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Investimentos em Responsabilidade Social Corporativa e Criação de Valor nos Maiores Bancos Brasileiros

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Investimentos em Responsabilidade Social Corporativa e Criação de Valor nos Maiores Bancos Brasileiros

Investments in Corporate Social Responsibility and Value Creation in the Largest Brazilian Banks Vanessa Ingrid da Costa Cardoso1

Allan Pinheiro Holanda2

Joana D’Arc de Oliveira3

Márcia Martins Mendes de Luca4

Resumo

O presente estudo tem como principal objetivo investigar a correlação entre investimentos corporativos em responsabilidade social e a criação de valor das organizações do setor bancário brasileiro. Foram analisados 25 balanços sociais referentes aos exercícios de 2006 a 2010 de bancos listados no ranking da revista EXAME Melhores e Maiores, edição 2010. Foi utilizado a análise de regressão linear múltipla. Em relação a cada empresa e exercício financeiro específico, o estudo considerou três variáveis independentes: proporção entre os investimentos com indicadores sociais internos e a receita líquida, proporção entre os investimentos com indicadores sociais externos e a receita líquida e a proporção entre os investimentos com indicadores ambientais e a receita líquida. Como variável dependente, foi considerado o EVA®. Pode-se inferir que incrementos nos investimentos com indicadores ambientais acarretam destruição de valor para a empresa, enquanto incrementos nos investimentos com indicadores sociais internos proporcionam criação de valor.

Palavras-chave: Responsabilidade social corporativa. Criação de valor. EVA®. Abstract

The present study aims at investigating the relation between corporative investments on social responsibility and the creation of value for organizations in the Brazilian banking sector. 25 social reports, referring to the exercises 2006 to 2010 of banks listed on the ranking of Exame Melhores e Maiores magazine issued in 2010, were analyzed. It was use the analysis of multiple linear regression. Regarding each company and its specific financial exercise, the study has considered three independent variables: the proportion between investments with internal social indicators and net revenue, the proportion between investments with external social indicators and net revenue, and the proportion between investments with environmental indicators and net revenue. As a dependent variable, the EVA® was considered. It can be inferred that the improvement of investments with environmental indicators bring about the destruction of value for a company and the improvement of investments with internal social indicators bring about the creation of value.

Key-words: Corporative Social Responsibility. Creation of Value. EVA®.

1

Mestre em Administração e Controladoria pela Universidade Federal do Ceará - nessaingrid@gmail.com 2

Mestre em Administração e Controladoria pela Universidade Federal do Ceará - allanpholanda@yahoo.com.br 3

Doutoranda em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará - jdarc42@terra.com.br 4

Professora do Programa de Pós-Graduação em Administração e Controladoria da Universidade Federal do Ceará - marcia@mmconsultoria.srv.br

Artigo editado por Luiz Carlos Marques dos Anjos. Recebido em 09/01/2013. Avaliado e recomendado para publicação em 20/02/2013.

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1 INTRODUÇÃO

As transformações socioeconômicas têm se refletido de modo significativo no comportamento e na avaliação das organizações. Nas últimas décadas emergiram discussões e providências acerca dos impactos causados pela atividade humana e pelo crescimento econômico no meio ambiente e na sociedade em geral. É possível perceber que algumas organizações vêm abandonando a busca imediatista do lucro para passar a se preocuparem também com os impactos de suas atividades operacionais no meio em que atuam. Essa mudança reveste-se de uma postura mais ética das organizações, que gradualmente aumentam sua preocupação com a realidade social, cultural e ambiental.

A responsabilidade social corporativa se manifesta por meio de ações que tendem a gerar emprego e renda, conscientização e capacitação da sociedade para o mercado competitivo, treinamento, boas condições de trabalho, proteção ao meio ambiente, busca de insumos com certificado de qualidade, bem como pelo retorno dos investimentos dos acionistas. Empresas socialmente responsáveis agregam o compromisso social e ambiental com a gestão corporativa, exercendo as práticas negociais com ética e responsabilidade perante a sociedade.

A emergência do conceito de práticas socialmente responsáveis representa também uma resposta às pressões sociais relativas às demandas das partes interessadas, suas expectativas, preocupação ambiental e demandas sociais (DAHLSRUD, 2008; CRISÓSTOMO; FREIRE; VASCONCELLOS, 2010).

A postura socialmente responsável das organizações tende a possibilitar um diferencial competitivo e, consequentemente, uma rentabilidade emergente no longo prazo, visto que os stakeholders, pessoas físicas ou jurídicas afetadas pelas atividades de uma organização, tendem a valorizar o comportamento socialmente responsável. Por isso, percebe-se que a prática de responsabilidade social corporativa tornou-se fator relevante na avaliação feita por pretensos investidores e clientes em potencial. Observa-se ainda que tal tema tem promovido muitas pesquisas e encontra-se em transição contínua, tendo em vista a necessidade de adaptação das empresas às necessidades de práticas socialmente responsáveis que relacionam seu desempenho sob o enfoque econômico, social e ambiental (CARNEIRO et al., 2011).

Contudo, para alguns estudiosos, como Friedman (1970), o maior objetivo de uma organização é gerar dividendos para os acionistas, razão pela qual as atividades e decisões que não atendam a esse objetivo não devem ser implementadas. Segundo esses estudiosos, a Teoria da Maximização da Riqueza dos Acionistas deve predominar nas organizações, de maneira que a concretização de ações e decisões que não atendam ao objetivo de maximização da riqueza dos acionistas é considerada violação das obrigações morais dos executivos das organizações. Enquanto isso, outros estudiosos entendem que deve prevalecer a abordagem da Teoria dos Stakeholders, devido à necessidade de se levar em conta os impactos da alocação de todos os recursos encontrados na natureza e na sociedade para os diversos grupos de interesse, internos e externos (MACHADO FILHO, 2002).

Um dos primeiros embates entre as duas teorias ocorreu nos tribunais americanos com o caso A. P. Smith Manufacturing Company versus Barlow, em que um grupo de acionistas da empresa buscava ressarcimento de valores doados à Universidade Princeton, a título de filantropia. O resultado do julgamento foi favorável à empresa, pois, na opinião dos magistrados, as empresas podem utilizar recursos próprios para estabelecer o desenvolvimento social de seus stakeholders (REIS; MEDEIROS, 2009).

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Depois de discutido em tribunais e da predominância da teoria dos stakeholders nas organizações, a responsabilidade social corporativa passou a ser tratada com mais intensidade no âmbito acadêmico, em especial nas últimas décadas. Um dos itens de debate refere-se à possível influência dos gastos com responsabilidade social sobre os resultados econômicos e financeiros das organizações. Autores como Bernardo et al. (2006) e Simpson e Kohers (2002) defendem que as práticas de responsabilidade social corporativa levam a um melhor desempenho econômico-financeiro das organizações; outros autores, como McWilliams e Siegel (2001), afirmam que não existe essa relação. Frooman (1997) afirma não haver relações positivas entre as atitudes empresariais socialmente responsáveis e o respectivo desempenho econômico-financeiro. Logo, percebe-se que ainda não há consenso quanto à influência dos gastos com responsabilidade social sobre os resultados financeiros das organizações, mas que vêm se intensificando estudos a respeito da temática.

Diante do cenário no qual um grupo de pesquisadores (SUNDARAN; IKPEN, 2001; SIMPSON; KOHERS, 2002; BERNARDO et al., 2006) defende que investimentos em responsabilidade social corporativa afeta negativamente o desempenho econômico-financeiro da organização e outro grupo de pesquisadores (FRIEDMAN, 1970; BREALEY; MYERS, 2000; MCWILLIAMS; SIEGEL, 2001; CRISÓSTOMO; FREIRE; VASCONCELLOS, 2010; CARNEIRO et al., 2011) defende o contrário, o presente estudo se desenvolve em torno da seguinte questão: Qual a relação entre os investimentos com práticas de responsabilidade social corporativa e a criação de valor das organizações do setor bancário brasileiro?

O presente estudo tem como principal objetivo identificar a associação entre os investimentos em responsabilidade social corporativa e a criação de valor das organizações do setor bancário brasileiro. Pelo destaque evidenciado no relatório anual da Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN, 2010), sobre a quantidade de ações socioambientais implementadas no setor, as referidas corporações financeiras constituem o objeto do presente estudo.

Considerando que uma organização não consegue maximizar seu valor se ignorar seus stakeholders, ao mesmo tempo que atender aos stakeholders implica não se afastar do seu objetivo geral, que é maximizar o seu valor (JENSEN, 2001), assume-se a seguinte hipótese de pesquisa: os investimentos em responsabilidade social corporativa guardam uma associação

positiva com a geração de valor para as organizações do setor bancário brasileiro.

Diante do exposto, a presente pesquisa se justifica na medida em que estende a discussão sobre a responsabilidade social corporativa, que representa um tema emergente em pesquisas e em contínuo desenvolvimento no contexto das empresas, tendo em vista a adaptação destas às necessidades do ambiente corporativo. Além disso, apresenta-se uma análise diferenciada por tratar do tema no setor bancário brasileiro, tendo em vista que a maioria das pesquisas exclui o referido setor.

O estudo está estruturado em cinco tópicos, incluindo esta introdução. A seguir, apresenta-se a revisão da literatura, contextualizando a responsabilidade social corporativa, o balanço social e a criação de valor. No terceiro tópico, define-se o proceder metodológico, que por sua vez contempla a hipótese da pesquisa, as variáveis a serem estudadas, a amostra e a coleta dos dados e o tratamento estatístico. Os dois tópicos derradeiros consignam, respectivamente, os resultados da pesquisa e as considerações finais.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Devido ao processo de globalização e às novas demandas empresariais, intensifica-se a discussão acerca da responsabilidade social corporativa (RSC), já que a ética, a transparência e a responsabilidade são cada dia mais exigidas pelo mercado. Dessa forma, faz-se necessário explorar o assunto com maior profundidade. A idéia da responsabilidade social incorporada aos negócios é relativamente recente. Com a sua evolução, o foco das organizações vem mudando gradualmente, pois estas, além de se preocuparem com a conquista de lucros e criação de valor, passam a adotar também políticas voltadas para o bem-estar de seus colaboradores, da comunidade e do meio ambiente.

Sobre a evolução das discussões e das pressões sobre a responsabilidade social nas empresas, Reis e Medeiros (2009, p.63) destacam que o objetivo foi de “conscientizar os executivos sobre as questões de cunho social e ambiental, e, frente a isso, a expectativa de que as empresas pudessem criar condições para se inferirem de maneira mais harmônica e solidária em questões de interesse da sociedade”.

As discussões sobre a responsabilidade social nos negócios tiveram início com Bowen, que, na década de 1950, introduziu o tema nos debates acadêmicos. Maignan (2001) assinala que Bowen tem sido reconhecido como o primeiro estudioso a desenvolver o tema responsabilidade social com cunho acadêmico, recomendando para as empresas a adoção de linhas de atuação que sejam desejáveis no tocante aos objetivos e valores da sociedade. Entretanto, somente a partir da década de 1970, quando as questões ambientais e sociais passaram a ser temas de grande preocupação na sociedade os conceitos de responsabilidade social corporativa ganharam projeção e se desenvolveram (OLIVEIRA et al., 2006).

Dentre inúmeras tentativas no sentido de formular uma definição universalmente aceitável de responsabilidade social corporativa, Bowen (1957) a conceituou como o conjunto das obrigações dos proprietários das empresas de adotar orientações, tomar decisões e seguir linhas compatíveis com os fins e valores da sociedade.

Além disso, outros autores contribuíram para a definição do termo Responsabilidade Social Corporativa. Silva (2006, p. 12) aduz que “responsabilidade social é o compromisso de cidadania da empresa com a sociedade. É uma forma de fincar o seu posicionamento diante do mercado e fortalecer a sua credibilidade”. Tinoco (2006, p. 116) considera o termo abrangente, ao comentar que seu conceito está “próximo das estratégias de sustentabilidade de longo prazo das empresas que, em sua lógica de performance e lucros”, incluem a preocupação com os impactos das suas atividades, visando proporcionar bem-estar para a sociedade.

O conceito de responsabilidade social no contexto dos negócios tem promovido muitas pesquisas e encontra-se em transição contínua, tendo em vista a necessidade de adaptação das empresas às necessidades de práticas socialmente responsáveis que relacionam seu desempenho sob o enfoque econômico, social e ambiental (CARNEIRO et al., 2011). A definição mais utilizada de responsabilidade social corporativa, segundo Dahlsrud (2008), é a que considera um conceito que propicia às empresas a integração de preocupações sociais e ambientais nas suas operações e na sua relação com todos os intervenientes.

Um importante passo para estimular o desenvolvimento de práticas de responsabilidade social corporativa no Brasil foi dado em 1998, com a criação do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, que representa a referência nacional no assunto. O Ethos congrega um conjunto de empresas que discute meios de disseminar a cidadania empresarial.

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De acordo com o Ethos (2001), a empresa socialmente responsável vai além da obrigação de respeitar as leis, pagar impostos e observar as adequadas condições de segurança e saúde para os trabalhadores. Percebe-se, então, que as práticas de responsabilidade social não se limitam ao âmbito interno da empresa, tendo em vista que a mesma alcança todos os stakeholders e o meio ambiente.

Segundo Wood (1991, p. 695), “a idéia básica de responsabilidade social corporativa é que o negócio e a sociedade são entrelaçados, ao invés de entidades distintas; a sociedade tem certas expectativas para um comportamento empresarial apropriado e com resultados”. Tais resultados têm sido evidenciados por meio dos chamados relatórios sociais. Os relatórios sociais consistem em mecanismos de evidenciação das práticas socioambientais adotadas pelas empresas, constituindo instrumentos efetivos para medir e controlar as suas consequências e os respectivos custos e benefícios.

Na visão de Freire (2003), os demonstrativos sociais servem para realizar diagnósticos da gestão empresarial em relação à política de responsabilidade social implementada em determinado período, possibilitando a redefinição de diretrizes e o estabelecimento de programas, assim como a avaliação dos investimentos sociais.

Um dos relatórios sociais mais utilizados no país é o modelo de balanço social do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), que o define como um demonstrativo anual publicado anualmente pela empresa, que reúne “informações sobre os projetos, benefícios e ações sociais dirigidas aos empregados, investidores, analistas de mercado, acionistas e à comunidade” (IBASE, 2009).

O modelo de balanço social do Ibase reúne sete grandes temas, comuns a todas as empresas, independentemente de tamanho ou setor de atividades, consignando dados referentes a dois exercícios seguidos, de modo a possibilitar a análise de variação dos valores ou das ações implementadas. Os sete temas são assim distribuídos: base de cálculo, indicadores sociais internos, indicadores sociais externos, indicadores ambientais, indicadores do corpo funcional, informações relevantes quanto ao exercício da cidadania empresarial e outras informações (KITAHARA, 2007).

Para o presente estudo, representando os investimentos sociais realizados pelas organizações, destacam-se: i) os indicadores sociais internos, que compreendem os investimentos voltados para o atendimento das demandas dos funcionários, dependentes ou aposentados da organização; ii) os indicadores sociais externos, que contemplam as contribuições para a sociedade mediante investimentos em educação, cultura, saúde e saneamento, esportes, entre outros gastos com o público externo da organização, e os tributos, excluídos os encargos sociais; e iii) os indicadores ambientais, que reúnem os recursos para investimentos relacionados com a produção ou operação da empresa e os programas ou projetos externos na área ambiental.

Ressalta-se que a prática da responsabilidade social constitui uma reação por parte das organizações de interessar-se pelo bem-estar social e pelo desenvolvimento das relações internas e externas em respeito ao meio ambiente e justiça social, mas envolve, também, a busca pelo melhor desempenho nos negócios. Nessa perspectiva, Ashley (2002) qualifica a responsabilidade social como uma forma de agregar valor à marca, fortalecer os vínculos comerciais e sociais da empresa, além de gerar valor aos negócios e influenciar positivamente na motivação dos funcionários.

Dessa forma, um dos temas em efervescência na área de administração consiste na busca pelo relacionamento entre a responsabilidade social corporativa e o desempenho econômico-financeiro. Algumas se baseiam em argumentos teóricos da administração

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moderna como, por exemplo, a teoria dos stakeholders, a teoria dos shareholders ou da maximização do valor do acionista.

De acordo com Reis e Medeiros (2009), no início do século XX ocorreu um dos primeiros embates nos tribunais americanos entre a corrente da responsabilidade social corporativa e a corrente da maximização da riqueza dos acionistas: o caso A. P. Smith Manufacturing Company versus Barlow, em que um grupo de acionistas da empresa buscava ressarcimento de valores doados à Universidade Princeton a título de filantropia. Essas duas correntes distintas desenvolveram-se no meio acadêmico por meio de teorias que são conhecidas como a teoria dos stakeholders (que defende a idéia da responsabilidade social corporativa) a teoria dos shareholders (que defende a idéia da maximização da riqueza dos acionistas como único objetivo da empresa).

Sobre as teorias, Rezende, Nunes e Portela (2007) assinalam que, segundo a teoria dos

stakeholders, a relação entre responsabilidade social corporativa e desempenho

econômico-financeiro das empresas deveria ser positiva, evidenciando que quão maior fosse o nível de responsabilidade social, maior seria o desempenho econômico-financeiro, enquanto que para a teoria dos shareholders, existiria uma relação inversa entre responsabilidade social e desempenho econômico-financeiro.

Segundo Griffin e Mahon (1997), durante 25 anos de pesquisas sobre a relação entre o desempenho socioambiental e a performance financeira não foi alcançado nenhum consenso, pois, de acordo com levantamento feito pelos autores em 51 estudos realizados, foram identificadas relação negativa em 11 deles, nula em 5, positiva em 24 e em outros 11 estudos foram encontradas duas ou mais relações entre os desempenhos, o que leva a perceber que não existe um consenso entre qual teoria (teoria dos stakeholders e a teoria dos shareholders) melhor explica a realidade empresarial.

Um dos primeiros estudos a investigar a relação entre o desempenho socioambiental e o desempenho econômico-financeiro foi apresentado por Moskowitz (1972), que selecionou 14 firmas que possuíam o que ele acreditava ser uma credencial de boa responsabilidade social, e então calculou a taxa de retorno das ações ordinárias para os primeiros seis meses do ano de 1972, ano da pesquisa. Depois, observou que as 14 empresas tinham apreciado uma média correspondente a 7,28%, enquanto que o maior índice de mercado, como o

Dow-Jones Industrial, tinha apreciado um resultado de 4,4%; dessa forma, o autor encontrou uma

relação positiva entre os desempenhos.

A partir desse estudo seminal de Moskowitz (1972), o questionamento sobre a relação existente entre os investimentos em responsabilidade social e o desempenho econômico-financeiro gerou uma série de pesquisas nacionais e internacionais nos últimos anos. No Quadro 1 são demonstradas sinteticamente algumas pesquisas nacionais de destaque que abordaram esta relação.

Quadro 1 - Estudos empíricos anteriores nacionais

Autores

Medida de Desempenho Socioambiental

Medida de Desempenho

Econômico-financeiro Conclusão da pesquisa

Machado e Machado (2011) Indicadores sociais e ambientais, líquidos de encargos sociais compulsórios e tributos do Balanço Social.

EBITDA (Earning Before Interests, Taxes, Depreciation and Amortization), Receita Operacional e Receita Líquida.

Impacto positivo da RSC no desempenho das empresas, referente aos indicadores internos

e externos. Quanto aos

indicadores ambientais, não se identificou impacto destes no

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desempenho financeiro das empresas.

Borba (2006)

Indicadores conforme Balanço Social, modelo IBASE.

Lucro Operacional sobre

Ativo Total, Lucro

Operacional Próprio sobre Ativo Total, Retorno da Geração Bruta de Caixa sobre o Ativo Total, Valor da empresa no mercado e Q de Tobin.

Não foi identificada relação estatisticamente significante entre o desempenho social e o desempenho financeiro. Abreu et al. (2009) Índice de Conduta Ambiental EBITDA, Faturamento

Líquido, Lucro Líquido, Ativo Total e ROE (Return On Equity) ou Retorno sobre o Patrimônio.

Empresas com condutas

ambientalmente responsáveis tendem a apresentar melhores resultados econômicos.

Kitahara (2007)

Indicadores conforme Balanço Social, modelo IBASE.

Receita Líquida, Resultados Operacionais

Influência dos investimentos em ações de responsabilidade social no desempenho financeiro das empresas.

Cesar e Silva Júnior (2008)

Indicadores conforme Balanço Social, modelo IBASE.

Retorno sobre Ativo (ROA) e

do Retorno sobre o

Patrimônio Líquido (ROE)

O ROA e o ROE possuem relação estatisticamente significante com o desempenho social. Sendo uma relação positiva entre o ROA e o desempenho social e uma relação negativa entre o ROE e o desempenho social. No entanto, não foi detectada relação entre

medidas de desempenho financeiro e as de desempenho ambiental. Crisóstomo, Freire e Vasconcellos (2010)

Índice de ação social

relacionados com

público interno, externo e ambiental

Q de Tobin, Retorno sobre Ativo (ROA) e do Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE)

Os resultados indicam que no Brasil, a RSE está decrescendo os valores para as empresas e não tem nenhuma relação com performance financeira.

Holanda et al. (2011)

Indicadores ambientais e

sociais do Balanço Social Retorno sobre Ativo (ROA)

O estudo constatou que a relação é neutra, ou seja, os indicadores

socioambientais não se

relacionam com o desempenho empresarial.

Fonte: Elaborado pelos autores

Pode-se verificar que a relação entre a responsabilidade social corporativa e o desempenho econômico-financeiro é investigada intensamente no âmbito nacional. Além disso, percebe-se que tal relação tem representado um desafio para a academia, tendo em vista a complexidade e a ausência de um consenso quanto à referida relação. Isso pode ser visto por meio das divergências nas conclusões de cada pesquisa apresentada de forma sintética.

De acordo com o Quadro 1, percebe-se que a maioria dos estudos identificou relação positiva entre as variáveis em estudo. Adicionalmente, verifica-se que a maioria dos estudos

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utilizou como proxy do desempenho socioambiental os indicadores do balanço social, modelo Ibase.

Becchetti, Di Giacomo e Pinnacchio (2005) ressaltam que essas diferenças de resultados encontradas em estudos empíricos não necessariamente refletem erros, mas implicam diferenças nas perspectivas (períodos de observação, empresas selecionadas, medidas de desempenho e abordagens metodológicas).

Uma pesquisa de destaque que investigou o setor bancário foi a de Simpson e Kohers (2002) que analisaram o setor bancário norte-americano, a partir de testes, diferenças de médias e regressões. Os autores concluíram que há uma associação positiva entre os investimentos socioambientais e a performance financeira dos bancos estadunidenses.

Do exposto, percebe-se que os estudos indicam que os investimentos em responsabilidade social corporativa podem proporcionar maior desempenho econômico-financeiro para as empresas. Ressalte-se ainda que a presente pesquisa busca investigar tal relação fundamentando-se em pesquisas empíricas anteriores sobre o tema, considerando o setor bancário brasileiro.

3 METODOLOGIA

Considerando-se o objetivo do estudo, trata-se de pesquisa dos tipos exploratória e descritiva, que adota os procedimentos bibliográfico e documental. O estudo tem natureza quantitativa, aplicando-se análises descritivas que procuram classificar a relação entre variáveis e investigar a relação de causalidade entre os fenômenos (RICHARDSON et al., 2009).

Na presente pesquisa, o objeto de investigação reúne dez empresas do setor bancário brasileiro que publicaram o balanço social, no modelo do Ibase, selecionadas dentre os 10 maiores bancos, segundo classificação da Revista EXAME Melhores e Maiores (2010). A coleta e a análise dos dados contemplaram os exercícios de 2006 a 2010. No Quadro 2 é demonstrado a amostra da pesquisa.

Quadro 2 - Relação de bancos da amostra por ano

ANO BANCOS

2006 Banco do Brasil, Banrisul, Bradesco, Caixa, Itaú Unibanco e Santander. 2007 Banco do Brasil, Banrisul, Bradesco, Caixa, Itaú Unibanco e Santander. 2008 Banco do Brasil, Banrisul, Bradesco, Caixa e Itaú Unibanco.

2009 Banco do Brasil, Banrisul, Bradesco e Caixa. 2010 Banco do Brasil, Banrisul, Bradesco e Caixa.

Fonte: Elaborado pelos autores

A pesquisa utilizou, em relação a cada balanço social analisado, as seguintes variáveis independentes: a proporção entre o investimento com indicadores sociais internos e a receita líquida (ISI/RL), a proporção entre o investimento com indicadores sociais e a receita líquida (ISE/RL) e a proporção entre o investimento com indicadores ambientais e a receita líquida (IA/RL). Como variável dependente foi considerado o EVA®. Como variável de controle foi utilizado o Tamanho (TAM), representado pelo logaritmo do Ativo Total.

Como a legislação societária do Brasil já considera o custo do capital de terceiros no resultado das organizações, o método de cálculo do EVA® utilizado no presente estudo é dado por: EVA® = Lucro Líquido - (Ke x Patrimônio Líquido). Portanto, o EVA® é obtido a partir do lucro líquido, do patrimônio líquido e do custo de capital próprio (Ke), utilizando-se como proxy do custo do capital próprio a taxa Selic acumulada, obtida no portal do Banco

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Central do Brasil (2009). Um resultado positivo para o EVA® indica que as empresa estão criando valor para os seus acionistas, já que estão conseguindo pagar todos os custos e despesas e ainda sobra dinheiro. O resultado negativo para o EVA® indica o contrário, ou seja, indica que a empresa está destruindo valor para os seus acionistas.

Para a coleta dos dados, foi utilizado como fonte principal o balanço social, complementado com dados extraídos das demonstrações contábeis de cada exercício disponíveis no portal da BM&FBovespa ou nos sites institucionais dos bancos que compuseram a amostra. Após a coleta, os dados foram dispostos em uma planilha do software Microsoft Office Excel, de maneira a possibilitar a sua compilação.

Primeiramente foram realizadas técnicas de estatísticas descritivas, as quais possibilitaram uma análise geral acerca das variáveis estudadas, e posteriormente para o teste da hipótese de pesquisa - os investimentos em responsabilidade social corporativa guardam uma associação positiva com a geração de valor para as organizações do setor bancário brasileiro - foram utilizados coeficiente de correlação de Pearson e análise de regressão linear múltipla. Ademais, utilizou-se a correção robusta de White, que garante o controle dos problemas de heterocedasticidade (GUJARATI, 2006). Dentre as abordagens da análise de regressão linear múltipla foi utilizada a do pooled por meio do método dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), pois esta se mostrou mais eficiente.

Os dados coletados na pesquisa foram processados com a utilização do software STATA. Os resultados da estatística descritiva, da correlação de Pearson e da regressão linear múltipla são apresentados e analisados a seguir.

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Inicialmente, efetuou-se a análise descritiva dos dados referentes às variáveis observadas das empresas. A Tabela 1 dispõe os dados descritivos das variáveis referentes aos resultados das companhias conforme o período analisado.

Tabela 1 - Estatísticas Descritivas conforme período de análise

ANO Variável Média Desvio

Padrão

Coeficiente

de Variação Mínimo Máximo

2006 EVA® 1290732,470 1352628,591 1,048 -441287,629 2915522,589 ISI/RL 0,143 0,066 0,459 0,064 0,208 ISE/RL 0,011 0,010 0,947 0,001 0,031 IA/RL 0,008 0,019 2,349 0,000 0,048 TAM 7,977 0,532 0,067 7,196 8,482 N 6,000 2007 EVA® 2209341,178 1680959,554 0,761 584969,057 4406307,267 ISI/RL 0,137 0,061 0,443 0,059 0,192 ISE/RL 0,008 0,005 0,592 0,002 0,015 IA/RL 0,006 0,014 2,333 0,000 0,035 TAM 8,064 0,528 0,065 7,315 8,564 N 6,000 2008 EVA® 4757962,641 4866346,434 1,023 206596,453 12873749,060 ISI/RL 0,169 0,132 0,785 0,070 0,382 ISE/RL 0,009 0,006 0,709 0,002 0,015 IA/RL 0,001 0,001 1,221 0,000 0,003 TAM 8,209 0,581 0,071 7,405 8,717 N 5,000 2009 EVA® 3083553,424 2766329,002 0,897 202976,570 6564490,912 ISI/RL 0,184 0,131 0,709 0,072 0,369

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ISE/RL 0,009 0,007 0,786 0,002 0,019 IA/RL 0,001 0,001 1,238 0,000 0,002 TAM 8,382 0,622 0,074 7,467 8,820 N 4,000 2010 EVA® 3693337,948 2922488,762 0,791 364585,150 6824659,104 ISI/RL 0,159 0,091 0,574 0,074 0,284 ISE/RL 0,007 0,003 0,510 0,002 0,009 IA/RL 0,001 0,001 1,320 0,000 0,003 TAM 8,446 0,634 0,075 7,510 8,868 N 4,000 Período Completo 2006-2010 EVA® 2875912,823 2921760,633 1,016 -441287,629 12873749,060 ISI/RL 0,156 0,090 0,576 0,059 0,382 ISE/RL 0,009 0,007 0,743 0,001 0,031 IA/RL 0,004 0,011 2,895 0,000 0,048 TAM 8,184 0,552 0,067 7,196 8,868 N 25

Fonte: Elaborada pelos autores

Conforme a Tabela 1 pode-se observar que o principal investimento realizado pelas empresas, em média, foi relacionado aos investimentos sociais internos, sugerindo maior preocupação com os empregados por parte das empresas do setor bancário. Trata-se de uma característica recorrente em todo o período de estudo, ou seja, as empresas do referido setor potencializam os investimentos nos seus empregados em todos os anos do período de 2006 a 2010. Gomes e Rocha (2008) ressaltam a importância de tais investimentos, tendo em vista que a gestão de ações sociais internas integradas a uma política global de responsabilidade social valorizam os empregados, impulsionando seu comprometimento com o trabalho, o que contribui diretamente na potencialização dos resultados corporativos.

Em seguida os investimentos mais intensos, em média, foram os indicadores sociais externos. Apesar de este indicador apresentar o segundo maior nível de investimento por parte das empresas em estudo, faz-se necessário ressaltar que algumas empresas consideram neste indicador incentivos governamentais destinados a projetos sociais. Quanto aos investimentos ambientais, percebe-se que não representam prioridade para as empresas do setor bancário no período pesquisado. No entanto, não se pode afirmar que estas não se preocupam com o meio ambiente.

Em relação à variável relativa a criação de valor das empresas observa-se que houve um crescimento deste indicador até 2008. Em 2009 o indicador sofreu um pequeno declínio. No ano seguinte ocorreu um aumento no seu valor, indicando que 2008 e 2010 se estabeleceram como anos nos quais a criação de valor pelas empresas do setor bancário foi mais intensa. Quanto ao tamanho, percebe-se que as empresas passaram por uma evolução no período de análise.

A partir da Tabela 1 é possível verificar ainda a discrepância dos dados por meio dos valores do coeficiente de variação de cada variável. Logo, percebe-se que, na análise geral do período em estudo, considerando os indicadores relativos à responsabilidade social corporativa, o indicador que apresentou maior variabilidade de dados foi o indicador ambiental, sugerindo que o setor bancário destina investimentos ao meio ambiente de forma dispersa, não havendo um padrão de investimentos entre as empresas. Diferentemente dos indicadores sociais internos, que apresentam coeficientes de variação bem menores do que as outras variáveis relativas à responsabilidade social corporativa.

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Antes de proceder à análise de regressão linear múltipla, o estudo procurou analisar o coeficiente de correlação de Pearson entre as variáveis consideradas nesta pesquisa. Na Tabela 2 são dispostos os coeficientes e as respectivas significâncias referentes à correlação entre as variáveis independentes e a variável dependente, EVA®.

Tabela 2 - Correlações entre investimento com RSC e o EVA®

VARIÁVEL EVA®

ISI/RL 0,675*

ISE/RL 0,077

IA/RL -0,232

TAM 0,348**

* significante ao nível de 1%; ** significante ao nível de 10%

Fonte: Elaborada pelos autores

De acordo com a Tabela 2, percebe-se que as correlações entre a variável EVA® e IA/RL apresentou sinal negativo, indicando um sentido inverso entre a associação das variáveis. Já as correlações entre o EVA® e variáveis ISI/RL, ISE/RL e TAM apresentaram-se positivas, indicando um sentido comum entre a associação das variáveis. Vale salientar que a correlação do EVA® com o ISI/RL e com o TAM mostraram-se, respectivamente, significantes ao nível de 1% e 10%. A associação entre o EVA® e as demais variáveis é fraca, ao mesmo tempo em que não se mostrou significante estatisticamente.

Após o cálculo da correlação entre as variáveis utilizadas, partiu-se para a análise da regressão linear múltipla. O modelo de regressão linear múltipla da presente pesquisa apresentou os resultados evidenciados na Tabela 3.

Tabela 3 - Resultados da regressão linear múltipla

VARIÁVEIS Coeficiente Constante -1.95e+07* ISI/RL 2.23e+07* ISE/RL 5.19e+07** IA/RL -5.80e+07* TAM 2279474* R² 67,49% F-Prob 0,000% Número de Observações 25

Notas: * significante ao nível de 1%; ** significante ao nível de 5%

Fonte: Elaborada pelos autores

Com os resultados apresentados na Tabela 3 pode-se inferir que o modelo possui um bom ajustamento, em que 67,49% das variações da variável dependente é explicada pelas variações das variáveis independentes. De acordo com o teste F, confirmou-se a significância do modelo, tendo em vista que Sig. = 0,000. Logo, pode-se dizer que o modelo de regressão é válido.

Analisando-se os p-valores das variáveis independentes pode-se inferir que todas as variáveis independentes influenciam a criação de valor das empresas do setor bancário. Adicionalmente, percebe-se que a relação entre a criação de valor empresarial e o indicador ambiental ocorre de forma inversa, tendo em vista que o coeficiente é negativo, ao passo que, as demais variáveis, referentes aos indicadores sociais internos e externos e tamanho, influenciam positivamente a criação de valor das empresas do referido setor.

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Logo, verifica-se que, a um nível de significância de 5%, o modelo de regressão indica que no contexto das empresas do setor bancário, os investimentos relativos às ações sociais internas e ações sociais externas possibilitam a criação de valor das empresas enquanto maiores indicadores ambientais sugerem menor criação de valor. Ressalte-se ainda que as maiores empresas tendem a criar mais valor do que aquelas empresas do setor bancário de menor porte.

Tais resultados indicam a não aceitação da hipótese da pesquisa já que a variável IA/RL possui influência negativa com a variável dependente (EVA®), ou seja, um incremento nos investimentos ambientais implica na destruição de valor na organização.

A relação positiva entre o desempenho econômico-financeiro e os indicadores sociais internos e externos mostrou-se significante no presente estudo, assim como nos estudos realizados por Machado e Machado (2011), Cesar e Silva Júnior (2008) e Kitahara (2007). Além disso, a conclusão referente aos indicadores ambientais do presente estudo corrobora com o estudo de Cesar e Silva Júnior (2008). No entanto, os estudos de Cesar e Silva Júnior (2008) e Machado e Machado (2011) não identificaram relação significante entre o desempenho econômico-financeiro e os indicadores ambientais, o presente estudo encontrou relação significante entre tais variáveis, mas negativa. Enquanto isso, Abreu et al. (2009) constataram que empresas com condutas ambientalmente responsáveis tendem a apresentar melhores resultados econômicos, em contraponto aos resultados da presente pesquisa.

Vale ressaltar ainda a oposição dos resultados da presente pesquisa com as conclusões de Borba (2006) e Crisóstomo, Freire e Vasconcellos (2010), os quais não encontraram relação significante entre o desempenho econômico-financeiro e os indicadores de responsabilidade social corporativa, enquanto a presente pesquisa constatou que os indicadores de responsabilidade social corporativa influenciam no desempenho econômico-financeiro das empresas.

Em relação à influência do tamanho corporativo no desempenho econômico-financeiro, os resultados deste estudo diferem das conclusões da pesquisa de Crisóstomo, Freire e Vasconcellos (2010), tendo em vista que o presente estudo constatou que o tamanho influencia no desempenho.

Assim, verifica-se que o presente estudo confirma a teoria dos stakeholders, na medida em que foi identificada relação significante entre o desempenho econômico-financeiro e os indicadores de responsabilidade social corporativa, ou seja, que as decisões voltadas para os interesses de todos os stakeholders das empresas são capazes de implementar os resultados desta.

5 CONCLUSÕES

Questões revestidas de caráter social e ambiental, de um lado, e econômicas, de outro, são objeto de acaloradas discussões no meio acadêmico, razão pela qual o presente estudo teve como principal objetivo analisar de que forma se dá a associação entre os investimentos em responsabilidade social corporativa - mensurados pelos indicadores sociais internos; indicadores sociais externos, excluídos os encargos sociais; e indicadores ambientais extraídos dos balanços sociais das empresas - do setor bancário brasileiro e a criação de valor para as organizações - mensurado pelo EVA®. Para tanto, a análise estatística foi realizada por meio da correlação de Pearson e da regressão linear múltipla.

A partir da análise descritiva dos dados, constatou-se que as empresas analisadas destinaram seus recursos prioritariamente aos indicadores sociais internos, sugerindo maior preocupação com os empregados por parte das empresas do setor bancário analisadas.

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Seguidos pelos investimentos em indicadores sociais externos, representados principalmente por projetos sociais voltados para a comunidade. Quanto à criação de valor apresentada pelas empresas do setor, verificou-se uma evolução ao longo dos anos, até o ano de 2008, obtendo um leve declínio no ano posterior.

Os resultados da pesquisa permitiram concluir que os investimentos sociais promovem uma criação de valor para os bancos, em contrapartida os investimentos ambientais promovem uma destruição de valor. Portanto, em linhas gerais, os resultados obtidos forneceram subsídios para não aceitar a hipótese da pesquisa.

Como fator limitante da pesquisa, destaca-se a baixa divulgação do Balanço Social, no modelo do Ibase, por parte dos bancos brasileiros, já que numa amostra de 10 bancos e num intervalo temporal de 5 anos, esperava-se analisar 50 demonstrativos, mas somente 25 foram estão disponíveis ao publico.

Cabe salientar que os resultados encontrados nesta pesquisa são referente a um setor específico, o que não permite que os mesmos sejam generalizados para outros setores. Ressalta-se então, que uma reflexão mais aprofundada entre a composição dos indicadores de criação de valor, a exemplo do EVA®, e dos investimentos com responsabilidade social corporativa, ampliando-se a amostra, incluindo outros setores de empresas, deve fazer parte de futuras pesquisas, com a finalidade de se concluir sobre a sensibilidade existente entre referidas variáveis.

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