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A FILOSOFIA DE EPICURO: o jardim e o tetraphármakon como meios para a felicidade

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Academic year: 2021

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Este trabalho de pesquisa tem por objetivo analisar os principais conceitos da Ética epicurista que tem por finalidade a busca da felicidade, mostrando o novo modo de vida que nasce na Grécia Antiga a partir da doutrina instruída por Epicuro. Insatisfeito com o sistema vigente na pólis, ou seja, a crise do ethos depois da invasão de Alexandre, o Grande, e, mais tarde, a visão de Aristóteles de que o homem é um animal político, este filósofo percebeu que a vida da cidade, com suas leis e crenças, em nada favorecia o bem-estar dos cidadãos que viviam miseravelmente no aspecto físico e espiritual. Assim, o itinerário de Epicuro consiste em resgatar a autonomia humana e libertar os homens de suas mazelas, exortando-os de que a vida feliz não é mais possível no exercício da política, mas quando os indivíduos buscam o equilíbrio de suas paixões e a conduta ética e moral, que garantem a imperturbabilidade da alma.

Nosso trabalho está dividido em três capítulos. No segundo, iniciamos com o contexto político de Atenas. As decisões políticas, com a reforma de Alexandre, não emanam de um diálogo com os homens, pois cabe a estes a obediência e não a discussão. Ademais, a crença implantada pela religiosidade popular faz com que os indivíduos lancem sua sorte e seu destino à vontade da divindade. Assim, a quem recorrer? O destino da pólis e da convivência humana se encontra à deriva:

Louis Francescon Costa Ferreira

A FILOSOFIA DE EPICURO:

o jardim e o tetraphármakon como

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A acumulação das riquezas em um pólo da sociedade não impede o empobrecimento geral. Nenhum tempo mais trágico que o de Epicuro [...] A infelicidade se estabelece entre os gregos, a desordem e a angústia aumentam todos os dias [...] sangue, incêndios, assassínios, pilhagens: mundo de Epicuro. (NIZAN apud PESSANHA, 1994, p. 66).

Em pleno estado de insegurança e medo, a sociedade grega encontrava-se em extremo pavor, sem saber o rumo de suas vidas e da estabilidade tão almejada. A política foi definida na concepção de Aristóteles por filosofia das coisas humanas, a ciência complexiva da atividade moral dos indivíduos da pólis, quer como homens ou cidadãos. A vida feliz poderia ser concretizada no exercício político, mesmo que as decisões, depois da reformulação das leis, pudessem ter a participação de alguns cidadãos – isso de forma bem restrita.

A felicidade superior do homem que vive segundo a política do Estado perfeito, isto é, vive a vida filosófica, aparece também a partir de considerações ulteriores em torno do prazer [...]. Esse prazer é também o mais verdadeiro (aliás, o único verdadeiro) porque o objeto que o causa é o objeto mais verdadeiro, é o ser e o eterno contemplados pela alma. A vida filosófica no Estado ideal é a vitória do elemento divino sobre o elemento animal que há no homem, é a construção do homem divino. (REALE, 1994, p. 271, v.2).

Entende-se que, deste modo, o homem político tem sua vida realizada quando se dedica à vida pública e vê a sociedade como o coletivo que cumpre as leis, determinando seus condicionamentos a partir delas, onde não existe espaço para a individualidade. Sendo política a arte de governar, desde seus primórdios, é a ciência que visa os cidadãos como um todo, que concentra em si mesma o conjunto de valores e normas que regem a vida do ser humano.

Assim, a vida pública estaria acima de qualquer valor humano, ou seja, acima da família e do homem individual, uma vez que o indivíduo existe em função da Cidade e não a Cidade em função do indivíduo. Todo este contexto explicitado acima é refutado por

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Epicuro. A felicidade do homem está na esfera espiritual, quando este apresenta o desejo de reestabelecer a sua integridade humana e procura viver de modo autônomo.

O homem sábio que deseja ser feliz, a partir de agora, é aquele que não se preocupa em conduzir a vida da pólis, mas o que almeja viver de maneira sóbria na constante reflexão de suas ações e no equilíbrio de seus desejos e anseios, tornando-se convicto de que a felicidade humana está na essência de seu próprio ser.

É necessário, portanto, contrapor-se a longa tradição e mostrar, como indica Epicuro [...] que a vida social não constitui condição natural intrínseca ao homem: é mera convenção. Pode, assim, ser substituída pela vida de acordo com a verdadeira natureza humana, cuja vocação é o prazer e a alegria. (PESSANHA, 1994, p. 67).

Se o convívio na pólis não favorece os meios para a vida feliz, Epicuro apresenta a virtude de viver escondido. A fundação do Jardim é o exemplo do exímio convívio humano. Pessoas educadas pela filosofia e pela doutrina epicurista partem de um pressuposto único com um fim último, a felicidade. O mestre apresenta um saber teórico e prático, dando testemunho com sua própria vida e constituindo, assim, o lugar ideal para a compreensão da natureza humana fazendo com que os homens voltem para si mesmos e reconheçam a sua própria integridade, que foi deixada de lado como habitantes da pólis. A vida feliz está no tempo real e os indivíduos são os construtores de seu próprio destino.

No terceiro capítulo, apresentamos as bases para a ética de Epicuro. Pautado na física mecanicista de Demócrito, o mestre do Jardim acredita na livre movimentação dos átomos no espaço do vazio. Ora, se os átomos são livres, se os corpos compostos são, simplesmente, um conglomerado deles e esta interação se dá quando, por um pequeno desvio, eles se chocam e formam os corpos, os átomos também não possuem uma rota pré-estabelecida. É, necessariamente, pelo seu desvio que se entende sua liberdade no vazio e que o mestre deseja também explicar a liberdade humana.

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Se o peso dos átomos fundamenta a individuação, o clinamem1 justifica a efetivação das coisas percebidas.

Mas também explica a possibilidade de o homem reorientar sua vida interior, desviando-se de sensações dolorosas para ir ao encontro do prazer. A liberdade – para ser feliz na adversidade - subentende o desvio, a recusa da fatalidade. (PESSANHA, 1994, p. 71).

Deste modo, a física de Epicuro tem por objetivo explicar o mecanismo dos mundos, bem como a estruturação da natureza humana, como pressuposto para uma fundamentação ética que tem por princípio o prazer. Esse conceito será melhor explicitado no terceiro capítulo, para que não seja interpretado de forma errônea, causando um certo desconforto quando mal entendido.

Prazer, em Epicuro, “significa não sofrer dores no corpo e não sentir perturbação na alma” (Carta a Meneceu). A partir disso, o mestre propõe a seus adeptos o tetraphármakon, ou quadrifármaco, para a busca da felicidade: não temer os deuses; não temer a morte; a vida feliz é possível; pode-se suportar a dor.

Felicidade em Epicuro não é a condição humana de uma vida sem problemas e desafios – até porque foi justamente em um tempo atribulado que nasceu o epicurismo – mas é o modo pelo qual o indivíduo, em sua liberdade, escolhe viver ponderando suas ações, na busca de um ideal que é individual e, ao mesmo tempo, universal, dado que o bem viver parte do indivíduo, o particular, e é um desejo comum a todos, dado o seu caráter de universalidade.

Assim, Epicuro demonstrou ser um homem sábio, o iluminador de uma Grécia em meio ao pavor da escuridão:

Ó tu que primeiro pudeste, de tão grandes trevas, fazer sair tão claro esplendor, esclarecendo-nos sobre os bens da vida, a ti eu sigo, ó glória do povo grego, e ponho agora meus pés sobre os sinais deixados pelos teus, não por qualquer desejo de rivalizar contigo, mas porque por amor me lanço a imitar-te [...] Tu, ó pai, és o descobridor

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teus livros, semelhantes às abelhas que nos prados floridos tudo libam, vamos de igual modo recolhendo as palavras de ouro, de ouro mesmo, as mais dignas que houve desde que o tempo é tempo. Logo que tua doutrina, obra de um gênio divino, começa a proclamar a natureza das coisas, dispersam-se os terrores do ânimo, apartam-se as muralharas do mundo, e vejo como tudo se faz pelo espaço inteiro. (LUCRÉCIO apud PESSANHA, 1994, p. 58-59).

Desse modo, o saber teórico e o prático, proposto por Epicuro, contribuem para a construção de um novo estilo de vida para os gregos que se inicia com a mudança para o Jardim, a dedicação à filosofia, a amizade como a virtude do convívio pacífico e o quádruplo remédio para a cura das feridas físicas e espirituais deixadas pelo convívio na

pólis, tornando os adeptos do epicurismo homens sábios e prudentes

que, aos olhos do mestre, praticam as virtudes imortais e não vivem como seres mortais.

Referências

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