STF – INFORMATIVOS 887 e 886
1. DIREITO PROCESSUAL PENAL – PRISÃO DOMICILIAR
A prisão preventiva poderá ser substituída pela domiciliar? Em quais situações?
Sim. A previsão está no art. 317 do CPP e as hipóteses no art. 318 do mesmo Código.
Há também a previsão de medida cautelar no art. 319, V, que estabelece como medida cautelar alternativa à prisão o recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos.
Essa medida é obrigatória ao juiz?
Maioria da doutrina entende que não (Avena, Brasileiro, Paccelli etc.). STF e STJ (precedentes) entendem que não.
Qual a medida cabível em caso de negativa da medida? Cabe HC.
Vamos ao jugado:
Substituição de prisão preventiva por domiciliar e cuidados maternos A prisão preventiva poderá ser substituída pela domiciliar quando o agente for mulher com filho de até 12 anos de idade.
Com base nesse entendimento, a Primeira Turma concedeu a ordem de “habeas corpus” para implementar a prisão domiciliar da paciente.
A paciente e o marido foram presos em flagrante como incurso no art. 33, “caput”, da Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas).
O Colegiado asseverou que não foi observado o art. 318, inciso V, do Código de Processo Penal (CPP), incluído pela Lei 13.257/2016, que versa sobre políticas públicas para a primeira infância. Esse benefício
não foi estendido pela Turma ao cônjuge, que é corréu no processo.
(1) Lei 11.343/2006: “Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: ”.
(2) Código de Processo Penal: “Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for:
(...)
V -‐ mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos; ”.
HC 136408/SP, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 5.12.2017. (HC-‐136408)
2. Repercussão geral e sobrestamento de processo-‐crime – 2
Cabe Habeas Corpus para trancar ação penal por crime de porte de drogas para uso próprio?
Não. O “habeas corpus” não é o meio adequado para discutir crime que não enseja pena privativa de liberdade.
Obs.: Súmula 693 do STF, dispondo que “não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada”.
Esse é o entendimento da Primeira Turma, que, por maioria, não conheceu de “habeas corpus”, no qual se discutia a suspensão de processo-‐crime, na hipótese de o tema estar submetido ao Supremo Tribunal Federal (STF) em sede de repercussão geral (vide Informativo 871).
O paciente foi denunciado como incurso no art. 28 (1) da lei 11.343/2006 (Lei de Drogas).
A Turma assentou que, ante a previsão desse artigo e na impossibilidade de imposição de pena que possa restringir a liberdade de ir e vir, tem-‐se como imprópria a impetração de “habeas corpus”.
Vencido o ministro Marco Aurélio (relator), que deferiu a ordem para determinar a suspensão do processo-‐crime.
(1) Lei 11.343/2006: “Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I -‐ advertência sobre os efeitos das drogas; II -‐ prestação de serviços à comunidade; III -‐ medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. ”.
HC 127834/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 05.12.2017. (HC-‐127834)
3. “Habeas corpus” e visita íntima
Qual a finalidade da visita íntima?
Surgem como decorrência da necessidade de o Estado buscar a preservação da dignidade do custodiado. Evita-‐se, também, a promiscuidade sexual no ambiente prisional.
É direito subjetivo do custodiado?
O STF já entendeu que se trata de ato administrativo discricionário da Administração (AI 714788 AgR-‐AgR, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 27/10/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-‐260 DIVULG 14-‐11-‐2017 PUBLIC 16-‐11-‐2017)
Há previsão na LEP?
Não. O art. 41, X, prevê apenas a visita em termos gerais.
Cabe habeas corpus em caso de negativa?
O “habeas corpus” não é o meio adequado para tutelar visita íntima, por não estar envolvido o direito de
ir e vir.
Com base nesse entendimento, a Primeira Turma inadmitiu a impetração. HC 138286, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 5.12.2017. (HC-‐138286)
E se o pedido tivesse sido feito por João, haveria possibilidade de êxito?
Também não. A 2ª Turma do STF também já decidiu que o habeas corpus não é meio processual adequado para o apenado obter autorização de visita de sua companheira no estabelecimento prisional. STF. 2ª Turma. HC 127685/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/6/2015 (Info 792).
4. DIREITO PROCESSUAL PENAL – COMPETÊNCIA
Fato único: investigados sem prerrogativa de foro e não desmembramento
O coautor ou partícipe de autor com foro de prerrogativa é julgado pelo mesmo tribunal deste? Se durante a investigação criminal houver investigados com foro por prerrogativa de função no STF e outros sem foro privativo, o STF poderá decidir desmembrar os feitos e permanecer investigando apenas as autoridades, circunstância em que a investigação dos demais será feita em 1ª instância. STF. 2ª Turma. AP 871, 872, 873, 874, 875, 876, 877 e 878 QO/PR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgados em 10/6/2014 (Info 750).
Qual é a regra geral em pedidos como esse?
Em regra, o STF entende que deverá haver o desmembramento dos processos quando houver corréus sem prerrogativa. Nesse sentido: O desmembramento de inquéritos ou de ações penais de competência do STF deve ser a regra geral, admitida exceção nos casos em que os fatos relevantes estejam de tal forma relacionados, que o julgamento em separado possa causar prejuízo relevante à prestação jurisdicional. STF. Plenário. Inq 3515 AgR/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13/2/2014 (Info 735).
Esse desmembramento é obrigatório?
A Primeira Turma, por maioria, deu provimento a agravo regimental interposto contra decisão do relator que havia determinado o desmembramento e a remessa, ao Tribunal Regional Federal da 3ª Região, dos autos de inquérito instaurado para investigar a suposta prática de crimes cometidos por Senador da República e outros três acusados.
A Turma entendeu que, na hipótese, o Ministério Público investiga um fato único, a respeito do qual pleiteia a acusação com desmembramento de funções no fato. Dessa forma, não se aplica a conexão ou continência entre crimes, por haver um único fato separado, o qual deve ser julgado no Supremo Tribunal Federal (STF).
O Ministro Roberto Barroso ressaltou que o Plenário considerou excepcional o foro por prerrogativa, mas que é a união indissociável entre as condutas, e não a mera conexão, que revela a impossibilidade de se proceder ao desmembramento do processo. Observou que, no caso sob exame, o atual estágio da investigação revela que as condutas dos investigados sem prerrogativa de foro estão indissociavelmente unidas à conduta do parlamentar. Desse modo, estão de tal forma unidas que não seria possível apurar os fatos de maneira dissociada, visto que o desmembramento, diante dos elementos coletados até o presente momento, traria inequívoco prejuízo às investigações.
Vencido o Ministro Marco Aurélio, relator, que desprovia o agravo por considerar que o STF deveria processar e julgar unicamente autoridades com prerrogativa de foro, tendo em conta que as normas definidoras de sua competência são de direito estrito.
Inq 4506 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 14.11.2017. (Inq-‐4506)
5. DIREITO PROCESSUAL PENAL – AÇÃO PENAL
Violação da ordem de inquirição de testemunhas no processo penal
A inquirição de testemunhas pelas partes deve preceder à realizada pelo juízo?
Sim, predomina nos Tribunais Superiores o entendimento de que, efetivamente, o art. 212 do
Código de Processo Penal estabeleceu nova ordem na inquirição das testemunhas, devendo as perguntas ser feitas, inicialmente, pelas partes e, após, complementadas pelo Juiz – na esteira da primeira posição citada. Todavia, a desobediência a este comando traduz, no máximo, uma nulidade relativa, sujeita à demonstração do prejuízo para ser decretada e, ainda, à arguição oportuno tempore, sob pena de preclusão.
Ressalte-‐se, além disso, que as testemunhas da acusação devem ser ouvidas antes. Na audiência de instrução, serão inquiridas pelo juiz, primeiramente, as testemunhas de acusação e, após, as arroladas pela defesa. No tocante ao questionamento das partes, primeiro serão formuladas perguntas por quem
arrolou a prova e, depois, pela parte contrária (Avena)
Qual a consequência da inversão da ordem?
Predomina o entendimento de que se trata de nulidade relativa, exigente de demonstração de prejuízo para que seja declarada. Apesar dessa regra geral, existem exceções, nas quais facultada, legalmente, a
inversão da ordem de oitiva, podendo ser inquiridas testemunhas de defesa antes das de acusação, independentemente de aquiescência do advogado (Avena).
Há exceções para essa regra?
Sim, a doutrina cita, pelo menos, duas exceções:
a) Testemunhas deprecadas (art. 222, § 2.o, do CPP): na medida em que a expedição da carta precatória não suspende a instrução criminal, nada impede venha a testemunha de defesa a ser inquirida no juízo deprecado antes da inquirição das testemunhas de acusação no juízo deprecante, tal como nada impede que a testemunha de acusação seja ouvida no deprecado depois da oitiva das testemunhas de defesa no deprecante.
b) Possibilidade de perecimento da prova ou dificuldade posterior de produção (art. 225 do CPP): Preceitua o art. 225 do CPP que, “se qualquer testemunha houver de ausentar-‐se, ou, por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, tomar-‐lhe antecipadamente o depoimento”. É o caso, por exemplo, da testemunha portadora de moléstia grave. Independentemente da parte que a tenha arrolado, poderá ser inquirida pelo juiz em qualquer tempo, não importando a inversão da ordem em qualquer ameaça à validade do processo.
Vamos ao julgado:
Com base nesse entendimento, a Primeira Turma, por maioria, concedeu, em parte, a ordem de “habeas corpus” para que se proceda a nova oitiva, mantidos todos os demais atos processuais.
No caso, a magistrada primeiro inquiriu as testemunhas e, só então, permitiu que as partes o fizessem.
Vencidos os ministros Marco Aurélio (relator) e Alexandre de Moraes, que concederam a ordem para assentar a nulidade do processo-‐crime a partir da audiência de instrução e julgamento. HC 111815/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgamento em 14.11.2017. (HC-‐ 111815)
STJ INFORMATIVO 615
SÚMULA N. 593
O crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente. Terceira Seção, aprovada em 25/10/2017, DJe 6/11/2017.
DESTAQUE
Compete à Justiça estadual o julgamento de crime ambiental decorrente de construção de moradias de programa habitacional popular, nas hipóteses em que a Caixa Econômica Federal atue, tão somente, na qualidade de agente financiador da obra.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
Discute-‐se se a atribuição à CEF da conduta típica descrita no art. 54 da Lei n. 9.605/1998 – no que concerne à sua responsabilização criminal por danos ambientais causados por construções de moradias realizadas na esfera do Programa Minha Casa Minha Vida – atrai a competência da Justiça Federal para julgamento do caso. Observe-‐se que a CEF figurou como ré em ação civil pública baseada no mesmo delito e participou de acordo homologado para reparação do dano ambiental na esfera cível, contudo, no entender do Juízo Federal, há de se observar uma diferenciação na responsabilidade civil e criminal da referida instituição financeira. Nesse contexto, diante da reconhecida orientação jurisprudencial das Cortes Superiores sobre a possibilidade de responsabilização da pessoa jurídica por dano ambiental, e considerando que o crime descrito no art. 54, § 1º, da Lei n. 9.605/1998 prevê 6. CC 139.197-‐RS, Rel.
Min. Joel Ilan Paciornik, por unanimidade, julgado em 25/10/2017, DJe 09/11/2017
RAMO DO DIREITO DIREITO AMBIENTAL, DIREITO PROCESSUAL PENAL
TEMA Art. 54, § 2º, V da Lei n. 9.605/98. Poluição. Deságue de esgoto em nascentes localizadas em área de proteção ambiental. Programa habitacional popular. Fiscalização da aplicação dos recursos públicos pela Caixa Econômica Federal (CEF). Atuação como mero agente financeiro. Contrato que isenta a CEF de responsabilidade pela higidez da obra. Competência da Justiça estadual.
a modalidade culposa da prática delitiva, seria possível a responsabilização criminal da CEF a depender de sua atuação na execução da obra. Quanto a esta, o STF já decidiu que, no âmbito do programa habitacional mencionado, a Caixa Econômica Federal pode atuar como agente executor de políticas públicas federais de promoção à moradia ou como agente financeiro em sentido estrito, na qualidade de responsável pela liberação de recursos financeiros para a aquisição de imóvel já edificado. Na primeira situação, a CEF possui responsabilidade solidária com a construtora pela solidez e segurança da obra, tendo em vista sua atuação fiscalizadora sobre a aplicação dos recursos públicos destinados ao financiamento imobiliário. Já na segunda hipótese, a CEF atua apenas na qualidade de mutuante, disponibilizando os valores necessários à aquisição do imóvel, não fiscalizando a construção – entendimento também compartilhado por esta Corte Superior. No caso em análise, o fato de o imóvel não estar edificado não implica, por si só, a responsabilização da CEF por danos causados na obra, sendo imprescindível a análise contratual e riscos por ela assumidos. Dessa forma, é de se concluir que o fato de a CEF atuar como financiadora da obra não tem o condão de atrair a competência da Justiça Federal. Isto porque para sua responsabilização não basta que figure como financeira, sendo imprescindível sua atuação na elaboração do projeto, ou seja, deve ter atuado na qualidade de fiscalizadora da segurança e higidez da obra. Uma vez não configuradas as referidas premissas no contrato entabulado com a construtora, deve-‐se reconhecer a competência da Justiça estadual para julgamento da questão.
7. PROCESSO RHC 79.834-‐RJ, Rel. Min. Felix Fischer, por unanimidade, julgado em 07/11/2017, DJe 10/11/2017
RAMO DO DIREITO DIREITO PROCESSUAL PENAL
TEMA Incidente de falsidade. Indeferimento. Documento juntado há mais de dez anos. Impugnação após a sentença. Preclusão.
DESTAQUE
Não há nulidade na decisão que indefere pedido de incidente de falsidade referente à prova juntada aos autos há mais de 10 anos e contra a qual a defesa se insurge somente após a prolação da sentença penal condenatória, uma vez que a pretensão está preclusa.
Na origem, trata-‐se de habeas corpus em que se alega cerceamento de defesa em razão do indeferimento de pedido de instauração de incidente de falsidade e a realização de perícia em mídia que contém arquivos de interceptação telefônica. Com efeito, embora não exista prazo definido em lei para que se possa requerer a instauração do incidente de falsidade documental previsto no art. 145 e seguintes do Código de Processo Penal, o fato é que o ofício expedido pela Polícia Federal que deferiu a citada diligência, acompanhado do respectivo CD, foi juntado aos autos há mais de dez anos, de forma que a defesa quedou-‐se inerte por todo esse período, deixando para impugná-‐lo somente após a prolação da sentença condenatória, quando já encerrada a instrução processual. Nesse contexto, a permissão do comportamento em análise representaria violação aos princípios da segurança jurídica, da razoabilidade, da lealdade processual e da boa-‐fé objetiva, diante da reabertura da fase de produção de provas mesmo diante da inércia da parte. Outrossim, tem-‐se que o deferimento de diligências é ato que se inclui na esfera de discricionariedade regrada do Magistrado processante, que poderá indeferi-‐las de forma fundamentada, quando as julgar protelatórias ou desnecessárias e sem pertinência com a instrução do processo, não caracterizando, tal ato, cerceamento de defesa, como ocorreu no caso. Finalmente, vale ressaltar ser pacífica a jurisprudência das Cortes Superiores no sentido de que a declaração de nulidade exige a comprovação de prejuízo, em consonância com o princípio pas de nullite sans grief, consagrado no art. 563 do CPP -‐ o que não fora demonstrado na presente hipótese.