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Contatos entre gregos e indígenas no sul da Itália (séc. VIII a.c.): os cam inhos da arqueologia

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Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, Suplemento 12: 1-6, 2011.

C on tatos entre gregos e indígenas no sul da Itália (séc. VIII a.C.):

os cam inhos da arqueologia

A n a Paula T auhyl*

TAUHYL, A.P. C ontatos entre gregos e indígenas no sul da Itália (séc. VIII a.C.): os cam inhos da arqueologia. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, Suplem ento 12: 1-6, 2011.

R e su m o : Este artigo busca tratar de Incoronata, sítio localizado em Meta- pon to, colônia grega do sul da Itália, no que concerne aos vestígios arqueológi­ cos que podem indicar interação entre gregos e indígenas. C o m material abun­ dante, o sítio traz inform ações a partir do século IX a.C ., ou seja, é anterior à fun dação de M etaponto, no século VII a.C . Esta reflexão é parte da pesquisa de Iniciação C ientífica intitulada “O s gregos em Poseidônia e M etaponto: a khóra e a ásty com o cenários de integração com os indígenas, entre os séculos V III e IV a .C .”

Palavras-chave: M etapon to - Incoronata - M agna G récia - U rbanism o grego - C id ad e e território.

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ste a r tig o é p a r te d a p e s q u is a de I n ic ia ç ã o C ientífica intitulada “O s gregos em Poseidônia e M etapon to: a khóra e a ásty com o cenários de integração com os indí­ genas, entre os séculos VIII e IV a .C .” , que tem com o plan o inicial a com paração entre estas duas colônias gregas situadas no sul da Itália, no que se refere ao uso do território e com o isso p ode refletir estratégias de inclusão e exclusão dos indígenas.

A qu i, tratarem os de Incoronata, m ais especificam ente d o pico oeste, sítio bastante com plexo com abun dan te inform ação d o século IX ao VII a.C ., localizado em M etapon to.

(*) A luna de Iniciação C ientífica em Arqueologia Clássica pelo L abeca/M A E-U SP.

Bolsista Fapesp. anatauhyl@ hotm ail.com

O local tem a seguinte configuração: ao sul do rio Basento, a aproxim adam ente 8 km da costa, situa-se Incoronata “grega”; bem perto, es­ tão as necrópoles de San T eodoro e Incoronata “ indígena” datadas dos séculos IX e VIII a.C . N ossa pesquisa baseia-se no trabalho de Joseph C árter e A n ton io De Siena. (Fig. 1)

Incoronata “grega” reúne um a série de características em um único sítio, o que perm ite o aprofun dam ento do problem a colocado por esta Iniciação C ientífica. O sítio passou por várias fases: vila indígena, assentam ento m isto de indígenas e gregos e, por fim , san tuário rural grego, sím bolo da presença aqueia na região. Em bora se saiba m uito pouco sobre o que aconteceu na época da fun dação de M etapon to no final do século VII a.C . (o p ouco que se sabe vem repleto de controvérsias), o contato anterior entre gregos e indígenas, que pode ser

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Fig. 1. Sítios de Incoronata "grega”, Incoronata “indígena’ e San Teodoro na parte sul do vale do rio Basento, a 8 km da costa Jônica. (C. W illiam s/IC A ; In: Carter 2006: 54 [fig. 2.2]). A daptação: Ana Paula Tauhyl.

deduzido através dos vestígios arqueológicos, é capaz de n os dar pistas sobre o processo de interação nesta região entre as duas culturas, de m o do geral. O que se extrai da reflexão de estudiosos com o C arter e D e Sien a vai bas­ tante além da visão de confronto, m uitas vezes com um qu an d o se fala das colônias gregas no O cidente. O sítio, escolhido exatam ente pela grande qu antidad e de m aterial nele existente, p ode m ostrar u m a realidade que possivelm ente se prolon gou até o p eríodo posterior à chegada dos colonizadores.

D e Sien a (2001, p .17) percebe algum as m u dan ças n a passagem do final do Bronze p ara o início da Idade do Ferro (XI-X a.C .) na região d a costa Jôn ica. O correu um a crise nos m aiores centros, que deram origem a pequen os núcleos m ais próxim os à costa, zona favorável ao desenvolvim ento agrícola devido à m aior estabilidade geográfica. O s núcleos se verificam pela presença de grupos de cabanas acom pan ha­ das p or sepulturas, distribuídos alternadam ente

em am plos espaços vazios. A s ligações entre os habitantes eram de parentesco próxim o. A pesar desses acontecim entos, D e Sien a n ão vê sinais de um a ruptura cultural e étnica com a Idade d o Bronze. Exem plo disso é a m an utenção do sepultam en to d o defun to n a posição “rannicchi- ata” - fletida, m uito com um n a Idade do Ferro, m as que já aparecia nas tum bas d o Bronze A ntigo, p or exem plo, em F un n o n e di Pomarico, na região do rio B radano.

N este contexto geral, é possível identificar na região de Incoronata-San T eod oro um a grande quantidade de vestígios m ateriais relacio­ n ados à habitação e à necrópole na In coron ata indígena. N o terreno foram en con trados os buracos on de se colocavam os postes que estru­ turavam a cobertura das cabanas e a cavidade que servia de depósito nas m esm as (D e Sien a, 2001, p. 18). (Fig. 2)

Esses poços continham cerâm ica d o tipo G eom étrico do Bradano, com m otivo a tenda U m deles guardava um m olde para a confeccão

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Ana Paula Tauhyl

Fig. 2. Reconstituição gráfica de uma cabana indígena (De Siena 2001, p .18 [fig. 11]).

de anéis de m etal com um ente en contrados nas necrópoles, entre objetos fem ininos típicos de enterram ento, com o m elhor verem os a seguir, do século IX ao V II a.C . A s habitações não dife­ riam um as das outras exceto pelo tam anh o das fossas. U m a possível diferenciação se dava nas tum bas e nos objetos funerários. Estes podem indicar a presença de pessoas de destaque por m eio de espadas, p on tas de lança e facas, do lado m asculino, e instrum entos de trabalho, com o os pesos de tear e dem ais objetos para adorno de bronze, ferro e âm bar, no que con­ cerne ao universo fem inino.

Por volta da m etade d o século VIII a.C ., os estudos de D e Sien a apo n tam para um a m odificação geral nesses vários núcleos. O b­ ras de grande estrutura de interesse coletivo, com o estradas e m elhorias no território, foram realizadas e setores que antes eram destinados à habitação e às n ecrópoles foram aban d on a­ dos. O correu um a concentração populacional n o vale d o rio Basento. D e Sien a nom eia de In coron ata “grega’ o que ele cham a de “trans­ form ação proto-urbana” , de acordo com a

literatura arqueológica. Ele credita a m udança à m aturação política interna que se deu devido ao crescim ento dem ográfico e econ ôm ico. A docum en tação relativa a In coron ata consiste no aum ento, a partir daí, de produ tos im portados da G récia e das ilhas d o Egeu. D a m esm a form a, apareceu um a produ ção local que trazia sinais da influência grega. O prim eiro achado na região aconteceu em 1971. Trata-se d o fragm en­ to de um deinós com desenho de cabra selvagem im portado do sul da Jôn ia, d atad o de aproxim a­ dam ente 630 a.C . (Fig. 3)

As escavações ocorridas em 1971 levaram A dam estean u (1971, pp. 18-20; apud C árter, 2006, p. 56) a crer na possibilidade da con­ vivência sim biótica entre gregos e indígenas no sítio da colina de In coron ata “grega” O rlan d in i (1999; apud D e Sien a, 2001, p. 20), p or sua vez, levanta a hipótese de sobreposição grega n o as­ sentam ento indígena, baseada nas evidências de cultura m aterial que provariam a chegada grega e a estadia de artesãos e com erciantes externos. A teoria é tam bém sustentada pela redução da produ ção local, pelo surgim ento de novas

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Fig. 3. Fragmento de um deinós tardio importado do sul da Jônia com desenho de cabra selvagem, cerca de 630 a.C. H. 14,5 cm. (V. Massaro. Cortesia da So- printendenza archeologica della Basilicata. In: Carter 2006: 57 [fig.2.6]).

técnicas de construção, com o a planta quad­ rangular e o uso de tijolo cru, e pela analogia com m ateriais m ais arcaicos da colônia grega de Siris, en contrados na colina de Policoro. A ssim , a Incoronata caberia o papel de posto avançado de Siris cuja função era estabelecer trocas com ercias com outros sítios enótrios do interior, ou seja, um assentam ento com função de empórion. C o n tu d o , vestígios, ou melhor, a falta deles parece indicar que a circulação dos produ tos se restringiu à colina de Incoronata. O sítio teria sido, na visão de O rlandin i, local de duas destruições: um a para virar empórion e, de­ pois, para virar colônia aqueia. D e Sien a (1996; apud D e Sien a, 2001, p. 20), p or outro lado, cita, a fim de provar sua teoria de continuidade, a im u tabilidade das estruturas de habitação da fase indígena para a fase grega, com exceção da utilização da form a quadran gular com rodapé de pedra e construção de tijolo cru n o caso de depósitos para grandes vasos de argila, os píthoi.

Existe, em relação à arquitetura das ca­ banas, um grande debate que C arter (2006, p. 58) n os apresenta em seu trabalho. O pico oeste de In coron ata “grega’", assim com o os outros dois, é repleto de estruturas que C arter divide em : a) poços de tam anh os e perfis variados, que vão desde bem pequen os até 1,5 m ou m ais de diâm etro; b) poços retangulares m aiores; e c) estruturas sem i-enterradas com superfícies d o piso afun dadas, algum as com pedras que sustentariam paredes de tijolos. O rlandin i

(1974; apud C árter, 2006, p. 58) entende que os poços circulares serviam para guardar restos de cerâm ica indígena, pois este era o conteúdo deles qu an d o escavados. O u tros desses poços continham cerâm ica grega e indígena, datadas por estudiosos com o da época em que suposta­ mente havia apenas gregos n o local. O rlandin i tam bém considera esses poços depósitos de restos. A s estruturas retangulares seriam oikos, ou seja, casas gregas, pois continham cerâm ica grega em m aior quantidade, em bora tam bém apresentassem vestígios indígenas. Su a inter­ pretação original, em 1974, com o já citam os acima, é de que as cabanas com restos indígenas representariam a prim eira fase da ocupação (vila indígena) no século V III a.C ., e as cabanas com resíduos gregos e indígenas seriam poços para guardar o que sobrou da vila destruída. A pre­ sença de m aterial indígena n os oikos é explicada pelo fato de que estes acabavam alcançando o estrato inferior qu an d o destruídos. C o n tu d o , os estudos de Sm all e Y ntem a (1985; apud Cárter, 2006, p. 60) m ostram que algum as cerâm icas indígenas são contem porâneas à presença grega, o que levou O rlandin i (1974; apud C árter, 2006, p. 58) a, de certa form a, aceitar em parte um a possível coabitação. O u tra questão é a função dessas estruturas. C o m o os oikos eram pequenos e não pareciam ser de tam anh o apropriado para um a habitação confortável, D e Sien a (1996, p. 81; apud Cárter, 2006, p. 60) argum enta que os poços redon dos poderiam ser porões de cabanas cujas partes superiores foram destruídas pelo tem po, em bora n ão existam evidências de bura­ cos de postes perto dessas estruturas. Isso levou à hipótese de que os poços retangulares fossem arm azéns de lojas, o que corroboraria a ideia do empórion, entretanto, de dom ín io indígena.

N o que concerne à produção de cerâmica, Incoronata contava com vários materiais fabricados no local, m as de estilo grego. C o m o exem plo, tem os um perirrhantérion (vasilha para purificação com água) com funções rituais, segundo A dam esteanu (1986; apud Cárter, 2006, p. 60). Isso sugere que havia um contato artístico entre a localidade e a G récia D órica no início da segunda m etade do século VII a.C ., pois o estilo do relevo da decoração, feita com tem as m íticos e hom éricos, costum ava circular

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Ana Paula Tauhyl

na região de C o rin to por volta de 6 5 0 a.C . (C árter, 2006, p. 60). O rlandin i vê, nesse caso, a possibilidade do vaso ser destinado à troca com algum chefe enótrio. C árter (2006, p. 61), p or ou tro lado, n ão sabe se algum a vez um vaso desse tipo foi en contrado em locais de culto ou de enterram ento indígena. (Figs. 4 e 5)

M esm o n o século VII a.C ., a produção local continuava presente pelos fragm entos de vasos que m ostram a continuidade de um a tradição artesanal que se perm ite algum as m udanças e refinam entos. A influência grega é difícil de ser atribuída especificam ente a um povo, pois ex­ istem cerâm icas de vários tipos: de origem jônia, aqueia, m icênica, da costa A driática e de ítaca, entre outras. D e tudo isso, D e Siena (1996; apud C árter, 2006, p. 63) conclui que houve assim ila­ ção dos elem entos novos, no caso, gregos, pela

cultura local e não o desaparecim ento desta em virtude daquela. Portanto, ele não crê na presença de um empórion de Siris nesse contexto de controle indígena, nem em um a colonização precoce grega. De Siena entende que havia, aí, um a dinâm ica de tipo proto-colonial, ou seja, os gregos moravam em núcleos próxim os à costa e aos rios com o consenso dos indígenas da região.

O s enterram entos do século VIII e VII a.C ., segundo D e Siena (1990; apud Carter, 2006, p. 63), m ostram a emergência de um a elite indí­ gena influenciada e enriquecida pelo contato com os gregos. Neste grupo encontra-se um sepultam ento em posição de supino, em con­ traste com o com um ente utilizado enterram ento fletido na região. Essa pessoa, provavelmente especial, faria parte da elite que De Siena cita.

Além disso, a tum ba tam bém se diferencia pela profundidade e pela única grande laje que a co­ bre. A necrópole é separada das habitações por uma estrada. Na área das cabanas há vestígios de buracos de postes que sugerem um a estrutura retangular. Se isto for uma habitação, a ideia de que foi a inspiração grega a respon­ sável por estruturas retangulares cai por terra, uma vez que as ruínas são do século VIII a.C ., anteriores à fundação de Meta- ponto, no século VII a.C . A pesar d o abandon o das m oradias em Incoronata “ indígena” suplan­ tada por Incoronata “grega” a região continuou a ser utilizada para enterram entos. A nordeste, após uma ravina e coberto por um a propriedade m oderna, localiza-se um grupo de sep­ ulturas indígenas em posição fletida e crianças enterradas (encfvytnsmòs) em ânforas gregas im portadas, acom panhadas por aríbalos de estilo Protocoríntio tardio. Há grupos sim ilares em Siris e Pitecusa. De Siena (1990; apud C arter, 2006, p. 63) salienta Fig. 4. (A) Perirrhantérion de terracota das escavações da Universidade de

Milão (Incoronata 4, 83, 88 [figs. 156, 165]). Altura: 78 cm, base diam. 78 cm. (B) Detalhe. Com pare o friso de San Biagio (figura abaixo). In: Carter 2006: 61 (fig. 2.10).

Fig. 5. Relevo de um edifício sagrado em San Biagio, representando uma biga com guerreiro armado. D atado do final do século VII a.C . Altura: 20,7 cm. In: C arter 2006: 76 (fig. 2. 38).

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a im portância desses achados, pois sugerem proxim idade dos indígenas à Incoronata “grega” no século V II a.C .

C o m o podem os perceber por meio dos vestígios arqueológicos e das interpretações citados neste artigo, o tem a do contato pacífico

entre indígenas e gregos tem sido bastante in­ vestigado, o que vem questionar a posição m ais tradicional que en tendia a chegada dos gregos ao O cidente m editerrânico com o um a em presa de conquista e de sum issão das populações locais.

TAUHYL, A.P.

Contacts between Greek and indigenous people

in southern Italy (VII century BC): the paths o f archaeology.

Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, Suplem ento 12: 1-6, 2011.

A bstract: This paper seeks to explore the site o f Incoronata in

respect o f archaeological remains that may indicate interaction

between Greeks and indigenous population. W ith abundant

material and

located close to Metaponto, a Greek colony in south­

ern Italy, the site

provides information from the 9th century B C

onwards, before the foundation o f M etaponto in the 7th cen­

tury BC . This article is part o f a Scientific Initiation research

entitled “The Greeks in Poseidonia and M etaponto: the

Ch.o-

ra and Asty as integration scenarios with the indigenous popula­

tion, between the 8th and 4th centuries B C ”

K eyw ords: M etapon to - Incoronata - M agna G recia - G reek urbanism - C ity and territory.

R eferên cias bibliográficas

C A R T E R , J.C . D E SIEN A, A.

2006 Discovering the Greek countryside at Meta- 2001 M etaponto. Archeologia di una colonia greca. ponto. Thom as Spencer Jerome Lectures Taranto: Scorpione Editrice.

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Referências

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