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Alguém plantou a semente, deixou raiz! Folia de Reis e a experiência. migratória na Região Metropolitana do estado do Rio de Janeiro

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Academic year: 2021

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Alguém plantou a semente, deixou raiz! Folia de Reis e a experiência

migratória na Região Metropolitana do estado do Rio de Janeiro

Someone planted the seed, left the root! Folia de Reis and the migratory experience in the Metropolitan Region of the state of Rio de Janeiro

Luiz Gustavo Mendel Souza1

Resumo:

As chamadas Folias de Reis são grupos rituais responsáveis por levar a bandeira dos Santos ReisMagos às casas dos devotos anfitriões. Entender a existência dessas manifestações culturais no século XX é tentar compreender os fatores que as proporcionam: a identidade dos foliões. Essa identidade se torna clara ao alisarmos a origem dos integrantes mais antigos da Folia de Reis Bandeira Nova Flor do Oriente do município de São Gonçalo região Metropolitana do estado do Rio de Janeiro, cujo dono é o Mestre Antônio José da Silva – Mestre Fumaça. O artigo é uma análise do perfil dos foliões relacionando os dados coletados através da metodologia da História Oral, fontes estatísticas e a própria história da Região Metropolitana do estado do Rio de Janeiro.

Palavras-chave: Folia de Reis; Experiência Migratória; Região Metropolitana

Abstract:

The so-called Folias de Reis are ritual who take responsibility for bringing the flag of the holy Wise Men to the homes of devotees. To understand the existence of these cultural manifestations in the twentieth century is to try to understand the factors that provide them: the identity of speakers. This identity becomes clear as we smooth the origin of the oldest members of Folia de Reis Bandeira Nova Flor do Oriente in the city of São Gonçalo, Metropolitan region of the state of Rio de Janeiro, whose owner is Mestre Antônio José da Silva - Mestre Fumaça. The article is an analysis of the revelers relating data collected through the Oral History methodology, statistical sources and the history of the Metropolitan Region of the state of Rio de Janeiro.

Keywords: Folia de Reis; Migratory Experience; Metropolitan region

As Folias de Reis

As chamadas Folias de Reis são grupos rituais compostos por crianças, jovens e idosos de ambos os sexos que se responsabilizam em levar a bandeira dos Santos Reis Magos às casas dos devotos. Segundo Daniel Bitter (2010) a bandeira2

é o símbolo

1

Graduação em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, mestre pelo Programa de Graduação em História Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal Fluminense.

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A bandeira de reis (com “b” minúsculo): é o santo que é levado junto aos foliões para realizar a anunciação do nascimento de Cristo. É uma estrutura de madeira ornada com fitas e faixas coloridas, em seu centro são expostos santinhos ou imagens da Sagrada Família e dos santos de devoção dos foliões.

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máximo da folia, em outras palavras ela é o próprio Santo. A prática do reisado representa a missão sagrada3

deixada pelos Santos Magos do Oriente, para que seus promesseiros anunciem o nascimento do menino Jesus e redistribuam as bênçãos por onde forem entoados os cantos, as chamadas profecias4

. O arcabouço ideológico que ampara os reiseros é chamado de fundamento, um conjunto de narrativas míticas que não se encontra, necessariamente, na bíblia cristã. Refere-se a todo um conhecimento relativo às regras de etiquetas e códigos de conduta para orientação dos foliões nos seus engajamentos nas complexas relações de troca e reciprocidade que este empreendimento suscita. As Folias de Reis realizam circuitos de visitações às casas dos devotos em um período conhecido como giros ou jornadas, elas ocorrem nas madrugadas dos fins de semana dos dias 24 de dezembro ao dia 6 de janeiro, dia dos Santos Reis. Na Região Metropolitana estas saídas se prolongam até o dia 20 de janeiro, dia de São Sebastião, santo padroeiro da cidade do Rio de Janeiro.

Tenho como entrada em campo e principais interlocutores os foliões da Bandeira5 Nova Flor do Oriente6

, comandada por mestre Antônio José da Silva, o Mestre Fumaça. Neste artigo nos aprofundaremos nas utilizações de dados estatísticos, pesquisas realizadas sobre as Folias de Reis e das fontes orais. Através do recurso da História Oral poderemos elaborar documentos, arquivá-los e produzir estudos referentes à vida social das pessoas (MEIHY, 1996, p. 10). Em nosso caso, o estudo destas fontes orais se torna necessário, pois a oralidade é uma das características mais marcante do folclore como fonte (THOMPSON, 1998). Dentre as modalidades de História Oral a ser trabalhada, iremos nos utilizar da Tradição Oral, em que poderemos estudar o esclarecimento ou opinião do entrevistado (ou colaborador) (MEIHY, 1996, p. 28) sobre o evento definido (MEIHY, 1996, p.51). Na realidade a escolha da Tradição Oral se dá pela própria ideia da

3

É o ordenamento deixado pelos santos reis, os primeiros foliões. Essa missão é a responsabilidade que os foliões têm de levar a bandeira/santos reis à casa dos devotos, anunciando o nascimento do Menino Jesus.

4

São versos de memória proferidos pelo mestre e entoados pelos foliões no período dos giros.

5

Bandeira (com “B” maiúsculo): Categoria que identifica o grupo de folia de reis na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, pertencer à uma Bandeira é o mesmo que fazer parte de um determinado grupo de folia de reis.

6

O termo Bandeira Nova Flor do Oriente é a categoria que meus interlocutores utilizam para identificar seu pertencimento ao grupo ritual.

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pesquisa que trabalha com as cosmologias e visões de mundo presentes nas comunidades (MEIHY, 1996, p.53), compartilhada pelos foliões e os mestres mais antigos. Esse recorte metodológico pode oscilar entre as duas outras modalidades, pois, ao entrevistarmos os foliões, precisaremos compreender que os relatos destes nos revelam sua própria História Oral de Vida, que seria a narrativa do conjunto de experiências destes foliões (MEIHY, 1996, p.45), e muito da História Oral Temática. Seguindo este projeto de História Oral, trabalharemos com o Mestre da Folia de Reis (sede) em São Gonçalo (colônia) (MEIHY,1996, p.41).

Entre folcloristas e sementes

As Folias de Reis, assim como muitas devoções populares já foram alvos de encantamentos, coletas e pesquisas por parte dos intelectuais e do próprio Estado. Os discursos e os interesses dos escritores que registraram os ritos populares têm uma história própria, mais marcadamente passando pelos românticos e folcloristas da virada do século XVIII para o XIX. Para Peter Burke (2009) a “descoberta do povo” se concretizou no momento em que ela estava se encaminhando para seu fim: “Foi no final do século XVIII e início do século XIX, quando a cultura popular tradicional estava justamente começando a desaparecer, que o ‘povo’ (o folk) se converteu num tema de interesse para os intelectuais europeus.” (BURKE, 2009, p. 26). Para este autor, os pioneiros a investir nesta área de coleta e reflexão sobre a cultura popular foram Herder e os irmãos Grimm, sua herança foi a insistência em três frágeis pontos que influenciaram, e muito, seus seguidores e futuramente os folcloristas. Seriam estes três pontos: o “primitivismo”, que remete a uma era pré-cristã, um “período primitivo” e que a transmissão destes conhecimentos populares seria passada de geração para geração inalterados; o próximo ponto é o “coletivismo”, que nos refere a uma criação coletiva e um completo apagamento da autoria, valorizando a tradição acima do indivíduo; e o “purismo”, que para Herder e seus seguidores, os detentores deste conhecimento popular eram os camponeses, pois estavam mais próximos da natureza e não sofriam a influência dos estrangeiros, adulterando assim, seus contos e canções.

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A ênfase dada aos estudos sobre o folclore nas suas mais variadas fases foi feita por Renato Ortiz (1985). Ortiz aponta que desde a tentativa de Willian Jhon Thoms – em seu investimento na Folk-lore Society, em 1849 – em sistematizar a coleta de conhecimentos populares, acaba por pecar pela ausência de uma pesquisa sistemática da cultura popular. Ortiz recua até o século XVI buscando entender o “espírito dos antiquários” e seu ímpeto colecionador fundamentado na curiosidade, em suma, estavam mais preocupados com a sabedoria popular do que com os indivíduos que as produziam. Para estes dois autores a ascensão dos estudos do popular está intimamente ligada à formação dos estados nacionais. Peter Burke nos mostra que o desenvolvimento do Iluminismo francês não teve adesão na Alemanha e na Espanha, tendo nesta última o apelo à cultura popular no século XVIII sendo um modo de “expressar oposição à França” (BURKE, 2009, p. 35). Mas este mesmo autor nos relata que “de maneira bastante irônica, a ideia de uma ‘nação’ veio dos intelectuais e foi imposta ao ‘povo’ com quem eles queriam se identificar" (BURKE, 2009, p. 37). Renato Ortiz enfatiza três elementos focados pelos românticos do século XIX: a oposição ao Iluminismo, o historicismo e o gosto pelo bizarro. Para Ortiz: “Os românticos se insurgem contra os cânones da literatura clássica, seu racionalismo e cosmopolitismo, e se voltam para as situações particulares, na qual eles enfatizam as diferenças e a espontaneidade dos sentimentos” (ORTIZ, 1985, p. 10). Este impulso romântico vai voltar sua atenção para as tradições populares, legitimando uma cultura nacional autêntica, os “costumes e a língua, ou melhor dizendo, a cultura, é o cimento social que possibilita a existência da nação como um todo” (ORTIZ, 1985, p. 12). A problemática apontada por Ortiz retoma a falta de metodologia com que as fontes foram tratadas, a “ciência do Folclore” não mencionava como o material fora coletado. Para os folcloristas duas premissas alicerçavam seu trabalho: primeiro, o fato do folclore ser uma ciência e não requerer nenhuma demonstração empírica; segundo, por se tratar de uma ciência moderna que estuda o homem selvagem, aproximando-se da teoria tayloriana do final do século XIX de que “a mente humana única, mas que as diferentes culturas a ajustam aos diversos níveis de evolução social” (ORTIZ, 1985, p. 21).

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Jacques Revel junto a Michel de Certeau e Dominique Julia (1989) demonstram que o investimento na preservação, por parte dos antiquários e folcloristas, era uma forma de compensar o viés de extinção das tradições populares. Na realidade todo esse esforço para conservação do folclore mostraria o outro caráter em jogo, o da censura. O olhar voltado para os campos e para a pureza do popular era, na realidade, um subterfúgio para desviar a atenção do perigo que as elites enfrentavam nas cidades: as classes trabalhadoras, que estavam se articulando para poderem lutar por melhorias no ambiente de trabalho e por uma sociedade mais igualitária. Outro fator foi o investimento, na primeira metade do século XX, dos regimes populistas nesse caráter rústico do popular que fez com que os estudos sobre folclore caíssem em descrédito por parte dos pesquisadores: “Espontâneo, ingênuo, o povo é, uma vez mais, a criança. Já não aquela criança vagamente ameaçadora e violenta que se quis mutilar: o filho pródigo regressa de longe e reveste-se dos atrativos do exotismo”. (REVEL, 1989, p. 59).

No Brasil este tema já foi palco de debates acirrados sobre o folclore, travados entre as décadas de 1950 e 1960 para a comprovação da sua cientificidade, tratando esta como matéria acadêmica. Encontramos uma síntese destes conflitos entre os folcloristas e os cientistas sociais no trabalho de Luís Rodolfo da Paixão Vilhena: “Projeto e Missão”. Dentro deste quadro complexo uma figura de destaque travará diálogos contra essa pretensão científica requisitada pelos folcloristas, seria o sociólogo Florestan Fernandes. Em seus artigos, não combatia o folclore nem os folcloristas, mas: “[...] uma certa concepção que tomava a prática do folclore como ‘científica’”. (VILHENA, 1997, p. 82). A base destes embates entre Florestan e os folcloristas estava na forma particular de estudar o objeto e não o folclore em si.

Luís Rodolfo da Paixão Vilhena vai abordar as tentativas fracassadas da via de institucionalização do folclore pelos folcloristas brasileiros, mostrando que: “[...] a inexistência de uma estrutura institucional que garantisse uma relativa autonomia em relação ao plano político contribuiu para a ‘marginalização’ dos estudos de folclore” (VILHENA, 1997, p.63). E como esta institucionalização é possivelmente o elo que produz a medição entre o intelectual e a sociedade inclusiva, a falta dele se mostra como um

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grande fator para os estudos deste tema se tornar objetos periféricos das ciências sociais. Temos um resumo que sintetiza bem este período no artigo: “Cultura imaterial e patrimônio histórico da nação”, da historiadora Martha Abreu (ABREU, 2007). Um trabalho que mostra a importância de colocarmos a discussão da patrimonialização no campo da história e para mostrar o quadro complexo do período pós-guerra e os investimentos da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO):

Essas iniciativas ao folclore acompanharam de perto o movimento da Unesco, logo após a Segunda Guerra Mundial, que procurava implantar mecanismos para documentar e preservar as tradições, avaliadas como em vias de desaparecimento, diante da modernização acelerada. Manifestações culturais imateriais, vistas por intelectuais e políticos como próximas do desaparecimento ou condenadas pelo seu caráter distante de uma pretensa civilização e modernidade, não pareciam combinar com a idéia de patrimônio cultural que representasse alegoricamente a unicidade da nação, sua história e identidade. O folclore tinha lugar assegurado: no Museu do Folclore e nas campanhas em sua defesa. (ABREU, 2007, p. 354).

Vemos que, desde sua criação, o folclore se tornou um lugar de conflitos para inseri-lo nas instituições, mas nem mesmo em seu auge em terras brasileiras este tema conseguiu embasamento teórico metodológico para ser alicerçado como matéria acadêmica.

Os festejos e práticas religiosas populares se tornaram os principais alvos dos discursos folcloristas e dos memorialistas. No tocante a este quesito, houve uma intensa busca pelo saber popular “puro” localizado nas zonas rurais. O olhar dos intelectuais, do final do século XIX e início do século XX, estava embaçado pelas preocupações de que a modernidade e o crescimento urbano apagassem todas as tradições populares encontradas nos campos. Essa perspectiva viciada silenciava as práticas culturais populares nos centros urbanos (SOUZA, 2020). Não de maneira desinteressada, pois, as ocupações festivas populares no âmbito da cidade eram vistas como signo do atraso da população no início do século XX.

Independente do pessimismo dos memorialistas e folcloristas, as práticas devocionais populares continuaram a ocupar o espaço público seja no meio rural ou

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urbano. Na realidade, o movimento migratório proporcionado pelos desenvolvimentos industriais no início do século XX nas regiões metropolitanas fez com que as zonas urbanas fossem remodeladas através dos “usos públicos da cidade” (CERTEAU, 2011). E, para analisar esse fenômeno, realizaremos um estudo de caso com Folia de Reis Bandeira Nova Flor do Oriente do Mestre Fumaça – Antônio José da Silva. Esse grupo ritual é atravessado pelas experiências migratórias dos seus integrantes mais antigos, que trazem em suas falas, atos e corpos a importância de manterem suas devoções como um espaço de construção e reconstrução identitária em meio ao fluxo zona rural-urbana.

A Bandeira Nova Flor do Oriente foi fundada na segunda metade do século XXI, mas carrega consigo um corpo de devotos que estão relacionados aos Santos Reis desde a mais tenra infância. Todos mencionam a importância familiar para a inserção e manutenção de suas práticas rituais, além do protagonismo daqueles que plantaram a semente da tradição em suas vidas.

A importância dos Símbolos

Para a compreensão da formação dos protagonistas das Folias de Reis a trajetória de vida se faz necessária para a análise de como estes se relacionam com os valores da sociedade e de grupo. Além de apontar como o devoto se situa no tempo e o modo como, à luz do seu passado, organiza o seu percurso histórico de vida como projeto (CATROGA, 2001, p. 20). Fernando Catroga (2001) mostra como a vivência temporal é um ato de alteridade, mesmo que a recordação seja um exercício individual, é necessário que haja uma interação entre os sujeitos para que ocorra o desenvolvimento da identidade, e que esta se estabeleça como memória de grupo, pois seria um produto social.

A identidade de grupo é construída através de ritos, como normas de conduta e etiqueta. Para que isto ocorra, é imperativo que estes ritos atuem de forma à re-presentificar (tornar presente) o ausente, trazendo a tona os sentimentos de pertencimento ao grupo. Porém, ao retomarmos Fernando Catroga (2001), vemos que este aponta para a necessidade de nos atermos nas minúcias contidas nos ritos de recordação e esquecimento, pois:

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É indiscutível que a recordação alimente a epistemologia ingênua, em que se confunde a representação com o real-passado, isto é, com a passeidade, espécie de efeito mágico em que a palavra dá ser ao que já não é. E se esta característica a distingue da imaginação, convém lembrar, porém, que ambas remetem para um ‘objeto ausente’. Mas, enquanto que a representação estética pode ter, ou não, referencialidade, o ato de recordar pretende subordinar-se ao princípio de realidade, que exige que as evocações, apesar de conjugarem no tempo passado (anterioridade), mobilizem argumentos de veridição, tendo em vista garantir fidelidade do narrado, mesmo que a sua fiança seja o juramento do próprio evocador. (CATROGA, 2001, p. 22).

Estas são características presentes nas Folias de Reis em termos de interiorização de narrativas que remetem a ancestralidade através da oralidade e dos símbolos presentes no rito. As tradições orais serão transmitidas com este intuito de verossimilhança que se restringe à questão da devoção dos foliões e de seus mestres.

Ainda segundo este mesmo autor, a memória só pode desempenhar sua função social através de ritos, liturgias centradas nos reavivamentos do que os traços-vestígios do que não existe pode causar. Estes ritos estão intimamente ligados às expectativas de futuro, que estão alicerçados em suportes materiais, sociais, simbólicos de memórias.

Desta forma, este será o nosso posicionamento: entender a memória como instância construtora e significadora de identidades, certo é que a construção dessa memória é envolvida em um diálogo entre o que será esquecido e o que será lembrado, não isentando esta de relações de poder. Pois, é relevante lembrarmos que: “O que está em jogo na memória é também o sentido da identidade individual e do grupo” (POLLAK, 1989, p. 10). Os lugares de realizações destes ritos se tornam espaços para representificações e comemorações.

Longe de representar a história e as suas problemáticas de reconstrução de um passado que não existe mais, a memória se difere em muito desta ciência. Pois a memória é a “vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela está em permanente evolução, aberta a dialética da lembrança e do esquecimento, inconsciente de suas deformações sucessivas, vulnerável a todos os usos e manipulações” (NORA, 1993, p. 9). A vulnerabilidade da memória faz com que esta seja moldada pelos grupos que vão

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encontrar nas liturgias a capacidade de criar coerência e perpetuar o sentimento de presença e de continuidade, em uma espécie de protesto, de fundo metafísico, contra a finitude da existência (CATROGA, 2001, p. 28). Neste ponto, o estudo das práticas rituais se faz necessário para a compreensão de como estes elementos são cruciais na construção da memória.

Os rituais estabelecem narrativas sobre heróis ou eventos que são transmitidos através de gestos, posições dos corpos, sentimentos compartilhados, além da oralidade. Em seu período de realização são vistos como distintos dos eventos cotidianos, pois seriam mais formais, menos variáveis, mais solenes. Neste ponto vemos que existe uma distinção entre o cotidiano e o período da realização do rito, nas palavras de Roberto Da Matta esta separação é:

[...] nítida entre um domínio no mundo quotidiano e outro: o universo dos acontecimentos extra-ordinários. A passagem de um domínio a outro é marcada por modificações no comportamento, e tais mudanças criam as condições para que eles sejam percebidos como especiais (DA MATTA, 1979, p. 38).

Esta seria a distinção do formal e informal, da solenidade e festa. Neste artigo proponho trabalharmos a análise destes rituais festivos com a definição de festa por Norberto Luiz Guarinello:

Festa é, portanto, sempre uma produção do cotidiano, uma ação coletiva, que se dá num tempo e lugar definidos e especiais, implicando a concentração de afetos e emoções em torno de um objeto que é celebrado e comemorado e cujo produto principal é a simbolização da unidade dos participantes na festa de uma determinada identidade. Festa é um ponto de confluência das ações sociais cujo fim é a própria reunião ativa de seus participantes. (GUARINELLO, 2001, p. 972).

E será através desta definição do lugar da realização do rito que exploraremos os elementos que geram a unidade deste grupo, pois os ritos de recordação, particularmente os comemorativos, têm efeitos holísticos e desempenham funções de sociabilidade que ultrapassam o problema da fidelidade (CATROGA, 2001, p. 25.).

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Dentro dessa mesma perspectiva podemos analisar o valor simbólico dos elementos presentes nos rituais extravasa as qualificações que limitavam estes símbolos à apenas acessórios e superficiais (DURKHEIM, 2003). Durkheim (2003), em seu estudo clássico sobre religião, dá a devida ênfase dada à criação da periodicidade destes ritos, que refletiriam o caráter social e a renovação e recriação da própria crença.

Eric Hobsbawm e Terence Ranger (1997) ao analisarem a “invenção das tradições” fornecem-nos chaves analíticas para a compreensão dos elementos rituais como portadores de valor prático para a formação de unidade de identidade para as comunidades analisadas, projetando também para a formação dos rituais nacionalistas. Tais valores práticos integrariam o simbólico a uma linguagem séria, gerando um valor para a sociedade, um valor histórico. Para Durkheim (2003) a periodização é necessária ao ritual, mas para Hobsbawm é o caráter prático dos símbolos que os aproximam do cotidiano, dando a ideia de sempre ter existido, através da imposição pela repetição.

Os rituais e símbolos estudados estão contidos nas narrativas que são proferidas pelo mestre da folia e que repercutem nas entrevistas dos demais integrantes do grupo, estes se referem às realizações de seus rituais como “as missões deixadas pelos Três Reis Magos”7

. A realização dos festejos é apropriada pelos foliões como um ato de devoção, mas também representa um ato de unidade, de manutenção do grupo.

Estes estudos sobre as apropriações, representações e práticas dos foliões serão desenvolvidos ao longo deste artigo, a nossa principal preocupação é analisar as entrevistas através de uma perspectiva histórica, com as chaves de leitura da Cultura Popular que Roger Chartier (1990) nos proporciona. Compreendendo a Cultura Popular através dos códigos de expressão, sistemas de representação que se estabelecem como “ligas” culturais que não demarcam solidamente a cultura popular da cultura erudita, mas sim a relação entre elas. (CHARTIER, 1990 p. 56).

Contextualização das Folias de Reis em São Gonçalo e no Rio de Janeiro

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VIANNA, Leombardino. Entrevista concedida a Luiz Gustavo Mendel Souza. Rio de Janeiro, 02 de jan. 2011.

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Para que possamos compreender as categorias de entendimento presentes nos discursos dos foliões precisamos estabelecer algumas aproximações com as realidades destes. Pois, como todas as categorias intelectuais ou psicológicas são figuras historicamente produzidas, torna-se necessário relacionarmos estes discursos com os quadros sociais em que os reiseros estão envolvidos. Chartier aponta para a importância destas questões:

As estruturas do mundo social não são um dado objetivo, tal como são as categorias intelectuais e psicológicas: todas elas são historicamente produzidas pelas práticas articuladas (políticas, sociais, discursivas) que constroem as suas figuras. São estas demarcações, e os esquemas que as modelam, que constituem o objeto da história cultural levada a pensar completamente a relação tradicionalmente postuladas entre o social, identificado com um real bem real, existindo por si próprio, e as representações, supostas como refletindo-o ou se desviando. (CHARTIER, 1990, p. 272).

Desta forma, os próximos tópicos abordarão o contexto em que o município de São Gonçalo, cidade que compõe a Região Metropolitana do estado do Rio de Janeiro, estava inserido na segunda metade do século XX, neste período a cidade recebeu um intenso fluxo de migrantes. Os números apontam que, junto ao movimento migratório, houve o crescimento expressivo no número de Folias de Reis nos centros urbanos. Isso demonstra as potencialidades analíticas destas festas como um lugar de construção e reconstrução de identidade e de enraizamento em um novo território.

O quadro 1 e o gráfico 1 são o resultado da catalogação contida na dissertação de Cristiane Guimarães Araújo (2009) e reforça o argumento da professora Cássia Frade sobre Folia de Reis: “Acreditamos ser o Estado do Rio de Janeiro a região mais rica em grupos de Folia de Reis, pelo menos em número e variantes desses bandos religiosos.” (FRADE, 1997, p. 41).

Quadro 1: Folias de Reis por região

Região Metropolitana Região Serrana Região Noroeste

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Caxias – 31 Guapimirim – 1 Itaboraí – 6 Magé – 8 Mesquita – 3 Nilópolis – 1 Niterói – 1 Nova Iguaçu – 32 Paracambi – 3 Queimados – 6 Rio de Janeiro – 46 São Gonçalo – 9 São João de Meriti – 6 Tanguá – 2 Total: 163 Cantagalo – 6 Carmo – 4 Cordeiro – 8 Duas Barras – 17 Macuco – 3 Nova Friburgo – 22 Petrópolis – 6

Santa Maria Madalena-6 S. Sebastião do Alto – 7 Sumidouro – 6 Teresópolis – 6 Total: 103 Itaocara – 15 Itaperuna – 12 Laje de Muriaé – 9 Miracema – 13 S. Antônio de Pádua – 8 São José de Ubá – 1 Total: 59

Região Centro Sul Região Norte Região Médio-Paraíba

Paraíba do Sul – 5 Três Rios – 4 Vassouras – 14 Total: 23 Campos – 1 Macaé – 1 São Fidélis – 2 Total: 4 Barra Mansa – 4 Miguel Pereira – 1 Rio Claro – 1 Rio das Flores – 8 Resende – 1 Valença – 27 Volta Redonda - 6

Total: 48

Região Baixada Litorânea Região Litoral Sul-fluminense

Cabo Frio – 2 Casemiro de Abreu – 2 Rio Bonito – 1 Silva Jardim – 1 Saquarema – 1 Total: 7 Mangaratiba – 2 Total: 2

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Fonte: INEPAC - RJ

De acordo com os dados que registrei no Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e Cultural do Rio de Janeiro (INEPAC-RJ)8

, as catalogações das Folias de Reis oscilam entre os anos de 1978, 1993, 2003 e 2008. Os registros foram realizados tanto por parte do Departamento de Patrimônio Imaterial9

, quanto por pesquisadores que disponibilizaram o resultado de suas pesquisas para o órgão estadual. Porém, não existe, pelo menos no caso do município de São Gonçalo, um número exato de folias, se elas estão ativas ou inativas, qual o período em que houve maior ocorrência destes festejos na cidade, o que nos faz acreditar que esta realidade se estenda para os demais municípios.

Se analisarmos o gráfico abaixo feito com os dados do INEPAC-RJ por Cristiane Araújo (2009) veremos esta concentração de grupos de foliões na região metropolitana e como ela pode dialogar com a história da região e sua concentração de empresas, de serviços especializados e mão-de-obra.

Gráfico 1: Porcentagem de Folias de Reis por Região no Rio de Janeiro

Fonte: ARAUJO, 2009

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Essas consultas foram realizadas entre os anos de 2010 e 2012.

9

Antiga Divisão de Folclore. 0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0% 90,0% 100,0% Região Metropolitana - 39,80% Região Serrana - 25,19% Região Noroeste - 14,43% Região Centro Sul - 5,63% Região Norte - 0,98%

Região Médio Paraíba - 11,74% Região Baix. Litorânea - 1,72% Região L. S.Fluminense - 0,50%

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Como podemos perceber o grande número de concentração de grupos de Folias de Reis na Região Metropolitana (cerca de 39,80%: 163 folias) mostra que estas manifestações religiosas ditas como rurais seriam, na realidade, um fenômeno urbano. Certamente estes números dialogam diretamente com o crescimento populacional que estaria acontecendo nesta região.

Experiência migratória e identidade cultural

As realizações das saídas das Folias de Reis carregam consigo o caráter de identidade cultural que representam para os grupos de foliões a oportunidade de criar e recriar cosmologicamente suas devoções em um novo território. Segundo Stuart Hall (2003), a experiência da pobreza e o subdesenvolvimento, que obrigam as pessoas a migrar para áreas urbanas e causam o espalhamento e o compartilhamento dessa realidade, também trazem consigo as oportunidades de uma promessa de retorno redentor (HALL, 2003, p. 28). Elas se manifestam nas práticas culturais e devocionais, que representam e se apropriam de todos os recursos presentes neste novo território.

Sendo assim, defendo que estas agremiações de festejos religiosos remontam experiências que foram vivenciadas nos locais de origem de cada folião. A realização das saídas das bandeiras nas visitações às casas dos devotos expressa a religiosidade do rito, mas também revela a manutenção da identidade deste grupo. É o território em que as vivências são experienciadas pelos integrantes das Folias de Reis (SOUZA, 2012).

Os números que serão apresentados nas próximas páginas diagnosticam a realidade do município de São Gonçalo e para que possamos estabelecer uma relação entre este recorte local para com o restante dos municípios do estado do Rio de Janeiro, vamos nos pautar em alguns estudos que trabalham a conjuntura histórica desta cidade.

Um trabalho que exibe um panorama de São Gonçalo é a dissertação de Renato Freire (2009), onde busca refletir as representações e os planejamentos de âmbito político sobre esta cidade no período de 1950 a 1954. Freire (2009) mostra que com o crescimento econômico acompanhado da explosão demográfica começou a redefinir a realidade do município. Ao abordar as características desta cidade nas primeiras décadas

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do século XX, vemos a passagem de uma região abastecedora do município do Rio de Janeiro e de Niterói com produtos agrícolas, para uma zona que começou a receber indústrias ao final da década de 1910.

Renato Freire aponta a importância de relacionarmos estes fenômenos urbanos à conjuntura histórica sobre a questão do crescimento populacional em São Gonçalo:

Não se pode perder de vista as mudanças de ordem internacional ocasionadas pela crise capitalista de 1929 e a II ª Grande Guerra que, dentre outras repercussões na localidade, acelerou o processo de expansão da área urbana de São Gonçalo, já que a exportação de laranja foi afetada contundentemente. As indústrias que viam se instalando foram alvos de transferências de capitais vindos da agricultura que, fazendo baixar o preço da terra, favoreceu a inversão imobiliária. Paralelamente, a crise agrícola liberou a quantidade de mão-de-obra em outras regiões do país, além das imigrações européias e asiáticas que se deslocaram para a Capital Federal em busca de uma nova vida. Essas migrações e imigrações resultaram na procura de moradias no Rio de Janeiro, causando uma “crise da habitação” na cidade. Estes migrantes e imigrantes caracterizam– se por possuírem poucos recursos, não se instalando na área central da Capital Federal [...] década de 1950, a cidade de São Gonçalo, detentora de indústrias e recebendo um grande fluxo migracional (FREIRE, 2009, p. 32-33).

A realidade deste município da Região Metropolitana se compara aos dos demais próximos ao Rio de Janeiro, possibilitando um jogo de escalas (REVEL, 1998) entre a realidade destes em relação ao crescimento demográfico. O vertiginoso crescimento populacional se torna notório quando vemos em números contabilizados pelo IBGE:

Quadro 2: Referente ao crescimento populacional no Estado do Rio de Janeiro.

Localidade 1960 1970 1980 1991 2000 201110 Estado do Rio de Janeiro 5.612.94611 8.994.802 11.291.631 12.807.706 14.391.302 16.112.697 Município de São 244.617 430.271 615.351 779.832 891.119 1.008.064 10

No ano de 2011 foi realizada uma estimativa, a cada 10 anos o IBGE fica responsável de realizar o censo, após o resultado deste o órgão produz a estimativa anualmente até o próximo censo.

11

Esse valor se dá devido a soma do Rio de Janeiro 3.367.738 mais o Estado da Guanabara que somava 2.245.208.

(16)

Gonçalo

Fonte: IBGE

Analisando os números, vemos o quanto o crescimento populacional nas grandes cidades em busca por melhores condições de vida foi acompanhado pelas transferências destes festejos, antes mapeados pelos folcloristas nas zonas rurais, para as regiões urbanizadas, não ocasionando necessariamente a dispersão e, concomitantemente, o fim destes folguedos religiosos. Na realidade vemos que o que foi ocasionado foi o processo de realização destas práticas identitárias em um novo território, uma prática de enraizamento. Vemos que:

[...] certas práticas, que desempenhavam um papel fundamental no estabelecimento de laços sociais e da formação de uma cosmovisão e de um ethos particular naqueles contextos, continuam a ocupar um lugar central nos espaços urbanos, tornando-se também um instrumento de afirmação de presenças culturais e de busca de formas mais efetivas de inclusão social. Nas cidades, com uma frequência cada vez maior, essas manifestações extrapolam limites ‘locais’ e passam a trafegar por contextos de maior visibilidade e publicidade, como é o caso, por exemplo, dos festivais folclóricos. (BITTER, 2010, p. 82)

Vale à pena ressaltar que estes eventos folclóricos não são uma novidade, pois tais eventos foram apoiados pelo “Movimento Folclórico” do período de 1947 e 1964. E foram patrocinados pela Comissão Nacional do Folclore, criada em fins de 1947, vinculada ao Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura, do Ministério do Exterior, ligado também a UNESCO (VILHENA, 1997).

Os Foliões

Entender a existência dessas manifestações culturais na contemporaneidade é tentar compreender os fatores que as proporcionam: como a própria identidade dos foliões. Essa identidade se tornaria clara se analisarmos a origem dos integrantes mais antigos da Folia de reis Nova Flor do Oriente, cujo dono e Mestre é o Antônio José da

(17)

Silva – Mestre Fumaça de 74 anos. Essa folia se mantém com a participação das filhas e netas do Mestre, os integrantes mais antigos seriam o senhor Leobardino Viana de 88 anos, Nélio dos Santos Bilac de 64 anos, Geraldo da Silva de 58 anos, Niraldo Martins de 74 anos e Jorge Soares Maximo de 55 anos. Além de todos os foliões citado acima, temos a participação da Maria da Penha de Souza de 62 anos, bandeireira.

Fora a família do Mestre que, segundo ele: “todo mundo aqui é nascido e criado no município de São Gonçalo”12

, e o caso do senhor Jorge Máximo que relata: “eu sou natural do Espírito Santo”, todos os demais integrantes são migrantes de outras regiões do estado do Rio de Janeiro. Mestre Fumaça nasceu em Trajano de Moraes relata:

Quando eu era criancinha, eu saí é fugido da roça lá de Trajano (de Moraes)! Eu fugi, mas fugi com o circo, fui é tentar a vida no circo, onde trabalhei como toureiro. Você sabe o que era toureiro antigamente?! A gente que era os homens responsáveis em amansar os animais! Com o circo eu viajei o Brasil inteiro, mas a gente montava o circo nas cidadezinhas do interior mesmo! A gente chegava na cidade e lá via se era bom pra montar as coisas, se o movimento (financeiro) não era muito bom não, a gente ia em bora! Foi lá que me deram o apelido de Fumaça, Fumacinha na época. (SILVA, 2011)

Sobre a Folia de Reis, o Mestre menciona que:

A mais de 30 anos e nunca tive problema não. A mais de 30 anos que eu saio e nunca tive problema não e que pratica o reisado desde os sete anos, mas: primeiro foi como folião na folia dos outros, aí aos 14 anos passei a sair de palhaço, na folia de um, na folia de outro do me sogro13

.

O falecido sogro de Fumaça era o Mestre Manoel Barcellos, ele também era proveniente da Região Norte Fluminense do estado do Rio de Janeiro.

O senhor Leobardino Viana diz:

Também sou nascido e criado em Trajano de Moraes. Eu vim para a cidade de Niterói em 1957, vim tentar a vida na cidade! Como eu dirigia na época eu fui motorista de vereador lá e por lá eu fiquei! Naquela época eu era contramestre

12

SILVA, Antônio José da. [74 anos]. [jun. 2010]. Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 04 de jun. 2010.

13

(18)

da folia de Reis do senhor Trajano na Engenhoca (bairro de Niterói). Depois eu conheci o Mestre Manoel (Barcellos) e comecei a ser o contramestre dele, foi lá que eu conheci o Mestre Fumaça. Quando o Fumaça decidiu dar continuidade a sua Bandeira, eu decidi ajudar ele e estou com ele desde então!14

.

Já Nélio dos Santos Bilac teria nascido no município de Cardoso Moreira e relata:

Eu vim para cá com uns 22 anos de idade, naquela época eu não queria ficar em Cardoso não! Eu vim na intenção de arrumar um emprego e casa na cidade (Região Metropolitana do Rio de Janeiro), naquela época eu fazia de tudo, era ajudante de pedreiro, pintava casa, fazia uns biscates pra tocar a vida pra frente! Sempre gostei de Folia de Reis, então quando eu cheguei na cidade (de São Gonçalo) logo me aproximei do Mestre Manoel (Barcellos) e disse que era devoto e se eu podia sair na Bandeira de Reis dele! Ele logo gostou de mim e assim nós começamos a fazer os giros juntos! Depois que ele faleceu eu me juntei a folia do Fumaça! Sempre gostei de Folia de Reis! Eu não posso ficar sem isso aqui, não! É uma coisa muito boa, é muita devoção, mas também é muita responsabilidade!15

.

O senhor Geraldo da Silva é oriundo da cidade de Campos dos Goytacazes, Região Norte Fluminense. Em uma de nossas entrevistas quando lhe perguntei o que achava de a folia de Mestre Fumaça ter uma grande participação familiar. Ele então me respondeu:

Ih, isso aí, pode ter certeza que alguém plantou lá atrás! Alguém da família plantou a semente e deixou a raiz. Aí a família toda é envolvida, hum! Pode ter certeza que, se você for procurar lá atrás [no histórico familiar], você vai encontrar algum avô que plantou a semente!

O senhor diz isso por quê? Teve alguém da sua família que plantou a semente? Seus parentes também eram envolvidos com folia de reis?

Sim! Minha família era toda envolvida com folia, meus tios e meus pais saíam. Aí eu também fui saindo e saio até hoje. Alguém plantou a semente, meus avós, aí toda a família saía com a folia de reis. Você também, se você for ver em sua família, alguém também plantou a semente!

Como assim?

Você sai com a folia há um tempo, você é maneiro, e pra você gostar da folia alguém plantou lá atrás, alguém deixou a semente.

Meus avôs vieram de Cardoso Moreira. Lá tinha folia e eu moro aqui perto, cresci vendo a folia de reis passar pela rua, no dia 1o

de janeiro todo ano.

14

VIANNA, Liobardino. [90 anos]. [jan. 2011]. Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 02 de jan. 2011.

15

BILAC, Nélio dos Santos. [64 anos]. [jan. 2011] Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 02 de jan. 2011.

(19)

Está vendo?! Alguém plantou a semente, deixou raiz!16

Geraldo Martins não é da família de mestre Fumaça, mas desloca-se do bairro do Méier, na cidade do Rio de Janeiro17

, para acompanhar a Bandeira Nova Flor do Oriente desde muito tempo. Ele diz ter conhecido mestre Fumaça quando saíam juntos na Folia do Mestre Manoel Barcellos.

Niraldo Martins menciona ter vindo de São Fidélis:

Eu vim pra cá (São Gonçalo) nos anos 70! Eu vim porque tinha uns familiares e amigos meus que vieram pra cá e já estavam trabalhando, aí me chamaram! Como eu tinha casa pra ficar, aí eu vim! Também fazia de tudo, trabalhei em bar, como porteiro de prédio! Tudo que aparecia eu pegava! Lá em São Fidelis eu saía na Folia de Reis dos meus tios, sempre gostei! Quando cheguei aqui (São Gonçalo) eu vi que tinha folia, aí eu logo procurei os mestres daqui pra sair como folião! Gosto muito! Já saí na Bandeira do mestre Waldecyr18

do bairro Almerinda e agora eu estou com o Mestre Fumaça!19

Jorge Soares Máximo, o sanfoneiro da folia, é capixaba de Cachoeira de Guapimirim do estado do Espírito Santo:

Eu vim de Cachoeira de Guapimirim com sete anos com minha família. Meus pais vieram tentar a vida na cidade, por causa de trabalho, estudos essas coisas. Eu sou envolvido com todas estas coisas de música e cultura, veja só?! Uma vez eu vi que minha vizinha recebia a Folia de Reis em casa, aí ela disse para os foliões que eu era tocador de sanfona. Depois disso, eles me convidaram para tocar e acabaram gostando! Hoje eu tô aqui ajudando o Fumaça, mas sempre que alguma folia me chama eu vou lá tocar porque eu adoro essas coisas, sabe?! Eu aprendi tocar a sanfona sozinho, mas eu cresci vendo a folia tocar na casa das pessoas que moravam lá na minha rua. Eu vim pra cá (São Gonçalo) depois de velho, mas sempre que eu podia eu ia ver a folia tocar lá no Rio (cidade do Rio de Janeiro)20

.

16

SILVA, Geraldo da.[58 anos]. [jan. 2011] Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 02 de jan. 2011.

17

Esse bairro fica a uma distância de 35 quilômetros do bairro do Mutuá, local onde fica a casa do mestre Fumaça.

18

Mestre Waldecyr é dono da Folia de Reis Bandeira atuante em São Gonçalo

19

MARTINS, Niraldo. [74 anos]. [jan. 2011]. Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 02 de jan. 2011.

20

MÁXIMO, Jorge Soares. .[55 anos]. [jan. 2011] Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 02 de jan. 2011.

(20)

Em entrevista ao genro do Mestre Fumaça, Bruno da Conceição de Farias de 36 anos, casado com a Lucimar Barcellos José de Souza, a Mazinha, relata: “eu nasci em Campo Grande, mas meu pai e tios teriam vindo da terra de dos meus avós que é de Itaocara (Região Noroeste do estado do Rio de Janeiro)... quer dizer de Laranjais”21

. Também nascida em Campo Grande, Maria da Penha de Souza relata: “Nasci em Campo Grande, mas minha família veio de Friburgo, Canta Galo (Região Serrana do estado do Rio de Janeiro)”22

. Em todos os casos temos a ênfase dos integrantes de terem começado a participar das folias através das influências de seus parentes, o que contribui para a afirmação das experiências familiares que serão transmitidas através das Folias de Reis, em suma, a semente plantada por algum (familiar) lá atrás!

Além dos foliões da Bandeira Nova Flor do Oriente, o Mestre Fumaça relatou-me sobre a existência de mais folias além das encontradas no catálogo do INEPAC-RJ. Foi nesta entrevista que podemos citar mais um exemplo de migração interna no estado do Rio de Janeiro:

“-Manoel Gabriel? Conheceu?

-Conheci... esse Dinho que o você escreveu aí, esse Dinho mais o Dutra aí, é assim, quer dizer era uma família, eram parentes. Esse Manoel Gabriel era o Mestre da jornada, esse Dinho mais o Dutra era... eles montaram né (eles eram os donos da Folia de Reis), eles montaram né, uma jornada, e o responsável era esse Manoel Gabriel, ele era o Mestre. E veio passando de família, que na verdade era o primo dele, depois foi outro primo, ele era palhaço esse Manoel Gabriel, ai depois que eles morreram ele passou a ser Mestre

-Ele era da onde? Esse Manoel Gabriel?

-De Santo Antônio de Pádua (Região Noroeste do estado do Rio de Janeiro), os pais deles trouxe ele pra aqui...”23

Outro caso relatado pelo Mestre Fumaça foi o de seu ex-sogro, senhor Manuel Barcellos. Este teria sido mestre da folia do Mutuá do qual Antônio José da Silva foi

21

CONCEIÇÃO, Bruno de Farias. [36 anos]. [out. 2011]. Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 01 de out. 2011.

22

SOUZA, Maria da Penha. [64 anos]. [out. 2011]. Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 01 de out. 2011.

23

SILVA, Antônio José da. [74 anos]. [jun. 2010]. Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 04 de jun. 2010.

(21)

palhaço, o finado Manuel Barcellos que teria vindo de Canta Galo (Região Serrana do estado do Rio de Janeiro).24

Todos eles têm em comum o fato de serem migrantes, exercerem suas devoções aos Santos Reis e terem sido iniciados por seus familiares. Isso nos mostra a necessidade de criarmos uma sensibilidade para o fator da família e a ocupação do território. A respeito da difícil definição de território e as suas abrangências retomo Marcel Roncayolo (1986) sobre o conceito de território, aonde a identidade recriada no território estaria mais ligada à cultura que a da estrita localização física:

A crise hoje chegou, quer a territorialidade seja definida como um complexo de comportamentos, de representações e sentimentos, quer as organizações territoriais como instituições, pode ser interpretada a vários níveis de depende de causas diversas. A crítica da urbanização limita-se, por vezes, a considerar as formas físicas, o urbanismo, enquanto seria mais justo que tratasse a mobilidade e do tipo de relações sociais que provoca. A mobilidade e o seu contrário, o enraizamento, não podem ser apreciados como valores absolutos. Ambos se referem a uma condição social e só se tornam significativos nas relações entre grupos e entre indivíduos e grupos. As respectivas posições não são exclusivamente determinadas por causas territoriais, mas é quase sempre através do território que se avaliam e se concretizam. (RONCAYOLO, 1986, p. 286).

Ao nos concentrarmos nestas práticas culturais como construção e reconstrução da identidade destes indivíduos no âmbito urbano, vemos as possibilidades de entender estas práticas devocionais como fatores que contribuem para o enraizamento destes migrantes nas cidades. Isto seria recriar a sua identidade, o seu território em outra localidade, tendo nestas relações sociais um lugar para rememorar e vivenciar suas experiências. Estes são os espaços que as Folias de Reis proporcionam aos seus integrantes, é o seu território sendo reconstruído na casa dos donos das folias, preparando-se para as suas saídas no período de jornadas, ou então nos recintos dos devotos que abrem as portas de suas casas para a entrada da bandeira recebendo as bênçãos dos mestres. Criando através deste festejo religioso um território, uma comunidade passível de se tornar espaços de sociabilidade e de solidariedade. Como

24

SILVA, Antônio José da. [74 anos]. [out. 2011]. Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 01 de out. 2011.

(22)

relata a filha mais velha do Mestre Fumaça, Lucimar Barcellos José de Souza, a “Mazinha” se estes espaços proporcionam a criação de amizades e interação com outras Folias de Reis: “Tem e muito e vem os amigos que agente conhece a muitos anos e através destas festas conhecemos outros grupos novos, que agente faz mais amizade e vem as nossas festas que agente convida”25

.

Considerações Finais

Dentro das Folias de Reis os laços familiares têm sido um dos fatores determinantes para as perpetuações destas manifestações religiosas. Dentro da Bandeira do Mestre Fumaça temos as participações de suas filhas e netas, além dos namorados delas. Os relatos de suas duas filhas e de seu genro Bruno da Conceição, casado com Lucimar Barcellos reforçam este argumento:

Bruno da Conceição de Farias: Ainda saio com o pai Waldir de Campo Grande. [...] Saía em outra folia, aí minha esposa já saía com ele (Mestre Fumaça), então eu resolvi ajudar. [...] Minha família também sai, tenho irmãos, primos sobrinhos.

26

Lucimar Barcellos José de Souza: Ah! Foi através do meu pai que fundou a jornada dele, agente saía na (folia) do meu avô que era sogro dele (Mestre Fumaça), aí depois meu pai fundou a dele27

.

Maria da Penha de Souza: Há muito tempo, saía na de Joaquim do meu tio. [...] Saía desde 10 anos na folia de Seu Anísio lá em Campo Grande eu era pastorinha28

.

Vera Lúcia Barcellos José dos Santos: Por que eu gosto, tinha o do meu avô, meu tio também teve. Aí chegou uma época que meu pai ia parar, mas a gente chegou e falou assim: se começou não vamos deixar parar né!29

25

SILVA, Lucimar Barcellos José da. [39 anos]. [out. 2011]. Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 01 de out. 2011.

26

CONCEIÇÃO, Bruno de Farias. [36 anos]. [out. 2011]. Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 01 de out. 2011.

27

SILVA, Lucimar Barcellos José de. Entrevista concedida a Luiz Gustavo Mendel Souza. Rio de Janeiro, 01 de out. 2011.

28

SOUZA, Maria da Penha. [64 anos]. [out. 2011]. Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 01 de out. 2011

29

SILVA, Vera Lúcia Barcellos José da. [37 anos]. [out. 2011]. Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 01 de out. 2011.

(23)

Maria da Penha é sobrinha do Mestre Fumaça, na Folia de Reis ela tem a função de bandeireira, diz ter sido convidada pelo mestre para exercer tal cargo: “Ele foi lá em casa me chamar, aí eu fui e dei uma mão a ele, adoro. A quanto tempo eu não sei não, isso eu não boto na cabeça”30

.

De acordo com o Mestre a participação de sua família foi o fator mais importante para a criação de sua Bandeira:

Mestre Fumaça: Quando eu fui formar minha folia, aí eu sentei assim... conversando, com essa aí que é a mais nova (Vera Lúcia), aquela ali (Lucimar) e o filho falecido, o filho que morreu. Aí ele perguntou assim: nossa roupa vai ser que cor? Aí eu respondi: -Nossa roupa? Nós somos brasileiros, vamos usar uma roupa brasileira. Aí ela falou assim: um faz a cor da calça a outra faz a cor do blusão. Aí essa ali falou assim podia ser amarelo, mas não vai ser tudo amarelo não, bota a calça verde. Aí depois que ele ali (Manoel Barcellos, ex-sogro do mestre) faleceu, ele ali usava vermelho e preto, ai nós falamos vamos mudar, vamos fazer uma lembrança do avô, aí eu falei: vamos e colocamos vermelho e branco e estamos aí lutando. São Sebastião é a cor de são Sebastião mesmo.31

Atualmente, a Bandeira do Mestre conta com a participação de suas filhas e netos, aqui, podemos perceber o quanto a experiência dos reisados é transmitida, não apenas, para a segunda, mas para a terceira geração também. Dentre os participantes temos a atuação de dois palhaços que seriam bisnetos do Mestre: Kaique Barcellos Maximino de oito anos, filho de Ilcimar Barcellos, filha do primeiro casamento de Lucimar Barcellos, o outro palhaço seria Cauã Barcellos de doze anos, filho de Valdirene Barcellos, sobrinha do Mestre por parte de sua ex-mulher. Uma neta instrumentista é a Joice Barcellos dos Santos de vinte e um anos, filha de Vera Lúcia Barcellos José dos Santos. A participação da família se torna um caráter importante para a manutenção, não só das identidades, mas também das memórias destes foliões. A semente que foi plantada pelos ancestrais do Mestre Fumaça deixou raízes tão profundas que sustentam a Bandeira Nova Flor do Oriente a mais de trinta anos. A devoção aos Santos Reis está fincada nas famílias Silva, Souza, Bilac, Vianna, Conceição, Martins, Máximo e muitas outras que estão operantes

30

SOUZA, Maria da Penha. Ibidem.

31

SILVA, Antônio José da. [74 anos]. [out. 2011]. Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 01 de out. 2011.

(24)

nos territórios urbanos, não apenas do estado do Rio de Janeiro, mas de todo o Brasil. Essa mesma semente hoje encontra ramificações nas terceira e quarta gerações de cada uma destas famílias, demonstrando que a devoção e a identidade cultural são capazes de se recriar a partir dos territórios e contextos sociais mais variados.

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Entrevistas

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SILVA, Antônio José da. [74 anos]. [out. 2011]. Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 01 de out. 2011.

SILVA, Lucimar Barcellos José da. [39 anos]. [out. 2011]. Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 01 de out. 2011.

SILVA, Vera Lúcia Barcellos José da. [37 anos]. [out. 2011]. Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 01 de out. 2011.

SOUZA, Maria da Penha. [64 anos]. [out. 2011]. Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 01 de out. 2011.

CONCEIÇÃO, Bruno de Farias. [36 anos]. [out. 2011]. Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 01 de out. 2011.

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VIANNA, Liobardino. [90 anos]. [jan. 2011]. Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 02 de jan. 2011.

VIANNA, Liobardino. [90 anos]. [mar. 2012]. Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 10 de mar. 2012.

BILAC, Nélio dos Santos. [64 anos]. [jan. 2011] Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 02 de jan. 2011.

SILVA, Geraldo da.[58 anos]. [jan. 2011] Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 02 de jan. 2011.

MARTINS, Niraldo. [74 anos]. [jan. 2011]. Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 02 de jan. 2011.

MÁXIMO, Jorge Soares. .[55 anos]. [jan. 2011] Entrevistador: Luiz Gustavo Mendel Souza. São Gonçalo, Rio de Janeiro. 02 de jan. 2011.

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