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ENSINO RELIGIOSO E A REALIDADE BRASILEIRA: IDENTIDADE E FORMAÇÃO DOCENTE.

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DANISE CRISTIANE RIOS PUC – PR daniserios@yahoo.com.br

RESUMO:

A discussão sobre o ensino religioso e a formação do professor desta área de ensino, faz-se necessária diante desta sociedade do século XXI, onde vivemos a era do descartável, do virtual. Desta forma o homem se distancia cada vez mais dos valores e das tradições culturais e religiosas. Uma visão rápida sobre o histórico do ensino religioso no Brasil ajuda a compreender melhor esta disciplina. No tempo da colonização do Brasil, o ensino desta disciplina ainda era puramente confessional – católica – com o avanço das leis e constituições o ensino religioso também teve seus progressos. Com o passar do tempo a nova concepção de ensino religioso começa a tratar mais da diversidade cultural e religiosa, de acordo com nossa realidade brasileira e tendo como objeto de estudo o fenômeno religioso. Percebemos, por meio de estudo da história do Brasil, que o ensino religioso sempre esteve presente na educação brasileira. Por isso de nada adianta termos respaldo desta disciplina na lei se a sociedade não ter consciência da sua importância dentro da educação, para a formação integral do cidadão. Com a crescente Mobilização Nacional Pró- ensino religioso a Constituição Federal de 1988 define no art. 210, parágrafo 1º: “O ensino religioso de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental”. Garantindo um ensino religioso mais plural e aberto a renovação do próprio conceito da disciplina, da sua prática pedagógica, dos seus conteúdos e da metodologia mais adequada em cada realidade presente nas diversas culturas de nosso país. Para trabalhar o ensino religioso na perspectiva da releitura do fenômeno religioso, os PCNER propõem um novo tratamento didático e estabelecem alguns princípios estruturais:

a) Baseando-se no pressuposto de que o ensino religioso é um conhecimento humano e, enquanto tal deve estar disponível à socialização.

b) É parte integrante da formação básica do cidadão, ou seja, esta disciplina alicerça-se nos princípios da cidadania, do entendimento do outro, da formação integral do educando.

c) Trata-se do conhecimento religioso.

d) Através dos conteúdos que subsidiam o entendimento do fenômeno religioso a partir da cultura, tradições religiosas, proporcionam o conhecimento dos elementos básicos que compõem o fenômeno religioso.

A metodologia do ensino religioso hoje tem de ser da pesquisa, da observação, da reflexão e da construção de um ser coletivo, numa sociedade participativa e solidária. Para isso, a formação docente deve estar preparada para assumir esta responsabilidade.

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Introdução

A educação nesta sociedade do século XXI continua, a enfrentar desafios e crises, como em outros tempos. É evidente o sofrimento da humanidade diante das tecnologias que em alguns momentos torna-se paradoxo, ao mesmo tempo, que trazem benefícios também acarretam desigualdades sociais, pois sabemos que não são todos que se beneficiam com os avanços das tecnologias e pesquisas. A educação nesta realidade social também está fragilizada, a escola como espaço de sistematização do conhecimento vai perdendo suas características essenciais, de ensino e aprendizagem; o professor se depara cada vez mais com a violência e a falta de comprometimento dos pais com relação aos filhos. Desse modo a escola perde sua principal característica, passando a tomar as dores da sociedade e a adquirir novas responsabilidades que não são da educação.

Deste modo, o ensino religioso como parte da educação e área de conhecimento, também enfrenta muitos desafios. A discussão sobre a identidade do ensino religioso e a formação do professor desta área de ensino, faz-se necessária diante desta sociedade do século XXI, onde vivemos a era do descartável, do virtual, desta forma o homem se distancia cada vez mais dos valores e das tradições culturais e religiosas.

Acredita-se que o ensino religioso como parte da educação quer contribuir para o processo de transformação e humanização da sociedade como afirma Junqueira:

“O processo de humanização, que se realiza em base ao conhecimento, à linguagem e à ação, produz um conhecimento que se situa, nas condições materiais de produção de vida, nos valores e no sentido que se atribui à existência”. (JUNQUEIRA, 2002:106).

O Ensino Religioso e a Educação Brasileira

Sabemos que o Ensino Religioso já foi alvo de muitos e infindáveis debates em nosso país. Mas principalmente nos últimos anos tem ganhado um lugar especial nas discussões sobre o tema educação, assim como as teorias, propostas e leis, a disciplina de Ensino Religioso também precisa ser sempre revista e analisada, pois ela na verdade tem objetivo de ajudar o educando no seu processo educativo.

A pluralidade religiosa conhecida é uma chama acesa no coração de todo homem, o que é razão suficiente para que haja espaço e tempo para a crença, a vida, a fé e a morte na vida das pessoas, a religiosidade alimenta esses mistérios, tornando a crença um processo espiritual de cultura religiosa.

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Podemos conceituar cultura dentro da disciplina de filosofia e chegarmos à conclusão que ela é tudo o que envolve a vida de um povo: valores, crenças, artes e outros aspectos. A partir da antropologia, segundo Kluckhohn:

“Cada sociedade diferente comunica à nova geração, muito cedo na vida, um quadro padrão de fins apreciados e meios sancionados, de comportamento apropriado para homens e mulheres, jovens e velhos, sacerdotes e fazendeiros”. (KLUCKHOHN, 1963:193)

Uma geração transmite a outra suas crenças, valores, organização social e as descendências entram nesse sistema adaptativo. Assim o homem mantém uma relação de constante adaptação com o meio em que está para sobreviver.

Nosso país possui uma característica de pluriculturalidade, pois convivemos com uma diversidade cultural e religiosa muito rica. Somos um povo de muitas culturas e de tradições religiosas diversas. Cada pessoa tem raízes diferentes, e como religião é vista a partir da cultura cada um segue seu caminho ao Transcendente.

Dentro dessa diversidade religiosa, o mundo da educação, mais especificamente as escolas, tem ou pelo menos deveriam oferecer aos alunos o conhecimento dos diversos caminhos que ligam à pessoa ao Transcendente. Deste modo, a função do Ensino Religioso nas escolas deve ser a de corresponder às exigências da educação do século XXI, na parte que lhe cabe, o conhecimento religioso dentro, desta diversidade cultural e religiosa.

Uma visão sobre o histórico do Ensino Religioso no Brasil ajuda a compreender melhor a importância desta disciplina.

No período colonial e imperial do Brasil, a integração escola-igreja era o centro do conhecimento religioso, voltado especialmente para o confessional, ou seja, o catolicismo. Uma educação implantada e ministrada pelos Jesuítas, que eram controlados pela Coroa. Neste período o ensino religioso, ou como era chamado na época, ensino da religião, foi programado dentro da visão

européia. Este regime ficou conhecido como padroado¹ que propunha a evangelização dos que não eram cristãos. Esta forma de ensino da religião era catequética e tinha o objetivo de transmitir uma cultura essencialmente católica assim como se vivia na Europa.

Mas não podemos olhar para este período somente como negativo, por ter sido, até certo ponto, imposto uma religião, pois como afirma Moura:

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“Foi para assegurar a eficácia de seu trabalho missionário que os jesuítas entraram pela via da educação, por meio de escolas, instruindo crianças para preparar os homens do futuro”. (MOURA, 2000: 25).

Se olharmos para o lado positivo desta evangelização, sabemos que a intenção foi, possivelmente, a de educar e instruir para melhor viver, dentro da visão européia.

Outro período importante foi o chamado “período pombalino”. Quando o Marquês de Pombal expulsou os jesuítas, colocando um fim em todo o sistema educacional introduzido por eles. O Marquês de Pombal tornou-se um ministro importante e conseguiu que seus pedidos fossem atendidos pelo Rei. Como afirma Maxwel: “Pombal quis civilizar a nação e ao mesmo tempo escraviza-la. Quis defender à luz das ciências filosóficas e ao mesmo tempo elevar o poder real do despotismo”. (MAXWEL, 1996, p. 2)

Com a expulsão dos jesuítas, não houve uma continuação deste sistema de ensino iniciado por eles, mas este foi suprimido por outro regime, como afirma Fernando de Azevedo:

“Suprimida, pois, a Companhia e afastada do ensino, no Reino e em seus domínios, O estado, que não intervinha na gestão das escolas elementares e seculares, tomou a seu cargo, por iniciativa de Pombal, a função educativa, que passava a exercer em colaboração com a Igreja, aventurado-se a um largo plano de oficialização do ensino”. (AZEVEDO, 1996: 550).

Mesmo com este novo regime, sem os jesuítas, a Igreja colaborou de forma generosa, pois a educação continuava ser quase que exclusivamente em escolas confessionais, com o trabalho de outras congregações religiosas que vieram para a Colônia.

Com a instalação da corte portuguesa e do Governo português no Brasil, este deixa de ser Colônia e a expansão de escolas públicas não deixa de crescer, gerando uma desorganização no sistema de ensino, pois na teoria o Brasil está à beira de ser independente e tornar-se uma República, mas na prática ainda vive no sistema colonial.

Com a proclamação da República, o processo de secularização, foi assumido por este novo regime, que no campo da educação foi responsável pela defesa da escola laica, gratuita, pública e obrigatória, deixando assim de ser a religião católica, um seguimento obrigatório. Rui Barbosa, um jurista desta época, propõe que o país seguisse a Constituição Norte americana de livre opção religiosa. Neste período iniciam os conflitos entre o Estado e a Igreja, sendo que o artigo 72, parágrafo 6º da Constituição promulgada em 24 de fevereiro de 1891, estabelecia: “Será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos públicos”.(CONSTITUIÇÃO DE 1891) Privando assim os alunos de qualquer tipo de

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ensino religioso, alegando que não cabe ao Estado o conhecimento religioso, mas a cada templo, ensinar a religião.

Percebe-se então uma mudança a partir da República, mas não termina por aí, com a separação entre Igreja e Estado, constrói-se uma sociedade sem base religiosa específica, como nos tempos do Brasil Colônia, constituindo assim uma sociedade com princípios filosóficos e políticos laicos.

Desta forma o Brasil começa a abrir-se a novas expressões religiosas, mudando o cenário aos poucos e muito lentamente, tirando a predominância do catolicismo, porque isso não ocorreu de um momento a outro, mas foi um processo lento.

Com o passar dos anos, o ensino religioso tornou-se obrigatório para a escola, sendo que para o aluno era um direito de opção de matrícula, como está escrito no projeto de Constituição de 1967 artigo 168 § 3º: IV - “O ensino religioso de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas oficiais de grau primário e médio”. (CONSTITUIÇÃO DE 1967).

Apesar de, na teoria ter sido resolvido a questão do ensino religioso, na prática os problemas aumentaram, pois ainda havia discriminação quanto a outras religiões, o aspecto pedagógico do ensino religioso continua confuso e não se tem clareza dos seus objetivos. Desde este momento iniciou-se uma busca constante por uma identidade do ensino religioso nas escolas, para que houvesse uma renovação da prática pedagógica quanto aos conteúdos curriculares.

A partir deste período a discussão sobre a matrícula facultativa foi uma constante, assim chegamos às Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN nº 9.394/96, que oferecia um Ensino Religioso confessional sem obrigação para o Estado, o que causou muita discussão. Em julho de 1997 o Presidente da República decreta e sanciona a Lei anterior que passa a ter a seguinte redação ficando assim:

“O Ensino Religioso de matrícula facultativa é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários das escolas públicas de ensino fundamental, assegurando o respeito à diversidade cultural e religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo”. (LEIS DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL - Lei nº 9.475/97)

Nesse contexto o Ensino Religioso começa a ser entendido como área de conhecimento e tem como objeto de estudo o fenômeno religioso e o entendimento desse fenômeno o educando constata a partir do convívio social e dentro da realidade confessional de cada um. Portanto entende-se que a escola é o espaço de construção e socialização deste conhecimento produzido e acumulado, assim o Ensino Religioso por ser parte integrante do conhecimento humano deve também continuar a estar

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disponível a todos os que a ele queiram ter acesso, não só no Ensino Fundamental, mas também no Ensino Médio. Desta forma o ensino religioso, indiscutivelmente, é parte integrante da educação de nosso país, pois está também presente em nossa atual Constituição Federal, que assim rege:

“Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais.

§ 1º. O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988)

Apesar dessa disciplina ser reconhecida como área de conhecimento continua sendo tema de muitos debates e discussões, com o objetivo de evoluir para novas perspectivas e colaborar com a formação do cidadão brasileiro em todas as suas dimensões.

Dentro dessa nova concepção, o ensino religioso trata da diversidade cultural e religiosa, tendo como objeto de estudo o fenômeno religioso. Porém como nos aponta uma pesquisa realizada em 2004 com diversas escolas de nosso país, ainda estão vigentes alguns modelos de ensino religioso. A saber:

- Confessional: de acordo com a opção religiosa do aluno ou responsável;

- Inter- confessional: considera o que é comum às diferentes Igrejas ou confissões, respeitando cada uma delas;

- Supra- confessional: fundamenta-se em princípios de cidadania, ética e valores;

- Disciplina curricular: o ensino religioso é pensado como área de conhecimento e tem como objeto de estudo o fenômeno religioso.

(REVISTA DE EDUCAÇÃO – AEC – 2005: 76-89).

O ensino religioso como disciplina, por meio do fazer pedagógico e de uma formação sólida e específica deste professor atuante, favorece o processo de construção de um novo cidadão, atuando na transformação da sociedade, juntamente com as demais disciplinas.

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O Ensino Religioso e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Percebemos anteriormente que o ensino religioso esteve presente ao longo da história da educação brasileira. E ainda hoje, de forma diferente, acompanha a educação de nosso país. O caminho até agora percorrido pelo ensino religioso, faz parte de uma busca da sua identidade como área de conhecimento, já houve progressos, porém ainda falta muito por se refletir. A sociedade atual avança de forma rápida e a educação sem dúvida precisa acompanhar esta evolução, bem como qualquer disciplina.

Hoje o ensino religioso tem o objetivo de ajudar na formação de um sujeito autêntico, que tem atitudes diversas, diante de um pluralismo religioso e cultural, onde possa expressar suas idéias de forma significativa, proporcionando ao estudante uma formação integral, ou seja, abrindo espaço para discussões também da dimensão religiosa. Pois de nada adianta o ensino religioso estar presente na Constituição e a sociedade não ter consciência da sua importância dentro da educação integral do cidadão brasileiro.

Iniciando o percurso das Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, comecemos pela Lei nº 4.024, publicada em 1961, essa lei permitiu descentralizar a educação do regime Federal para o Estadual, facilitando a recriação dos Conselhos de Educação. Aqui gerou uma discussão entre escola pública e particular. Foram feitos documentos ao longo dos anos, com a intenção de conciliar ambos os lados, não agradando também ambos os lados. Por isso esta é uma discussão que permanece ainda atualmente.

Uma das características desta Lei é a sua neutralidade quanto ao ensino religioso dentro das escolas, apesar das discussões entre a Igreja Católica e um grupo que defendia a escola pública laica. Esta Lei nº 4.024/61 em seu Artigo 97 está escrito a respeito do Ensino Religioso, o seguinte:

“O Ensino Religioso constitui disciplina dos horários normais das escolas oficiais, é de matrícula facultativa e será ministrado sem ônus para os cofres públicos, de acordo com a confissão religiosa do aluno, manifestada por ele, se for capaz, ou pelo representante legal ou responsável.

1º Parágrafo – A formação de classe para o Ensino religioso independe do números de alunos. 2º Parágrafo – O registro de professores de Ensino Religioso será realizado perante a autoridade religiosa respectiva. (LEIS DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL - Lei nº 4.024/61)

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a) A formação de classe por credo, corre o risco de deixar de lado alguns aspectos da “igualdade”, na diversidade, na pluralidade das crenças e dos costumes nas escolas oficiais, onde todos devem ter iguais direitos e oportunidades.

b) O registro dos professores de ensino religioso será realizado perante a autoridade religiosa respectiva. Novamente a escola, como mediadora de tal ensino, não dispõe de respaldo financeiro para o seu desempenho pedagógico.

c) Com a afirmação: “será ministrado sem ônus para os cofres públicos”, o próprio Estado recusa as condições materiais necessárias à sua inclusão como elemento normal do currículo; em conseqüência, o desempenho pedagógico da escola tende a ser falho em vários aspectos. (FIGUEIREDO, 1996:61ss).

Esta lei assegura o ensino religioso nas escolas, mas não garante sua qualidade como as demais disciplinas, ela está presente no ambiente escolar, mas ainda não é reconhecida como disciplina pelos problemas pedagógicos e administrativos acima mencionados.

Durante o período da ditadura militar (1964-1984), a sociedade brasileira viveu um período de medo, terror e inseguranças, afetando todos os aspectos da sociedade, como a educação e a cultura, a economia e a política em geral. E para que a LDB de 61 fosse colocada em prática, segundo os interesses políticos desta época, foram realizadas diversas alterações. Aqui começa o debate entre duas forças sociais: a sociedade civil e os militares e tecnocratas. Lembrando que períodos antes desse, também havia duas correntes: Igreja e Estado, parece que o problema só muda de nome e continua. A primeira defendendo a Lei nº 4.024/61 e a segunda a nova Lei 5.692/71. Percebe-se que ambas as leis são muito semelhantes, porém, o caráter liberalista da anterior cede lugar a uma tendência mais tecnicista.

Na segunda Lei acontece uma reforma na estrutura do sistema escolar, que passa a ser divido em dois grupos (graus), onde o 1º grau ficou com os oito primeiros anos escolares, sendo que os quatro primeiros seriam ministrados por meio de atividades e os próximos quatro anos por matérias agrupadas por área: Comunicação e Expressão, estudos sociais e ciências. O chamado 2º grau caracteriza-se por ser profissionalizante. Para este último, foram incluídas as seguintes matérias como obrigatórias: Educação Física, Educação Moral e Cívica, Educação Artística, Programa de Saúde e Ensino Religioso. Sendo que a última disciplina seria obrigatório para a escola oferecer aos alunos e para estes era optativa. Desta forma o Ensino Religioso foi regulamentado na Lei 5.692/771 no Artigo 7º, da seguinte forma:

“Será obrigatória a inclusão de Educação Moral e Cívica, Educação Física, Educação Artística e Programas de Saúde nos currículos plenos estabelecidos de 1º e 2º graus.

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Parágrafo Único: O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplinas dos horários normais dos estabelecimentos oficiais de 1º e 2º graus”. (LEIS DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL - Lei nº 5.692/771)

Com esta nova Lei nº 5.692/71, o Ensino Religioso passa a fazer parte do sistema escolar, ou pelo menos isso fica mais claro, pois, mesmo que fazendo parte das disciplinas específicas de formação humana, o ensino religioso continua sendo contemplado na educação.

A partir dos anos 80, continuam as buscas para uma melhor estruturação do ensino religioso, dentro das escolas, porque apesar dos progressos, a disciplina ainda está confusa, quanto a sua identidade, seus objetivos, como parte integrante do sistema escolar.

É neste período em que a ditadura militar, presente em nosso país, começa a perder força e uma nova constituição está para entrar em vigor. Cresce também a Mobilização Nacional Pró- ensino religioso. Com o início de um novo sistema político, dá-se mais ênfase a liberdade, a redemocratização ganha novos ares na sociedade. Os grupos envolvidos diretamente com o ensino religioso foram: ASSINTEC – Associação Interconfessional de Curitiba, no Paraná; CIER – Conselho de Igrejas para a Educação Religiosa, em Santa Catarina; IRPAMAT – Instituto Regional de Pastoral, no Mato Grosso; AEC – Associação das Escolas Católicas e o GRERE – Grupo de Reflexão sobre o Ensino Religioso.

Com todas estas discussões e envolvimento social, fica garantido na Constituição de 1988, o ensino religioso na escola, para o ensino fundamental, com a seguinte formulação no Art. 210, parágrafo 1º: “O ensino religioso de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental”.

Garantindo um ensino religioso mais pluralista e aberto a renovação do próprio conceito da disciplina, da sua prática pedagógica, dos seus conteúdos e da metodologia mais adequada em cada realidade presente nas diversas culturas de nosso país. Juntamente com o avanço da nova constituição temos também um novo projeto de regulamentação do capítulo da Educação, a elaboração de uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Após muita discussão foi aprovada em 17 de novembro de 1996 e em 20 de dezembro do mesmo ano sancionada pelo presidente da república Fernando Henrique Cardoso, sob a lei nº 9.394/96 com a seguinte redação:

“O ensino religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, sendo oferecido, sem ônus para os cofres públicos, de acordo com as preferências manifestadas pelos alunos ou seus responsáveis, em caráter de:

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I – Confessional, de acordo com a opção religiosa do aluno, ou de seu responsável ministrado por professores ou orientadores religiosos preparados e credenciados pelas respectivas igrejas ou entidades religiosas, ou

II – Interconfessional, resultante de acordo entre diversas entidades religiosas que se responsabilizarão pela elaboração do respectivo programa”. (LEIS DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL - Lei nº9.394/96)

Nesta nova redação, percebemos alguns aspectos novos e outros que já estavam presentes na formulação da Lei nº 4024/61, a saber: “sem ônus para os cofres públicos”, e o caráter Confessional e interconfessional, que são duas modalidades novas para o ensino religioso. Na prática não houve muita mudança, pois voltaram problemas já enfrentados anteriormente, a organização, sistematização e administração desta disciplina dentro das escolas. Inicia-se novamente a discussão sobre o ensino religioso e após alguns projetos de Lei serem discutidos, o então Deputado Padre Roque Zimmermann, elaborou, juntamente com a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), CONIC ( Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, FONAPER (Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso) e o MEC; um Projeto de Lei nº 9.475/97, que altera o artigo 33 da LDB, aprovado em 22 de julho de 1997, com a seguinte formulação:

Artigo 33- “O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurando o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.

Parágrafo 1º - Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão normas para a habilitação e admissão de professores. Parágrafo 2º - Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do Ensino religioso”. LEIS DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL - Lei n º 9.475/97)

Após entrar em vigor este novo artigo da LDB, o grupo FONAPER começa a ganhar força e os debates prometem estarem perto da identidade do ensino religioso, que seja mais fundamentada e organizada como as demais disciplinas.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso (PCNER) também marca uma grande conquista, onde diversas denominações religiosas, como educadores, desta área de conhecimento, constroem juntos o objeto de estudo desta disciplina: o Fenômeno Religioso e o conhecimento de suas manifestações nas diferentes tradições religiosas.

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Desta forma o ensino religioso começa a ganhar forma e vai se estruturando cada vez mais de forma a ter argumentos para que a escola abra sempre mais espaço para se construir o conhecimento também religioso.

Os PCNER também vieram contribuir para a estruturação do ensino religioso, ficando organizado os conteúdos a partir de cinco invariantes:

Culturas e tradições religiosas: Estudo do fenômeno religioso;

Textos Sagrados: Textos que transmitem, conforme a fé dos seguidores, uma mensagem do Transcendente;

Teologias: Conjunto de afirmações e conhecimento elaborados pela religião de um modo organizado ou sistematizado;

Ritos: Série de práticas celebrativas das tradições religiosas formando um conjunto de rituais, símbolos e espiritualidades;

Ethos: forma interior da moral humana em que se realiza o próprio sentido do ser. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DO ENSINO RELIGIOSO)

Percebemos que o ensino religioso cada vez mais torna-se uma área de conhecimento e uma disciplina como qualquer outra com respaldo legal.

Os objetivos da disciplina também foram organizados, ficando mais claro a compreensão de onde se quer chegar com ela:

Valorizar o pluralismo religioso e a diversidade religiosa e cultural presente na sociedade brasileira: Propiciar o conhecimento dos elementos básicos que compõem o fenômeno religioso, a partir das experiências religiosas recebidas no contexto do educando;

Subsidiar o educando na formulação do questionamento existencial, em profundidade para dar sua resposta devidamente informado;

Analisar o papel das tradições religiosas na estruturação e manutenção das diferentes culturas e manifestações sócio-culturais;

Facilitar a compreensão do significado das afirmações e verdades de fé nas tradições religiosas;

Refletir o sentido da atitude moral, como conseqüência do fenômeno religioso e expressão da consciência e da resposta pessoal e comunitária do ser humano;

Possibilitar esclarecimento sobre o direito, à diferença na construção de estruturas religiosas que têm

na liberdade o seu valor inalienável. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DO ENSINO

RELIGIOSO)

Nestes objetivos fica claro, a importância desta disciplina para que, no ambiente escolar, possa acontecer uma mudança de atitude e mentalidade frente aos desafios da modernidade, como as diferentes culturas religiosas, que cada vez mais tornam-se diversificadas.

Como os conteúdos, os objetivos e o objeto de estudo do ensino religioso assumiram um caráter mais atual, a metodologia igualmente precisa essa perspectiva. Portanto problematizar o conhecimento,

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partindo de situações concretas é buscar razões para que se possa conhecer, tornando o aluno o próprio agente da sua aprendizagem.

Para trabalhar o Ensino Religioso na perspectiva da releitura do fenômeno religioso, os PCNER

propõem um novo tratamento didático, e estabelecem alguns princípios estruturais:

1. Baseando-se no pressuposto de que o Ensino Religioso é um conhecimento humano e, enquanto tal, deve estar disponível à socialização, os conteúdos do Ensino Religioso; (PCNER, 1998, 38). 2. É parte integrante da formação básica do cidadão, ou seja, esta disciplina alicerça-se nos princípios da cidadania, do entendimento do outro enquanto outro, da formação integral do educando; (PCNER, 1988, p.22).

3. Trata do conhecimento religioso; (PCNER,1998, p.19).

4. É disciplina dos horários normais, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa e vedadas quaisquer formas de proselitismo; (Artigo 33 da Lei n.º 9.394/96) (PCNER,1998).

5. Através de conteúdos que subsidiam o entendimento do fenômeno religioso a partir da relação: Cultura-Tradições Religiosas, proporcionam o conhecimento dos elementos básicos que compõem o fenômeno religioso; (PCNER,1998, p.32-38).

6. É conhecimento que constrói significados a partir das relações que o educando estabelece no entendimento do fenômeno religioso; (PCNER, 1998, p.39-40).

7. É uma disciplina com prática didática contextualizada e organizada; (PCNER,1998, p.41-42). 8. A avaliação é processual, permeia os objetivos, os conteúdos e a prática didática. (PCNER, 1998, p.41-43).

A metodologia de Ensino Religioso hoje tem de ser a da pesquisa, da observação, da reflexão e da construção de um saber coletivo, numa sociedade participativa e solidária.

Se a escola pretende formar o cidadão consciente, precisa ajudar os educandos na leitura da cultura de seu país, precisa ensiná-las a dar coerência ao mundo. Isto é responsabilidade de todos. Mas não se faz isso assim da noite para o dia e nem cada um na sua. Antes de tudo, é necessário articular as disciplinas, construir um ambiente escolar propício, no qual as partes estão incluídas num todo e o "saber" sirva para realizar ações de integração.

Para que isso seja possível faz-se necessário uma formação docente também estruturada para responder aos desafios da disciplina, como afirma JUNQUEIRA:

“Os professores desta área devem estar plenamente inseridos no contexto das instituições escolares, sem que haja discriminação nem privilégios de qualquer natureza. Mas é preciso reconhecer que ao longo da história do ensino religioso, sempre houve a preocupação com a formação dos professores. Porém esta nem sempre foi algo tranqüilo, em conseqüência da dificuldade da identidade da disciplina”. (JUNQUEIRA, 2002, P. 11).

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Nota 1

Consistia em recompensar o Estado Português pela conversão dos “infiéis”, com o Papa concedendo à Coroa o poder de controlar as igrejas nas terras conquistadas. Caberia ao rei construir os templos e de prendar os padres, bem como, nomear bispos. Neste regime, o clero fazia parte do funcionalismo Português, sendo pago Por ele. Desta forma, a Igreja sujeitava-se às orientações da coroa.

Referências

KLUCKHOHN, Clyde. Antropologia – um espelho para o homem. Belo Horizonte: Itatiaia, 1963.

ALVES, Luiz Alberto Souza; BORTOLETO, Edivaldo José. Ensino religioso - Culturas e tradições religiosas. Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso (FONAPER). Caderno temático n.º 2. São Paulo: 2001.

CARTILHA: Diversidade religiosa e direitos Humanos. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Brasília: 2004.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia, saberes necessários à prática educativa, 30ª Edição, Ed. Paz e Terra. Coleção Leitura, São Paulo: 1996.

JUNQUEIRA, Sérgio R. A. O processo de escolarização do ensino religioso no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

KLUCKHOHN, Clyde. Antropologia – um espelho para o homem. Belo Horizonte: Itatiaia, 1963.

JUNQUEIRA, Sérgio Rogério A. O processo de escolarização do ensino religioso no Brasil. Ed Vozes. Petrópolis, 2002.

AZEVEDO, Fernando de. A Cultura brasileira, Rio de Janeiro, UFRJ/UNB, 1996.

JUNQUEIRA, S.R.A.; MENEGHETTI, R. G. K.; WACHOWICZ, L. A. O Ensino Religioso e sua relação Pedagógica. Petrópolis, RJ, Vozes, 2002.

MOURA, L.D. de. A Educação Católica no Brasil, São Paulo, Ed. Loyola, 2000.

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FIGUEIREDO, Anísia de P. O Ensino Religioso no Brasil. Ed. Vozes, Rio de Janeiro, 1996.

REVISTA DE EDUCAÇÃO AEC. Ensino Religioso – Reconstruir para Transcender. Ano 34 julho/setembro nº 136, 2005.

COSTA, Antonio C. G. da; CASCINO, Pasquale e SAVIANI, Dermeval. Educador: novo milênio, novo perfil? Ed. Paulus, São Paulo, 2000.

MAXWEL, Kenneth. Marquês de Pombal, Paradoxo do Iluminismo. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1996.

Referências

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