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Rosa Luxemburg e a Revolução Russa

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Academic year: 2021

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Rosa Luxemburg e a Revolução Russa

Darlan Faccin Weide Departamento de Filosofia/UNICENTRO darlanweide@gmail.com Dra.Anita Helena Schlesener Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Tuitui do Paraná, UTP anita.helena@libero.it Marizete Righi Cechin Universidade Tecnológica do Paraná, UTPR mrcechin@gmail.com

Palavras-chave: Rosa Luxemburg. Revolução Russa. Socialdemocracia

Rosa Luxemburg, seguidora do marxismo, figura emblemática presente e atuante nos cenários de revolução proletária Russa e no interior do Partido Social Democrata Alemão (SPD), desde seu assassinato em 1919, tem sido objeto de diversas controvérsias.

De um lado os comunistas a acusam de ter se deixado levar pelo espontaneísmo e confiado apenas na ação autônoma das massas. Por outro lado, os críticos do stalinismo recorrem às ideias democráticas de Rosa na luta contra a burocracia, transformando-a muitas vezes, em uma liberal, esquecendo-se da sua dedicação a Revolução Socialista. Para a direita, Rosa e os spartakistas não se distinguem dos bolcheviques e precisam ser enfrentados com uma contra-revolução, pois poderão instaurar a ditadura do proletário e do terror. Afinal, quem foi essa mulher? Que perigo está presente em suas ideias que tem gerado tanto temor? O que ela tem a dizer sobre os acontecimentos da revolução proletária Russa? Através de estudo bibliográfico, busca-se elucidar esta e outras questões sobre Rosa Luxemburg e Revolução Russa.

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Em Zurich (1889), Rosa Luxemburg defendeu a sua tese de doutorado sobre o desenvolvimento industrial na Polônia, um ano mais tarde, foi para Berlin para trabalhar na socialdemocracia alemã (SPD), onde enfrentou o que se chamou “crise do marxismo”. Lá escreveu Reforma social ou revolução? manifestando-se contra as tendências reformistas. Através desse trabalho, tornou-se conhecida e respeitada no interior da SPD. No entanto, sabe que nunca será totalmente aceita no partido, por: “ser mulher, judia polonesa e marxista de extrema-esquerda” (LUXEMBURG, 1991, p.15).

Em 1904, Luxemburg publicou o artigo “Questões de organização da social democracia russa”. Nele, manifestou-se contra o que considerava o excessivo ultracentralismo pardidário de Lenin, manifesto na obra “Um passo à frente, dois passos atrás.(LENIN, 1904), defendendo a ideia de que as direções tem um papel insignificante na elaboração da tática.

[...] atribuir à direção partidária tais poderes absolutos de caráter negativo, como faz Lenin, é fortalecer artificialmente, e em perigosíssimo grau, o conservadorismo inerente à essência de qualquer direção partidária. […] Porém, o ultracentralismo preconizado por Lenin parece-nos, em toda a sua essência, ser portador, não de um espírito positivo e criador, mas do espírito estéril do guarda noturno. Sua preocupação consiste, sobretudo, em controlar a atividade partidária e não em fecundá-la em restringir o movimento e não em desenvolvê-lo, em importuná-lo e não em unificá-lo”. (p.48). [...] E, por fim, precisamos admitir francamente: os erros cometidos por um movimento operário verdadeiramente revolucionário são, do ponto de vista histórico, infinitamente mais fecundos e valiosos que a infalibilidade do melhor 'comitê central'. (LUXEMBURG, 1991, p. 59).

Com isso, Rosa condena o princípio vital deste centralismo que consiste, por um lado, em salientar fortemente a separação entre os grupos organizados revolucionários declarados, ativos, e o meio desorganizado que os cerca. Por outro lado, firma-se na rigorosa disciplina e na interferência direta, decisiva e determinante das autoridades centrais em todas as manifestações vitais das organizações locais do partido.

Rosa é temerosa de que o centralismo de Lenin sufoque e controle a atividade do partido russo, alertando para o risco de dominação de um movimento operário ainda jovem

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por uma burocracia centralizadora de intelectuais. Este artigo é conhecido por chamar a atenção para o perigo do sufocamento da atividade das massas por um partido centralista e burocrático.

Em 1913 e 1914, Rosa pronunciava discursos antimilitaristas perante auditórios calorosos. “Todos os esforços do militarismo massacrador de povos quebrar-se-ão contra a resistência da classe operária, assim como o vidro se quebra contra o granito.” (LUXEMBURG, 1991, p.19). No entanto, alguns meses bastaram para ela perceber que se enganou, pois foi parar na prisão acusada de agitação anti-militarista.

Em 1918, no terceiro ano de prisão, escreveu a “Revolução Russa”, fazendo análise das condições históricas reais que a Rússia passou durante Revolução proletária, com seus erros e acertos. Sobre a reforma agrária implantada pelas sumárias palavras de Lenin “Ide e tomais as terras” advertiu que a

[…] tomada e partilha de terras era a fórmula sumária […]. Infelizmente, ela tinha seu reverso, a tomada de terras pelos camponeses, não tinha nada a ver com uma agricultura socialista. Conduziu ao retalhamento da grande propriedade em uma multidão de pequenas e médias propriedades, da grande exploração relativamente avançada em uma quantidade de pequenas explorações primitivas, trabalhando, do ponto de vista técnico, com os métodos da época dos Faraós. (LUXEMBURG, 1991, p. 74).

Para introduzir princípios socialistas nas relações agrárias, o governo soviético tentou, em seguida, criar comunas agrárias compostas de proletários, na sua maioria elementos urbanos desempregados, o que se transformou em grande fracasso. Em 1918, o governo se vê obrigado a arrendar a indústria nacional aos seus antigos proprietários capitalistas e selar acordos com cooperativas de consumo burguesas, pois a utilização de especialistas burgueses revelou-se indispensável.

Rosa considera que não dá para recriminar o governo dos sovietes por não ter conseguido realizar seus projetos. Foram diversas lutas internas e externas, inúmeros inimigos e uma infinidade de resistências.

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Em 13 de janeiro de 1919, Rosa sai da prisão. E juntamente com Karl Liebknech envolvem-se freneticamente com a revolução. São perseguidos por assassinos, não podendo pernoitar duas noites no mesmo teto. Como legado deixa o Programa da Liga de Spartakus, que pode ser entendido como um

[...] testamento de Rosa e o resumo conciso da obra de uma vida inteira [...] Permanece a ideia, sempre defendida por ela, de que o socialismo é obra dos próprios trabalhadores e não de um partido que se ergue por sobre as massas para comandá-las. (LOUREIRO apud LUXEMBURG, 1991, p.25).

Fica evidenciado, através de Loureiro, que em Rosa Luxemburg a ideia central de teoria política é a “[...] de que a consciência de classe é resultado da experiência das massas, da qual as derrotas também fazem parte” (LOUREIRO apud LUXEMBURG, 1991, p.31)

Para Rosa, os bolcheviques mostraram com a Revolução que são capazes de realizar tudo aquilo de que um partido autenticamente revolucionário é capaz nos limites de suas possibilidades históricas.

Não devem querer fazer milagres. Pois uma revolução proletária exemplar e perfeita num país isolado, esgotado pela guerra mundial, estrangulado pelo imperialismo, traído pelo proletariado internacional seria um milagre. O que importa é distinguir, na política dos bolcheviques, o essencial do acessório, a substância da contingência. […] permanece, não este ou aquele detalhe de tática, mas a capacidade de ação do proletariado, a energia revolucionária das massas, a vontade do socialismo de chegar ao poder. (LUXEMBURG, 1991, p.97).

Hoje, as desventuras da dialética parecem utópicas, não só a ideia de revolução com meio para se chegar a um mundo livre e justo, como a de um socialismo humanista e democrático, que todas as potencialidades do homem poderiam efetivarem-se, no entanto, para Rosa Luxemburg, assassinada em 1919, esse ideário estava na ordem do dia e teria um futuro promissor.

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Referências

LENIN, V. I. O estado e a revolução. Tradução de Aristides Lobo. São Paulo: Editora Hucitec, 1978.

LENIN, V. I. Um passo à frente, dois passos atrás. Genebra: Gráfica do Partido, 1904.

LOUREIRO, Isabel Maria. Introdução, tradução e notas de rodapé. In. LUXEMBURG, Rosa. A revolução russa. Petrópolis: Vozes, 1991.

LUXEMBURG, Rosa. A revolução russa. Petrópolis: Vozes, 1991.

LUXEMBURG, Rosa. O que quer a liga Spartakus. In. ______. A revolução russa. Petrópolis: Vozes, 1991.

LUXEMBURG, Rosa. Questões de organização da socialdemocracia russa. In. ______. A revolução russa. Petrópolis: Vozes, 1991.

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