DIRETRIZES E NORMAS GERAIS PARA A UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PELOTAS
Estas são diretrizes e normas gerais que a Igreja de Pelotas apresenta à Universidade Católica.
Deseja, com isso, que a UCPel seja cada vez mais fiel a seu ideal e responda à sua identidade católica.
Estas diretrizes são, também, uma resposta ao convite que o Papa João Paulo II nos faz na Constituição Apostólica sobre as Universidade Católicas.
Que elas sejam fecundas e que encontrem em cada professor, servidor e aluno o amor e a energia necessária.
Dom Jayme Chemello Bispo de Pelotas Em 03.07.91
I Parte
DIRETRIZES PARA A UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PELOTAS
1 – IDENTIDADE
1.1 – Vínculo com a Igreja
A Universidade Católica de Pelotas, por sua origem e natureza, vincula-se estreitamente à Igreja de Pelotas.
Dessa relação, decorrem as seguintes exigências: a) fidelidade à mensagem cristã;
b) reconhecimento e adesão à autoridade magisterial da Igreja em matéria de fé e moral;
c) comunhão com o Pastor e a Pastoral diocesana e, através dele, com a Igreja Universal. Ao Bispo Diocesano cabe por ofício a responsabilidade de promovê-la, acompanhá-la e assisti-la na busca permanente de sua identidade católica e no relacionamento harmônico com as autoridades civis.
1.2 – Universidade Católica 1.2.1 – Como Universidade
É uma comunidade acadêmica representada por vários campos do saber humano que se dedica à investigação, ao ensino e às várias formas de serviços correspondentes à sua missão cultural. Contribui, de modo rigoroso e crítico, para a defesa e o desenvolvimento da dignidade humana e para a herança cultural.
1.2.2 – Como Católica
Tem como objetivo maior garantir a presença cristã no mundo universitário perante os grandes problemas sociais e culturais.
São suas características essenciais:
a) uma inspiração cristã que não se limita ao indivíduo, mas que se estende à comunidade universitária;
b) uma reflexão incessante, à luz da fé católica, sobre o conhecimento humano acumulado, ao qual procura também contribuir através das próprias investigações;
c) a fidelidade à mensagem cristã tal como é apresentada pela Igreja; d) o empenho institucional que se põe ao serviço do povo de Deus na
sua caminhada ao objetivo transcendente que dá significado à vida.
1.2.2.1 – Comunidade Acadêmica
É uma comunidade humana autêntica, caracterizada pelo respeito recíproco e pelo diálogo sincero, promovendo a unidade cuja fonte brota da sua consagração à verdade, na diversidade dos campos do saber, de uma comum compreensão da dignidade humana e, em última análise, da pessoa e da mensagem de Cristo que dá à Instituição o seu caráter distintivo. Nesse âmbito, compreende-se o papel particularmente importante da teologia na investigação compartilhada de uma síntese do saber, no diálogo entre a fé e razão, bem como na animação de toda a estrutura da Universidade, visando à formação de uma comunidade de saber, de testemunho e de serviço.
Os professores universitários cresçam sempre mais em competência, articulando suas disciplinas a uma visão de mundo compatível e coerente com a dignidade humana. Os professores cristãos, por sua vez, testemunhem a desejada integração entre fé e cultura, entre competência profissional e sabedoria cristã.
Os estudantes persigam uma educação que os torne capazes de um juízo racional e crítico, conscientes da dignidade transcendente do ser humano, em direção a uma formação profissional que compreende os valores éticos e o sentido de serviço às pessoas e à sociedade.
Os dirigentes promovam uma gestão de serviços guiados pela coragem, pelo diálogo e pela criatividade intelectual.
O pessoal administrativo testemunhe o empenho e a competência como qualidades indispensáveis para a identidade e a vida da Universidade.
A Universidade frui da autonomia institucional necessária ao cumprimento dos objetivos e das funções com eficácia e garante aos seus membros a liberdade acadêmica no resguardo dos direitos individuais e comunitários no âmbito das exigências da verdade e do bem comum. Autonomia institucional significa que o governo de uma instituição acadêmica é e permanece interno à instituição. Liberdade acadêmica é a garantia dada a quantos se dedicam ao ensino e à investigação de poder procurar, no alcance do seu campo específico de conhecimento e de acordo com os métodos próprios de tal área, a verdade em toda a parte onde a análise e a evidência os conduzam, e de poder ensinar e publicar os resultados de tal investigação, tendo presentes os critérios citados, isto é, de salvaguarda dos direitos do indivíduo e da comunidade, das exigências da verdade e do bem comum. (Vaticano II, Gaudium et spes nº 59, Gravissimum educationis nº 10)
1.2.3 – Como Comunitária
Porque nascida de uma comunidade concreta que é a Igreja de Pelotas e marcada por uma vocação regional, a Universidade Católica de Pelotas é comunitária na medida em que:
a) empreende as suas atividades sem finalidade lucrativa, antes revertendo seus eventuais excedentes financeiros na demanda orientada pelos objetivos da própria Instituição;
b) mantém íntima vinculação com a comunidade através dos seus programas de ensino, pesquisa e extensão com manifesto objetivo social.
A Universidade Católica de Pelotas, por conseguinte, realiza a sua tarefa comunitária quando ausculta os interesses, problemas e anseios da comunidade, interessa-se no encaminhamento das soluções dessas questões, defende o direito universal à educação e busca sempre mais a qualidade do seu ensino.
2 – MISSÃO
2.1 – Serviço à Igreja e à Sociedade
A Universidade Católica de Pelotas, nascida do coração da Igreja, realiza fundamentalmente a sua contribuição ao bem da sociedade através da investigação, da permuta, da produção e da transformação do saber.
Ela compartilha com todas as outras universidades daquele “gaudium de veritate” tão caro a Santo Agostinho, daquela alegria de procurar a verdade, de descobri-la e de comunicá-la em todos os campos do conhecimento.
No serviço à sociedade, o interlocutor privilegiado deve ser naturalmente o mundo acadêmico, cultural e científico da região em que atua a Universidade, encorajando-se formas originais de diálogo e de colaboração com os demais organismos representativos da sociedade em favor do desenvolvimento, da compreensão entre as culturas e da defesa da natureza.
É também mediante o ensino, a pesquisa e a prestação de serviços que a Universidade Católica se faz meio de evangelização e oferece a sua indispensável contribuição à Igreja.
Para a realização desta sua grande missão de prestar serviço à Igreja, sempre no âmbito da sua competência, a Universidade deve:
a) preparar homens e mulheres que, inspirados nos princípios cristãos, sejam capazes de assumir posições de responsabilidade na própria Igreja e de responder com competência científica às exigências do tempo;
b) ser instrumento cada vez mais eficaz do progresso cultural e do bem-estar social quer para os indivíduos, quer para a sociedade. Para tanto, em suas atividades inclui-se o estudo dos graves problemas contemporâneos, reservando especial atenção às suas dimensões éticas e religiosas, exaltando tudo o que dá pleno significado à vida humana. Assim, a Universidade tem o dever de empenhar-se no processo de libertação da América Latina e do Brasil do jugo dominador externo, desenvolvendo uma consciência histórica e posicionada frente ao espírito da época. Cumpre, igualmente, sua missão quando ausculta, abre caminhos, forma líderes e participa, através da educação permanente e de outros serviços, da vida e promoção dos homens e da comunidade, nela atuando de forma transformadora.
2.2 – Universidade, Cultura e Evangelização
“Não existe senão uma cultura: a do homem que provém do homem e é para o homem.” (João Paulo II, Discurso à Univ. de Coimbra. 15.5.82).
Plantada no seio de uma cultura cujos elementos constitutivos de identidade procura investigar, promover e defender, a Universidade Católica está também sempre mais atenta às culturas do mundo de hoje e às várias tradições culturais existentes dentro da Igreja.
A Universidade contribui com a sociedade e a Igreja precisamente mediante o indispensável diálogo com essas diferentes culturas, discernindo os seus aspectos positivos e negativos, acolhendo as contribuições autenticamente humanas e desenvolvendo os meios com
os quais possa intercambiar os conteúdos de uma leitura crítica e avaliativa a partir da fé e da razão.
Um campo que interessa de um modo especial à Universidade Católica é o diálogo entre pensamento cristão e ciências modernas para cuja tarefa exigem-se pessoas particularmente preparadas que sejam dotadas também de uma adequada formação teológica e capazes de enfrentar as questões epistemológicas então suscitadas. A Universidade Católica de Pelotas participa da tarefa evangelizadora da Igreja ao estabelecer fecundo liame entre a mensagem libertadora do Evangelho e a pluralidade e imensidade dos campos do saber. É transformar a partir de dentro, atingir e mesmo modificar, pela força do Evangelho, os critérios de julgamento, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes de inspiração e os modelos de vida da humanidade.
2.3 – Universidade Católica e Pastoral
A Universidade Católica, em harmonia com a missão evangelizadora da Igreja Universal e por sua origem, natureza e história, tem o dever de integrar-se sempre a partir da sua especificidade, na ação pastoral da Diocese de Pelotas.
Para a colimação desse objetivo, ela deve encontrar caminhos para promover essa ação pastoral junto aos membros da Comunidade Universitária através dos seguintes procedimentos:
a) privilegiar os meios que facilitem a integração da formação humana e profissional com os valores religiosos à luz da doutrina católica;
b) cuidar do desenvolvimento humano e espiritual daqueles que professam a fé católica de maneira que a Comunidade Universitária possa crescer numa autêntica comunhão de valores cristãos e na colaboração construtiva de uma nova ordem social, política, econômica e cultural.
“De modo singular, a Universidade Católica contribui para manifestar a superioridade do Espírito que nunca pode, sem o risco de perder-se, consentir em colocar-se ao serviço de qualquer outra coisa que não seja a procura da Verdade.” (Paulo VI aos Delegados da FIUC – 27.11.72).
II Parte NORMAS GERAIS
A natureza destas Normas Gerais
Art. 1º - A UCPel, de acordo com a Autoridade Eclesiástica Diocesana, reger-se-á segundo as Normas Gerais da Constituição Apostólica do Sumo Pontífice João Paulo II “Sobre as Universidades Católicas”, de 15 de agosto de 1990, integrando-as nos documentos relativos à sua administração e conformando os seus Estatutos a estas Normas Gerais e às suas aplicações.
A natureza de Universidade Católica
Art. 2º - A UCPel está formalmente vinculada à Igreja tanto em sua criação pela Mitra Diocesana, quanto pelos seus Estatutos e Regimento.
§ 1º - O ensino, a pesquisa e a extensão na UCPel devem ser inspirados e realizados segundo os ideais, os princípios e os comportamentos católicos.
§ 2º - Os princípios católicos e o ensino católico devem influir em todas as atividades e atos oficiais da UCPel, respeitando plenamente a liberdade de consciência de cada pessoa.
§ 3º - A UCPel goza da autonomia institucional para realizar a sua identidade específica e cumprir a sua missão. Possui liberdade de ensino, pesquisa e extensão, salvaguardados os direitos dos indivíduos e da comunidade, de acordo com as exigências da verdade e do bem comum.
Comunidade Universitária
Art. 3º - A Comunidade Universitária da UCPel é formada pelos corpos docente, discente e do pessoal administrativo.
§ 1º - A responsabilidade de manter e reforçar a identidade católica da Universidade, fundamentalmente atribuição do Chanceler e do Conselho Superior, deve ser também partilhada por todos os membros da Comunidade Universitária.
§ 2º - A identidade da Universidade Católica está ligada essencialmente à qualidade dos professores e ao respeito à doutrina católica.
§ 3º - O recrutamento, seleção e contratação de professores e pessoal administrativo deve atender às exigências dos dois parágrafos precedentes. Cabe ao Chanceler o estabelecimento dos critérios adequados à:
• inscrição para concurso público ou contratação de professores • e à inscrição para concorrer a cargos administrativos, bem como
vetar aqueles candidatos que, a seu juízo, não se ajustem às normas estabelecidas.
§ 4º - Todos os professores, pessoal administrativo e estudantes, mesmo os não católicos, devem reconhecer e respeitar o caráter católico da UCPel. Particularmente, os teólogos católicos sejam fiéis ao Magistério da Igreja.
§ 5º - No momento da nomeação, todos os professores e todo o pessoal administrativo devem ser informados, formalmente, da identidade católica da Instituição e das suas implicações, bem como da sua responsabilidade em promovê-la ou, ao menos, respeitá-la.
§ 6º - A educação dos estudantes deve integrar o amadurecimento acadêmico e profissional com a formação nos princípios morais e religiosos e com a aprendizagem da doutrina social da Igreja, incluindo uma formação ética apropriada à profissão para a qual ela prepara. Além disso, a UCPel deve oferecer sistematicamente cursos de teologia católica a todos os estudantes.
§ 7º - À Teologia cabe inspirar o diálogo entre a fé e os diversos ramos do saber. Por isso, a Universidade reconhece a importante missão do Instituto de Teologia Paulo VI.
A UCPel na Igreja
Art. 4º - A UCPel mantém a comunhão com a Igreja Universal e com a Santa Sé, devendo relacionar-se a instituições congêneres para mútua colaboração e intercâmbio.
Parágrafo Único – A UCPel põe-se em estreita comunhão com a Igreja Diocesana, especialmente com o seu Bispo, e de acordo com a sua natureza de Universidade, contribui para a missão evangelizadora da Igreja, pelo ensino católico, pela inserção em atividades pastorais e pela Pastoral Universitária.
Pastoral Universitária
Art. 5º - A Pastoral Universitária é aquela atividade da Universidade que oferece aos membros da própria Comunidade a ocasião de coordenar o estudo acadêmico com os princípios religiosos e morais, integrando assim a vida com a fé.
facilitam a integração da formação humana e profissional com os valores religiosos à luz da doutrina católica, com o fim de unir aprendizagem intelectual com a dimensão religiosa da vida.
§ 2º - O Bispo Diocesano nomeará 1(um) capelão universitário e outras pessoas qualificadas para promoverem a pastoral específica em favor da Comunidade Universitária.
Colaboração
Art. 6º - A UCPel deve realizar intercâmbio e buscar a colaboração de outras IES católicas a fim de melhor enfrentar os complexos problemas da sociedade moderna e reforçar sua identidade católica.
Parágrafo Único: A UCPel, em conformidade com sua natureza e missão, também participará de programas de outras IES, quer privadas quer estatais. Cumprindo o dever de engajar-se no processo de libertação da Região, do Brasil, e da América Latina, colaborará em programas governamentais e com os projetos de organismos regionais, nacionais e internacionais em favor da justiça social e da construção de uma nova ordem econômica, política, social e cultural.
Jayme Chemello Bispo de Pelotas Em 03.07.1991