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A Qualidade da Água em Portugal

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Academic year: 2021

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A Qualidade da Água em Portugal

Rui Rodrigues; Felisbina Quadrado; Ana Rita Lopes

Av. Almirante Gago Coutinho 30, 1049-066 Lisboa

Tel.: 21 843 03 00; Fax.: 21 840 92 18

rrr@inag.pt

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binaq@inag.pt

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ana.rita@inag.pt

RESUMO

Neste artigo apresenta-se uma breve descrição da qualidade da água em Portugal continental tendo como preocupações de enquadramento, por um lado, o tema que deu corpo ao seminário ⎯ Ambiente e Saúde ⎯ e, por outro, a tendência evolutiva na última década (solução mais representativa do que a mera fotografia do último ano).

Uma vez que a qualidade da água não pode ser analisada independentemente da actividade humana e das medidas de gestão implementadas para o seu controlo e manutenção, as principais estratégias desenvolvidas nos últimos anos serão aduzidas à exposição por área temática de intervenção.

Para a concretização dos objectivos citados recorrer-se-á prioritariamente ao volume técnico preparado pela Direcção dos Serviços de Recursos Hídricos do INAG (DSRH, 2000) para o grupo de especialistas da OCDE encarregados da peritagem ambiental periódica por país, cuja síntese para Portugal foi recentemente publicada (OECD, 2001).

Recorrente ao longo do texto é também a orientação de boa prática fornecida pelas principais directivas europeias no domínio da água e o acervo informativo disponibilizado no Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH), cujas sínteses temáticas propiciam ao cidadão, desde 1996, um panomara actualizado dos recursos hídricos e, assim, da qualidade da água.

1-INTRODUÇÃO

No último decénio Portugal foi palco de intensas modificações a nível de reforma administrativa, produção legislativa e gestão dos recursos hídricos que se reflectiram nos indicadores de qualidade das águas.

A verificação de conformidade dos valores analíticos da qualidade da água com os padrões do normativo comunitário e nacional tem sido uma medida segura do alcance das políticas para a melhoria da qualidade da água, nomeadamente aquelas relacionadas com actividades essenciais como o abastecimento de água, as águas balneares, o tratamento de águas residuais, a eliminação da poluição causada por subtâncias perigosas, a manutenção de padrões aceitáveis para fins piscícolas e o controlo das práticas agrícolas.

Importante para uma verificação de conformidade são as actividades de monitorização, sendo o adensamento das redes de medição e o reforço laboratorial realizados na última década um bom indicador também do crescente investimento da Administração no sector da qualidade da água.

A qualidade da água é aqui abordada quer para as águas superficiais (interiores e costeiras), quer para as subterrâneas. Nesta perspectiva globalizante de recursos hídricos fica ausente a química da água atmosférica, ainda que a água só constitua recurso depois de atingir o solo. Que não fique porém subentendida qualquer perspectiva exclusiva da água enquanto recurso explorável, completamente desadequada do seu valor ambiental, conceito aliás largamente enfatizado na Directiva Quadro da Água.

2-ESTADO GERAL DE QUALIDADE DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS

Como foi já referido, o valor ambiental das águas per se ⎯ aquilo que na Directiva Quadro da Água se designa por bom estado ecológico ⎯ constitui objectivo permanente de cada Estado Membro.

Ainda que os temas da saúde e da água se intersectem maioritariamente na perspectiva do ser humano, o tema deste seminário acrescenta o valor ambiental à questão da saúde pública e vigilância sanitária.

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humana e a saúde dos ecossistemas estariam intimamente ligadas, foram necessários 30 anos para consubstanciar esses princípios numa lei comunitária. Na realidade foi a progressiva desadequação dos ideais sectoriais de abordagem dos problemas da água que desadequou também a visão egocêntrica das relação entre a água e a saúde.

De facto, durante a segunda metade da década de 70 legislou-se, em termos comunitários, sobre as origens de água superficial para abastecimento (1975), para prática balnear (1976), para vida piscícola (1978), para fins aquícolas – conquícolas (1979) e para consumo humano (1980).

Apesar de se ter iniciado então, também, a prática legislativa de protecção da água, através da protecção contra substâncias perigosas nas águas superficiais (1976) e nas águas subterrâneas (1980), só na década de 90 é que se alargou o âmbito da protecção ao tratamento das águas residuais urbanas (1991), aos nitratos de origem agrícola (1991), à colocação no mercado de produtos fitofarmacêuticos (1991) e biocidas (1998). Foi aliás só na segunda metade da década de 90 que se sentiu a primeira necessidade de controlo integrado da poluição (Directiva 96/61/CEE) como forma de: preservar e melhorar a qualidade do ambiente; proteger a saúde humana, e;assegurar uma utilização racional dos recursos naturais ⎯ directiva essa ainda não transposta para o Direito Nacional.

Em Portugal dois marcos legislativos são os Decretos-Lei 74/90, de 7 de Março de 1990, e o que o revogou quase dez anos depois, o 236/98, de 1 de Agosto de 1998.

É este Decreto-Lei que fixa os valores guia e imperativo para os diversos parâmetros de qualidade. O INAG utiliza, adicionalmente, um sistema de classificação que acrescenta à perspectiva da verificação da conformidade para determinados usos do Decreto-Lei, uma preocupação de verificação da adequação aos ecossistemas exigentes, onde pequenas concentrações de alguns parâmetros facilmente removíveis em estações de tratamento não são admissíveis (Quadro I).

QUADRO I – Sistema de classificação adoptado pelo INAG

É com base nesta classificação que se apresenta seguidamente a evolução da qualidade da água nos principais rios e albufeiras do País, tendo sido escolhidos pontos de amostragem em funcionamento desde 1988 de forma a maximixar o seu conteúdo informativo em termos de representatividade.

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Fig. 1 – Evolução da qualidade da água nos rios e albufeiras de Portugal (DSRH, 2000). Os parâmetros responsáveis pelas piores classificações obtidas são, como se depreende da figura, os microbiológicos e a matéria orgânica, reflectindo alguma ineficiência das estações de tratamento de águas residuais urbanas e industrias relacionadas com a produção de gado. Há contudo uma deslocação progressiva dos valores para as classes mais qualificantes ao longo do decénio.

Como se viu a intensa actividade de construção de estações de tratamento de águas residuais (ETAR), e sua exploração municipal ad hoc, não se reflectiu da mesma maneira na qualidade da água, motivo pelo qual a nova política do Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território para o sector foi o de estabelecer sistemas plurimunicipais de saneamento de águas residuais de funcionamento empresarial (MAOT, 2000) de forma a melhorar a eficiência de funcionamento. Ainda neste domínio foram classificadas diversas áreas sensíveis para as quais devem drenar bacias onde as ETAR tenham obrigatoriamente tratamento terciário de forma a reduzir as cargas de nutrientes.

Durante a segunda metade da década de 90 foram também designados os troços das linhas de água de aptidão salmonídia e ciprinídia, no âmbito da Directiva 78/659/CEE onde o grau de conformidade é muito apreciável.

Fazendo parte da estratégia de protecção e melhoramento da qualidade da água nacional, foi gizada e implementada uma rede específica de monitorização de substâncias perigosas estando já desenvolvidos os programas de melhoramentos para as substâncias da Lista I e em fase de desenvolvimento os programas de melhoramentos para as substâncias da Lista II detectadas no meios hídricos.

3-ORIGENS DE ÁGUA

Como consequência dos aspectos enunciados para os rios e albufeiras de uma maneira geral, os principais problemas de qualidade da água das origens de água superficial para abastecimento são de origem microbiológica e de contaminação orgânica. A Figura 2 apresenta a evolução da classificação das principais origens de água.

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Fig. 2 - Variação da qualidade da água na origem segundo as classes do Anexo II da Directiva 75/440/CEE (parâmetros com valor imperativo)

De uma taxa de conformidade em 1993 de 87% das origens dentro das classes A1 e A2, passou-se em 1998 para 97%. Em mais de 50% dos casos a cor é o parâmetro responsável pelo abaixamento de classe, associado a anos de precipitação intensa; o segundo parâmetro responsável é o azoto amoniacal (provavelmente fossas sépticas ou fertilizantes).

A publicação do Plano de Acção Orgânico, de âmbito nacional, para protecção e melhoria da qualidade das águas superficiais destinadas ao consumo humano (Portaria nº 462/2000), calendariza os programas de medidas estabelecidos. Destes programas irão beneficiar as zonas balneares designadas nas albufeiras.

A informação para o público sobre a qualidade das águas nas origens é considerada fundamental e é assegurada numa síntese especial sobre albufeiras onde podem ser encontrados outros aspectos (do corpo da barragem até aos planos de ordenamento, Fig. 3).

Fig. 3 – Uma das inúmeras páginas no site SNIRH (snirh.inag.pt) com informação sobre albufeiras.

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4 – ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

A definição de zonas de protecção para os recursos hídricos são fundamentais também para os sistemas aquíferos. Recentemente saíu legislação neste sentido (Decreto-Lei n.º 382/99, de 22 de Setembro) que estabelece perímetros de protecção para captações de águas subterrâneas destinadas ao abastecimento público.

O Decreto-Lei n.º 235/97, de 3 de Setembro, que transpõe para o direito interno a Directiva n.º 91/676/CEE do Conselho, de 12 de Dezembro de 1991, relativa à protecção das águas contra a poluição causada por nitratos de origem agrícola, e o Decreto-Lei n.º 56/99, de 26 de Fevereiro (transpondo as Directivas n.º 86/280/CEEe a Directiva n.º 88/347/CEE das normas de descarga na água e solo de certas substâncias perigosas incluídas na lista I do anexo da Directiva 76/464/CEE) constituem dois pilares da protecção das águas subterrâneas.

A protecção das águas subterrâneas está ainda ligada aos programas de acção para as zonas vulneráveis, nomeadamente a Portaria n.º 683/98, de 1 de Setembro para a zona vulnerável n.º 3, constituída pela área de protecção do aquífero Miocénico e Jurássico da campina de Faro.

Na Figura 4 é apresentada a evolução da qualidade da água nos sistemas aquíferos do Algarve estando os valores de pior qualidade associados à campina de Faro e aos sistemas costeiros do Sotavento, todos associados aos nitratos.

Fig. 4 – Evolução da qualidade da água no Algarve.

5 – MONITORIZAÇÃO

Um dos aspectos cruciais em matéria de ambiente e saúde é a monitorização, entendida aqui como todo o processo que medeia entre a aquisição de dados ou amostras no terreno até à sua disponibilização para o público. O INAG promoveu uma Restruturação das Redes de Monitorização (DSRH, 1998; 2000a; 2000b), financiado pelo Programa INTERREG IIc, onde as componentes mecânicas dos limnígrafos (de apoio ao cálculo dos caudais para determinação das cargas poluentes) foram substituídas por automatismos e componentes electrónicas. Foram ainda instaladas sondas automáticas que, apoiadas no reforço laboratorial das Direcções Regionais de Ambiente e do Ordenamento do Território, financiado pelo Projecto Life, permitem uma maior descrição da variabilidade espaço-temporal da qualidade da água.

Os sistemas de transmissão de informação foram também definidos e optimizados para contemplar quer as monitorizações de rotina quer as verificações de convenções internacionais (Fig. 5) quer a detecção de acidentes de poluição.

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Fig. 5 – Solução de telecomunicações adoptada para o ganho de sinal da estação do Pulo-do-Lobo, que controla a Convenção Luso-Espanhola.

6 - BIBLIOGRAFIA

DSRH (1998) ⎯ Proposta de Restruturação das Redes de Monitorização de Recursos Hídricos – Bacias Hidrográficas a Sul do Tejo, DSRH/INAG, Junho 1998. DSRH (2000a) ⎯ Proposta de Restruturação das Redes de Monitorização de Recursos

Hídricos – Bacias Hidrográficas Entre Douro e Tejo, DSRH/INAG, Junho 2000.

DSRH (2000b) ⎯ Proposta de Restruturação das Redes de Monitorização de Recursos Hídricos – Bacias Hidrográficas a Norte do Douro, DSRH/INAG, Novembro 2000.

DSRH (2000c) ⎯ Portuguese survey on the Water Status in the 90’s to supplement data for the OECD Working Party on Environmental Performance Review, DSRH/INAG, October 2000.

MAOT (2000) ⎯ Plano Estratégico de Abastecimento de Água e de Saneamento de Águas Residuais (2000-2006), 143 p., MAOT.

Referências

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