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A MATEMÁTICA MODERNA NAS ESCOLAS DO BRASIL E DE PORTUGAL: UMA ANÁLISE DO CASO BRASILEIRO i

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A MATEMÁTICA MODERNA NAS ESCOLAS DO BRASIL E DE

PORTUGAL: UMA ANÁLISE DO CASO BRASILEIRO

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Ivanete Batista dos Santos (ivanete@ufs.br) GHEMAT - Universidade Federal de Sergipe

Palavras-chave: Movimento da Matemática Moderna; história da educação matemática; estudo histórico comparativo

I – Introdução

O projeto A Matemática moderna nas escolas do Brasil e de Portugal: estudos históricos comparativos é coordenado no Brasil pelo Professor Doutor Wagner Rodrigues Valente e em Portugal pelo Professor Doutor José Manuel Matos. Para efetivação desse projeto de cooperação internacional e garantir a produção de estudos históricos comparativos os membros do grupo procuram seguir o traçado inicial da proposta, algumas das etapas previstas estão apresentadas a seguir.

• Aprofundamento teórico de uma base de didático-metodológico comum de trabalho o investigativo entre os dois grupos de pesquisadores; • Realização de estudos sobre a matemática escolar dos anos 1950 no

Brasil e em Portugal;

• Análise comparativa da produção bibliográfica existente nos dois países sobre o MMM;

• Organização de uma base de dados obtidas das práticas pedagógicas realizadas ao tempo do MM em cada país. Essa busca, organização e seleção incluirá materiais como: livros didáticos, cadernos de alunos, de professores, programas curriculares, provas e avaliações entre outros;

• Organização de uma base de dados a partir da gravação digital de memórias de professores que vivenciaram o tempo do MMM;

• Levantamento de materiais relativos a divulgação, em cada país, do MMM. Ai incluem –se jornais, revistas, materiais para rádio, TV , etc.

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Para cumprir essas etapas, no caso brasileiro, desde 2006, o grupo está em processo de conformação, de modo que as pesquisas estão sendo conduzidas ou orientadas por professores/pesquisadores de diferentes Estados, a exemplo dos apresentados a seguir.

 São Paulo – Wagner Rodrigues Valente, Maria Célia Leme da Silva e Maria Cristina Araujo de Oliveira

 Curitiba - Neuza Bertoni Pinto

 Mato Grosso – Gladys Denise Wielewski  Porto Alegre - Maria Cecília Bueno Fischer  Sergipe - Ivanete Batista dos Santos

 Bahia – André Mattedi Dias

Além disso, faz parte do grupo: alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado de deferentes Estados. E esse é um dos motivos que permite, freqüentemente, a inserção de novos membros, ressaltando que quase todos os pesquisadores que já concluíram os trabalhos acadêmicos de conclusão de curso, monografias, dissertações e teses continuam desenvolvendo pesquisas e participando dos seminários temáticos.

Desde 2006, o grupo realiza anualmente dois seminários temáticos, sendo um no Brasil, durante o primeiro semestre, e o outro em Portugal, durante o segundo semestre. No caso brasileiro já foram realizados três: o I Seminário Temático, em maio de 2006, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, o III Seminário, em março de 2007, na Pontifícia Universidade Católica do Paraná e o V Seminário Temático, foi realizado em março de 2008 em Porto Alegre.

Vale ressaltar que a organização e condução dos seminários têm passado por mudanças, na tentativa de transformar esses encontros em momentos profícuos de aprendizagem para todos os participantes. Assim, o procedimento que era apresentação dos trabalhos apenas para os membros do grupo foi modificada, e no último seminário foram convidadas especialistas da área de História da Educação para comentar os trabalhos e dessa forma superar problemas dúvidas e dificuldades em relação a produção de estudos históricos. Contribuíram como comentadoras: Flávia Obino Correa Werle (UNISINOS); Maria Helena Camara Bastos (PUCRS); Beatriz T. Daudt Fischer (UNISINOS) e Maria Stephanou (UFRGS).

Para um balanço da produção inicial dos membros do referido grupo neste trabalho, é apresentado o resultado de um exame dos estudos produzidos pelos pesquisadores brasileiros expostos durante os três seminários temáticos realizados no Brasil. O intuito principal é responder a seguinte indagação: qual ou quais as características dos estudos históricos comparativos que estão sendo produzidos no âmbito doe projeto? Para responder a tal indagação são mapeadas as temáticas já examinadas, as principais fontes mobilizadas e o referencial teórico que tem sido utilizada e que está conformando o acervo e produzindo a memória do grupo, como o objetivo de identificar os procedimentos adotados pelos pesquisadores brasileiros que podem ser considerados como característicos da produção do grupo em termo de estudos históricos comparativos sobre o Movimento da Matemática Moderna.

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II – Os trabalhos produzidos: uma amostra

Um exame dos trabalhos apresentados durante o seminário permite afirmar que, por conta da composição quantitativa e da formação acadêmica os membros do grupo os trabalhos examinados apresentam etapas diferenciadas de pesquisa. Constata-se que o grupo, ainda, não possui um quantitativo de pesquisadores que cubra as múltiplas possibilidades de investigação que um projeto dessa natureza necessita. Mas, em cada seminário foram apresentados, mais de trinta trabalhos de pesquisadores brasileirosii. Na tabela que segue está listado o quantitativo dos trabalhos de pesquisa apresentados nos seminários nos últimos três anos.

Tabela I – quantitativo de pesquisadores por Estado

Unidade Federativa I Seminário Temático III Seminário Temático III Seminário Temático São Paulo 17 16 16 Curitiba 8 6 7 Mato Grosso 1 3 3

Rio Grande do Norte 1 ---- ----

Rio Grande do Sul 2 3 3

Sergipe ---- 1 2

Santa Catarina 2 2 4

Bahia ---- ---- 4

Minas Gerais ---- ---- 2

Fonte: Livro de resumo dos Seminários Temáticos realizados em 2006, 2007 e 2008.

Como está apresentado na tabela anterior, o grupo de São Paulo, coordenado pelo Professor Wagner Rodrigues Valente, é o que tem maior quantitativo de participantes. Depois aparece o grupo de Curitiba, coordenado pela Professora Neuza Bertoni Pinto. Nos demais Estados a formação dos grupos ainda está em processo de formação e são conduzidos quase de forma individual, algumas vezes apenas com a colaboração de alunos de iniciação científica.

A seguir é apresentada uma amostra de trabalhos produzidos por pesquisadores vinculados ao grupo paulista como parte de atividades acadêmicas de mestrado e doutorado.

Quadro I – Grupo de São Paulo I

Aparecida Rodrigues Silva Duarte  Um estudo preliminar sobre o ensino de

Matemática na perspectiva de Omar Catunda (2006)  A participação do matemático Omar Catunda no MMM da Bahia (2007)

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Denise Medina  A Matemática Moderna no primário: uma análise dos documentos oficiais (2006)

 O MMM no ensino primário: uma história da legislação escolar (2007)

 História da educação matemática nas séries iniciais: uma cronologia (2008)

Flainer Rosa de Lima  Os cursos do Grupo de Estudo de Ensino de

Matemática - GEEM e a formação de

professores(2006)

 Os cursos oficiais do Grupo de Estudo de Ensino de Matemática - GEEM (2007)

 Grade curricular do Curso Preparatório – Matemática (2008)

Mario Nobuyuki Nakashima  A Matemática Moderna na imprensa escrita: dos

monumentos aos documentos(2006)

 O papel da imprensa no Movimento da Matemática Moderna (2007)

Marytta Rennó V. P. Masseli Bonafé  Zoltan Dienes e a Matemática Moderna no ensino

primário brasileiro (2006)

 Zoltan Dienes e a Matemática Moderna (2007)

Viviane da Silva  A Matemática Moderna: uma análise documental

do arquivo pessoal Osvaldo Sangiorgi (2006)

 Matemática Moderna: confronto do fracasso com o ideário (2007)

Fonte: Livro de resumo dos seminários temáticos.

A partir de um exame dos títulos arrolados no quadro I, percebe-se que, os trabalhos apresentados durante os primeiros seminários, principalmente 2006 e 2007, conservam quase sempre a mesma temática e os títulos sofreram pequenos ajustes. Fato plenamente justificável, já que como dito anteriormente, trata-se de pesquisas associadas à produção de dissertações ou teses. Observa-se ainda nesses trabalhos, se tomado ainda como referência apenas o título, que não há uma preocupação inicial em estabelecer comparação no sentido stritu da palavra. Já nos trabalhos dos pesquisadores que são em orientadores dos trabalhos, ver quadro II percebe-se em pelo menos dois deles, o anuncio da produção de estudos históricos comparativos, fato que se destaca principalmente em Valente (2006, 2007, 2008).

Quadro I – Grupo de São Paulo II

Maria Célia Leme da Silva  A trajetória da geometria escolar durante o MMM

no Brasil: uma análise inicial (2006)

 A Geometria escolar em Portugal e no Brasil: primeiros estudos (2007)

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de Matemática (2008)

Maria Cristina Araujo de Oliveira  Discussões didáticas e a formação de professores

de Matemática no Brasil durante o MMM (2006)

 Discussões didáticas pedagógicas sobre

Matemática Moderna (2007)

 Revista Escola Secundária: instrumento na formação continuada de professores de Matemática (2008)

Wagner Rodrigues Valente  Estudos Históricos comparativos: uma

perspectiva de análise para o Movimento da Matemática Moderna no Brasil (2006)

 A matemática moderna nas escolas do Brasil e em Portugal: história e epistemologia. (2007)

 O MMM e as suas estratégias no Brasil e em Portugal: considerações sobre o início do Movimento (2008)

Fonte: Livro de resumo dos Seminários Temáticos realizados em 2006, 2007 e 2008.

O exame dos trabalhos permite afirmar que o grupo tem realizado investimento de pesquisa em linhas relacionadas a intelectuais, a formação de professores, a livros didáticos, a imprensa periódica. E que pelo menos para os estudos de mestrado e doutorado o objetivo parece ser compreender as singularidades de cada tema, antes de estabelecer elementos que os atrelem diretamente ao que esta sendo denominado de estudos históricos comparativos.

Já em relação ao grupo paranaense percebe-se que, apesar dos estudos seguirem a linhas referidas anteriormente eles estão limitando, pelo menos nesse primeiro momento, em buscar compreender a circulação e implementação da proposta do Movimento da Matemática Moderna no Estado do Paraná, conforme está apresentado a seguir.

Quadro III - Grupo de Curitiba

Ana Célia de Costa Ferreira  Práticas pedagógicas de Geometria no Movimento

Paranaense de Matemática Moderna (2006)

 O Movimento Paranaense de Matemática Moderna e as propostas pedagógicas e geometria (2007)

Andre Francisco de Almeida  O MMM Paranaense: imprensa e memória (2006)

 Memória do Movimento da matemática Moderna no Paraná: o Núcleo de Estudo e Difusão do Ensino de Matemática (NEDEM) (2007)

Bárbara Winiarski Diesel Novaes  Marcas do Movimento da Matemática Moderna no

cotidiano escolar dos cursos técnicos industriais do Estado do Paraná (2006)

 Vestígios da Matemática Moderna na Escola Técnica Federal do Paraná (2007)

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 A educação matemática nos cursos técnicos do Brasil e de Portugal em tempos de Matemática Moderna (2008)

Elenir T. Paluch Soares  O que dizem o prefácio dos livros didáticos de

Matemática (2006)

 Matemática Moderna na licenciatura: referencial para o professor da educação básica Moderna (2007)  A Matemática Moderna na Licenciatura: o livro

didático em questão (2008)

Iara da Silva França  Práticas avaliativas do Movimento da Matemática

Moderna no Estado do Paraná (2006)

 A avaliação da aprendizagem da Matemática Moderna no Estado do Paraná (2007)

Márcia Alves Dinis  O MMM Paranaense: imprensa e memória (2006)

 Fontes históricas do Movimento da Matemática Moderna no Estado do Paraná(2007)

Neuza Bertoni Pinto (2007)  A Trajetória do NEDEM no Movimento Paranaense de

Matemática Moderna (2006)

 A modernização pedagógica da Matemática no Brasil e em Portugal: apontamentos para um estudo histórico-comparativo, (2007)

 A Legitimidade curricular da Matemática Moderna: comparando o incomparável(2008)

Fonte: Livro de resumo dos Seminários Temáticos realizados em 2006, 2007 e 2008.

Observa-se pelo quadro III, mais uma vez que é nos trabalhos da coordenadora e orientadora, Neuza Bertoni Pinto, que aparece de forma explícita a produção de estudos históricos comparativos,e como dito anteriormente ao que tudo indica os demais membros do grupo parece ainda está buscando compreender as especificidades de cada tema em relação ao Paraná.

Já as pesquisas realizadas nos demais Estados, ainda não é possível identificar linhas específicas de investigação, pois os títulos dos estudos indicam amplas possibilidades, que pode ir desde o mapeamento de fontes até investigações sobre qualquer temática relacionada ao Movimento da Matemática Moderna. A exceção do trabalho de Fischer (2006) e Fischer (2007), denominado respectivamente de Acervo do GEEMPA como fonte para a escrita da história da Educação Matemática em Porto Alegre e Reformulação metodológica do ensino de Matemática no 1º grau:análise preliminar do relatório de pesquisa realizada pelo GEEMPA.

Quadro IV – pesquisas nos demais Estados

Gladys Denise Wilewski A Matemática Moderna nas escolas de Cuiabá(2006)

Luiz Henrique Ferraz O Movimento da Matemática Moderna no Rio Grande do Sul (2007)

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Maria Cecília Bueno Fischer, Elisabete Burigo, Monica B dos Santos

Considerações acerca da matemática Moderna no Rio Grande do Sul (2008)

Ivanete Batista dos Santos O Movimento da Matemática Moderna em Sergipe (2007)

Fonte: Livro de Resumo dos Seminários Temáticos realizados em 2006, 2007 e 2008.

Do que está posto ate aqui se percebe que não existe nenhuma diretriz que, defina de forma explicita uma linha de pesquisa, por exemplo, formação de professores, intelectuais, disciplinas escolares, instituições. Além disso, ao que parece ao compor um conjunto formado por trabalho que investe em frentes diferenciadas o grupo acaba produzindo aos poucos um quadro compreensivo sobre a cultura escolar em relação ao Movimento da matemática Moderna.

III – Características dos estudos históricos comparativos sobre o Movimento da Matemática Moderna: o caso brasileiro

A primeira característica que deve ser destacada na produção ora examinada é o vasto acervo de fontes que tem sido mapeada, dessa forma o grupo está cumprindo um dos objetivos do projeto que é organizar uma base de dados sobre as práticas pedagógicas realizadas a época da implantação do Movimento da Matemática Moderna, para isso cada membro do grupo tem buscado fontes como: livros didáticos, cadernos de alunos, de professores, programas curriculares, provas e avaliações. E com isso começar a exercer o papel do historiador, que no exercício de seu ofício garimpar fontes, para selecionar e “dar vida” aos vestígios identificados.

Os membros de grupo, sem dúvida nenhuma, têm rompido lacres e cordões de caixas, pacotes e arquivos “esquecidos” e cumprido parte fundamental da tarefa do historiador, que é coletar de fontes, já foram mapeadas em relação ao Movimento da Matemática Moderna:

 arquivos escolares - Colégio Estadual do Paraná, arquivo da Escola Técnica do Paraná;

 arquivos de grupos difusores do Movimento da Matemática Moderna - NEDEM (Núcleo do Ensino de Matemática – Paraná), GEEM (Grupo de Estudos de Ensino de Matemática - SP), (GEEMPA – Grupo de Estudos sobre o Ensino de Matemática de Porto Alegre), GRUEMA (Grupo de Ensino de Matemática Atualizada);

 arquivos pessoais – Osvaldo Sangiorgi, Ubiratan D’Ambrósio;  periódicos – jornais e revistas de circulação local e nacional;  livros didáticos

São documentos que estavam esquecidos em “arquivos” ou “caixas” de instituições escolares ou de grupos de estudos locais que começam a circular

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inicialmente entre o grupo, mas que posteriormente será organizado e disponibilizado para outros pesquisadores que com originalidade e precisão conformará “novos objetos”. Pois, segundo Le Goff (1990, p. 535). “... o que sobrevive não é um conjunto daquilo que existiu no passado, mas uma escolha efetuada quer pelas forças que operam o desenvolvimento temporal do mundo e da humanidade, quer pelos que se dedicam a ciência do passado e do tempo que passa, os historiadores”.

Vale ressaltar que, ainda precisa ser criada uma forma para disponibilizar as fontes já mobilizadas para que outros pesquisadores, pertencentes ao grupo ou não, passem a ter acesso às fontes já mobilizadas para criar “outra vida” ou “preencher lacunas” sobre o Movimento da Matemática Moderna e, quem sabe assim, produzir “novos” estudos históricos comparativos. Pois, por se tratar de pesquisas, que na maioria dos casos, tem priorizado a investigação local, ainda, fica difícil para o leitor compreender como as informações foram utilizadas ou incorporadas ao estudo desenvolvido. Por exemplo, Ferreira (2006) informa que inventariou fontes primárias dentro do Colégio Estadual do Paraná e coloca

“Um Programa Moderno de Matemática para o curso secundário” - 1960”(doc.1) “Convocação ao Curso: Introdução à matemática Moderna no Ensino Secundário” – 1962 – elaborado por Osny Antonio Dacol (Doc . 2) (...) “Plano de Curso II” – 1974)(Doc. 6). Essas fontes primarias produzidas por professores e outros agentes escolares, no período delimitado, se constituíram em dados relevantes para a compreensão de como a educação paranaense se apropriou do Movimento da Matemática Moderna, esclarecendo muitas dúvidas, não só sobre o movimento, mas especialmente em relação ao lugar que a geometria ocupou nas reformas curriculares em nível local. Um aspecto considerado importante para o encaminhamento metodológico da pesquisa foi que a natureza do problema requeria além do inventário dos documento escritos, os depoimentos dos sujeitos envolvidos nas práticas escolares de geometria (Ferreira, p. 5, 2006)

Como as fontes referidas dizem respeito a documentos de circulação interna de uma instituição, fica difícil, a partir da forma como elas estão descritas, saber como uma determinada fonte efetivamente foi incorporada ao trabalho ou como ela poderá ser utilizada por outros pesquisadores.

Já em relação ao uso de depoimentos, verifica-se que não é possível identificar, a partir dos resumos expandidos, se todos os trabalhos estão procurando evitar o equívoco de tomar as informações coletadas por meio de uma entrevista, por exemplo, apenas para confirmar informações que já estão postas nos documentos escritos. A recomendação que o historiador deve seguir é não tomar os depoimentos como “verdade”, por isso a necessidade de cruzar e interrogar as fontes, sejam documentos escritos sejam depoimentos, para que elas não sejam tomadas como verdade, como transcrição do real e sim como memórias acerca do período estudado.

Os estudos examinados, até o momento, seja tomando como fonte os relatos históricos documentais escritos ou orais, são representativos de um discurso consensual sobre o movimento, tal fato causa estranhamento por ser o campo da produção intelectual, um campo de disputas. A indagação que surge é como o Movimento da

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Matemática Moderna, que alterou práticas e recursos, a exemplo do livro didático, tem sido esboçado, por meio das pesquisas ora em tela, como um terreno de consenso? Em Santos (2008) é apresentada como hipótese para justificar tal constatação que, provavelmente, as fontes escritas e os depoimentos não foram ainda problematizados de forma a permitir a identificação de conflitos, de disputas na trajetória de autores, professores ou membros dos grupos que divulgaram o ideário do Movimento da Matemática Moderna.

Outra característica da produção examinada é a matriz conceitual que sido tomada como referente, na maioria dos trabalhos. Pelo exame efetuado pode-se afirmar que independente da linha de investigação os principais referentes “teóricos” os seguintes conceitos: apropriação (Chartier,1996), cultura escolar (Julia, 2001) e operação historiográfica (Certeau,1982).

Por exemplo, a citação sobre o que seja cultura escolar, apresentada a seguir, aparece completa, parcial ou por meio de uma indicação.

Um conjunto de normas, que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desse conhecimento e a incorporação desses comportamentos; normas e práticas coordenadas a finalidades que podem variar segundo as épocas (finalidade religiosas, sociopolíticas ou simplesmente de socialização) (Julia, 2001, p. 10-11)

Tal fato se repete em relação ao conceito de apropriação,

visa uma história social dos usos e das interpretações, referidas a suas determinações fundamentais e escritas nas práticas específicas que a produzem. Assim, voltar à atenção para as condições e os processos que, muito concretamente sustentam as operações de produção do sentido (na relação de leitura, mas em tantos outros também) é reconhecer, contra a antiga historia intelectual, que nem as inteligências nem as idéias são desencarnadas, e, contra os pensamentos do universal, que categorias dadas como invariantes, sejam elas filosóficas ou fenomenológicas, devem se construídas na descontinuidade das trajetórias histórica (Chartier, p. 1996).

Verifica-se que os referidos conceitos são norteadores dos caminhos adotados pelos pesquisadores para fundamentar seus trabalhos, pois é possível encontrar justificativas do tipo:

para melhor fundamentar a abordagem metodológica serão realizadas leituras acerca da historia cultural, especialmente voltadas para a compreensão do conceito de “cultura” apontado por Julia (2001), de “apropriação” em Roger Chartier (1990) e de operação historiográfica segundo Michael De Certeau (Soares, 2006, p.35 ).

Ou ainda, de forma mais explícita os conceitos, sendo associados como basilar na conformação de estudos históricos comparativos.

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Como a pesquisa se refere ao ambiente escolar, temos, na verdade, um estudo de culturas escolares, que é definido por Julia como “Um conjunto de normas, que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desse conhecimento e a incorporação desses comportamentos”(2001). Por se tratar de uma pesquisa de caráter histórico temos a prática da história, associada ao oficio do historiador no sentido exposto por Michael de Certeau (1982), como fundamentação teórico-metodológica. As ferramentas metodológicas serão definidas com base no trabalho histórico-comparativo em que procedimentos específicos estarão vinculado aqueles micro-históricos relativos ao conhecimento das culturas escolares passadas, ou seja, a organização de materiais elaborados por esses e para esses cotidianos, que serão mediados pela análise interpretativa. (Wielewski, 2006 p. 33).

Constata-se pelo que está posto na citação e em outros trabalhos de membros do grupo que, nem sempre os conceitos que apontados como referente, ganha vida, movimento durante a produção dos trabalhos. A fundamentação teórica acaba ficando “esquecida” no momento da edificação dos objetos. Por isso deve-se cuidar para que os conceitos não se transformem apenas em um rito burocráticos, e que o pesquisador passe apenas a descrever fontes, sem aplicar os conceitos para compreender, duvidar, questionar e produzir uma nova leitura sobre uma fonte. Por exemplo,

apesar do GEEM , ter sido o maior difusor do MMM no Brasil, percebemos que os livros referentes a nova proposta foram publicados tendo o professor Oswaldo Sangorgi como autor, não aparecendo os demais componentes do grupo. Já o NEDEM, ao publicar a coleção didática ginasial e primária utilizava como autores e co-utores todos os componentes do grupo, sendo um importante diferencial levantado nesta pesquisa, pois mostrou a integração e o comprometimento dos participantes do grupo paranaense em todas as fases, desde o estudo da nova proposta até a edição dos livros. (Ferreira, 2006, p. 156)

A citação apresentada permite que algumas questões sejam levantadas, por exemplo: será que a simples referência aos participantes do grupo, como autores, indica “integração e compromisso”? Será que não houve, a época, disputas internas? , Ou ainda, será que a indicação de todos como autores não era uma estratégia que poderia funcionar como um “argumento de autoridade” para os destinatários do livro?

Buscar respostas é o um dos principais objetivos dos estudos históricos, pois segundo Nunes (1998) saber questionar, duvidar é um recurso próprio da produção histórica. A referida autora afirma que comparar é uma forma própria de pensar questões, é uma forma intuitiva de conhecer e enfrentar situações novas, “a comparação nos ajuda a compreender e definir o que parece novo” (Nunes, 1998, p.1).

E esse novo que está sendo construído que precisa ser compreendido em relação a produção de estudos históricos comparativos,pois de acordo com Valente (2007) as pesquisas em desenvolvimento no interior do projeto vem dando conta de responder a questões relacionada a produção anterior sobre movimento, questionando diretamente

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as representações, o discurso construído sobre o passado contido em teses e dissertações sobre Movimento da Matemática Moderna

Considerações finais

Qual ou quais as características dos estudos históricos comparativos que estão sendo produzidos no âmbito do projeto? Pelo que está posto no texto, conclui-se a partir do exame efetuado e dos indicativos já apresentados, que os pesquisadores precisam explicitar com mais ênfase os pressupostos teórico-metodológicos, em relação a aplicabilidade dos referentes conceituais apontados como basilar para a conformação dos objetos de estudo. E o que pode ser apontado como característica do grupo são investimentos de pesquisa, que apesar de serem produzidos no âmbito dos estudos históricos comparativos, são iniciados pelo mapeamento de fontes, muitos ainda precisam ser mais questionada para que não fiquem limitadas apenas a descrições.

Mas, a característica que mais sobressai nesses estudos é a opção, que parece ter norteado a maioria das produções, de compreender as singularidades de cada temática, algumas vezes por meio da descrição, sem procurar estabelecer, precipitadamente, semelhanças ou diferenças. E é a partir dessa produção, dos últimos três anos, desde 2006, que o grupo vem buscando compreender, dentro dos limites quantitativos de pesquisadores, o modelo praticado em uma escola, em uma instituição, ou ainda as opções de um intelectual que atuou individual ou coletivamente na divulgação e implantação do Movimento da Matemática.

E é a partir da compreensão das singularidades específicas de cada temática que os pesquisadores do grupo podem avançar e começar a estabelecer conexões entre diferentes formas de apropriação pedagógicas, tomando cada temática já investigada sobre o Movimento da Matemática Moderna em relação à outra instituição, outro livro, outro intelectual, outro país na tentativa de identificar o singular no diverso, e dessa forma garantir a produção de “novos” estudos históricos comparativos.

Referencias bibliográfica

CERTEAU, Michael de. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.

CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel. 1990

CHERVEL, Andre. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisas. Revista Teoria & Educação, nº 2 Porto Alegre: UFRGS, 1988.

FERREIRA, Ana Célia de Costa. Práticas pedagógicas de Geometria no Movimento Paranaense de Matemática Moderna. Seminário Temático -

A Matemática

Moderna nas escolas do Brasil e de Portuga

l: estudos históricos comparativos. São Paulo, 2006.

JULIA, Dominique. A cultura escolar como objeto histórico. Revista Brasileira de História da Educação. Campinas: Editores Associados, 2001.

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LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Ed. Da Unicamp, 1990.

MATOS, Jose Manuel e VALENTE, Wagner Rodrigues (org.). A Matemática Moderna nas escolas do Brasil e de Portugal: primeiros estudos. São Paulo: Da Vince, 2007.

NUNES, Clarice. Historiografia comparada da escola nova: algumas questões. Revista da Faculdade de Educação. Volume 24. São Paulo. 1998.

SANTOS, Ivanete Batista. A Matemática Moderna nas escolas do Brasil e de Portugal: uma análise do caso brasileiro. No prelo. 2008

SEMINÁRIO TEMÁTICO - A Matemática Moderna nas escolas do Brasil e de Portugal: estudos históricos comparativos, Programação. São Paulo, 2006.

SEMINÁRIO TEMÁTICO - A Matemática Moderna nas escolas do Brasil e de Portugal: estudos históricos comparativos, Programação. São Paulo, 2007.

SEMINÁRIO TEMÁTICO - A Matemática Moderna nas escolas do Brasil e de Portugal: estudos históricos comparativos, Programação. São Paulo, 2008.

i

Durante o V Seminário Temático (2008) foi apresentado um trabalho com o mesmo título, e parte das informações são aqui foram compiladas do trabalho anterior (Cf. Santos, 2008).

ii

Além desses participantes durante a realização dos seminários no Brasil contamos com a participação do Professor português José Manuel de Matos. E durante o terceiro seminário compareceram também Henrique Manuel Guimarães (Portugal) e Maria Tereza González Astudillo (Espanha).

Referências

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