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A garantia de prioridade no atendimento. A criminalização do preconceito. Camila Bressanelli *

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A garantia de prioridade

no atendimento

Camila Bressanelli

*

A criminalização do preconceito

Antes mesmo de adentrar-se ao assunto proposto, acerca da criminaliza-ção do preconceito, vale ressaltar que, no Estado brasileiro, a Constituicriminaliza-ção da República Federativa, de 1988, trouxe, no elenco não taxativo de seus direi-tos fundamentais, o direito à igualdade entre as pessoas, independentemen-te de seu gênero, cor, sexo, condição, enfim, a igualdade peranindependentemen-te e a lei1.

Decorre que, em inúmeras situações, verifica-se a hipótese de alguém, ou um certo grupo de pessoas, não se encontrar em situação de igualdade plena, em função de sua própria condição2. É o que acontece, in casu, com

as pessoas portadoras de deficiência, que, pela sua condição especial, e em função das suas necessidades também especiais, necessitam de um trata-mento diferenciado.

Essa diferenciação no tratamento, diga-se, tem caráter positivo, ou seja, as ações por parte do Poder Público, e por parte da sociedade em geral, devem ser no sentido de viabilizar a plena integração, e a integralidade no exercício dos direitos fundamentais, das pessoas portadoras de deficiência.

Portanto, inadmissível é a discriminação negativa, aquela que vitimiza, marginaliza, e que, consequentemente, fere qualquer noção de respeito aos direitos básicos do ser humano.

Nesse sentido é que o artigo 8.º da Lei 7.853, de 1989, buscou criminalizar a prática preconceituosa, punindo aqueles que agirem de forma discrimina-tória com esse grupo de pessoas.

1 Constituição da Repú-blica Federativa Brasileira, artigo 5.º, caput: “Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qual-quer natureza, garantin-do-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:”

2 Seguindo essa linha de raciocínio, José Afonso da Silva estabelece: Porque existem desigualdades, é que se aspira à igualda-de real ou material que busque realizar a iguali-zação das condições de-siguais, do que se extrai a lei geral, abstrata e impes-soal que incide em todos igualmente, levando em conta apenas a igualda-de dos indivíduos e não a igualdade dos grupos, acaba por gerar mais de-sigualdades e propiciar a injustiça, daí por que o legislador, sob “o impulso das forças criadoras do direito [...], teve progressi-vamente de publicar leis setoriais para poder levar em conta diferenças nas formações e nos grupos sociais [...].” (SILVA, 1995, p. 208-209).

* Mestre em Direitos Hu-manos e Democracia pe- la Universidade Federal do Paraná (UFPR). Profes-sora do Centro Universi-tário Curitiba (UNICURITI-BA). Advogada.

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Estão sujeitas às penas de reclusão de um a quatro anos, e de multa, as pessoas que inviabilizarem, de alguma forma, o ingresso do aluno portador de deficiência, à escola pública ou particular, quando o motivo da recusa for, justamente, em função da deficiência que porta.

No mesmo sentido, se houver, sem justa causa, recusa à pessoa portadora de deficiência, a qualquer cargo público, emprego ou trabalho.

A recusa injustificada é aquela que repousa na discriminação, no precon-ceito, e, portanto, é inadmissível conceber que o exercício da cidadania de alguém que porta qualquer tipo de deficiência seja inviabilizado sob argu-mento preconceituoso.

Assim, a recusa a internação, ou a desídia em prestar a assistência mé-dico-hospitalar e ambulatorial, também caracteriza conduta passível de penalização.

E, ainda, deixar de cumprir, sem motivo justo, a execução de ordem judi-cial, expedida na ação civil, bem como inviabilizar, quando houver a ação do Ministério Público (MP), na ação civil, as informações e dados técnicos rele-vantes ao deslinde da causa. Trata-se da proteção ao direito fundamental de acesso à Justiça, de que é titular todo e qualquer indivíduo.

As categorias de deficiência

Quanto às categorias de deficiência, em que pese a fundamentação legal conceitual estar prevista no artigo 5.º, Decreto 5.296/20043, que definiu a

pessoa portadora de deficiência como aquela que possui limitação ou inca-pacidade para o desempenho de atividade, a doutrina tem discutido bastan-te a respeito da questão bastan-terminológica.

Para Rosana Beraldi Bevervanço (2001, p. 6), a pessoa portadora de defi-ciência é aquela que, em razão da sua condição de debilidade ou incapaci-dade física, mental ou emocional, “sofre limitação substancial em uma ativi-dade importante da vida [...] que faz sua sobrevivência normalmente difícil”. Nesse sentido, foi também a Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência, ao dispor que as pessoas portadoras de de-ficiência são “aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas

3 Conforme o artigo em

comen-to: “Art. 5.º Os órgãos da admi-nistração pública direta, indireta e fundacional, as empresas prestadoras de serviços públi-cos e as instituições financeiras deverão dispensar atendimento prioritário às pessoas porta-doras de deficiência ou com mobilidade reduzida. §1.º Con-sidera-se, para os efeitos deste Decreto: I - pessoa portadora de deficiência, além daquelas previstas na Lei nº 10.690, de 16 de junho de 2003, a que possui limitação ou incapacidade para o desempenho de atividade e se enquadra nas seguintes categorias: a) deficiência física: alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, parapare-sia, monoplegia, monopareparapare-sia, tetraplegia, tetraparesia, triple-gia, triparesia, hemipletriple-gia, hemi-paresia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as defor-midades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções; b) de-ficiência auditiva: perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz; c) deficiência visual: cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60.º; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores; d) defici-ência mental: funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifes-tação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: 1. comu-nicação; 2. cuidado pessoal; 3. habilidades sociais; 4. utilização dos recursos da comunidade; 5. saúde e segurança; 6. habili-dades acadêmicas; 7. lazer; e 8. trabalho; e) deficiência múltipla - associação de duas ou mais defi-ciências; e II - pessoa com mobi-lidade reduzida, aquela que, não se enquadrando no conceito de pessoa portadora de deficiência, tenha, por qualquer motivo, difi-culdade de movimentar-se, per-manente ou temporariamente, gerando redução efetiva da mo-bilidade, fleximo-bilidade, coordena-ção motora e percepcoordena-ção.”

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barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas4”.

Há, ainda, divergências conceituais, no que tange à deficiência mental, e à doença mental, já que, em ambos os casos, é afetado o aspecto psíquico do indivíduo. Para Daniel Souza Campos Miziara5, não é possível precisar

a causa da deficiência mental, ao contrário da doença mental, em que são vários os fatores que podem levar ao transtorno mental, como, por exem-plo, a genética, a química cerebral, o estilo de vida e os acontecimentos passados.

Dentre as nomenclaturas utilizadas, as denominações excepcional, defi-ciente e portador de deficiência são encontradas com bastante frequência. Entretanto, a mais acertada é portador de deficiência, pois a palavra excep-cional, utilizada na Emenda Constitucional de 1969, não é adequada para alguns tipos de deficiência, não podendo ser utilizada para todo esse univer-so de pesuniver-soas. Ademais, ao se adotar o termo deficiente6 dá-se prioridade à

deficiência, em detrimento da pessoa, e este não é o objetivo da legislação brasileira em vigor, a qual objetiva tratar a todos como seres humanos, e, por isso, dotados de todos os seus direitos fundamentais.

Assim, considera-se a expressão pessoa portadora de deficiência a mais acertada, tendo sido ela utilizada pela Constituição Federal de 1988 e pelas legislações voltadas à proteção da pessoa portadora de deficiência em vigor, no cenário brasileiro.

Entende-se, a partir daí, a deficiência física como a alteração total ou par-cial no corpo humano, com comprometimento da função física: a deficiência auditiva como a perda bilateral, parcial ou total de 40dB (decibéis); a defici-ência visual, que contempla a cegueira, baixa visão, conforme especifica a alínea c do artigo 5.º do Decreto 5.296/2004.

Esse mesmo Decreto define o que vem a ser a deficiência mental, existen-te naquelas pessoas cujo funcionamento inexisten-telectual for inferior, e que, con-sequentemente, acarrete o comprometimento de habilidades relacionadas à vivência social, intelectual, comportamental, enfim, que possam dificultar a convivência social plena.

É possível, entretanto, que determinada pessoa possua mais de uma de-ficiência. Nessa hipótese, o legislador utiliza a expressão deficiência múltipla para designar a associação de duas ou mais deficiências.

4 BRASIL. Decreto 6.949, de 25 de agosto de 2009. Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Proto-colo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 26 ago. 2009. Disponível em: <www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ Ato2007-2010/2009/Decreto/ D6949.htm>. Acesso em: 29 mar. 2010. 5Assim: “[...] se na deficiên-cia o indivíduo apresenta desenvolvimento intelectual reduzido ou incompleto, não dispondo, por conseguinte, de instrumentos necessá-rios à boa compreensão de todas ou de parte das coisas, na doença ou no transtorno mental ele detém os instru-mentos intelectuais neces-sários, os quais, entretanto, apresentam funcionamento comprometido”. (MIZIARA, Daniel Souza Campos.

In-terdição Judicial da Pessoa com Deficiência Intelectu-al. Disponível em: <www.

miziaraadvogados.com. br/artigos/artigo_04.pdf>. Acesso em: 8 nov. 2009). 6Nesse diapasão, o termo

deficiente é errôneo tendo

em vista que deficiente é o oposto de eficiente, desen- volvendo, assim, uma con-cepção preconceituosa des-sas pessoas, diferentemente da expressão pessoa

porta-dora de deficiência, em que,

considera-se que prevalece a pessoa e não a deficiência. (BEVERVANÇO, 2001, p. 10).

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Ainda, faz-se menção às hipóteses em que determinada pessoa que, embora não se enquadre em alguma das classificações retro referidas, de pessoa portadora de deficiência, possa apresentar, temporária ou definitiva-mente, dificuldade de movimentar-se, gerando, assim, redução na sua mobi-lidade, e/ou flexibimobi-lidade, ou ainda, na coordenação motora e percepção.

A prioridade de atendimento

A prioridade de atendimento decorre da proteção constitucional do artigo 2277, da Carta Magna, quando, por analogia, pode-se estender os

en-sinamentos da Doutrina da Proteção Integral, aplicada às crianças e aos ado-lescentes, para as pessoas portadoras de deficiência.

Por serem, as pessoas portadoras de deficiência, seres humanos, merecem proteção integral como qualquer outra pessoa, entretanto, e numa perspectiva de discriminação positiva, devem ser protegidos mais especificamente, justa-mente em função de estarem em situação de desigualdade, perante as demais pessoas que compõem a sociedade. Utilizou, o legislador, esse mesmo raciocí-nio para proteger os direitos das crianças, dos adolescentes e dos idosos.

Em legislação específica, voltada para a proteção e satisfação dos direitos das pessoas portadoras de deficiência, a prioridade de atendimento encon-tra seus fundamentos legais na Lei 7.853/89, no artigo 2.º, parágrafo único, no Decreto 3.298/99, em seu artigo 9.º, e nas Leis 10.048 e 10.098, ambas de 2000, respectivamente, em seus artigos 1.º e 4.º.

Lei 10.048/2000 e alterações posteriores

A Lei sob exame objetivou, em suma, propiciar a referida garantia de prio-ridade às pessoas portadoras de deficiência, aos idosos, aqui compreendidos como as pessoas maiores de 60 anos, às gestantes e às lactantes, e, ainda, às pessoas acompanhadas de crianças de colo.

Ademais, disciplinou a questão da reserva de assentos, nas empresas de transporte, para esse grupo de pessoas, garantindo-lhes, dessa forma, o bem-estar pleno e a certeza de um convívio social mais eficaz.

E ainda, foram estabelecidas, através dessa Lei, as normas de construção para edifícios, logradouros e sanitários de uso público, no sentido de garantir a total acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência a esses lugares.

7É este o teor do artigo 227, da Constituição Fe-deral: “Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionaliza-ção, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e co-munitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discrimina-ção, exploradiscrimina-ção, violência, crueldade e opressão.”

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Os mandamentos legais, advindos dessa Lei, positivaram-se em 2004, através da entrada em vigor do Decreto 5.296.

A acessibilidade

O conceito de acessibilidade está previsto, no ordenamento pátrio, no artigo 2.º, I, da Lei 10.098/2000, e é de extrema importância a sua análise, tendo em vista ser a acessibilidade um dos conceitos de maior relevância, quando do estudo dos direitos das pessoas portadoras de deficiência.

Assim, disciplina o referido artigo8 que a acessibilidade representa a

forma pela qual o portador de deficiência tem a garantia de respeito aos seus direitos sociais básicos, como o de ir e vir, por exemplo. Ainda, condi-ciona o exercício desses direitos a uma noção de vivência com segurança, e com autonomia, em todos os equipamentos urbanos, edificações, enfim, em tudo aquilo que envolve o comportamento diário de qualquer indivíduo, no exercício do seu direito à convivência social.

Barreiras arquitetônicas

Inicialmente, deve-se compreender, de acordo com as definições da Lei sob exame, as barreiras, como sendo qualquer tipo de obstáculo que limite ou que impeça o acesso e a circulação, com segurança, no ir e vir das pessoas portadoras de deficiência. Sendo assim, estipulou, o legislador, que as bar-reiras arquitetônicas podem ser: urbanísticas; na edificação; nos transportes; nas comunicações.

As barreiras urbanísticas são as existentes nas vias públicas e nos espaços de uso público, enquanto que as barreiras nas edificações são aquelas possi-velmente existentes no interior dos edifícios públicos e privados.

Com relação às barreiras nos transportes, como já sugere o próprio nome, tratam-se das barreiras existentes nos meios de transportes. E as barreiras nas comunicações, que têm sido um grande desafio em face dos avanços da tecnologia, são aquelas que dificultam ou inviabilizam a comunicação dos indivíduos portadores de deficiência e que venham a dificultar o recebimen-to de mensagens pelos meios de comunicação, em massa ou não.

8Lei 10.098/2000 [...] Art. 2.º Para fins desta Lei são estabelecidas as seguin-tes definições: I – acessi-bilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamen-tos urbanos, das edifica-ções, dos transportes e dos sistemas e meios de comu-nicação, por pessoa porta-dora de deficiência ou com mobilidade reduzida.

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Mobiliário urbano

O mobiliário urbano também pode vir a atrapalhar o ir e vir das pessoas portadoras de deficiência. Aqui, devem ser entendidos como aqueles obje-tos nas vias e espaços públicos, como os semáforos, as fontes, os toldos, as cabines telefônicas, por exemplo.

Ajuda técnica

A ajuda técnica deve ser compreendida como forma de facilitar a auto-nomia pessoal e o acesso e uso de meio físico, pela pessoa portadora de deficiência.

O artigo 8.º, inciso V, do Decreto 5.296/2004 definiu a ajuda técnica como sendo:

Art. 8.º [...]

V - ajuda técnica: os produtos, instrumentos, equipamentos ou tecnologia adaptados ou especialmente projetados para melhorar a funcionalidade da pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida, favorecendo a autonomia pessoal, total ou assistida;

Sendo assim, o cão-guia, por exemplo, é, para o deficiente visual, uma ajuda técnica9.

A inclusão social

A inclusão social é um dos princípios da Política Nacional para a Integra-ção da Pessoa Portadora de Deficiência, conforme o artigo .5º do Decreto 3.298/9910.

Nesse sentido, a atuação do Poder Público, através da parceria entre a Po-lítica Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência e o Pro-grama Nacional de Direitos Humanos, é para propiciar, com integralidade, o exercício do direito fundamental a todos os indivíduos, e, especificamente, garantir a qualidade de vida das pessoas portadoras de deficiência.

9 É o que prevê o artigo 6.º do Decreto 5.296/2004: “Art. 6.º O atendimento prioritário compreende tratamento diferenciado e atendimen-to imediaatendimen-to às pessoas de que trata o art. 5.º. §1.º O tratamento diferenciado inclui, dentre outros: [...] VIII - admissão de en-trada e permanência de cão-guia ou cão-guia de acompanhamento junto de pessoa portadora de deficiência ou de treina-dor nos locais dispostos no caput do art. 5.º, bem como nas demais edifi-cações de uso público e naquelas de uso coletivo, mediante apresentação da carteira de vacina atu-alizada do animal.” 10 Decreto 3.298/99: Art. 5.º A Política Nacio-nal para a Integração da Pessoa Portadora de De-ficiência, em consonância com o Programa Nacio-nal de Direitos Humanos, obedecerá aos seguintes princípios; I - desenvolvi-mento de ação conjunta do Estado e da sociedade civil, de modo a assegu-rar a plena integração da pessoa portadora de deficiência no contexto socioeconômico e cultu-ral; II - estabelecimento de mecanismos e instrumen-tos legais e operacionais que assegurem às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos que, de-correntes da Constituição e das leis, propiciam o seu bem-estar pessoal, social e econômico; e III - respeito às pessoas portadoras de deficiência, que devem re-ceber igualdade de opor-tunidades na sociedade por reconhecimento dos direitos que lhes são asse-gurados, sem privilégios ou paternalismos.

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Essa atuação requer, em verdade, o desenvolvimento de ação conjunta do Estado e da sociedade civil, para viabilizar a criação de mecanismos su-ficientemente eficazes, para o pleno exercício de direitos básicos. Somente dessa forma é que se poderá falar em respeito e garantia de igualdade de oportunidades para todos, sem distinção de qualquer natureza, conforme reza o texto constitucional brasileiro, de 1988, no caput do artigo 5.º.

O atendimento prioritário

Acerca do atendimento prioritário, vale relembrar o que já fora referido, acerca da necessidade de priorização de atendimento de todo e qualquer as-sunto que envolva, de qualquer forma, direta ou indiretamente, os interesses das pessoas portadoras de deficiência, justamente por estarem em situação de desigualdade natural.

Por essa razão, necessitam de uma proteção especial, numa atitude de inclusão positiva, de proteção diferenciada àqueles que estão em situação diferenciada, como já explicado.

O Decreto 5.296/2004, no seu artigo 6.º, procurou especificar quais são as situações em que o atendimento prioritário deverá ser conferido. Logi-camente que se deve interpretar de forma extensiva o teor desse artigo, de maneira a albergar as mais diversas situações em que as pessoas portadoras de deficiência possam necessitar do atendimento prioritário.

Assim, a garantia de assentos de uso preferencial, com a devida sinali-zação, por exemplo, estabelecem a garantia de instalações acessíveis a qualquer indivíduo, e, especialmente, aos portadores de deficiência. Nessa mesma linha, a legislação referida determina a obrigatoriedade da existência de mobiliário de recepção e atendimento adaptado à altura e à condição de cadeirantes, e de áreas de embarque e desembarque de pessoas portadoras de deficiência, ou com mobilidade reduzida.

Além dos aspectos estruturais, o Decreto sob exame estipulou, também, a importante e necessária capacitação humana. Ou seja, deve haver, na prestação dos serviços relativos ao exercício dos direitos fundamentais

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bá-sicos, pessoas capacitadas a estabelecer compreensiva e eficaz comunica-ção com pessoas portadoras de deficiência visual e auditiva, por exemplo, pela utilização da Língua Brasileira de Sinais (Libras).

Importante salientar que o atendimento prioritário deve ser informado, ou seja, deve haver, em lugar visível, a informação de que esse atendimento é devido e obrigatório às pessoas portadoras de deficiência.

O decreto 5.296/2004

Tal Decreto, já referido em diversos momentos, surgiu para regulamentar as Leis 10.048, de 8 de novembro de 2000, que deu prioridade de atendi-mento às pessoas que especifica, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabeleceu normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibili-dade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobiliacessibili-dade reduzida e deu outras providências.

Percebe-se uma preocupação especial do legislador, nesse Decreto, com a noção de plena acessibilidade às pessoas portadoras de deficiência.

Acesso à Justiça

O direito de acesso à Justiça é direito fundamental de qualquer ser humano. Para as pessoas portadoras de deficiência, através da proteção que o legislador brasileiro proferiu em legislações específicas, esse direito apare-ce nítido, por exemplo, pela abrangência da legitimidade ativa do artigo 3.º da Lei 7.853/89.

Assim, nas ações civis públicas destinadas à proteção de interesses difu-sos ou coletivos das pessoas portadoras de deficiência, a legitimidade ativa poderá ser do Ministério Público (MP), de qualquer dos entes federativos (União, Estados, Municípios e o Distrito Federal), por associação (desde que constituída há mais de um ano), por autarquia, por empresa pública, funda-ção ou sociedade de economia mista, desde que tenham, dentre suas finali-dades, a proteção de pessoas portadoras de deficiência.

Na Lei 7.853/89, acerca da proteção ao direito de acesso à Justiça, é im-portante analisar o disposto nos artigos 3.º ao 7.º, no afã de compreender que a participação do MP, nas ações que envolvam interesses de pessoas portadoras de deficiência, é fundamental e obrigatória.

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Os legitimados ativos, supra referidos, poderão requerer as certidões e as informações necessárias à fundamentação da ação, à autoridade compe-tente. Há, ainda, a possibilidade de litisconsórcio ativo, hipótese na qual fica facultado aos diversos legitimados ativos habilitarem-se como litisconsortes nas ações propostas por qualquer deles.

Em caso de desistência da ação, qualquer dos legitimados poderá assu-mir a titularidade ativa. Das sentenças e decisões proferidas contra o autor da ação, caberá recurso que poderá ser interposto por qualquer legitimado, inclusive pelo MP.

Dicas de estudo

Estudo dos elementos da urbanização, conforme a Lei 10.098/2000. A acessibilidade nos sistemas de comunicação e sinalização, Lei 10.098/2000. A acessibilidade à informação e comunicação no Decreto 5.296/2004. Crítica: a acessibilidade nos transportes.

Referências

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BRASIL. Lei 11.126, de 27 de junho de 2005. Dispõe sobre o direito do portador de deficiência visual de ingressar e permanecer em ambientes de uso coletivo acom-panhado de cão-guia. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 jun. 2005. Disponí-vel em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11126.htm>. Acesso em: 29 mar. 2010.

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BRASIL. Decreto 5.296, de 2 de dezembro de 2004. Regulamenta as Leis 10.048, de 8 de novembro de 2000, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 3 dez. 2004. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm>. Acesso em: 29 mar. 2010.

BRASIL. Decreto 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Regulamenta a Lei 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 21 dez. 1999. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3298.htm>. Acesso em: 29 mar. 2010. BRASIL. Decreto 3.691, de 19 dezembro de 2000. Regulamenta a Lei 8.899, de 29 de junho de 1994, que dispõe sobre o transporte de pessoas portadoras de defi-ciência no sistema de transporte coletivo interestadual. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 dez. 2000. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/decre-to/D3691.htm>. Acesso em: 29 mar. 2010.

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Referências

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