• Nenhum resultado encontrado

essencial para a estrutura a foraclusão do Nome-do-Pai. Contudo, para que haja o

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "essencial para a estrutura a foraclusão do Nome-do-Pai. Contudo, para que haja o"

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

PÔSTER 24

O corpo e o laço social nas psicoses ordinárias (The body and the social bond in ordinary psychoses )

Helen de Araújo Linhares (Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil.), Cleide Pereira Monteiro (Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil.), Marcella Ribeiro de Matos Pinto (Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil.) e Eva Maria Lins Silva (Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil.)

Resumo

As soluções do psicótico com a estranheza de um corpo e a feitura de um laço social – por não estar localizado em um discurso – nos ajudam a ampliar a visão sobre a as psicoses para além da clínica estrutural, em que se encontrava bem delimitada a diferença entre as estruturas psíquicas. Estes aspectos – o corpo e o laço social – são problemas centrais na clínica das psicoses, ilustrados a partir de seus tipos clínicos: esquizofrenia e paranoia. A esquizofrenia ensina sobre a complicada relação do sujeito para constituir um corpo; e a paranoia vem orientar sobre a relação do sujeito com o vínculo social, quando existe a peculiar condição de fora do discurso. As chamadas psicoses ordinárias também dizem desse esgarçamento subjetivo para lidar com a condição de se ter um corpo e de se conviver em um mundo onde há outros com os quais se faz laço. Pretende-se abordar estes aspectos comuns aos tipos clássicos a partir do que acontece com o corpo e o laço social nas chamadas psicoses ordinárias.

Palavras-chaves: Corpo; laço social; psicose ordinária.

Introdução

A clínica possível das psicoses, em que Lacan se debruça, postula como fator essencial para a estrutura a foraclusão do Nome-do-Pai. Contudo, para que haja o desencadeamento, é ainda necessário outro fator, a causa complementar. Logo, essa falha no simbólico acarretaria um déficit no nível de gozo.

A ideia de tentativa de cura através do delírio iniciada por Freud é seguida por Lacan, e sustenta-se no fato que a estrutura clínica é um mecanismo de defesa contra aquilo não suportado, o real, por isso nomeada como a clínica universal do delírio (Miller, 1996).

Na psicose, busca-se preencher o vazio deixado pela ausência do Nome-do-Pai. A falta de significação fálica viabiliza o desencadeamento, que merece uma sutileza, já que a estabilização fica à mercê de qualquer evocação à lei simbólica.

(2)

A crença delirante do psicótico é algo irrevogável, onde não se trata da realidade, mas de uma certeza plena para o sujeito. Como dito por Lacan, no Seminário 3: “É a esse delirante com caráter de certeza que confere a seu testemunho um relevo essencial.” (Lacan, p.94). O fenômeno psicótico é, portanto, uma saída desesperada de atribuir sentido àquilo que não o tem. Ressalta-se que o delírio não necessariamente foge completamente de um discurso normal, dando possibilidade ao sujeito de se manter em seu mundo, onde ainda há alguma comunicação acessível e satisfatória.

Na clínica psicanalítica das psicoses, corpo e laço social são duas problemáticas presentes, predominantemente, nos dois tipos clínicos: a esquizofrenia e a paranoia. No entanto, o presente trabalho pretende abordar estas questões no campo das chamadas psicoses ordinárias, em que aparecem casos ditos impossíveis de classificar quando vistos de uma perspectiva eminentemente estruturalista.

Esta reflexão tem importância no desafio constante dos psicanalistas de oferecer uma clínica à altura da atualidade, com escuta atenta para novos chamamentos. Vindos de determinadas demandas de tratamento, esses novos chamamentos colocam em cheque a demarcação clínica das psicoses ancorada em fenômenos elementares. Assim, não se trata de recorrer a determinadas categorias, como borderline ou “personalidade narcísica”, mas de considerar que no próprio campo das psicoses, algo se modificou como consequência de transformações ocorridas nas grandes vias do simbólico.

O termo psicose ordinária foi inventado e introduzido por Jacques-Alain Miller, por ocasião da Convenção de Antibes em 1998, após a Conversação de Arcachon realizada em 1997, onde se questionaram preceitos clássicos de uma clínica das psicoses, pois se percebeu o crescente número de casos de psicose que aparentemente não se tratariam como tal por não apresentar delírios ou alucinações. Ao introduzir o termo psicose ordinária, Miller nos instrui a pensar sobre as estruturas clínicas, como uma

(3)

tentativa de escapar do binarismo psicanalítico, onde a neurose e psicose são os principais alvos de enquadramento.

É o último ensino de Lacan que ajuda a delimitar melhor essa novidade chamada psicose ordinária, definida por Miller como a psicose do tempo do Outro que não existe. É uma psicose que não responde aos significantes-mestres tradicionais, denunciando certa falência do Nome-do-pai como único significante da lei simbólica. Em contraposição às psicoses advindas da tradição, em que há uma exuberância clara dos fenômenos elementares, como a presença das alucinações e delírios, nas psicoses ordinárias faltam esses elementos extraordinários. Lembremo-nos de Schreber, tomado como paradigma das psicoses extraordinárias, que vem se consagrar a encarnar a posição de exceção a partir da construção de uma metáfora delirante, ser “A mulher que falta a Deus”. O que a psicose ordinária faz é justamente colocar por terra esse princípio de exceção; o termo ordinário sugere precisamente isso: não excepcional, comum, banal.

Trata-se de uma categoria que foge da objetividade, de fato, é uma clínica dos pequenos indícios, onde a intensidade dos acontecimentos é imprescindível. Não existe aqui o Nome-do-Pai, mas há algo que o suplementa, apropria-se da personalidade “como se”, uma maneira compensatória para a foraclusão do Nome-do-Pai. Ao retomar Lacan: “Uma desordem [...] na junção mais íntima do sentimento de vida no sujeito.”, a questão da desordem é posta em evidencia, e essa se localiza na maneira que o sujeito encara o mundo que o cerca, o seu próprio corpo e suas ideias.

Assim, o que as psicoses ordinárias ensinam é que se deve recorrer a uma clínica mais elástica, continuísta e fundada na generalização da loucura. Se “todo mundo é louco” é na medida em que a função paterna não assegura a universidade do Édipo. Portanto, é preciso buscar a desordem nos pequenos indícios, que venham nos dizer que estamos diante de uma psicose. Miller organiza essa desordem a partir de uma tríplice

(4)

externalidade: uma externalidade social, uma externalidade corporal e uma externalidade subjetiva.

A externalidade social se expressa na dificuldade em assumir posições de identificação social, não conseguindo assumir sua função social. O sujeito não se ajusta, como se estivesse desligado, desconectado do seu redor. Já na externalidade corporal há a estranheza do corpo, o corpo só existe em sua cabeça. O corpo se desfaz, e é necessário que este se invente para si laços artificiais, para assim poder apropriar-se do seu corpo. Na externalidade subjetiva, por sua vez, experimenta-se a vacuidade, o vazio. Na psicose ordinária se busca um índice do vazio e do vago de natureza não dialética (Miller, 2010).

Caso clínico

Um caso ilustra essa desordem, atendido por uma extensionista do Projeto Aimee¹, do curso de Psicologia da Universidade Federal da Paraíba, em um ambulatório da rede pública. A sessão de início vem carregada de elementos, em que Raquel elenca, para chegar à causa de sua angústia, sua principal reclamação: “Doutora, é uma angústia, uma agonia que eu não tenho vontade de fazer nada.”. Percebe-se não se tratar de uma angústia neurótica proveniente da castração. Faz um breve relato dos últimos acontecimentos de sua vida que julgou serem pontos importantes. A morte de seu irmão aparece de imediato, com a voz trêmula, traz a tristeza que foi para si não só a morte, mas como ela se deu: “foi por conta de droga, mataram ele”, demonstrando a dificuldade de lidar com a perda do objeto. Depois, sofre um assalto, o que compromete sua relação com o outro, pois o medo agora é recorrente em todas as esferas de sua vida. Chama a atenção da analista um evento e, como há de ser sempre em psicanálise, seu relato: a paciente se encontra em um ônibus, no acento da janela, onde privilegia a visão para além do veículo. Durante o percurso, diz ter havido um trancamento por outro carro, o qual, ao frear diante

(5)

de sua janela, expele uma fumaça preta, a qual é inalada por Raquel, e que apresenta ressonâncias no corpo.

Após o incidente, Raquel teve um leve mal-estar, que foi ignorado na esperança de ser passageiro, mas retornando ao trabalho, teve um novo mal-estar ainda relacionado à inalação da fumaça, segundo crê. Socorrida e levada a um hospital para pronto atendimento, foi aconselhada a procurar ajuda em uma terapia, pois como dito pela enfermeira de plantão, “Raquel, você não tem nada, seu problema é psicológico”, ponto em que Raquel afirma seu fenômeno de corpo: “Mas você não entende, tem uma coisa me sufocando!”. Surge outro elemento, a coluna “travada” que a impossibilita dos afazeres domésticos, cuja causa Raquel atribui a uma injeção que lhe foi aplicada no momento em que chegou ao hospital, fato que ocorreu há um ano. O que nos causa estranheza pela percepção da temporalidade da paciente, pois os efeitos de uma injeção perduravam no corpo mesmo após um ano. Antigas ressonâncias.

Desde esta época, Raquel está movimentando um processo contra o INSS, e desde que parou de trabalhar não conseguiu benefício algum, o que lhe angustia, afinal, não mais ajuda cotidianamente no funcionamento da casa. O que a faz se colocar mais uma vez no lugar de objeto ou um “peso” para o marido, como diz. A partir de então, estabelece a dependência em relação ao companheiro, ou pelo menos, esta demonstra agora mais claramente a difícil posição de objeto do Outro presente na psicose. Ela reafirma essa mesma posição quando diz sobre sua insegurança na relação matrimonial, sente-se “metade de uma mulher”. Invadida pela insistência dele em permanecer, isso chega para Raquel como um mandado de Deus, demonstrando mais uma vez a posição de gozo do Outro. Leva-nos à externalidade subjetiva, a firmeza com que se identifica com o objeto a como dejeto, retirando-se do campo simbólico e se introduzindo no real (Miller, 2010).

(6)

Para além do medo que lhe ocorre, agora existe também a impossibilidade de continuar atuando em seu trabalho, o que tende a agravar o quadro ao comprometer o laço social de forma mais contundente. Existe então um desligamento, a incapacidade de assumir uma função social através de uma barreira invisível, caracterizando a externalidade social (Miller, 2010).Há um desenganche do sujeito em relação ao Outro social, relação tida como negativa (Brodsky, 2011).

Seu contexto familiar mais próximo é constituído pelo marido, como dito anteriormente, e dois filhos, “o menino” e “a menina”, maneira um tanto peculiar através da qual Raquel se refere a eles, de alguma forma encobrindo a presença filial, sua impaciência com crianças aparece com frequência. Conta sobre um momento que não se conteve diante da desobediência de seus filhos, levando-a a espanca-los, sobre isso diz: “Era como se eu não tivesse ali”, o que consiste um fenômeno de corpo. Miller retoma a etimologia da palavra, logo, aquilo que aparece e aquilo que é surpreendente, sendo assim, algo que aparece tendo o suporte do corpo e que faz sintoma para o sujeito, sem causar lesão (Antíbes, 1998), evidencia-se que a paciente usou de seu corpo, apenas seu corpo. Alguns momentos foram confundidos quanto à presença de sua mãe em seu relato. Apesar da relação conflituosa, encontra-se tão presente que se camuflou no cenário de sua casa, traços presentes numa reação aparentemente paradoxal de Raquel, que exprime aborrecimento pela posição incisiva de sua mãe, outrora demonstrando gratidão por ter sido criada “tão bem”.

Ao início de uma sessão, Raquel diz: “Essa semana, eu tive uma crise de choro, uma tremedeira, do nada”, e é assim que sempre aparecem seus acontecimentos, “do nada”: “Eu tô cansada, um cansaço da alma, não sei como e nem o porquê”, chama-me a atenção essa frase, repito cansaço da alma e a expressão de Raquel acusa um espanto com a tentativa de continuar explicando, mas parece-me que vai ao pé da letra com o

(7)

significante. Miller anuncia a vacuidade como um sinal frequente na psicose ordinária, onde se diferencia da neurose, pois na ordinária há busca em um índice do vazio e do vago de natureza não dialética (Miller, 2010).

Apesar da suposta resistência inicial da paciente, não tarda até que Raquel dê sinais mais contundentes com relação à transferência. Falta a uma sessão, mas logo retorna, justificando o esquecimento. “Graças a Deus eu vou”, diz, e passa então a iniciar suas falas relatando sobre um alívio sempre que sai dali, lugar diverso da presença necessária de Manoel, tida em todas as circunstâncias. “É com ele que converso, ele é meu psicólogo”, falava, em tom de brincadeira. Marido que também falta, quando ela se queixa do pouco tempo, a rotina de trabalho e o cansaço do mesmo, momento em que Raquel encontra um lugar para a análise: “É aqui que eu tenho pra conversar mesmo”. Logo aparece outro indício da retirada de seu companheiro do lugar de enviado de Deus, surge mediante um episódio relatado de ida à praia, o medo do mar está presente em sua fala: “Eu sempre tive medo de mar, de água, tenho medo de morrer afogada”, acredita ser uma morte terrível, um “sufocamento”, este significante passa a ser uma nova questão, e realmente Raquel diz: “Tem muita coisa que me sufoca”, e prontamente surge um novo elemento, uma mágoa que ao se desenrolar destrincha em uma suposta traição no seu casamento.

Considerações Finais

Ao nos propormos em esclarecer a psicose ordinária para além da clínica estrutural, como sugere Miller, foi possível articular os pontos centrais da teoria, chamados pequeno indícios, no caso clínico apresentado. Demonstrando os fenômenos de corpo e a feitura de laço social estabelecidos pelo sujeito, o caso discutido trouxe exemplificação para a tripla externalidade desenvolvida por Miller, o que nos ajuda a compreender essa categoria subjetiva.

(8)

A externalidade social, corporal e subjetiva, presentifica-se em Raquel, respectivamente, com sua dificuldade em assumir sua função social, o desenganche com o Outro social, e através de seus fenômenos corporais. Esses fenômenos denotam estranheza, percebe-se a posição de dejeto diante o objeto a, onde existe de fato uma identificação real.

Raquel relata em análise sua dificuldade no trabalho enquanto uma impossibilidade de atuação, que lhe angustia bastante. Podemos observar o “desligamento” do sujeito, a desconexão social e os traços de vacuidade e que promovem crises que surgem “do nada”. Raquel expressa um cansaço, que não é um cansaço comum, mas porta uma tonalidade diferente, traduzido em sua peculiar expressão “cansaço da alma”. Ou ainda, podemos recuperar a forma que Raquel se expressa ao bater nos filhos: “Era como se eu não tivesse ali”, ou seja, falta-lhe a condição de ter um corpo. De modo que se pode perceber algo novo e surpreendente, onde se usa o corpo para fazer sintoma, sem que haja uma lesão.

Assim, por meio desse trabalho foi possível fazer uma articulação da teoria psicanalítica com a clínica. As contribuições dadas por Lacan, levadas ás últimas consequências por Jacques Alain Miller permitem redefinir novas demandas de tratamento para-além da perspectiva estruturalista. Muitas questões ainda estão por esclarecer no que diz respeito às chamadas psicoses ordinárias, como o seu processo de desencadeamento e o diagnóstico diferencial em relação ao campo das neuroses. Nos tempos atuais, as psicoses ordinárias lançam novos desafios que apontam para a necessidade do momento clínico, do pequeno detalhe que irá decidir o diagnóstico clínico, o que não se dá sem o acolhimento do que é novo em cada caso, como nos ensinou Raquel ao longo deste trabalho.

(9)

O efeito da contemporaneidade exige a renovação de conceitos e abertura do analista para a escuta da singularidade. Apesar de termos utilizado como base esta linha teórica da psicanálise, não descartamos os demais conceitos para essa nova clínica, contudo, por uma questão de identificação teórica e de prática clínica escolhemos essa vertente.

Referências

Brodsky, G. (2011). Loucuras discretas: Um seminário sobre as chamadas psicoses ordinária. Belo Horizonte: Scriptum livros

Lacan. J. (1988/1955-1956). O seminário: livro 3 as psicoses. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Miller, J-A. (1996). Matemas I.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar

Referências

Documentos relacionados

Pensar a formação continuada como uma das possibilidades de desenvolvimento profissional e pessoal é refletir também sobre a diversidade encontrada diante

Em pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), em 2011 o consumo de artigos infantis movimentou cerca de R$26,2 bilhões, sendo que mais

de lôbo-guará (Chrysocyon brachyurus), a partir do cérebro e da glândula submaxilar em face das ino- culações em camundongos, cobaios e coelho e, também, pela presença

A primeira a ser estudada é a hipossuficiência econômica. Diversas vezes, há uma dependência econômica do trabalhador em relação ao seu tomador. 170) relata que o empregado

E, quando se trata de saúde, a falta de informação, a informação incompleta e, em especial, a informação falsa (fake news) pode gerar danos irreparáveis. A informação é

Como já foi dito neste trabalho, a Lei de Improbidade Administrativa passa por uma releitura doutrinária e jurisprudencial, visando delimitar de forma precisa os tipos ímprobos,

Adotam-se como compreensão da experiência estética as emoções e sentimentos nos processos de ensinar e aprender Matemática como um saber epistêmico. Nesse viés, Freire assinala

Finally,  we  can  conclude  several  findings  from  our  research.  First,  productivity  is  the  most  important  determinant  for  internationalization  that