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ADEUS AO PROLETARIADO: UMA ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DE ANDRÉ GORZ NA DISCUSSÃO SOCIOLÓGICA DE CLASSE E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL NO BRASIL

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ADEUS AO PROLETARIADO: UMA ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DE

ANDRÉ GORZ NA DISCUSSÃO SOCIOLÓGICA DE CLASSE E

ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL NO BRASIL

Maurício Reis Grazia

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Resumo

Esta pesquisa tem como objetivo central a realização de um estudo bibliográfico sobre como a sociologia brasileira absorveu a tese de “fim das classes sociais”, exposta por André Gorz em

sua obra “Adeus ao Proletariado” de 1982. Nossa hipótese é de que a estrutura social

brasileira no início dos anos 1980 e final dos anos 1970 era distinta da europeia analisada por Gorz - que se configurava como países de capitalismo avançado. Tendo em vista as mudanças no processo de produção industrial ocorridas em 1970 e início dos anos 1980, Gorz lança um novo olhar sobre a sociedade capitalista e repensa teses fundamentais da teoria marxista. Nesse sentido, utilizaremos também outras obras de Gorz dos anos 1980 afim de melhor compreender sua teoria. Essa pesquisa se caracteriza como uma incursão preliminar em uma discussão teórica ampla e esta vinculada ao grupo de pesquisa “Classe Social e Valor na Teoria Social Contemporânea” financiado pela FAPESP.

Palavras chave: Classe Social; Estratificação Social: Marx; Gorz.

Introdução

Durante os anos 1970 e início dos anos 1980 a economia capitalista mundial passou por profundos processos de reestruturação produtiva que culminaram em profundas transformações para a classe trabalhadora. Visando se reerguer de uma crise estrutural do final dos anos 1960 e inicio dos anos 1970 causada pela resistência dos grupos operários ao modelo fordista e pela baixa na taxa de lucro, foram implantados na economia mundial novos modelos de processo de produção buscando intensificar a exploração do trabalho. Juntamente com a reestruturação dos meios de produção ocorreu o crescimento de políticas neoliberais visando flexibilizar leis trabalhistas e diminuir a ação dos sindicatos (MATTOS, 2007). Essas transformações do modo de produzir acarretaram profundas mudanças na classe trabalhadora, como a diminuição do operariado fabril tipicamente fordista, o aumento da terceirização, o crescimento do setor de serviços e o enfraquecimento dos sindicatos.

Tendo em vista esse contexto histórico alguns autores, tais como, André Gorz; Jurgen Habermas e Claus Offe defendem que o trabalho estaria perdendo a sua centralidade para a

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Graduando em Ciências Sociais da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade Federal de São Paulo; mauricio_reis_grazia@hotmail.com

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sociologia contemporânea e consequentemente a teoria das classes sociais de Marx também não serviria mais como eixo analítico para apreender a dinâmica das sociedades capitalistas.

Para André Gorz, diante do numero cada vez maior de desempregados e da indicação de uma racionalidade econômica insuperável e inalienável, no trabalho teria deixado de ser o eixo central de sociabilidade humana. Reformulando a partir disso sua noção de classe social e de revolução, a reflexão elaborada por Gorz se destina em sua busca de uma perspectiva de êxodo da racionalidade econômica capitalista. Diante da indicação de uma racionalidade econômica insuperável o projeto revolucionário voltado para o controle do processo de produção pelo proletariado se mostraria inatingível, a partir disso, Gorz concebe uma nova organização social que seria capaz de permitir ao individuo fugir das determinações da racionalidade econômica capitalista.

Na obra “Adeus ao Proletariado” (GORZ, 1982) e na obra “Miséria do Presente, Riqueza do Possível” (GORZ, 1997) o autor indica que as transformações ocorridas a partir dos anos 1970 levariam a uma abolição cada vez maior do trabalho na sociedade, o que, juntamente com a observação de uma racionalidade capitalista insuperável encerariam a possibilidade de revolução socialista tendo como objetivo a apropriação coletiva dos meios de produção. O modo capitalista de produção aboliria o trabalho fabril e, dessa forma, o antagonismo econômico originador das classes sociais deixaria para os proletários apenas a luta pela sobrevivência.

Segundo Gorz, para Marx desenvolvimento das forças produtivas levaria a um trabalhador politécnico, capaz de se autogerir e, por conseguinte, acabar com a alienação do trabalho. No entanto, Gorz aponta que o desenvolvimento tecnológico e o parcelamento de tarefas enterraram as possibilidades de autogestão do proletariado. O capitalismo teria transformado o operariado em uma engrenagem de seu sistema que, por conseguinte, faria o proletariado perder sua força no trabalho tornando-se uma criatura do capital. Dessa forma,

“O trabalhador coletivo funciona ele próprio à maneira de um mecanismo: à maneira e sobre o modelo dos exercícios” (GORZ, 1982: 36). Em outras palavras, para Gorz, o capital

teria assumido tal forma de desenvolvimento que impossibilitaria o proletariado de retomar o controle sobre o processo de trabalho e consequentemente acabar com a alienação do trabalho. Assim, “O capital conseguiu, além de tudo o que pudemos prever reduzir o poder

operário sobre a produção” (GORZ, 1982: 35).

Diante dessa conjuntura, Gorz, utiliza-se da perspectiva weberiana para repensar as possibilidades de êxodo da sociedade capitalista. Assim como Weber, Gorz vislumbra uma sociedade com esferas regidas por racionalidades autônomas e confluentes, por exemplo, - a

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econômica, a religiosa, a política, a jurídica, a social, a cultural - cada uma delas com lógicas particulares de funcionamento que se entrecruzam. Haja vista a sua nova perspectiva de sociedade Gorz indicaria a necessidade de uma regulamentação da esfera econômica por parte da sociedade civil para permitir aos indivíduos se libertar da racionalidade econômica alienante do capitalismo. Essa nova organização social que levaria a superação da racionalidade econômica capitalista proposta por Gorz, se apresenta como uma sociedade dual dividida entre o tempo fora do trabalho (autodeterminada) e o tempo dentro do trabalho (heterodeterminada). Nas palavras de Gorz,

“Reconhecer que o poder funcional é inevitável e reservar a ele um lugar circunscrito,

determinado de antemão, de maneira a dissociar poder e dominação, e a proteger as autonomias respectivas da sociedade civil, da sociedade política e do estado” (GORZ, 1982:

88).

Ou seja, o autor, vislumbraria a possibilidade de uma contenção da racionalidade econômica a fim de permitir uma vida plena e sem alienação fora da esfera do trabalho.

Devido a esse novo projeto revolucionário que Gorz vislumbra para a sociedade, sua noção quanto às classes sociais se altera. O autor conclui que o novo sujeito revolucionário capaz de conduzir a uma superação da sociedade capitalista seria o grupo social que não se identifica com seu trabalho e não se realiza nele. Ou seja, os indivíduos marcados pela negação máxima de sua existência sobre a racionalidade do trabalho, seriam responsáveis pela revolução capaz de superar o capitalismo. A esses indivíduos, André Gorz dá o nome de “não

classe” de “não trabalhadores”.

A hipótese que norteia essa pesquisa é a de que a teoria de classe social proposta por André Gorz foi elaborada em um contexto de capitalismo avançado, em países de alta industrialização. A sociologia brasileira absorveu as teses expostas por André Gorz sem que a conjuntura social brasileira tivesse vivido o mesmo desenvolvimento das forças produtivas da Europa e dos Estados Unidos. A partir disso, nos parece importante um mapeamento sobre como a sociologia brasileira importou as teses de André Gorz para explicar o funcionamento de uma sociedade que presencia uma conjuntura social diferente da europeia, como a brasileira. Faz-se primordial ressaltar que a escolha de analisar a discussão sobre as classes sociais, posta por Marx, com base na obra “Adeus ao Proletariado” de André Gorz, se deu pelo fato de que a referida obra teve uma grande repercussão na sociologia brasileira e em outros países (ANTUNES, 2010).

Esta pesquisa teve como proposta metodológica a utilização de fontes secundárias. Será realizado um levantamento bibliográfico, e um mapeamento que classificará livros e

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artigos referentes à discussão teórica sobre as clivagens sociais, exposta por André Gorz. As fontes preferenciais usadas para a seleção desta bibliografia serão artigos e livros das bibliotecas da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP – E.F.L.C.H), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp – I.F.C.H.), a Universidade de São Paulo (USP – F.F.L.C.H) e em acervos on-line. Após o levantamento de livros e artigos referentes ao objeto de estudo referenciado anteriormente, foi realizada uma análise de parte do material levantado a partir de leituras e fichamentos dos textos com a finalidade de mapear como a tese do “fim das

classes” expostas por André Gorz foi problematizada pela sociologia brasileira. A primeira

parte dessa pesquisa se configura como uma análise quantitativa que visa indicar o numero de artigos e livros levantados em nossa pesquisa, Já a segunda parte é uma análise teórica critica sobre a forma como foi realizada a importação da teoria social exposta por Gorz.

Primeira Parte

No levantamento apuramos um total de 4 (quatro) livros e 31(trinta e um) artigos relacionados ao tema delimitado por essa pesquisa. Os periódicos que se destacaram nesse levantamento como polo central para a discussão trata nessa pesquisa foram: Revista

Caderno CRH com 7 (sete artigos); Revista Tempo Social; Revista Mediações; e Revista Lua Nova com 2 (dois artigos) cada.

Segunda Parte

A partir dos resultados encontrados em nosso levantamento acreditamos que a incorporação e a critica ao pensamento sociológico de Gorz pela sociologia brasileira se da sobre três eixos de analise diferentes. Escolhemos apresentar aqui autores que consideramos centrais para compreender de que forma a sociologia brasileira absorveu a tese de fim das classes de Gorz. Autores como Ricardo Antunes; Silvio Camargo; Ariovaldo Santos; Ricardo Abramovay; Marcelo B. Mattos; Eleuterio F. S. Prado e Ângela Borges, apresentam a tese de que o trabalho ainda se configura como elemento central para compreensão da vida social e por tanto seria um equivoco pensar o fim do trabalho ou das classes sociais como propõem o autor francês.

A segunda vertente critica ao pensamento de Gorz demonstra à necessidade de expandir o conceito de classe social a fim de considerar a subjetividade como fator central para se pensar o trabalho e as classes. Nessa segunda vertente, marcada por autores como Misael de Souza Santos, a incorporação de Gorz se da por uma critica de influencia Weberiana para tentar demonstrar que é através da subjetividade, criada também no seio do trabalho, que podemos apreender de maneira mais satisfatória o processo social.

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O terceiro ponto de analise sobre a teoria de fim do proletariado se norteia pela indicação de que as teses de Gorz estariam marcadas por uma tentativa de ruptura com uma leitura economicista do marxismo. Segundo autores como Henrique Amorim; Edmundo Fernandes Dias e Joana El-Jack Andrade, a critica de Gorz ao marxismo é na verdade a critica de uma leitura economicista do marxismo que postulava a esfera da produção como epicentro do qual floresceriam as contradições de classe. Na opinião desses autores a classe social é ainda um importante instrumento de analise da sociedade e postular o seu fim com base em uma possível desintegração do operariado fabril e o aumento de novas formas de exploração do trabalho é um equivoco.

Grande parte dos artigos e livros levantados no decorrer dessa pesquisa aponta para uma critica da forma como Gorz analisa as mudanças sociais ocorridas a partir dos anos 1970, e principalmente sobre sua afirmação de negação do trabalho, e das classes, como eixo central de para entender a sociedade. Alguns autores defendem que o trabalho jamais deixaria de ser categoria central de sociabilização.

Na opinião de Ricardo Antunes na obra “Adeus ao Trabalho?” (ANTUNES, 2010) a tese de “fim das classes sociais” proposta por André Gorz se encontraria amparada na ligação entre classe social e trabalho. Para o autor, Gorz ignora o duplo aspecto da categoria trabalho e por isso, acaba por decretar o “fim das classes”. Partindo da divisão entre trabalho concreto e trabalho abstrato, Antunes acredita que a análise de Gorz indica uma possível crise do trabalho como categoria central e estruturante da vida. Essa análise seria um equivoco, pois, segundo ele, o trabalho enquanto trabalho concreto jamais deixaria de ser central para a vida em sociedade. Nas palavras de Antunes, “Cremos que sem a devida incorporação desta

distinção entre trabalho concreto e abstrato, quando se diz adeus ao trabalho, comete-se um forte equivoco analítico, pois considera-se de maneira una um fenômeno que tem dupla dimensão” (ANTUNES, 2010: 82).

Ainda na critica ao fim da centralidade do trabalho Ariovaldo Santos no texto “Gorz e

o inquietante ‘Adeus ao Proletariado’”(SANTOS, 2006) defende que a teoria de Gorz sobre

as classes sociais estaria embasada em uma leitura “[...] livre e, em geral, sem as devidas e

necessárias mediações” (SANTOS, 2006: 126) da teoria do jovem Marx. Para o autor, a

pesada crítica que Gorz aplica a teoria marxista mostraria seu limite ao se basear apenas no jovem Marx, o que, em sua opinião, resulta em uma perda de mediações fundamentais a teoria de Marx.

Segundo Santos, a obra de Gorz reflete o contexto histórico, reestruturação produtiva a partir do anos 1970 e avanço neoliberal, de debate da teoria marxista. Comparando Gorz a

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Touraine o autor afirma que a tese de “fim das classes” de Gorz e a indicação de uma possível “morte do socialismo” (Touraine) são influenciadas pela perspectiva de uma sociedade pós- industrial frente as mudanças produtivas e sociais ocorridas dos anos 1970 em diante. Para o autor ainda que a teoria exposta por Gorz aborde questões importantes, acaba por se limitar a uma abordagem embasada no pessimismo em relação ao socialismo, tendo em vista que não aponta nenhuma possibilidade de esperança a classe operaria, e numa inflexão ao liberalismo, já que, designa aos indivíduos e suas aspirações pessoas o papel de agente da luta pela emancipação humana.

Outra critica a Gorz é apresentada por Ângela Borges em seu artigo “O Capital e a

Mão invisível do Mercado: Notas Debate Sobre a Centralidade do Trabalho no Capitalismo Contemporâneo” (BORGES, 2000) onde sugere que muitos dos autores que pregam o fim do

trabalho como categoria sociológica central tomam como base as transformações sócias e na produção ocorridas a partir dos anos 1970. Para a autora todas as teses de “fim do trabalho” ou “fim das classes” em síntese se baseiam na diminuição de trabalhadores de chão de fabrica, desemprego estrutural e a flexibilização dos direitos trabalhistas. Com tudo, Borges se questiona se a ciência econômica não estaria defasada para dar conta da apreensão da realidade contemporânea. A autora apresenta um estudo realizado pela Organização

Internacional do Trabalho2

Outro autor que faz critica as suposições apresentadas por Gorz de que o desemprego estrutural indicaria a possibilidade de êxodo da sociedade capitalista é Eleutério F. S. Prado no artigo “Certezas do presente, ilusão do Possível” (PRADO, 2006). Para Prado as teses exposta por Gorz tem o sentido de negação da ideia de que a crise do sistema capitalista levaria a possibilidade de emancipação humana. Segundo o autor o sociólogo franco-austríaco ignora o fato de que grande parte dos empregos perdidos no setor industrial ter sido incorporado pelo setor de serviço e que países como asiático tiveram forte crescimento industrial nos anos seguintes a década de 70.

aonde indica que o capital vem migrando cada vez mais para a periferia, além disso, aponta também que a maioria dos dados conseguidos são referentes a economias desenvolvidas e conseguido através do estado. Em sua opinião essa falta de dados seguros a respeito da situação econômica dos países periféricos apontaria para uma incapacidade de analisar a sociedade a partir da indicação de que o trabalho não seria mais central.

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Ainda sobre esse viés critico, Marcelo B. Mattos em “Classes Sociais e Luta de Classe

a Atualidade de um debate conceitual” (MATTOS, 2007) indica também o fato de que os

empregos perdidos com a crescente taxa de diminuição do trabalho fabril tipicamente fordista foram incorporados por outros setores, como por exemplo o setor de serviços e não culminaram como esperava Gorz em um possibilidade de negação e êxodo do capitalismo. Para Mattos ainda se mantem a relação essencial ao capitalismo que é a de explorado e explorador e por isso é errôneo postular o fim do trabalho e das classes sociais como instrumental central de analise social. Na verdade o que ocorre em sua opinião e uma reformulação estrutural na classe, o que indicaria a necessidade de alongar o conceito de classe e não em substitui-lo.

Em uma abordagem um pouco diferente, Ricardo Abramovay em seu artigo “Anticapitalismo e Inserção Social dos Mercados” (ABRAMOVAY, 2007) indica, assim como Gorz, que a racionalidade econômica é insuperável e que a tomada dos meios de produção não conduziria a uma superação do sistema capitalista. Com tudo, diferentemente de Gorz, para Abramovay não se trata de expandir o mundo da autonomia tentando protege-lo da racionalidade econômica, mas sim, de compreender o funcionamento do mercado contemporâneo para poder organiza-lo a fim de torna-lo menos alienante. Segundo Abramovay a tese de Gorz esta norteada pela ideia de liberdade humana, emancipação da esfera do mercado para poder se realizar na esfera autônoma da vida social. Porem o autor indica que não é possível pensar em ação humana livre, já que, toda a ação humana sofreria influencia de determinantes externos ao controle de seus atores, impossibilitando a tese de Gorz de controle sobre a racionalidade econômica capitalista pelo estado e sociedade civil.

Em “Capitalismo e Utopia na Teoria Social de André Gorz” (CAMARGO, 2006) Silvio Camargo conclui que a teoria proposta por Gorz esta norteada pela luta por tempo fora de esfera econômica do trabalho, êxodo do capitalismo para uma sociedade dual, e á renda básica universal capaz de permitir a existência objetiva plena fora da racionalidade econômica. Com tudo, apresenta uma problemática ao pensamento de gorziano, tendo em vista, que o capitalismo não extinguiria a relação explorado e explorador, a tese de Gorz indica o fim do proletariado e o surgimento de uma nova classe incapaz de por em pratica o projeto de revolução social socialista.

Outro ponto de critica a teoria de Gorz encontrado nos levantamento dessa pesquisa é influenciado por uma leitura próxima as concepções de Weber e Bourdieu. Seguindo uma abordagem que tem como eixo central a subjetividade para se pensar o trabalho e as classes como categoria central para explicar a sociedade contemporânea.

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Para Misael de Sousa Santos em seu artigo “A Subjetividade Operaria: Algumas

Considerações Iniciais” (SOUZA SANTOS, 2002) indica que ao se tratar da centralidade ou

não do trabalho, e consequentemente do uso ou não da ideia de classe, é preciso levar em

consideração antes de tudo o trabalhador. Citando Graça Druck3

Ainda levando em conta a questão da subjetividade como instrumento central para pensar as classes Brasílio Sallum Jr. em “Classes, cultura e ação coletiva” (SALLUM JR., 2005) aponta que a teoria sobre classe social foi abordada nos últimos anos relacionada a outros conceitos como o sexo, etnia, cultura. Para Sallum JR. Isso indica que a teoria proposta por Marx não daria mais conta de explicar a dinâmica de movimentos de massa. Apesar de ter em comum com Gorz a indicação de que a teoria das classes sociais não é mais central para analisar a sociedade, mesmo que chegando a essa conclusão por outras abordagens, o autor aponta Bourdieu, com sua noção de Habitus e em uma aproximação do marxismo com o weberianismo, como sendo o autor que desenvolve mais adequadamente uma teoria para explicar as classes sociais.

“(...) é um erro pensar o trabalho como as condições objetivas e não pensar o trabalho, considerando sua subjetividade.” Para o autor o trabalho em Marx tem duas dimensões a ontológica e a

histórica, a ontológica se configura como o homem se realizando através de seu trabalho e a histórica como o conjunto de praticas econômicas. Por tanto, segundo o autor, o trabalho jamais perderia sua capacidade de construir ao homem objetiva e subjetivamente e dessa forma pensar a perda de centralidade do trabalho e por consequência o fim das classes é um equivoco.

Em um terceiro ângulo analítico temos Edmundo Fernandes Dias, em seu artigo

“’Reestruturação produtiva’: forma atual da luta de classes” (DIAS, 2006) embora não

dialogue diretamente com Gorz, se posiciona contrario a tese de fim das classes sociais. Para o autor a teoria de classe social é fundamental para se realizar uma analise social. Em sua opinião as mudanças ocorridas no processo de produção capitalistas não levariam a uma negação da teoria de classe social, mas sim demonstram somente a capacidade do capital de se modificar para aumentar seu domínio. Para Dias é necessário ao capital manter a aparência de neutralidade no processo de produção e a reestruturação produtiva somente indica uma tentativa de subjugar a luta de classe e deixá-la em segundo plano (Dias, 2006).

3 Interferência feita pela professora doutora Graça Druck durante a realização do Ciclo de Debates Trabalho e

Mediações. Trabalha e Classe: a Mediação e a Construção Social realizada na Faculdade de Filosofia e Ciências

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No mesmo viés analítico Joana El-Jaick em seu artigo “O ocaso da sociedade do

trabalho? reflexões sobre a crise do paradigma do trabalho nas sociedades capitalistas contemporâneas” (ANDRADE, 2008) indicaria que a heterogenização vista por Gorz como

um problema estrutural para classe trabalhadora na verdade se configura somente como resultado de um processo dialético inerente a sociedade. Segundo Andrade, Gorz entende classe a partir da ideia de trabalho como elemento estruturante central o que em sua visão é um equivoco, tendo em vista que a classe se da no processo de luta e vivencia da relação entre explorado e explorador. A autora conclui que na verdade é necessária a criação de uma nova estratégia para a classe trabalhadora visando ações locais e regionais contra abusos específicos e não uma ação centralizada e homogenia.

Já Henrique Amorim, em “Reforma, Crise e Revolução em André Gorz” (AMORIM, 2008), defende que as teses elaboradas por Gorz são decorrentes de uma leitura voltada sobre tudo para fatores econômicos e influenciada pela tese do primado das forças produtivas. Em suas palavras, “[...] o fundamento de suas teses está ancorado em uma leitura economicista

do desenvolvimento das forças produtivas, partindo da associação, em certos momentos diretos, em outros, indireta, entre qualificação técnica do coletivo de trabalhadores e as possibilidades de efetivação de uma luta anticapitalista” (AMORIM, 2008: 156). Segundo o

autor, ao pensar as relações sociais capitalistas na produção como insuperáveis, Gorz abre a critica “sobre as novas formas de representação política dos trabalhadores e acaba por

romper com as teses vinculadas à perspectiva revolucionária da história” (AMORIM, 2008:

156). Para Amorim, essa leitura de Gorz sobre as metamorfoses no, e do sistema de produção capitalista, se mostraram a certo ponto resignada aos interesses do capital, pois, todas as utopias revolucionarias foram caracterizadas como ultrapassadas e foi assumido o caráter insuperável do capital (AMORIM, 2006 e 2008).

Essa pesquisa se apresenta com uma pequena inserção dentro de uma discussão teórica ampla e complexa o que nos leva apenas a apontar algumas indicações sobre a influencia das teses de Gorz sobre a sociologia brasileira. Em um primeiro momento percebemos que a grande maioria dos artigos selecionados direcionava sua critica a teoria de Gorz tomando como base o postulado de que o trabalho é central para entender e determinar a sociedade. Com tudo temos a impressão de que o eixo critico capaz de melhor responder as questões sociais contemporâneas se apresenta embasado em considerar a classe não somente como fruto de determinações econômicas, mas, como uma complexa teia de relações sociais. O filosofo francês Daniel Bensaid em sua obra “Marx, o Intempestivo” (BENSAID, 1999) aponta que em Marx não ha uma noção estrutural de classe com base no trabalho ou um

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simples soma de indivíduos, mas sim, uma totalidade relacional. Ainda nesse viés E.P. Thompson no inicio da “Formação da Classe Operaria Inglesa” (THOMPSON, 2010) aponta que a classe não se constituiria de uma estrutura ou de uma categoria, mas, de algo que ocorreria como fruto de um processo de relações sociais diferentes e aparentemente não conectadas, tanto na experiência objetiva como na consciência (THOMPSON, 2010).

Em suma acreditamos que a sociologia brasileira ao absorver as teses de Gorz o fez de maneira critica, sendo essa critica marcada, horas por um postulado de centralidade do trabalho, hora pela constatação da necessidade de expansão do conceito de classe para se levar em conta aspectos subjetivos, ou, pela consideração mais abrangente de classe que a considera como um processo relacional e não em sua relação única com a categoria trabalho. Levando em consideração que essa pesquisa foi realizada em um intervalo de 5 messes, acreditamos ser necessário a renovação dessa pesquisa por mais um ano com a finalidade de permitir resultados mais abrangentes sobre a influencia de Gorz na sociologia brasileira e a discussões de alguns conceitos cunhados sobre a influencia da análise de Gorz.

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