Cursos de Artes Visuais
Faculdade de Artes, Letras e Comunicação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
HISTÓRIA DA ARTE:
o século XIX
ARTE . VISUAL . ENSINO
Ambiente Virtual de Aprendizagem
Professor Doutor
Isaac Antonio Camargo
Tópico 6
Os Salões, as Associações de Artistas e o surgimento do Impressionismo.
É importante entender que na França em fins do século XIX os artista vão se organizando em grupos no intuito de
defender suas ideias e ideais tanto estéticos quanto
sociais. Havia a necessidade de um lado de afastar-se da tradição artística impostas
pelas academias e, de outro, a busca de uma identidade artística que atendesse a cada um deles e ao grupo como um todo.
Este aspecto é relevante considerando que tais
agrupamentos começam a reivindicar também um lugar para mostrar os seus
trabalhos já que os Salões de Paris, realizados
regularmente no Louvre, não aceitavam que artistas não pertinentes à Real Academia de Paris participassem
destas mostras. Em 1863, Napoleão III, autoriza a
realização de um Salão Paralelo ao oficial, que acabou sendo conhecido
Tanto as mostras paralelas ao salão oficial quanto
mostras espontâneas promovidas por artistas individualmente ou em grupos é um fenômeno que começa a surgir da
segunda metade do século XIX e facilita a expansão dos modos de pensar e fazer Arte possibilitando o surgimento do chamado Modernismo.
O conceito de Moderno se refere a algo novo, algo
que se opõe ou transforma o passado, aquilo que
existia antes. Assim, no contexto da Arte Visual, o que se chama de
Modernismo ou
Modernidade não se
refere ao período histórico Moderno, mas sim ao
conjunto de
transformações e
inovações que ocorreram na Arte a partir das últimas décadas do século XIX e primeiras do século XX.
Os Salões de Paris, como ficaram conhecidos,
começaram a ser
realizados a partir de 1667 para mostrar as obras dos pintores da
Academia Real de Pintura e Escultura dura,
oficialmente, até 1881 quando perde o apoio oficial.
É um dos salões mais duradouros da história, mais de um século.
Pode-se dizer que os
Salões de Paris suscitaram muitas reflexões. Críticas contundentes, elogios
auspiciosos e todo tipo de comentário. Isto facilitou a difusão destes eventos junto a sociedade da época. Tais mostras eram
acontecimentos sociais
frequentados pela burguesia e também pelo público em geral em busca das
novidades e, especialmente, das polêmicas que tais
mostras motivavam nos jornais da época.
Em 1863, atendendo ao apelo dos artistas
recusados de participarem do salão oficial no Louvre, o Imperador Napoleão III, autorizou uma mostra
paralela, no Palácio da Indústria na qual foram
apresentadas 1.200 obras de 781 artistas.
Salon des
refusés, 1863
Palácio da Indústria em 1861, onde foi realizado o Salão dos Recusados.
O chamado Salão dos
Recusados foi um marco na libertação da Arte
Visual em relação à
tradição acadêmica. Os
artistas participantes eram sistematicamente
recusados da mostra
oficial por não pactuarem com a estética clássica e, por outro lado, por
almejarem uma
renovação na Arte.
Este Salão acabou sendo o precursor da primeira exposição da Société anonyme coopérative des artistes peintres, sculpteurs et graveurs, fundada em 27 de
dezembro de 1873 por Monet, Renoir, Sisley,
Pissarro, Degas e Pierre Prins, inicialmente
chamada de Sociedade dos Artistas Franceses.
Este foi o grupo de
artistas que se propôs a realizar uma exposição, em 15 de abril de 1874, no estúdio do fotógrafo
Gaspar-Félix Tournachon, conhecido como Nadar.
Esta exposição provoca a crítica ácida de Louis
Leroy no Le Charivari do dia seguinte à mostra
onde trata com desdém o quadro Impressões sobre o Sol Nascente de Monet.
A crítica de Leroy, mesmo depreciativa deflagra o
Movimento Impressionista. Nos anos subsequentes
os artistas voltam a
realizar outras mostras e aprofundar suas pesquisas em Arte definindo as diretrizes do Impressionismo que é considerado o primeiro Movimento do Modernismo.
A obra deflagradora do Impressinismo, Claude Monet. Impression, soleil levant 1872.
Naquela mostra Foram
apresentados 165 trabalhos de: Renoir; Monet; Pissarro; Morisot; Degas; Sisley;
Boudin; Cezanne e
Guillaumin, entre outros
artistas. Cabe ressaltar que este grupo não era
necessariamente um coletivo artístico ou um movimento, foi uma reunião de artistas dispostos a mostras seus trabalhos, para tanto tinham que cotizar os gastos com o evento, desde o aluguel do espaço, publicação de
catálogos etc.
O Salão de Paris tinha o apoio governamental, mas as inciativas pessoais ou de grupos dependia de seu
próprio investimento. A
questão era que para obter uma certa visibilidade e
inserir-se no sistema de Arte circuito artístico é
necessário participar de mostras públicas. A saída para isto foi organizar
associações e sociedades com este fim, por isto surgiu a “Sociedade Anônima dos Artistas, Pintores,
Escultores e Gravadores, etc.”
Não é possível dizer que possuíam um programa único, tinham certas
tendências comuns: a
opção pela Pintura ao ar livre, a oposição ao
academismo, o estudo sistemático da cor.
O que vai caracterizar a poética Impressionista é a opção pelo visível e
mesmo a manifestação matérica na superfície de suas obras.
As tintas são tratadas
pelas suas características plásticas, as densidades do material e as
características cromáticas. A gestualidade, as marcas das pinceladas e dos
pincéis são mantidas e visíveis na superfície da tela, não há qualquer
preocupação em escondê-las.
Portanto as marcas do fazer são elementos
constitutivos da poética Impressionista e,
consequentemente,
produtoras de sentido de tal modo que a materialidade e a gestualidade da pintura é, além de um componente
expressivo, também significativo.
As qualidades plásticas das pinceladas são integradas ao dizer da pintura.
Pode-se dizer que o
Impressionismo instaura a Pesquisa em Arte. Os
artistas problematizavam os conceitos da cor e sua aplicação. Exploravam as variações da luz no
ambiente observando suas constantes e
variáveis, neste sentido, operavam como
Um exemplo disso é a série de Monet sobre a catedral de Rouen. Ao longo dos anos pintou a catedral no mesmo
ângulo, variando as horas do dia, as estações do
ano e as variações
climáticas e luminosas que incidiam sobre a
catedral obtendo, a cada dia, uma imagem
Monet, catedral de Rouen, 1894
Monet, catedral de Rouen, nublado
Alguns artistas são
referência constante para o Impressionismo. Eugène Boudin (1824-1898) pode ser considerado o precursor do Impressionismo pelas suas paisagens luminosas.
Entretanto, os artistas que construíram o projeto e o programa Impressionista foram: Camille Pissarro (1830-1903), Claude Monet (1840-1926), Edouard Manet (1832-1883), Pierre-Auguste Renoir (1841-1919), Edgar Degas (1834-1917), Frederic Bazille (1841-1870), Armand Guillaumin (1841-1927) Berthe Morissot (1841-1895), Alfred Sisley (1839-1899), Mary Cassat (1844-1926).
Pissarro, Sesta, 1899.
Os grupos de artistas que se dispuseram a trilhar
novos caminhos, mesmo se afastando do centro cultural mais importante na época que era Paris, deram um novo rumo para a Arte no século XIX. Tanto a Escola de Barbizon quanto as
associações de artistas que, pela mobilização política,
conquistaram um novo espaço para mostrar sua produção foram sigificativos para a instauração do
Modernismo.
As exposições paralelas acabaram proporcionando o surgimento do
Impressionismo e ele, por sua vez, estimulou o
desenvolvimento de
condutas investigativas
que inaugurou o campo da Pesquisa em Arte, um
passo importante para o desenvolvimento da Arte desde então.
Leituras recomendadas para complementar os conteúdos deste tópico:
GOMBRICH, Ernest. A história da Arte, cap. 24, 25, 26.
Obs: Os textos aqui indicados estão disponíveis no site
em TEXTOS.
Questões sobre este tópico e suas leituras:
1. O que é Moderno no contexto da Arte Visual?
2. O que eram os Salões de Paris?
3. O que é o Salão dos Recusados?
4. Como surge e é batizado o Impressionismo?
5. Quais são as características plásticas do Impressionismo?