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Responsabilidade Civil do Estado

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(2)

AULA 01

1. INTRODUÇÃO

A

finalidade do Estado é satisfa-zer o interesse público e para al-cançar esse objetivo o Estado exer-ce diversas atividades voltadas para a prestação de serviços públicos. Mas pode acontecer que quando da execução desses serviços pos-sam ocorrer prejuízos a terceiros. Esses terceiros irão exigir a devida reparação através de uma ação de indenização para cobrar a respon-sabilidade do Estado em virtude de sua conduta danosa.

Essa Responsabilidade pode ser decorrente ou não das relações con-tratuais travadas entre o Estado e terceiros. Daí se falar em responsabili-dade contratual (oriunda de um con-trato) ou extracontratual (não deriva do contrato).

Em nosso estudo, iremos nos deter apenas na responsabilidade extracontratual do Estado.

2. CONCEITO

A ideia de responsabilidade ori-gina-se no Direito Civil. No direito privado a regra é a obrigação de in-denizar um dano moral ou patrimo-nial decorrente de um fato humano. Os elementos dessa obrigação são: (1) atuação lesiva culposa ou

dolo-sa do agente: deve haver culpa em sentido amplo na conduta que abrange o dolo (intenção) e culpa em sentido estrito (ne-gligência, imprudência ou impe-rícia);

(2) ocorrência de um dano patrimo-nial ou moral;

(3) nexo de causalidade entre o dano e a conduta do agente: o dano deve efetivamente ter

de-corrido da ação do agente ou de sua omissão ilícita no caso do agente ter o dever de agir. No âmbito do Direito Público, a Responsabilidade Civil da Adminis-tração Pública evidencia-se na obri-gação que tem o Estado de indenizar os danos patrimoniais ou morais que seus agentes, no exercício da função pública, causarem ao patrimônio de terceiros. A obrigação de reparar fi-nanceiramente os danos patrimo-niais exaure-se com tal reparação.

Obs.: A responsabilidade civil não

se confunde com as responsabilida-des administrativa e penal, que são independentes entre si. A responsa-bilidade penal resulta da prática de crimes ou contravenções tipificados em lei prévia ao ato. Já a responsa-bilidade administrativa decorre de infração causada pelos agentes da Administração conforme disposição das leis e regulamentos administrati-vos que regem seus atos e condutas.

AULA 02

3. HISTÓRICO

Temos inicialmente a Teoria da Irresponsabilidade do Estado que isentava a responsabilização do Es-tado pelos prejuízos que seus agen-tes causassem aos particulares. É o período do absolutismo no qual o rei jamais poderia errar.

Em seguida, temos a fase da res-ponsabilidade subjetiva (culpa civil) na qual o Estado responde da mes-ma formes-ma que os particulares bas-tando o prejudicado apenas a com-provar a culpa e o dolo dos agentes do Estado.

A terceira fase é a fase da culpa administrativa (falta do serviço) que

vem a representar o início da tran-sição entre a fase subjetiva e a fase objetiva que atualmente vigora em nosso ordenamento jurídico. Agora o Estado deve indenizar o dano so-mente se for comprovada pela ví-tima à falta do serviço (inexistência do serviço, mau funcionamento do serviço ou retardamento do serviço).

A culpa do agente não é subje-tiva, mas há uma culpa especial da Administração, chamada de culpa administrativa ou culpa anônima.

A teoria atual é a Teoria do Risco Administrativo na qual a Responsa-bilidade do Estado passa a ser ob-jetiva, ou seja, a responsabilidade do Estado independe da comprova-ção por parte do particular de dolo ou culpa, da ausência ou do mau funcionamento do serviço público. Agora, é o Estado que tem a obri-gação de provar que não foi o cau-sador do dano à vítima (inversão do ônus da prova). A vítima deve ape-nas comprovar a relação de causa e efeito (nexo causal) entre a conduta do agente e o prejuízo sofrido para caracterizar a responsabilidade ob-jetiva estatal.

Temos também a Teoria do risco integral, na qual não há causas exclu-dentes à responsabilidade do Estado, que tem a obrigação de sempre inde-nizar. Essa teoria segundo Hely Lopes Meirelles “essa teoria jamais foi aco-lhida entre nós” (2005; 646).

Obs.: A Teoria do Risco

Administrati-vo não significa que a Administração tenha a obrigação de indenizar

sem-A culpa do agente

não é subjetiva, mas há

uma culpa especial da

Administração, chamada

de culpa administrativa

ou culpa anônima.

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pre o particular; apenas dispensa a vítima, da necessidade de compro-vação da culpa da Administração.

Como dito anteriormente, nosso ordenamento jurídico adotou a Teo-ria do Risco Administrativo confor-me art. 37, § 6º da CF:

Art. 37, § 6º – As pessoas jurí-dicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a ter-ceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

4. EXCLUSÃO

DA RESPONSBILIDADE

CIVIL: CASO FORTUITO

E FORÇA MAIOR

Não há unanimidade na doutri-na quanto à exclusão da Responsa-bilidade Civil do Estado nas situa-ções de caso fortuito e força maior. Vamos definir esses dois institutos conforme as definições trazidas pela Professora Maria Sylvia Di Pietro. a) Caso fortuito – “que não

consti-tui causa excludente de respon-sabilidade do Estado – ocorre nos casos em que o dano seja decorrente de ato humano ou de falha da Administração; quando se rompe por exemplo, uma adutora ou um cabo elé-trico, causando danos a tercei-ros, não se pode falar em força maior, de modo a excluir a res-ponsabilidade do estado” b) Força maior – “É acontecimento

imprevisível inevitável e estra-nho à vontade das partes, como uma tempestade, um terremoto, um raio. Não sendo imputável à Administração, não pode incidir a responsabilidade do Estado; não há nexo de causalidade en-tre o dano e o comportamento da Administração”. (2010, p 662)

Para o STF, nem o caso fortuito nem a força maior geram o dever de indenizar (RE 238.453):

(...) não há que se pretender que, por haver o acórdão recorrido se referido à teoria do risco inte-gral, tenha ofendido o disposto no art. 37, § 6º, da Constituição que, pela doutrina dominante, acolheu a teoria do risco admi-nistrativo, que afasta a respon-sabilidade objetiva do Estado quando não há nexo de causali-dade entre a ação ou a omissão deste e o dano, em virtude da culpa exclusiva da vítima ou da ocorrência de caso fortuito ou de força maior.(RE 238.453, voto do Rel. Min. Moreira Alves, julga-mento em 12/11/2002, Primeira Turma, DJ de 19/12/2002.)

No mesmo sentido: RE 385.943, Rel. Min. Celso de Mello, deci-são monocrática, julgamento em 05/10/2009, DJE de 16/10/2009; RE 109.615, Rel. Min. Celso de Mello, jul-gamento em 28/05/1996, Primeira Turma, DJ de 02/08/1996.

(...) É certo, no entanto, que o princípio da responsabilidade objetiva não se reveste de ca-ráter absoluto, eis que admite abrandamento e, até mesmo, exclusão da própria responsabili-dade civil do Estado nas hipóte-ses excepcionais configuradoras de situações liberatórias – como o caso fortuito e a força maior – ou evidenciadoras de ocorrência de culpa atribuível à própria víti-ma (RDA 137/233 – RTJ 55/50 – RTJ 163/1107-1109, v.g.).

AULA 03

5. DESTINATÁRIOS DA

INDENIZAÇÂO

O STF se posiciona no sentido de que a responsabilidade da Adminis-tração é objetiva somente em

rela-ção aos usuários dos serviços, não se estendendo aos não usuários.

Quanto às prestadoras de ser-viços públicos de direito privado, a responsabilidade também se esten-de aos usuários e também aos não-usuários conforme a jurisprudência do STF:

A responsabilidade civil das pes-soas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público é objetiva relativamente a terceiros usuários, e não usuários do serviço, segundo decorre do art. 37, § 6º, da CF. A inequívoca presença do nexo de causalidade entre o ato administrativo e o dano causado ao terceiro não usuário do serviço público é condição suficiente para estabelecer a responsabilidade ob-jetiva da pessoa jurídica de direito privado. (RE 591.874, Rel. Min. Ri-cardo Lewandowski, julgamento em 26/08/2009, Plenário, DJE de 18/12/2009, com repercussão ge-ral.) No mesmo sentido: AI 831.327-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julga-mento em 22/02/2011, Primeira Turma, DJE de 24/03/2011.

Corroborando essa posição te-mos o art. 25 da Lei n. 8.987/95, o qual transcrevemos abaixo:

Art. 25. Incumbe à concessioná-ria a execução do serviço conce-dido, cabendo-lhe responder por todos os prejuízos causados ao poder concedente, aos usuários ou a terceiros, sem que a fiscali-zação exercida pelo órgão com-petente exclua ou atenue essa responsabilidade.

A responsabilidade objetiva do Estado repousa em dois fundamen-tos jurídicos:

Primeiro: o risco administrativo decorre de uma atividade lícita e re-gular da Administração, daí ser obje-tiva a responsabilidade a respeito de eventual culpa do agente causador do dano.

Segundo: a responsabilidade ob-jetiva repousa no princípio da igual-dade de todos os cidadãos perante

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os encargos públicos, assim a obri-gação imposta ao Estado de inde-nizar o particular em caso de dano a ele causado resultaria do fato que não seria justo que alguém supor-tasse sozinho o ônus decorrente de uma atividade exercida em benefí-cio de toda a sociedade.

Portanto, de acordo com o texto do art. 37, § 6º da CF temos que não existe distinção entre usuário e não usuário, exigindo somente que o dano tenha sido causado por pessoa jurídica de direito privado, prestado-ra de serviço público, ou pela Admi-nistração Pública.

Portanto, não há amparo legal para distinguir usuários e não usu-ários dos serviços prestados pelas concessionárias, que são pessoas jurídicas de direito privado, para fins de aplicação da responsabilidade objetiva sobre os danos que causa-rem a terceiros.

6. RESPONSABILIDADE

DECORRENTE DE ATOS

OMISSOS

Há responsabilidade subjetiva nas hipóteses em que os danos se-jam decorrentes de conduta omis-siva do Estado. Assim, ilicitude no comportamento omissivo é verifi-cada nas situações em que o Estado deveria ter agido por imposição.

Atos omissos são comporta-mentos ilícitos, que necessitam da comprovação da culpa em sentido amplo, não sendo preciso individu-alizar, em dolo, a negligência, a im-prudência e a imperícia.

Tratando-se de ato omissivo do poder público, a responsabilida-de civil por tal ato é subjetiva, pelo que exige dolo ou culpa, esta numa de suas três vertentes, a negligência, a imperícia ou a imprudência, não sendo, entre-tanto, necessário individualizá-la, dado que pode ser atribuída ao serviço público, de forma genérica, a falta do serviço. A falta do serviço – faute du

servi-ce dos franservi-ceses – não dispensa

o requisito da causalidade, vale dizer, do nexo de causalidade entre a ação omissiva atribuída ao poder público e o dano cau-sado a terceiro, (RE 369.820, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 04/11/2003, Segunda Turma, DJ de 27/02/2004.) No mesmo sentido: RE 602.223-AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 09/02/2010, Segunda Turma, DJE de 12/03/2010; RE 409.203, Rel. p/ o ac. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 07/03/2006, Se-gunda Turma, DJ de 20/04/2007; RE 395.942-AgR, Rel. Min. El-len Gracie, julgamento em 16/12/2008, Segunda Turma, DJE de 27/02/2009.

Além disso, a CF não diz nada a respeito da lesão ter que ser oriun-da de comportamento comissivo e omissivo, ou da necessidade de ser ato ilícito. Isto porque todo o com-portamento do agente deve ser líci-to, tendo importância somente se a vítima propor ação criminal.

Portanto, para ação de indeniza-ção, de acordo com a teoria objetiva não importa se o comportamento do agente foi lícito ou não, se ele agiu com ou sem culpa. Há somente a necessidade de comprovação do nexo causal entre o descumprimen-to ou mau cumprimendescumprimen-to de dever legal e o dano causado, restando ao Estado somente comprovar a ausên-cia de culpa ou dolo.

AULA 04

7. RESPONSABILIDADE

POR ATOS JUDICIAIS

Nossa jurisprudência pátria não admite a responsabilidade civil do Estado em face dos atos jurisdicio-nais praticados pelos magistrados. Segundo o STF o Estado não respon-de pelos prejuízos respon-decorrentes respon-de atos judiciais. Esse posicionamento fundamenta-se em quatro pilares:

1ª) O magistrado deve ter ampla li-berdade para decidir, sem medo de que suas decisões possam acarretar responsabilidade ao Estado, o que caracteriza a in-dependência irrestrita do Poder Judiciário.

2ª) O Poder Judiciário representa uma das funções do Estado e, assim, suas decisões não violam sua soberania.

3ª) Segundo o art. 37. § 6º, da CF, ao responsabilizar o agente público refere-se somente aos agentes administrativos (servidores pú-blicos), não alcançando os agen-tes políticos (membros do Poder Legislativo e magistrados). 4ª) A coisa julgada não pode ser

inva-lidada e uma eventual indeniza-ção decorrente da responsabilida-de do Estado viola o princípio da imutabilidade da coisa julgada. Nenhuma dessas vertentes pre-valece, pois o art. 37, § 6º da CF ins-titui a responsabilidade objetiva do Estado adotando a teoria do risco administrativo de maneira genérica e ampla, sem estabelecer qualquer limitação ou restrição.

Portanto, a regra é a inexistência de responsabilidade civil decorrente de atos jurisdicionais. Mas há uma exceção quanto a essa regra no to-cante ao erro judiciário, pois aqui temos a responsabilidade objetiva, que como sabemos independe de dolo ou culpa do magistrado.

Reforçando nosso entendimen-to temos que o art. 5º da CF trata tão somente do erro judiciário no tocan-te a esfera penal não se referindo portanto a esfera administrativa.

Assim, no caso de haver revisão criminal julgada procedente em caso de erro judiciário cometido na esfera penal, poderá o estado ser condena-do na esfera cível independentemen-te de dolo ou culpa a indenizar a ví-tima que sofreu o dano, aplicando-se a responsabilidade objetiva presente no art. 37, § 6º da CF/88.

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Destacamos também a posição do STF:

Ementa: CONSTITUCIONAL. AD-MINISTRATIVO. CIVIL. RESPON-SABILIDADE CIVIL DO ESTADO: ATOS DOS JUÍZES. C.F. , ART. 37 , § 6º. I. A responsabilidade objetiva do Estado não se aplica aos atos dos juízes, a não ser nos casos ex-pressamente declarados em lei. Precedentes do Supremo Tribu-nal Federal. II. Decreto judicial de prisão preventiva não se confun-de com o erro judiciário confor-me a C.F. , art. 5º , LXXV, confor-mesmo que o réu, ao final da ação penal, venha a ser absolvido. III. Negati-va de trânsito ao RE”

Continuando com o entendi-mento do STF, temos:

CIVIL – REPARAÇÃO DE DANOS – INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – ESTADO – PRISÃO PRE-VENTIVA – POSTERIOR DECISÃO ABSOLUTÓRIA – PRISÃO EFETUA-DA DENTRO DOS LIMITES LEGAIS – ERRO JUDICIÁRIO NÃO CARAC-TERIZADO.

O decreto judicial de prisão pre-ventiva, quando suficientemente fundamentado e obediente aos pressupostos que o autorizam, não se confunde com o erro judi-ciário a que alude o inc. LXXV do art, 5º da Constituição da Repú-blica, mesmo que o réu ao final do processo venha a ser absolvi-do ou tenha sua sentença conde-natória reformada na instância superior.

Interpretação diferente implica-ria a total quebra do princípio do livre convencimento do juiz e afetaria irremediavelmente sua segurança para avaliar e valorar as provas, bem assim para adotar a interpretação da lei que enten-desse mais adequada ao caso concreto. (Fl. 128)

Finalizando, temos que destacar o art. 133 do Código de Processo Ci-vil, que traz a responsabilidade do juiz no caso de haver dolo, inclusive fraude, bem como quando recusar,

omitir ou retardar, sem justo moti-vo, providência que deva tomar de ofício ou a requerimento da parte. Temos, portanto, a responsabilidade pessoal do juiz, que tem o dever de reparar os danos que causou.

Lembramos mais uma vez que nesse caso só serão atingidas as con-dutas dolosas praticadas pelo juiz, excetuando-se os erros decorrentes de culpa (imprudência, negligência e imperícia), ainda que essas condu-tas causem danos a terceiros.

AULA 05

8. RESPONSABILIDADE

CIVIL DOS ATOS

LEGISLATIVOS

Os atos legislativos, em regra, não acarretam a responsabilidade extracontratual para o Estado.

Isto porque o Poder Legislativo, na sua função normativa, atua com soberania, estando sujeito apenas às limitações impostas pela Cons-tituição. Portanto, desde que a lei esteja em estrita conformidade com os mandamentos constitucionais, o Estado não poderá ser responsabili-zado por sua função legislativa.

Porém, a doutrina e a jurispru-dência reconhecem a possibilida-de possibilida-de atos legislativos ensejarem a responsabilidade civil do estado em duas situações:

(a) edição de leis inconstitucionais; (b) edição de leis de efeitos

concre-tos.

Em relação à edição de leis in-constitucionais, atenta-se para o fato de que o Poder Legislativo deve editar leis em conformidade com a Constituição. Caso isso não ocorra, pode surgir a responsabilidade do Estado e o consequente pagamento de uma indenização a vítima.

Mas a edição de uma lei incons-titucional poderá, portanto, ensejar o pagamento de uma indenização caso ela efetivamente tenha causa-do dano ao particular. A responsa-bilização do Estado, nessa hipótese, depende da declaração da inconsti-tucionalidade da lei pelo Supremo Tribunal Federal.

Portanto, não há a obrigação de indenizar automaticamente. Haven-do a declaração da inconstitucionali-dade da lei, a pessoa que tenha sofri-do danos oriunsofri-dos da sua incidência deverá ajuizar uma ação específica, pleiteando a indenização pelo dano decorrente da aplicação dessa lei, que foi declarada inconstitucional comprovando que sofreu os danos.

A segunda possibilidade de res-ponsabilidade do Estado por atos legislativos ocorre nas chamadas leis de efeitos concretos. Essas leis não possuem força normativa e não são dotadas de generalidade, impessoa-lidade e abstração. São leis em sen-tido formal, pois são emanadas do Poder Legislativo. Possuem destina-tários certos, e determinados.

Em sentido material são análo-gas aos atos administrativos indivi-duais, com destinatários determina-dos e efeitos concretos.

AULA 06

9. AÇÃO REGRESSIVA

O § 6º do art. 37 da Constituição autoriza a ação regressiva da Admi-nistração Pública contra o agente causador do dano, desde que seja comprovado dolo ou culpa na sua atuação. o “direito de regresso”, pre-visto no referido artigo, não explici-ta que esse direito seja obrigatoria-mente exercido através de uma ação regressiva, impetrada posteriormen-te à ação movida contra a Admi-nistração, pela pessoa que sofreu o

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dano (ação de indenização).

Sobre o assunto destacamos aqui dois aspectos:

(1) a entidade pública deverá com-provar já ter sido condenada a indenizar, pois seu direito de re-gresso nasce com o trânsito em julgado da decisão judicial con-denatória, prolatada na ação de indenização;

Obs.: A Lei n. 4.619, de 28 de abril

de 1965, que foi recepcionada pela atual Constituição, explicita que o direito de ajuizar a ação regressiva nasce com o trânsito em julgado da decisão que condenar a pessoa jurídica administrativa a indenizar. Segundo essa lei, o ajuizamento da ação regressiva é obrigatório, e deve ocorrrer no prazo de sessenta dias a contar da data em que ocorre o trân-sito em julgado da condenação im-posta à Administração Pública. (2) não podemos confundir

Res-ponsabilidade da Administração perante o particular com a res-ponsabilidade do agente para com a Administração. Aquela é do tipo objetiva que independe de culpa ou dolo do réu; esta, do agente perante a Administração e só ocorre no caso de dolo ou culpa daquele do agente. Assim, para a Administração valer-se da ação regressiva, é necessário: (1) que já tenha sido condenada em

caráter definitivo a indenizar a vítima pelo dano; e

(2) existência de culpa ou dolo do agente causador do dano. Portanto:

(a) a obrigação de ressarcir a Ad-ministração Pública em ação regressiva transmite-se aos su-cessores do agente que tenha atuado com dolo ou culpa, que podem responder pelo valor que a Administração (ou dele-gatária) foi condenada a pagar na ação de indenização (sempre respeitado o limite do valor do

patrimônio transferido – art. 5.º, XLV, da CF);

b) a ação regressiva pode ser ajui-zada mesmo depois de ter sido alterado ou extinto o vínculo entre o servidor e a Administra-ção Pública, mesmo que o ser-vidor tenha pedido exoneração, esteja aposentado, em disponi-bilidade etc.;

c) as ações de ressarcimento ao erá-rio movidas pelo Estado contra agentes, servidores ou não, que tenham praticado ilícitos dos quais decorram prejuízos aos co-fres públicos são imprescritíveis.

Obs.: Imprescritível é a ação de

res-sarcimento, não o ilícito em si (art. 37, § 5º da CF);

d) É inaplicável a denunciação da lide pela Administração aos seus agentes.

Obs.: Há controvérsia à quanto a

denunciação da lide, por isso vamos explicitá-lo melhor: O instituto da denunciação da lide está regulado no art. 70, III, do Código de Proces-so Civil, segundo o qual: “A denun-ciação da lide é obrigatória àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda.”

Dessa forma, se fosse possível aplicar a denunciação da lide pela Administração, na mesma ação de indenização movida pela pessoa que sofreu o dano a Administração como ré, a Administração denuncia-ria a lide a seu agente, público cuja atuação ocasionou o dano, de sor-te que, já nessa primeira ação, seria discutida a existência de dolo ou culpa na atuação do agente atrasan-do a solução final atrasan-do litígio e como consequência, o terceiro seria pre-judicado, pois o ingresso do agente no litígio irá retardar a reparação do dano à vítima, que, por sua vez, não depende da comprovação de dolo ou culpa do agente para ter direito à indenização.

Na esfera federal, essa controvér-sia sobre cabimento ou não da de-nunciação da lide pela Administra-ção Pública Federal aos seus agentes foi resolvida pela Lei n. 8.112/90 (Es-tatuto dos Servidores Públicos Civis da União) no seu art. 122. § 2.º, que assim dispõe: “Tratando-se de dano causado a terceiros, responderá o servidor perante a Fazenda Pública, em ação regressiva”.

Portanto, não se aplica o instituto da denunciação da lide, pois o Estado responde de forma objetiva, indeni-zando o particular que sofreu dano em virtude da conduta do agente, independentemente de dolo ou cul-pa do agente.

Obs.: O STF entende que o agente

só pode responder exclusivamente perante o Estado, em ação regressiva.

.

AULA 07

10. DANOS DE OBRA

PÚBLICA

A responsabilidade civil por da-nos decorrentes de obras públicas exige a análise de dois aspectos: a) se o dando foi causado só pelo

fato da obra, ou se foi decorren-te da má execução da obra; e b) se a obra é executada por um

particular que contratou com o poder público um contrato admi-nistrativo e que o dano foi causa-do exclusivamente por culpa sua. No primeiro caso o dano decor-reu de um fato natural, imprevisível não havendo por esse motivo cul-pa de uma pessoa. Nessa situação a responsabilidade é objetiva na modalidade risco administrativo, in-dependentemente de quem esteja executando a obra (se a Administra-ção ou o particular contratado).

(7)

Na segunda hipótese haverá responsabilidade subjetiva, sendo a ação movida somente contra o exe-cutor da obra, não havendo respon-sabilidade alguma para o Estado.

A Lei de Licitações (Lei n. 8.666/93) trata dessa hipótese em seu artigo 70:

Art. 70. O contratado é responsá-vel pelos danos causados direta-mente à Administração ou a ter-ceiros, decorrentes de sua culpa ou dolo na execução do contra-to, não excluindo ou reduzindo essa responsabilidade a fiscaliza-ção ou o acompanhamento pelo órgão interessado.

Mas o Estado poderá ser respon-sabilizado de forma subsidiária se o executor não ressarcir o prejudicado pelos danos que causou.

Pode também ocorrer a hipótese de tanto o Estado como o executor da obra contribuírem de forma con-junta e decisiva para a ocorrência do dano. Nesse caso, a responsabilida-de responsabilida-de ambos será solidária, sendo que cada um irá responder de forma proporcional, na medida de sua cul-pa, pelo dano causado.

AULA 08

11. RESPONSABILIDADES

ADMINISTRATIVA, CIVIL

E PENAL

A conduta do agente que atua no exercício de suas funções de forma irregular pode resultar em responsa-bilização nas esferas administrativa, civil e penal. Havendo responsabili-dade administrativa, o agente pode-rá sofrer as penalidades disciplinares previstas no seu estatuto (advertên-cia, suspensão ou demissão e ainda ter sua conduta tipificada na lei de Improbidade Administrativa – Lei n.º 8.429/92). A responsabilidade civil

estará caracterizada se for compro-vada a presença de dolo ou culpa nos danos patrimoniais causados a terceiros. Por fim, a responsabilida-de penal estará presente nos crimes que exigem a presença de um fun-cionário público como autor, são os chamados crimes próprios.

Vejamos um exemplo prático retirado dos livros dos Professores Marcelo Alexandrino e Vicente Pau-lo, para ficar mais claro: o agente público, dirigindo imprudentemen-te, pode colidir o seu veículo com outro particular e dessa colisão re-sultar a morte de uma pessoa. Nes-se caso, poderá (deverá) o agente responder perante a Administração Pública, pela infração cometida, donde poderá advir-lhe uma das penalidades disciplinares previstas nas leis administrativas, tais como advertência, suspensão ou demissão (responsabilidade administrativa). Responderá civilmente, perante a Administração, em ação de regresso, se comprovada a culpa ou dolo, pe-los danos patrimoniais resultantes do acidente. Responderá, ainda, no âmbito criminal, pelo ilícito penal praticado, homicídio culposo ou do-loso (obra. citada, p 624).

De acordo com o art. 125 da Lei n. 8.112/90 (Estatuto do Servidor Pú-blico Civil da União), as responsabi-lidades administrativa, civil e penal são cumulativas e independentes entre si. Desse modo:

(1) o agente pode ser responsabili-zado somente na esfera adminis-trativa (o agente violou apenas as determinações administrativas não causando qualquer espécie de dano ao particular);

(2) pode ocorrer a responsabiliza-ção nas esferas administrativa e civil sem haver condenação penal (o agente cometeu uma infração disciplinar, causou um dano patrimonial ao particular, mas a conduta não foi tipificada como crime).

Havendo condenação penal para

o servidor, poderemos ter:

(1) condenação na esfera criminal; (2) absolvição pela negativa de

au-toria ou do fato;

(3) absolvição por ausência da cul-pabilidade penal;

(4) absolvição por insuficiência de provas ou por outros motivos. A condenação criminal do servi-dor, uma vez transitada em julgado, acarreta também a responsabilidade do servidor nas esferas administrati-va e civil. Isso ocorre porque, o ilícito penal prevalece sobre os ilícitos civil e administrativo. Existindo dúvida quanto a responsabilidade penal do agente, este será absolvido.

Mas se, antes do trânsito em jul-gado da condenação penal, o agen-te for absolvido porque há dúvidas em relação a ser ele o autor, o pro-cesso irá prosseguir nas esferas ad-ministrativa e civil.

Contudo, se a absolvição for pela negativa de autoria ou inexistência do fato, o agente também estará ab-solvido nas demais esferas.

Ex. Se o servidor foi punido com a pena de demissão, e posteriormen-te foi declarado comprovadamenposteriormen-te inocente, deverá ser reintegrado, pois estará sendo afirmado que não foi ele o autor do fato que acarretou sua demissão administrativa ou que este fato nem existiu. O mesmo vale para a condenação civil.

Portanto, a regra para a respon-sabilização penal é a existência de dolo somente havendo crimes cul-posos quando expressamente assim previstos,

A condenação criminal

do servidor acarreta também

a responsabilidade do

servidor nas esferas

administrativa e civil.

(8)

REFERÊNCIAS

ALEXANDRINO, Marcello; Paulo, Vicente. Direito administrativo descomplicado. 16. ed. São Paulo: Método, 2008 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 17. ed. Lumen Juris, 2007.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 31. ed. São Paulo: Malheiros, 2005.

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