Transmiss˜
ao de Calor – Problemas 1, 3, 4 e 9
(Resolu¸
c˜
ao Completa)
1. Considere condu¸c˜ao de calor unidimensional numa parede plana, em regime estacion´ario, sem gera¸c˜ao interna de energia t´ermica e com condutibilidade t´ermica (k) constante. Nestas condi¸c˜oes, impondo as temperaturas T (x = x0,ref) = Tmax e T (x = xL,ref) = Tmin (< Tmax) e considerando
k = kref obt´em-se a distribui¸c˜ao de temperaturas apresentada na figura (“Referˆencia”) e o fluxo de
calor correspondente ´e dado por q00x,ref = q00x,refi. Considerando q00x,ref e Tmax (temperatura m´axima
Problema 1
na parede) para os Casos 1–3 (ver figura), indique, justificando: (a) qual dos perfis apresentados para o Caso 1 ´e obtido se k > kref;
Resolu¸c˜ao: qx00 = qx,ref00 ⇔ kdT dx = kref dT dx ref ⇔ ⇔ kref k = dT /dx (dT /dx)ref < 1 ⇔ dT dx < dT dx ref (1)
Perfil A.
(b) qual dos perfis apresentados para o Caso 2 ´e obtido se L < Lref(= xL,ref − x0,ref); e
Resolu¸c˜ao: q00x = qx,ref00 ⇔kdT dx =kref dT dx ref ⇔ ⇔ dT dx = dT dx ref (2)
Dos trˆes perfis apresentados para o Caso 2, o ´unico que respeita dT /dx = (dT /dx)ref ´e o Perfil B.
(c) qual dos perfis apresentados para o Caso 3 ´e obtido se q00x = −q00x,ref. Resolu¸c˜ao: q00x = −qx,ref00 ⇔kdT dx = −kref dT dx ref ⇔ ⇔ dT dx = − dT dx ref (3)
Dos trˆes perfis apresentados para o Caso 3, o ´unico que respeita dT /dx = − (dT /dx)ref ´e o Perfil C.
3. Uma superf´ıcie plana com uma ´area de 2 m2 (A) e temperatura de 350 K (T
s) ´e arrefecida
convec-tivamente por diferentes fluidos (em diferentes regimes de convec¸c˜ao) mas com uma temperatura constante e igual a 300 K (T∞). Com base nos dados apresentados na tabela, determine as
maio-res e menomaio-res taxas de transferˆencia de calor que poder˜ao ser obtidas durante o processo de Problema 3
Aplica¸c˜oes Coeficiente de Convec¸c˜ao (h [W m−2K−1]) – Gama T´ıpica Convec¸c˜ao Natural Gases 2 − 25 L´ıquidos 50 − 1000 Convec¸c˜ao For¸cada Gases 25 − 250 L´ıquidos 50 − 20000 arrefecimento para: (a) convec¸c˜ao natural; e
Resolu¸c˜ao:
Considerando a taxa de transferˆencia de calor calculada a partir da lei de arrefecimento de Newton tem-se:
qconv = hA (Ts− T∞) (4)
onde, A = 2 m2, Ts = 350 K e T∞ = 300 K. O coeficiente de transferˆencia de calor por
convec¸c˜ao (ou simplesmente “coeficiente de convec¸c˜ao”), h, ´e obtido directamente da tabela. Uma vez que qconv ∝ h (ver Equa¸c˜ao (4)), as maiores (menores) taxas de transferˆencia de
calor para cada regime s˜ao obtidas para os maiores (menores) coeficientes de convec¸c˜ao. A tabela mostra que independente do regime de convec¸c˜ao (convec¸c˜ao natural ou for¸cada) os valores m´ınimos (m´aximos) para o coeficiente de convec¸c˜ao s˜ao observados para os gases (l´ıquidos).
Substituindo os valores correspondentes na Equa¸c˜ao (4), obtˆem-se as respostas pretendidas. hmin = 2 W m−2K−1 ⇒ qconv,min = 2 × 2 (350 − 300) ⇔ qconv,min = 200 W (5)
hmax = 1000 W m−2K−1 ⇒ qconv,max = 1000 × 2 (350 − 300) ⇔ qconv,max= 1 × 105W (6)
(b) convec¸c˜ao for¸cada. Resolu¸c˜ao:
Seguindo o mesmo procedimento da al´ınea anterior, tem-se:
hmin = 25 W m−2K−1 ⇒ qconv,min = 100 × 2 (350 − 300) ⇔ qconv,min = 2500 W (7)
hmax= 20000 W m−2K−1 ⇒ qconv,max= 20000 × 2 (350 − 300) ⇔
⇔ qconv,max= 2 × 106W
4. Uma placa plana tem uma superf´ıcie isolada e a outra exposta ao sol. A superf´ıcie exposta ao sol absorve radia¸c˜ao `a taxa de 800 W m−2 (Gabssol) e perde calor por convec¸c˜ao para o ar ambiente e por radia¸c˜ao para as superf´ıcies envolventes. Considere a emissividade da superf´ıcie exposta ao sol () igual a 0.8 e o coeficiente de convec¸c˜ao do ar ambiente (h) igual a 12 W m−2K−1. Se a temperatura do ar ambiente (T∞) e a temperatura das superf´ıcies envolventes (Tsur) forem iguais
a 40◦C e 20◦C, respectivamente, determine a temperatura da placa (Tp) em regime estacion´ario.
Resolu¸c˜ao:
Aplicando um balan¸co de energia `a placa tem-se: ˙
Ein− ˙Eout+ ˙Eg = ˙Est (9)
A Equa¸c˜ao (9) pode ser simplificada tendo em conta o seguinte:
como o regime ´e estacion´ario – n˜ao existem varia¸c˜oes temporais de temperatura (i.e., dT /dt = 0) –, o termo de acumula¸c˜ao de energia t´ermica no interior da placa, ˙Est
(= ρV c dT /dt), ´e nulo; e
uma vez que no interior da placa n˜ao h´a gera¸c˜ao de energia t´ermica (resultante da con-vers˜ao de outra forma de energia, como el´ectrica, qu´ımica, ou nuclear), o termo ˙Eg ´e
nulo.
Considerando estas hip´oteses simplificativas, a Equa¸c˜ao (9) d´a origem `a Equa¸c˜ao (10). ˙
Ein= ˙Eout (10)
Os termos ˙Ein e ˙Eout (Equa¸c˜ao (10)) s˜ao obtidos considerando as respectivas contribui¸c˜oes de
transferˆencia de energia energia t´ermica (calor) atrav´es da superf´ıcie da placa exposta ao sol (ver figura), tal como as Equa¸c˜oes (11) e (12) descrevem.
˙
˙ Eout = A h (Ts− T∞) | {z } q00 conv + σ Ts4− Tsur4 | {z } q00rad (12)
Na Equa¸c˜ao (12), qconv00 e q00radcorrespondem aos fluxos de calor convectivo e radiativo na superf´ıcie da placa exposta ao sol. Considerando as Equa¸c˜oes (11) e (12), a Equa¸c˜ao (10) pode escrever-se de acordo com a Equa¸c˜ao (13).
AGabssol = Aqconv00 + Aqrad00 ⇔ Gabssol = h (Tp− T∞) + σ Tp4− T 4 sur ⇔ ⇔ 800 = 12 [Tp− (40 + 273,15)] + 0,8 × 5,67 × 10−8Tp4− (20 + 273,15) 4 ⇔ ⇔ −4,536 × 10−8Tp4− 12Tp+ 4892,79 = 0 ⇒ Tp ≈ 350,6 K (77,5◦C) (13)
Note que nas express˜oes para os fluxos de calor radiativo e convectivo (Equa¸c˜ao (13)), a tem-peratura da superf´ıcie da placa que troca calor com exterior (vari´avel Ts na Equa¸c˜ao (12)) ´e
substitu´ıda pela temperatura da placa (Tp) uma vez que toda a placa se encontra `a mesma
temperatura (Tp = Ts). A condi¸c˜ao de placa isot´ermica deve-se ao facto de uma das superf´ıcies
9. Considere condu¸c˜ao de calor numa placa rectangular em regime estacion´ario. A superf´ıcie x = 0 ´e aquecida electricamente com um fluxo de calor q000 . A superf´ıcie x = a ´e mantida `a temperatura T0. A superf´ıcie y = b ´e mantida isolada. A superf´ıcie y = 0 dissipa calor por convec¸c˜ao para
um meio `a temperatura T∞ e com um coeficiente de convec¸c˜ao h. A condutibilidade t´ermica do
material ´e uniforme e n˜ao h´a gera¸c˜ao interna de energia. Formule o problema de condu¸c˜ao de calor, estabelecendo a equa¸c˜ao que rege a distribui¸c˜ao de temperaturas na placa e as condi¸c˜oes de fronteira.
Resolu¸c˜ao:
A figura seguinte apresenta uma representa¸c˜ao esquem´atica do enunciado. No interior da placa plana o mecanismo de transporte de calor ´e exclusivamente difusivo (condu¸c˜ao de calor).
A forma geral da equa¸c˜ao de difus˜ao de calor – equa¸c˜ao que governa a distribui¸c˜ao (espacial e temporal) de temperaturas em meios homog´eneos e sem contribui¸c˜ao advectiva (movimento macrosc´opico de fluidos) obtida atrav´es da aplica¸c˜ao do princ´ıpio da conserva¸c˜ao de energia considerando o transporte de calor no interior do meio exclusivamente por difus˜ao (condu¸c˜ao) – ´e descrita pela Equa¸c˜ao (14).
∇ · (k∇T ) + ˙q = ρcp
∂T
∂t (14)
Para coordenada cartesianas (x, y, z), o primeiro termo do primeiro membro da equa¸c˜ao anterior corresponde aos trˆes primeiros termos do primeiro membro da Equa¸c˜ao (15).
∂ ∂x k∂T ∂x + ∂ ∂y k∂T ∂y + ∂ ∂z k∂T ∂z + ˙q = ρcp ∂T ∂t (15)
1. como o problema ´e bidimensional (no plano (x, y)) desprezam-se gradientes de tempera-tura (fluxos de calor) na direc¸c˜ao ortogonal (direc¸c˜ao z) e, consequentemente, o termo ∂/∂z (k∂T /∂z) ´e nulo.
2. como o regime ´e estacion´ario, a temperatura n˜ao tem dependˆencia temporal (i.e., ∂T /∂t = 0) e, assim, o ´unico termo do segundo membro da equa¸c˜ao, ρcp∂T /∂t, ´e nulo.
3. uma vez que n˜ao existe gera¸c˜ao de energia t´ermica no interior da placa, o quarto termo do primeiro membro da equa¸c˜ao, ˙q, ´e nulo.
4. como a condutibilidade t´ermica k ´e constante em todo o dom´ınio da placa, ∂k/∂x = ∂k/∂y = 0 e, consequentemente, a equa¸c˜ao que governa a distribui¸c˜ao de temperaturas na placa n˜ao vai apresentar dependˆencia de k.
Com as simplifica¸c˜oes descritas, a Equa¸c˜ao (15) resulta na Equa¸c˜ao (16). ∂2T
∂x2 +
∂2T
∂y2 = 0 (16)
A Equa¸c˜ao (16) governa a distribui¸c˜ao de temperaturas no interior da placa. Contudo, a tempe-ratura particular em cada ponto da placa T (x, y) depende da intera¸c˜ao da placa com o ambiente envolvente atrav´es das fronteiras da placa. Estas intera¸c˜oes s˜ao consideradas matematicamente atrav´es da defini¸c˜ao de condi¸c˜oes de fronteira. De acordo com o enunciado do problema, as quatro fronteiras da placa (x = 0, x = a, y = 0 e y = b) est˜ao sujeitas a diferentes condi¸c˜oes t´ermicas, como as condi¸c˜oes de fronteira descrevem em seguida.
x=0: −k∂T ∂x x=0 = q000 (17)
A Equa¸c˜ao (17) representa uma condi¸c˜ao de fronteira de Segundo Tipo (ou de Neumann ou, simplesmente, de fluxo imposto). Esta equa¸c˜ao indica que o fluxo de calor atrav´es da superf´ıcie x = 0 ´e igual a q000.
x=a:
T (x = a, y) = T0 (18)
A Equa¸c˜ao (18) representa uma condi¸c˜ao de fronteira de Primeiro Tipo (ou de Dirichlet ou, simplesmente, de valor imposto).
y=0: −k∂T ∂y y=0 = h [T∞− T (x, y = 0)] (19)
A Equa¸c˜ao (19) representa uma condi¸c˜ao de fronteira de Terceiro Tipo (ou de convec¸c˜ao). Esta equa¸c˜ao indica que o fluxo de calor que atravessa a surperf´ıce y = 0 ´e igual o fluxo de calor removido por convec¸c˜ao.
y=b: ∂T ∂y y=b = 0 (20)
Esta condi¸c˜ao de fronteira (Equa¸c˜ao (20)) ´e um caso particular das condi¸c˜oes de fronteira de Segundo Tipo (ver Equa¸c˜ao (17)) uma vez que especifica que o valor do fluxo imposto ´e nulo – ou seja, n˜ao existe transferˆencia de calor atrav´es da superf´ıcie y = b (superf´ıcie adiab´atica).
A figura seguinte apresenta distribui¸c˜oes de temperatura (primeira linha) e vectores de fluxo de calor, q00(segunda linha) para o problema em quest˜ao considerando as condi¸c˜oes apresentadas – parˆametros geom´etricos (a e b), condutibilidade t´ermica (k), fluxo imposto em x = 0 (q000), tem-peratura imposta em x = a (T0) e temperatura do fluido (T∞). Trˆes casos s˜ao apresentados
refe-rentes a diferefe-rentes valores para o coeficiente de convec¸c˜ao (h) – h = {10; 100; 1000} W m−2K−1. A temperatura no interior das placas ´e calculada recorrendo `a equa¸c˜ao ∇2T = 0 (Equa¸c˜ao (16)).
O aumento do coeficiente de convec¸c˜ao promove um aumento da remo¸c˜ao de energia t´ermica (calor) atrav´es da superf´ıcie y = 0. Como consequˆencia, as temperaturas na placa diminuem, sendo esta diminui¸c˜ao particularmente vis´ıvel nas proximidades da superf´ıcie y = 0. Repare que como a superf´ıcie y = b ´e adiab´atica as isolinhas de temperatura (linhas de temperatura cons-tante) s˜ao perpendiculares a esta superf´ıcie. (Os vectores de fluxo de calor s˜ao perpendiculares `
as isolinhas de temperatura.) Assim, em y = b os vectores de fluxo de calor tˆem componente nula segundo y (q00y = 0) o que respeita a respectiva condi¸c˜ao de fronteira (Equa¸c˜ao (20)). Consi-derando o valor mais baixo para o coeficiente de convec¸c˜ao (h = 10 W m−2K−1), verifica-se um caminho preferencial para a transferˆencia de calor da superf´ıcie x = 0 para a superf´ıcie x = a (ver isolinhas de temperatura e vectores de fluxo de calor).
Considere uma parede (plana, cil´ındrica ou esf´erica) representada nas seguintes figuras (Caso A e Caso B). A dimens˜ao espacial de referencia, ξ, corresponde a x (ou a qualquer outra direc¸c˜ao cartesiana – y ou z) para paredes planas e a r para sistemas radiais (paredes cil´ındricas e esf´ericas). Considere que duas das superf´ıcies da parede est˜ao submetidas a trocas de calor por convec¸c˜ao devido ao contacto destas com fluidos adjacentes – superf´ıcies ξ = ξ1 e ξ = ξ2. A
´
unica diferen¸ca entre os dois casos ´e o sentido do eixo ξ. As condi¸c˜oes de fronteira em cada uma das superf´ıcies dependem da orienta¸c˜ao do eixo ξ em rela¸c˜ao `a parede (compare as Equa¸c˜oes (21) e (23) e as Equa¸c˜oes (21) e (23)). Caso A ξ = ξ1: −k∂T ∂ξ ξ=ξ1 = h [T∞− T (ξ = ξ1)] (21) ξ = ξ2: −k∂T ∂ξ ξ=ξ2 = h [T (ξ = ξ2) − T∞] (22) Caso B ξ = ξ1: −k∂T ∂ξ ξ=ξ1 = h [T (ξ = ξ1) − T∞] (23) ξ = ξ2: −k∂T ∂ξ ξ=ξ2 = h [T∞− T (ξ = ξ2)] (24)
Repare que a condi¸c˜ao de fronteira em y = 0 (Equa¸c˜ao (19)) corresponde `a mesma condi¸c˜ao de fronteira em ξ = ξ1para o Caso A (Equa¸c˜ao (21)) ou em ξ = ξ2 para o Caso B (Equa¸c˜ao
(24)).
Se se considerasse em y = b trocas de calor por convec¸c˜ao (em vez de se considerar esta superf´ıcie como perfeitamente isolada – adiab´atica) a condi¸c˜ao de fronteira correspondente seria semelhante `a observada em ξ = ξ2 para o Caso A (Equa¸c˜ao (22)) ou em ξ = ξ1 para
o Caso B (Equa¸c˜ao (23)), ou seja, seria descrita pela Equa¸c˜ao (25). −k∂T ∂y y=b = h [T (x, y = b) − T∞] (25)