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SETORES CENSITÁRIOS E POPULAÇÃO VULNERÁVEL A MOVIMENTOS DE MASSA: ESTUDO DE CASO DA BAIXADA SANTISTA SP 1

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SETORES CENSITÁRIOS E POPULAÇÃO VULNERÁVEL A MOVIMENTOS DE MASSA: ESTUDO DE CASO DA BAIXADA SANTISTA – SP1

Saulo de Oliveira Folharini2 Regina Célia de Oliveira3

RESUMO

Entre as modificações causadas pelo homem no meio ambiente, os aglomerados urbanos, que resultaram em metrópoles com milhões de habitantes, causam modificações significativas como a canalização de rios, impermeabilização do solo, poluição atmosférica afetando o bem estar da população. Essas metrópoles, no Brasil, se localizam em sua maioria, na zona costeira devido ao histórico de colonização e ocupação. Como essa ocupação já está consolidada, os problemas decorrentes devem ser diagnosticados e prognosticados de acordo com instrumentos legais que amparem a preservação da natureza. Para embasar os diagnósticos a utilização das geotecnologias é um importante instrumento que auxilia a tomada de decisão para gerir o território da melhor forma possível. O presente estudo propõe uma sequência de procedimentos em ambiente SIG para identificar quais setores censitários e população são vulneráveis à ocorrência de movimentos de massa, tendo como área de estudo a Baixada Santista.

Palavras-chave: Movimentos de massa. Geotecnologias. Gestão territorial. Zona Costeira. Serra do Mar.

INTRODUÇÃO

Ao considerar uma paisagem vulnerável frente a um risco externo, conjectura-se que um processo ou evento tem potencial para alterar as condições naturais e de estabilidade da paisagem. A vulnerabilidade possui diferentes definições a depender da abordagem adotada, no presente estudo consideramos a definição de Santos (2007, p. 179), “[...] grau de suscetibilidade em que um componente do meio, de um conjunto de componentes ou de uma paisagem apresentam em resposta a uma ação, atividade ou fenômeno”.

As intensas modificações efetuadas pelo homem na natureza podem leva-la a perda de capacidade de recuperação. Da mesma forma a sociedade precisa se adequar as modificações que provocou no meio ambiente. Neste contexto, a discussão sobre como planejar o território preservando características naturais e sustentando o desenvolvimento da sociedade é fundamental.

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Trabalho apresentado no IV Seminário Nacional sobre População, Espaço e Ambiente, realizado nos dias 23 e 24 de Outubro de 2017, em Limeira, SP, nas dependências da FCA/UNICAMP.

2 Doutorando em Geografia – Instituto de Geociências (UNICAMP). E-mail: sfolharini@gmail.com 3

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Entre os processos que podem ser desencadeados, os movimentos de massa são responsáveis por aumentar a vulnerabilidade da população que vive em áreas de risco, como encostas, áreas ocupadas devido à dinâmica de uso e ocupação das terras baseada no princípio da especulação imobiliária e mercantilização do território, impondo o deslocamento da população a áreas susceptíveis (RODRIGUEZ; SILVA, 2013; TOMINAGA; SANTORO; AMARAL, 2009).

Bonachea et al. (2010) é um exemplo de estudo nessa temática, os autores identificaram aumento significativo de deslizamentos em relação ao avanço da ocupação no vale do Deva, Espanha e na Itália. O estudo conclui que o avanço da ocupação humana, principalmente a partir da década de 1980 foi responsável pelo aumento da frequência dos desastres.

Já Remondo et al. (2005) fizeram uma análise temporal, avaliando a influência do homem em processos de deslizamentos, em duas escalas de tempos distintas, 100ka e 43 anos na região da Cantabria, nordeste da Espanha. Os autores identificaram períodos com maior número de movimentos de massa associados ao maior volume de precipitação no Pleistoceno superior e Holoceno, momento em que a maior ocorrências de movimentos de massa coincide com dois períodos de atividades humanas intensas, a revolução neolítica, em torno de 5.500 anos e a revolução industrial à 200 anos (REMONDO et al., 2005).

Os deslizamentos de terra ao ocorrerem em áreas urbanas declivosas resultam em danos a propriedades particulares, equipamentos de infraestrutura urbana, efeitos sociais e econômicos diversos. Quando ocorrem em áreas desabitadas podem resultar em impactos aos recursos naturais essenciais a vida humana, como os recursos hídricos, desflorestamento, impactos em ecossistemas terrestres e aquáticos, causando da mesma forma prejuízos sociais, culturais e econômicos (VEDOVELLO; MACEDO, 2007).

Esse cenário de vulnerabilidade ocorre na Serra do Mar Paulista, área onde a população está vulnerável a movimentos de massa devido a uma política de planejamento territorial e social ineficiente. Municípios como Santos, Guarujá, São Vicente e Cubatão destacam-se economicamente, devido à presença da indústria petrolífera e ao porto de Santos. A importância econômica atraiu por extenso período grande fluxo migratório, aumentando a densidade populacional dessas cidades e consequentemente os riscos, devido à ocupação se direcionar as

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O presente trabalho tem por objetivo identificar quais setores censitários e quantificar o número de moradores da Baixada Santistas são vulneráveis a processos de movimento de massa, utilizando para tanto, processamento de imagens de satélite e dados georreferenciados de declividade, uso e cobertura da terra e malha de setores censitários.

METODOLOGIA

No desenvolvimento deste estudo foram utilizadas os planos de informações uso da terra e declividade em graus, elaboradas por Gigliotti (2010), material que integrou o projeto Zoneamento Geoambiental do litoral do Estado de São Paulo e litoral norte fluminense do Estado do Rio de Janeiro como instrumento de ordenamento territorial, financiado pela FAPESP e desenvolvimento pelo Núcleo de Estudos Ambientais e Litorâneos da Universidade Estadual de Campinas e o plano de informação setores censitários da Região Metropolitana de Santos, organizada pelo Centro de Estudos da Metrópole. Foram organizados dados tabulares e em formato shapefile identificando os setores urbanos e a população que vive em áreas de risco à movimento de massa.

A primeira etapa foi classificar (ferramenta Classifity) o raster e exportar em shapefile os intervalos de declividade nos intervalos definidos por Bitar, Freitas e Ferreira (2012) sobre ocupação urbana: deve ser evitada (entre 30 e 45°) e impedida (acima de 45°).

Em seguida o resultado da primeira etapa foi correlacionado com o de uso e cobertura das terras (ferramenta Intersect), resultando em uma tabela de atributos com informações de qual classe de uso existe em cada intervalo de declividade considerado. A utilização do plano de informação uso e cobertura das terras se justifica devido a alguns setores censitários urbanos não possuírem sua área total ocupada, sendo necessário identificar qual o uso existente nestes áreas não ocupadas do setor.

A terceira etapa foi relacionar o shapefile resultante da segunda etapa, com o shapefile de setores censitários (ferramenta Clip), definindo as áreas de cada setor censitário que são vulneráveis a movimentos de massa. O resultado deste processamento foi uma tabela de atributos com as informações classe de declividade, uso existente nestes locais e áreas vulneráveis dos setores censitários.

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Em seguida, foi aplicada uma regra de três simples, com objetivo de identificar o número de residentes vulneráveis. A fórmula utilizada para este cálculo foi:

A utilização destes procedimentos resultou em uma visão holística da configuração espacial da região metropolitana da Baixada Santista, que será abordada no próximo tópico.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A região metropolitana da Baixada Santista obteve um significativo aumento da população, a partir da década de 1970 com intensificação de ocupação voltada ao transporte e serviços para o porto de Santos, além de plantas industriais diversas que acarretaram mudanças substancias na paisagem que possui como compartimentos geomorfológicos marcantes, os manguezais, restingas, planícies e a serra do mar (YOUNG, 2008).

O histórico de ocupação da Baixada Santista reflete os resultados do presente estudo. Ao correlacionar os planos de informações, foram obtidos os seguintes valores totais de área vulnerável (m²) em cada município e o número de moradores em domicílios vulneráveis aos processos de movimento de massa (tabela I), dado produzido considerado a equação I:

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TABELA I – Porcentagem de área vulnerável dos setores de risco Município Área Total do setor censitário (km²) Área Vulnerável do setor censitário (km²) % Área do setor censitário vulnerável Total de moradores em domicilio em setores censitários de risco Número de moradores vulneráveis % de Moradores Atingidos Bertioga 27,98 1,08 4 4.017 400 9,95 Cubatão 102,88 30,41 29 11.593 1.031 8,9 Guarujá 71,3 8,01 11 25.858 2.158 8,35 Itanhaém 50,37 1,27 3 681 15 2,13 Mongaguá 77,1 9,37 12 5.520 421 7,62 Peruíbe 126,6 12,76 10 4.499 143 3,19 Praia Grande 80,78 15,51 18 2.095 77 3,68 Santos 42,08 2,19 5 33.832 4.332 12,81 São Vicente 14,4 1,11 8 8.490 1.026 12,08 TOTAL 593,49 81,71 100 96.585 9.603 9,94

TOTAL de moradores da Baixada Santista 1.797.500 9.603 0,53

Fonte: Elaborado pelos autores.

A análise desta tabela evidencia que os municípios com maior área vulnerável a processos de movimento de massa são Cubatão e Praia Grande, entretanto os municípios de Santos e São Vicente são os que têm maior porcentagem de moradores atingidos. Esse resultado deve-se ao histórico de ocupação e industrialização da Baixada Santista.

Ao analisar os dados de maneira integrada, o resultado foi que 0,53% da população da Baixada Santista e 9,94% da população dos setores vulneráveis possuem suas residência em locais onde podem ocorrer processos de movimentos de massa.

Considerando as informações organizadas na tabela I, conclui-se que não há uma relação direita entre o número de moradores vulneráveis com a área vulnerável (km²). Os municípios de Santos e São Vicente e Praia Grande, são os três municípios com maior densidade demográfica da Baixada Santista.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso de imagens de satélite para a gestão do território é uma forma eficaz para gestão do território. Para a interpretação desses dados é necessário softwares de SIG que possuem inúmeros recursos e ferramentas para manipulação e

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processamento. É através deles, que se pode criar sequências de processamento adequadas para os mais diferentes fins.

Na metodologia, foi possível tratar dados disponibilizados gratuitamente por diferentes instituições de pesquisa, criando uma sequência com as ferramentas em ambiente SIG, que identificaram áreas vulneráveis a movimentos de massa. Cabe ressaltar, que de acordo com a disponibilidade de informações ou objetivo do trabalho é possível inserir novas informações.

Conclui-se que as áreas vulneráveis aos movimentos de massa são específicas e distribuídas em declividades intensamente ocupados nos municípios de Santos e São Vicente, além das vertentes da Serra do Mar, predominantemente no município de Cubatão.

Quanto à vulnerabilidade da população o cenário é um pouco diferente. A população de Santos e São Vicente são as mais afetadas, devido a sua ocupação ser mais densa e ter se expandido aos morros isolados.

Com isso há uma diferença fundamental a ser considerada, mesmo com uma grande área vulnerável aos movimentos de massa, a população mais afetada está concentrada em uma pequena área. Com isso, deve-se considerar que estudos como esse podem servir como diagnóstico para gestão territorial e consequentemente a expansão urbana dos municípios, se atentando a limitar a densidade e tipos de ocupação que podem ser consolidas em áreas de risco.

REFERÊNCIAS

BITAR, O. Y.; FREITAS, C. G. L.; FERREIRA, A. L. Classificação da declividade para fins de normalização geotécnica em planejamento urbano: estudos em áreas de domínio pré-cambriano na região sudeste. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 46., CONGRESSO DE GEOLOGIA DE PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA, 1., 2012, Santos, SP. Anais... São Paulo, SP: SBG, 2012.

BONACHEA; J. et al. Natural and human forcing in recent geomorphic change; case studies in the Rio de la Plata basin. Science of the Total Environment, Amsterdam, v. 408, p. 2674–2695, 2010.

GIGLIOTTI, M. S. Zoneamento geoambiental da região da Baixada Santista-SP como subsídio ao uso e ocupação das terras. 2010. 175f. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2010.

REMONDO, J. et al. Human impact on geomorphic processes and hazards in mountain areas in northern Spain. Geomorphology, Amsterdam, v. 66, n. 1, p. 69-84, 2005.

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RODRIGUEZ, J. M. M.; SILVA, E. V. Planejamento e gestão ambiental: subsidios da geoecologia das paisagens e da teoria geossitêmica. Fortaleza, CE: Editora da UFC, 2013.

SANTOS, R. F. Vulnerabilidade ambiental. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente, 2007.

TOMINAGA, L. K.; SANTORO, J.; AMARAL, R. Desastres naturais: conhecer para prevenir. São Paulo, SP: Instituto Geológico, 2009.

VEDOVELLO, R.; MACEDO, E. S. Deslizamentos de encostas. In: SANTOS, R. F. (ed.). Vulnerabilidade ambiental: desastres naturais ou fenômenos induzidos? Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente, 2007. p. 75-93.

YOUNG, A. F. Transformações socioespaciais da Baixada Santista: identificação das e vulnerabilidades socioambientais através do uso de geotecnologias. Campinas, SP: Nepo/Unicamp, 2008.

Referências

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