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SABERES E RELAÇÕES DE PODER DO SUJEITO DOCENTE NO PAPEL DE GESTOR

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ISSN 2176-1396

SABERES E RELAÇÕES DE PODER DO

SUJEITO DOCENTE NO PAPEL DE GESTOR

Alfredo Luiz da Costa Tillmann1 - MPET Glaucius Décio Duarte2 - MPET Eixo – Políticas Públicas e Gestão da Educação Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

O presente trabalho é parte de uma pesquisa de mestrado em educação, em fase de desenvolvimento. Tem como objetivo investigar acerca dos saberes e das relações de poder do sujeito-docente que vivencia a função de diretor de unidades acadêmicas. Para esta investigação, serão sujeitos da pesquisa um grupo de, pelo menos, seis sujeitos que tenham exercido a função de diretor de uma unidade acadêmica na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), localizada na cidade de Pelotas, estado do Rio Grande do Sul. A estrutura atual da instituição a ser pesquisada apresenta um variado conjunto de unidades acadêmicas, distribuídas em faculdades, centros, institutos e escolas. Inicialmente, procurou-se compreender acerca das principais dimensões que caracterizam o sujeito como docente-gestor, incluindo-se quais seriam os aspectos legais e regimentares que se relacionam às atividades desses profissionais. Para tanto, recorreu-se à legislação nacional, estatutos, regimentos, assim com outros documentos da referida instituição. Serão utilizadas abordagens aos conceitos de saberes docente e de relações de poder, como base teórica para o desenvolvimento desta pesquisa, assim como para a compreensão e análise dos dados a serem obtidos. Quanto à metodologia, a pesquisa segue uma característica qualitativa, pois se pretende identificar as relações do sujeito-gestor e suas aproximações como diretor em seu ambiente de atuação. Para tanto, será utilizado, principalmente, o método de entrevistas semiestruturadas como forma de coleta de dados. Até o presente momento, foi possível perceber o conjunto de responsabilidades atribuídas aos diretores de unidades acadêmicas, e o quanto se faz necessário, ao longo da sua gestão, o envolvimento direto e indireto com questões de ordem política, ética, gerencial, pedagógica, acadêmica, pessoal e institucional. Tal envolvimento, levam esse sujeito a ocupar diferentes posições de poder, caracterizando assim, um determinado modo de gestão.

Palavras-chave: Sujeito-docente, Gestor, Saberes, Relações de poder.

1 Mestrando em Educação e Tecnologia pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul, Campus Pelotas). Servidor Técnico Administrativo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). E-mail: atillmann@gmail.com.

2 Doutor em Informática na Educação. Professor Titular do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul). Líder do Grupo de Pesquisas em Modelagem do Conhecimento (GPMOC) do Mestrado Profissional em Educação e Tecnologia (MPET). E-mail: glaucius@pelotas.ifsul.edu.br (orientador do trabalho)

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Introdução

As Instituições Federais de Educação Superior (IFES) atuam em um cenário de mudanças significativas. Isso exige das funções gerenciais uma constante adequação ao modo de gerenciar recursos e, ao mesmo tempo, além da necessidade em atender as demandas internas da instituição. Nesse contexto, ocorre também, um expressivo aumento no conjunto de atividades desenvolvidas pelos docentes nestas instituições, o que, para Enders e Musselin (2008), tem propiciado uma transformação das universidades, em organizações com estruturas hierárquicas e, com isso, os professores têm sido encorajados a se tornarem gestores. As mudanças apontadas por Enders e Musselin (2008), também evidenciam a ampliação nos papéis de trabalho do professor de ensino superior que, tradicionalmente, incluíam ensino, pesquisa e extensão, passando a se concentrarem também, na gestão universitária. É o caso do docente que assume o papel de diretor, frente a uma unidade acadêmica de uma instituição de ensino superior.

Este trabalho segue as características da pesquisa qualitativa. Pretende, através de entrevistas semiestruturadas, identificar os saberes dos sujeitos docentes que estão relacionados diretamente com as funções de diretor, assim como, as prováveis posições e relações de poder, assumidas no ambiente gerencial. Como fundamentação teórica, o trabalho terá como base os conceitos de Maurice Tardif acerca de saberes docentes, e de Michel Foucault sobre as relações de poder.

Por sua vez, o presente estudo tem como objetivo geral investigar acerca dos saberes e das relações de poder do sujeito-docente, que exerce a função de diretor de centros, escolas, faculdades e institutos no âmbito de uma Instituição Federal de Educação Superior. Da mesma forma, tem-se como objetivos específicos: a) identificar as percepções do gestor e suas relações com o contexto ao qual está inserido; b) apontar como se desenvolve a produção de saberes do sujeito-docente, relacionada à função de gestor; c) ressaltar as interações entre relações de poder e produção de saberes no ambiente institucional; d) elucidar as posições de poder nas relações entre os sujeitos.

Aporte teórico

Os sujeitos se constituem ao longo de suas vidas. Não há como se desenvolverem de forma isolada e sozinhos. Por esta razão, possuem diferentes histórias de vida e percorrem caminhos distintos no processo de aprendizagem. Para o desenvolvimento deste estudo,

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parece-nos importante uma aproximação entre os conceitos de saberes e as relações de poder do sujeito-gestor. Não como uma mera categorização, ou análise comparativa, mas por entender existir uma dependência e um vínculo direto entre esses conceitos, na constituição do sujeito e, portanto, na história de suas vidas. O aporte teórico, aqui apresentado, proporciona ao trabalho, entendimento e subsídios, necessários a investigação, e para que se possa atingir os objetivos aqui propostos.

Com relação aos conhecimentos e saberes, incorporados pelo docente, Charlot (2005) afirma que, “tanto nos processos de formação e de vida, como nos de trabalho, o saber não é inato, mas construído de maneira individual e coletiva no dia a dia, nas relações interativas”. O que para o sujeito aqui investigado, que exerce a função de gestor, significa não haver uma formação específica para tal atividade, ele se vale, principalmente, dos seus saberes, adquiridos fundamentalmente ao longo da carreira de docente. Para Tardif (2002, p.54), tais saberes docentes, “reúnem as dimensões teórica e prática da docência”, o que se caracterizam como um saber plural, “composto por um conjunto de saberes científicos, provenientes das instituições de formação, saberes da formação profissional, dos currículos, das práticas cotidianas dos saberes disciplinares e dos saberes experienciais”. No entanto, a prática pela prática por si só não basta, visto que não se desenvolve um processo de compreensão, e portanto, não se transmite e não se replica (MORAES, 2003). Para que possa constituir-se de forma consciente, a prática deverá ocorrer simultaneamente com o conhecimento teórico. Então, podemos considerar que há uma relação direta do sujeito com seus saberes práticos e teóricos, com seu trabalho e sua experiência de vida. Este é um dos objetivos fundamentais deste estudo.

Para desenvolvermos uma análise sobre a experiência do sujeito-docente como gestor, é necessário investigar, não só sobre seus saberes. É preciso ir além, pois esta vivência se dá em um contexto repleto de interações sociais com outros sujeitos. Esse indivíduo se lança ao desafio de ser gestor, levando consigo, muitas vezes, apenas a experiência como docente, valendo-se de seus saberes e da vontade de ser gestor.

Desta forma, será abordado, também, a temática do poder em Michael Foucault, a partir das relações de poder na constituição do sujeito.

O estudo do poder nas obras do Foucault deve ser compreendido sob a ótica da necessidade de uma aplicação dos conhecimentos de seus procedimentos e estratégias, a fim de clarificar os processos de objetivação e subjetivação do ser humano em nossa cultura. Ele estaria inserido, portanto, na perspectiva da temática geral do sujeito. (FONSECA, 2011, p. 32)

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Para Foucault, o poder não existe no indivíduo. O que existe são relações de poder, ele considera que as relações entre os indivíduos são relações de poder, desde que ambas as partes tenham plena consciência da dinâmica do poder. Ou seja, “o poder não se aplica aos indivíduos, passa por eles” (FOUCAULT, 1989, p.30). Portanto, a posição de poder que o sujeito-gestor passa a ocupar, é aceita com o consentimento de uma outra parte, e concentra em si, uma relação entre indivíduos ou uma relação de poder. O que para Marinho (2008), pressupõe-se que as partes têm noção de duas coisas:

[…] primeiro que a liberdade de cada um é um elemento intocável pelo outro, segundo que o poder não deve ser utilizado para a manipulação, mas para o crescimento das pessoas. (MARINHO, 2008).

Sendo assim, Foucault (2004) se refere às relações de poder como a experiência que os indivíduos fazem do exercício de sua liberdade. Chega a dizer que, quando não existe tal consciência não existe relação de poder.

Compreende-se, a partir do pensamento foucaultiano, que a dinâmica do poder está permanentemente em movimento e em construção. Isso representa, no contexto dessa análise, um grande desafio ao “sujeito-gestor”, estando ele na função de articulador e coordenador de forças no interior da instituição. Relações de poder são relações móveis. Exigem do gestor, uma forte consciência de comprometimento com o social.

A abordagem das relações de poder agrega, a este trabalho, uma força necessária, devido à importância de identificarmos como ocorrem estas relações, quais os movimentos transformadores deste sujeito, como se desdobram as atribuições e como ocorrem os encontros consigo mesmo e com os outros. A figura 1, a seguir, representa através de um mapa conceitual, o gestor e algumas ocorrências, no seu universo gerencial.

Figura 1 – O Gestor e algumas ocorrências

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Portanto, quando o sujeito se constitui em suas vivências, forma-se, também, um conjunto próprio de saberes que serão constantemente postos em prática e ao longo de suas experiências. Tais práticas, o remetem ao desenvolvimento de outras habilidades e o desvelamento de relações. A todo o momento, estas relações com os indivíduos e com os grupos, vão dando sentido ao surgimento de novos saberes. É destas relações que são constituídos os vínculos com o outro, seja individual ou em grupos. A figura 2 representa a aproximação de alguns conceitos, que colaboram na constituição do sujeito, num contexto de vida.

Figura 2 – Conceitos relacionados a constituição do sujeito

Fonte: os autores.

Metodologia

O presente trabalho caracteriza-se por fazer parte de uma pesquisa qualitativa, de natureza exploratória, tendo como estratégia para coleta de material empírico, a aplicação de entrevistas individuais, episódicas e semiestruturadas. Com o objetivo de obter do sujeito a ser entrevistado, um relato de sua vivência, mais precisamente, uma reflexão em torno da sua experiência como gestor.

Nas ciências sociais empíricas, a entrevista qualitativa é uma metodologia de coleta de dados, amplamente empregada. De acordo com Farr (1982 apud GASKELL, 2012, p.64) ela é “essencialmente uma técnica, ou método, para estabelecer ou descobrir que existem perspectivas, ou pontos de vista sobre fatos, além daqueles da pessoa que inicia a entrevista e portanto metodologia amplamente empregada.

Para Gaskell (2012), a fase de preparação e o planejamento das questões que irão estruturar a entrevista, dependem de duas questões preliminares: “o que perguntar” (a especificação de um tópico guia) e “a quem perguntar” (como selecionar os entrevistados). E

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destaca a importância de que o tema e os principais conceitos da pesquisa estejam claros e definidos para o pesquisador, uma vez que estes irão orientar a investigação, resultado da análise e aprofundamento do referencial teórico ou conceitual.

“[…] a finalidade real da pesquisa qualitativa não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário, explorar o espectro de opiniões, as diferentes representações sobre o assunto em questão”. (GASKELL, 2012, p. 68).

Nesta fase do trabalho, será investigado um grupo de, pelo menos, seis diretores de diferentes unidades acadêmicas da instituição mencionada, que tenham exercido tal função, ou que estejam exercendo no prazo mínimo de dois anos. Este tempo de exercício na função, poderá proporcionar um relato de fatos e vivências significativos à constituição desse sujeito e à aquisição de seus saberes. Pretende-se realizar uma etapa de “pré-testes”, denominado assim por Gil (2008, p.34), como forma de avaliar as questões a serem aplicadas na entrevista e, desta forma, verificar se as mesmas, estão condizentes com os objetivos da pesquisa.

A etapa posterior refere-se à análise dos dados coletados nas entrevistas. Pretende-se utilizar a técnica de análise de conteúdo, pois esta é parte de uma leitura “profunda”, determinada pelas condições oferecidas pelo sistema linguístico e objetiva a descoberta das relações existentes entre o conteúdo do discurso e os aspectos exteriores.

Considerando que muitos autores abordam a análise de conteúdo, e até se utilizam de diferentes conceitos e terminologias para descrever etapas distintas, neste trabalho, utilizaremos a conceituação de Bardin (2002), que refere-se a análise de conteúdo como:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que visam obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.

Sendo assim, podemos considerar que, segundo Bardin (2002), a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas, que objetiva ultrapassar as incertezas e enriquecer a leitura dos dados coletados.

Considerações finais

Como mencionado anteriormente, este trabalho encontra-se em fase de desenvolvimento, não possuindo ainda dados conclusivos. Porém, até o presente momento, desenvolveu-se um levantamento bibliográfico que definiu o aporte teórico central da pesquisa em relação aos saberes do sujeito-docente e a uma abordagem analítica das relações de poder.

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Dessa forma, os estudos realizados até esse momento nos permite compreender que o sujeito se constitui enquanto docente por diferentes saberes, que são desenvolvidos tanto no contexto de vida e de sua formação, como no trabalho junto a instituição que está vinculado. Assim, é esse conjunto de saberes a principal fonte de estimulo para que esse sujeito se lance ao desafio de ser gestor.

Do mesmo modo, os estudos relacionados aos conceitos de poder possibilitam o entendimento de que o sujeito gestor se constitui a partir das posições de poder assumidas por ele no papel de diretor. Isso se dará por diferentes relações de poder, definidas pela experiência que cada indivíduo faz no exercício de sua liberdade.

Espera-se, a partir da etapa de entrevista, obter-se subsídios suficientes para identificar e elucidar como esse sujeito se relaciona no contexto das atividades de gestor, no ambiente institucional, na produção de saberes e na dinâmica das relações de poder.

REFERÊNCIAS

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2002.

CHARLOT, B. Relação com o saber, formação dos professores e globalização: questões para a educação hoje. Porto Alegre: Artmed, 2005.

ENDERS, J.; MUSSELIN, C. Back to the future? The academic professions in the 21st century. Higher Education to 2030, v.1, OECD Publishing, 2008.

FONSECA, M. A. Michel Foucault e a constituição do sujeito. 3. ed. São Paulo: EDUC, 2011.

FOUCAULT, M. Microfísica do poder. 8. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1989. p.179-191. FOUCAULT, M. A ética do cuidado de si como prática da liberdade. In: MOTTA, M. B. da. (Org.). Michel Foucault: ética, sexualidade, política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

GASKELL, G. Entrevistas individuais e grupais. In: GASKELL, G.; BAUER, M. W. (Org.).

Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. 10.ed. Petrópolis:

Vozes, 2012. p.64-89.

MARINHO, E. R. As relações de poder segundo Michel Foucault. e-Revista Facitec, v.2, n.2, Art.2, dez. 2008. Disponível em: <http://docslide.com.br/documents/ relacoes-de-poder-segundo-michael-de-foulcalt.html>. Acesso em: 2 jun. 2017.

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MORAES, M. C. M. de (Org.). Iluminismo às avessas: produção de conhecimento e políticas de formação docente. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

Referências

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