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12º Encontro da ABCP. 19 a 23 de outubro de Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa (PB)

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1 12º Encontro da ABCP

19 a 23 de outubro de 2020

Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa (PB)

Área Temática: Ensino e Pesquisa em Ciência Política e Relações Internacionais

UM MAPEAMENTO DOS CURSOS DE GRADUAÇÃO E DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA NO BRASIL: AVANÇOS E

PERSPECTIVAS

Luciléia Aparecida Colombo

Universidade Federal de Alagoas

Luciana da Conceição Farias Santana

Universidade Federal de Alagoas

Emerson Oliveira do Nascimento

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2 Resumo

Este trabalho objetiva um enfoque sobre os programas de mestrado e de doutorado em Ciência Política, bem como os cursos de Graduação existentes, estruturando a produção intelectual nestes espaços acadêmicos. Por tratar-se de um apontamento sobre os cursos existentes, não delimitaremos em nosso recorte temporal um marco inicial, visto o descompasso entre as datas iniciais de fundação dos mesmos; todavia, nossa análise compreende tal mapeamento até o ano de 2018. Isso posto, a pergunta central motivadora deste estudo é: o que tem sido priorizado na formação de cientistas políticos no Brasil, desde a graduação até a pós-graduação?

Palavras-chave: Ciência Política. Pós-Graduação. Brasil.

Abstract

This work aims to focus on the master's and doctoral programs in Political Science, as well as the existing Undergraduate courses, structuring the intellectual production in these academic spaces. As it is a note about existing courses, we will not delimit an initial milestone in our time frame, given the mismatch between their initial dates of foundation; however, our analysis includes such a mapping until the year 2018. That said, the central motivating question for this study is: what has been prioritized in the training of political scientists in Brazil, from undergraduate to postgraduate?

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3 UM MAPEAMENTO DOS CURSOS DE GRADUAÇÃO E DE

PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA NO BRASIL: AVANÇOS E PERSPECTIVAS

Luciléia Aparecida Colombo

Luciana da Conceição Farias Santana

Emerson Oliveira do Nascimento

INTRODUÇÃO:

Este trabalho vislumbra um enfoque sobre os programas de mestrado e de doutorado em Ciência Política, bem como os cursos de Graduação existentes, estruturando a produção intelectual nestes espaços acadêmicos. Por tratar-se de um apontamento sobre os cursos existentes, não delimitaremos em nosso recorte temporal um marco inicial, visto o descompasso entre as datas iniciais de fundação dos mesmos; todavia, nossa análise compreende tal mapeamento até o ano de 2018. Isso posto, a pergunta central motivadora deste estudo é: o que tem sido priorizado na formação de cientistas políticos no Brasil, desde a graduação até a pós-graduação?

Alguns pesquisadores, entre eles LAMOUNIER (1982), SOARES (2005), WAHLKE (1991), BARTH; BENNETT; RUTHERFORD (2003), entre outros, têm dedicado atenção especial para apontar as abordagens teórico-metodológicas que prevalecem nas pesquisas e nas publicações da área no Brasil e no exterior. Soares (2005, p. 27) foi um dos pioneiros na evidenciação dos principais métodos utilizados na área, apontando que “Há uma certa hostilidade em relação aos métodos quantitativos e à estatística; porém, seu lugar não foi ocupado por métodos qualitativos rigorosos, e sim por uma ausência de métodos e de rigor”.

Todavia, o autor em tela destaca que, se por um lado há um certo distanciamento do método quantitativo, por outro lado, há um obscurantismo nos métodos ditos qualitativos, pois: “O desconhecimento dos métodos qualitativos

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4 mais rigorosos também é característico daqueles que se definem como “qualitativos” simplesmente por oposição a “quantitativos”. No entanto, “qualitativos” eles não são, porque não usam métodos qualitativos. São apenas não-quantitativos ou antiquantitativos (SOARES, 2005, p. 27).

Apesar de efetuar um comparativo entre as áreas de Sociologia e a Ciência Política, o autor aponta, de forma contundente, a dificuldade da área de Ciência Política, de estabelecer um método de análise imperativo e que sirva de alicerce para a consolidação do próprio campo no Brasil. Desde o estudo de Soares (2005) e dos demais autores outrora citados, há uma certa ausência de trabalhos recentes apontando o cenário da Ciência Política e de seu desenvolvimento no país. A partir de tal constatação, este trabalho busca, ainda que de maneira prévia, completar tal hiato na produção científica relacionada.

Feres Jr (2000) analisou a institucionalização da Ciência Política nos Estados Unidos, sinalizando que a área no Brasil não deve, simplesmente, seguir um mimetismo americano, mas caminhar de acordo com suas próprias e necessárias linhas de atuação, apresentando dados bem interessantes:

A institucionalização da Ciência Política americana, na prática, correspondeu à criação de empregos, cursos, departamentos, programas, centros de pesquisa, revistas especializadas, associações e linhas de financiamento de pesquisa sob o mesmo rótulo disciplinar da Ciência Política. Paralelo a esse processo de desenvolvimento institucional ocorreu um movimento de especialização. A estrutura institucional da Ciência Política americana é hoje dividida em cinco subáreas: política americana, política comparada, relações internacionais, políticas públicas e teoria política. Cada subárea apresenta um alto grau de autonomia disciplinar e endogenia. Consequentemente, um professor de política comparada, por exemplo, só ensina cursos de política comparada, publica em periódicos especializados em política comparada, e participa de conferências nas mesas e painéis da mesma subárea (FERES, 2000, p. 97-98).

KEINERT; SILVA (2010), por sua vez, destacam a atuação de Wanderley Guilherme dos Santos, falecido neste ano de 2019, para a consolidação da disciplina no Brasil:

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5 Wanderley Guilherme dos Santos, em seu artigo de 1975, localiza entre os anos de 1920 e 1930 uma inflexão no âmbito da produção do pensamento político-social, representada como marco inaugural de uma tradição que desembocaria na armação dos principais problemas da ciência política contemporânea. Para ele, tratava-se do nascimento de uma linhagem que destacava o tema crucial da disciplina: as relações entre a formação histórica do Brasil e sua estrutura política. Os autores daquele período definiram “solidamente o repertório de problemas que, sob roupagens linguísticas as mais variadas, se vem transmitindo de geração em geração, até hoje” (KEINERT; SILVA, 2010, p. 89).

Forjaz (1997), por sua vez, identifica a inauguração da ciência política no Brasil concomitante à fundação da Escola Sociológica Paulista e do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB). Além disso, segundo a autora, a institucionalização dos programas de pós-graduação na área de ciência política na década de 50 promoveu um duplo movimento: por um lado, colaborou para a consolidação da área e, por outro, fomentou o desenvolvimento do país.

Neste sentido, partindo das considerações aqui realizadas, nosso intuito ampliar o escopo dos trabalhos já existentes sobre a temática, buscando colaborar com a sua exploração e obtenção dos dados. O objetivo central deste trabalho é mapear a quantidade e localização dos cursos de graduação e dos programas de pós-graduação em Ciência Política no Brasil.

Para operacionalizar este conjunto de questões, privilegiaremos a análise dos Projetos Pedagógicos dos respectivos cursos e da Avaliação de Proposta de Cursos Novos (APCNs), dos programas de Pós-Graduação em Ciência Política. Além disso, a metodologia deste estudo é de fonte primária e secundária. As fontes primárias constam dos documentos acima mencionados, sobre a análise dos Projetos Pedagógicos dos cursos de graduação existentes, bem como a análise das APCNs aprovadas. Como fonte secundária, analisaremos uma bibliografia pertinente ao tema, já levantada pelos autores. Tal produção foca-se, sobretudo, no Brasil e nos autores que analisaram a temática de maneira semelhante.

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6 1. História da Ciência Política no Brasil e no contexto internacional:

Para situar o campo e as origens da Ciência Política, cabe analisar o contexto americano em que ela foi desenvolvida, propiciada pelo debate entre os defensores do federalismo e também aqueles considerados anti-federalistas, onde ambos exerceram influência sobre a confecção da Constituição americana. Como ressalta Feres (2000) ao fazer um balanço sobre o desenvolvimento da área, a entrada oficial da Ciência Política como uma área específica do saber ocorreu em 1880, com o nascimento do primeiro departamento de Ciência Política junto a Universidade de Columbia. Já em 1903, a Associação Americana de Ciência Política (APSA) foi criada, abrindo espaço para a consolidação da área, que atuava junto da organização do Estado, buscando, concomitantemente, compreendê-lo e oferecer instrumentos para aperfeiçoá-lo. Entretanto, inicialmente, como aponta Feres (2000), não havia a percepção de que a Ciência Política poderia atuar junto ao Estado; ao contrário, suas atribuições giravam em torno de uma atuação pedagógica, auxiliando os cidadãos na interpretação dos benefícios do sistema democrático, o que contribuiu, de certa forma, para institucionalizar a área. Entretanto, esta atitude de aliar a Ciência Política aos estudos sobre a democracia proporcionou um desenvolvimento pari passu ao ritmo em que a própria Ciência Política adquiria protagonismo e vitalidade entre as demais áreas das Ciências Sociais. Ela foi, todavia, confundida como a ciência da democracia ou a serviço dela.

Um dos autores que mais contribuíram para o desbravamento do entendimento da consolidação da área de Ciência Política foi Gunnel (1979), o qual critica a chamada Behavioral revolution, que tentava aproximar a área de uma ciência mais prática e natural; neste processo, a teoria social acabou se separando da Ciência Política, como uma maneira de isolar esta subárea:

Durante os anos 50 houve numerosas tentativas de explicar o que geralmente era aceito como legado de uma longa tradição de teoria política ocidental e pelo desaparecimento da literatura que caracterizou esta tradição. Comentaristas de ambos os lados da controvérsia, geralmente admitem que uma tradição identificável de teoria política era evidente e estava em um estado de declínio, transição ou crise. Era também aceito que a

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7 tradição era caracterizada por julgamentos éticos ou de valor sobre política e recomendações sobre a estrutura da vida política. Consequentemente, o estado contemporâneo da grande tradição parecia estreitamente ligado ao problema geral da justificação racional de valores (GUNNEL, 1979, p. 10).

Ao dedicar atenção a autores como Bell, Feres (2000) argumenta que para a Ciência Política americana, a Segunda Guerra Mundial teve papel primordial para a legitimação da área:

Com o fim do conflito, os cientistas políticos voltaram à academia, mas a experiência de guerra transformou sua atitude em relação à profissão e às relações entre academia e política. Ball diz que eles se tornaram “severos realistas com um senso sóbrio das possibilidades e limitações da política”. Essa sobriedade se traduziu, do ponto de vista da prática disciplinar, em um maior interesse por questões relacionadas ao comportamento político concreto e, consequentemente, na rejeição de modos de pensar mais conceituais, inquisitivos e abstratos, próprios da teoria política e da filosofia (FERES, 2000, p. 103).

A evolução da área tem nos anos 60 e 70 importantes marcos históricos; isso porque a década de 60, segundo Gunnel (1979) apontava para a autonomia da racionalidade do argumento ético, transformando os pressupostos através dos quais a área estava assentada. Assim, a passagem dos anos 60 para os 70 foi importante para a área, que abandonou um imediatismo da teoria e passou a interpretar políticas públicas, com um arsenal de novos instrumentos teóricos que passaram a vigorar no campo.

Para o Brasil, especificamente, a trajetória da Ciência Política foi marcada por momentos históricos que influenciaram sobremaneira a área. Desde a publicação do “O calcanhar metodológico da Ciência Política no Brasil”, de Gláucio Ary Dillon Soares, os rumos da área começaram a ter espaço reflexivo privilegiado. O autor faz uma distinção bem clara entre os limites dos métodos quantitativos e qualitativos, e inicia o texto com um diagnóstico bem claro:

A ciência política no Brasil enfrenta um período difícil, no qual a produção de profissionais e de pesquisas anda na contramão da

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8 história. Há uma certa hostilidade em relação aos métodos quantitativos e à estatística; porém, seu lugar não foi ocupado por métodos qualitativos rigorosos, e sim por uma ausência de métodos e de rigor. Alguns reagiram contra essa vocação com rejeição a tudo o que não fosse quantitativo, como se a ciência política só começasse com uma equação de regressão múltipla. O repúdio aos métodos qualitativos não foi feito após o exame detalhado desses métodos, mas aprioristicamente—tudo o que não fosse quantitativo era classificado, automaticamente, como não-científico. O afastamento entre a ciência política e a antropologia foi uma consequência desse repúdio e, também, da rejeição em sentido contrário (SOARES, 2005, p. 27).

Keinert e Silva (2010) retomam as discussões metodológicas que envolvem a área para tentar “limpar o campo” para o surgimento da Ciência Política no Brasil:

A adoção da nomenclatura “Ciência Política” para designar o campo disciplinar é um dos sinais mais expressivos da lógica que redefiniu os traços identitários de uma área de estudos, cuja designação mais habitual era dada até então pelo termo “Política”. O sintagma que se cria com a incorporação do termo “Ciência” revela um dos componentes centrais da afirmação de certo perfil intelectual construído em consonância com os novos parâmetros de cientificidade, formulados especialmente no âmbito das ciências sociais praticadas nos Estados Unidos. A sofisticação das técnicas quantitativas de pesquisa aparecia como símbolo maior de um empreendimento cujo sentido de inovação se apoiava num diagnóstico acerca do que seriam as fragilidades metodológicas da ciência social praticada no Brasil até a primeira metade da década de 1960, que valeria tanto para os sociólogos da USP como para os cientistas sociais reunidos no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), no Rio de Janeiro (KEINERT; SILVA, 2010, p. 81).

Para Forjaz (1997), a Ciência Política brasileira deve, em grande parte de seu repertório teórico, ao elaborado pelos americanos, tornando-se uma ciência “importadora do saber”. Além disso, o campo de disputa entre as diferentes escolas foi bem definido. Entre os anos 1930 e 1964, caracterizados, sobretudo, pela predominância do papel do Estado e com novas institucionalidades impostas a ele, dois centros surgiram como produtores da Ciência Política: a Escola Sociológica Paulista e o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB). Cada uma destas escolas teve a sua influência bem delimitada, tanto pela

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9 sociologia francesa, como da escola americana. Entretanto, como salienta a autora em tela, o debate sobre o rigor acadêmico não tinha muito espaço nesta época, haja visto o protagonismo das outras áreas das Ciências Sociais, em detrimento da Ciência Política. Esta última era vista como uma subárea da Sociologia e da própria Economia. Forjaz (1997) coaduna-se com o pensamento desenvolvido por Ferez (2010) sobre os anos 60 e 70, os quais foram marcos importantes para o desenvolvimento da área:

A decolagem do processo de institucionalização da Ciência Política no país nos anos 60 está vinculada à constituição de um sistema de pós-graduação na Universidade brasileira, por um lado, e à montagem de agências de fomento vinculadas a um sistema nacional de desenvolvimento científico e tecnológico, crescentemente vinculado às políticas de planejamento e desenvolvimento econômico, por outro (FORJAZ, 1997, p. 3).

As agências de financiamento das pós-graduação no Brasil também foram essenciais para aumentar o leque de possibilidade de atuação de cientistas políticos. Tais agências foram criadas no regime militar, fomentando a ciência e a tecnologia no país. A divisão existente na ala militar contribuiu para o afloramento da ciência no Brasil, que lançava as bases para os programas de pós-graduação, bem como o seu financiamento:

Se no período de 1969 a 1974 predominaram os grupos de "linha dura", com perspectivas nitidamente repressivas (é a fase de grande desenvolvimento da comunidade de informações e segurança), a partir do governo Geisel e do processo de abertura política aumentou a influência dos militares sorbonistas. Esse "partido militar", mais intelectualizado e mais comprometido com a modernização do país, manifestou posturas favoráveis ao desenvolvimento científico e conviveu de forma menos conflitiva com a comunidade científica brasileira. Foi nesses espaços institucionais abertos pelo regime que a crescente comunidade de cientistas sociais (enormemente ampliada com o desenvolvimento da pós-graduação a partir de 1968) inseriu-se e conquistou posições (FORJAZ, 1997, p. 4).

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10 Neste novo aparato de financiamento das pesquisas, cabe destaque para a Fundação Ford, que começou a apoiar projetos alocados junto ao Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, ao Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais, e a outros centros de pesquisa, como o Cebrap, o Cedec, dentre outros. Além disso, como destaca Keinert e Silva (2010):

Uma vez que as iniciativas de apoio da Fundação Ford apontavam para uma definição aplicada de conhecimento social, a ciência política viria a assumir uma posição estratégica em função de seu potencial em pautar a elaboração de políticas públicas. Trata-se da viabilização de um perfil disciplinar especializado que se ligaria a um gênero de pesquisas orientado pela proximidade à agenda política nacional e cujos esforços seriam canalizados para a análise das bases institucionais do regime liberal-democrático. A demanda por cientificidade implicaria a assimilação de métodos e técnicas quantitativos, como via privilegiada de acesso à compreensão da dinâmica do sistema político. A amplitude da valorização do aparato metodológico pode ser dimensionada quando se tem em vista a centralidade que o survey adquiriria no âmbito das pesquisas políticas (KEINERT; SILVA, 2010, p. 83).

A ascensão da Ciência Política na década de 60 está atrelada a uma redefinição da atuação do Estado junto a sociedade e também para o fomento de políticas públicas. A partir de 1964 esta demanda foi acentuada, especialmente para atender a um projeto político de centralização política e administrativa, fomentada pelos militares. Para Forjaz (1997):

O autoritarismo, a falência da democracia na periferia capitalista, o Estado Burocrático-Autoritário, a ascensão dos militares ao poder na América Latina e alguns países europeus provocam a reflexão política e abrem novos espaços e exigências intelectuais para o ramo até então menos desenvolvido das ciências sociais. As explicações predominantemente economicistas ou sociologizantes não dão mais conta da nova realidade histórica e é preciso fundar a autonomia da política (FORJAZ, 1997, p. 22).

A autora em tela também aponta outros dois fatores que proporcionaram uma maximização da Ciência Política no contexto brasileiro: a atuação dos

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11 movimentos sociais, especialmente aquele que priorizava a luta contra o regime militar e o impacto deste contexto de autoritarismo sobre os cursos de Sociologia existentes, que retirou bolsas dos estudantes, reduziu o fomento à pesquisa para os docentes; este movimento acabou propiciando uma maior politização das Ciências Sociais, e uma consolidação da área, visando a internacionalização acadêmica e o fomento ao financiamento de pesquisas. Neste sentido, cabe destacarmos como está, atualmente, os Programas de Pós-Graduação em Ciência Política no Brasil e, para tanto, analisaremos o Documento de Área Ciência Política e Relações Internacionais, de 2019, disponível junto a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

2. Os programas de Pós-Graduação em Ciência Política no Brasil:

Segundo o documento de área da Ciência Política e Relações Internacionais, a área vem alcançando, paulatinamente, um crescimento exponencial nos últimos anos, especialmente quando observamos o número de estudantes matriculados, os títulos concedidos e o aumento das publicações na área, conforme podemos observar na tabela abaixo:

Tabela 1 - Indicadores de crescimento da Área de Ciência Política e Relações Internacionais (1998-2017) 1998 2008 2017 Variação 1998-2017 Estudantes matriculados 459 1033 2440 432% Mestrado Acadêmico 339 568 1.107 227% Doutorado acadêmico 120 392 1015 746% Mestrado profissional 0 73 318

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12 Títulos concedidos 111 234 584 426% Mestrado Acadêmico 84 167 403 380% Doutorado Acadêmico 27 53 125 363% Mestrado Profissional 0 14 56 Professores 92 250 679 638% Visitantes 7 41 Colaboradores 85 178 Permanentes 250 679 Publicação scopus (artigos) 29 379 893 2979% Ciência Política e Relações Internacionais 5 80 193 3760% Sociologia e Ciência Política 24 299 700 2817% Fonte: Capes, 2019.

Estes números ficam mais evidentes quando observamos o número dos programas de Pós-Graduação existentes atualmente no Brasil, conforme aponta a tabela abaixo:

Tabela 2: Programas de Pós-Graduação existentes no Brasil:

Mestrado 18 (30,5%)

Doutorado 1 (1,7%)

Mestrado Profissional 16 (27,1%)

Doutorado Profissional 0 (0%)

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13 O documento de área aponta uma expansão da Ciência Política nos últimos 20 anos, aumentando o número dos programas de pós-graduação de 10 para 59, a partir de 2008, como demonstra o gráfico abaixo:

Gráfico 1: Total de Programas de Pós-Graduação – Área de Ciência Política e Relações Internacionais (1998-2019):

Fonte: Extraído de Capes, 2019.

Comparativamente, podemos situar a evolução da Ciência Política e Relações Internacionais frente a outras áreas, como a Sociologia e a Antropologia. O gráfico abaixo demonstra estes números:

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14 Gráfico 2: Número de programas de pós-graduação por Área de avaliação CAPES em 2019 - Ciências Sociais

Fonte: Capes, 2019.

O crescimento da área de Ciência Política e Relações Internacionais fica evidente no número dos programas de Pós-Graduação existentes, quando comparada com a Sociologia e a Antropologia/Arqueologia. Uma dificuldade adicional observada na expansão da área de Ciência Política e Relações Internacionais é a assimetria no número de Programas de Pós-Graduação existentes nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, conforme podemos observar na tabela abaixo:

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15 Tabela 3: Percentual dos programas da área de Ciência Política e Relações Internacionais sobre o total, por região do Brasil:

Região Programas de Pós-Graduação

1998 2008 2019 Centro-Oeste 20% 23,8% 11,9% Nordeste 10% 9,5% 18,6% Norte 0,0% 4,8% 3,4% Sudeste 60% 52,4% 45,8% Sul 10% 9,5% 20,3% Total 100% 100% 100% Fonte: Capes, 2019.

Esta dificuldade na expansão da área para as regiões distantes do eixo Sudeste – Sul tem impacto também no número de docentes que saem destas regiões em busca de colocação no mercado de trabalho, localizados em grande medida, nestes centros de São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.

Por último, convém destacar que o Documento de Área da Capes indica que curso de Mestrado Profissional ainda possui uma baixa procura, quando comparado com o Mestrado Acadêmico no Brasil e que entre essa procura pelos programas de Pós-Graduação, o ranking de preferência é o seguinte: Ciência Política (30%), seguido de Políticas Públicas (29%), Relações Internacionais (27%) e Estudos de Defesa (14%). Além disso, o documento também aponta um crescimento exponencial das publicações científicas em periódicos considerados de extrato superior, como os qualis A e B1.

CONCLUSÃO

Neste trabalho, apontamos a evolução da área de Ciência Política no Brasil, a partir da análise do Documento de Área, publicado pela CAPES em

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16 2019. Procuramos localizar a área tanto em um contexto internacional, especialmente o americano, considerado o berço da Ciência Política, como no Brasil, com a evolução da disciplina desde os anos 60 até os dias atuais.

Importante considerar que instituições importantes como a Escola Sociológica Paulista e do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) foram essenciais para a consolidação da área. Hoje em dia, como demonstra o documento de área da Capes, percebemos uma alteração e uma evolução fundamental do crescimento dos programas de pós-graduação e do número de alunos matriculados, denotando uma consolidação da mesma no contexto acadêmico brasileiro.

Para fortalecer nosso objeto de estudo, estamos preparando uma análise sobre os cursos de Graduação em Ciência Política, o qual será apresentado no paper final e também na apresentação deste evento. Por uma razão temporal e de acesso aos dados, não foi possível contemplar esta análise neste momento, mas o faremos com a publicação do paper final.

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