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Rodrigues, J. A. & Ribeiro, M. R. (2007). Análise do Comportamento - Pesquisa, Teoria e Aplicação.pdf

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Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2007. Editado também como livro impresso em 2005. ISBN 978-85-363-1102-9

1. Psicologia – Comportamento. I. Abreu-Rodrigues, Josele. II. Ribeiro, Michela Rodrigues.

CDU 159.9.019.4

(4)

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO

Pesquisa, Teoria e Aplicação

2007

Josele Abreu-Rodrigues

Michela Rodrigues Ribeiro

Organizadoras

Versão impressa desta obra: 2005

(5)

Capa Gustavo Macri Preparação do original

Rubia Minozzo Leitura final Maria Lúcia Barbará Supervisão editorial Mônica Ballejo Canto Projeto e editoração

Armazém Digital Editoração Eletrônica – Roberto Vieira

Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à ARTMED® EDITORA S.A.

Av. Jerônimo de Ornelas, 670 - Santana 90040-340 Porto Alegre RS Fone (51) 3027-7000 Fax (51) 3027-7070

É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na

Web e outros), sem permissão expressa da Editora. SÃO PAULO

Av. Angélica, 1091 - Higienópolis 01227-100 São Paulo SP Fone (11) 3665-1100 Fax (11) 3667-1333

SAC 0800 703-3444 IMPRESSO NO BRASIL

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Josele Abreu-Rodrigues (org.) Universidade de Brasília

Michela Rodrigues Ribeiro (org.) Universidade Católica de Goiás Universidade de Brasília

Instituto de Aplicação e Pesquisa Comportamental Alessandra de Moura Brandão

Universidade de Brasília

Alessandra Rocha de Albuquerque Universidade Católica de Brasília Ana Karina Curado Rangel de-Farias Universidade Católica de Goiás

Instituto de Aplicação e Pesquisa Comportamental Carlos Eduardo Cameschi

Universidade de Brasília Cristiano Valério dos Santos Universidade de São Paulo Elenice S. Hanna Universidade de Brasília Elisa Tavares Sanabio-Heck Universidade Católica de Goiás

Instituto de Aplicação e Pesquisa Comportamental Geison Isidro-Marinho

Centro Universitário de Brasília

Instituto São Paulo de Terapia e Análise do Comportamento Gordon R. Foxall

(7)

João Claudio Todorov Universidade Católica de Goiás Universidade de Brasília Jorge M. Oliveira-Castro Universidade de Brasília

Karina de Guimarães Souto e Motta

Instituto São Paulo de Terapia e Análise do Comportamento Kennon A. Lattal

West Virginia University Laércia Abreu Vasconcelos Universidade de Brasília Lincoln da Silva Gimenes Universidade de Brasília Marcelo Emílio Beckert

Instituto de Educação Superior de Brasília

Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento Marcelo Frota Benvenuti

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Rachel Nunes da Cunha

Universidade de Brasília Raquel Maria de Melo Universidade de Brasília Raquel Moreira Aló West Virginia University Centro Universitário de Brasília Sonia Beatriz Meyer

Universidade de São Paulo Yvanna Aires Gadelha Centro Universitário de Brasília

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Ao querido amigo Marcelo Beckert, que, com sua curiosidade, nos mostrou como é interessante aprender, com sua alegria, nos mostrou como é possível sorrir mesmo nos momentos críticos e, com sua vivacidade, nos mostrou como a vida é curta e deve ser aproveitada. Marcelo, você está presente em nossa vívida história...

(9)

Apresentação ... 11

1.

Ciência, tecnologia e análise do comportamento ... 15

Kennon A. Lattal

2.

Operações estabelecedoras: um conceito de motivação ... 27

Rachel Nunes da Cunha Geison Isidro-Marinho

3.

História de reforçamento ... 45

Raquel Moreira Aló

4.

Momento comportamental ... 63

Cristiano Valério dos Santos

5.

Desamparo aprendido ... 81

Elisa Tavares Sanabio-Heck Karina de Guimarães Souto e Motta

6.

Comportamento adjuntivo: da pesquisa à aplicação ... 99

Lincoln da Silva Gimenes Alessandra de Moura Brandão Marcelo Frota Benvenuti

7.

Contingências aversivas e comportamento emocional ... 113

Carlos Eduardo Cameschi Josele Abreu-Rodrigues

8.

Generalização de estímulos: aspectos

conceituais, metodológicos e de intervenção ... 139

Yvanna Aires Gadelha Laércia Abreu Vasconcelos

(10)

9.

Quantificação de escolhas e preferência ... 159

João Claudio Todorov Elenice S. Hanna

10.

Autocontrole: um caso especial de comportamento de escolha ... 175

Elenice S. Hanna

Michela Rodrigues Ribeiro

11.

Variabilidade comportamental ... 189

Josele Abreu-Rodrigues

12.

Regras e auto-regras no laboratório e na clínica ... 211

Sonia Beatriz Meyer

13.

Correspondência verbal/não-verbal:

pesquisa básica e aplicações na clínica ... 229

Marcelo Emílio Beckert

14.

Equivalência de estímulos: conceito,

implicações e possibilidades de aplicação ... 245

Alessandra Rocha de Albuquerque Raquel Maria de Melo

15.

Comportamento social: cooperação,

competição e trabalho individual ... 265

Ana Karina Curado Rangel de-Farias

16.

Análise do comportamento do consumidor ... 283

Jorge M. Oliveira-Castro Gordon R. Foxall

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A Análise do Comportamento é uma ciên-cia do comportamento fundamentada na filo-sofia do Behaviorismo Radical e que tem como objeto de estudo a interação do indivíduo com o ambiente. Skinner repetidas vezes afirmou que o comportamento humano é um campo de estudo delicado. Delicado no sentido de que há controvérsia sobre qual seria a melhor forma de estudá-lo. Delicado também no sentido de que é multiplamente determinado e que, por-tanto, consiste em um evento bastante com-plexo. Esta obra ilustra ambos os aspectos ao oferecer uma alternativa teórico-conceitual para o estudo do comportamento humano e ao especificar diversas estratégias metodoló-gicas utilizadas na identificação de suas variá-veis de controle.

Este livro consiste em uma coletânea de textos que apresentam um conhecimento atua-lizado e empiricamente fundamentado sobre processos comportamentais complexos, bem como as possíveis aplicações desse conhecimen-to na resolução de problemas práticos. No Ca-pítulo 1, Kennon A. Lattal apresenta uma aná-lise das relações entre ciência básica, ciência aplicada e tecnologia, o que dá suporte para todas as discussões apresentadas nos capítu-los posteriores. Para o autor, as pesquisas bási-ca e aplibási-cada em análise do comportamento contribuem para o desenvolvimento de tecno-logias que, por sua vez, ao serem implemen-tadas e desenvolvidas, fornecem subsídios para futuras pesquisas. Assim sendo, haveria uma interdependência entre ciência básica e apli-cada e tecnologia, tendo em vista que o

cresci-mento de um campo depende das conquistas efetuadas no outro campo. Apesar de ser co-mum a realização de estudos em que a transver-salidade de informações entre ciência e tec-nologia é descartada, os capítulos deste livro pretendem seguir um caminho contrário e apresentam algumas possíveis inter-relações desses três campos.

No Capítulo 2, Rachel Nunes da Cunha e Geison Isidro-Marinho apresentam a aborda-gem analítico-comportamental do conceito de motivação. A ênfase dos autores recai sobre o conceito de operação estabelecedora (OE) que, na atualidade, consiste em um instrumento conceitual e metodológico para o estudo da motivação em situação experimental e aplica-da. Após apresentar uma análise histórica des-ses conceitos, os autores definem e exemplifi-cam as OEs incondicionadas e condicionadas e apontam as dificuldades metodológicas de se demonstrar empiricamente a diferença en-tre OE e estímulo discriminativo. São também descritas pesquisas aplicadas, as quais sugerem que o conceito de OE é fundamental para a aná-lise funcional do comportamento e, conseqüen-temente, para o planejamento de intervenções efetivas. Ao final do capítulo, os autores discor-rem sobre as relações entre OEs e estados emo-cionais, com ênfase no contexto clínico.

O Capítulo 3 aborda os efeitos da histó-ria de reforçamento sobre a sensibilidade comportamental a mudanças nas contingên-cias. Inicialmente, Raquel Aló apresenta as di-ferentes definições do termo história de refor-çamento e, em seguida, indica que os efeitos

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da história dependem de variáveis tais como o tipo de esquema de reforçamento presente antes da mudança, da similaridade entre os estímulos discriminativos antes e após a mu-dança, das operações estabelecedoras em vi-gor, etc. Também são apontadas algumas pes-quisas aplicadas que ilustram os efeitos da his-tória sobre o comportamento de estudar e so-bre comportamentos agressivos. A autora dis-cute possíveis aplicações dos resultados da pesquisa empírica, enfatizando a relevância das variáveis históricas para o diagnóstico e a in-tervenção no ambiente clínico. Por fim, a au-tora analisa os pontos em comum entre os es-tudos de história de reforçamento e de outras áreas, como aqueles sobre resistência a mu-danças, desamparo aprendido e comportamen-to governado por regras, incentivando a integração dos resultados desses estudos.

No Capítulo 4, Cristiano Valério dos San-tos discute diversas questões metodológicas pre-sentes nos estudos sobre resistência a mudan-ças, tanto no que se refere aos procedimentos experimentais utilizados quanto à mensuração da resistência. É apresentada uma distinção en-tre taxa de respostas e resistência à mudança, as quais seriam determinadas por diferentes processos comportamentais, bem como uma definição do modelo de momento comporta-mental. Após descrever pesquisas básicas sobre os determinantes (p. ex.: magnitude, atraso, taxa e tipo de reforço) da resistência, o autor estabelece um paralelo entre resistência à mu-dança e escolha/preferência, controle instrucio-nal e história de reforçamento. Ao fiinstrucio-nal, o autor exemplifica a utilização dos conceitos de mo-mento comportamental e resistência à mudan-ça na solução de problemas aplicados tais como seguimento de instruções, resolução de proble-mas de matemática, desempenho em jogos es-portivos e autocontrole.

O Capítulo 5, de Elisa Tavares Sanabio-Heck e Karina de Guimarães Souto e Motta, aborda o fenômeno comportamental conhecido como de-samparo aprendido, o qual resulta da exposição a situações de incontrolabilidade, bem como as estratégias metodológicas utilizadas na preven-ção e na reversão desse fenômeno. As autoras também fazem uma análise crítica do status cau-sal comumente atribuído ao conceito de

expec-tativa pelos pesquisadores dessa área de investi-gação. Para tanto, analisam estudos de desam-paro caracterizados pela presença ou pela ausên-cia de correspondênausên-cia entre comportamento ver-bal e não-verver-bal, apresentando uma interpretação analítico-comportamental das relações verbais presentes nesses estudos. Finalmente, são discu-tidas algumas estratégias terapêuticas (p. ex.: treino de auto-observação, treino de repertórios não-verbais e modelagem de relatos discrimina-dos) relevantes para a reversão dos efeitos da história de incontrolabilidade.

No Capítulo 6, Lincoln da Silva Gimenes, Alessandra de Moura Brandão e Marcelo Frota Benvenuti apresentam a definição de compor-tamento adjuntivo ou, alternativamente, com-portamento induzido por contingências de reforçamento, descrevem alguns tipos desse comportamento e exemplificam a generalida-de do fenômeno. Esses autores sugerem que o modelo de comportamento adjuntivo pode ser útil para o entendimento de diversos distúrbi-os comportamentais, tais como drogadição, obesidade, bulimia, anorexia e síndrome do cólon irritável, entre outros. Além disso, é tam-bém ilustrada a possibilidade de controle de estímulos sobre o comportamento adjuntivo.

O Capítulo 7, de Carlos Eduardo Cames-chi e Josele Abreu-Rodrigues, avalia a pesquisa básica sobre contingências aversivas e seus principais efeitos sobre o comportamento de organismos humanos e não-humanos. Ao anali-sar a punição e o reforçamento negativo, além de apresentar algumas variáveis determinantes das propriedades aversivas dos eventos ambientais, os autores enfatizam as controvér-sias existentes sobre a efetividade da punição, as dificuldades metodológicas encontradas no estudo da resposta de fuga, o procedimento de esquiva de Sidman e o debate entre os adep-tos de interpretações molares e moleculares do processo de esquiva. Além disso, os autores discutem a abordagem analítico-comporta-mental do comportamento emocional. Por últi-mo, há uma discussão sobre o uso de controle aversivo em procedimentos terapêuticos diver-sos, tais como na Terapia Analítica Funcional e na Terapia da Aceitação e do Compromisso. No Capítulo 8, Yvanna Aires Gadelha e Laércia Abreu Vasconcelos apresentam uma

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análise teórico-conceitual e metodológica do processo de generalização. Para tanto, as auto-ras estabelecem diferenças entre pseudogene-ralização e genepseudogene-ralização verdadeira, generali-zação e generalidade, classes funcionais e clas-ses de equivalência, generalização de estímulos e de respostas. Este capítulo contém, ainda, uma descrição de estratégias metodológicas para a promoção de generalização (p.ex., mediação da generalização, treinamento direto da generali-zação) e uma discussão do fenômeno da gene-ralização no contexto clínico. Nessa discussão, as autoras destacam os conceitos de integrida-de do tratamento e satisfação do consumidor.

Na seqüência são apresentados dois capí-tulos referentes à análise do comportamento de escolha. No Capítulo 9, João Claudio Todorov e Elenice S. Hanna apresentam os estudos de quantificação de escolhas e preferência, indi-cando modelos matemáticos desenvolvidos para descrever o comportamento de escolha, em especial o modelo conhecido como lei da igualação. Os autores também apontam variá-veis que influenciam a igualação entre distribui-ção de respostas e de reforços, tais como o atra-so do reforço para respostas de mudança, a his-tória dos sujeitos experimentais e os tipos de esquemas de reforçamento envolvidos na situa-ção de escolha. Esse capítulo também apresenta a controvérsia sobre o princípio da relativida-de, discute a generalidade da lei da igualação para o comportamento de escolha de huma-nos e discorre sobre possíveis aplicações da relação de igualação para o comportamento de indivíduos autistas, atletas e estudantes.

No Capítulo 10, Elenice S. Hanna e Michela Rodrigues Ribeiro avaliam um tipo es-pecial de situação de escolha – a situação de autocontrole. Esse capítulo discute o conceito de autocontrole e impulsividade a partir do paradigma de autocontrole proposto por Rachlin. Dentre as variáveis determinantes do autocontrole, as autoras destacam os parâme-tros do reforço (atraso, probabilidade, freqüên-cia e magnitude), atividades desenvolvidas durante o atraso do reforço, a história de reforçamento, os estímulos discriminativos pre-sentes na situação e o custo da resposta. Tam-bém é discutido o papel do procedimento de esvanecimento para fortalecer o

comportamen-to de aucomportamen-tocontrole em contexcomportamen-tos aplicados (p. ex., indivíduos com atraso de desenvolvimen-to, crianças hiperativas, adictos em nicotina, mulheres com vaginismo). Ao final, as autoras discorrem sobre o papel do comprometimento em situações aplicadas de autocontrole.

No Capítulo 11, Josele Abreu-Rodrigues discute o fenômeno da variabilidade com-portamental. Ao apresentar as contribuições da pesquisa básica e aplicada para a compre-ensão desse fenômeno, a autora analisa sepa-radamente a variabilidade como um sub-produto de variáveis ambientais (p. ex., in-termitência do reforço, retirada do reforço) e como um produto direto de contingências de variação. Na discussão do controle operante da variabilidade, a autora discorre sobre tó-picos tais como controle de estímulos, resistên-cia à mudança, escolha entre repetição e va-riação, história de reforçamento e controle verbal. Neste capítulo, a autora também dis-cute a relevância dos estudos sobre variabili-dade para a compreensão do comportamento criativo e de questões relacionadas à liberda-de liberda-de escolha.

O livro ainda contém uma análise do com-portamento verbal sob três diferentes ângulos. Sonia Beatriz Meyer, no Capítulo 12, discute a utilização de regras e auto-regras no laborató-rio e na clínica analítico-comportamental. Ao descrever os principais resultados da pesquisa básica sobre o tema, a autora aponta diversas variáveis que afetam a sensibilidade do com-portamento verbalmente controlado a mudan-ças nas contingências, tais como o grau de con-tato com a nova contingência, o conteúdo da regra, o nível de variabilidade comportamental, a história de reforçamento e o grau de discriminabilidade das contingências em vigor. O capítulo apresenta, em seguida, uma discus-são sobre o controle verbal no contexto clíni-co, na qual a autora avalia a efetividade do uso de regras/instruções e de modelagem na promoção de mudanças comportamentais. Há também uma discussão sobre duas variáveis que influenciam o uso de estratégias diretivas: a abordagem teórica do terapeuta e a história de vida do cliente. Por fim, a autora analisa a relação entre controle verbal e resistência e adesão ao tratamento.

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Marcelo Emílio Beckert, no Capítulo 13, apresenta uma descrição e a análise da corres-pondência entre comportamento verbal e com-portamento não-verbal. O autor discute aspec-tos teóricos e metodológicos derivados da pes-quisa sobre correspondência, enfatizando a di-versidade metodológica existente na área, a efetividade dos diversos tipos de treino da cor-respondência (p. ex., fazer-dizer, dizer-fazer, dizer-fazer-dizer) e as variáveis que afetam a aquisição, a generalização e a manutenção da correspondência. O capítulo também apresen-ta algumas implicações dos resulapresen-tados da pes-quisa básica para contextos aplicados, com ên-fase no contexto clínico. Aqui, o autor discorre sobre a relevância do treino da correspondên-cia para a aquisição dos comportamentos de autoconhecimento e de autocontrole.

Alessandra Rocha de Albuquerque e Ra-quel Maria de Melo, no Capítulo 14, discutem a aprendizagem por equivalência de estímu-los. As autoras inicialmente apresentam uma diferenciação entre equivalência e generaliza-ção e uma caracterizageneraliza-ção do procedimento comumente utilizado para avaliar equivalên-cia. Ao descrever os resultados da pesquisa básica sobre o tema, as autoras discutem se a nomeação oral dos estímulos é necessária para a emergência de equivalência e sobre a possi-bilidade de transferência de função entre os membros de uma classe de equivalência. Por fim, as autoras discorrem sobre a aplicabilidade do paradigma de equivalência para o treino de leitura, escrita, habilidades matemáticas e com-portamentos clinicamente relevantes (p. ex., consumo de drogas, autoconceito negativo).

Finalizando, os dois últimos capítulos abordam temas sociais. No Capitulo 15, Ana Karina Curado Rangel de-Farias avalia a pertinência de uma análise experimental do comportamento social, enfatizando as estraté-gias metodológicas utilizadas nas investigações dos comportamentos de cooperação, competi-ção e trabalho individual. A autora destaca, dentre as variáveis de controle desses compor-tamentos, a magnitude dos reforços, a história de reforçamento, o custo da resposta, o con-teúdo das instruções e a iniqüidade de refor-ços entre os participantes da situação social. É também discutida a relevância dos estudos

so-bre comportamento social para diversas situa-ções aplicadas, tais como produtividade no tra-balho, desempenho acadêmico, participação em cooperativas de trabalho e manutenção de recursos naturais.

No Capítulo 16, Jorge M. Oliveira-Castro e Gordon Foxall apontam a relevância da abordagem analítico-comportamental para o estudo do comportamento do consumidor. São apresentados resultados de pesquisas sobre tó-picos relacionados ao comportamento do con-sumidor, como, por exemplo, economia comportamental, escolha e preferência, siste-mas de economia de fichas e marketing social. O capítulo também contém uma caracterização dos padrões de escolha do consumidor, bem como uma discussão sobre questões como o ce-nário de consumo, a história de aprendizagem do consumidor e as conseqüências do consu-mo. Os autores mostram, ainda, uma proposta de categorização do comportamento do consu-midor. Por fim, os autores descrevem o uso de procedimentos respondentes e operantes para investigar o comportamento do consumidor.

É com muito entusiasmo que apresenta-mos este livro, que poderá ser de grande utili-dade a alunos de graduação e pós-graduação, tendo em vista que os temas de que trata cons-tituem parte de disciplinas obrigatórias na for-mação desses alunos. Os profissionais que ado-tam a abordagem analítico-comporado-tamental, bem como aqueles de áreas afins, que buscam um conhecimento atualizado e fundamentado na pesquisa básica e aplicada sobre processos comportamentais diversos, também se benefi-ciarão com a leitura deste livro. Além disso, esta obra poderá amenizar as dificuldades dos professores da área em oferecer bibliografia atualizada na língua portuguesa, dificuldade esta que nos têm levado a adotar, nos cursos de graduação, traduções já defasadas ou tex-tos em outros idiomas, o que freqüentemente traz prejuízos ao processo ensino-aprendiza-gem. Por fim, queremos agradecer a todos os colaboradores pelo esforço em apresentar tra-balhos fortemente embasados na literatura ci-entífica e em apontar possíveis aplicações dos resultados da pesquisa a contextos diversos.

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CIÊNCIA, TECNOLOGIA E

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO

KENNON A. LATTAL

os cientistas fazem envolve um “conjunto de ati-tudes” caracterizado por “uma disposição para aceitar fatos mesmo quando eles são opostos a desejos” (p. 12). O comportamento de um cien-tista envolve “uma busca por ordem, por uni-formidade, por relações ordenadas entre os eventos na natureza” e, além disso, demonstra “mais e mais relações entre eventos ... mais e mais precisamente” (p.13).

Para essa discussão será também útil dis-tinguir a ciência básica da aplicada. Tal distin-ção pode ser feita comportamentalmente em termos das variáveis que controlam o compor-tamento do cientista. Na ciência básica o com-portamento do cientista, amplamente definido, é controlado pela aquisição de novos conheci-mentos e pelo desenvolvimento de teorias. O comportamento do cientista aplicado é simi-larmente controlado pela aquisição de novos conhecimentos, mas novos conhecimentos à medida que estes se relacionam com o impac-to do conhecimenimpac-to sobre problemas práticos (sociais para alguns, como Baer, Wolf, e Risley, 1968), isto é, faz as coisas funcionarem. Como disse Baer (1991), “algumas disciplinas não se dedicam a fazer alguma coisa funcionar, mas sim a notar regularidade, ordem e predições, enquanto outras dedicam-se a fazer as coisas funcionarem” (p.429). A adição de controle ao repertório do cientista aplicado, por meio do desenvolvimento teórico, obscurece a distin-ção entre ciência básica e aplicada, mas as va-riáveis que controlam os dois empreendimen-tos, aquelas relacionadas com a aquisição de conhecimento versus aquelas relacionadas com Os capítulos que compõem este livro

ofe-recem substância para as relações entre os ele-mentos descritos no título deste primeiro capí-tulo. Os autores descrevem muitos desenvol-vimentos na análise experimental de proces-sos básicos de aprendizagem, e muitos deles também discutem as implicações de uma com-preensão desses processos básicos para a reso-lução de problemas do comportamento huma-no. A interação entre ciência e tecnologia é central para o bem-estar da ciência do com-portamento e da tecnologia que envolve inter-venções comportamentais planejadas para melhorar problemas de comportamento. Este capítulo examina as origens, os pressupostos e a natureza da interação entre ciência e tecnologia como um prelúdio para as discus-sões de tais relações, as quais são desenvolvidas para áreas específicas e substantivas da análi-se do comportamento nos capítulos análi-seguintes.

CIÊNCIA BÁSICA, CIÊNCIA APLICADA E TECNOLOGIA

Uma definição satisfatória e mutuamen-te acordada de ciência pode ser tão difícil de se alcançar quanto a de uma série de conceitos em psicologia, mas é necessária uma definição como um ponto de partida. A famosa defini-ção de E. G. Boring de inteligência como “aqui-lo que os testes de inteligência testam” pode ser refraseada para definir ciência como “aquilo que os cientistas fazem”. A partir disso, Skinner (1953) elaborou a definição de que aquilo que

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a aquisição de conhecimento controlada por seu impacto em assuntos práticos, ainda dis-tinguem as duas.

A tecnologia não é controlada por nenhu-ma dessas variáveis, nenhu-mas por seu impacto so-bre problemas práticos. O comportamento do tecnicista é aquele de adaptação e de aplica-ção do que é conhecido a partir das ciências básica e aplicada para resolver problemas prá-ticos da vida cotidiana, sejam eles construir uma ponte melhor, ajudar um adulto que atra-vessa uma crise pessoal ou melhorar a quali-dade de vida de um adolescente gravemente retardado. Assim como a distinção entre ciên-cia básica e aplicada também o é, a distinção entre ciência aplicada e tecnologia é, algumas vezes, obscura (cf. Hawkins e Anderson, 2002; Johnston, 1996).

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO COMO UMA CIÊNCIA E UMA TECNOLOGIA

A ciência da análise do comportamento começou com o trabalho de Skinner na déca-da de 1930 (Skinner, 1956) sobre processos básicos de aprendizagem. Os métodos de Skinner encontraram seu espaço na aplicação, talvez primeiramente na análise experimental dos efeitos de drogas sobre o comportamento (Skinner e Heron, 1937) e depois no desen-volvimento de bombas teleguiadas por pom-bos para o governo dos Estados Unidos (Skinner, 1960), mas mais importante, por meio do que mais tarde tornou-se a análise comportamental aplicada (ver Ullman e Krasner, 1965, p. 1-63, para uma revisão his-tórica). Talvez as mais amplas questões nesses desenvolvimentos em análise do comportamen-to tenham sido aquelas referentes a como a ciência básica, a ciência aplicada e a tecnologia podem e relacionam-se entre si. Essas questões têm resultado em um número de revisões úteis dessas relações. Alguns têm discutido a carac-terização da análise comportamental aplicada como uma ciência e uma tecnologia (Hayes, 1978; Epling e Pierce, 1986; Johnston, 1996; Smith, 1992), outros têm considerado a lacu-na entre a análise comportamental básica e a

aplicada e sugerido maneiras de eliminá-la (Baron e Perone, 1982; Hake, 1982; Epling e Pierce, 1986), e outros ainda têm defendido a necessidade de considerar as três não em ter-mos de hierarquia, mas em terter-mos de suas con-tribuições independentes para a disciplina (Epling e Pierce, 1986; Hayes, 1978).

A ciência da análise do comportamento é controlada por variáveis de pelo menos três fontes: pesquisa empírica passada, teoria e observações correntes do comportamento. Com a pesquisa empírica passada e a teoria, o con-trole é amplamente verbal, visto que estímu-los tanto escritos quanto orais estabelecem oca-siões para novas pesquisas. Observações do comportamento podem ser realizadas tanto no laboratório quanto em cenários “aplicados”, tais como clínico e educacional. Essas obser-vações também incluem o bem conhecido prin-cípio de “serendipidade” (Bachrach, 1960; Skinner, 1956), por meio do qual observações sistemáticas futuras do comportamento são controladas por observações que desviam do esperado, isto é, por contingências mais locais e imediatas em contraste com as contingên-cias de mais longo termo envolvidas no contro-le da pesquisa pela teoria ou pela experimenta-ção prévia.

Um dos objetivos da análise do compor-tamento como uma ciência é desenvolver prin-cípios comportamentais gerais que podem ser aplicados igualmente a humanos e a não-huma-nos, tanto em laboratório quanto em ambientes naturais. Hake (1982) propôs que a pesquisa básica sobre comportamento social e verbal com humanos poderia servir como uma ponte entre pesquisa básica com animais não-huma-nos e a aplicação dos princípios a problemas de comportamento humano, por exemplo, em situações clínicas e educacionais. A importân-cia da pesquisa básica nesses dois tópicos em relação à aplicação é inquestionável porque essas características definem partes importan-tes do ambiente natural dos humanos. O que é questionável é se elas são uma conexão neces-sária entre pesquisa básica de laboratório com animais e trabalho aplicado com humanos. Hake definiu essa ponte como a extensão dos princípios comportamentais para novas

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popu-lações e novos padrões de comportamento, e, nesse sentido, a pesquisa operante básica so-bre comportamento social e verbal em huma-nos pode ser considerada uma ponte. Essa ob-servação não sugere, entretanto, que a pesqui-sa operante com humanos seja necessária an-tes da aplicação dos princípios comporta-mentais a problemas do cotidiano. A história da análise comportamental aplicada mostra que o desenvolvimento do trabalho aplicado não se deu por tal processo de três fases: da pesquisa operante básica com animais para a pesquisa operante com humanos e para a apli-cação. A análise comportamental aplicada de-senvolveu-se, pelo menos inicialmente, em função do sucesso da extensão direta dos prin-cípios comportamentais desenvolvidos com animais não-humanos, em função da falta de significativa produção de pesquisa operante bá-sica com humanos. Uma vez que tanto o com-portamento social quanto o verbal não são en-contrados no laboratório animal, tal pesquisa com humanos parece útil se o interesse é na melhora de problemas comportamentais que envolvem esses dois processos. As mesmas fon-tes de controle na ciência básica operam na ciência aplicada da análise do comportamen-to. Embora esta possa estar fundamentada na ciência básica, ela se desenvolve independen-temente da ciência básica, uma vez que os pro-blemas estudados por ela são controlados por diferentes características do ambiente.

A análise do comportamento funciona como uma tecnologia de duas maneiras dife-rentes: aplicando princípios estabelecidos por meio das pesquisas básica e aplicada para o melhoramento de problemas de significância social (Baer et al., 1968) e como uma fonte de métodos para tornar “observação e mensura-ção válidas e confiáveis” (Baer, 1991, cf. Cardwell, 1994, p. 492). É a ênfase na solução de problemas práticos que tem creditado à análise do comportamento, dirigida a huma-nos, sua reputação positiva. Melhoras na vali-dade e na confiabilivali-dade das observações por meio do desenvolvimento de tecnologias observacionais têm, entretanto, contribuído significativamente para fornecer evidências de que a análise do comportamento, de fato,

fun-ciona. Além disso, a aplicação de métodos ana-lítico-comportamentais em áreas diversificadas, como cognição animal e farmacologia compor-tamental, tem contribuído imensamente para o sucesso dessas disciplinas, pelo avanço da ciência básica associada a cada uma delas.

PRAGMATISMO E PRÁTICA

A análise de comportamento é definida como uma disciplina pragmática (Moxley, 2001; Baum, 1994), o que significa dizer que tanto a ciência como a tecnologia da análise do comportamento têm como critério de ver-dade de um conceito a utiliver-dade daquele con-ceito. Na distinção entre pragmática e prática, Morris (1970) observou que Peirce, quem pri-meiro descreveu pragmatismo, “preferiu o ter-mo ‘pragmatister-mo’ ... [porque] pragmatister-mo não estava preocupado com ‘o prático’, nem mesmo com todos os tipos de ‘prática’, mas com a maneira como o conhecimento humano ... é relacionado a ação ou conduta humana” (p. 9-10). A distinção entre pragmatismo e prática é importante para discussões das relações entre ciência básica, ciência aplicada e tecnologia porque os dois termos, às vezes, são equipara-dos, com a implicação resultante de que a meta final da análise do comportamento está em con-tribuir para a solução de problemas práticos. Por exemplo, Baer e colaboradores (1968) no-taram que “behaviorismo e pragmatismo freqüentemente parecem caminhar lado a lado. A pesquisa aplicada é eminentemente pragmá-tica; ela pergunta como conseguir com que um indivíduo faça algo de maneira eficaz” (p. 93). O segundo termo é, então, examinado em re-lação “ao valor de aplicação” e às metas que são “socialmente importantes” (p. 93). Metas socialmente importantes certamente podem ser tanto pragmáticas como práticas, porém nem todas as metas pragmáticas são práticas. Do ponto de vista da filosofia pragmática, qual-quer solução, mesmo aquelas que podem não satisfazer outros critérios, tais como a aceitabi-lidade social (sem mencionar a relevância), pode ser pragmática na medida em que satis-faça as metas estabelecidas. A pesquisa básica

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em análise do comportamento é pragmática sem carregar, com esse rótulo, a necessidade de ser prática.

O que significa uma disciplina pragmáti-ca? O pragmatismo veio para a psicologia, e então para a análise do comportamento, pelos primeiros trabalhos de James e Dewey que, jun-tos com Peirce, são considerados os fundado-res da escola pragmática da filosofia. James e Dewey rejeitaram a abordagem estruturalista e seu substrato filosófico racionalista, que de-finiu o início da psicologia como uma discipli-na separada da filosofia e da fisiologia. Para esses três fundadores (Morris, 1970, p. 10):

A ação humana é um tópico de preocupação central. Esta preocupação, porém, não é com o “movimento” ou a “atividade” como tal, nem com os efeitos de idéias sobre a vida humana, nem com uma teoria completa da natureza humana; é principalmente focalizada (embo-ra não exclusivamente) em um aspecto do comportamento humano: ação inteligente, que seria o comportamento propositivo ou dirigido a metas, influenciado por reflexão.

Se o alvo é um assunto teórico ou prático, o critério pragmático de verdade de utilidade é definido em termos das metas que são determi-nadas conforme for mencionado na citação an-terior. Essa operacionalização de utilidade pa-rece, a princípio, estar em conflito com uma ci-ência do comportamento; o próprio Skinner (1974, p. 55), entretanto, sugeriu que a análise do comportamento é “o próprio campo do pro-pósito e da intenção”. Lattal e Laipple (no pre-lo) descreveram vários modos em que o critério de verdade de utilidade é incorporado em uma visão behaviorista de mundo. Pode ser, por exemplo, considerada uma instância de corres-pondência entre dizer e fazer (Ribeiro, 1989) com o estabelecimento da meta e a realização da meta correspondendo a dizer e a fazer.

RELAÇÕES ENTRE CIÊNCIA BÁSICA, CIÊNCIA APLICADA E TECNOLOGIA

Tanto a ciência como a tecnologia da aná-lise do comportamento são controladas por eventos antecedentes e conseqüentes. Os

even-tos antecedentes incluem desenvolvimeneven-tos em ciência básica, em ciência aplicada e em tecnologia, e eventos conseqüentes envolvem a “utilidade” ao longo das linhas do critério pragmático de verdade de realização de metas esboçado na seção anterior. A interação entre esses eventos antecedentes e conseqüentes constitui um progresso científico e tecnológico. Moxley (1989) e Neef e Peterson (no pre-lo) descreveram um modelo interativo, apre-sentado na Figura 1.1, para enquadrar as rela-ções entre ciência básica, ciência aplicada e tecnologia. As atividades no lado esquerdo da matriz constituem a fonte de informações, isto é, a condição antecedente, e aquela no topo da matriz constituiu o receptor ou o beneficiá-rio das informações. Desse modo, cada ativi-dade influencia as outras. Os próximos três itens consideram as implicações de tal confi-guração para a ciência e para a tecnologia da análise do comportamento.

A ciência da análise do comportamento A independência da ciência básica

e da aplicada

As interações mais comuns e influentes na ciência da análise do comportamento en-volvem ciência básica para ciência básica e ci-ência aplicada para cici-ência aplicada. A análise do comportamento foi caracterizada como uma

FIGURA 1.1 Uma matriz descrevendo as interações entre ciência básica, ciência aplicada e tecnologia.

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ciência histórica, visto que práticas atuais e des-cobertas são construídas a partir de observa-ções e de experimentaobserva-ções prévias. Este livro ilustra como o conhecimento atual sobre pro-cessos e fenômenos comportamentais é o re-sultado do acúmulo de experimentação, em que novos experimentos são fundamentados em experimentos anteriores. As fontes mais fortes de controle sobre práticas científicas atu-ais em ciência básica e em ciência aplicada são os experimentos que as precederam em, na maioria das vezes, uma área similar ou relacio-nada. Pode ser só um leve exagero dizer que muitos, se não a maioria, dos cientistas bási-cos lêem principalmente o que outros cientis-tas básicos escrevem. Quer dizer, eles lêem pouco sobre ciência aplicada ou áreas tecnoló-gicas de sua disciplina. O mesmo pode ser dito de cientistas aplicados com respeito à literatu-ra aplicada. Essa afirmativa é sustentada por estudos que mostram que as taxas de citações transversais em artigos de análise do compor-tamento que aparecem no Journal of the Expe-rimental Analysis of Behavior e no Journal of Applied Behavior Analysis são, realmente, bas-tante pequenas (Poling, Alling e Fuqua, 1994). Uma implicação dessa infreqüente taxa de citações transversais é que as ciências bási-cas e as aplicadas da análise de comportamen-to estão operando de maneira relativamente independentes entre si. Esse achado não é in-salubre nem particularmente surpreendente. A independência entre análise do comporta-mento básica e aplicada, em termos de pro-gramas de trabalho de pesquisas e de assuntos conceituais que comandam a atenção, é um sinal saudável de crescimento na disciplina como um todo. Embora a análise do compor-tamento aplicada derive seus princípios e sua visão de mundo da ciência básica baseada em investigações com humanos e com não-huma-nos dentro da análise experimental do com-portamento, a análise do comportamento apli-cada não pode ser estritamente limitada pela ciência básica em termos tanto dos problemas que investiga quanto dos métodos que desen-volve para estudá-los. Ela se fundamenta em alguns dos assuntos e problemas teóricos deri-vados da análise do comportamento básica, entretanto muitos problemas encontrados na

aplicação de princípios do comportamento tam-bém devem ser tratados. É improvável que a ciência básica trate esses problemas, colocan-do, assim, o ônus de investigá-los na análise do comportamento aplicada. A análise do com-portamento aplicada não é também limitada pelos métodos da ciência básica. A importân-cia dos planejamentos de reversão na ciênimportân-cia básica é uma parte de quase toda investigação de um processo básico de aprendizagem. O procedimento de linha de base múltipla foi de-senvolvido porque as demandas na condução de pesquisa em situações naturais algumas vezes impedem a reversão para a condição de linha de base. Embora aquele planejamento seja um “cavalo de força” da análise do com-portamento aplicada, isto raramente, se algu-ma vez, foi usado em situações de pesquisa básica.

Relações interdependentes entre a ciência básica e a aplicada

Como já foi sugerido, a análise do com-portamento básica se desenvolveu antes da ci-ência aplicada e, nesse sentido, a última é uma descendente linear da primeira. Desse modo, as ciências básica e aplicada da análise do com-portamento compartilham uma linhagem co-mum que inclui uma visão coco-mum de mundo, uma visão comum das variáveis que determi-nam o comportamento e os métodos sobrepos-tos (mas métodos freqüentemente não-idênti-cos porque os ambientes naturais em que a ci-ência aplicada muitas vezes ocorre colocam especial demanda sobre os métodos, deman-das essas não colocademan-das sobre pesquisas em situações de laboratório, como notado anterior-mente). De forma geral, as ciências básica e aplicada influenciam fortemente uma a outra. Mais especificamente, é muito freqüente o caso em que a pesquisa básica provê o ímpe-to para a pesquisa aplicada, e muiímpe-tos têm dis-cutido que isso deveria ser mais freqüente. Mace (1994), por exemplo, clamou pelo de-senvolvimento de pesquisa básica em várias áreas que ele sugeriu como particularmente relevantes para a análise do comportamento aplicada: distribuição de respostas, resistência

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gia deixar o que se está fazendo e estudar a nova descoberta. Se tomado muito literalmen-te, a ciência nunca progrediria porque novas descobertas definem a atividade. Menos lite-ralmente, Skinner estava sugerindo que seguir os dados de maneira indutiva pode ter resulta-dos recompensadores. Uma maneira de facili-tar a exposição do cientista para outro tipo de problema é pedir a ele para relacionar sua pró-pria pesquisa com outras coisas. Como um bom exemplo de como isso poderia ser feito, recen-temente o Journal of Applied Behavior Analysis tomou a iniciativa criativa de convidar pesqui-sadores básicos e aplicados para colaborarem no desenvolvimento de uma revisão de uma área de análise do comportamento básica com um olhar nas aplicações de tais pesquisas (Lattal e Neef, 1996). Desse modo, cientistas com diferentes focos examinam problemas re-lacionados a sua própria pesquisa, mas em uma outra arena.

Ciência e tecnologia

Foram sugeridos dois modelos gerais de interações entre as ciências, tanto a básica como a aplicada, e a tecnologia. O mais con-vencional modelo de progresso da ciência para a aplicação é um modelo linear. Com esse mo-delo, desenvolvimentos em ciência básica são refinados e tornados relevantes por cientistas aplicados, que, por sua vez, entregam seus pro-dutos para indivíduos qualificados e bem-trei-nados para empregá-los como uma tecnologia. É o caso do modelo de progressão da física e da química para a engenharia e, então, para a construção ou produção. O segundo modelo é parte do que foi descrito previamente como um modelo interativo em que ciência e tecnologia influenciam-se mutuamente. Ainda existe o mo-vimento da ciência básica e da aplicada para a aplicação, mas os movimentos reversos também são reconhecidos (cf. Cardwell, 1994).

O modelo linear tem sido apresentado como uma justificativa para a pesquisa básica, como a fundação da tecnologia moderna. Como tal, às vezes é visto como o modo ideal para maximizar ganhos a partir do conhecimento científico. Segundo esse modelo, a ciência bá-à mudança, contracontrole, formação e

dife-renciação/discriminação de classes de estímu-los e de respostas, análise de comportamento de taxa baixa e comportamento governado por regra.

Ocasionalmente, a relação inversa tam-bém ocorre. Dois exemplos ilustram o movi-mento de pesquisa aplicada para pesquisa bá-sica. Às vezes, a pesquisa aplicada influencia a pesquisa básica quando uma pesquisa sobre um problema aplicado revela uma anomalia ou um resultado inesperado que não é intuitivo a par-tir do que é conhecido na ciência básica. Como um exemplo simples, em meu próprio labora-tório, há vários estudos aplicados que demons-tram que usando dois tipos diferentes de re-compensas para a mesma tarefa, brinquedos e M&M (pastilhas de chocolate), por exemplo, ocorre um melhor desempenho do que quando utilizado um ou outro tipo de recompensa in-dividualmente. Não é óbvio por que isso deve-ria acontecer, e agora estamos estudando o problema, usando ratos como sujeitos e pelotas de comida e leite condensado como reforça-dores. Outras vezes, modelos de laboratório, com humanos ou não-humanos, são construí-dos a partir da ciência básica para estudar fe-nômenos de interesse para a ciência aplicada sob condições mais controladas, mas mais im-portante em termos da discussão presente, permitir que o fenômeno aplicado seja mais sistematicamente relacionado aos processos comportamentais básicos. Lattal (2001) tem discutido a natureza da extensão dos princí-pios de um lado para outro entre a ciência básica e a aplicada dentro da análise do com-portamento.

As pesquisas básica e aplicada parecem mutuamente importantes uma para a outra como uma fonte de novas idéias e soluções de problemas práticos, mas a dificuldade está em encontrar formas para pesquisadores básicos e aplicados deixarem o que estão fazendo e es-tudar em alguma outra coisa, presumivelmen-te por causa das contingências que operam para manter suas atividades presentes. O problema é o controle do comportamento, neste caso, do comportamento científico. Skinner (1956) observou que, quando alguém descobre algo interessante algumas vezes é uma boa

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estraté-sica tem fornecido a base necessária para a apli-cação tecnológica de tal forma que se torna simplesmente uma questão de adaptar o prin-cípio científico para algum problema prático. Embora isso freqüentemente seja verdade, não é sempre o caso, e contra-exemplos trazem à discussão a generalidade do modelo.

Em sua análise de revoluções científicas, Kuhn (1971) notou que a ciência é perita em esconder conflitos, especialmente conflitos te-óricos. Sua posição é que a ciência normal even-tualmente permite falhas no paradigma sob o qual ela é conduzida. As falhas são escondidas ou ignoradas até que um paradigma novo e melhorado apareça. Então, a história do pro-blema é reescrita de tal maneira que as incon-sistências anteriores são encobertas, e a ciên-cia é apresentada como um acúmulo gradual e fluente de conhecimento. Essas mesmas idéias podem ser aplicadas à relação entre ciência e tecnologia. Moxley (1989) ofereceu o exem-plo de como o uso de laranjas e limões se de-senvolveu em um tratamento para o escorbuto. A descoberta científica dos mecanismos freqüentemente é retratada como a razão para a prática (Skinner, 1987), o que se constitui em um exemplo clássico do modelo linear. Comer frutas como um tratamento para aque-le flagelo do serviço naval, o escorbuto, po-rém, era parte da medicina popular pelo me-nos por 400 ame-nos antes de ser descoberto que o escorbuto era o resultado de uma falta de vitamina C na dieta. Moxley sugeriu que a tecnologia de comer frutas para prevenir o escorbuto não foi causalmente ligada à desco-berta dos mecanismos no final dos anos 1700. Ele notou que (1989, p. 49):

A história da cura para o escorbuto não é a história do atraso lento entre uma descoberta científica inicial e sua aplicação prática. Ao invés disso, é a história de quanto tempo pode levar antes que alguma adventícia aplicação prática bem-sucedida possa ser cientificamen-te explicada.

O modelo interativo oferece uma visão relacionada, mas mais completa, da relação entre a ciência e a tecnologia, levando em conta os círculos de retroalimentação entre a tecnolo-gia e as ciências a partir das quais elas se

de-senvolvem. Mesmo dentro de um modelo in-terativo, a tecnologia é mais freqüentemente influenciada pela ciência aplicada porque as aplicações são mais diretas desta para a outra. Em muitos casos, entretanto, a aplicação tecnológica é suficientemente direta, de for-ma que pesquisa aplicada adicional não é ne-cessária, ou pode ser adiada até que a aplicação direta da pesquisa básica seja tentada.

Qual a contribuição da ciência para a tecnologia?

A ciência contribuiu mais freqüentemente com as matérias-primas das quais a tecnologia é construída, e esta parte da relação segue o modelo linear de ciência para tecnologia, pre-viamente discutido. As tecnologias da análise do comportamento, por exemplo, foram inicial-mente construídas sobre os fundamentos conceituais e experimentais do trabalho de Skinner, como já notado. O modelo linear não dá conta, porém, de todas as instâncias de tecnologia porque algumas tecnologias desen-volvem-se em resposta direta às contingências naturais locais sem que, necessariamente, exis-ta uma ciência básica como pré-requisito. A roda, a escrita e o desenvolvimento do ferro podem ser exemplos de tais respostas diretas. Thomas Edison, o “mago do Parque Menlo” como era chamado, era um dos inventores mais prolíferos e bem-sucedidos entre aqueles rei-vindicados pelos Estados Unidos, mas ele não tinha nada a ver com a compreensão cien-tífica de mecanismos. Seu único interesse era inventar “coisas úteis”. É claro, pode ser argu-mentado que as matérias-primas das quais ele construiu suas invenções eram, de fato, um produto das ciências do seu tempo. Além dis-so, o trabalho de Edison, e de outros invento-res, poderia ter prosseguido de maneira mais eficaz se tivesse a ciência básica provido uma fundação mais formal. Nikola Tesla, o princi-pal competidor de Edison e de igual inventi-vidade, nascido na Croácia, disse sobre Edison (White, 2002, p. 132):

Se ele tivesse de achar uma agulha em um palheiro, ele procederia com a diligência da

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abelha para examinar palha após palha até encontrar o objeto de sua procura. Eu fui uma testemunha penosa de tais ações, sabendo que um pouco de teoria e de cálculo teria econo-mizado 90% de seu trabalho.

Aqueles que aplicam a tecnologia prova-velmente têm uma interação direta, relativa-mente pequena, tanto com a ciência básica como com a aplicada, mas suas informações sobre os desenvolvimentos nessas áreas e as implicações de tais desenvolvimentos para a prática podem vir daqueles envolvidos tanto em uma como em outra ciência. Tais informa-ções são destiladas para algo facilmente apli-cado e apresentadas em foros tais como semi-nários, documentação escrita e apresentações em conferências.

Qual a contribuição da tecnologia para a ciência?

A ciência também fornece à tecnologia muitos problemas práticos que ela, a ciência, precisa que sejam resolvidos para os avanços adicionais e, diretamente ao ponto desta sub-seção, a tecnologia retroalimenta a ciência com muitas das ferramentas que esta precisa de-senvolver e que, de outra maneira, não se-ria possível. O fornecimento dessas ferramen-tas tem um impacto que vai além do propósito original de seu desenvolvimento. Embora fer-ramentas sejam criadas em resposta a certas demandas específicas do ambiente, uma vez que uma ferramenta torna-se disponível pode ser disponibilizada para muitos outros usos. Um desses usos é a expansão da ciência básica até mesmo em outras direções daquela permi-tida pela ferramenta original. Avanços tecno-lógicos, tal como um novo modo de medir uma resposta difícil ou um novo teste estatístico, desenvolvido para um determinado propósito, podem ter uma larga aplicação para outros problemas da ciência básica e da aplicada. Desse modo, por exemplo, o desenvolvimento de uma tecnologia para a análise funcional de comportamentos-problema de crianças com atraso de desenvolvimento tem provado ser va-lioso para um amplo espectro de problemas e de ambientes.

Existe um problema potencial de circu-laridade no fato de que a tecnologia retroali-menta a ciência básica da qual ela deriva. A circularidade é quebrada em parte porque a tecnologia importada de volta para a ciência é baseada em outras facetas da ciência em questão, ou porque a tecnologia pode ser im-portada de outra disciplina (isto é, tecnologia computacional no caso da ciência da análise do comportamento). O importante papel da tecnologia em desenvolvimento científico pa-rece ser contrário a um modelo estritamente linear de desenvolvimento científico para apli-cação porque ele não permite que a tecnologia retroalimente a ciência e, assim, altere o cur-so da ciência.

A tecnologia pode sustentar-se sozinha? O bloco restante da matriz na Figura 1.1 é aquele em que tecnologia é tanto a fonte quanto o recipiente, gerando a pergunta no tí-tulo desta subseção. Somente de modo limita-do pode a tecnologia sustentar-se. Algumas vezes, ela fornece soluções locais, circunscri-tas a problemas que surgem em situações es-pecíficas; mas existem pelo menos três proble-mas com tecnologia alimentando tecnologia, talvez especialmente em psicologia. O primei-ro é que na ausência de qualquer avaliação e modificação resultante dessa avaliação, tais in-tervenções psicológicas tecnologicamente dirigidas tornam-se nada mais do que psicolo-gia popular, um tipo de alquimia psicológica em que cada praticante procura seu próprio caminho de acordo com suas próprias regras, nenhum dos quais necessariamente concordan-do com as regras concordan-dos outros. Como os limões, no caso dos marinheiros britânicos, tais inter-venções podem funcionar, mas sua aplicação pode ser limitada e ineficiente sem uma com-preensão do mecanismo que uma análise cien-tífica permitiria. Tais soluções estritamente tecnológicas freqüentemente levam a aborda-gens de pacotes para problemas em que várias coisas são tentadas de uma vez e, se efetivo, o pacote permanece o tratamento de escolha, em-bora só um ou dois elementos possam ser res-ponsáveis pelos efeitos. O segundo problema

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é relacionado ao primeiro. Quando um pacote tecnológico não funciona como devia, a me-nos que os próximos passos sejam articulados, para o técnico não é claro qual a próxima coi-sa a ser feita. Desse modo, por exemplo, se re-compensar algum comportamento alternativo apropriado de um adolescente com atraso de desenvolvimento não aumenta a freqüência daquele comportamento, a solução estritamen-te técnica de recompensar um comportamen-to apropriado não sugere qual o próximo pas-so em direção a aumentar o comportamento-alvo. Em parte, isso é um problema do quão específica a tecnologia é, mas quando aplica-ções tecnológicas começam a incorporar a no-ção de teorias ou princípios gerais, a distinno-ção entre tecnologia e ciência é obscurecida. Em parte, porque não se espera que técnicos sai-bam os princípios científicos subjacentes; a menos que se utilizem métodos precisos para manter a tecnologia como planejada para ser aplicada, a aplicação da tecnologia pode mu-dar da sua forma pretendida originalmente. Essa mudança tecnológica constitui o terceiro problema da tecnologia servindo tanto como fonte quanto como recipiente. Particularmen-te em psicologia, em que muito da Particularmen-tecnologia envolve pessoas que se comportam de deter-minadas maneiras, na ausência das condições originais, o comportamento das pessoas des-loca-se de seu treinamento original quando contingências mais locais, nem sempre consis-tentes com as metas de longo prazo da inter-venção, entram em jogo. Pennypacker (1986), por exemplo, descreveu os problemas de trans-ferência de tecnologia com respeito a manter um programa de treinamento para ensinar mu-lheres a realizar auto-exame de mamas como uma intervenção de prevenção ao câncer.

Trazendo, para a análise do comportamento, elementos de outras disciplinas

Desde o início, a psicologia, em geral, e a análise de comportamento, em particular, têm utilizado idéias de outras disciplinas. A psico-logia propriamente é uma disciplina híbrida, tendo surgido de um “casamento” peculiar en-tre a filosofia e a fisiologia. Sendo assim,

des-de o início a psicologia tem abstraído idéias e tecnologias de outros universos de discurso. Idéias filosóficas, como operacionismo, o prag-matismo, o selecionismo e outras, abundam na teoria analítico-comportamental moderna tan-to “básica” como “aplicada”. Muitan-tos dos pro-blemas científicos mais amplos da psicologia desenvolveram-se de antigos problemas trata-dos por filósofos e fisiologistas. Semelhante-mente, pesquisas básicas em análise do com-portamento sobre questões como a natureza de reforço e punição (Dinsmoor, 2001), a con-dição da força da resposta, as variáveis deter-minantes da escolha e a natureza da equiva-lência de estímulos (Sidman, 1986) refletem questões antigas tanto da psicologia como de outras disciplinas, como a lógica, a matemáti-ca e a fisiologia.

Existe uma diferença importante entre a influência de dados de outras disciplinas e a incorporação de outras visões de mundo na metateoria analítico-comportamental. Por exemplo, um assunto um pouco preocupante tem sido a relação entre a análise do compor-tamento e a fisiologia. Schaal (no prelo) no-tou um número de benefícios derivados da in-clusão de dados fisiológicos na análise do com-portamento predominante, mas Reese (1996) sugeriu que a análise do comportamento não tem nenhuma obrigação de fazer tal inclusão. Na verdade, Reese discute que fazê-lo pode obscurecer a distinção entre as duas e custar à análise do comportamento um pouco de sua condição como uma disciplina independente. Trazer a pesquisa e a teoria de outras discipli-nas é, porém, tanto inevitável quanto pode ser altamente útil em expandir o âmbito da análise do comportamento. Dependendo de como a mistura é feita, a visão de mundo não precisa ser necessariamente comprometida. Por exemplo, Branch (1984) examinou os modos em que o estudo de ações de drogas poderia expandir o entendimento dos meca-nismos tanto das drogas quanto do compor-tamento. Sua sugestão é que um contribui para o entendimento do outro, uma posição diferente daquela de outros que simplesmen-te usam os métodos da análise do comporta-mento como uma tecnologia para estudar a ação de drogas.

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Tomar elementos de outras disciplinas não é, claramente, limitado a assuntos conceituais e teóricos. Thompson (1984) no-tou as estranhas semelhanças entre os méto-dos da fisiologia experimental descritos no sé-culo XIX por Bernard (1865/1957) e os méto-dos contemporâneos da análise experimental do comportamento. Realmente, um dos mais importantes instrumentos de pesquisa de Skinner, o registro cumulativo, evoluiu do quimógrafo, uma invenção do fisiologista ex-perimental alemão, Karl Ludwig. Skinner re-formou o registro cumulativo durante a maior parte de sua carreira de pesquisador, modifi-cando e melhorando as versões antigas até desaparecer, junto com o tambor de memória, na era da mais versátil tecnologia adotada e adaptada, o computador digital.

SELECIONISMO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA

O selecionismo tem sido sugerido como um modelo para evolução orgânica e também para mudanças ontogenéticas e culturais (Skinner, 1981). Reconhecendo a análise de Skinner como um importante componente da cultura humana, ciência e tecnologia estão, desse modo, sujeitas aos mesmos princípios de variação e de seleção que qualquer outra prá-tica cultural. Petroski (1992) ilustrou a aplica-ção de um modelo selecionista para entender a evolução da tecnologia diária na forma de objetos úteis, como lápis e clipes para papel. Um quadro de referência selecionista começa com a variação, porque sem variação não exis-te nada a ser selecionado por processos natu-rais. A variação, desse modo, é um elemento crítico na evolução contínua das práticas cul-turais de ciência e de tecnologia.

Uma vantagem de conceitualizar a rela-ção entre a ciência e a tecnologia em termos do modelo interativo mostrado na Figura 1.1 é que ela representa uma descrição mais am-pla das fontes de variação nas relações entre ciência básica, ciência aplicada e tecnologia. Vários autores têm assinalado a falta de comu-nicação entre as psicologias operante e não-operante (Krantz, 1971), entre a análise do

comportamento básica e a aplicada (Poling et al., 1994) e entre os pesquisadores que traba-lham com humanos e os que trabatraba-lham com-não-humanos dentro da ciência básica da aná-lise do comportamento (Perone, 1985). Exis-tem razões práticas e científicas razoáveis para tais comunicações restritas, como foi notado anteriormente neste capítulo. Mas, do ponto de vista de um selecionista, um sistema muito fechado é desvantajoso porque limita a maté-ria-prima sobre a qual a seleção pode agir. Cada uma dessas fontes é uma fonte potencial de variação em idéias para o desenvolvimento de outras que não estão sendo otimizadas.

Outras fontes de variação também podem contribuir para a evolução contínua da ciência e da tecnologia da análise do comportamento. As muitas outras áreas de ciência e de tecno-logia psicológicas servem para essa função, as-sim como ocorre com o constante influxo de jovens cientistas e de técnicos em análise do comportamento. Kuhn (1971) notou que as mudanças dentro daquela disciplina freqüen-temente são provocadas por uma pessoa nova na disciplina, por uma pessoa jovem ou alguém mais velho, mas com treinamento diferencia-do que só agora está entrandiferencia-do na disciplina. Dentro da disciplina, pesquisadores básicos considerando problemas aplicados e pesquisa-dores aplicados considerando problemas bási-cos semelhantemente podem introduzir varia-ções saudáveis para as áreas nas quais eles não trabalharam antes. A variação não é menos importante para os diferentes empenhos da análise do comportamento do que é para os pássaros e para as abelhas.

CONCLUSÃO

Que relações existem entre a ciência bá-sica, a ciência aplicada e a tecnologia da análi-se do comportamento? A tecnologia depende das ciências básica e aplicada, mas de outra forma também as retroalimenta, provendo mui-tas das ferramenmui-tas para o crescimento e o desenvolvimento futuros.

As ciências básica e aplicada da análise do comportamento não podem operar de ma-neira totalmente independente uma da outra,

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pois cada uma é controlada por um conjunto de assuntos e de circunstâncias único em seus ambientes naturais. Elas dependem uma da outra para idéias e como um meio de exami-nar a confiabilidade, a validade e a generali-dade dos processos e dos mecanismos compor-tamentais que estão sob investigação. Cada uma dessas áreas da análise do comportamen-to também é enriquecida por pesquisas e in-formações técnicas de outras áreas da psicolo-gia e também de outras ciências. A interação de todos esses elementos provê fontes ricas de variação das quais o ambiente natural pode selecionar as práticas que definirão a análise do comportamento no futuro.

NOTA DO AUTOR

Uma versão deste capítulo foi apresenta-da em um colóquio na Universiapresenta-dade de Brasília, em janeiro de 2003, como parte das comemo-rações do quadragésimo aniversário do Insti-tuto de Psicologia. Agradeço a Lincoln Gimenes pelos úteis comentários sobre a versão inicial e pela tradução do capítulo para a língua por-tuguesa.

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OPERAÇÕES ESTABELECEDORAS:

UM CONCEITO DE MOTIVAÇÃO

RACHEL NUNES DA CUNHA GEISON ISIDRO-MARINHO

apresentar ambigüidades pelas várias acepções do verbete na língua portuguesa. O dicionário eletrônico do Instituto Antônio Houaiss (2001) da língua portuguesa traz o verbete motivação como um substantivo feminino, e na acepção de “ato ou efeito de motivar”, o verbete é defi-nido em termos jurídico, lingüístico e semió-tico e psicológico. Na rubrica da psicologia, apresenta como significado um “conjunto de processos que dão ao comportamento uma in-tensidade, uma direção determinada e uma forma de desenvolvimento próprias da ativi-dade individual”. Tal definição é apresentada no referido dicionário como:

1. motivação altruísta, aquela “que considera ou favorece o bem-estar de outrem”;

2. motivação de eficácia, aquela rela-cionada à competência (capacida-de). O dicionário indica como sinô-nimo e variantes a consulta do ver-bete “causa”.

Douglas Mook, em seu livro Motivation – The organization of action (edição de 1987), pre-ocupa-se com a forma como as diferentes abor-dagens do conceito de motivação têm sido apre-sentadas. Refere-se, por exemplo, às controvér-sias e às questões teóricas que, às vezes, são apre-sentadas uma em oposição à outra, a exemplo de impulsos versus instintos (padrões-fixos-de-ação), impulso animal versus teorias cognitivas, pesquisa com humanos versus com organismos não-humanos. Para Mook, esse modo de

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O emprego do conceito de motivação como termo técnico da psicologia requer pre-cisão seja qual for o referencial teórico e meto-dológico utilizado, de modo a dirimir a ambi-güidade que o termo encerra na linguagem coloquial.

Historicamente, as variáveis motivacio-nais têm sido consideradas como determinan-tes da ação humana, aspecto que manteve o conceito de motivação como um tópico vigen-te na psicologia. O que torna esse vigen-tema fasci-nante e desafiador para os psicólogos é com-preender a que esse conceito se refere no am-plo arcabouço teórico, conceitual e metodoló-gico da psicologia. A questão fundamental está no tratamento e na descrição das variáveis controladoras do comportamento. Análises so-bre o papel da motivação na explicação do com-portamento têm conduzido a várias concepções teóricas e metodológicas que refletem os es-forços da psicologia para elucidar uma pergun-ta básica: por que os homens comporpergun-tam-se da maneira como o fazem? O estudo do tópico de motivação nos conduz à discussão sobre a natureza das variáveis motivacionais que têm sido caracterizadas tanto como processos in-ternos quanto como eventos do ambiente ex-terno. Essas diferenças ocorrem porque a psi-cologia apresenta diversidades na definição de seu objeto de estudo, de sua metodologia e de seus pressupostos epistemológicos. Para os ana-listas do comportamento, as variáveis motiva-cionais são variáveis ambientais.

Um fator complicador é que “motivação”, como um termo da linguagem coloquial, pode

Referências

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