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Alterações curriculares em Matemática no ensino básico e secundário - Recomendações e pareceres

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janeiro de 2016 Alterações curriculares em Matemática no ensino básico e secundário - Recomendações e pareceres

A Associação de Professores de Matemática, através da sua Direção e de outros órgãos associativos que a integram, nomeadamente o seu Conselho Nacional, não cessou de alertar para as profundas e precipitadas alterações introduzidas, desde há vários anos em Portugal, num sentido que sempre considerámos inapropriado, ao nível do Estatuto da Carreira Docente, da gestão escolar, do currículo e da avaliação. Em relação às questões curriculares e de avaliação especialmente atingidas nestes últimos anos e que afetaram várias disciplinas, identificámos como especialmente gravosas, no caso da Matemática, as seguintes medidas e situações:

I. Alterações curriculares — as alterações dos programas da Matemática do ensino básico e de Matemática A do ensino secundário; o Programa de Matemática do Ensino Básico homologado em 2007 (PMEB2007) foi substituído no ano em que terminou a sua generalização a todos os ciclos de escolaridade, sem qualquer fundamento ou avaliação que o sugerisse; a substituição do programa de Matemática A foi feita também sem qualquer fundamentação e imposta para o presente ano letivo de 2015/2016 quando os alunos que atualmente frequentam este ano nunca tiveram qualquer contacto com o programa do ensino básico homologado em 2013, e respetivas metas curriculares, em relação ao qual o de Matemática A se assume em continuidade.

II. Alterações ao processo de avaliação externa dos alunos em que se destacam a inclusão de provas de avaliação externa dos alunos, a Português e Matemática, nos 4º e 6º anos, ao arrepio da prática da generalidade dos países da OCDE, do nosso próprio país (desde 1974 até 2012) e contrariando as indicações da investigação especializada. Na Europa, em nenhum país existe este tipo de prova no 4º ano e, no 6º ano, existe apenas no sistema belga francófono em que este é um ano terminal de um segmento de ensino, Enseignement primaire, a que se segue o ensino secundário, também obrigatório mas já diferenciado na sua oferta educativa. Houve ainda outras alterações significativas, entre os anos 2011 e 2015, que abrangeram, de forma descoordenada, a avaliação externa especialmente nos Cursos Artísticos e nos Cursos Profissionais. Segundo os dados apresentados no Relatório do CNE, metade das alterações na legislação sobre avaliação feita desde 2001, ocorreu nesta última fase e, no que diz respeito ao ensino básico, quatro dos cinco diplomas com implicação na avaliação neste ciclo de ensino foram feitos nestes anos .

Ainda que não exclusivamente ligadas ao ensino da Matemática, outras medidas estão também intrinsecamente relacionadas com os problemas

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sentidos e com consequências para a qualidade do trabalho letivo. É o caso das alterações nas condições e no horizonte de trabalho dos professores e das escolas, nomeadamente com o aumento dos alunos por turma, o aumento do horário em funções letivas dos professores e a burocratização do seu trabalho, a pressão sobre os professores para obtenção de resultados que favoreçam a avaliação das escolas com base em critérios de seletividade e objetivos, no mínimo, distorcidos. Acrescente-se a falta de apoios aos alunos com dificuldades de aprendizagem ou com necessidades educativas especiais e ainda a gestão de agrupamentos de escolas cujas dimensões não permitem um conhecimento e acompanhamento próximo da vida da comunidade educativa por parte da gestão e, em particular, dos alunos por parte dos seus professores.

Considerando os aspetos referidos e a necessidade e urgência em retomar orientações e condições que favoreçam o trabalho dos professores e a melhoria das aprendizagens dos alunos, a Direção da APM e o Conselho Nacional da Associação recomendam:

A nível geral

1. que se encetem as diligências necessárias, com condições de debate e auscultação efetivas, para um entendimento amplamente partilhado sobre as finalidades e princípios orientadores da Educação definidos na Lei de Bases do Sistema Educativo;

2. que neste debate, se envolvam os professores e as escolas, os especialistas e investigadores nas diversas áreas de conhecimento especialmente relacionadas com o desenvolvimento curricular, a avaliação e as didáticas específicas das diversas disciplinas;

3. que se alterem as condições de trabalho nas escolas por forma a poder tornar efetivo um acompanhamento próximo dos alunos por parte dos seus professores, nomeadamente a redução do número de alunos por turma, a identificação, o mais precoce possível das dificuldades — e potencialidades — das crianças e jovens com a intervenção que se considere necessária para cada caso, e o apoio aos alunos com especiais dificuldades de aprendizagem; que se potencie também o trabalho colaborativo entre os professores, especialmente nas atividades de planificação, análise e debate das práticas letivas e colaboração no desenvolvimento das mesmas;

4. que se revejam, no Estatuto da Carreira Docente, as condições de formação contínua por forma a que esta não seja remetida para horários e formatos que não favorecem a interação e o debate entre os professores;

5. que se revalorize a formação especializada, seja com cursos de especialização de um ano (250 horas), seja com mestrados, seja mesmo com doutoramentos, que se deem condições para esta formação e que essa revalorização tenha reflexos na progressão na carreira docente.

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No que respeita à avaliação (ensino básico)

Tendo em consideração os pressupostos anunciados pelo Ministério da Educação no passado dia 8 de janeiro que merecem a nossa concordância, nomeadamente, 1. As dinâmicas de avaliação visam a melhoria

das aprendizagens e o sucesso escolar dos alunos; 2. A avaliação contínua deve ser o instrumento por excelência da avaliação interna, devendo os instrumentos de avaliação externa atuar como recurso que potencie a avaliação interna realizada na escola; 3. A avaliação externa, centrada em apenas algumas disciplinas, conduz a um estreitamento curricular, sentido pelos professores e pelas famílias na medida em que não é produzida informação sobre outras disciplinas; 4. Uma aposta continuada na qualidade, pertinência e oportunidade da informação devolvida à escola, às famílias e aos outros agentes permitirá uma ação concertada e uma maior confiança no sistema, a APM retoma alguns dos seus pronunciamentos e preocupações,

sobretudo os que se prendem com o estreitamento e com a distorção curriculares, aspetos tanto mais graves quanto mais precocemente tiverem reflexos na sala de aula, prejudicando o desenvolvimento integral e harmonioso das crianças para o qual todas as áreas disciplinares devem contribuir. Assim, a APM recomenda:

6. que se pondere e se avalie o modelo e a aplicação das provas de aferição agora propostas, sobretudo em relação a três aspetos: ao formato das provas, aos anos em que se aplicam (especialmente no 1º ciclo) e à universalidade obrigatória da sua aplicação, para que o efeito da distorção curricular (preparar para as provas com a consequente pressão sobre alunos e professores) se evite no trabalho letivo, e as provas possam antes favorecer uma prática de avaliação contínua verdadeiramente formativa;

7. que se criem condições para tornar efetivas as medidas que os resultados das várias aferições aconselharem em termos das aprendizagens dos alunos;

8. que, em termos de avaliação externa dos alunos no 9º ano, se deva também aplicar o pressuposto do não estreitamento do currículo subjacente à aferição nos anteriores anos curriculares, prevendo-se a adoção do mesmo princípio de rotatividade às disciplinas para além do Português e da Matemática.

No que toca aos programas

9. No ensino básico. A APM sempre se pronunciou contra a revogação do PMEB2007 e manifestou a profunda discordância com o programa que o substituiu. Assim, entendemos que se deve fazer um estudo urgente, a par da

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auscultação dos professores, de modo a caminhar com a possível rapidez para a alteração deste programa, numa versão certamente muito mais próxima do de 2007 do que do de 2013 e, concordando que se deva evitar a perturbação que uma revogação imediata do programa em vigor provocaria, propomos:

a) a substituição das atuais metas curriculares por orientações para a gestão do programa por ciclo de ensino (no 1º ciclo, para os dois primeiros anos e os dois últimos), dirigidas a cada domínio temático do programa, consonantes com orientações curriculares e didáticas de maior atualidade e apontando para as práticas que vinham sendo progressivamente implementadas num alinhamento de continuidade, em curso desde os anos 90, e interrompido pelas alterações introduzidas a partir de 2012;

b) a avaliação dos três anos de implementação do programa de 2013 e a planificação das alterações curriculares que se entenderem necessárias à luz dessa avaliação e das avaliações feitas aquando da experimentação do PMEB2007;

c) a suspensão da adoção de novos manuais escolares até que sejam feitas as alterações curriculares que vierem a ser consideradas adequadas;

d) a reposição, na página do ME, dos materiais de apoio à implementação do PMEB2007 entretanto retirados.

10. No ensino secundário, Matemática A. Dada a implementação recente deste programa e os sinais de alarme sobre a sua desadequação que, terminado o primeiro período letivo, os professores têm vindo a manifestar, propomos:

a) a suspensão, a partir do próximo ano letivo, do programa de 2014 e a manutenção do programa anterior;

b) a indicação, às escolas, de que deverão elaborar o ajustamento curricular que considerarem necessário para concluir a lecionação do 10º ano em curso, por forma a permitir a continuidade, nos 11º e 12º anos que se seguirão, com o programa anterior;

c) a avaliação do programa em vigor até 2015 e a sua eventual reformulação de acordo com os dados dessa avaliação, tendo em conta o princípio de uma formação matemática para todos no âmbito da escolaridade obrigatória, por um lado, e da formação matemática inerente à diversidade subjacente ao ensino secundário, por outro. Em relação à formação dos professores

11. a elaboração de um plano de formação contínua de professores, em colaboração com as instituições de ensino superior e os centros de formação, as escolas e as associações profissionais, que sirva de referência para a planificação das ações pelas diversas instâncias responsáveis pela formação

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contínua dos docentes e, no que toca à Matemática, o reforço da elaboração de materiais de apoio a essa formação;

12. no que diz respeito ao ensino da Matemática, o aprofundamento da reflexão sobre a formação dos futuros professores, com o envolvimento das instituições de ensino superior com responsabilidades na formação inicial e com as respetivas associações profissionais, por forma a definir requisitos de acesso e formação matemática, didática e educacional adequados aos futuros professores em todos os níveis de ensino, com um possível período, após a formação inicial, de um ou dois anos de indução profissional em colaboração entre as escolas e as instituições de formação de professores.

A Associação de Professores de Matemática disponibiliza-se, como sempre foi a sua prática, para participar nas iniciativas que vierem a ser efetuadas em diálogo com todos os parceiros e com a tutela, para além de continuar a realizar as de sua própria iniciativa, e apoiar todo o trabalho que for ao encontro de um debate aberto, sustentado e abrangente sobre o presente e o futuro da educação em geral e do ensino da Matemática em particular, no nosso país.

janeiro de 2016 A Direção da APM

O Conselho Nacional da APM

A Direção, enviou também esta mensagem ao Senhor Secretário

de Estado:

Sobre a necessidade de uma reorientação na gestão curricular dos

programas Matemática A do Ensino Secundário e de Matemática do

Ensino Básico

A Direção da Associação de Professores de Matemática reuniu no dia 12 de março de 2016 e, tendo em conta as perturbações e dificuldades de que tem conhecimento na implementação e gestão dos atuais programas de Matemática do EB e de Matemática A do Ensino Secundário (ES) (2014), vem, na sequência da posição sobre as alterações curriculares e de avaliação dos últimos anos, anteriormente apresentada ao Ministério da Educação, reafirmar a necessidade de uma reorientação curricular para a gestão dos programas de Matemática A do ES e de Matemática do Ensino Básico, para o que considera fundamental:

1. A criação de um grupo de trabalho que elabore um conjunto de orientações para o programa atual de Matemática A do 10.º ano, por forma a que sua gestão, no corrente ano letivo, prossiga tendo em vista a manutenção, em 2016/17, do programa do 11.º e 12.º anos atualmente em vigor e, no 10.º ano, retomar o programa recém-substituído. Isto sem prejuízo do lançamento a breve

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prazo de um processo de avaliação destes programas e sua reformulação de acordo com os dados dessa avaliação.

2. A criação de um grupo de trabalho que elabore um conjunto de orientações para o programa de Matemática do Ensino Básico, dirigidas a cada domínio temático do programa, por forma a que as atuais metas curriculares sejam substituídas por orientações curriculares e didáticas de maior atualidade e mais consentâneas com práticas que vinham sendo implementadas e com recomendações curriculares internacionais para o ensino da Matemática e com dados da investigação neste domínio, amplamente consensuais. Isto sem prejuízo do lançamento a breve prazo de um processo de avaliação do atual programa e sua reformulação de acordo com os dados dessa avaliação.

Para a constituição dos grupos de trabalho propostos, consideramos que o Ministério da Educação deve nomear um coordenador para cada grupo, com reconhecido conhecimento e experiência nas áreas de desenvolvimento curricular e didática da Matemática, que proporá ao Ministério a equipa do grupo respetivo. Os grupos de trabalho deverão agregar professores de Matemática com experiência na docência em cada um dos ciclos a que se dirigem, investigadores em Educação Matemática e especialistas em Matemática familiarizados com a realidade do ensino básico e do ensino secundário.

Consideramos que o trabalho destes grupos é urgente e não dispensa uma avaliação cuidadosa dos programas em vigor e dos seus impactos na aprendizagem para reformulações posteriores mais profundas. É pois nosso entendimento que o processo conducente a esta avaliação deve iniciar-se desde já, devendo para isso ser operacionalizados mecanismos de consulta a professores e escolas no sentido de se obter um retorno sobre a implementação dos programas em vigor.

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