica, a que chama paradoxalmente de em seu segundo ensaio, a lógica de contradições. Se lhe perguntam como entende o Absoluto, imanente ou transcendente, pensa que a pergunta está mal formulada. Afirma assim: " Creio que a religião do futuro irá em direção do imanente transcendente" (CLAVEL, 2006, p. 121).

Na obra “A Religião e o Nada”, de Keiji Nishitani, é instituída uma reflexão a partir do conceito de Vacuidade, como saída da crise niilista estabelecida pela visão reducionista da religião na modernidade.

Nishitani observa na mística cristã, especificamente no pensamento de Eckhart no ocidente, uma forma radical de pensamento, um dos primeiro a idealizar o nihil como "fundamento – sem – fundo" e que em alguns aspectos aproxima-se de muitos preceitos zen-budista. Como afirma Bezerra:

Para a tradição mística medieval e consequentemente para Eckhart, Deus é o Nada de tudo o que é. Este nexo indissolúvel entre ser e não ser é algo que não só funda a teologia mística como mostra a influência platônica via neoplatonismo. Em sua compreensão, Nishitani irá perceber que geralmente o nada vem pensado na tradição ocidental como oposto ao ser, como a negação daquilo que é (ser) e o mesmo posicionará contra essa interpretação, afirmando, que o nada absoluto, em que tudo o que é negado não é possível como um nada pensado, mas somente como um nada vivo, " como forma sem forma". (BEZERRA, 2009, p. 101).

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Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST0604 Este aspecto da mística especulativa no contexto cristã do medievo que tem o Nada como um caminho interpretativo, em seu conteúdo experiencial e vivencial deve-se compreender para evitar confusões que o domínio de conhecimento envolvido não é alógico ou irracional, mas translógico, Geralmente, o nada é pensado em oposição ao ser, num sentido de movimento horizontal. O nada na mística especulativa situa-se na vertente noética da consciência. (VAZ, 2000, p. 30).

Qual é a matriz teórica da mística especulativa? Vejamos o que nos diz Vaz:

O Neoplatonismo é, na verdade, a matriz teórica e linguística da mística especulativa. Ela tem nos textos de Plotino como que suas escrituras canônicas [...] Seus traços fundamentais, cuja presença se prolongará de modo muito profundo na teologia mística posterior e nas modernas versões filosóficas da mística, de um lado dizem respeito à estrutura da alma e da inteligência e aos degraus correspondentes para a subida contemplativa; de outro, refere-se à natureza da união final no ápice da theoria entre a inteligência e o Uno1. (VAZ, 2000, p. 34)

Nishitani em sua exposição irá entender que o pensamento de Eckhart possui uma originalidade no sentido ao pensar o nada e as características são:

1) Situar a essência de Deus em um lugar mais além do Deus pessoal que esta em suspenso para os seres criados;

2) A essência de Deus, ou deidade, é considerada um nada absoluto, e mais, se converte em um âmbito da nossa morte-na-vida absoluta;

3) O homem tão somente pode ser si mesmo verdadeiramente na deidade e a consumação da liberdade e a independência do homem esta na subjetividade e tão somente pode ser efetivada na manifestação do nada absoluto.

A reflexão com base em Eckhart apontado para um pensamento que precisa ser revisitado por conta da forma como é tratada a relação entre homem e Deus no sentido da consciência e da experiência de um desprendimento e liberdade. Aqui podemos ver refletida a diferença entre a niilidade que proclama que "Deus está morto" e o "nada

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Um bom estudo introdutório desta temática. Cf. BEZERRA, BEZERRA, Cícero Cunha. Compreender Plotino e Proclo. Vozes. 2006.

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Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST0604 absoluto" que chega a um lugar além, incluindo Deus, ou entre a vida que irromper na niilidade e brota como borboleta significando renovação e a vida com a morte-na-vida absoluta. (NISHITANI, 1999, p. 116)

Expõe que já no ocidente temos um pensamento dentro da tradição cristã, ou seja, na mística um tipo de pensamento que na base de sua proposta, apresenta uma conversão do pensamento, um tipo de saída da desesperação da base niilista desenvolvida no âmbito da modernidade.

Em suma, se o nihilum do creation ex-nihilum (como negação em relação à existência dos seres criados) podemos chamar de "nada relativo", e o nada da deidade de Eckhart (como o lugar em que a existência, incluindo o subjetivo, se estabelece no que realmente é) pode chamar-se "nada absoluto", então quiçá poderíamos dizer que a niilidade do niilismo de Nietzsche seria um ponto de vista do "nada relativamente absoluto" (NISHITANI, 1999, p. 117)

Nishitani entende que deveríamos vislumbrar a transcendência do pensamento de Eckhart e que não há dúvida que a fé cristã ortodoxa de seu próprio tempo, não o compreendeu e foi visto como um herege apesar de sua considerável influência e afirma que mestre dominicano ao converteu a subjetividade humana e seu enfrentamento com Deus nos problemas importantes de sua época, o pensamento de mestre Eckhart merece uma reconsideração séria.

Por fim, no presente trabalho buscamos trazer algumas considerações de algumas impressões que vem sendo desenvolvidas no âmbito desta pesquisa que encontra-se em andamento. Buscamos esboçar considerações sobre a representatividade do Nada como caminho no contexto de Nishida Kitaro e Keiji Nishitani e a questão da "a autêntica experiência religiosa pertence ao homem religioso", como assinala Nishida.

Referenciais

BEZERRA, Cícero Cunha. Niilismo Oriental e Cristianismo: Reflexões a partir do Pensamento de Keiji Nishitani, Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 33-40, jan./jun, 2008. _______. (2009). Díonisio Pseudo- Areopagita: Mística e Neoplatonismo. São

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Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST0604 CLAVEL, J. M. Por el vaciarse a la fe. In: NISHIDA, K. Pensar desde la nada: Ensayos de filosofia oriental. Salamanca: [s.n.], 2006. Cap. 121 -141, p. 145.

HEISIG, James W. Filósofos de la Nada: Un Ensayo Sobre la Escuela de Kioto. Barcelona: Herder, 2002.

NISHITANI, Keiji. La Religión y la Nada. Trad. Raquel Bouso García. Madrid: Siruela, 1999

MULLER, M. L. A Experiência religiosa e a lógica tópica da autodeterminação do presente absoluto (Kitaro Nishida). Analytica, Riode Janeiro, v. 12, 2008.

NISHIDA, K. Pensar desde la nada: Ensayos de filosofia oriental. Salamanca: Ediciones Sígueme, 2006.

SUZUKI, D.T. Mística Cristã e Budista, trad. David Jardim. Belo Horizonte – Minas gerais 1974.

Referências

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