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Efetividade da reabilitação vestibular na capacidade funcional de idosos com vestibulopatia

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Efetividade

da

reabilitação

vestibular na capacidade funcional

de idosos com vestibulopatia

Effectiveness of vestibular rehabilitation

on functional capacity in elderly with

vestibular disease

Resumo

Objetivo: Analisar os efeitos da reabilitação vestibular na capacidade funcional de idosos com disfunção vestibular crônica. Material e Método: Estudo prospectivo com amostra composta por 19 idosos com diagnóstico de vestibulopatia crônica, idade entre 60 a 84 anos. Os desfechos analisados pré- e pós-reabilitação vestibular foram: sintomas, posições que desencadeiam a tontura, o Brazilian OARS

Multidimensional Functional Assessment Questionnaire (BOMFAQ)

e o Dizziness Handicap Inventory (DHI). A reabilitação vestibular foi composta por exercícios de adaptação vestibular, habituação, estimulação dos reflexos vestíbulo-ocular e de equilíbrio postural. Para à análise dos resultados foram utilizados os testes de McNemar e Wilcoxon (p=0,05). Resultados: A amostra foi composta por maioria do sexo feminino (89,5%), média etária e desvio-padrão (DP) de 70,68 (6,51) anos. Os sintomas mais prevalentes foram tontura (100,0%), instabilidade postural (89,5%), zumbido (68,4%) e náusea (52,6%). No BOMFAQ, 47,4% dos idosos referiram dificuldade para realizar quatro ou mais atividades de vida diária. A média e o DP do escore total do DHI pré-tratamento foi de 35,26 (19,02). Após o período de reabilitação, houve redução dos sintomas (p<0,005) e das posições que desencadeavam a tontura, melhora da capacidade funcional (BOMFAQ) (p=0,005) e redução do escore total do DHI (p<0,0001). Conclusão: A fisioterapia vestibular no idoso com vestibulopatia crônica foi efetiva para reduzir os sintomas, melhorar a capacidade funcional e a qualidade de vida.

Palavras-chave: Equilíbrio Postural. Idoso. Reabilitação. Tontura. Denise Alves dos Reis Maia1

Juliana Quirino Thomaz2 Cristiane Akemi Kasse3 Flávia Doná3

1 Fisioterapeuta. Mestranda do

Programa de Mestrado Profissional

em Reabilitação do Equilíbrio

Corporal e Inclusão Social da

Universidade Anhanguera de São Paulo.

2 Fisioterapeuta. Colaboradora do

Programa de Mestrado Profissional

em Reabilitação do Equilíbrio

Corporal e Inclusão Social da

Universidade Anhanguera de São Paulo.

3 Professor Doutor do Programa de

Mestrado Profissional em

Reabilitação do Equilíbrio Corporal e Inclusão Social da Universidade Anhanguera de São Paulo.

Autor para correspondência:

Flávia Doná

Endereço postal: Rua Maria Cândida, 1813 - 6º Andar São Paulo - SP

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Introdução

Na área da fisioterapia geriátrica podemos encontrar idosos com declínio físico-funcional em virtude da presença de sedentarismo, tontura, utilização de vários medicamentos, dor nas articulações e alterações nos sistemas sensoriais, envolvidos no controle postural, repercutindo diretamente na qualidade de vida.1-3

O envelhecimento interfere na interação entre os sistemas componentes do equilíbrio postural por meio do decréscimo da função do sistema vestibular, redução das fibras neuromusculares, degeneração articular, alteração biomecânica e baixa acuidade visual e auditiva. Estas alterações podem ocasionar aumento da oscilação corporal, dificuldade para manutenção do controle postural e oferecer maior risco de queda.2-3

O equilíbrio postural requer atuação de componentes sensoriais (visual, auditivo, somatossensorial e vestibular) e motores.3 O sistema vestibular

controla a posição da cabeça no espaço e informa para o sistema nervoso central (SNC) os movimentos lineares e angulares (flexo-extensão, inclinação e rotação) da cabeça, deflagrando dois importantes reflexos vestibulares para o restabelecimento visual e postural: o reflexo vestíbulo-ocular (RVO) e o reflexo vestíbulo espinhal (RVE).4,5

A prevalência de distúrbios vestibulares aumenta conforme o aumento da idade, e está relacionada, principalmente, às disfunções no sistema vestibular, degeneração dos receptores vestibulares (menor quantidade de aferências), perda de fibras de mielina e diminuição do número de células ciliadas.6

O principal sintoma das vestibulopatias é a tontura, definida como “manifestação subjetiva de perturbação do equilíbrio postural ou perda da noção espacial”. Está presente em 4 a 20% da população mundial e atinge 65% dos indivíduos com mais de 65 anos. Em aproximadamente, 85% dos casos é originada do sistema vestibular.7-9

A tontura é classificada como rotatória (vertigem) ou não rotatória, podendo ser acompanhada de instabilidade postural, desequilíbrio, oscilopsia e flutuação. Os principais sintomas associados são os sintomas neurovegetativos, cefaleia, o zumbido, a plenitude auricular, os distúrbios da memória, a dificuldade de concentração mental, as perturbações visuais, a sensação de oscilação, a instabilidade postural, os distúrbios da marcha e a fadiga física (sintomas frequentes na tontura crônica). A persistência dessas queixas podem gerar episódios de quedas recorrentes.6,7,10

A queda resulta na mudança rápida, não intencional de uma posição para um nível inferior ao inicial; quando associada ao desequilíbrio corporal e à instabilidade na marcha, faz com que o indivíduo restrinja a sua atividade física e social e, consequentemente, cause isolamento e prejuízo significativo na sua capacidade funcional.11

A avaliação da capacidade funcional compreende investigar as dificuldades e como o indivíduo realiza a atividade física da vida diária (atividades básicas de cuidados pessoais como, por exemplo, alimentar-se, banhar-se e vestir-se) e atividade instrumental da vida diária (mensuram-se as atividades complexas com dependência na sociedade), citamos como exemplo o fazer compras, atender telefone, utilizar meios de transporte.12 O comprometimento da

capacidade funcional no idoso na atividade física ou instrumental pode repercutir em limitações nas suas atividades diárias, ocupacionais e sociais, levando à depressão e ao isolamento social.12,13

M a ia e t a l.

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Na disfunção vestibular, o tratamento deve priorizar uma abordagem interdisciplinar e personalizada. Além da anamnese e do exame otorrinolaringológico, são utilizados procedimentos que possibilitam confirmar o comprometimento do sistema vestibular, auditivo, visual, somatossensorial e musculoesquelético.14

O sucesso do tratamento da vestibulopatia engloba múltipla abordagem terapêutica, com o emprego simultâneo do tratamento etiológico, da farmacoterapia, reabilitação vestibular, correção de hábitos nocivos (sedentarismo, tabagismo, etilismo) e de erros alimentares, afastamento de agentes deletérios ao sistema vestibular, cirurgias e/ou apoio psicológico.13

A reabilitação vestibular (RV) consiste em exercícios que auxiliam em três mecanismos adaptação, substituição sensorial e habituação, que atuam sobre a recuperação fisiológica do sistema vestibular através da neuroplasticidade do sistema nervoso central.15 O protocolo de RV de Cawthorne e Cooksey

(movimentos cefálicos, coordenação visuo-vestibular, movimentos corporais e equilíbrio postural) é o mais utilizado na reabilitação vestibular. Seguida por exercícios de adaptação da Herdman e exercícios de equilíbrio postural estático e dinâmico.16 A fisioterapia na reabilitação vestibular atua de forma

personalizada, diagnosticando e tratando os distúrbios cinesiológicos funcionais, combinando exercícios específicos para diminuir os sintomas otoneurológicos. Aplica também exercícios específicos para limitações na capacidade funcional.17

Exercícios bem supervisionados e personalizados proporcionam remissão dos sintomas em 85% dos pacientes com disfunção vestibular, enquanto que exercícios de RV genéricos, inespecíficos e não supervisionados obtêm-se resolução completa das queixas em 64% dos casos.18 Vários autores têm

revelado a efetividade da RV na disfunção vestibular crônica14,19-21, porém há

poucos estudos realizados com idosos. Acredita-se que a incapacidade funcional e o prejuízo na qualidade de vida do idoso com vestibulopatia crônica são possíveis de serem modificados por meio de um programa de reabilitação vestibular individualizado.

Objetivo

O objetivo do presente estudo foi analisar os efeitos da reabilitação vestibular personalizada na capacidade funcional de idosos com disfunção vestibular crônica.

Material e Método

Trata-se de um estudo prospectivo, descritivo e analítico de idosos na faixa etária de 60 a 84 anos, que apresentavam diagnóstico médico de disfunção vestibular crônica com queixa de tontura e/ou desequilíbrio corporal. Foram excluídos os pacientes incapazes de compreender, e atender a comando verbal simples, em uso de dispositivos auxiliares para deambulação, com comprometimento visual grave, com alterações musculoesqueléticas que resultam em limitações de movimento e utilizando próteses em membros inferiores, e que tenham realizado reabilitação do equilíbrio corporal ou uso de medicamentos antivertiginosos nos últimos seis meses.

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A pesquisa foi analisada e aprovada pelo Comitê Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Instituição (Protocolo 0522-10). Todos os pacientes que concordaram em participar do estudo, assinaram um Termode Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo com as normas regulamentadas pela Resolução n° 466/12 do Conselho Nacional de Saúde Brasileiro. Instrumentos

Os desfechos analisados pré- e pós-reabilitação foram: presença de sintomas otoneurológicos, posições que desencadeiam a tontura, Brazilian OARS

Multidimensional Functional Assessment Questionnaire (BOMFAQ) e Dizziness Handicap Inventory (DHI). Os pacientes foram interrogados sobre

a presença dos seguintes sintomas: tontura, zumbido, hipoacusia, oscilopsia, escurecimento da visão, ansiedade, náuseas, vômitos, sensação de desmaio iminente e distúrbio de memória. Foram questionados também sobre as posições ou movimentos corporais que desencadeavam a tontura.

O BOMFAQ avalia a dificuldade referida na realização de 15 atividades de vida diária (AVD), sendo oito atividades físicas de vida diária (AFVD) e sete atividades instrumentais de vida diária (AIVD). No questionário, quando há dificuldade em desempenhar alguma tarefa, esta é categorizada em “muita” e “pouca”. Realiza-se a quantificação do número de AVD referidas como difíceis de realizar, que será igual ao total de atividades comprometidas. No presente estudo foi analisado apenas se o indivíduo possuía ou não dificuldade em realizar a atividade referida, com o objetivo de avaliar a sua capacidade motora na realização da tarefa.22

O DHI é um questionário que avalia o quanto a tontura interfere na qualidade de vida. Desenvolvido por Jacobson e Newman23 e adaptado culturalmente

para sua aplicação no Brasil por Castro et al.24, possui 25 questões das quais

07 são referentes ao aspecto físico, 09 ao aspecto emocional e 09 ao aspecto funcional. As respostas referidas como “sim” valem 4 pontos, “as vezes”, 02 pontos, e a resposta “não”, nenhum ponto. Ao final ocorre uma somatória da pontuação das respostas dos aspectos físico, emocional e funcional. O escore total tem um valor de 100 pontos e quanto maior o seu valor, maior a interferência da tontura na qualidade de vida.24

Protocolo de Intervenção

A reabilitação vestibular foi personalizada com duração de 16 sessões, 50 minutos, duas vezes por semana, composta por exercícios de adaptação vestibular, estimulação dos reflexos vestíbulo-ocular horizontal e vertical, exercícios de habituação e de equilíbrio corporal (estático e dinâmico), nas posturas sentada e ortostática, com diferentes tamanhos de base de sustentação e condições sensoriais (visual, vestibular e somatossensorial). Os exercícios foram baseados nos protocolos de Cawthorne e Cooksey, Associazone Otologi

Ospedalieri Italiani, adaptação de Herdman e treinamento da coordenação e

do equilíbrio corporal para o idoso.18 Os exercícios foram realizados e

evoluídos de acordo com a adaptação do paciente e os achados na avaliação clínico-funcional.

Os idosos foram orientados a manter as atividades de rotina, realizar quatro exercícios duas vezes por dia no domicílio e fazer dieta com restrição de cafeína e açúcares. Os exercícios domiciliares eram do Protocolo de Cawthorne e Cooksey, e a cada sessão o fisioterapeuta selecionava quatro exercícios que causavam tontura. Para evitar quedas, os exercícios domiciliares eram realizados em decúbito dorsal ou em sedestação. Os

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pacientes foram informados a respeito de todas as etapas do tratamento e da possibilidade do aumento da tontura com a prática dos exercícios, principalmente na fase inicial. A sessão obedeceu ao nível de adaptação do paciente, procurando-se sempre atingir todas as etapas do protocolo, bem como, observou a manifestação dos sintomas, buscando o limite do desconforto suportável para o paciente na execução de cada tarefa. A ausência do paciente em três sessões consecutivas implicou em exclusão do paciente desta pesquisa. Nos casos de faltas, as sessões foram repostas na mesma semana. A etapa de avaliação foi realizada na semana anterior ao início da intervenção e também na semana posterior à última sessão, por examinadores treinados, que não participaram da intervenção terapêutica e que desconheciam a evolução clínica dos pacientes.

Análise estatística

Inicialmente, todas as variáveis foram analisadas de forma descritiva. As variáveis quantitativas foram apresentadas por meio de frequências absolutas (n) e de frequência relativas (percentuais). As variáveis quantitativas foram apresentadas por média e desvio-padrão. Para comparação dos períodos (pré- e pós-intervenção) foram utilizados o teste não paramétrico de Wilcoxon e teste de McNemar. O nível de significância para o teste foi de 5%.

Resultados

A amostra constituiu-se de 19 idosos com disfunção vestibular periférica crônica. A média etária foi de 70,68 anos (DP=6,51), caracterizando-se por maioria do sexo feminino (89,5%). Em relação aos sintomas otoneurológicos, 100% dos pacientes relataram tontura, cujo tempo de instalação na maioria dos idosos foi de três anos ou mais (89,8%). As principais manifestações clínicas em ordem decrescente foram: instabilidade postural e distúrbio de memória (89,5%), zumbido (68,4%), náusea, escurecimento da visão e ansiedade (52,6%), sensação de desmaio (42,1%), cinetose (36,8%) e vômito (22,1%). As posições ou movimentos corporais desencadeantes de tontura mais referidas no estudo foram: levantando da posição deitada (73,7%), durante o exercício (63,2%), cabeça em posição específica (57,9%), mudando de posição na cama (57,9%), levantando da posição sentada (52,6%), virando a partir da posição sentada ou de pé (42,1%) e andando (42,1%), conforme mostra a Tabela 1. Na análise comparativa dos aspectos clínicos pré- e pós-reabilitação, houve redução/remissão significante da queixa de tontura, instabilidade postural, zumbido, náusea, sensação de desmaio e cinetose (Tabela 2). Entre os 19 pacientes que participaram do estudo, 31,6% referiram histórico de queda nos últimos seis meses.

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Tabela 1. Frequências absolutas e relativas das posições desencadeantes de tontura pré- e pós-reabilitação vestibular em idosos com vestibulopatia crônica (n=19).

Posição desencadeante de tontura Pré – RV

n (%)

Pós – RV n (%)

Levantando da posição deitada 14 (73,7) 1 (5,3)

Durante o exercício 12 (63,2) 4 (21,0)

Cabeça em posição específica 11 (57,9) 1 (5,3)

Mudando de posição na cama 11 (57,9) 1 (5,3)

Levantando da posição sentada 10 (52,6) 0 (0,0)

Virando a partir da posição sentada ou de pé 08 (42,1) 1 (5,3)

Andando 08 (42,1) 0 (0,0)

Deitado de um lado específico 06 (31,6) 0 (0,0)

Tabela 2. Frequências absolutas e relativas dos sintomas pré- e pós-reabilitação em idosos com vestibulopatia crônica (n=19) e a análise comparativa. Sintomas Otoneurológicos Pré – RV n (%) Pós – RV n (%) p-valor* Tontura 19 (100,0) 1 (5,3) <0,0001* Instabilidade Postural 17 (89,5) 4 (21,0) <0,0001* Zumbido 13 (68,4) 1 (5,3) 0,031* Nausea 10 (52,6) 0 (0,0) 0,002* Sensação de desmaio 08 (42,1) 1 (5,3) 0,031* Cinetose 07 (36,8) 0 (0,0) 0,031*

* Teste de Wilcoxon. Nível de significância: p<0,05 RV: Reabilitação vestibular

Observou-se que após a reabilitação vestibular somente um paciente continuou com queixa de tontura. Dos 13 pacientes que referiram zumbido, 12 apresentaram sua redução após o tratamento.

Na avaliação da capacidade funcional, por meio do questionário BOMFAQ, no pré-reabilitação, 31,6% dos idosos apresentavam dificuldade para realizar 04 a 06 atividades e 15,8% em 07 ou mais atividades do dia-dia. As atividades referidas com maior dificuldade no estudo foram: cortar as unhas dos pés (47,4%), fazer limpeza da casa (42,1%), subir escadas (36,8%), andar no plano e sair de condução (31,6%), deitar/levantar-se da cama (26,3%), ir ao banheiro em tempo e medicar-se (21,1%). Após a reabilitação houve redução no número de atividades com dificuldade (p=0,005), sendo que apenas 15,8% dos pacientes mostraram declínio funcional moderado (Tabela 3).

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Tabela 3. Classificação do BOMFAQ conforme o número de atividades comprometidas em idosos com vestibulopatia periférica crônica pré- e pós-reabilitação (n=19). BOMFAQ Pré – RV % Pós – RV % Sem comprometimento 26,3 47,4 Comprometimento leve 26,3 36,8 Comprometimento moderado 31,6 15,8 Comprometimento grave 15,8 0,0

- Nenhuma atividade comprometida (sem comprometimento); - 1 a 3 atividades comprometidas (comprometimento leve); - 4 a 6 atividades comprometidas (comprometimento moderado); - 7 ou mais atividades comprometidas (comprometimento grave).

Na avaliação do DHI após reabilitação, verificou-se redução significante do impacto da tontura nos aspectos físico, funcional e emocional da qualidade de vida (p<0,0001). A média da pontuação total do DHI pré-RV foi de 35,26 pontos (DP=19,02) e no Pós-RV de 8,21 (DP=18,60) (Tabela 4).

Tabela 4. Pontuação do DHI pré- e pós-reabilitação vestibular referente aos aspectos físico, emocional, funcional e total, em idosos com vestibulopatia crônica (n=19).

Dizziness Handicap

Inventory Período Média (DP) p – valor*

Físico Pré - RV Pós – RV 12,84 (5,34) 2,74 (5,93) < 0,0001* Emocional Pré - RV Pós – RV 10,63 (9,57) 2,95 (7,72) < 0,0001* Funcional Pré - RV Pós – RV 11,79 (6,98) 3,26 (7,21) <0,0001* Total Pré - RV Pós - RV 35,26 (19,02) 8,21 (18,60) <0,0001*

* Teste de Wilcoxon. Nível de significância: p<0,05 DP=desvio-padrão

Discussão

Na maioria dos estudos, a tontura é mais prevalente no sexo feminino com relação 2:1, provavelmente devido às disfunções hormonais, distúrbios metabólicos e a maior procura a orientação médica, semelhante ao achado deste estudo.25,26 As manifestações associadas mais frequentes como

instabilidade corporal, distúrbio de memória, zumbido, distúrbio do sono, náusea, escurecimento da visão, sensação de desmaio, cinetose, vômito, ansiedade e depressão27, também foram observados no presente estudo.

Os movimentos corporais como levantar-se da posição deitada ou sentada, durante o exercício, mudando de posição na cama, virando a partir da posição sentada ou de pé e andando são conflitantes para o idoso com disfunção vestibular e, frequentemente, desencadeiam vertigem ou outras tonturas.10 Por

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esta razão, em nosso estudo, os pacientes apresentaram comprometimento de 4 a 6 atividades avaliadas por meio do BOMFAQ, isto é, prejuízo moderado na capacidade funcional seja física ou instrumental28;e as atividades mais

comprometidas foram cortar as unhas dos pés, fazer limpeza da casa, subir escadas, andar no plano e sair de condução, corroborando aos achados de Aratani et al. (2006).

O perfil do idoso com predomínio do sexo feminino, que apresenta sedentarismo, diabetes, tonturas, dor nos membros inferiores e com uso de dispositivos de apoio para deambular podem apresentar comprometimento moderado na sua capacidade funcional, avaliado por meio do BOMFAQ1. As

dificuldades funcionais podem estar atreladas as alterações biomecânicas, limitações físicas, déficit das informações sensoriais como, da visão e do somatossensorial, deixando como principal fonte de informação sensorial o sistema vestibular, que também está comprometido nos idosos com disfunção vestibular.27

Após a reabilitação vestibular, houve redução ou remissão da queixa de tontura e dos demais sintomas otoneurológicos, que provavelmente repercutiu no ganho da capacidade funcional. Com a RV, 47,4% dos idosos relataram ausência de dificuldade para realizar as AVDS e 36,8% relataram dificuldade para realizar de uma a três atividades, das 15 avaliadas. Índice semelhante aos idosos da comunidade.29 As limitações funcionais geradas pela vestibulopatia

crônica podem acarretar maior dependência do indivíduo em ambientes em que é necessário maior controle postural. Os distúrbios do reflexo vestíbulo-espinhal dinâmico podem gerar ataxia de marcha, apresentando a base de apoio mais alargada, passos para os lados, desvios laterais durante a marcha, restrições durante a rotação do tronco e cabeça e queixa de precisarem apoiar nas paredes, devido a sensação instável durante a caminhada.14,30

No DHI, verificou-se que os idosos avaliados antes da reabilitação apresentaram em média 35,26 (DP=19,02) pontos, indicando impacto moderado da tontura na qualidade de vida (35 a 60 pontos).28 De acordo com

Santos et al. (2010), quanto maior o impacto da tontura na qualidade de vida, maior é o declínio da capacidade funcional no idoso com vestibulopatia crônica, uma vez que a tontura, causa limitações, físicas, funcionais e pela cronicidade alterações emocionais.31 As consequências somatopsíquicas

causadas pelas vestibulopatias crônicas podem incluir angústia, ansiedade e ataques de pânico, medo de sair sozinho, interferência nas atividades diárias e sentimentos de estar fora da realidade, despersonalização e humor deprimido.32 Essas alterações clínicas no idoso levam ao declínio na

capacidade funcional, que compromete as atividades sociais e domésticas, principalmente àquelas que requerem maior controle postural4,10, e

consequentemente, comprometem a qualidade de vida e aumentam o risco de acidentes por quedas.29,31

No período pós-intervenção, verificou-se redução de aproximadamente 76,71% da pontuação total do DHI. O aspecto físico, geralmente, é o mais comprometido, seguido pelo funcional e emocional, concordando com estudos prévios.33,34 Explica-se que o idoso com queixa de tontura pode

apresentar alterações sensório-motoras e, consequentemente, limitações aos movimentos de olhos, cabeça, tronco, posições específicas da cabeça e presença de estímulos visuais, sendo estas atividades avaliadas no aspecto físico do DHI. O aspecto funcional avalia a presença dos sintomas em atividades profissionais, domésticas, sociais e em tarefas da marcha. O aspecto emocional avalia presença de medo em ficar sozinho em casa, frustação e vergonha devido a manifestação da tontura.24

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A remissão da tontura, da cinetose e da náusea/vômito, bem como, a melhora da capacidade funcional pode ser atribuída aos exercícios específicos dos olhos, cabeça e/ou corpo que estimulam a recuperação funcional do equilíbrio corporal por meio de fenômenos de neuroplasticidade, com o objetivo de corrigir ou suprir as informações sensoriais alteradas ou ausentes.3 A

reabilitação vestibular personalizada restabelece o equilíbrio postural por meio de estimulação e aceleração dos mecanismos naturais de compensação no SNC, induzindo o paciente a realizar os movimentos que estavam acostumados a fazer antes de surgir a tontura.16,18 É importante ressaltar que o

fator idade não foi considerado limitante sobre a resposta final do tratamento.33

Adicionalmente, a remissão/redução do zumbido com os exercícios voltados à reabilitação labiríntica está relacionada ao fato do sistema auditivo e vestibular estarem intimamente relacionados anatomicamente e, por este motivo, a terapêutica poderia promover a redução do zumbido.35 Knobel et

al.35 verificaram redução do grau de incômodo do zumbido em sete (58,0%)

sujeitos após a reabilitação vestibular.No presente estudo, verificou-se que 92,3% dos casos (n=12) relataram redução/remissão do zumbido. Apesar do impacto positivo, o efeito da RV no zumbido em pacientes com vestibulopatia periférica deve ser melhor investigado, uma vez que há pouca evidência científica sobre o tema.

A RV pode promover a cura completa em 30% dos casos e diferentes graus de melhora em 85% dos indivíduos.16,36 A reabilitação vestibular

personalizada permite intervenção específica, pois analisa a variação de dependência sensorial, a compensação vestibular e a habilidade específica que cada paciente apresenta durante as sessões. Em nosso estudo, verificou-se que após o tratamento, cerca de 94,7% e 76,4% dos pacientes, respectivamente, não referiram tontura e instabilidade postural. Essa melhora clínica também foi ratificada pela melhora na capacidade funcional.

Conclusão

A reabilitação vestibular personalizada é efetiva em idosos com vestibulopatia periférica crônica em relação à queixa de tontura, instabilidade postural, sintomas neurovegetativos, cinetose e capacidade funcional. O tratamento apropriado depende da adequada identificação da doença e da terapêutica individualizada, segundo as alterações clínico-funcionais.

Abstract

Objective: To assess the effects of vestibular rehabilitation on functional capacity in elderly with chronic vestibular dysfunction. Material and Method: Prospective study of 19 elderly diagnosed with chronic vestibular disease, aged between 60 and 84 years. The parameters analyzed before and after vestibular rehabilitation were: symptoms, positions that induce dizziness, Brazilian OARS Multidimensional Functional Assessment Questionnaire (BOMFAQ) and Dizziness Handicap Inventory (DHI). The vestibular rehabilitation consisted of vestibular adaptation and vestibular habituation exercises, stimulation of the vestibular-ocular reflexes and balance. The McNemar test and Wilcoxon were uses for the analysis of the results. Results: The sample was composed mainly of females (89.5%), with mean age and

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standard deviation (SD) of 70.68 ± 6.51. The most prevalent symptoms were dizziness (100.0%), postural instability (89.5%), tinnitus (68.4%) and nausea (52.6%). In the BOMFAQ, 47.4% of patients reported difficulty in performing four or more activities of daily living. Before treatment, the mean and SD in the total score of DHI were 35.26 (19.02). After the rehabilitation, there was a reduction of symptoms (p<0.05) and improved functional capacity (BOMFAQ) (p=0.005) and reduction in the impact of patient's quality of life (p<0.0001). Conclusion: Vestibular rehabilitation in elderly with chronic vestibular disease was effective in reducing symptoms, improving functional capacity and quality of life.

Keywords: Postural Balance. Aged. Rehabilitation. Dizziness.

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Referências

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