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O Controle e Acompanhamento do Cumprimento das Decisões pelo TCE-RS

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O Controle e Acompanhamento do Cumprimento das Decisões pelo TCE-RS

Maria Goreti Farias Machado1 Doutora em Educação Universidade Federal do Rio Grande do Sul

INTRODUÇÃO

O controle da administração pública é definido como o poder de fiscalização e correção que exercem os órgãos dos poderes judiciário, legislativo e executivo, para garantir a conformidade de sua atuação com os princípios que lhe são impostos pelo ordenamento jurídico (DI PIETRO, 2002). No entanto, o contexto político/econômico e administrativo do Estado Brasileiro na atualidade é de enfermidade. Pouco se vê aplicado o que está previsto na Constituição Federal de 1988, acerca deste tema. Veio à tona e de maneira avassaladora para a população práticas de corrupção que há muito tempo é parte da gestão pública em todas as esferas de governo. Podemos nos perguntar porque o controle previsto constitucionalmente não foi eficiente para detectar tantas irregularidade e corrupção ocorridas no pais nos últimos anos? Parte cabe ser respondida pelos órgãos responsáveis pelo controle da administração pública.

No Brasil o controle externo é exercido pelo poder Legislativo e pelos tribunais de contas cuja função é a de auxiliar o legislativo na fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial (art. 71 da Constituição Federal de 1988). Os tribunais de contas são órgãos que se preocupam em verificar a aplicação devida dos recursos públicos pelos gestores (CITADINI, 1994). Dar consequência aos julgamentos é de competência do Poder Judiciário. O que vemos, no entanto, são essas instâncias que garantiriam a fiscalização da administração pública inoperantes ou até mesmo envolvidas nas denúncias de corrupção.

Este texto trata da atuação do Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul – TCE-RS no Acompanhamento do Cumprimento das Decisões – ACD. O acompanhamento se refere ao cumprimento das sanções de multa e débito proferidas por este órgão no exercício de suas atribuições enquanto órgão auxiliar do Legislativo no controle externo previsto na Constituição

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Federal de 1988. O objetivo do estudo é monitorar o ACD realizado pelo TCE-RS observando em que volume ocorre devolução dos recursos oriundos da imputação das referidas sanções. Justifica-se este estudo pelos registros já apontados em estudos anteriores2da pouca eficácia das

sanções imputadas ao longo dos anos.

É um estudo de natureza qualitativa, caracterizada pela análise documental com fonte em dados primários, isto é, dados que não receberam tratamento analítico ou que possibilitem um reexame diferenciado. Conforme afirma “o documento constitui fonte preciosa para todo pesquisador em ciências sociais” (CELLARD, 2008, p. 295). O autor alerta que os dados precisam ser transformados a partir do que se apresenta, conhecendo o contexto em que foi produzido, quem o produziu, a confiabilidade e autenticidade do mesmo, assim como, a natureza a qual se destina. Os dados para realização do estudo foram obtidos de documentos relativos aos procedimentos do tribunal que orientam a prestação de contas, resoluções e pareceres deste órgão, relatórios das contas dos gestores, relatório do Acompanhamento do cumprimento das

Decisões – ACD, realizado pelo tribunal, bem como, das normas vigentes sobre controle e

fiscalização, disponíveis no site ou obtidos através do canal de acesso a informação.

O papel do TCE-RS

O TCE-RS realiza o controle das administrações de todos os municípios gaúchos e do governo estadual, sua jurisdição abrange o executivo e demais órgãos da administração direta e indireta, assim como as empresas públicas e autarquias. A organização deste tribunal, assim como suas competências estão previstas no seu Regimento Interno (RITCE) que define as suas atribuições, dentre elas:

• Emitir parecer prévio às prestações de contas do Governador e dos Prefeitos Municipais. • Julgar as contas de administradores públicos

• Realizar inspeções e auditorias

• Apreciar a legalidade das admissões de pessoal, aposentadorias e pensões

Uma importante atribuição do TCE no controle externo é o de “emitir parecer prévio sobre as contas que os prefeitos municipais devem prestar anualmente”. O processo de exame das contas realizado pelo TCE é de natureza administrativa, obedece aos princípios constitucionais e assegura ampla defesa ao gestor.

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A instrução dos processos de prestação de contas é realizada pelos auditores públicos externos, cuja principal atribuição é analisar as provas que compõem a prestação de contas. O rito processual para exame das contas ocorre simultaneamente ao longo e no encerramento do exercício. Fornecem elementos que compõem o relatório para a emissão do parecer prévio. A prestação de contas inicia com a entrega física dos documentos s físicos pelos gestores, assim como a coleta de informações enviadas através dos sistemas informatizados disponibilizados aos gestores, com preenchimento obrigatório e prazos preestabelecidos. Esta etapa é seguida da realização de auditorias, divididas em auditoria operacional (eventual), utilizada para verificar e avaliar programa específico, e auditoria tradicional (sistemática), realizada para o exame das contas prestadas. Nessa última são considerados todos os documentos enviados, as informações alimentadas nos sistemas, as auditorias operacionais ocorridas no período, assim como a verificação de denúncias recebidas e comprovadas relativas ao exercício sob análise. Além dos documentos, auditorias e sistemas informatizados.

O responsável pelas contas poderá ser intimado a prestar esclarecimentos. Após a análise dos documentos e dos esclarecimentos é elaborado o relatório para análise do Ministério Público de Contas - MPC que emitirá um parecer sobre a prestação de contas. A seguir, o processo é submetido à apreciação de conselheiros nas Câmaras3, para emissão do parecer prévio. O Legislativo realiza o julgamento das contas de governo. É dada ciência do resultado à Procuradoria Geral da Justiça (PGJ) e ao Ministério Público Eleitoral (MPE).

Atualmente o TCE também realiza o monitoramento de políticas educacionais para fins de apontamento dos gestores quando não cumprem o estabelecido nas normas. Exemplos disso é o monitoramento do atendimento das metas para educação infantil previsto no Plano Nacional de Educação, análise dos Planos Municipais de Educação e cumprimento do Art.26-A da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que versa sobre a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas públicas brasileiras. Esses conteúdos também compõe o relatório sobre a prestação de contas.

Às contas que recebem parecer prévio desfavorável são sanções com imputação de multa e/ou débito. As multas devem ser recolhidas ao TCE-RS, as de débito, devolvidas ao erário público em que a irregularidade foi comprovada.

3 Na organização do TCE-RS as Câmaras são compostas pelos Conselheiros e tem como atribuições, dentre

outras, emitir parecer prévio sobre as contas de governo que os Prefeitos, anualmente, devem submeter às Câmaras Municipais (RITCE,2015)

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Aspectos dos dados coletados

As informações coletadas para a análise se referiram as sanções imputadas aos gestores cujas prestações de contas receberam parecer prévio desfavorável a aprovação e cujo legislativo julgou procedente o parecer resultando no necessário cumprimento das sanções imputadas pelo TCE-RS

O disposto no § 3º do artigo 71 da Constituição Federal, define que as decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito ou multa terão eficácia de título executivo.

Quando a decisão não é cumprida (recolhido os valores) no prazo estipulado na sentença é extraída Certidão de Decisão – Título Executivo, que expressa crédito público não tributário. A tabela a seguir expressa os valores4 das Certidões emitidas em três períodos distintos.

Quadro 1 – Certidões de multas e débitos emitidas pelo TCE por período referido

Certidões Valor emissão/R$ de Período Nº Certidões Valor emissão/R$ de

2001-2014 5741 6.758.620,19 2001-2014 4116 172.735.091,59

2001-2016 4025 5.069.078,99 2001-2016 3188 197.492.299,00

2003-2017 7348 9.152.436,77 2003-2017 4977 287.512.880,68

Fonte: Serviço de acompanhamento de gestão -TCE, dados coletados em junho/2014, julho/2016, maio/2017

Em relação aos dados coletados em julho de 2016, relativos as imputações de multa e débito aplicados ao executivo municipal gaúcho, observamos a situação demonstrada no quadro 2.

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Quadro 2– Situação em 2016 -Certidões de multas e débitos emitidas pelo TCE

Situação em julho de 2016

Certidão de Decisão – MULTAS 2001-2016

Certidão de Decisão –

DÉBITOS -2001-2016

Nº Certidões Valor de emissão (R$) Nº Certidões Valor de emissão (R$)

Emitidos 4025 5.069.078,99 3188 197.492.299,00 Pago/Devolvido 2567 3.761.721,68 1341 17.625.772 Baixa por falecimento/recurso/ revisão 6 7.3111,59 26 2.925.485,17 Em certidão 1452 1.300.045,72 1821 176.941.041,83

Fonte TCE-RS - Dados obtidos em julho de 2016, no canal de acesso a informação

Observa-se que s valores referentes as multas são os que tem um retorno maior, ainda que não na totalidade. Mesmo considerando não haver possibilidades de recursos junto ao TCE-RS, é comum as decisões serem contestadas junto ao Tribunal de Justiça. Os gestores decidem por um acordo com vistas a ganhar tempo para impetrar recurso que se arrastam ao longo dos anos. Mesmo com a vigilância do tribunal de contas um percentual muito baixo dos recursos retorna ao erário. Os valores devolvidos referentes aos débitos são, na maioria das vezes, parcelas dos acordos efetivados.

Em 2015, como resultado da operação Lava a Jato, calculava-se que a corrupção desviara cerca de 200 bilhões de dinheiro público. As mesmas fontes (Lava a Jato), no mesmo período, apontavam um retorno de cerca de 2,4 bilhões com as delações premiadas. Certamente que estes dois valores aumentaram desde então, possivelmente a proporção continua a mesma entre recursos desviados e recurso devolvidos. Mais grave que isso é a manutenção de políticos denunciados ou mencionados em delações permanecerem no poder tanto do Legislativo quanto do Executivo (e com inoperância efetiva do STF). Como adverte Eduardo Galeano “ o crime compensa, mas só compensa quando praticado em grande escala. A impunidade recompensa o delito, induz à sua repetição e faz sua propaganda: estimula o delinquente e torna contagioso seu exemplo”. (GALEANO 1999. p. 189).

A tese de que o mais importante é evitar o dano se torna mais fortalecida diante das medidas que são tomadas a posteriori, por mais eficientes que possam parecer.

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REFERÊNCIAS

CELLARD, André. A análise documental. In: POUPART, J. et al. A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 295-316.

CITADINI, Antonio Roque. O controle externo da Administração Pública. São Paulo: Editora Max Limonad, 1994.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2010.

GALEANO, Eduardo. De pernas pro ar: a escola do mundo ao avesso. Porto alegre. L&PM, 1999.

MACHADO, Maria Goreti Farias. A promoção da accountability na fiscalização de municípios do Rio Grande do Sul: a atuação do TCE na implementação do Fundeb de 2007 a 2009. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012. MACHADO, Maria Goreti Farias. Controle Público, Accountability e Democracia. In: 3 Encontro FINEDUCA, 2015, Gramado -RS. Anais do 3º Encontro da Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação – FINEDUCA. Políticas Públicas de

Financiamento da Educação: desafios e perspectivas nos planos educacionais, 2015. p. 337 TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DOSUL. Resolução nº 1028 de 2015. Regimento Interno do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul. Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 4 de março de 2015.

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