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POLÍTICAS PÚBLICAS, EDUCAÇÃO E O PROTAGONISMO DOS IDOSOS NA UNIVERSIDADE

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Academic year: 2021

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OLIVEIRA, Rita de Cássia – UEPG

soliveira13@uol.com.br

OLIVEIRA, Flávia da Silva – Faculdades União

flasoliveira@uol.com.br

Área Temática: Educação, História e Políticas Agência Financiadora: Não contou com financiamento

Resumo

O envelhecimento populacional constitui uma realidade mundial e evidencia a importância da preparação das sociedades para proporcionar uma melhor qualidade de vida aos cidadãos idosos. A presente pesquisa objetiva refletir sobre as políticas públicas voltadas para o idoso na área educacional, identificar a relevância da educação permanente; resgatar o Curso da Universidade Aberta para a Terceira idade na Universidade Estadual de Ponta Grossa e identificar os benefícios proporcionados aos idosos que freqüentam esse curso. A educação permanente se apresenta como a necessidade de ampliar a participação dos indivíduos na vida social e cultural, visando a melhoria nas relações interpessoais, qualidade de vida, compreendendo o mundo e tendo esperança de futuro. Surge como condição para permitir aos idosos acompanharem as constantes evoluções da sociedade, adaptando e participando ativamente desse ritmo acelerado de mudanças. A inserção e a participação do idoso depende da valorização desse segmento etário no contexto social brasileiro. Apesar do aumento significativo dos idosos no Brasil, as Políticas Públicas, ainda se apresentam insatisfatórias para atender a demanda que se amplia rapidamente. O Estatuto do Idoso, Lei 10.741/03, prescreve no capítulo V, o direito do idoso à educação e o incentivo por parte do governo para a criação de programas e universidades abertas para a terceira idade. A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), desde 1992, através do Curso da Universidade Aberta para a Terceira Idade (UATI) proporciona atualização, aquisição de conhecimentos, resgate da dignidade, participação, exercício da cidadania, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos idosos. Atualmente a UATI/UEPG possui 250 alunos. A pesquisa foi bibliográfica, descritiva, interpretativa, utilizou a entrevista com idosos como instrumento na coleta e registro dos depoimentos.

Palavras-chave: Educação permanente; Políticas públicas; Universidade aberta; Terceira

idade.

Introdução

A velhice, em geral é vista como uma fase de decadência, de inutilidade, de isolamento e de incapacidade para a aprendizagem. Esses preconceitos rotulam e dificultam qualquer investimento que beneficiem essa clientela na área da educação.

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Envelhecer é um processo natural dos seres vivos. Constitui um desejo antigo do homem em prolongar cada vez mais a sua existência, mas como prerrogativa se buscam boas condições de vida. A longevidade, atualmente, apresenta-se como um fenômeno mundial.

Como afirma Oliveira (1999, p.123) “ o envelhecimento da população é um fenômeno global que traz importantes repercussões nos campos social e econômico, especialmente nos países em desenvolvimento.”

O Brasil apresenta, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 16 milhões de idosos, cerca de 9,7% da população. Considera-se idoso, os indivíduos com 60 anos ou mais, conforme prescreve o Estatuto do Idoso, Lei 10.741/03. Segundo projeções do IBGE, em 2025, a população idosa será cerca de 15%, um contingente de 34 milhões, quando o Brasil será considerado o sexto país mais idoso do mundo, perdendo para China, Índia, Estados unidos, Japão e Indonésia. Diante dessa realidade os temas velhice e envelhecimento encontram-se em grande efervescência na sociedade brasileira, todavia a sociedade, em seu conjunto, não se encontra preparada para atender esse segmento etário da população. Os discursos sobre o tema são vazios e de pouca praticidade ou consistência científica.

A tendência no Brasil é valorizar aquilo que é novo e desprezar o que é velho. O Brasil hoje ainda está procurando manter uma imagem viva de juventude, mas, aos poucos, independentemente da sua vontade, está se transformando em um país camufladamente jovem, porém, de cabelos brancos.

O preparo do homem é fundamental pR um envelhecimento e uma velhice saudável; só se viverá bem na velhice se houver uma preparação antecipada, pois a vida reserva preocupações e problemas em qualquer idade, que poderão ser agravados na velhice se não existir um planejamento pessoal e social do próprio indivíduo. Para isso é necessário que ele esteja preparado.

A educação e o planejamento para o envelhecimento, a velhice e a morte final podem, provavelmente, melhorar e aperfeiçoar a qualidade de vida para todos. Não importam os anos vividos, mas o que se deixa durante os anos em que aqui se esteve.

Diante dessa realidade, diferentes segmentos como a saúde, transporte, habitação, previdência social e educação precisam ser redimensionados para atender esse novo perfil populacional.

Os temas sobre o envelhecimento não eram incluídos no rol das prioridades para pesquisa, e apresentavam poucas ações práticas, mas com a mudança da pirâmide etária, o

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aumento do contingente de idosos e a conseqüente longevidade, foram assumindo e se impondo com maior visibilidade, respeito e referencial teórico consistente.

Decorrente desse processo, a sociedade está se mobilizando para propiciar aos cidadãos, em especial os que já são idosos, uma velhice mais digna e de qualidade, na qual possam exercer plenamente a cidadania sendo partícipes da sociedade que integram.

As demandas sociais dos idosos se avolumam e passam a se constituir em desafios para a sociedade política e civil, em que a luta pela construção de uma sociedade democrática impõe o resgate da dívida social, historicamente acumulada com o segmento da população de terceira idade.

O processo de envelhecimento e a velhice enquanto etapa da vida não constitui um processo unicamente biológico, mas uma construção social.

Assim, a questão do envelhecimento e da velhice envolvem uma somatória de complexos fatores para o seu estudo, entre eles: aspectos biológicos, cronológicos, sociais e psicológicos. Assim, pode-se ressaltar que ...

O ser humano, em sua complexidade, não se reduz ao aspecto físico, mas incorpora a influência da sociedade em que vive, aspectos culturais e psicológicos que, inter-relacionados, constituem o “todo do ser humano” e contribuem cada qual com parcelas importantes no processo de envelhecimento. (OLIVEIRA, 1999, p.61).

A maneira como os idosos são vistos pela sociedade manifesta-se de forma distinta entre os diversos países do mundo.

Os atuais idosos são aqueles que conseguiram sobreviver a condições adversas. Expressam, portanto, uma seleção social e biológica diferenciada. Ao se observar a distribuição espacial da população idosa, percebe-se que esta se concentra nas grandes cidades e nos bairros com maiores facilidades; os que sobrevivem até idades mais avançadas são, em média, menos pobres que o conjunto da sociedade. No entanto, esse quadro tende a mudar. (VERAS, 1994, p.52).

Os indivíduos precisam se preparar para a velhice, aceitando o próprio envelhecimento como um processo gradativo e natural; necessário para que tenha uma vida social e afetiva de qualidade, participando ativamente da sociedade a que pertence.” A velhice é um tempo de síntese de todas as épocas anteriores do ciclo de vida”. (SALGADO, 1992, p.08).

Infelizmente ainda existe no discurso da Gerontologia a referência da velhice como “problema”, “questão social” ou “doença”, reforçando atitudes negativas, estereotipadas e

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preconceituosas em relação ao idoso e, na grande maioria não apresentam fundamentação científica.

O envelhecimento não implica necessariamente em deterioração física e mental, porque varia quanto ao estilo de cada pessoa e da fantasia que cada um atribui à velhice, sendo assim importante a criação de um modelo positivo do envelhecimento e a conscientização de que a velhice atinge a todas as pessoas que vivem muito. O envelhecer é um caminho que deve ser construído permanentemente, superar dificuldades e conflitos integrando limites e possibilidades. “Envelhecer implica fazer elaborações sociais partindo de novos dispositivos histórico-sociais na determinação das diferenças” (NOVAES, 1997, p.24).

A presente pesquisa foi bibliográfica, descritiva, interpretativa e de cunho qualitativo. Objetivou refletir sobre refletir sobre as políticas públicas voltadas para o idoso na área educacional, identificar a relevância da educação permanente; resgatar o Curso da Universidade Aberta para a Terceira idade na Universidade Estadual de Ponta Grossa e identificar os benefícios proporcionados aos idosos que freqüentam esse curso. Foram realizadas entrevistas com idosos como instrumento para coleta dos depoimentos.

Políticas Públicas e Educação Permanente: o cidadão idoso em questão

Os idosos constituem um segmento da população que precisa de atenção, investimento e espaço para uma vida de boa qualidade. É necessário que se possibilite a continuidade e organização em torno de seus interesses básicos.

As instituições de ensino, entre as quais as universidades precisam romper com seus muros e diminuir a distância que existe com a sociedade, oportunizando conhecimentos atraentes e interessantes aos idosos.

Como Paulo Freire é impossível viver historicamente sem ter um sonho, o projeto do amanhã, a utopia. Ninguém sonha só. O meu sonho precisa do seu e o seu precisa do meu para deixar de ser ilusão e se concretizar.

A educação para o envelhecimento deve ser preconizada dentro de condições sócio-econômicas e culturais, com seguridade social adequada, para a manutenção de uma vida digna e produtiva na terceira idade.

A medida em que o indivíduo envelhece existe uma modificação significativa dos papéis sociais que desempenha carecendo até certo ponto de uma definição mais objetiva, de

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propósito e de identidade. Esses papéis precisam ser constantemente substituídos, caso contrário, o idoso interioriza uma anomia tornando-se alienado de si mesmo e da sociedade.

Como afirma Oliveira (1998, p.56)

(...) a valorização da velhice, atribuindo aos idosos novos papéis socialmente valorizados, talvez acompanhados de uma forma de remuneração, o que garante em primeiro lugar um complemento econômico e depois porque a sociedade atualmente valoriza as atividades vinculadas ao dinheiro, desmerecendo o trabalho gratuito. Os processos educativos, nas sociedades industriais, deveriam valorizar o capital cultural e as atividades do idoso, porém isso não ocorre.

Pela educação permanente, o idoso volta a estudar, reflete sobre a sua vida, desenvolve e amplia suas habilidades, elabora novos objetivos e traça estratégias para alcançá-los.

Pensar na possibilidade de educação para idosos é pensar em instrumentos para uma velhice saudável, com qualidade, ativa e participativa.

A educação permanente se apresenta como a necessidade de ampliar a participação dos indivíduos na vida social e cultural, visando a melhoria nas relações interpessoais, qualidade de vida, compreendendo o mundo e tendo esperança de futuro. Pela educação permanente assume-se uma nova concepção de vida humana, cujo princípio central é só aprender a ser, mas principalmente viver para aprender, interagindo com quem está ao seu redor.

O fenômeno educativo deve ser entendido como uma prática social situada historicamente em uma realidade total; dependendo do projeto de homem e de sociedade que se deseja construir, a educação pode ser trabalhada dentro de uma perspectiva ingênua ou crítica, dentro de uma perspectiva que vise alienar ou libertar os seres nela envolvidos, surgindo como instrumento eficaz na criação do tipo de homem e de sociedade idealizada (OLIVEIRA, 1999).

A educação para a terceira idade constitui um dos desafios para a sociedade brasileira face ao significativo contingente de idosos existentes atualmente no país.

A educação permanente surge como condição para permitir aos idosos acompanharem as constantes evoluções da sociedade, adaptando e participando ativamente desse ritmo acelerado de mudanças, reforçando a participação e a integração dos idosos na sociedade, repudiando a segregação e o isolamento desse segmento populacional. A educação será útil no combate a negatividade estereotipada da terceira idade, preparando-os para assumirem novos papéis e desafiando preconceitos estabelecidos.

Segundo Gadotti (1984) a educação permanente é a necessidade de uma educação que se prolonga durante toda a vida, uma necessidade de continuar constantemente a formação

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individual. Complementando, Garcia (1994) ressalta que a idéia de totalidade é a que melhor exprime o ponto de partida da educação permanente, na medida em que focaliza o homem em toda a sua dimensão, imerso em uma realidade social.

Assim, a educação, além de ser um direito social básico e elementar, representa também o caminho — ou a condição necessária — que vai permitir o exercício e a conquista do conjunto dos direitos e deveres da cidadania, que se ampliam a cada dia em contrapartida às necessidades do homem e da dignidade humana.

Conforme Severino (1994, p.100), a educação deve, ser vista como mediação para a construção da cidadania, contribuindo para a integração dos homens no tríplice universo do trabalho, da simbolização subjetiva e das mediações institucionais da vida social. A educação política do povo, ou educação para a cidadania, deve, pois, possibilitar primeiro o igual acesso ao Direito — isto é, o conhecimento do ordenamento jurídico das liberdades públicas por parte de todas as pessoas — e então a formação das consciências dos sujeitos sociais para a necessidade de sua afirmação no nível dos fatos, no nível da vida real. E daí a luta por sua extensão.

Chauí (1994, p.54) considera a sociedade brasileira autoritária e a cidadania mantida como “privilégio de classe”. Nessa sociedade as diferenças e assimetrias sociais e pessoais são transformadas em desigualdades e estas, em relações de “hierarquia, mando e obediência”. As relações acabam tornando-se uma forma de dependência, tutela, concessão, autoridade e favor, “fazendo da violência simbólica a regra de vida social e cultural. Violência tanto maior porque invisível sob o paternalismo e o clientelismo, considerados naturais e por vezes, exaltados como qualidades positivas do ‘caráter nacional’.”

De todo modo, queremos lembrar mais uma vez que o exercício da cidadania é algo que envolve uma prática cotidiana constante, pois afinal cidadania é ter direitos: todos os mencionados anteriormente e mais um, que é o direito a ter uma educação para saber quais são os nossos direitos e exercitá-los.( TOMAZI, 1997, p.131).

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 205, estabelece que a educação — direito de todos e dever do Estado e da família — deve visar o pleno desenvolvimento da pessoa humana, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho, que é também, uma das várias dimensões da idéia-força da cidadania. Ela se amplia na medida em que se afirma como prática social, para além dos textos legais.Considerando o segmento da pessoa idosa, ainda essa situação parece se agravar quando percebe-se que a educação é contemplada como a modalidade de Educação de Jovens e Adultos. Certamente o idoso é um

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adulto, porém tratando-se da questão educacional, assume características específicas e exige-se uma metodologia diferenciada que precisa ser respeitada.

No Estatuto do Idoso, Lei 10.741/03, no capítulo V que trata da educação, cultura, esporte e lazer, do artigo 20 ao 25 evidencia o direito do idoso à educação, cultura, esporte, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços que respeitem sua peculiar condição de idade” (Art. 20). Complementando no art. 21, considera que “ O poder Público criará oportunidades de acesso do idoso à educação, adequando currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais a ele destinados.

A cidadania deve ser compreendida como participação política e como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando no dia-a-dia atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito.

O exercício pleno da cidadania não pode ser simplesmente outorgado por lei, mas, que, cumpre ao indivíduo conquistá-lo e exercitá-lo constantemente nos diferentes momentos e situações vivenciadas no cotidiano, desenvolvendo o sentido de sua responsabilidade pessoal e social. Deste modo, embora a escola seja a instituição formal responsável pela formação das novas gerações, a educação para a cidadania deve fazer-se presente em todas as instâncias da vida social, envolvendo a família, a comunidade, as associações, os sindicatos, os partidos políticos.

Não são poucas as situações em que esses direitos são desrespeitados, sejam com relação ao gênero, a faixa etária, a raça ou cor. Nesse aspecto, os idosos são considerados improdutivos pela sociedade apenas consumidores, sendo na grande maioria marginalizados. Visando garantir os direitos para esse segmento etário, criou-se o Estatuto do Idoso.

Os direitos dos cidadãos são continuamente violados, a cidadania está ameaçada e precisa ser resgatada em toda a sua plenitude, para todos os indivíduos, indistintamente. Os direitos de uns precisam condizer com os direitos dos outros, permitindo a todos o direito à vida no sentido pleno, que constitui o traço básico da cidadania.

O Brasil, preocupado com o crescimento da população idosa, considerando aqui idoso acima de 60 anos, elaborou a Política Nacional do Idoso, Lei 8842/94. Uma lei de grande relevância para a sociedade, porém, que não alcançou a repercussão esperada e muito pouco foi implementada. As discussões em redor do assunto cada vez mais se evidenciam e a sociedade política colocou na pauta das políticas públicas o segmento idoso.

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Segundo Fernandes (1997) se a sociedade brasileira proporcionasse aos cidadãos mais velhos um tratamento e a consideração dispensada aos adultos, eliminar-se-ia os estatutos especiais para os idosos. Deste modo, segundo o autor, tornou-se necessária a criação do Estatuto do Idoso sancionado em 2003, que veio resgatar, os princípios constitucionais que garantem aos cidadãos idosos direitos que preservem a dignidade da pessoa humana, sem discriminação de origem, raça, sexo, cor e idade.

Há falta de vontade política, acusação feita por estudiosos e profissionais responsáveis quanto aos 20 anos de expectativas de atitudes governamentais em favor do público idoso, sendo colocado como prioridade por alguns apenas em suas campanhas eleitorais, segundo Fernandes (1997).

O Estatuto do Idoso (Lei 10.741/03) prevê em seu capítulo V, artigo 20, ter o idoso o direito à educação, e, em seu artigo 21 rege que o Poder Público criará oportunidades de acesso do idoso à educação, adequando currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais a ele destinados (OLIVEIRA, 2006).

Esses artigos demonstram o reconhecimento da educação permanente como instrumento eficiente para a valorização e reconhecimento do idoso como um cidadão atuante, participativo e por isso merecedor de atendimento com qualidade.

O Estatuto, por ter sido resultado de ampla discussão política, está valorizando mais esse segmento da população e dessa maneira, o idoso tem recebido mais atenção da sociedade política e civil no que se refere a ações práticas voltadas para a melhoria e promoção da qualidade de vida desse segmento da população.

Embora prescrito no Estatuto a criação de Universidades Abertas para a Terceira idade, percebe-se a inexistência de um espaço educacional para essa clientela, um lugar adequado que se busque o aprimoramento do conhecimento, a busca de novos conhecimentos, visando a promoção do ser humano. (LIMA, 2000).

As universidades ampliam sua função social, “buscando integrar aqueles que se encontram à margem do processo de desenvolvimento” (OLIVEIRA, 1999, p.240).

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Dentro dessa perspectiva da educação permanente e sendo a universidade um lugar por excelência para o aprimoramento, a pesquisa, a busca do conhecimento e também a democratização do saber, timidamente surge em seu âmago um espaço educacional para essa clientela.

As universidades ampliam sua função social, “buscando integrar aqueles que se encontram à margem do processo de desenvolvimento” (OLIVEIRA, 1999, p.240).

Os diferentes programas oferecidos pelas Instituições de Ensino Superior são formas alternativas de atendimento ao idoso, visando além da valorização dessa clientela, maior conscientização da sociedade em geral a respeito do processo de envelhecimento da população do nosso país que é uma realidade (BOTH, 2003).

Com a inserção do idoso na comunidade universitária, a integração entre gerações ocorre necessariamente, fomentando debates sobre as questões que envolvam essa faixa etária, analisando preconceitos e discriminações ora sustentados socialmente e que se apresentam sem fundamentação científica.

O próprio idoso, ao se conscientizar de seu espaço na sociedade, terá de si mesmo uma visão mais otimista, considerando-se produtivo, útil, capaz de muito ainda colaborar para a sociedade na qual está inserido.

A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), por mais de 16 anos estuda o envelhecimento e a velhice enquanto etapa da vida e, de maneira inovadora, criou o Programa da Universidade Aberta para a Terceira Idade (UATI), em 1992, buscando um espaço pedagógico para os idosos, em uma instituição por excelência de jovens, responsável pela produção e socialização de conhecimentos.

A UATI fundamenta-se na concepção de educação permanente e auto realização do idoso. Estrutura-se com abordagem mulltidisciplinar, priorizando o processo de valorização humana e social da terceira idade, analisando constantemente a problemática do idoso nos diversos aspectos; biopsicológicos, filosóficos, político, espiritual, religioso, econômico e sóciocultural. Preocupa-se em proporcionar ao idoso melhor qualidade de vida, tornando-o mais ativo, alegre, participativo e integrado à sociedade. Possibilita a aquisição de conhecimentos e informações em diferentes áreas apoiada na educação permanente.

Basicamente a UATI estrutura-se em disciplinas teóricas e práticas, totalizando 240 horas, ao longo de três semestres letivos, seguindo o calendário universitário.

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As disciplinas teóricas abordam as diferentes dimensões humanas e sociais, apresentadas por diferentes profissionais em suas áreas específicas, entre elas: sociologia, filosofia, psicologia, direito, previdência social, história, geografia, relações humanas, educação, esoterismo, política, economia, medicina, fisioterapia, odontologia, nutrição, jornalismo, turismo, educação física e meio ambiente.

As disciplinas práticas envolvem diferentes atividades, como: dança de salão, natação, hidroginástica, biodança, ioga, relaxamento e alongamento, atividades esportivas, informática, francês, espanhol, inglês, oficina da comunicação, pintura, artesanato, teatro e seresta.

O currículo é organizado de maneira interativa, conforme as opções dos próprios idosos, sendo as disciplinas teóricas de caráter obrigatório e as práticas de caráter optativo.

Existe ainda o Grêmio da Universidade Aberta para a Terceira Idade (GUATI), com regulamento próprio e diretoria organizada que, sob a coordenação do Programa, organiza viagens e festas ao longo do ano. Entre as principais festividades registram-se: Festa dos Calouros, Festa do Dia das Mães, Festa Junina, Festa da Primavera e Festa Natalina.

O Estágio realizado na UATI, constitui o último semestre letivo do Programa, onde são programadas atividades como visitas a diversas instituições, entre elas: hospitais, asilos, creches, grupos de convivência de idosos. São realizadas entrevistas para detectar as reais necessidades de cada local e depois desenvolvem-se atividades filantrópicas, assistenciais, recreativas, visando uma socialização e integração.

As atividades desenvolvidas atualmente, assumem as características de Projetos e são brevemente descritas a seguir:

- Resgate Cultural de brincadeiras e cantigas: foi realizado um trabalho de pesquisa, em equipe, na qual resgatou-se as principais cantigas de rodas e brincadeiras de infância, elaborando um álbum descritivo. Realizou-se uma apresentação demonstrativa para os próprios alunos da UATI e depois saíram em diferentes locais previamente agendados, fazendo as devidas apresentações. Todos os alunos estavam caracterizados e realizaram atividades interativas, convidando as pessoas a participarem das brincadeiras e das cantigas.

- Contador de Histórias; os alunos receberam orientações e em equipes, organizaram um teatro representando diferentes histórias infantis clássicas, com as devidas caracterizações dos personagens. Primeiramente apresentaram para o próprio grupo de colegas e depois foram distribuídos em diferentes locais para realizar as apresentações.

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- Memorial – História de Vida: Esse projeto foi desenvolvido individualmente pelos alunos. Cada um relatava sua história, registrando os fatos mais marcantes ao longo da vida, com ilustrações, fotografias, cartas, poemas, enfim o que era mais significativo, registrando e elaborando um álbum. Posteriormente, foi marcado um dia onde todos apresentaram a sua produção e cada um contou alguma passagem de sua vida que mais lhe seria marcante, pela tristeza ou pela alegria.

O curso é constantemente avaliado pela coordenação, pelos docentes e pelos idosos e reformulado conforme as necessidades e sugestões apresentadas. Os alunos recebem certificados de conclusão de cursos.

Hoje o Curso possui 17 anos de duração, de muito sucesso e reconhecimento pela comunidade acadêmica e pela sociedade em que está inserido.

Todas essas atividades foram desenvolvidas e comprovadamente atingiram o objetivo de manter os idosos ativos e participativos na comunidade, além de resgatas a auto estima e a valorização individual, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida.

Depoimentos: repercussão da UATI na vida dos idosos

Foram coletados depoimentos de 60 idosos, no sentido de captar a repercussão e os benefícios proporcionados pela UATI na vida de cada um. Alguns aspectos podem ser identificados nas falas a seguir:

-“Devo muito para a UATI porque ela me devolveu a vontade de viver e me fez esquecer de tomar tantos remédio. Meu médico disse que estou muito bem porque estou feliz” ( Maria – 73 anos)

-“A melhor coisa que fiz na vida foi entrar aqui, agora consigo fazer coisas que antes eu não fazia como cantar, o artesanato e a dança.” ( Ana- 68 anos)

- “Eu não vou deixar nunca isso aqui, é muito bom, fiz muitas amigas e acho tudo maravilhoso”. (Joana- 82 anos).

- “Essas aulas que aprendo coisas novas eu gosto muito, e também as de biodança, hidroginástica que me deixa mais disposta e feliz”. (Cláudia – 72 anos)

- “As ginásticas me ajudam a fazer algumas coisas que antes eu não conseguia como andar mais rápido e colocar minhas meias. Isso é muito bom e quero que todos venham estudar aqui.” (Carla-77 anos).

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- “Minha vida melhorou muito porque agora como melhor, faço tudo com mais disposição e durmo mais gostoso. Tudo graças a UATI”. (Cristina, 75 anos)

Além dos idosos que freqüentam o Curso, a repercussão também é positiva registrada por diferentes familiares e pela comunidade pontagrossense.

Através dos depoimentos dos idosos que foram coletados, constata-se a unanimidade quanto a repercussão positiva que o Curso tem representado na vida de cada um, principalmente quanto a melhoria na realização de atividades diárias, na qualidade de vida, na inserção familiar e social, tornando-os pessoas mais alegres, otimistas, com vontade de viver.

Considerações Finais

A busca de um novo paradigma da velhice está sendo debatido, voltado mais para a valorização e maior reconhecimento social do idoso, delineando um outro cenário nacional.

Embora os Cursos voltados para os idosos cada vez mais estejam se proliferando na sociedade brasileira, ainda torna-se necessária a sensibilização da população e do poder político para o problema da velhice que hoje está subordinado a outros problemas sociais e que, de certa forma, a poucos interessa.

Portanto as iniciativas vão aos poucos se alastrando à medida que a população, como um todo, vai assumindo consciência desse segmento que requer atenção e vida digna.

Como afirma Salgado (1996 , p.65)

A questão social dos velhos não pode continuar sendo secundarizada, nem sendo objeto de políticas tímidas e soluções menores. A existência plena não é propriedade dos jovens, é um direito de todos os que estão vivos. Os velhos têm algumas décadas a mais de cidadania do que os jovens. Se isso não lhes confere a precedência, lhes dá, pelo menos, o direito de lutar por uma melhor qualidade de vida.

Indispensável o despertar de mais atenção e investimentos do Estado e da sociedade civil para minimizar a precariedade de vida dos idosos. A terceira idade, no Brasil, não constitui um fato econômico sério, e, assim, não atrai maiores investimentos no setor. Essa situação, pela educação, deve ser revertida.

Através desse cursos voltados para os idosos, oportuniza-se um espaço de educação permanente permitindo que ao longo da vida possam usufruir como da cidadania plena, superando limites estabelecidos à velhice e combatendo estereótipos negativos e discriminatórios, esboçando uma longevidade mais saudável e com qualidade.

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REFERÊNCIAS

BOTH, Agostinho. Envelhecimento humano: múltiplos olhares. Passo Fundo: UFPF, 2003. CHAUI, Marilena. Conformismo e Resistência: aspectos da cultura popular no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1994.

FERNANDES, Flávio. As pessoas idosas na legislação brasileira: direito e gerontologia. São Paulo: LTr, 1997.

GADOTTI, Moacir. A educação contra a educação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984. GARCIA, A. Educación y envejecimiento. Barcelona: PPU, 1994.

KRUPPA, Sonia. Sociologia da educação. São Paulo: Cortez, 1993. LIMA, Mariúza. Gerontologia educacional. São Paulo: LTr, 2000.

NOVAES, M. H. Psicologia da Terceira Idade: conquistas possíveis e rupturas necessárias. Paulo Fronyim: NAU, 1997.

OLIVEIRA, Flávia. A implementação do Estatuto do idoso nas áreas de saúde e educação

no Município de Ponta Grossa. Dissertação de Mestrado, Ponta Grossa, 2006.

OLIVEIRA, Rita de Cássia. A universidade Aberta para a Terceira Idade na universidade Estadual de Ponta Grossa. Tese de Doutorado, Santiago de Compostela, 1998.

______.Terceira idade: do repensar dos limites aos sonhos possíveis. São Paulo: Paulinas, 1999.

SALGADO, Marcelo. Velhice: uma nova questão social. São Paulo: Sesc, 1991.

SEVERINO, Antonio J. Filosofia da educação: construindo a cidadania. São Paulo: FDT, 1994.

TOMAZI, Nelson. Sociologia da educação. São Paulo: Atual, 1997

VERAS, Renato. País jovem com cabelos brancos: a saúde do idoso no Brasil. Rio de Janeiro: Relume/Dumará, 1994.

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