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É o relatório. Fundamento e DECIDO.

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Academic year: 2021

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0200930.05

LORENA JORGE ALCANTARA, qualificada nos autos, ajuizou ação de indenização por danos materiais e morais em face de HYUNDAI CAOA DO BRASIL L1DA e SAGA HYUNDAl ANÁPOLIS, ambos qualificados. Alega ter comprado veículo zero Km HB20 1.0L, ano/modelo 2014 pelo preço de R$ 42.000,00 (quarenta e dois mil reais), conforme nota fiscal e que 40 dias após o carro pegou fogo sozinho. a Reclamante e sua amiga que estava no banco do passageiro, saltaram do veículo e correram para longe enquanto o carro permanecia em chamas. Por sorte, a Requerente parou o veículo em frente ao batalhão da polícia militar, sendo que ao ver o fogo um policial pegou um extintor de incendio e conseguiu apagar as chamas. A parte dianteira do veículo ficou inteiramente danificada, pois o fogo queimou grande parte dos componentes mecânicos e elétricos.Desde o primeiro contato com as Reclamadas, seja pelo SAC, seja pessoalmente em conversa com o gerente, a Reclamante informou que nao queria mais o veículo, pois frisese, O CARRO TINHA APENAS 40 DIAS DE USO E SIMPl.ESMElfrE ENOU EM COMBUSTÃO. O que

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era a realização de um sonho tornou-se um pesadelo. O marido da Reclamante ligou mais uma vez para o SAC da 1ª Reclamada e solicitou um laudo informando o motivo do incëndio e como resposta ouviu a seguinte pergunta seguida da afirmaçao: FOR QUE VOCE QUER SABER ISSO7 ISSO NÃO É DO SEU INTERESSE. Requer a procedência dos pedidos. Atribuiu à causa o valor de R$ 84.000,00.

Contestação do réu Hyundai Caoa (evento 0016). Alega ilegitimidade passiva porque não fabricou o veículo, mas sim outra empresa do conglomerado econômico Hyundai Motor Brasil Montadora de Automóveis Ltda. No mérito alega que não houve vício algum no veículo e que a responsabilidade é exclusiva da revendedora Saga (outra ré). Requer a improcedência dos pedidos.

Contestação do réu Saga (evento 0012). Alega ausência de interesse processual e ilegitimidade passiva. No mérito alega que a responsabilidade é do fabricante. Alega que não se pode substituir o veículo porque o prazo de 30 dias para reparo do veículo foi respeitado. Afirma que não cabe indenização alguma e que o fato do carro pegar fogo é um mero aborrecimento.

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Importante destacar que foi dada a oportunidade processual aos réus para produzirem prova pericial (evento 0036 e 0043) porém os mesmos optaram pela não produção da prova técnica (evento 0046). Audiência de instrução foi ouvida uma testemunha arrolada pela autora.

É o relatório.

Fundamento e DECIDO.

As preliminares alegadas pelos réus não podem ser acolhidas. É evidente a existência de conglomerado econômica da empresa Hyundai. Não interessa se uma fabrica veículos modelo x e y e outra fabrica modelos w e z. Todas devem responder de forma solidária pelos prejuízos causados ao consumidor e a coletividade. Com relação a alegação da revendedora que não tem nada a ver com o episódio, por evidente, não pode ser acolhido. A solidariedade faz parte do sistema de proteção ao consumidor existe solidariedade e todos respondem pelo vício do produto. Desde o fabricante, passando pelo distribuidor e o revendendor. A garantia de qualidade-adequação do produto deve ser respeitada por todos. A outra alegação de

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ausência de interesse processual também não pode ser aceita. Toda vez que uma pretensão é resistida, a parte que se sentir prejudicada tem interesse processual em apresentar seu pleito em juízo.

No mérito os pedidos devem ser acolhidos.

A testemunha Ane Marla Raimundo confirmou em juízo os defeitos do veículo (fogo ao abrir o capô do carro). O veículo era novo com 30 dias de uso. Soube que houve recusa na troca do veículo.

Salvo melhor juízo discordo da posição jurídica da revendedora Saga. Não se pode aceitar como mero aborrecimento o fato do veículo do consumidor pegar fogo sozinho depois de 40 dias da venda. O veículo era zero Km. Tal situação fática, por evidente, acarreta abalo de ordem emocional ao consumidor, uma vez que não é normal, 30 dias após a compra do veículo zero Km, que o mesmo pegue fogo. Afinal, não se admite como razoável que um veículo zero Km possa sofrer combustão espontânea. Dano moral evidente. Defeito do produto. Urge salientar que todos os fatos ocorreram durante a vigência da garantia.

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A prova documental (nota fiscal) prova que a autora adquiriu veículo zero KM no dia 14 de março de 2014. Consta ainda dos autos que o automóvel apresentou defeitos mecânicos que impossibilitaram o seu normal funcionamento e determinaram o recolhimento à concessionária para reparos.

Sabe-se que o consumidor ao optar em adquirir veículo zero Km no Brasil, país com a maior carga tributária do plantea e com os veículos mais caros do mundo, pensa e confia que está comprando um produto sem vícios ou defeitos. Destarte, não se pode admitir como normal que o carro pegue fogo em movimento e não haja qualquer consequência para o fabricante ou revendedor desse veículo.

A desvalorização do veículo será evidente. O capô teve que ser pintado e várias peças trocadas em razão do fogo. A qualidade do veículo restou comprometida. A autora pode exercer seu direito de exigir outro automotor da mesma espécie, em perfeitas condições de uso (artigo 18, § 1º, I, do CDC).

Importante destacar que foi dada a oportunidade processual aos réus para produzirem prova pericial (evento 0036 e

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0043) porém os mesmos optaram pela não produção da prova técnica (evento 0046).

Observe-se que o defeito em questão impede o normal funcionamento do veículo, tornando-o, por isso mesmo, impróprio para os fins aos quais se destina: os de locomoção e transporte de pessoas com segurança. Dessa forma, eis que estamos diante de vício redibitório e com isso está configurado o direito da Autora. O vício redibitório consiste no vício oculto da coisa que a torna imprópria a seu uso. Sendo inerente à essência do produto, o vício é capaz de torná-lo imprestável ao fim que se destina ou de reduzir a capacidade do bem por ocasião da sua utilização.

No sistema de proteção ao consumidor existe solidariedade e todos respondem pelo vício do produto. Desde o fabricante, passando pelo distribuidor e o revendendor. A garantia de qualidade-adequação do produto deve ser respeitada por todos.

A consumidora apresentou dois pedidos:

“Requer a condenação das Requeridas à devolução do valor da compra do veículo, devidamente atualizado monetariamente desde a data de emissão da nota até a data do efetivo pagamento/devolução, quando então a

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Autora devolverá o veículo defeituoso aos Requeridos ou como pedido alternativo, se requer seja o veículo defeituoso substituído por outro veículo zero KM nas mesmas condições do carro adquirido no dia 11 de março de 2014, sem o bônus de se incendiar após 40 dias de uso”.

Consoante se observa houve ofensa ao direito do consumidor. O dano moral é evidente.

Com relação ao valor dos danos morais entendo que estes devem ser arbitrados de acordo com os princípios da razoabilidade, proporcionalidade, potencialidade do dano, condições da vítima, capacidade econômica do agente causador do dano e gravidade da ofensa. Nesta ordem de ideias, a autora é consumidora, que foi surpreendida com o veículo zero km pegando fogo em verdadeira combustão espontânea. Depois sofreu com o descaso dos réus. Vale lembrar que é fundamental em casos como esse aplicar a penalidade compensatória, punitiva, preventiva/pedagógica aliado aos princípios gerais da prudência, bom senso, proporcionalidade, razoabilidade e adequação. Cumpre ressaltar, por oportuno, os transtornos sofridos pela autora e a capacidade econômica dos ofensores (empresa multinacional – montadora de veículos). No contexto sobredito

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fixo o valor da indenização em R$ 30.000,00 (trinta mil reais).

Ante o exposto, julgo PROCEDENTES os pedidos e condeno os réus solidariamente (art.18 CDC) a substituir o veículo defeituoso (§ 6º, III, art.18 CDC) e impróprio ao uso por outro veículo zero KM do mesmo modelo comprado pela autora com os mesmos acessórios. A autora quando for retirar o veículo novo zero km devolverá o antigo veículo comprado com defeito.

Condeno os réus (de forma solidária) a pagar indenização por danos morais no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) por reconhecer conduta gravissima da montadora de veículos e da concessionária desrespeitou os direitos da consumidora ofendendo sua dignidade humana ao vender veículo zero Km com capacidade de combustão espontânea.

Condeno os réus a pagar as custas processuais e os honorários advocatícios do patrono da autora que fixo em quantia equivalente a 20% sobre o valor da condenação. No que concerne à fixação do termo inicial da correção monetária, o tema já é sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça, Súmula de número 362, que prescreve: “A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a

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data do arbitramento”. Por sua vez, os juros de mora referentes à reparação por dano moral devem ser contados a partir da sentença que determinou o valor da indenização pois não há como considerar em mora o devedor, se ele não tinha como satisfazer obrigação pecuniária não fixada por sentença judicial, arbitramento ou acordo entre as partes. Ademais, o artigo 1.064 do Código Civil de 1916 e o artigo 407 do atual Código Civil estabelecem que os juros de mora são contados desde que seja fixado o valor da dívida.

P.R.I.C.

Anápolis, 27 de fevereiro de 2018.

Eduardo Walmory Sanches Juiz de Direito

Referências

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