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O PROFESSOR-EDUCADOR DE FILOSOFIA COMO AGENTE DA CRITICIDADE NA SALA DE AULA DO ENSINO MÉDIO

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O PROFESSOR-EDUCADOR DE FILOSOFIA COMO AGENTE DA CRITICIDADE NA SALA DE AULA DO ENSINO MÉDIO

Rafael Bruno Gomes da Silva1

Graduando em Filosofia/UEPB rb-silva1994@hotmail.com.

Elizabete Amorim de Almeida Melo2

Centro de Educação/UFAL elizabete.amorim@yahoo.com.br

RESUMO

O presente construto pretende discutir quais são os objetivos do Ensino de Filosofia no Ensino Médio e qual o papel do professor nesse processo de ensino-aprendizagem. De acordo com as pesquisas e as orientações dos documentos legais sobre o Ensino de Filosofia, tal ensino deve favorecer o desenvolvimento do pensamento crítico, reflexivo e filosófico, mediado pelo professor-educador que se apresenta como agente da criticidade no espaço escolar. Entretanto, o educador não é um ser detentor de conhecimentos acabados, mas um ser inacabado, que assim como seus alunos, se encontra em constante processo de aprendizagem. Todavia, o professor de Filosofia deve ser “um parteiro de conhecimentos”, como relata Platão no “Teeteto” (2001), envolvendo seus alunos por meio de argumentos, de ideias e de conhecimentos empíricos, científicos, teológicos e, sobretudo, dos conhecimentos filosóficos adquiridos ao longo de sua formação. Além disso, o Ensino de Filosofia deve promover espaços de reflexão que favoreçam o desenvolvimento da autonomia do pensar dos discentes, dando-lhes a liberdade de questionarem sobre acontecimentos e fatos que ocorrem na realidade, à luz das contribuições dos filósofos, independentes destes serem antigos, medievais, modernos ou contemporâneos, possibilitando, assim, a superação do senso comum por meio do “espanto e da admiração”. Assim, nesse trabalho utilizamos as contribuições e ideias de Galo (2002), Cerletti (2003), Marcondes (2004), Favaretto (2004), Ghedin (2009) e documentos do MEC (1999).

PALAVRAS-CHAVE: Ensino de Filosofia. Formação docente. Ensino Médio.

1 INTRODUÇÃO

Neste trabalho buscamos refletir sobre uma diretriz de como deve ser o Ensino de Filosofia no Ensino Médio, baseados nas discussões apresentadas pelas Orientações Curriculares Nacionais do ensino Filosofia (OCN’s, 2013), a qual se dirige para o principal questionamento acerca da Filosofia e o seu ensino, ou seja,

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Graduando do Curso de Filosofia pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Membro do Núcleo de Estudos Platônicos & Antiguidade (UEPB/CNPQ). Membro do Projeto de Extensão:

Filosofia Antiga no Ensino Médio (UEPB/UFAL). Monitor do Componente Curricular História da

Filosofia Antiga (UEPB) no período de 2012.2 a 2014.2.

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2 para a preocupação “[d'] o que o aluno deve conhecer e que competências desenvolver no curso de Filosofia no Ensino Médio” (BRASIL, 2013, p. 40).

As problemáticas apresentadas pelas OCN’s para o Ensino de Filosofia dirigem-se também ao questionamento de qual ou quais metodologias possam contribuir para o desenvolvimento do ensino da Filosofia no Ensino Médio, qual o papel e a função do professor e, ao mesmo tempo, como desenvolver “sujeitos autônomos e cidadãos conscientes” (p. 42).

Consideramos que as OCN’s (2013) demonstram todo um cuidado para o desenvolvimento do Ensino de Filosofia no Ensino Médio, visando alcançar melhorias na prática do ensino nas escolas públicas brasileiras, favorecendo para a construção de seres conscientes e críticos. Entretanto, este é apenas um documento que se constitui como orientações e não tem força de lei. Mesmo que tivesse força de lei, não é garantia de aplicabilidade na prática.

Como em qualquer disciplina, a Filosofia não deve visar apenas à passagem de conteúdos, mas contribuir para a aprendizagem de tais conteúdos, em que o aluno, como ser integrante da sociedade, possa colaborar para aplicação dos mesmos na própria sociedade, por meio do seu processo de reflexão juntamente com os questionamentos e as problemáticas filosóficas desenvolvidas pelos grandes pensadores ao longo da história.

Nessa direção, este trabalho busca refletir brevemente sobre as seguintes questões: quais são os objetivos do Ensino de Filosofia no Ensino Médio? Qual deve ser o papel do professor nesse processo de ensino e aprendizagem em sala de aula?

2 OBJETIVOS DO ENSINO DE FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, os estudantes, ao final do Ensino Médio, devem “dominar os conteúdos de Filosofia e Sociologia necessários ao exercício da cidadania” (Artigo 36).

Nesse sentido, ampliando o debate, Silvio Gallo (2002) em A Especificidade

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3 [...] ensinar Filosofia é um exercício de apelo a diversidade, ao perspectivismo; é um exercício de acesso a questões fundamentais para a existência humana; é um exercício de abertura ao risco, de busca de criatividade, de um pensamento sempre fresco; é um exercício de pergunta e da desconfiança da resposta fácil. Quem não estiver disposto a tais exercícios, dificilmente encontrará prazer e êxito nessa aventura que é ensinar Filosofia, aprender Filosofia (GALLO, 2002, p. 199).

Para Gallo (2002), o Ensino de Filosofia deve ser questionador, visando conhecer os fatos e as ações vivenciadas em nosso dia a dia pela sociedade.

Mas, qual o maior desafio na prática do Ensino de Filosofia nas escolas? Ensinar Filosofia é um grande desafio, pois, com ela, possibilitamos a todos que a estudam o poder argumentativo, interpretativo e interrogativo (GALLO, 2002).

Entretanto, Marcondes (2004) em É possível ensinar a Filosofia? E, se

possível como? ressalta que:

[...] O grande desafio para o ensino da Filosofia consiste em motivar aquele que ainda não possui qualquer conhecimento do pensamento filosófico, ou sequer sabe para que serve a Filosofia, a desenvolver o interesse por este pensamento, a compreender sua relevância e a vir a elaborar suas próprias questões (MARCONDES, 2004, p. 64).

Para Marcondes (2004), o Ensino de Filosofia deve ser um ensino motivador, que desperte o interesse dos alunos, principalmente, daqueles que não a conhecem e que não sabem para que ela serve.

Favaretto (2004) em Filosofia, Ensino e Cultura, por sua vez, chama atenção para o seguinte aspecto:

[...] situar a Filosofia como disciplina escolar no horizonte dos problemas contemporâneos – científicos, tecnológicos, ético-políticos, artísticos ou os decorrentes das transformações das linguagens e das modalidades e sistemas de comunicação – implica uma tomada de posição para que a sua contribuição seja significativa quanto aos conteúdos e processos cognitivos. (FAVARETTO, 2004, p. 48).

O Ensino de Filosofia pode permitir e possibilitar ao aluno o poder de autonomia, dando-lhe a liberdade de questionar todos os fatos de sua realidade, juntamente com o pensamento dos filósofos seja eles antigos, medievais ou contemporâneos.

Quando este ensino é levado a sério e tem as condições materiais adequadas para a sua realização com sucesso em sala de aula, ele pode possibilitar

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4 também aos alunos o desenvolvimento do seu senso crítico e criativo, por meio do “espanto e da admiração” em relação aos fatos ocorridos na atualidade, pois quando conhecemos algo de maneira clara, automaticamente nos é permitido o poder de questionar, fazendo acontecer o verdadeiro ensino da Filosofia, por meio do filosofar em sala de aula (GALLO, 2002).

Nas Orientações Curriculares para o Ensino de Filosofia no Ensino Médio (OCM, 2013), por sua vez, os objetivos atribuídos ao Ensino de Filosofia no Ensino Médio consistem em:

A Filosofia deve compor, com as demais disciplinas do Ensino Médio, o papel proposto para essa fase da formação. Nesse sentido, além da tarefa geral de “pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (Artigo 2º da Lei nº 9.394/96), destaca-se a proposição de um tipo de formação que não é uma mera oferta de conhecimentos a serem assimilados pelo estudante, mas sim o aprendizado de uma relação com o conhecimento que lhe permita adaptar-se “com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores” (Artigo 36, Inciso II) – o que significa, mais que dominar um conteúdo, saber ter acesso aos diversos conhecimentos de forma significativa. A educação deve centrar-se mais na ideia de fornecer instrumentos e de apresentar perspectivas, enquanto caberá ao estudante a possibilidade de posicionar-se e de correlacionar o quanto aprende com uma utilidade para sua vida, tendo presente que um conhecimento útil não corresponde a um saber prático e restrito, quem sabe à habilidade para desenvolver certas tarefas (BRASIL, 2006, p. 28).

Além dos objetivos propostos acima para o Ensino de Filosofia no Ensino Médio, o respectivo documento ressalta ainda que:

Outro objetivo geral do Ensino Médio constante na legislação e de interesse para os objetivos dessa disciplina é a proposição de “aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico” (Lei nº 9.394/96, Artigo 36, Inciso III). [... Ainda] O objetivo da disciplina Filosofia não é apenas propiciar ao aluno um mero enriquecimento intelectual. Ela é parte de uma proposta de ensino que pretende desenvolver no aluno a capacidade para responder, lançando mão dos conhecimentos adquiridos, as questões advindas das mais variadas situações. Essa capacidade de resposta deve ultrapassar a mera repetição de informações adquiridas, mas, ao mesmo tempo, apoiar-se em conhecimentos prévios (BRASIL, 2006, p. 28-29).

Seguindo a perspectiva de apresentarmos aqui os objetivos da Filosofia e seu ensino, cabe-nos compreender que as Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais (2002), nos leva a

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5 compreendermos que em primeira instância, como objetivo, o professor de Filosofia deve desenvolver no seu aluno a capacidade de reflexão e problematização, ou seja, o fazer Filosofia filosofando, por meio da “análise interpretativa” (BRASIL, 2002, p. 47), análise essa que parte da leitura dos textos filosóficos e, em seguida, da leitura de textos não-filosóficos como ampliação reflexiva e experiencização dos questionamentos e problemáticas filosóficas que se interligam ou se relacionam com a contemporaneidade, visando conduzir o aluno para a construção da “dissertação filosófica [...] [como] condição da autonomia intelectual do educado” (idem, p. 48), permitindo ao aluno a capacidade de escrever os seus argumentos, desenvolvidos por meio da reflexão e problematização das problemáticas filosóficas apresentadas em sala, essas que têm como pontapé inicial a História da Filosofia.

Por fim, a “representação e comunicação”, procura permitir ao aluno do Ensino Médio o poder de discurso – debate – construído por meio das “análises e dos conteúdos examinados” (idem, p. 49), em sua produção filosófica, que se objetiva na “construção da sociedade pluralista [...] [com] o[s] sujeito[s] autônomo[s] e crítico[s]” (idem, p. 49).

As Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais (2002) nos levam a compreender que a Filosofia é a disciplina mais preparada para executar essa competência, pois a Filosofia compreende o “conjunto” e a “totalidade” de todas as coisas, que nos permite desenvolver a “análise interpretativa”, de forma “interdisciplinar”. Todavia, para investigar e compreender um determinado problema é necessário fazermos uma relação “interdisciplinar”, ou seja, nos é necessário correlacionar o problema com as diversas áreas do conhecimento para que possamos chegar a uma reflexão advinda do problema e, em seguida, a um discurso conciso sobre o mesmo.

Ainda, as Orientações Educacionais Complementares aos PCN’s (2002), ressaltam que a “contextualização sociocultural” se direciona ao desenvolvimento do conhecimento do aluno do Ensino Médio sob diversos aspectos: “plano da origem específica, pessoal-biográfico, sócio-histórico-cultural e sociedade científico-tecnológica” (idem, p. 50). Essa competência visa desencadear o conhecimento filosófico juntamente as diversas áreas e planos do conhecimento, favorecendo ao

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6 educando o poder de compreensão e correlação dos problemas e questionamentos filosóficos por meio da formação da sua atitude crítica.

Portanto, as OCN’s (2013) direcionam o Ensino de Filosofia numa perspectiva de correlação entre os períodos passados com o atual, visando desenvolver no aluno do Ensino Médio o poder de reflexão, que surge da problematização, da “análise interpretativa”, juntamente com a “dissertação filosófica” e, em seguida, com o poder de “debate”, pois para as OCN’s (2013) e os PCNEM (2000), o Ensino de Filosofia deve ser um ensino de análises e correlações dos problemas e questionamentos filosóficos interligados aos fatos e ações ocorridos na atualidade.

3 O PROFESSOR DE FILOSOFIA: CONSTRUTOR DO CONHECIMENTO, FORMADOR DE PESSOAS E DA SOCIEDADE

Vou afirmar que um professor de Filosofia é aquele que, acima de tudo, consegue construir um espaço de problematização compartilhado com seus alunos. (...) Ensinar Filosofia é antes de mais nada ensinar uma atitude em face da realidade, diante das coisas, e o professor de Filosofia tem que ser, a todo momento, consequente com esta maneira de orientar o pensamento. (CERLETTI, 2003, p. 62).

Para Cerletti (2003), em Ensinar Filosofia: da pergunta filosófica à proposta

metodológica, o professor de Filosofia no Ensino Médio deve formar cidadãos que

possam compreender a realidade e interferir nela, contribuindo para a formação de jovens através dos conhecimentos de Filosofia.

O papel do professor de Filosofia no Ensino Médio é proposto da seguinte forma, por um dos documentos oficiais do MEC (Ministérios da Educação e Cultura, 1999):

[...] contribuir para a formação de homens dignos, livres, sábios, diferentes e iguais, capazes até de se adaptar, de recusar o mundo tal como está proposto nos termos atuais e engajar-se ativamente na transformação, com vistas a uma convivência justa e fraterna, garantindo o espaço e os encaminhamentos necessários para desenvolver nos alunos as competências próprias da Filosofia (PCNs, 1999, p. 124).

Nesse sentido, o Ensino de Filosofia no Ensino Médio requer, na sua execução em sala de aula, um espaço significativo, que possibilite ao professor,

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7 junto com os alunos, levantar questionamentos a partir das noções e dos conceitos estudados, do pensamento do filósofo em destaque e das condições de vida que cada cidadão se encontra na sociedade (GHEDIN, 2009).

Além disso, é importante que se leve em consideração também os fatos e as ações que acontecem no universo, contribuindo para a formação e desenvolvimento dos alunos de maneira autônoma (GALLO, 2002), buscando, assim, por meio da superação do senso comum ao desenvolvimento do senso crítico dos alunos, almejando a chegada do conhecimento filosófico (SAVIANI, 1989).

Ghedin (2009) em o Ensino de Filosofia no Ensino Médio relata que:

Falar em uma cultura do pensamento na escola e na sala de aula é fazer referência a um ambiente na qual várias forças funcionam em conjunto para expressar e reforçar o empreendimento do bom pensar. Nessa cultura, pressupõe-se que todos pensem e todos – incluindo o professor – se esforcem, para ser conscientes, inquisitivos e imaginativos. O pressuposto é que a instauração de uma cultura do pensamento na sala de aula ensina a pensar. Nesse sentido, o propósito de ensinar a pensar é preparar os alunos para um futuro de resolução de problemas, de tomada consciente de decisões e de aprendizado contínuo para toda a vida. (GHEDIN, 2009, p. 30).

Nesse contexto proposto, o professor de Filosofia deve ser um mediador ou “um parteiro de conhecimentos”, como relata Platão no “Teeteto” (2001). Nessa obra, Platão nos apresenta a personagem de Sócrates, que envolve seus alunos por meio de argumentos que os possibilita, por meio dos seus próprios saberes outrora adquiridos, construírem e contribuírem para o desenvolvimento de novos conceitos e novas ideias. Como segue abaixo na passagem do diálogo “Teeteto”, em que Sócrates interroga Teeteto procurando compreender se saber e conhecer significam a mesma coisa:

Sócrates – [...] Dize-me o seguinte: aprender não significa tornar-se sábio a respeito do que se aprende?

Teeteto – Como não?

Sócrates – Logo, é pela sabedoria, segundo penso, que os sábios ficam

sábios.

Teeteto – Sem dúvida.

Sócrates – E isso difere em alguma coisa do conhecimento? Teeteto – Isso, quê?

Sócrates – Sabedoria. Não se é sábio naquilo que se conhece?

Teeteto – Como não?

Sócrates – Então, é a mesma coisa conhecimento e sabedoria? (PLATÃO,

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8 O Ensino de Filosofia no Ensino Médio deve objetivar o desenvolvimento da argumentação, da interpretação, da interrogação e compreensão dos problemas relacionados à realidade. Deve permitir aos alunos o desenvolvimento e o aprimoramento da argumentação das suas ideias e opiniões, possibilitando aos mesmos o poder de reflexão através do pensar, colaborando para a autonomia do pensar e do argumentar, permeando a formulação e criação ou recreação de novos conceitos (DELEUZE; GUATARRI, 1997).

Para Gallo (2002) é para isso que se faz necessário um professor-educador, que possa atuar como um construtor do conhecimento do aluno, além de um formador de pessoas humanas que possam colaborar para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna.

O professor de Filosofia deve ter como características, o poder do filosofar e, sobretudo, ser realmente um filósofo, contribuindo para o desenvolvimento de pessoas, cidadãos e da sociedade de modo geral, formando seres com caráter ético e moral, visando desenvolver em nosso meio, uma sociedade crítica, analista, que interroga, argumenta, problematiza e, sobretudo, expõe seus conhecimentos, suas ideias e opiniões, de maneira clara, objetiva e homogênea.

Aspis (2004), em seu artigo O Professor de Filosofia: o Ensino de Filosofia no

Ensino Médio como experiência filosófica, ressalta que:

Nas aulas de Filosofia como experiência filosófica, o professor é um orientador, ele põe à disposição para os seus alunos os instrumentos que conhece para uma disciplina filosófica no pensamento. Cria com os alunos um grupo, uma equipe, que tem um objetivo comum: encontrar saídas para um problema elaborado por eles mesmos, de seu interesse, por meio da investigação e do estudo filosóficos. O professor sabe que sua orientação é limitada ao seu modo de compreender a Filosofia e a realidade, e que, portanto, sua orientação deve conter incentivo e atenção para as possíveis criações de novos modos por parte de seus alunos (ASPIS, 2004, p. 311). Para Aspis (2004), o professor de Filosofia no Ensino Médio, na posição de orientador, ou melhor, na posição de guia do pensamento, conduzirá seus alunos ao universo da Filosofia, pois não há Filosofia sem o filosofar, assim como não há o filosofar sem a Filosofia.

Se a Filosofia pode contribuir na educação do outro para ser outro, significa que ela se lança ao desconhecido. Abdica de qualquer poder de controle da

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9 formação para apreciar aquilo que possa vir a ser criado. O professor de Filosofia aposta no que virá, mesmo que este seja desobediente à sua ordem das coisas, mesmo que este seja contrário e até incompreensível, tão outro que seja esquivo à posse e à comunhão. O outro, autônomo, cria seu mundo e a si e o professor aposta (ASPIS, 2004, p. 318).

Portanto, seguindo a perspectiva apresentada por Aspis (2004), devemos ter a compreensão de que ser professor de Filosofia é algo complexo, é está disposto a sempre recomeçar e se dirigir na busca pelo desconhecido.

Ser um professor de Filosofia é ter a noção de como guiar seus alunos para que eles possam, a partir da experiência filosófica vivida na sala de aula, construir os seus argumentos, as suas ideias.

Enfim, o professor de Filosofia deverá compreender que a Filosofia como disciplina no Ensino Médio, tem por objetivo principal fundamentar, contribuir e desenvolver o pensamento dos seus alunos, objetivando a criticidade em relação aos fatos e as ações ocorridas em seu meio.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do exposto, podemos levantar algumas considerações sobre o Ensino de Filosofia no Ensino Médio e o papel do professor que leciona esta disciplina na escola.

O Ensino de Filosofia deve ser uma indústria do pensamento e das problemáticas (GHEDIN, 2009).

Nesse contexto, cabe ao professor utilizar-se de todos os pensamentos exposto pelos alunos em sala, favorecendo a produção textual como uma indústria do pensamento, através da produção escrita, permitindo aos alunos contextualizarem suas criticas, argumentarem, interrogarem e interpretarem os fatos ou ações da realidade (GALLO, 2002), atingindo, desta forma, o que determina a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, no seu Artigo 36, que afirma: “serão incluídas a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias em todas as séries do Ensino Médio”.

O professor de Filosofia deve assumir o papel de um construtor de conhecimentos, além de ser aquele que tem o poder de apresentar a real realidade aos seus alunos em sala.

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10 Em suma, o professor de Filosofia deve ser um orientador dos alunos, que são cidadãos e que formam uma sociedade, cabendo a esse professor o dever de trabalhar os conhecimentos com os alunos, fazendo-os compreender a Filosofia junto com a realidade e, assim, permitindo e possibilitando aos alunos o desenvolvimento do senso crítico e do poder de argumentação (DELEUZE; GUATARRI, 1997).

Além disso, é muito importante que o professor de Filosofia busque condições para o desenvolvimento da Filosofia em sala de aula no Ensino Médio, permeando a compreensão da Filosofia, a interpretação dos contextos filosóficos, entre outras coisas que possam favorecer a metodologia de ensino da Filosofia no Ensino Médio.

Em suma, é possível afirmar que o Ensino de Filosofia no Ensino Médio pode favorecer o desenvolvimento do conhecimento filosófico dos alunos, a partir do debate de ideias e do levantamento de situações-problema, entre outros aspectos.

Ela (a Filosofia) deve ser trabalhada com criatividade, possibilitando aos alunos a oportunidade de participar e interagir dentro da sala de aula, mostrando que é possível inovar e buscar um ensino que promova a interação dos sujeitos no cotidiano da sala de aula.

REFERÊNCIAS

ASPIS, Renata Pereira Lima. O Professor de Filosofia: o Ensino de Filosofia no Ensino Médio como experiência filosófica. In: Cadernos CEDES. Vol. 24, n. 64. set/dez. 2004. Disponível em: <<http://www.cedes.unicamp.br>>. Acessado em: 12 dez. 2012.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Ciências Humanas e suas Tecnologias. Brasília, DF: Ministério da Educação/Secretaria de Educação

Média e Tecnológica, 2000. Disponível em:

<<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/blegais.pdf>>. Acessado em: 20 mar. 2014.

BRASIL. Projeto de Lei 1.641/2003. Altera dispositivos do Artigo 36, da Lei N. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, 2003. Disponível em: <<http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=39580&tp=1>>.

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11 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Orientações

Curriculares Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências

Humanas e suas Tecnologias. Brasília, DF, 2013. Disponível em: <<http://www.cespe.unb.br/vestibular/1vest2010/guiadovestibulando/book_volume_0 3_internet.pdf.>>. Acessado em: 04. Jan. 2014.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Orientações

Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais.

Ciências Humanas e suas Tecnologias. Brasília, DF, 2002. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/CienciasHumanas.pdf. Acessado em: 06 mai. 2014.

CERLETTI, Alejandro. Ensinar Filosofia: da pergunta filosófica à proposta metodológica. In: KOHAN, Walter. (Org.). Filosofia: caminhos para o seu ensino. Rio de Janeiro: DP&A, 2004. p. 19-42.

DELEUZE, Gilles; GUATARRI, Felix. O que é Filosofia. Rio de Janeiro: Editora 34, 1997.

FAVARETTO, C. Filosofia, ensino e cultura. In: KOHAN, W. (Org.). Filosofia: caminhos para o seu ensino. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.

GALLO, Sílvio. A especificidade do Ensino de Filosofia: em torno dos conceitos. In: PIOVESSAN, A. (Org.) Filosofia e ensino em debates. Ijuí: Ed. Unijuí, 2002.

GHEDIN, Evandro. Ensino de Filosofia no Ensino Médio. 2 ed. São Paulo. Ed. Cortez, 2009.

MARCONDES, Danilo. É possível ensinar a Filosofia? E, se possível como? In: KOHAN, W. (Org). Filosofia: caminhos para o seu ensino. Rio de Janeiro: DP&A, 2004. p. 54-68.

PLATÃO. Teeteto. Tradução de Carlos Alberto Nunes. 3. ed. Belém: EDUFPA, 2001. p. 35-141.

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