Uso de ferramentas de gestão na atividade leiteira: um estudo multicaso, em propriedades leiteiras na Amazônia Ocidental.
Use of management tools in dairy farming: a multiple case study on dairy farms in Western Amazonia
Reis, E.M.B.1; Nobile, C.B¹; Lima, A.S¹; Dantas F.L¹; Linhares, L.P.1 1 Universidade Federal do Acre. Rio Branco (AC). Brasil. E-mail: edumitke@gmail.com
GRUPO DE PESQUISA G5:Fundamentos teórico-metodológicos da abordagem sistêmica aplicada a agricultura
Resumo: Objetivou-se identificar e sugerir correções de pontos fracos utilizando ferramentas de gestão em cinco propriedades leiteiras situadas na regional do baixo Acre (Amazônia Ocidental) no período de abril e maio de 2018. O diagnóstico foi realizado através da aplicação de questionário contendo 549 questões. Os 3 principais pontos fracos identificados na Matriz GUT foram: inadequada estruturação de rebanho, falta de planejamento nutricional para o período seco e não procurar capacitação. Utilizando a técnica Brainstorming definiu-se quais ferramentas de gestão seriam utilizadas: PDCA, 5W2H e/ou Diagrama de Ishikawa, visando corrigi-los ou, pelo menos, amenizá-los. A aplicação de ferramentas de gestão na pecuária leiteira traz uma nova dinâmica na resolução dos problemas prioritários fomentando um plano de trabalho contínuo.
Palavras-chave: Leite, Diagrama de Ishikawa, Pecuária, Ciclo PDCA, Pontos Fracos Introdução
Em praticamente toda Região Norte o modelo de produção de leite é extensivo a pasto, com animais de “dupla aptidão”, baixa produção e produtividade, além do baixo preço pago ao produtor pelas indústrias de processamento, tornando a atividade economicamente insatisfatória e muitas vezes insustentável (REIS, 2017). Em 2016 a produção de leite acreana passava de 56 milhões de litros com destaque para Acrelândia – AC com mais de 400% de crescimento e Xapuri – AC com 391% (IBGE, 2016).
As ferramentas de gestão vêm com o objetivo de reverter este cenário. Já amplamente utilizadas em setores terciários, podem ser utilizadas no setor primário, como estratégia de controle da qualidade e aumento da produtividade (PARRE et al, 2011), contudo, não basta apenas conhecer essas ferramentas é preciso discernir quando e onde utilizar (MEIRELES, 2011). Desta forma, objetivou-se com o presente trabalho identificar os pontos fracos em propriedades leiteiras e sugerir correções de forma racional visando aumento de produtividade e rentabilidade.
Material e métodos
A pesquisa foi realizada em cinco propriedades produtoras de leite localizadas nos municípios de Senador Guiomard e Rio Branco, na regional do Baixo Acre – AC, na Amazônia Ocidental, entre abril e maio de 2018, por pesquisadores e discentes do curso de Mestrado da Universidade Federal do Acre – UFAC. Para realização do diagnóstico utilizou-se um formulário semiestruturado com 549 perguntas (LOPES et al., 2016). Em seguida, através de brainstorming (COUTINHO et al., 2007, p.107) foram identificados os pontos fracos e fortes aplicando-os posteriormente na matriz GUT (BEHER et al., 2008) e pontuados de um a cinco, de acordo com sua gravidade, urgência e a tendência de piorar. Novamente através brainstorming selecionou-se ferramentas como: Diagrama de Ishikawa (ISHIKAWA, 1985), 5W2H (LISBOA, 2012) e PDCA (AGUIAR, 2016), para correção dos pontos fracos.
Resultados e Discussão
A partir da seleção desses pontos é possível realizar um planejamento adequado, onde, na maioria dos casos, com poucas ações é possível solucionar os problemas enfrentados nas propriedades (LOPES et al., 2016). Os principais pontos fracos encontrados foram: Estruturação do rebanho, Falta de planejamento para o período seco e não procurar capacitação. Foi realizado um breve brainstorming sobre a importância de cada ponto fraco diagnosticado, bem como a recomendação da ferramenta de gestão a ser utilizada foi realizada neste estudo.
Primeiro ponto fraco: Estruturação de rebanho
Nas 5 propriedades estudadas o rebanho médio era composto de 207 animais, sendo que 97 (46,85%) vacas lactação e 110 (53,14%) vacas secas, uma produção diária de 520 litros (5,36
litros/animal). No estado do Acre, é raro propriedades que viva exclusivamente do leite. O bezerro macho é uma importante receita na atividade destas propriedades, logo toda propriedade de leite também é uma propriedade de cria, tornando a composição de rebanho relativamente diferente do que se preconiza a literatura. Para solucionar o ponto fraco “Estruturação de rebanho”, foi proposto o Diagrama de Ishikawa, o diagrama mostra a relação entre uma característica de qualidade (efeito) e seus fatores (causa) (PALADINI, 2004).
Figura 1. Diagrama de Ishikawa como proposta para solucionar o ponto fraco estruturação de rebanho.
Segundo ponto fraco: Ausência de Planejamento para o período seco
A “Ausência de Planejamento para o período seco” ficou com a segunda maior nota na Matriz GUT, reforçando sua prioridade na gestão das propriedades rurais. Nas propriedades estudadas nenhuma realizava planejamento para período seco. A quantidade e qualidade nutricional dos pastos diminui consideravelmente na estação seca, comprometendo o desempenho animal (HOFFMANN et al., 2014).
Para solucionar ou minimizar este ponto fraco, foi proposto o ciclo PDCA Utilizado para processos que necessitam de acompanhamento continuo (ANDRADE, 2003). Da seguinte forma: a) PLAN (Planejamento): Planejar a suplementação volumosa e proteica/energética durante a estação chuvosa anterior. Definir área destinada à produção. Manejo de pastagem vedada para disponibilizar
no período seco subsequente. b) DO (Execução): Manejo de capineiras, banco de proteínas como piquete com leguminosas, cana de açúcar podendo ser misturada com uréia, diferimento ou reserva de pastos (feno-em-pé). c) CHECK (Verificação): Manter registro atualizado do programa de alimentação se certificando sempre que o planejamento está sendo executado. d) ACT (Ação e Padronização): novo planejamento, correção de falhas promovendo continuamente a melhoria do processo.
Terceiro ponto fraco: Não procura capacitação
Uma empresa rural precisa realizar capacitação dos trabalhadores rurais criando um ambiente adaptado à realidade de sua gestão. Nesse estudo apenas uma propriedade (20%) indicou procurar algum tipo de capacitação e 80% indicaram não buscar capacitação tanto para o proprietário, quanto para os funcionários.
Para solucionar o terceiro ponto fraco “Não procura capacitação” utilizou-se novamente a ferramenta ciclo PDCA (ANDRADE, 2003): a) PLAN (Planejamento): Buscar informações de cursos e capacitações existentes em instituições competentes. b) DO (Execução): Realizar os cursos e capacitações que estejam de acordo com o interesse da propriedade; c) CHECK (Verificação): Avaliar as aplicações dos cursos e capacitações na rotina da propriedade; d) ACT (Ação e Padronização): Após a realização das etapas anteriores avaliar os benefícios e adotar um calendário para capacitações com objetivos específicos.
Conclusão
O uso de ferramentas de gestão em propriedade leiteira mostrou-se útil no estabelecimento de um plano de ação eficaz priorizando pontos mais relevantes de forma profissional e empreendedora, auxiliando nas tomadas de decisões e, consequentemente, o aumento da rentabilidade.
Referências Bibliográficas
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