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O estatuto da ética em Deleuze

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RESISTÊNCIA E REINVENÇÃO: O ESTATUTO DA ÉTICA EM DELEUZE RESISTÊNCIA E REINVENÇÃO: O ESTATUTO DA ÉTICA EM DELEUZE

 Jorge Luiz Viesenteiner   Jorge Luiz Viesenteiner 11

1.Considerações iniciais 1.Considerações iniciais

“Um dia o século será deleuzeano”: de modo bastante profético, assim Michel “Um dia o século será deleuzeano”: de modo bastante profético, assim Michel Foucault se refere a propósito da envergadura que a filosofia de Gilles Deleuze ainda Foucault se refere a propósito da envergadura que a filosofia de Gilles Deleuze ainda receberia, na medida em que seu pensamento fosse gradativamente sendo maturado mundo receberia, na medida em que seu pensamento fosse gradativamente sendo maturado mundo afora, inclusive no Brasil. Professor na

afora, inclusive no Brasil. Professor na Université Sorbonne Paris VIII Université Sorbonne Paris VIII – fundada no bairro– fundada no bairro Vincennes após o maio de 1968 –, o pensamento de Deleuze (1925-1995) passou a exercer  Vincennes após o maio de 1968 –, o pensamento de Deleuze (1925-1995) passou a exercer  uma profunda influência nas últimas décadas não apenas no âmbito da filosofia, mas uma profunda influência nas últimas décadas não apenas no âmbito da filosofia, mas também na política, artes, cinema e

também na política, artes, cinema e psicanálise.psicanálise.

  Numa entrevista publicada em setembro de 1988

  Numa entrevista publicada em setembro de 198822,, Deleuze faz um auto-esboçoDeleuze faz um auto-esboço

cronológico de sua trajetória intelectual que consiste em três períodos. O primeiro, grosso cronológico de sua trajetória intelectual que consiste em três períodos. O primeiro, grosso modo, inscrito entre 1952-1970, inicia-se com livros de história da filosofia a partir de um modo, inscrito entre 1952-1970, inicia-se com livros de história da filosofia a partir de um comentário que Deleuze faz de filósofos como D. Hume, Nietzsche, Kant, H. Bergson e comentário que Deleuze faz de filósofos como D. Hume, Nietzsche, Kant, H. Bergson e Espinosa. Embora comentários, os livros de

Espinosa. Embora comentários, os livros de história da filosofia não se limitam a história da filosofia não se limitam a ser apenasser apenas meio de

meio de reproreproduzir o duzir o que pensou que pensou deterdeterminado autorminado autor..33 Antes disso, Deleuze direciona seusAntes disso, Deleuze direciona seus

comentários de modo que eles se convertem num programa preparatório de sua própria comentários de modo que eles se convertem num programa preparatório de sua própria filosofia.

filosofia.44 O segundo período é marcado decisivamente pelos dois volumes de “CapitalismoO segundo período é marcado decisivamente pelos dois volumes de “Capitalismo

e Esquizofrenia”, vale dizer,

e Esquizofrenia”, vale dizer, O Anti-ÉdipoO Anti-Édipo (1972) – escrito logo após o fervor político do(1972) – escrito logo após o fervor político do maio de 68 – e

maio de 68 – e Mil PlatôsMil Platôs (1980) – uma continuação e finalização de algumas questões(1980) – uma continuação e finalização de algumas questões iniciadas n’

iniciadas n’O Anti-ÉdipoO Anti-Édipo –, ambos escritos em parceria com Félix Guattari. Ao longo dos–, ambos escritos em parceria com Félix Guattari. Ao longo dos anos 80 Deleuze esboça seu terceiro e último momento intelectual registrado, segundo o anos 80 Deleuze esboça seu terceiro e último momento intelectual registrado, segundo o   pr

  própópririo o DelDeleuzeuze, e, sosob b a a rurubrbricica a dadas s rereflflexexões ões sosobrbre e “p“pinintutura ra e e cicinemnema, a, de de imimageagensns aparentes” (DELEUZE, In: ESCOBAR, 1991, p. 11). As reflexões sobre o estatuto da ética aparentes” (DELEUZE, In: ESCOBAR, 1991, p. 11). As reflexões sobre o estatuto da ética

11 Professor do depto. de filosofia da Professor do depto. de filosofia da PUCPR e pesquisador da Universidade de Greifswald/Alemanha. É autor PUCPR e pesquisador da Universidade de Greifswald/Alemanha. É autor 

de

de A Grande Política em Nietzsche A Grande Política em Nietzsche. (Annablume Editora).. (Annablume Editora).

22 Publicada na revistaPublicada na revista Magazine Magazine LittérairLittérairee, a , a entrevista se chama “Signos e Acontecimentos”. In: ESCOBAR,entrevista se chama “Signos e Acontecimentos”. In: ESCOBAR,

Carlos H (org.).

Carlos H (org.). Dossiê Deleuze Dossiê Deleuze. Rio de Janeiro: Hólon editorial, 1991. p. . Rio de Janeiro: Hólon editorial, 1991. p. 9-30.9-30.

33 EmEm O que é filosofiaO que é filosofia (1997, p. 74), Deleuze escreve: “A história da filosofia é comparável à arte do retrato.(1997, p. 74), Deleuze escreve: “A história da filosofia é comparável à arte do retrato.

 Não se trata de ‘fazer parecido’, isto é, de repetir o que o filósofo disse, mas de produzir a semelhança,  Não se trata de ‘fazer parecido’, isto é, de repetir o que o filósofo disse, mas de produzir a semelhança,

desnudando ao mesmo tempo o plano de imanência que ele instaurou e os novos conceitos que criou”. desnudando ao mesmo tempo o plano de imanência que ele instaurou e os novos conceitos que criou”.

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se situam em torno dos textos do segundo período, com especial atenção ao texto de 1980: se situam em torno dos textos do segundo período, com especial atenção ao texto de 1980: Mil Platôs

Mil Platôs..

Segundo Deleuze (1997, p. 10), “a filosofia é a arte de formar, de inventar, de Segundo Deleuze (1997, p. 10), “a filosofia é a arte de formar, de inventar, de fabricar conceitos”. O exercício filosófico precisa lançar luz sobre as estruturas da cultura, fabricar conceitos”. O exercício filosófico precisa lançar luz sobre as estruturas da cultura, do mundo, o homem, a morte, etc., a fim de que se converta em práxis de resistência. do mundo, o homem, a morte, etc., a fim de que se converta em práxis de resistência. Quando Deleuze (1988a, p. 225) pergunta: “Que é um pensamento que não faz mal a Quando Deleuze (1988a, p. 225) pergunta: “Que é um pensamento que não faz mal a ni

ningnguémuém, , nem nem aquaquelele e quque e penpensa sa nenem m aoaos s outoutroros?s?”, ”, na na rearealilidadade de enenfafatitiza za quque e umum  pensamento precisa violentar, precisa se dirigir ao encontro de algo que force a reflexão e,  pensamento precisa violentar, precisa se dirigir ao encontro de algo que force a reflexão e,

sobretudo, que se imponha como resistência. sobretudo, que se imponha como resistência.

Pensar, inclusive, também significa ser violentado por forças externas; o exercício Pensar, inclusive, também significa ser violentado por forças externas; o exercício do pensamento não brota de um “Eu” metafísico e abstrato, mas do encontro com forças do pensamento não brota de um “Eu” metafísico e abstrato, mas do encontro com forças que rompam as nossas cercas, que esvaziem nossos punhados de convicções ilusórias que que rompam as nossas cercas, que esvaziem nossos punhados de convicções ilusórias que só têm valor na medida em que nos dão uma falsa sensação de segurança: “que violência se só têm valor na medida em que nos dão uma falsa sensação de segurança: “que violência se deve exercer sobre o pensamento para que nos tornemos capazes de pensar, violência de um deve exercer sobre o pensamento para que nos tornemos capazes de pensar, violência de um movimento infinito que nos priva ao mesmo tempo do poder de dizer Eu?” (DELEUZE, movimento infinito que nos priva ao mesmo tempo do poder de dizer Eu?” (DELEUZE, 1997, p. 73). O pensamento, pois, ao ser exercício de fabricar conceitos, deve violentar e 1997, p. 73). O pensamento, pois, ao ser exercício de fabricar conceitos, deve violentar e sacudir as teias de aranha da estabilidade e quietude e, neste aspecto, ele se configura sacudir as teias de aranha da estabilidade e quietude e, neste aspecto, ele se configura também como capacidad

também como capacidade de resistir.e de resistir.55

O texto

O texto Mil PlatôsMil Platôs expressa muito bem essa práxis filosófica inventora de conceitos.expressa muito bem essa práxis filosófica inventora de conceitos.  Na verdade, podemos nos referir a ele como a operacionalização de um projeto de filosofia  Na verdade, podemos nos referir a ele como a operacionalização de um projeto de filosofia que consiste precisamente em criar novos conceitos, modos de vida e formas de resistência. que consiste precisamente em criar novos conceitos, modos de vida e formas de resistência. Trata-se de um livro que experimenta ao fabricar conceitos, especialmente porque Deleuze Trata-se de um livro que experimenta ao fabricar conceitos, especialmente porque Deleuze o pensou, junto com F. Guattari, como livro que expressa resistência ou máquina de guerra o pensou, junto com F. Guattari, como livro que expressa resistência ou máquina de guerra contra os espaços pré-fabricados: “Estão nos fabricando um espaço literário, bem como um contra os espaços pré-fabricados: “Estão nos fabricando um espaço literário, bem como um esp

espaço aço judjudiciiciáriário, o, econeconômiômico, co, polpolítiítico, co, comcompletpletameamente nte reacreacionionáriários, os, prépré-f-fabrabricaicados dos ee massacrantes (...). A mídia desempenha nisso um papel essencial, mas não exclusivo. É massacrantes (...). A mídia desempenha nisso um papel essencial, mas não exclusivo. É muito interessante. Como resistir a esse espaço literário que

muito interessante. Como resistir a esse espaço literário que está se constituindo? Qual seriaestá se constituindo? Qual seria o papel da filosofia nessa resistência a um terrível novo conformismo?” (DELEUZE, 1992, o papel da filosofia nessa resistência a um terrível novo conformismo?” (DELEUZE, 1992,  p. 39).

 p. 39).

55 Cf. Deleuze (In: ESCOBAR 1991, p. 10): “A filosofia não é comunicativa, nem contemplativa ou reflexiva:Cf. Deleuze (In: ESCOBAR 1991, p. 10): “A filosofia não é comunicativa, nem contemplativa ou reflexiva:

ela é, por natureza, criadora ou

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Mil Platôs

Mil Platôs é uma cartografia, uma geografia do pensamento, do desejo, da política,é uma cartografia, uma geografia do pensamento, do desejo, da política, da ética e

da ética e da linguagem, que pretende desvendar quais são esses espaços pré-fada linguagem, que pretende desvendar quais são esses espaços pré-fabricadbricados, aos, a fim de resistir a eles.

fim de resistir a eles.66 Cada um dos títulos do livro compõe platôs, um experimento ouCada um dos títulos do livro compõe platôs, um experimento ou

resistência que podem “ser lidos independentemente uns dos outros, exceto a conclusão, resistência que podem “ser lidos independentemente uns dos outros, exceto a conclusão, que só deveria ser lida no final”. Um platô não é uma metáfora, mas sim “zonas de variação que só deveria ser lida no final”. Um platô não é uma metáfora, mas sim “zonas de variação contínua, ou como voltas onde em cada uma se vigia ou sobrevoa uma região, e se fazem contínua, ou como voltas onde em cada uma se vigia ou sobrevoa uma região, e se fazem sinais uns aos outros” (DELEUZE, In: ESCOBAR, 1991, p. 16). Cada título ou platô sinais uns aos outros” (DELEUZE, In: ESCOBAR, 1991, p. 16). Cada título ou platô significa o traçado de um mapa de circunstâncias que possuem datas fictícias e ilustrações. significa o traçado de um mapa de circunstâncias que possuem datas fictícias e ilustrações. Como fala Deleuze (1992, p. 38), trata-se de “um livro ilustrado” que se interessa pelos Como fala Deleuze (1992, p. 38), trata-se de “um livro ilustrado” que se interessa pelos “modos de individuação”, ou seja, os processos de codificação do homem bem como as “modos de individuação”, ou seja, os processos de codificação do homem bem como as  produções de signos que vão compor os espaços pré-fabricados da cultura contemporânea,  produções de signos que vão compor os espaços pré-fabricados da cultura contemporânea, que nos seqüestra e controla a todo instante. É possível entrar por qualquer lugar do livro, que nos seqüestra e controla a todo instante. É possível entrar por qualquer lugar do livro, como um rizoma, sem uma entrada ou saída específica, mas que todo lugar se soma para como um rizoma, sem uma entrada ou saída específica, mas que todo lugar se soma para decodificar as estruturas fixas e rígidas do homem e da cultura contemporânea.

decodificar as estruturas fixas e rígidas do homem e da cultura contemporânea.   N

  Não ão popor r acacasaso o os os plplatatôs ôs (t(títítululosos) ) do do lilivrvro o sãsão o alaleateatórórioios s e e popodedem m seser r lilidodoss independ

independentemeentemente uns nte uns dos outros. Tratdos outros. Trata-se de a-se de um livro um livro nômade sem lugar nômade sem lugar fixo e fixo e estávestável,el, sem momento histórico definido e, por isso, não capturável. É comum seqüestrar o que é sem momento histórico definido e, por isso, não capturável. É comum seqüestrar o que é estável, mas o aleatório e nômade escapa a todo instante dos aparelhos codificadores da estável, mas o aleatório e nômade escapa a todo instante dos aparelhos codificadores da sociedade. Assim é

sociedade. Assim é Mil PlatôsMil Platôs: não : não é constante, nem capturável, nem estável e, é constante, nem capturável, nem estável e, sobretsobretudo,udo, não é um livro que não oferece riscos; ao contrário, ele violenta, rompe as cercas da falsa não é um livro que não oferece riscos; ao contrário, ele violenta, rompe as cercas da falsa segurança, força-nos a pensar e, sobretudo, a resistir para inventar novas possibilidades de segurança, força-nos a pensar e, sobretudo, a resistir para inventar novas possibilidades de vida. Em

vida. Em Mil PlatôsMil Platôs, Deleuze faz da própria escrita um processo de resistência e liberação,, Deleuze faz da própria escrita um processo de resistência e liberação, o que ele chamou de traçar uma linha de fuga: “Escreve-se sempre para dar a vida, para o que ele chamou de traçar uma linha de fuga: “Escreve-se sempre para dar a vida, para libertar a vida lá onde ela está aprisionada, para traçar linhas de fuga. Para isto, é preciso libertar a vida lá onde ela está aprisionada, para traçar linhas de fuga. Para isto, é preciso qu

que e a a lilingnguaguagem em nãnão o seseja ja um um sisiststemema a hohomomogêngêneo, eo, mamas s um um desdesequequililíbíbririo, o, sesempmprere heterogêneo” (DELEUZE, In: ESCOBAR, 1991, p. 14s.). Para Deleuze, escrever é criar, e heterogêneo” (DELEUZE, In: ESCOBAR, 1991, p. 14s.). Para Deleuze, escrever é criar, e criar é resistir para que se inventem novas formas de vida que escapam às codificações e criar é resistir para que se inventem novas formas de vida que escapam às codificações e seqüestros.

seqüestros.

66 Para Deleuze (1992, p. 47), na medida em quePara Deleuze (1992, p. 47), na medida em que Mil PlatôsMil Platôs é um livro que leva a termo um projeto filosóficoé um livro que leva a termo um projeto filosófico

que fabrica conceitos, é preciso compreendê-lo também como um livro

que fabrica conceitos, é preciso compreendê-lo também como um livro que não mais pretende dizer a que não mais pretende dizer a essênciaessência ou fundamento das coisas, como o foi a tradição filosófica. Deleuze supera esse modelo, uma vez que o ou fundamento das coisas, como o foi a tradição filosófica. Deleuze supera esse modelo, uma vez que o conceito está relacionado à circunstâncias e, portanto, tem interesse em

conceito está relacionado à circunstâncias e, portanto, tem interesse em construir uma geografia, um mapa ouconstruir uma geografia, um mapa ou cartografia das mais variadas linhas, fluxos, signos e códigos que atuam

cartografia das mais variadas linhas, fluxos, signos e códigos que atuam ao mesmo tempo sobre o homem e ao mesmo tempo sobre o homem e aa

cultura. cultura.

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Investigar o estatuto da ética em Deleuze significa compreendê-la tal como essas Investigar o estatuto da ética em Deleuze significa compreendê-la tal como essas características do livro

características do livro Mil PlatôsMil Platôs, mas que nos interessam apenas duas questões principais, mas que nos interessam apenas duas questões principais que, em resumo, podem ser apresentadas nos seguintes termos: a) ética é a decodificação que, em resumo, podem ser apresentadas nos seguintes termos: a) ética é a decodificação das linhas que nos atravessam e nos codificam a fim de sermos capazes de resistir a elas; e das linhas que nos atravessam e nos codificam a fim de sermos capazes de resistir a elas; e  b) na

 b) na medida em que medida em que se resistse resiste aos e aos mais varimais variados modos de ados modos de produçãprodução de o de subjetsubjetividadividade, dee, de tipos codificados, essa resistência já é uma criação e, neste caso, a ética é também tipos codificados, essa resistência já é uma criação e, neste caso, a ética é também resistência que reinventa novos modos de existência e novas formas de vida. Em suma, a resistência que reinventa novos modos de existência e novas formas de vida. Em suma, a ética em Deleuze pode ser compreendida através de dois movimentos que implica em ética em Deleuze pode ser compreendida através de dois movimentos que implica em resistência e reinvenção.

resistência e reinvenção.

2. Ética e Rostidade: resistir ao Rosto para reinventar a vida 2. Ética e Rostidade: resistir ao Rosto para reinventar a vida

Tomemos o sétimo platô de Deleuze intitulado “Ano zero – rostidade”. Quando Tomemos o sétimo platô de Deleuze intitulado “Ano zero – rostidade”. Quando Deleuze fabrica o conceito de Rosto quer se referir também ao que ele denomina de Deleuze fabrica o conceito de Rosto quer se referir também ao que ele denomina de  processo de subjetivação. Trata-se de um gigantesco projeto que constrói signos, códigos,  processo de subjetivação. Trata-se de um gigantesco projeto que constrói signos, códigos, territórios e que depois se encarrega de transferi-los e gravá-los nos homens, de modo que territórios e que depois se encarrega de transferi-los e gravá-los nos homens, de modo que aos poucos cada homem vai ganhando um

aos poucos cada homem vai ganhando um RostoRosto. Logo . Logo de início, é importantde início, é importante dizer que e dizer que aa  produção social do Rosto não significa individualizar cada rosto concreto em particular, ou  produção social do Rosto não significa individualizar cada rosto concreto em particular, ou seja, produzir o Rosto concreto de João, Maria, José, etc. Ao contrário, segundo Deleuze os seja, produzir o Rosto concreto de João, Maria, José, etc. Ao contrário, segundo Deleuze os rostos concretos individuados se produzem e se transformam numa grande unidade comum, rostos concretos individuados se produzem e se transformam numa grande unidade comum, construído através das codificações que a cultura produz, até desembocar no grande Rosto. construído através das codificações que a cultura produz, até desembocar no grande Rosto. Assim, ao invés de construirmos um rosto próprio somos metidos e gravados em um Rosto Assim, ao invés de construirmos um rosto próprio somos metidos e gravados em um Rosto  produzido culturalmente: “Introduzimo-nos em um rosto mais do que possuímos um”  produzido culturalmente: “Introduzimo-nos em um rosto mais do que possuímos um” (DELEUZE, 1996, p. 44). Em outras palavras, isso significa que se não formos capazes de (DELEUZE, 1996, p. 44). Em outras palavras, isso significa que se não formos capazes de construirmos um projeto ou modo de existência próprio, a cultura sempre se encarregará de construirmos um projeto ou modo de existência próprio, a cultura sempre se encarregará de nos vender uma forma pronta e,

nos vender uma forma pronta e, ao comprarmos, pagamos caro por isso.ao comprarmos, pagamos caro por isso. Mas o que é um Rosto, afinal? Deleuze nos diz que é um “sistema

Mas o que é um Rosto, afinal? Deleuze nos diz que é um “sistema muro-branco – muro-branco –  buraco negro

buraco negro”, um modelo que conjuga dois eixos: um de significância (o muro branco)”, um modelo que conjuga dois eixos: um de significância (o muro branco) “sobre o qual inscreve seus signos e suas redundâncias”, e outro de subjetivação (o buraco “sobre o qual inscreve seus signos e suas redundâncias”, e outro de subjetivação (o buraco negro) “onde aloja sua consciência, sua paixão, suas redundâncias” (DELEUZE, 1996, p. negro) “onde aloja sua consciência, sua paixão, suas redundâncias” (DELEUZE, 1996, p. 31)

31). . TTodo odo sisistestema ma murmuro o brabranco-nco-buraburaco co negrnegro o é é proproduziduzido do por por “m“máquiáquinas nas absabstratratastas”” responsáveis pela construção do Rosto:

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Os rostos concretos nascem de uma

Os rostos concretos nascem de uma máquina abstrata de rostidademáquina abstrata de rostidade, que irá produzi-los ao mesmo, que irá produzi-los ao mesmo tempo que der ao significante seu muro branco, à subjetividade seu buraco negro. O sistema buraco tempo que der ao significante seu muro branco, à subjetividade seu buraco negro. O sistema buraco negro-muro branco não seria então já um rosto, seria a máquina abstrata que o produz, segundo as negro-muro branco não seria então já um rosto, seria a máquina abstrata que o produz, segundo as combinações deformáveis de suas engrenagens. Não esperemos que a máquina abstrata se pareça combinações deformáveis de suas engrenagens. Não esperemos que a máquina abstrata se pareça com o que ela

com o que ela produziu, com o que irá produziu, com o que irá produzir (DELEUZproduzir (DELEUZE, 1996, p. 33).E, 1996, p. 33).

A máquina abstrata não tem forma, embora seja ela que crie os mais variados A máquina abstrata não tem forma, embora seja ela que crie os mais variados có

códidigogos s e e sisigngnos os cucultltururaiais, s, umuma a mámáququinina a de de bibinanaririzazaçãção o sosocicialal: : brbranancoco/n/negegroro,, home

homem/m/mulmulherher, , aduladulto/to/cricriançança, a, ricrico/po/pobreobre, , eureuropeopeu/lu/latiatino no ameamericricano, ano, homhomem-em-útiútil- l-consumidor/homem-desempregado. O engraçado é que a máquina abstrata mesma não tem consumidor/homem-desempregado. O engraçado é que a máquina abstrata mesma não tem um rosto, e por isso Deleuze fala que a máquina de rostidade nunca vai se parecer com o um rosto, e por isso Deleuze fala que a máquina de rostidade nunca vai se parecer com o que ela produz. Ela está em toda parte ao mesmo tempo em que não podemos capturá-la. É que ela produz. Ela está em toda parte ao mesmo tempo em que não podemos capturá-la. É como se disséssemos que, atualmente, o inimigo não possui mais fisionomia. Se no século como se disséssemos que, atualmente, o inimigo não possui mais fisionomia. Se no século XVIII quiséssemos fazer uma revolução, atacaríamos diretamente o inimigo, por exemplo, XVIII quiséssemos fazer uma revolução, atacaríamos diretamente o inimigo, por exemplo, o Rei. A cultura contemporânea possui máquinas produtoras de códigos mas que oculta o o Rei. A cultura contemporânea possui máquinas produtoras de códigos mas que oculta o nome dessa máquina produtora de normas, regras, signos, códigos, etc. Não por acaso nome dessa máquina produtora de normas, regras, signos, códigos, etc. Não por acaso temos dificuldades em lutar contra algo, pois sequer conseguimos identificar quem é o temos dificuldades em lutar contra algo, pois sequer conseguimos identificar quem é o inimigo. O sistema não tem rosto, embora produza

inimigo. O sistema não tem rosto, embora produza o Rosto.o Rosto.77

O mecanismo oculto que a máquina abstrata emprega para produzir Rosto (o O mecanismo oculto que a máquina abstrata emprega para produzir Rosto (o sistema muro branco-buraco negro) é um grande agenciamento de poder que opera mais ou sistema muro branco-buraco negro) é um grande agenciamento de poder que opera mais ou menos assim: ao mesmo tempo em que a cultura contemporânea necessita convencer que se menos assim: ao mesmo tempo em que a cultura contemporânea necessita convencer que se vive um momento de extrema liberalização, paradoxalmente, sentimo-nos reprimidos como vive um momento de extrema liberalização, paradoxalmente, sentimo-nos reprimidos como nunca antes. É como se disséssemos que para controlar e dominar melhor uma pessoa nunca antes. É como se disséssemos que para controlar e dominar melhor uma pessoa  precisamos antes falar que ela é livre. É uma máquina abstrata que opera sem ser vista e,  precisamos antes falar que ela é livre. É uma máquina abstrata que opera sem ser vista e,  por isso, extremamente perigosa. Podemos nos referir ao Capital contemporâneo, por   por isso, extremamente perigosa. Podemos nos referir ao Capital contemporâneo, por 

ex

exememplplo, o, cocomo mo umuma a grgranande de mámáququinina a ababststrarata ta quque e esestá tá alaliaiada da às às susuas as prprinincicipapaisis engrenagens: as Corporações, com seu regime de signos, códigos, condutas, regras, enfim, engrenagens: as Corporações, com seu regime de signos, códigos, condutas, regras, enfim, com a produção de seus lugares comuns ou territorializações, como fala Deleuze.

com a produção de seus lugares comuns ou territorializações, como fala Deleuze.

A máquina abstrata de rostidade é fabricante dos códigos (os significantes), e das A máquina abstrata de rostidade é fabricante dos códigos (os significantes), e das subjetivações (a formatação da consciência): “essa máquina é denominada máquina de subjetivações (a formatação da consciência): “essa máquina é denominada máquina de rostidade porque é produção social do rosto, porque opera uma rostificação de todo corpo, rostidade porque é produção social do rosto, porque opera uma rostificação de todo corpo, de suas imediações e de seus objetos, uma paisagificação de todos os mundos e meios”. de suas imediações e de seus objetos, uma paisagificação de todos os mundos e meios”.

77 Impossível deixar de mencionar dois textos de Deleuze em que ele abImpossível deixar de mencionar dois textos de Deleuze em que ele abre melhor esse diálogo, através de umare melhor esse diálogo, através de uma

lúc

lúcida ida intinterperpretretaçãação o das das socsociediedadeades s de de concontrotrole le atuatuaisais: : “Co“Contrntrole ole e e DeDevirvir” ” e e ““ Post-scriptum Post-scriptum sobre assobre as sociedades de controle”, ambos publicados no Brasil no livro

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(DELEUZE, 1996, p. 49). Segundo Deleuze, a subjetividade do homem é alfinetada e (DELEUZE, 1996, p. 49). Segundo Deleuze, a subjetividade do homem é alfinetada e introduzida no muro branco. Na medida em que a máquina abstrata produz os territórios – o introduzida no muro branco. Na medida em que a máquina abstrata produz os territórios – o lug

lugar ar comcomum um dos dos sigsignosnos, , das codifidas codificaçõcações, das es, das mormoralializaçzaçõesões, , etcetc. . – – ela ela tamtambém bém vaivai alfinetando cada homem nesse grande regime de signos, dando a eles um grande Rosto alfinetando cada homem nesse grande regime de signos, dando a eles um grande Rosto unitário. Podemos perceber, portanto, que a máquina abstrata (o capital e suas corporações) unitário. Podemos perceber, portanto, que a máquina abstrata (o capital e suas corporações) opera por “identificação” do diferente, quer dizer, um processo que torna igual o diferente opera por “identificação” do diferente, quer dizer, um processo que torna igual o diferente ou fabrica a cópia ao invés do original, num imenso projeto de “mesmificação” que ou fabrica a cópia ao invés do original, num imenso projeto de “mesmificação” que consiste em nascer original para morrer cópia.

consiste em nascer original para morrer cópia. T

Temos nossa emos nossa subjetsubjetividade produziividade produzida da e e comprcompramos bem amos bem caras as caras as codifcodificações queicações que nos vendem. Mas qual é esse grande Rosto? Qual é esse grande muro branco de códigos nos vendem. Mas qual é esse grande Rosto? Qual é esse grande muro branco de códigos que a máquina abstrata produz para depois imprimir nossa subjetividade nele? Segundo que a máquina abstrata produz para depois imprimir nossa subjetividade nele? Segundo Deleuze (1996, p. 43) “é o próprio Homem branco, com suas grandes bochechas e o buraco Deleuze (1996, p. 43) “é o próprio Homem branco, com suas grandes bochechas e o buraco negro dos olhos. O rosto é o Cristo. O rosto é o europeu típico”.

negro dos olhos. O rosto é o Cristo. O rosto é o europeu típico”.88 Trata-se do típico homemTrata-se do típico homem

  br

  brancoanco, , eureuropeopeu, u, cumcumpripridor dor de de suasuas s funfunçõeções s socsociaiiais s e e devedeveresres, , aléalém m de de proprodutdutivo eivo e consum

consumidoridor. . Essa máquina de Essa máquina de rostirostificaçãficação o vai julgar e vai julgar e escolheescolher quais r quais os Rostos que os Rostos que serãoserão ou não adequados, para depois se encarregar de rostificá-los:

ou não adequados, para depois se encarregar de rostificá-los:

Se o rosto é o Cristo, quer dizer o Homem branco médio qualquer, as primeiras desvianças, os Se o rosto é o Cristo, quer dizer o Homem branco médio qualquer, as primeiras desvianças, os  primeiros desvios padrão são raciais: o homem amarelo, o homem negro, homens de segunda ou  primeiros desvios padrão são raciais: o homem amarelo, o homem negro, homens de segunda ou terceira categoria. Eles também serão inscritos no muro, distribuídos pelo buraco. Devem ser  terceira categoria. Eles também serão inscritos no muro, distribuídos pelo buraco. Devem ser  crist

cristianiianizados, isto zados, isto é, é, rostrostificificados. (...) O ados. (...) O raciracismo smo proceprocede de por determinpor determinação das ação das varivariaçõeações s dede desvianças, em função do rosto Homem branco que pretende integrar em ondas cada vez mais desvianças, em função do rosto Homem branco que pretende integrar em ondas cada vez mais excêntricas e retardadas os traços que não são conformes, ora para tolerá-los em determinado lugar e excêntricas e retardadas os traços que não são conformes, ora para tolerá-los em determinado lugar e em determinadas condições, em certo gueto, ora para apagá-los no muro de jamais suporta a em determinadas condições, em certo gueto, ora para apagá-los no muro de jamais suporta a alteridade. (...) do ponto de vista do racismo, não existe exterior, não existem as pessoas de fora. Só alteridade. (...) do ponto de vista do racismo, não existe exterior, não existem as pessoas de fora. Só existem pessoas que deveriam ser como nós,

existem pessoas que deveriam ser como nós, e cujo crime é e cujo crime é não o serem. (DELEUZE, 1996, p. 45)não o serem. (DELEUZE, 1996, p. 45)

  N

  Na a nonossssa a cucultlturura a cocontntemempoporârânenea, a, comcomo o já já didissssememos os anantestes, , o o CaCapipitatal l e e seseusus tentáculos, as Corporações, podem ser analisados como a grande máquina abstrata de tentáculos, as Corporações, podem ser analisados como a grande máquina abstrata de rostidade, capaz de transformar em culpados aqueles que na verdade são suas vítimas. Ele é rostidade, capaz de transformar em culpados aqueles que na verdade são suas vítimas. Ele é re

respspononsásável vel popor r levlevar ar a a cabcabo o o o prproceocesssso o de de hohomomogengeneieizazaçãção o de de totododos s os os hohomemensns,, imprimindo seus buracos negros no grande muro branco de significantes, com todo cortejo imprimindo seus buracos negros no grande muro branco de significantes, com todo cortejo de codificações e signos, confiscando cada pessoa para enfiá-la no grande Rosto. Virtual e de codificações e signos, confiscando cada pessoa para enfiá-la no grande Rosto. Virtual e

88 Não por acaso o título do texto é “Ano zero – rostidade”. Segundo Deleuze, a grande máquina de rostidadeNão por acaso o título do texto é “Ano zero – rostidade”. Segundo Deleuze, a grande máquina de rostidade

começa no ano zero, com Cristo, através do imenso projeto civilizatório de cristianização do mundo que começa no ano zero, com Cristo, através do imenso projeto civilizatório de cristianização do mundo que construiu e penetrou em todas as estruturas culturais. Neste caso, podemos falar que o cristianismo rostifica construiu e penetrou em todas as estruturas culturais. Neste caso, podemos falar que o cristianismo rostifica quando imprime a subjetividade dos diferentes no mesmo muro branco de seus códigos e signos. Em todo quando imprime a subjetividade dos diferentes no mesmo muro branco de seus códigos e signos. Em todo caso, essa mesma máquina de

caso, essa mesma máquina de rostidade opera também em várias estruturas sociais. Tome-serostidade opera também em várias estruturas sociais. Tome-se, p.ex., o , p.ex., o caso docaso do racismo ou mesmo da produção social do

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invisível, o capital opera produzindo as territorializações necessárias para que todos sejam invisível, o capital opera produzindo as territorializações necessárias para que todos sejam comportadamente rostificados.

comportadamente rostificados.

O mais interessante é que essa máquina produtora de códigos se encarrega de O mais interessante é que essa máquina produtora de códigos se encarrega de sobrecodificar todo aquele que pretenda “fugir” do código ou do Rosto. Deleuze se refere a sobrecodificar todo aquele que pretenda “fugir” do código ou do Rosto. Deleuze se refere a esse processo como um mecanismo empregado pelos agenciamentos de poder despóticos esse processo como um mecanismo empregado pelos agenciamentos de poder despóticos que re-territorializa tudo que pretende se desterritorializar, quer dizer, todos os desvios que re-territorializa tudo que pretende se desterritorializar, quer dizer, todos os desvios  padrõe

 padrões s são são imediimediatamenatamente te re-dire-disciplsciplinariinarizados: “Ora, zados: “Ora, são são esses agenciamenesses agenciamentos tos de de poderpoder,, essas formações despóticas ou autoritárias, que dão à nova semiótica os mesmo de seu essas formações despóticas ou autoritárias, que dão à nova semiótica os mesmo de seu imperialismo, isto é, ao mesmo tempo os meios de esmagar os outros e de se

imperialismo, isto é, ao mesmo tempo os meios de esmagar os outros e de se proteger deproteger de qualquer ameaça vinda de fora

qualquer ameaça vinda de fora” (DELEUZE, 1996, p. 49. O grifo é nosso).” (DELEUZE, 1996, p. 49. O grifo é nosso).

Vejamos um exemplo para entendermos como o capital sobrecodifica os desvios do Vejamos um exemplo para entendermos como o capital sobrecodifica os desvios do Rosto. Originalmente, quando a cultura hip-hop é importada para o Brasil, ela se pretendia Rosto. Originalmente, quando a cultura hip-hop é importada para o Brasil, ela se pretendia um

um momovivimementnto o alalteternrnatativivo o e e dedesvsviaiantnte e em em rerellaçação ão aoaos s agagenenciciamamenentotos s de de popodeder r  estabelecidos. Para o capital, uma ameaça externa. Cria seus próprios códigos e signos, estabelecidos. Para o capital, uma ameaça externa. Cria seus próprios códigos e signos, linguagem e estilo de vida no interior dos guetos do país. Surge como suposta resistência linguagem e estilo de vida no interior dos guetos do país. Surge como suposta resistência montada contra a máquina de produção do Rosto. Imediatamente, porém, o capital se montada contra a máquina de produção do Rosto. Imediatamente, porém, o capital se encarregou de sobrecodificar essa desviança que a cultura havia criado. É como se o capital encarregou de sobrecodificar essa desviança que a cultura havia criado. É como se o capital dissesse: “Isso mesmo! Eu não valho nada! Critiquem-me pois eu sou um monstro”. O que dissesse: “Isso mesmo! Eu não valho nada! Critiquem-me pois eu sou um monstro”. O que ocorre depois é que essa máquina abstrata confisca a cultura hip-hop e a vende sob a forma ocorre depois é que essa máquina abstrata confisca a cultura hip-hop e a vende sob a forma de um novo modo de vida. Cria uma grife, um modismo, recodifica a linguagem alternativa de um novo modo de vida. Cria uma grife, um modismo, recodifica a linguagem alternativa em mais um objeto vendável, mais uma engrenagem da grande máquina. O inconformismo em mais um objeto vendável, mais uma engrenagem da grande máquina. O inconformismo e a indignação desviantes do jovem do gueto, p.ex., são comprados e sobrecodificados na e a indignação desviantes do jovem do gueto, p.ex., são comprados e sobrecodificados na medida em que o capital vende a ele um estilo de vida, ou seja, dá a ele um Rosto. De medida em que o capital vende a ele um estilo de vida, ou seja, dá a ele um Rosto. De alguém desviante ou desterritorializado, o capital o converteu em alguém recodificado e alguém desviante ou desterritorializado, o capital o converteu em alguém recodificado e novamente territorializado, pois teve sua indignação seqüestrada depois de ser metido num novamente territorializado, pois teve sua indignação seqüestrada depois de ser metido num Rosto: a máquina abstrata do capital acabou de homogeneizar e sobrecodificar a ameaça Rosto: a máquina abstrata do capital acabou de homogeneizar e sobrecodificar a ameaça vi

vinda nda de de foforara. . Em Em susumama: : o o cacapipitatal l prprododuz uz cacapipitatal l memesmsmo o dadaquiquilo lo quque e o o prpretetenendidiaa inicialmente destruí-lo; ele rostifica novamente o desviado. E o que é pior: por ser uma inicialmente destruí-lo; ele rostifica novamente o desviado. E o que é pior: por ser uma máquina abstrata, tudo ocorre como se nada estivesse acontecendo. Como foi dito antes, máquina abstrata, tudo ocorre como se nada estivesse acontecendo. Como foi dito antes, nunc

nunca a fomfomos os tão tão seqseqüesüestrtradosados, , concontrotroladlados os e e rosrostiftificaicadosdos, , ao ao mesmesmo mo temtempo po em em queque,,   p

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repres

representantentantes estão por es estão por toda parte. É toda parte. É o o rostrosto o vistvisto o de frente, visto por um de frente, visto por um sujeisujeito que, to que, eleele mesmo, não vê propriamente, mas, antes, é tragado pelos buracos negros” (DELEUZE, mesmo, não vê propriamente, mas, antes, é tragado pelos buracos negros” (DELEUZE, 1996, p. 51s.).

1996, p. 51s.).

Essa máquina abstrata não atua mais sobre o corpo diretamente, mas sobre desejo. Essa máquina abstrata não atua mais sobre o corpo diretamente, mas sobre desejo. Ela produz desej

Ela produz desejo e o e o vende sob a o vende sob a forma de modo de vida. Assforma de modo de vida. Assim, se o preço do im, se o preço do silêncsilêncio eio e da adaptação custa preço baixo, comodidade ou um estilo de vida, a máquina abstrata se da adaptação custa preço baixo, comodidade ou um estilo de vida, a máquina abstrata se encarrega de produzir um Rosto para fazer falar precisamente o silêncio. Pensemos na encarrega de produzir um Rosto para fazer falar precisamente o silêncio. Pensemos na clássica imagem de Che Guevara estampada nas camisetas: o símbolo por excelência do clássica imagem de Che Guevara estampada nas camisetas: o símbolo por excelência do capital transformado em código vendável, em signo do capital. Isso é paradoxal!!! E é capital transformado em código vendável, em signo do capital. Isso é paradoxal!!! E é assim que a máquina abstrata do capital sobrecodifica as ameaças externas, imprimindo-as assim que a máquina abstrata do capital sobrecodifica as ameaças externas, imprimindo-as novamente no grande Rosto. Deleuze fez esse prognóstico em

novamente no grande Rosto. Deleuze fez esse prognóstico em Mil PlatôsMil Platôs::

Os

Os corcorpos pos serserão ão disdiscipciplinlinadosados, , a a corcorporporeideidade ade serserá á desdesfeifeita ta (..(...)..). ProdProduziruzir-se--se-á á uma uma únicaúnica substância de expressão

substância de expressão. Construir-se-á o sistema muro branco-buraco negro, ou antes deslanchar-. Construir-se-á o sistema muro branco-buraco negro, ou antes deslanchar-se-á essa máquina abstrata que

se-á essa máquina abstrata que deve justamente permitir e garantir a deve justamente permitir e garantir a onipotência do significante, bemonipotência do significante, bem como a autonomia do sujeito. Vocês serão alfinetados no muro branco, cravados no buraco negro. como a autonomia do sujeito. Vocês serão alfinetados no muro branco, cravados no buraco negro. (...) A desterritorialização do corpo implica uma reterritorialização no rosto; a descodificação do (...) A desterritorialização do corpo implica uma reterritorialização no rosto; a descodificação do corpo implica uma sobrecodificação pelo rosto (DELEUZE, 1996, p. 49. O grifo é

corpo implica uma sobrecodificação pelo rosto (DELEUZE, 1996, p. 49. O grifo é nosso).nosso).

A frustração, os medos e o convencimento de que a vida é dura são alguns dos A frustração, os medos e o convencimento de que a vida é dura são alguns dos operadores gerenciados pelo capital. A máquina de rostidade antes de suprir desejos, precisa operadores gerenciados pelo capital. A máquina de rostidade antes de suprir desejos, precisa  produzir um exército de homens cansados do mundo e da vida, a fim de que ela possa  produzir um exército de homens cansados do mundo e da vida, a fim de que ela possa  produzir mais desejo sobre essa matéria-prima frustrada e esgotada. Daí o porquê da  produzir mais desejo sobre essa matéria-prima frustrada e esgotada. Daí o porquê da

atuação dessa máquina abstrata sobre o desejo humano. Em

atuação dessa máquina abstrata sobre o desejo humano. Em  Diálogos Diálogos – publicado com– publicado com Claire Parnet em 1977 e, portanto, três anos antes de

Claire Parnet em 1977 e, portanto, três anos antes de Mil PlatôsMil Platôs – Deleuze escreve:– Deleuze escreve:

Os poderes estabelecidos têm necessidade de nossas tristezas para fazer de nós escravos. O tirano, o Os poderes estabelecidos têm necessidade de nossas tristezas para fazer de nós escravos. O tirano, o  padre, os tomadores de alma, têm necessidade de nos persuadir que a vida é dura e pesada. Os  padre, os tomadores de alma, têm necessidade de nos persuadir que a vida é dura e pesada. Os  poderes têm menos necessidade de nos reprimir do que de nos angustiar (...). Os doentes, tanto da  poderes têm menos necessidade de nos reprimir do que de nos angustiar (...). Os doentes, tanto da alma quanto do corpo, não nos largarão, vampiros, enquanto não nos tiverem comunicado sua alma quanto do corpo, não nos largarão, vampiros, enquanto não nos tiverem comunicado sua neurose e sua angústia, sua

neurose e sua angústia, sua castração bem-amada, o ressentimento contra a vida, o castração bem-amada, o ressentimento contra a vida, o imundo contágio.imundo contágio. (DELEUZ

(DELEUZE, 1998, p. E, 1998, p. 75)75)

É como se a matéria-prima sobre a qual atua a máquina de rostidade fossem É como se a matéria-prima sobre a qual atua a máquina de rostidade fossem  precisamente as frustrações e impotências. Deleuze volta a reafirmar essa hipótese em  precisamente as frustrações e impotências. Deleuze volta a reafirmar essa hipótese em Mil Mil   Platôs

 Platôs, dizendo que a defesa do capital e a administração de toda segurança “tem por , dizendo que a defesa do capital e a administração de toda segurança “tem por  correlato toda uma microgestão de pequenos medos, toda uma insegurança molecular  correlato toda uma microgestão de pequenos medos, toda uma insegurança molecular    permanente, a tal ponto que a fórmula dos ministérios do interior poderia ser: uma   permanente, a tal ponto que a fórmula dos ministérios do interior poderia ser: uma

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macropolítica da sociedade para e por uma micropolítica da insegurança” (DELEUZE, macropolítica da sociedade para e por uma micropolítica da insegurança” (DELEUZE, 1996, p. 94).

1996, p. 94).

A produção do Rosto, portanto, está relacionada com a máquina abstrata que, por  A produção do Rosto, portanto, está relacionada com a máquina abstrata que, por  sua vez, relaciona-se com os agenciamentos de poder para produzirem socialmente esse sua vez, relaciona-se com os agenciamentos de poder para produzirem socialmente esse Rosto: “É por isso que não cessamos de considerar dois problemas exclusivamente: a Rosto: “É por isso que não cessamos de considerar dois problemas exclusivamente: a relação do rosto com a máquina abstrata que o produz; a relação do rosto com os relação do rosto com a máquina abstrata que o produz; a relação do rosto com os agenciamentos de poder que necessitam dessa produção social” (idem, p. 50).

agenciamentos de poder que necessitam dessa produção social” (idem, p. 50).

Diante do imperialismo da máquina abstrata produtora do rosto, uma pergunta se Diante do imperialismo da máquina abstrata produtora do rosto, uma pergunta se impõe: “Como sair do buraco negro? Como atravessar o muro? Como desfazer o rosto?” impõe: “Como sair do buraco negro? Como atravessar o muro? Como desfazer o rosto?” (idem, p. 56). A questão é complexa e abre espaço para outra longa reflexão. Em todo caso, (idem, p. 56). A questão é complexa e abre espaço para outra longa reflexão. Em todo caso, o primeiro passo é compreender que não há possibilidades para conservadorismos: “Não o primeiro passo é compreender que não há possibilidades para conservadorismos: “Não   podemos voltar atrás”, diz Deleuze, visto que somente do interior do próprio Rosto   podemos voltar atrás”, diz Deleuze, visto que somente do interior do próprio Rosto  poderemos nos desrostificar: “É somente no interior do rosto, do fundo de seu buraco negro  poderemos nos desrostificar: “É somente no interior do rosto, do fundo de seu buraco negro

e em seu muro branco que os traços de rostidade poderão ser liberados” (idem, p. 59). e em seu muro branco que os traços de rostidade poderão ser liberados” (idem, p. 59).

Da mesma forma que Deleuze compreende

Da mesma forma que Deleuze compreende Mil PlatôsMil Platôs – um livro nômade, não– um livro nômade, não capturável e que põe em curso uma práxis que resiste e escapa às codificações –, assim capturável e que põe em curso uma práxis que resiste e escapa às codificações –, assim també

também m Deleuze reconheDeleuze reconhece a ce a tarefa do homem contemporâneo e, de tarefa do homem contemporâneo e, de modo geral, da modo geral, da éticaética:: resistir às codificações, ao Rosto. Segundo Deleuze, o próprio homem precisa se converter  resistir às codificações, ao Rosto. Segundo Deleuze, o próprio homem precisa se converter  em algo clandestino e nômade, pois resistir é precisamente se tornar imperceptível. em algo clandestino e nômade, pois resistir é precisamente se tornar imperceptível.99 AoAo

invés de se render aos gozos da submissão irrestrita, das territorializações e rostidades, invés de se render aos gozos da submissão irrestrita, das territorializações e rostidades, Deleuze insiste em perder o

Deleuze insiste em perder o Rosto e escapar às Rosto e escapar às codificações, ou melhor, desterritorializarcodificações, ou melhor, desterritorializar-se-se ou traçar uma linha de fuga. Mais ou menos como se disséssemos que traçar uma linha de ou traçar uma linha de fuga. Mais ou menos como se disséssemos que traçar uma linha de fu

fuga ga ou ou se se totornrnar ar imimperperceceptptívível el sisigngnifificica a um um cecertrto o ococulultatamementnto o aoaos s didispspososititivivosos rostificadores e codificantes.

rostificadores e codificantes.

Fugir não é se acovardar e nem transportar um eu: Deleuze pensa numa “viagem Fugir não é se acovardar e nem transportar um eu: Deleuze pensa numa “viagem imóvel” própria dos nômades que são capazes de renunciar a todo lugar fixo, a qualquer  imóvel” própria dos nômades que são capazes de renunciar a todo lugar fixo, a qualquer  território ou porto seguro. Tornar-se imperceptível é renunciar a ser metido no muro dos território ou porto seguro. Tornar-se imperceptível é renunciar a ser metido no muro dos significantes e das codificações, no Rosto. Aliás, significa ser capaz de se desprender de si significantes e das codificações, no Rosto. Aliás, significa ser capaz de se desprender de si

99 É possível falar também em impessoalidade, ou ainda, “uma vida”. O número especial da RevistaÉ possível falar também em impessoalidade, ou ainda, “uma vida”. O número especial da Revista

 Philosophie

 Philosophie, publicada em 1995, traz o artigo de Deleuze intitulado, publicada em 1995, traz o artigo de Deleuze intitulado  A imanência: uma vida... A imanência: uma vida..., em que se fala, em que se fala em substituir a “vida do indivíduo”, marcada pelas subjetivações e rostidades, por uma “vida impessoal, em substituir a “vida do indivíduo”, marcada pelas subjetivações e rostidades, por uma “vida impessoal, embora singular, que produz um puro acontecimento livre dos

embora singular, que produz um puro acontecimento livre dos acidentes da vida interior ou exterior (...): vidaacidentes da vida interior ou exterior (...): vida de pura imanência, neutra, além do bem

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mesmo, ou seja, aprender a trair 

mesmo, ou seja, aprender a trair 1010: traidor de seu próprio reino, de si mesmo, das próprias: traidor de seu próprio reino, de si mesmo, das próprias

convicções, das verdades absolutas, dos desejos mesquinhos, pois quem possui é possuído. convicções, das verdades absolutas, dos desejos mesquinhos, pois quem possui é possuído. O traidor é capaz de criar e, portanto, de resistir: “É que trair é difícil, é criar. É preciso O traidor é capaz de criar e, portanto, de resistir: “É que trair é difícil, é criar. É preciso   pe

  perdrder er susua a ididententididadeade, , seseu u roroststo. o. É É prprececisiso o desdesapaparareceecerr, , totornrnarar-s-se e dedescscononhehecicido”do”1111

(DELEUZE, 1998, p. 58). (DELEUZE, 1998, p. 58).

Trair as rostidades, as codificações que nos rotulam, a subjetividade que nos Trair as rostidades, as codificações que nos rotulam, a subjetividade que nos  produzem. Trair a si próprio e ao território, pois quem permanece preso a um único e fixo  produzem. Trair a si próprio e ao território, pois quem permanece preso a um único e fixo território não é o nômade e clandestino, mas o covarde, o reprodutor do Rosto e das território não é o nômade e clandestino, mas o covarde, o reprodutor do Rosto e das codificações. Por isso trair é resistir. Cada vez que traímos, escapamos de permanecer fixo codificações. Por isso trair é resistir. Cada vez que traímos, escapamos de permanecer fixo e idêntico; e cada vez que resistimos, tornamo-nos imperceptíveis e nômades. Um dos e idêntico; e cada vez que resistimos, tornamo-nos imperceptíveis e nômades. Um dos estatutos da ética, pois, é precisamente resistir ao Rosto, ou escapar dos processos de estatutos da ética, pois, é precisamente resistir ao Rosto, ou escapar dos processos de rostificação empenhados pela máquina abstrata. Em outros termos, para além de todos os rostificação empenhados pela máquina abstrata. Em outros termos, para além de todos os mecanismos que a máquina abstrata do capital emprega para nos rostificar, através dos seus mecanismos que a máquina abstrata do capital emprega para nos rostificar, através dos seus tentáculos e engrenagens que penetram em toda estrutura social codificando-a, isso não tentáculos e engrenagens que penetram em toda estrutura social codificando-a, isso não deve ser um argumento contra nossa principal possibilidade: a

deve ser um argumento contra nossa principal possibilidade: a resistência.resistência.1212

Resistir ao Rosto não é uma fórmula que se esgota em si mesma, pois ela precisar  Resistir ao Rosto não é uma fórmula que se esgota em si mesma, pois ela precisar  dar um passo e mais e caminhar para a reinvenção ou criação e novas formas de vida. A dar um passo e mais e caminhar para a reinvenção ou criação e novas formas de vida. A resistência é o mecanismo para a reinvenção dos espaços pré-fabricados pelo Rosto, para a resistência é o mecanismo para a reinvenção dos espaços pré-fabricados pelo Rosto, para a criação de novas possibilidades de vida, para a reinvenção de novos modos de existência, e criação de novas possibilidades de vida, para a reinvenção de novos modos de existência, e niss

nisso o consiconsiste o ste o segundo estatsegundo estatuto da uto da éticaética. Neste . Neste ponto Deleuze considponto Deleuze considera o era o homem comohomem como obra de arte: a vida mesma é obra de arte que precisa ser reinventada a cada instante: obra de arte: a vida mesma é obra de arte que precisa ser reinventada a cada instante: “trata-se de

se de regras facultativasregras facultativas que produzem a existência como obra de arte, regras ao mesmoque produzem a existência como obra de arte, regras ao mesmo te

tempmpo o ététicicas as e e esestéttéticicas as quque e coconsnstititutuem em momododos s de de exiexiststênêncicia a ou ou esestitilolos s de de vivida”da” (DELEUZE, 1992, p. 123). Deleuze vê na resistência e na criação de novos modos de (DELEUZE, 1992, p. 123). Deleuze vê na resistência e na criação de novos modos de existência, mais do que uma simples reinvenção ética: ele também vê uma estética: “mas se existência, mais do que uma simples reinvenção ética: ele também vê uma estética: “mas se

10

10Segundo Deleuze (1998, p. 58), trair é traçar a Segundo Deleuze (1998, p. 58), trair é traçar a linha de fuga, ou seja, tornar-se imperceptível e nômade paralinha de fuga, ou seja, tornar-se imperceptível e nômade para

 perder o Rosto: “Perder o rosto, ultrapassar ou furar o muro, limá-lo pacientemente (...): a linha de fuga, não a  perder o Rosto: “Perder o rosto, ultrapassar ou furar o muro, limá-lo pacientemente (...): a linha de fuga, não a viagem nos mares do Sul, mas a aquisição de uma clandestinidade (...). Ser, enfim, desconhecido, como viagem nos mares do Sul, mas a aquisição de uma clandestinidade (...). Ser, enfim, desconhecido, como  poucas pessoas são, é isso

 poucas pessoas são, é isso trair”.trair”.

11

11Cf. entrevista já citada In: ESCOBAR (1991, p. 17): “Criar não é Cf. entrevista já citada In: ESCOBAR (1991, p. 17): “Criar não é comunicar mas resistir”.comunicar mas resistir”. 12

12 No comentário que Deleuze faz a Michel Foucault, ele se refere ao homem como “foco de resistência”No comentário que Deleuze faz a Michel Foucault, ele se refere ao homem como “foco de resistência”

(DELEU

(DELEUZE, 1988b, p. 113), desde que esse homem compreenda a ZE, 1988b, p. 113), desde que esse homem compreenda a si mesmo como alguém sempre em vias desi mesmo como alguém sempre em vias de se fazer, in-acabado e, portanto, nômade.

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há nisso toda uma ética, há também uma estética (...), a invenção de uma possibilidade de há nisso toda uma ética, há também uma estética (...), a invenção de uma possibilidade de vida, de um modo de existência” (DELEUZE, 1992, p. 126).

vida, de um modo de existência” (DELEUZE, 1992, p. 126).

O estatuto da ética em Deleuze resume duas esferas: por um lado, resistir aos O estatuto da ética em Deleuze resume duas esferas: por um lado, resistir aos es

espapaçoços s prpré-é-fafabrbricicadadosos, , ao ao mumuro ro brbrancanco o das das cocodidifificacaçõeções s e e ao ao buburaraco co negnegro ro dadass subjetividades: resistir ao Rosto; e, por outro lado, a resistência implica a criação de novas subjetividades: resistir ao Rosto; e, por outro lado, a resistência implica a criação de novas formas de vida: a reinvenção da própria vida. Resistência e reinvenção, portanto, são as formas de vida: a reinvenção da própria vida. Resistência e reinvenção, portanto, são as linhas gerais com as quais podemos pensar o

linhas gerais com as quais podemos pensar o estatuto da ética em Deestatuto da ética em Deleuze.leuze.

Questões para debate Questões para debate

1. O que significa Rostidade? 1. O que significa Rostidade? 2. Faça uma análise relacionando

2. Faça uma análise relacionando ética, máquinas abstratas e Rosto.ética, máquinas abstratas e Rosto. 3. O que significa pensar a ética como resistência e reinvenção? 3. O que significa pensar a ética como resistência e reinvenção?

Filmografia Filmografia The Corporation

The Corporation. Dir.: Mark Achbar e Jennifer Abbott. EUA, 2003.. Dir.: Mark Achbar e Jennifer Abbott. EUA, 2003. Surplus

Surplus. Dir.: Erik Gandini. 2003.. Dir.: Erik Gandini. 2003.  El taxista ful 

 El taxista ful . Dir.: Jordi Rediu e Norbert Llaràs. Barcelona, 2005.. Dir.: Jordi Rediu e Norbert Llaràs. Barcelona, 2005.

T

Textos paextos para discussãora discussão

Os rostos concretos nascem de uma

Os rostos concretos nascem de uma máquina abstrata de rostidademáquina abstrata de rostidade, que irá produzi-los ao, que irá produzi-los ao mesmo tempo que der ao significante seu muro branco, à subjetividade seu buraco negro. O mesmo tempo que der ao significante seu muro branco, à subjetividade seu buraco negro. O sistema buraco negro-muro branco não seria então já um rosto, seria a máquina abstrata que sistema buraco negro-muro branco não seria então já um rosto, seria a máquina abstrata que o produz, segundo as combinações deformáveis de suas engrenagens. Não esperemos que a o produz, segundo as combinações deformáveis de suas engrenagens. Não esperemos que a máquina abstrata se pareça com o que ela produziu, com o que irá produzir. (DELEUZE, máquina abstrata se pareça com o que ela produziu, com o que irá produzir. (DELEUZE, 1996, p. 33).

1996, p. 33).

Se o rosto é o Cristo, quer dizer o Homem branco médio qualquer, as primeiras desvianças, Se o rosto é o Cristo, quer dizer o Homem branco médio qualquer, as primeiras desvianças, os primeiros desvios padrão são raciais: o homem amarelo, o homem negro, homens de os primeiros desvios padrão são raciais: o homem amarelo, o homem negro, homens de segunda ou terceira categoria. Eles também serão inscritos no muro, distribuídos pelo segunda ou terceira categoria. Eles também serão inscritos no muro, distribuídos pelo   b

  bururacaco. o. DeDevevem m seser r crcrisistitianianizadzadosos, , isisto to é, é, roroststifificicadadosos. . (.(...) ) O O raracicismsmo o prproceocede de por por  determinação das variações de desvianças, em função do rosto Homem branco que pretende determinação das variações de desvianças, em função do rosto Homem branco que pretende integrar em ondas cada vez mais excêntricas e retardadas os traços que não são conformes, integrar em ondas cada vez mais excêntricas e retardadas os traços que não são conformes, ora para tolerá-los em determinado lugar e em determinadas condições, em certo gueto, ora ora para tolerá-los em determinado lugar e em determinadas condições, em certo gueto, ora  para apagá-los no muro de jamais suporta a alteridade. (...) do ponto de vista do racismo,  para apagá-los no muro de jamais suporta a alteridade. (...) do ponto de vista do racismo, não existe exterior, não existem as pessoas de fora. Só existem pessoas que deveriam ser  não existe exterior, não existem as pessoas de fora. Só existem pessoas que deveriam ser  como nós, e cujo crime é não o serem (DELEUZE, 1996, p. 45).

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Os corpos serão disciplinados, a corporeidade será desfeita (...).

Os corpos serão disciplinados, a corporeidade será desfeita (...). Produzir-se-á uma únicaProduzir-se-á uma única substância de expressão

substância de expressão. Construir-se-á o sistema muro branco-buraco negro, ou antes. Construir-se-á o sistema muro branco-buraco negro, ou antes deslanchar-se-á essa máquina abstrata que deve justamente permitir e garantir a onipotência deslanchar-se-á essa máquina abstrata que deve justamente permitir e garantir a onipotência do significante, bem como a autonomia do sujeito. Vocês serão alfinetados no muro branco, do significante, bem como a autonomia do sujeito. Vocês serão alfinetados no muro branco, cr

cravavadados os no no buburaraco co nenegrgro. o. (.(...) ) A A dedeststererrrititororiialaliizazaçãção o do do cocorrpo po imimplplicica a umumaa reterr

reterritoritorializialização ação no no rostrosto; o; a a descodidescodificaçficação ão do do corpo implica uma corpo implica uma sobrecosobrecodifidificação pelocação pelo rosto (DELEUZE, 1996, p. 49).

rosto (DELEUZE, 1996, p. 49).

Os poderes estabelecidos têm necessidade de nossas tristezas para fazer de nós escravos. O Os poderes estabelecidos têm necessidade de nossas tristezas para fazer de nós escravos. O tirano, o padre, os tomadores de alma, têm necessidade de nos persuadir que a vida é dura e tirano, o padre, os tomadores de alma, têm necessidade de nos persuadir que a vida é dura e  pesada. Os poderes têm menos necessidade de nos reprimir do que de nos angustiar (...). Os  pesada. Os poderes têm menos necessidade de nos reprimir do que de nos angustiar (...). Os doentes, tanto da alma quanto do corpo, não nos largarão, vampiros, enquanto não nos doentes, tanto da alma quanto do corpo, não nos largarão, vampiros, enquanto não nos tiverem comunicado sua neurose e sua angústia, sua castração bem-amada, o ressentimento tiverem comunicado sua neurose e sua angústia, sua castração bem-amada, o ressentimento contra a vida, o imundo contágio. (DELEUZE, 1998, p. 75).

contra a vida, o imundo contágio. (DELEUZE, 1998, p. 75).

É que trair é difícil, é criar. É preciso perder sua identidade, seu rosto. É preciso É que trair é difícil, é criar. É preciso perder sua identidade, seu rosto. É preciso desaparecer, tornar-s

desaparecer, tornar-se desconhecido (DELEUZE, 1998, e desconhecido (DELEUZE, 1998, p. 58).p. 58). Sugestões de leitura

Sugestões de leitura DELEUZE, G.

DELEUZE, G. Diferença e Repetição Diferença e Repetição. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988a.. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988a.  _______.

 _______. Foucault  Foucault . São Paulo: Brasiliense, 1988b.. São Paulo: Brasiliense, 1988b.   _______. (c/ F. GUATTARI).

  _______. (c/ F. GUATTARI). Mil Platôs: capitalismo e esquizofreniaMil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. Vol. 3. Rio de. Vol. 3. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1996.

Janeiro: Ed. 34, 1996.  ______.

 ______. O que é a filosofia?O que é a filosofia?. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1997.. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1997. DELEUZE, G.; PARNET, C.

DELEUZE, G.; PARNET, C. Diálogos. Diálogos. São Paulo: Editora Escuta, 1998.São Paulo: Editora Escuta, 1998.  ______.

 ______. ConversaçõesConversações. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.  _

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 ______. Signos e AcontecimentosSignos e Acontecimentos. In: ESCOBAR, Carlos H (org.).. In: ESCOBAR, Carlos H (org.). Dossiê Deleuze Dossiê Deleuze. Rio de. Rio de Janeiro: Hólon editorial, 1991. p. 9-30.

Janeiro: Hólon editorial, 1991. p. 9-30.

 ______. “A imanência: uma vida...”. In: VASCONCELLOS, J. Deleuze: imagens de um  ______. “A imanência: uma vida...”. In: VASCONCELLOS, J. Deleuze: imagens de um

filósofo da imanência. Londrina: EDUEL, 1997. filósofo da imanência. Londrina: EDUEL, 1997.

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