O FATO DE QUE OS EDIFÍCIOS SOBREVIVEM AOS FINS PARA OS QUAIS FORAM CRIADOS, E A SUBSEQUENTE NECESSIDADE DE ADAPTA-LOS CONTINUAMENTE A NOVAS UTILIZAÇÕES, TEM GERADO EXPERIÊNCIAS NO SENTIDO DE PROPORCIONAR SOBREVIDA PARA MUITAS CONSTRUÇÕES HISTÓRICAS.
NO PASSADO QUANDO OS EDIFÍCIOS ERAM ABANDONADOS, SAQUEADOS PARA A REUTILIZAÇÃO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO OU REPUDIADOS POR RAZÕES POLÍTICAS, O PROCESSO DE DESTRUIÇÃO QUE EXPERIMENTAVAM ERA COM FREQÜÊNCIA LENTA E PARCIAL, EM COMPARAÇÃO COM CAPACIDADE DEMOLIDORA DOS NOSSOS DIAS.
HOJE EXISTE O PARADOXO DE QUE, EMBORA SEJA POSSÍVEL CONSTRUIR NOVAS ÁREAS COM RAPIDEZ, OS CRITÉRIOS SEGUIDOS NO PLANEJAMENTO URBANO TORNAM-SE DESATUALIZADOS APÓS UM PERÍODO DE CERCA DE DEZ ANOS DESDE SUA IMPLANTAÇÃO. A REJEIÇÃO E CRÍTICAS DESPERTADAS DOS DEFENSORES DAS NOVAS CONSTRUÇÕES REFLETEM SOBRE O MÉRITO DAS QUESTÕES DE INVESTIMENTO X USO, SENDO TAMBÉM INFLUENCIADO PELO FATO DE QUE OS GOVERNOS ALOCAM CADA VEZ MAIS FINANCIAMENTOS PARA A CONSERVAÇÃO DE EDIFÍCIOS ANTIGOS.
NO ENTANTO, O PROCESSO DE DESTRUIÇÃO CONTINUARÁ MASSIVA E INDISCRIMINADA SE OS MUNICÍPIOS NÃO PARAREM DE CONSIDERAR COMO QUALQUER PROJETO NOVO UM BOM SUBSTITUTO PARA O ANTIGO E VEJA EM CADA NOVA PROPOSTA DO SETOR PRIVADO UMA OPORTUNIDADE DE CONSOLIDAR AS SUAS TAXAS CORRESPONDENTES NA REPARAÇÃO DAS FINANÇAS MUNICIPAIS
Pátio Victor Malzoni na Faria Lima
O INTERESSE DESPERTADO PELOS EDIFÍCIOS ANTIGOS, CRESCEU EM PARALELO COM O AUMENTO DO PROCESSO DE RENOVAÇÃO URBANA DE NOSSAS CIDADES. CONSERVAÇÃO EXIGE MUITO MAIS QUE DECLARAÇÃO DE "ÁREA TOMBADA“. A ESTE RESPEITO, AS AUTORIDADES LOCAIS, EM COLABORAÇÃO COM OS ASSOCIAÇÕES DE VIZINHOS, DEVE SEGUIR UMA ESTRATÉGIA DE CONSERVAÇÃO QUE CONSISTE NO ESTUDO E CATALOGAÇÃO DAS PROPRIEDADES EM CADA REGIÃO; INDICAR OS PONTOS CONFLITANTES; IMPEDIR O ABANDONO E DETERIORAÇÃO DOS EDIFÍCIOS; PREVER NOVOS EDIFÍCIOS QUE INTEGREM NO AMBIENTE JÁ EXISTENTE E COMO, ALTERNATIVA AO PONTO ANTERIOR, NOVOS USOS PARA EDIFÍCIOS EXISTENTES.
DEVE TAMBÉM DOCUMENTAR OS EDIFÍCIOS CATALOGADOS MEDIANTES FOTOGRAFIAS, MEDIÇÕES , CONTANDO COM A AJUDA (SENDO O CASO) DAS ESCOLAS DE ARQUITETURA , COLÉGIOS TÉCNICOS E CURSOS DE ENGENHARIA CIVIL. POR OUTRO LADO AS AUTORIDADES DEVEM DEFINIR SUAS POLÍTICAS DE CONSERVAÇÃO EM COLABORAÇÃO COM OS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO DO GOVERNO DO ESTADO, POIS É SÓ ASSIM QUE SE PODE CONSEGUIR UMA VISÃO AMPLA E REGIONAL DE UMA POLÍTICA PÚBLICA DE PROTEÇÃO AOS EDIFÍCIOS HISTÓRICOS, ENCONTRANDO UM EQUILÍBRIO ENTRE A PRESERVAÇÃO E A RENOVAÇÃO DO ESPAÇO URBANO.
PROSSEGUIREMOS EM UM ASPECTO IMPORTANTE PARA A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO: A
NECESSIDADE DE ENCONTRAR NOVOS USOS QUANDO EDIFÍCIOS CHEGAM EM SUA OBSOLESCÊNCIA.
DESDE O FIM DOS ANOS 1950, O PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO URBANA ACELEROU DE TAL MODO QUE O ABANDONO E A DEMOLIÇÃO DE EDIFÍCIOS ANTIGOS SE TORNOU HABITUAL NOS GRANDES CENTROS URBANOS. Demolição do Teatro Carlos Gomes em Campinas – 1930 -1965
A APLICAÇÃO EQUIVOCADA DE CRITÉRIOS URBANÍSTICOS OBRIGOU O DESMANTELAMENTO NO CENTRO DA CIDADE A GRANDE PARTE DAS MORADIAS, INDUSTRIAS E SERVIÇOS QUE DE UMA HORA PARA OUTRA ERAM LEVADOS PARA AS ZONAS MAIS AFASTADAS, DESIMPEDINDO A DEMOLIÇÃO E DANDO LUGAR A EMPREENDIMENTOS MAIS NOVOS E RENTÁVEIS.
EDIFÍCIOS MAIS ANTIGOS QUE PERDERAM O SEU USO E QUE ESTÃO EM LOCAIS AONDE O VALOR DO METRO QUADRADO É MAIS RENTÁVEL SÃO OS MAIS PASSÍVEIS EM SEREM REMOVIDOS PARA UMA RENOVAÇÃO DO ESPAÇO URBANO. INFELIZMENTE NO BRASIL, MUITAS VEZES A OPÇÃO PELA DEMOLIÇÃO GERA GRANDES ÁREAS VAZIAS TORNANDO-SE MUITAS VEZES ESTACIONAMENTOS, DEPRECIANDO A QUALIDADE URBANA DO LOCAL.
ATRELADO A ISSO, O URBANISMO MODERNO VEIO AO LONGO DAS DÉCADAS INSTRUMENTALIZANDO O ESVAZIAMENTO GRADUAL DA FUNÇÃO DE MORADIA DOS CENTROS HISTÓRICOS, TRANSPORTANDO PARA BAIRROS MAIS AFASTADOS MUITA GENTE QUE TERIA CONDIÇÃO DE MORAR NAS ZONAS CENTRAIS.
NÃO HOUVE O INVESTIMENTO CORRETO NA REVITALIZAÇÃO DAS EDIFICAÇÕES DE MORADIA NO CENTRO, DIFICULTANDO AINDA MAIS A PROTEÇÃO DO LOCAL.
UM EFEITO COLATERAL DESTE ESVAZIAMENTO É A PERDA DE FUNÇÃO DE VÁRIOS EDIFÍCIOS ENVOLTÓRIOS QUE DAVAM SUPORTE ÀS MORADIAS CENTRAIS
SE QUEREMOS QUE OS NOSSOS CENTROS RETOMEM A SER “ORGANISMOS VIVOS” , O PLANEJAMENTO URBANO DEVE FIXAR DOIS OBJETIVOS:
A) COMBATER A ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA DESENFREADA NAS ÁREAS ESCOLHIDAS PARA A PRESERVAÇÃO HISTÓRICA ;
B) PROPORCIONAR UMA MESCLA EQUILIBRADA DE ATIVIDADES E USOS NAS ÁREAS CENTRAIS.
POR FIM, É IMPORTANTE CHAMAR A ATENÇÃO À CLASSE DOS ARQUITETOS QUE , AO LONGO DE NOSSA FORMAÇÃO, NÃO DÁ A DEVIDA ATENÇÃO AOS PROJETOS DE REABILITAÇÃO DE EDIFÍCIOS, PREFERINDO MUITAS VEZES A DEMOLIÇÃO PARA A POSTERIOR CONSTRUÇÃO DE PROJETO DE AUTORIA.
OS EXEMPLOS AQUI ENUMERADOS DEMONSTRARÃO QUE AO INVÉS DE SE SUPOR QUE A INTERVENÇÃO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS SE RESUME A PEQUENAS REFORMAS E MANUTENÇÕES SEM MUITO ALARDE, PODEMOS TER PROJETOS ARROJADOS DEVIDAMENTE INSERIDOS NAS MAIS ATUAIS DISCUSSÕES DA ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA, ALÉM DE CONTRIBUIR NA INJEÇÃO DE NOVA VIDA EM NOSSOS BAIRROS CENTRAIS.
NÃO PODEMOS DEIXAR DE LADO O FATOR FINANCEIRO, EM ALGUNS CASOS A QUESTÃO DO RESTAURO EXTRAPOLA EM MUITO A CONDIÇÃO DE INVESTIMENTO DO PROPRIETÁRIO, MAS SE HOUVER UM TRABALHO DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA E DE PROJETOS PONTUAIS, TAL CUSTO SE REDUZ PROPORCIONALMENTE.
I.M. PEI - LOUVRE
ENCOMENDADO PELO ENTÃO PRESIDENTE FRANCÊS FRANÇOIS MITTERRAND, EM 1984, FOI PROJETADO PELO ARQUITECTO I. M. PEI. A ESTRUTURA FOI CONSTRUÍDA INTEIRAMENTE COM SEGMENTOS DE VIDRO, ATINGINDO UMA ALTURA DE 20,6 M, A SUA BASE QUADRADA TEM CERCA DE 35 M DE LADO. É CONSTITUÍDA POR 603 PEÇAS DE LOSANGOS E 70 SEGMENTOS TRIANGULARES DE VIDRO.[
A PIRÂMIDE E O ÁTRIO SUBTERRÂNEO, DEBAIXO DELA, FORAM CRIADAS POR CAUSA DE UMA SÉRIE DE PROBLEMAS COM A ENTRADA PRINCIPAL (ORIGINAL) DO LOUVRE, QUE JÁ NÃO PODIA LIDAR COM UM NÚMERO ENORME DE VISITANTES DIARIAMENTE. OS VISITANTES QUE ENTRAM ATRAVÉS DA PIRÂMIDE PODEM DESCER AO ÁTRIO ESPAÇOSO, EM SEGUIDA, VOLTAR A SUBIR PARA OS PRINCIPAIS EDIFÍCIOS DO LOUVRE.
IGREJA DE AUGUSTINER EM MUNIQUE
POR MUITO TEMPO A IGREJA TINHA A FUNÇÃO RELIGIOSA NA CIDADE DE MUNIQUE, MAS EM 1803 ELE FOI “SECULARIZADO” E TRANSFORMADO EM ARMAZÉM DA ALFÂNDEGA.
DECIDIRAM EM 1958 NA TRANSFORMAÇÃO DA ANTIGA IGREJA EM MUSEU DA CAÇA DA REGIÃO.
NONCONFORMIST MEETING HALL, HOVE, SUSSEX (INGLATERRA)
FOI CONSTRUÍDO EM 1878 COMO SALÃO DE REUNIÕES DE UMA DISSIDÊNCIA DA IGREJA ANGLICANA NA INGLATERRA E NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX FOI ADQUIRIDO PELA EMPRESA OLIVETTI E TRANSFORMADA EM SUCURSAL / LOJA MÁQUINAS DE ESCREVER.
A ATUAL REABILITAÇÃO OCORREU NO ANO DE 1971, COM A REMODELAÇÃO INTERNA QUE GARANTIU O USO DO LOCAL COM NOVA VOCAÇÃO.
VILLA SCHUMANN-SIZARET, CHEVANNAY, FRANÇA
EDIFÍCIO AGRÍCOLA QUE FOI CONVERTIDO EM MORADIA NA PEQUENA CIDADE DE CHEVANNAY, BEM NO CENTRO DA FRANÇA, NA REGIÃO DA BORGONHA COM APENAS 52 HABITANTES NO SENSO DE 2010.
THE ORIENTAL WAREHOUSE, SÃO FRANCISCO, EUA
O ARMAZEM ORIENTAL, CONSTRUÍDO EM 1868 EM FRENTE AO PORTO DE SÃO FRANCISCO SE TRANSFORMOU, APÓS A INTERVENÇÃO DO ESCRITÓRIO DE ARQUITETURA FISHER & FRIEDMAN EM 66 LOFTS PARA MORAR E TRABALHAR.
OPERAÇÃO PORTO VIVO, MORRO DA SÉ, CIDADE DO PORTO, PORTUGAL
O ABANDONO DA REGIÃO DO MORRO DA SÉ NA CIDADE DO PORTO, CAUSADO PRINCIPALMENTE PELA APOSTA DAS POLÍTICAS URBANAS EM DESPOVOAR O CENTRO; A PERDA DE LUCRO COM OS IMÓVEIS ALUGADOS E AS QUESTÕES BUROCRÁTICAS DEMASIADAMENTE CUSTOSAS QUE ATRAVANCAVAM QUALQUER PROPOSTA DE INTERVENÇÃO, CONTRIBUÍRAM PARA UMA REVISÃO DO ESPAÇO ALI ASSENTADO, PROCURANDO NAS ÚLTIMAS DÉCADAS A RECUPERAÇÃO DO LOCAL, IMPULSIONANDO A REVITALIZAÇÃO E A REABILITAÇÃO DO CASARIO HISTÓRICO.
CORREDOR CULTURAL DO RIO DE JANEIRO
O PLANO DIRETOR DA CIDADE (1992, ART.124) DEFINE ÁREA DE PROTEÇÃO DO AMBIENTE CULTURAL (APAC) COMO INSTRUMENTO URBANÍSTICO APLICÁVEL EM ÁREAS DE "DOMÍNIO PÚBLICO OU PRIVADO", QUE APRESENTEM "RELEVANTE INTERESSE CULTURAL E CARACTERÍSTICAS PAISAGÍSTICAS NOTÁVEIS, CUJA OCUPAÇÃO DEVE SER COMPATÍVEL COM A VALORIZAÇÃO E PROTEÇÃO DA SUA PAISAGEM E DO SEU AMBIENTE URBANO E COM A PRESERVAÇÃO E RECUPERAÇÃO DE SEUS CONJUNTOS URBANOS".
ESTABELECE DUAS CATEGORIAS A SEREM CONTEMPLADAS NO ESTABELECIMENTO DE UMA APAC:
OS BENS TUTELADOS, PASSÍVEIS DE RENOVAÇÃO PLENA E ADAPTAÇÃO, DESDE QUE DE ACORDO COM OS PADRÕES PAISAGÍSTICOS PROTEGIDOS PELA APAC;
E OS BENS PRESERVADOS DEFINIDOS COMO IMÓVEIS QUE DEVEM "(...) MANTER AS CARACTERÍSTICAS QUE TENHAM SIDO IDENTIFICADAS COMO DE IMPORTÂNCIA PARA AMBIÊNCIA E IDENTIDADE CULTURAL DA ÁREA, SEGUNDO CRITÉRIOS ESTABELECIDOS PELO ÓRGÃO DE TUTELA".
DENTRE ELES, O PLANO DESTACA COMO SENDO FUNDAMENTAL PARA A PROTEÇÃO DE UM BEM O FATO DE SER:
"PARTE DE UM CONJUNTO DE BENS DE VALOR CULTURAL NA ÁREA NA QUAL ESTÁ INSERIDO";
"APRESENTAR "CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS TÍPICAS E RECORRENTES NA ÁREA NA QUAL ESTÁ INSERIDO";
"CONSTITUIR-SE EM TESTEMUNHO DAS VÁRIAS ETAPAS DA EVOLUÇÃO URBANA DA ÁREA NA QUAL ESTÁ INSERIDO";
E "POSSUA INEQUÍVOCO VALOR COLETIVO OU SE CONSTITUA EM MARCO NA HISTÓRIA DA COMUNIDADE".
OBSERVA-SE QUE O TEXTO DO PLANO DESTACA APENAS AS "CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS TÍPICAS E RECORRENTES NA ÁREA" COMO RELEVANTES PARA A PROTEÇÃO E CONSERVAÇÃO DE BENS PRESERVADOS, E NÃO TIPOLÓGICAS, O QUE DARIA MAIOR ABRANGÊNCIA E CONTEÚDO À CONSERVAÇÃO DE CONJUNTOS ARQUITETÔNICOS HISTÓRICOS, CONFORME JÁ CITADO ANTERIORMENTE. A OPÇÃO TERMINOLÓGICA CONFERE CARÁTER FACHADISTA AOS PARÂMETROS A SEREM ADOTADOS NA CONSERVAÇÃO DE BENS CULTURAIS DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO.
OBSERVA-SE QUE A DINÂMICA URBANA DA CIDADE APONTA, CADA VEZ MAIS, PARA A INTEGRAÇÃO DAS APACS AO SEU CONTEXTO ECONÔMICO E SOCIAL, CONSAGRANDO A PRÁTICA DA ADAPTAÇÃO DE NOVOS USOS EM EDIFICAÇÕES PROTEGIDAS LEGALMENTE. A ATIVIDADE SURGE COMO ALTERNATIVA ECONOMICAMENTE VIÁVEL DE MANUTENÇÃO DESSAS EDIFICAÇÕES, VISANDO RESGATAR A VITALIDADE NESSAS ÁREAS.
