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Eduardo Read Teixeira (1914-1992) : um arquiteto Moderno nos Açores

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Academic year: 2021

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Um Arquiteto Moderno nos Açores

Dissertação de Mestrado

Nuno Duarte Costa

PATRIMÓNIO, MUSEOLOGIA

E DESENVOLVIMENTO

(2)

Um Arquiteto Moderno nos Açores

Dissertação de Mestrado

Orientadora

Professora Doutora Isabel Soares de Albergaria

Dissertação de Mestrado submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Património, Museologia e Desenvolvimento.

(3)

“Quando partires em direção a Ítaca, que a tua jornada seja longa, repleta de aventuras, plena de conhecimento.

Não temas Laestrigones e Ciclopes nem o furioso Poseidon; não irás encontrá-los durante o caminho, se o pensamento estiver elevado, se a emoção jamais abandonar o teu corpo e o teu espírito. Laestrigones e Ciclopes, e o furioso Poseidon não estarão no teu caminho se não os levares na tua alma, se a tua alma não os colocar diante dos teus passos.

Espero que a tua estrada seja longa. Que sejam muitas as manhãs de Verão, que o prazer de ver os primeiros portos traga alegria nunca vista.

Procura visitar os empórios da Fenícia, recolhe o que há de melhor. Vai às cidades do Egipto, aprende com o povo que tem tanto a ensinar. Não percas Ítaca de vista, pois chegar lá é o teu destino.

Mas não apresses os teus passos; é melhor que a jornada dure muitos anos e o teu barco só ancore na ilha quando já estiveres enriquecido com o que conheceste no caminho.

Não esperes que Ítaca te dê mais riquezas. Ítaca já deu uma bela viagem; sem Ítaca jamais terias partido.

Ela já te deu tudo, e nada mais te pode dar.

Se, no final, achares que Ítaca é pobre, não penses que ela te enganou.

Porque te tornaste um sábio, viveste uma vida intensa, e este é o significado de Ítaca.”

Poema de Konstantinos Kavafis (1863-1933)

(4)

À minha Mãe por tudo. Ao meu Pai. A todos os que contribuíram para o meu Ser, Estar e Saber.

(5)

Agradecimentos

Apesar de o tempo se apresentar como escasso, não posso deixar de dirigir algumas palavras de agradecimento a algumas pessoas que estarão para sempre presentes na minha vida, mesmo que no mero pensamento. Se algumas já faziam parte, neste desafio outras se juntaram.

À minha família, em particular à minha Mãe, por toda a compreensão e dedicação, não só nestes últimos dias agitados, mas durante toda a minha vida…

À Margarida que, por sorte conheci numa ida ao Faial, por conta da presente dissertação, e logo demonstrou entusiasmo e interesse pelo tema, que lhe era muito familiar e próximo, e se prontificou a colaborar em tudo o que estivesse ao seu alcance. Ao longo deste percurso, juntos percorremos o Caminho de Santiago. Uma viagem que jamais será esquecida.

Ao Pedro pelos seus preciosos contributos. À sua mãe por partilhar estórias da vida de Read Teixeira cheias e cheia de emoção. Hoje, posso dizer-lhes que se Read Teixeira foi um Homem que deixou saudades, estou convencido de que também deixou uma obra que marcou a arquitetura do século XX nos Açores, e que certamente será recordada nas próximas gerações.

Também uma palavra amiga a todas as pessoas que contribuíram para que este trabalho fosse executado, em particular, à Marília Hipólito (Flores), à Paula Meneses (Terceira) e ao Luís Leonardo (Santa Maria), pela sua disponibilidade e colaboração no levantamento fotográfico dos edifícios construídos nas suas respetivas ilhas de residência. No caso da Paula, acresce o trabalho de pesquisa junto da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo. De igual modo, aos técnicos e administrativos dos mais variados serviços (bibliotecas, arquivos das câmaras municipais e outros) que contactei e prontamente me auxiliaram com profissionalismo e vontade de bem servir, fazendo o seu melhor para dar a melhor resposta aos meus anseios. E, para concluir, à Professora Doutora Isabel Soares de Albergaria, minha orientadora, por toda a paciência, compreensão e trabalho. Foi incansável, em particular nestes últimos dias. Sem os seus contributos, recomendações, críticas e correções certamente que este trabalho seria mais pobre. De igual modo, por todos os ensinamentos que certamente estarão presentes no resto da minha vida.

A todos, o meu obrigado. Nuno

(6)

Resumo

Eduardo Read Henriques Teixeira (Ponta Delgada, 1914 – Lisboa, 1992) formou-se em arquitetura na Escola de Belas Artes de Lisboa, entre 1934 e 1940, e foi o primeiro açoriano a obter o Diploma de Arquitectura, em 1948. Descendente de uma família da nobreza local e de uma família inglesa – os Read, cresceu na Casa da Magnólia, em São Miguel, onde usufruiu do melhor que a ilha possuía e tinha para oferecer.

Durante a sua carreira profissional, além dos diversos cargos que desempenhou nos Ministérios das Obras Publicas, da Economia e da Saúde e Assistência, foi professor de arquitetura e integrou na Comissão das Construções Hospitalares, onde coordenou e projetou hospitais para todo o país, proferiu conferências e organizou a 1.ª Exposição Mundial de Arquitectura Hospitalar.

Como arquiteto independente, elaborou inúmeros projetos para Portugal Continental e para o Arquipélago dos Açores. No caso particular dos Açores, a sua obra divide-se em três fases: - no início dos anos 40, surpreendentemente, elabora os projetos do Asilo para Raparigas em Ponta Delgada e da Casa Deodato Soares, que evidenciam o purismo, o racionalismo e o funcionalismo da arquitetura de Le Corbusier e da Bauhaus;

- a meados dos anos 40, em pleno Estado Novo, a sua obra aproxima-se do historicismo e tradicionalismo do estilo Nacionalista, principalmente nos projetos do Asilo-Escola Agrícola de Ponta Delgada, dos Postos Agrícolas e do Hospital da Misericórdia da Povoação. De igual modo, em vários Miradouros, mas com cariz mais romântico. Curiosamente, nos projetos do Miradouro das Furnas e da Entrada do Palácio do Governo Civil de Ponta Delgada aproxima-se da arquitetura neorrenascentista;

- e após o I Congresso Nacional de Arquitectura, em 1948, que ditou mudanças no paradigma da arquitetura oficial do Estado Novo, e por provável influência de Carlos Ramos, «professor admirável e infatigável defensor dos princípios modernos», que supervisionou o seu estágio, retoma e desenvolve os princípios do modernismo internacional, introduzindo um traço muito identitário evidente no tratamento da luz e na plasticidade que emprega, recorrendo, por vezes, a outros artistas. Nesta fase, que dura até finais dos anos 60, destaca-se, sobretudo, a Escola Industrial e Comercial, em Ponta Delgada e a Igreja de S. José, na Ribeira Chã, Lagoa. No plano urbanístico, também se destacou como seguidor da linguagem modernista.

Fruto desta análise, podemos afirmar que Read Teixeira, sucessor do pioneiro do modernismo, Manuel António de Vasconcelos, constitui, a par de João Correia Rebelo, o mais fiel aos princípios modernistas, a 2.ª geração de arquitetos modernistas nos Açores.

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Palavras-Chave

(8)

Abstract

Eduardo Read Henriques Teixeira (Ponta Delgada, 1914 – Lisbon, 1992) majored in Architecture at the Lisbon School of Fine Arts between 1934 and 1940 and was the first Azorean to have received a Diploma in Architecture in 1948. He came from a local noble family of English origin – the Read family, spent his childhood at the Magnólia house in São Miguel, and enjoyed the best of what the island had to offer.

Throughout his career, in addition to the various offices held at the ministries of Public Works, Economy, and Health and Welfare, he taught Architecture and was a member of the Committee for the Construction of Medical Units, where he coordinated and designed hospitals across the country, gave speeches at conferences and organised the 1st World Hospital Exhibition.

As an independent architect, he designed many projects for Mainland Portugal and for the Azores islands. In the latter case, his work is divided into three phases:

- in the early 40s, quite surprisingly, he designed the projects for the Children’s Home for Girls in Ponta Delgada and the Deodato Soares house, both reflecting the purism, rationalism and functionalism typical of Le Corbusier and Bauhaus;

- in the mid-40s, in the midst of Estado Novo (fascist regime in Portugal), his work has the earmarks of the historicism and traditionalism of the nationalist style, especially in the Children’s Home-Agricultural School of Ponta Delgada, the Farming Outposts and Hospital da Misericórdia in Povoação. He also designed several belvederes, but of a more romantic nature. Curiously enough, the Furnas Belvedere and the entrance of the Civil Government Palace of Ponta Delgada reflect some of the features of the Neo-Renaissance style;

- after the 1st National Architecture Congress in 1948, which dictated paradigm shifts in the official architecture of the Estado Novo regime, perhaps influenced by his traineeship supervisor, Carlos Ramos, «an admirable man and untiring defender of modern principles», he resumed and developed the principles of international modernism, ingraining his very own identity in his designs, visible in how he treats light and in the plasticity he brings to his work, often with the help of other artists. This phase lasts until the late 60s and is depicted in the Trade and Industrial School in Ponta Delgada and S. José Church, in Ribeira Chã, Lagoa. As regards town planning, he also left his mark as a follower of the modernist language.

As the result of this analysis, we can claim that Read Teixeira, the successor of the forerunner of modernism, Manuel António de Vasconcelos, is, alongside João Correia Rebelo, the most true to modernist principles, and is part of the second generation of modernist architects in the Azores.

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Key words

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Lista de abreviaturas

AHPR – Arquivo Histórico da Presidência da República

ASCMPD – Arquivo da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada AMPD – Arquivo Municipal de Ponta Delgada

BPARPD – Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada CMH – Câmara Municipal da Horta

CMLF – Câmara Municipal das Lajes das Flores CNPD – Comissão Nacional de Proteção de Dados

CBEIJ-JFC – Centro de Bem-Estar Infantil e Juvenil Jacinto Ferreira Cabido

CID-RAA – Centro de Informação e Documentação da Região Autónoma dos Açores CMAH – Câmara Municipal de Angra de Heroísmo.

CMVNF – Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão CSPRC. – Centro Social e Paroquial da Ribeira Chã

CODA – Concurso para a Obtenção do Diploma de Arquitectura COPCON – Comando Operacional do Continente

DFPD – Direção de Finanças de Ponta Delgada ESAQ – Escola Secundária Antero de Quental ESDR. – Escola Secundária Domingos Rebelo ESBAL – Escola Superior de Belas Artes de Lisboa

FAUL – Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa GUC – Gabinete de Urbanização Colonial

GUU – Gabinete de Urbanização do Ultramar

ICAT – Iniciativas Culturais de Arte e Técnica, de Lisboa IPO – Instituto Português de Oncologia

MUD – Movimento de Unidade Democrática

ODAM – Organização de Arquitectos Modernos, do Porto SNBA – Sociedade Nacional de Belas Artes

SRTOP-DIF – Secretaria Regional dos Transportes e Obras Públicas - Delegação da Ilha do Faial

TPD – Tribunal de Ponta Delgada

UABSM – União das Armações Baleeiras de São Miguel Lda

(11)

Índice Volume I Agradecimentos ... 3 Resumo ... 4 Palavras-Chave ... 5 Abstract ... 6 Lista de abreviaturas ... 8 Introdução ... 13

1. A identidade: o contexto familiar, a formação e o percurso profissional. ... 24

2. O espaço e o tempo: o contexto da arquitetura insular, entre 1900 e 1970. ... 58

2.1. O estilo Neoclassicismo, a Art Déco e o primeiro Modernismo Radical. ... 58

2.2. As transformações urbanísticas, o estilo Nacionalista e o segundo Modernismo. ... 75

3. Os projetos e as obras: a vontade, a submissão e a modernidade. ... 101

3.1. A vontade: o gosto pela arquitetura contemporânea. ... 101

3.2. A imposição: a prática ao gosto do regime autoritário. ... 114

3.3. A libertação: a afirmação de uma linguagem modernista. ... 163

Conclusão ... 196 Fontes manuscritas ... 211 Fontes impressas ... 223 Fontes cartográficas ... 224 Fontes orais ... 225 Bibliografia ... 226 Webgrafia ... 228 Índice de figuras ... 235 Volume II Nota prévia ... 1

Apêndice 1 - Cronologia dos projetos de Eduardo Read Teixeira... 2

Apêndice 2 - Fotografias da Casa da magnólia, Fajã de Cima. ... 4

Apêndice 3 - Fotografias de Read Teixeira. ... 5

Apêndice 4 - Retrato de Read Teixeira pintado por Domingos Rebelo. ... 13

Apêndice 5 - Fotografias do Hospital de Egas Moniz. ... 14

(12)

a) Paço do Barão da Fonte Bela. ... 15

b) Palácio de Sant’Ana... 16

c) Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada. ... 16

Apêndice 7 - Outros edifícios do Neoclassicismo em Ponta Delgada. ... 18

Apêndice 8 - Peculiaridade da arquitetura Micaelense: as varandas em ferro forjado. ... 24

Apêndice 9 - Influências estrangeiras na arquitetura Micaelense. ... 25

Apêndice 10 - Arquitetura do ferro: o Coliseu Micaelense. ... 26

Apêndice 11 - Arquitetura de influência Art Déco. ... 28

Apêndice 12 - O pioneiro do Modernismo nos Açores: Manuel António de Vasconcelos. ... 29

Apêndice 13 - A “Casa Portuguesa” de Raul Lino. ... 38

Apêndice 14 - Cartografia da cidade de Ponta Delgada. ... 39

Apêndice 15 - Fotografias da construção da avenida Infante D. Henrique. ... 47

Apêndice 16 - Edifícios em estilo Nacionalista na cidade de Ponta Delgada... 48

Apêndice 17 - Manifestos “não!” e “Senhor Ministro” de João Correia Rebelo. ... 51

Apêndice 18 - João Correia Rebelo, um arquiteto Moderno nos Açores. ... 53

Apêndice 19 - Projetos e obras de Eduardo Read Teixeira nos Açores. ... 62

a) Fábrica de farinhas de baleia da União das Armações Baleeiras de São Miguel (1938/9?-41). ... 62

1) Antecedentes à construção da Fábrica de farinhas de baleia da União das Armações Baleeiras de São Miguel. ... 62

2) Fábrica de farinhas de baleia da União das Armações Baleeiras de São Miguel. ... 63

b) Fábrica de Chá Barrosa em São Miguel (1939?). ... 68

c) Projeto do Asilo para Raparigas de Ponta Delgada (1941-43). ... 69

1) Projeto do Asilo para Raparigas de Ponta Delgada (1941, 1.ª versão). ... 70

2) Projeto do Asilo para Raparigas de Ponta Delgada (1943, 2.ª versão). ... 71

d) Casa de Deodato Soares (1942-43), na Av. Gaspar Frutuoso, n.º 14. ... 76

e) Cine Jade, em Ponta Delgada (inaugurado em 1942) ... 79

f) Campo de jogos do Liceu de Ponta Delgada. ... 80

g) Asilo-Escola Agrícola de Ponta Delgada (1940-42). ... 84

h) Casa da Eira (1941), de Albano Oliveira, na E.R. da Ribeira Grande. ... 87

i) Postos Agrícolas nas ilhas de São Miguel e Santa Maria. ... 91

1. Posto Agrícola na Ribeira Grande (1943-44). ... 91

1.1. Posto Agrícola na Ribeira Grande, projeto de 1943. ... 91

1.2. Posto Agrícola na Ribeira Grande, projeto de 1944. ... 97

2. Posto Agrícola em Santa Maria (1944)... 107

2.1. Posto Agrícola em Santa Maria, versão 1. ... 108

2.2. Posto Agrícola em Santa Maria, versão 2. ... 114

3. Posto Agrícola da Povoação (1944). ... 123

4. Projetos de outros Postos Agrícolas em São Miguel. ... 134

4.1. Posto Agrícola dos Arrifes. ... 134

(13)

j) Miradouros nos concelhos de Ribeira Grande e Povoação. ... 135

1. Miradouro da Ladeira da Velha (1942). ... 135

2. Miradouro da Ribeirinha (1944). ... 138

3. Miradouro do Porto Formoso (1944). ... 141

4. Miradouro da Povoação (1944). ... 144

5. Miradouro das Furnas (1944). ... 146

6. Miradouro das Pedras do Galego (1944?). ... 147

k) Entrada do Palácio do Governo Civil da cidade de Ponta Delgada (1944). ... 148

l) Ampliação do edifício do Asilo de Mendicidade de Ponta Delgada (1944). ... 154

m) Abrigo na Estrada das Furnas (1944). ... 156

n) Hospital da Misericórdia na Vila da Povoação (1944). ... 159

o) Externato do Asilo de Infância Desvalida da Ribeira Grande (1944). ... 165

p) Desenho de Calçadas à Portuguesa na Cidade da Horta (1944-45). ... 170

1) Cronologia das Calçadas à Portuguesa na Cidade da Horta, a partir das Atas das Sessões de Câmara. ... 179

q) Fábrica de amidos e conservas de peixe da Sociedade Corretora Lda. (cerca de 1944-49). ... 185

r) Fábrica de Laticínios da Cooperativa dos Produtores de Leite da Terceira. ... 187

s) Asilo-Escola Agrícola Bernardo Manuel da Silveira Estrela (1946-47?). ... 191

t) Termas do Varadouro, na Horta. ... 194

1) Anteplano do Varadouro (anterior a 1949), na Horta. ... 194

2) Edifício das Termas do Varadouro (1954), na Horta. ... 194

u) Laboratório Distrital da Horta. ... 205

v) Hospital da Misericórdia da Horta – Edifício dos Infectocontagiosos (1950-52?). ... 206

w) Hospital da Misericórdia de Ponta Delgada (1957-62). ... 210

x) Hospital da Misericórdia de Vila do Porto. ... 213

y) Hotel do Infante em Ponta Delgada (anterior a 1959). ... 214

z) Monumento à Virgem Nossa Senhora (construído em 1958; reconstruído em 1970), na Horta. ... 222

aa) Edifício do Tribunal de Ponta Delgada. ... 225

1) Edifício do Tribunal de Ponta Delgada (1958-68), da autoria do arquiteto Read Teixeira... 225

2) Projeto de ampliação do Tribunal de Ponta Delgada (2013), da autoria do arquiteto Francisco Gomes de Menezes (júnior). ... 233

bb) Plano de urbanização da Av. D. João III (1959-68), em Ponta Delgada. ... 236

cc) Igreja de S. José, na Ribeira Chã – Lagoa. ... 239

1) A primitiva ermida de S. José, na Ribeira Chã – Lagoa. ... 239

2) Igreja de S. José (1960-67), na Ribeira Chã – Lagoa, de Read Teixeira. ... 239

3) Missa inaugural da Igreja de S. José (1960-67), na Ribeira Chã – Lagoa. ... 250

4) Intervenções na Igreja de S. José, na Ribeira Chã – Lagoa, da autoria de Alberto da Silva Pacheco e outros. ... 251

5) Comemorações dos 25 e dos 50 anos da Igreja de S. José (1960-67), na Ribeira Chã – Lagoa. ... 252

(14)

1) Estudo de Volumes e Pavilhão Gimnodesportivo (1963), na Av. Infante D. Henrique, da autoria do

arquiteto Read Teixeira. ... 253

2) Pavilhão Gimnodesportivo, topo norte do jardim António Borges. ... 257

ee) Edifício Paços do Concelho das Lajes das Flores (1965), em ilha das Flores. ... 257

ff) Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada. ... 260

1) Antigas instalações da Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada. ... 260

2) Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada (cerca de 1965), da autoria do arquiteto Eduardo Read Teixeira. ... 260

3) Antigo edifício das oficinas da Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada. ... 270

4) Armazém da fábrica Sampaio, Ferreira & C.ª Lda, em Riba de Ave. ... 270

5) Plantas de Mobiliário da Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada. ... 271

6) Primeira grande ampliação da Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada, em 1983. ... 272

7) Ampliações e reformulações da Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada, ocorridas entre 1983 e 2000. ... 274

8) Construção do auditório da Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada. ... 277

9) Construção da cobertura do campo de jogos da Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada. ... 278

10) Levantamento fotográfico da Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada. ... 279

Anexo 1 - Biografia de Eduardo Read Teixeira. ... 282

a) Documentos do processo individual de estudante da ESBAL. ... 282

b) Recortes de diversos jornais com referência a Read Teixeira. ... 294

c) Curriculum Vitae de Read Teixeira, de dezembro de 1977. ... 297

d) Curriculum Vitae de Read Teixeira, de 12 de novembro de 1983. ... 301

e) Postal e fotografias remetidos por Read Teixeira à família. ... 303

Anexo 2 - Projetos e obras de Eduardo Read Teixeira em São Miguel. ... 306

a) Fábrica de farinhas de baleia da União das Armações Baleeiras de São Miguel (1938/9?-41). ... 306

b) Fábrica de Chá Barrosa em São Miguel (1939?). ... 309

c) Projeto do Asilo para Raparigas de Ponta Delgada (1941-43). ... 310

d) Postos Agrícolas nas ilhas de São Miguel e Santa Maria. ... 332

e) Miradouros nos concelhos de Ribeira Grande e Povoação. ... 341

1. Miradouro do Porto Formoso (1944). ... 341

2. Miradouro das Furnas (1944). ... 344

3. Miradouros das Pedras do Galego e do Serrados dos Bezerros (1944?). ... 345

f) Externato do Asilo de Infância Desvalida da Ribeira Grande (1944). ... 348

g) Suspensão de todos os trabalhos adjudicados pela Junta Geral do Distrito Autónomo de Ponta Delgada. .. 352

h) Desenho de Calçadas à Portuguesa na Cidade da Horta (1944-45). ... 358

i) Hospital da Misericórdia de Ponta Delgada (1957-62). ... 381

j) Monumento à Virgem Nossa Senhora (construído em 1958, reconstruído em 1970), na Horta. ... 382

k) Edifício do Tribunal de Ponta Delgada (1958-68). ... 383

l) Plano de urbanização da Av. D. João III (1959-68), em Ponta Delgada. ... 401

(15)

Introdução

Este estudo intitulado Eduardo Read Teixeira (1914-1992), um Arquiteto Moderno nos Açores, desenvolvido no âmbito do Mestrado em Património, Museologia e Desenvolvimento ministrado pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade dos Açores e sob a orientação da Professora Doutora Maria Isabel Whitton Terra Soares de Albergaria, pretende ser um pequeno contributo para o conhecimento da História da Arquitetura e do Património Cultural dos Açores.

Tal como o próprio título sugere, o estudo tem como objeto de investigação a obra arquitetónica do arquiteto Eduardo Read Teixeira, com ênfase nas obras projetadas e edificadas na Região Autónoma dos Açores, entre, aproximadamente, os anos de 1940 e 1970.

A escolha do tema surge no seguimento dos trabalhos desenvolvidos no âmbito das disciplinas de História da Arte e do Património e de Conservação e Restauro, deste Mestrado, por sugestão da Professora Doutora Maria Isabel Whitton Terra Soares de Albergaria, regente das citadas cadeiras. Desde logo, após um curto período de reflexão e prévio contacto com as suas obras, apesar da pouca informação disponível até àquela data, o tema suscitou interesse e partiu-se numa busca incessante em procurar dar resposta a uma questão: será que Eduardo Read Teixeira foi um arquiteto Moderno nos Açores?

O arquiteto Eduardo Read Teixeira, natural de São Miguel, foi contemporâneo do arquiteto Moderno João Correia Rebelo, cuja obra é posterior à introdução da arquitetura modernista nos Açores pelo engenheiro químico Manuel António de Vasconcelos. Contudo, contrariamente a João Correia Rebelo e a Manuel António Vasconcelos, não se conhece nenhum estudo, biografia, monografia ou publicação que aprofunde fundamentadamente a vida e a obra de Eduardo Read Teixeira, embora hajam referências em duas publicações da autoria de José Manuel Fernandes, intituladas História ilustrada da arquitectura dos Açores e

Arquitectura contemporânea nos Açores, sem prejuízo de outras que apresentam breves

apontamentos, como é exemplo a obra IAPXX – Inquérito à Arquitectura do Século XX em

Portugal.

Deste modo, torna-se pertinente e inovador o presente estudo, de modo a contribuir de forma decisiva para o alargamento do conhecimento até agora existente sobre a vida e a obra de Eduardo Read Teixeira e, consequentemente, sobre o Património Cultural Arquitetónico da Região Autónoma dos Açores.

Nestes termos, a investigação tem como objetivos: elaborar uma monografia sobre a vida e obra do arquiteto Eduardo Read Teixeira; inventariar, caracterizar e analisar as obras

(16)

arquitetónicas deste arquiteto, particularmente as realizadas em território insular; e valorizar o Património Cultural edificado do século XX nos Açores, através de um caso de estudo concreto.

De forma a atingir os objetivos propostos, como metodologia de trabalho, houve que proceder, num momento inicial, à recolha de informação através do levantamento das obras projetadas e edificadas nos Açores pelo arquiteto Eduardo Read Teixeira, designadamente recorrendo às referências constantes na bibliografia existente, à pesquisa junto de arquivos municipais e regionais das entidades licenciadoras e adjudicatárias, quer para obras públicas como privadas, a fontes testemunhais e documentais e, por último, efetuando visitas às obras identificadas e construídas, para conhecimento in loco e levantamento de um registo fotográfico. Paralelamente, houve que proceder à leitura e análise bibliográfica e webgráfica relacionadas com o tema, nomeadamente sobre o homem e arquiteto Eduardo Read Teixeira (vida e obras projetadas e construídas nos Açores), o panorama arquitetónico nacional e regional, que, por sua vez, é influenciado pela arquitetura internacional, de modo a estar munido com os conhecimentos científicos e técnicos necessários à devida contextualização da obra de Read Teixeira no espaço e no tempo, à análise e caracterização dos seus projetos e obras, assim como, proceder ao enquadramento dos respetivos projetos e obras numa determinada corrente arquitetónica ou estilo1. Este primeiro momento foi crucial para aprofundar conhecimentos sobre o assunto e extrapolar as conclusões que o presente trabalho de investigação apresenta.

Num segundo momento, após reunir a informação necessária e considerada suficiente que permitisse dominar e ajuizar sobre o assunto, houve que proceder à sua análise e interpretação, e, simultaneamente, à caracterização da obra do arquiteto Eduardo Read Teixeira, com base nos elementos recolhidos, nas informações fornecidas e nos conhecimentos e experiência adquirida.

Por fim, procedeu-se à redação da dissertação de forma metódica, sistemática, analítica e critica, procurando o rigor científico que um trabalho de investigação desta natureza exige. Com o mesmo intuito, procurou-se documentar todo o conteúdo escrito com figuras, fotografias e documentos (algumas passagens talvez pequem por excesso de pormenor ou por se apresentarem extremamente minuciosas). Simultaneamente, procurou-se introduzir informações complementares ao contexto das obras e das instituições que as gerem, de modo a enriquecer o trabalho. Desta forma, apesar de ainda poderem surgir novas informações sobre

1 Estilo é a expressão, generalizada, utilizada com o fim de classificar períodos da história da arquitetura de

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a vida e obra do arquiteto Eduardo Read Teixeira, embora se tenham efetuados várias diligências para tornar o presente estudo o mais completo possível, além do presente estudo poder vir a servir de base à elaboração de outros estudos, à organização de eventual exposição ou à publicação de uma monografia, de forma a completar a trilogia dos arquitetos que marcaram a arquitetura do século XX nos Açores, procurou-se, sobretudo, contribuir de forma decisiva para a valorização do Património Cultural edificado do século XX nos Açores. Este percurso foi alucinante, surpreendente e gratificante.

À partida, através das obras publicadas por José Manuel Fernandes, já aqui referidas, eram conhecidas apenas oito intervenções de Read Teixeira nos Açores, nomeadamente: na ilha de São Miguel, o Edifício da Estação Agrária (1940-42), na Quinta de São Gonçalo, a Casa Deodato Soares (1942), na Av. Gaspar Frutuoso, n.º 14, o edifício do Tribunal de Ponta Delgada (1959-60), a Igreja de S. José, na freguesia da Ribeira Chã – Lagoa (1960-67), e a Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada (cerca de 1965); e, na ilha no Faial, o edifício das Termas do Varadouro (1954), o Monumento à Virgem Nossa Senhora, na Horta, e o desenho de Calçadas à Portuguesa na Cidade da Horta (1944-45). Da pesquisa efetuada junto dos arquivos municipais e regionais, surpreendentemente, a lista de obras projetadas e edificadas nos Açores ascende a outras ilhas do arquipélago, nomeadamente às ilhas de Santa Maria, Terceira e Flores, apresentando um total de quarenta e três, embora algumas não tenham sido construídas. Com programas e escalas muito diferenciados, entre os seus projetos encontram-se Postos Agrícolas, Miradouros, Asilos de Assistência Desvalida, Fábricas, Hospitais, Paço do Concelho e Planos de Urbanização. Além destas, acrescem outros projetos que lhe foram adjudicados, mas que, por motivos diversos, não chegaram a ser executados. Algumas obras, em menor número, permanece a incerteza da sua real autoria, embora o próprio arquiteto Eduardo Read Teixeira as mencione no seu Curriculum vitae. Se para a maioria das suas obras foi possível recolher informação primária que comprove a sua real autoria, há casos em que, infelizmente, e apesar das várias diligências e contactos estabelecidos, não se encontrou requerimentos, ofícios, memórias descritivas, peças desenhadas ou outros documentos (fontes primárias) que comprovassem a respetiva autoria, nomeadamente no tocante à Fábrica de farinhas de baleia da União das Armações Baleeiras de São Miguel (1938/9?-41), à Fábrica de Chá Barrosa em São Miguel (1939?), ao Cine Jade em Ponta Delgada (inaugurado a 1942), à Fábrica de amidos e conservas de peixe da Sociedade Correctora Lda. (cerca de 1944-49), ao Hospital da Misericórdia de Vila do Porto, ao Hotel do Infante em Ponta Delgada (anterior a 1959), ao Campo de jogos do Liceu de Ponta Delgada, às Casas dos Magistrados em Vila Franca do Campo, à Creche de Ponta

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Delgada, à Fábrica de Laticínios da Cooperativa dos Produtores de Leite da Terceira e ao Laboratório Distrital da Horta.

Foram consultados mais de 40 arquivos, públicos e privados. Foram dias incansáveis, passados em arquivos, a consultar livros de ofícios, de atas e de registo de contas, na procura de informações precisas e de documentação primária (requerimentos, ofícios, memórias descritivas, peças desenhadas e pareceres técnicos), para a identificação e caracterização das obras projetadas e edificadas nos Açores. Em algumas situações, tornou-se possível fazer-se a reconstituição histórica do processo do projeto, desde a encomenda à conclusão da obra, além de se poder provar a efetiva participação e autoria de Read Teixeira. Noutras, não se teve a mesma sorte, conforme exposto anteriormente. Contudo, de entre os vários arquivos consultados, destaca-se o Arquivo Municipal de Ponta Delgada (AMPD) e o Centro de Informação e Documentação da Região Autónoma dos Açores (CID-RAA), pela quantidade e qualidade de informação primária de que dispõem. A par destas, a Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada (BPARPD), embora ainda esteja a decorrer o processo de catalogação da documentação proveniente da antiga Junta Geral do Distrito Autónomo de Ponta Delgada. Em menor quantidade, mas com igual qualidade, o arquivo da Delegação da Ilha do Faial da Secretaria Regional dos Transportes e Obras Públicas (SRTOP-DIF), consequentemente, como resultado do reduzido número de obras projetadas e edificadas naquela ilha.

No entanto, o autor do presente estudo também se deparou com grandes dificuldades no acesso à informação. Infelizmente, muitos dos arquivos consultados dispõem de: inventários incompletos, com motores de busca com poucos parâmetros de pesquisa e/ou inventariados de forma amadora, o que não permite facilmente encontrar os processos (tratando-se de projetos de arquitetura deveria existir um campo de pesquisa com a nome do autor); acervos que se encontram por inventariar (por exemplo, a BPARPD ainda tem por inventariar o arquivo da Corretora, Lda., cedido pela própria empresa, e encontra-se em curso a inventariação do arquivo da antiga Junta Geral do Distrito Autónomo de Ponta Delgada); informação bastante dispersa e, em muitos casos, com processos/projetos incompletos (ausência de requerimentos, ofícios e, sobretudo, Memórias Descritivas e Peças Desenhadas). No caso particular do antigo Liceu Antero de Quental, atual Escola Secundária Antero de Quental (ESAQ), levantou-se a questão da proteção de dados pessoais/direitos de autor, tendo sido vedado o acesso ao processo de aluno, sem a prévia autorização da Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD). Outra dificuldade, prendeu-se com a existência de pouca bibliografia sobre a história da arquitetura dos Açores, o que, em contrapartida, traduz-se numa mais valia para o presente

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estudo, por colmatar esta falha. De igual modo, a bibliografia sobre arquitetura nas bibliotecas locais é muito restrita, tendo recorrido à minha restrita coleção privada. Também no desenvolvimento do presente estudo, a gestão do tempo e conciliação com o trabalho, com interrupções, impediu um desenvolvimento contínuo, assim como a inexperiência na realização de um trabalho dessa natureza, com um grau de rigor cientifico elevado, o que se traduz em algumas imprecisões (por exemplo: na indicação das fontes verifica-se a ausência da indicação das cotas das publicações/documentos e da numeração das páginas). Porém, o grande desafio foi a escrita, sobretudo na procura do rigor científico e no uso da terminologia correta.

Todavia, a deslocação à ilha do Faial, com intuito de consultar e recolher a documentação existente no arquivo da SRTOP-DIF e visitar pessoalmente as obras do arquiteto Eduardo Read Teixeira existentes naquela ilha, foi, indiscutivelmente, útil. Porque, além de reunir informação primária preciosa para a caracterização do edifício das Termas do Varadouro, em conversação com o delegado da referida entidade, Nuno Pacheco, tomou-se conhecimento da existência de descendentes diretos do arquiteto Eduardo Read Teixeira a residir naquela ilha, nomeadamente uma neta que trabalha na Câmara Municipal da Horta.

Na oportunidade, o autor dirigiu-se à Câmara na expectativa de encontrar a neta, visto que ela poderia colocá-lo em contacto com os vários elementos da família, principalmente, com os filhos de Read Teixeira, que, por sua vez, poderiam dar um preciso contributo sobre quem foi o homem e o arquiteto Eduardo Read Teixeira. De igual modo, poderiam ter guardado o espólio de Read Teixeira e partilhar estórias da vida pessoal e profissional que pudessem enriquecer este trabalho.

A esse propósito, recorde-se a leitura da obra do arquiteto Óscar Niemeyer – AS CURVAS DO

TEMPO - Memórias –, escrito pelo próprio, onde, numa linguagem simples e bastante fluida,

conta uma séria de aventuras da sua vida pessoal e profissional. Uma das mais interessantes obras lidas até hoje. Nela, o autor inspirou-se e encontrou motivação para ir à procura da neta de Read Teixeira.

Foi então que conheceu Margarida Menezes, que, mediante uma breve apresentação do presente trabalho de investigação, logo se disponibilizou em trocar contactos e contribuir, na medida do possível, para este estudo. A sua contribuição foi preciosa e abriu portas a outras fontes de informação. Se, por um lado, deu a conhecer a constituição da família de Eduardo Read Teixeira, por outro, contribuiu, posteriormente, na recolha de informação na ilha do Faial. Pois, durante o processo de investigação, surgiam sempre novas pistas e novas informações relevantes sobre outras obras até então desconhecidas. Paralelamente, foi a

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pessoa que mais se entusiasmou com este estudo. Por vezes, esse seu entusiasmo foi o motivo de motivação para a continuidade deste trabalho.

Por intermédio de Margarida Menezes, o autor chegou a contactar com o filho Fernando Teixeira. Apesar das resistências manifestadas, por motivos de ordem pessoal e que ultrapassam o âmbito e os objetivos deste estudo, chegou a partilhar algumas memórias do pai e facultou a genealogia por si elaborada, assim como, a nota biográfica de Eduardo Read Teixeira constante na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira - Apêndice de

atualização do texto inicial, volume 40, editado entre 1958 e 1960. Um documento que se

revelou essencial para a descrição da vida profissional do arquiteto Eduardo Read Teixeira e para a identificação das suas obras projetadas e edificadas nos Açores.

Outra fonte de extrema importância, foi o filho Pedro Read, residente em Lisboa. Por iniciativa própria, o autor tomou a liberdade de contactar a Autoridade Tributária, onde colabora como Perito Avaliador Local da Propriedade Urbana, com o intuito de obter a morada do arquiteto Eduardo Read Teixeira, ou, por ventura, dos seus descendentes, dado que, contactada a Ordem dos Arquitetos, fora informado que não dispunham da morada ou outros contactos do arquiteto Read Teixeira. Deste contacto, não só obteve a sua morada no Restelo, em Lisboa, como o contacto telefónico que ainda consta na base de dados. Por sorte, o número ainda estava ativo e a moradia do Restelo continuava habitada pela segunda esposa do arquiteto Eduardo Read Teixeira, a Maria dos Prazeres, e pelo filho Pedro Read.

A partir de então, ao longo da investigação, estabeleceu-se vários contactos com Pedro Read. Não só partilhou alguns documentos preciosos, tais como os currículos do seu pai, datados de 1977 e de 1983, fundamentais para o conhecimento do seu percurso profissional2, e o retrato de Read Teixeira ainda estudante de arquitetura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, pintado pelo famoso pintor açoriano Domingos Rebelo, pai do arquiteto Moderno João Correia Rebelo, assim como, fotografias e outras informações da vida pessoal, familiar e profissional do seu pai. Inclusive, numa deslocação a Lisboa, com intuito de consultar o processo de estudante e professor na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, atual Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, o autor, que também se formou em arquitetura naquela Faculdade, embora ainda integrando a Universidade Técnica de Lisboa, teve a oportunidade e o privilégio de se reunir com o Pedro Read, acompanhado pela a sua mãe Maria dos Prazeres. Uma longa conversa, onde teve acesso ao álbum de infância e

2 Ver nos anexos:

- Doc. 975 – Curriculum vitae de Read Teixeira, de dezembro de 1977. - Doc. 976 – Curriculum vitae de Read Teixeira, de 12 de novembro de 1983.

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estudante do arquiteto Eduardo Read Teixeira e pôde deliciar-se com suas as inúmeras estórias da vida pessoal, familiar e profissional. Foi sem dúvida, quem prestou um dos mais valiosos contributos para a realização da presente monografia.

Mas, um trabalho desta natureza, onde se procura identificar e caracterizar as obras arquitetónicas do arquiteto Eduardo Read Teixeira e contextualizá-las no espaço e no tempo, não dispensa a visita exaustiva às obras, com um olhar bastante analítico e crítico, para conhecimento in loco e levantamento de um registo fotográfico e, o mais relevante, para melhor compreender o contexto territorial onde se inserem. Dado que a sua obra se encontra dispersa por várias ilhas, e na indisponibilidade de se descolar a todas elas, contou com a colaboração da arquiteta Marília Hipólito, na ilha das Flores, da estudante de arquitetura Paula Meneses, na ilha da Terceira, e do antigo aluno do ensino profissional Luís Leonardo, na ilha de Santa Maria, residentes nas respetivas ilhas.

Face a toda a documentação primária recolhida, a bibliografia existente referente ao arquiteto Eduardo Read Teixeira é efetivamente muito restrita, limitada apenas às duas publicações de José Manuel Fernandes, e que, por sua vez, a informação nelas constante é sumária e repetitiva.

No seguimento do exposto, por razões de metodologia, de organização e tratamento de conteúdos, o estudo ficou organizado em 2 volumes: o primeiro espelha todo o conteúdo teórico desenvolvido; e o segundo contém todos os apêndices e anexos. Por sua vez, no que se refere aos conteúdos explanados no Volume I, estão organizados em 3 capítulos.

Desta forma, o primeiro capítulo centra-se no percurso de vida pessoal, familiar e profissional do arquiteto Eduardo Read Teixeira. Para conhecimento e eventual reconhecimento da sua origem e do aparecimento do nome Read no contexto micaelense, é feita uma breve nota biográfica aos seus progenitores e aos familiares que mais se notabilizaram no seu tempo, por diversas razões, assim como, aos seus ascendentes, incluindo o seu bisavô, William Harding Read Jr. (1821-1897), proveniente de Oxford, Inglaterra, sobrinho do cônsul inglês William Harding Read (1774-1839), residente em Ponta Delgada e com quem este viria a estabelecer uma forte ligação. De igual modo, são referidas situações que clarificam o meio onde o arquiteto Eduardo Read Teixeira nasceu e cresceu, no contexto da sociedade micaelense. De forma a perceber-se as suas capacidades intelectuais, descreve-se o seu percurso académico com pormenor e rigor, desde o ingresso no Curso Especial de Arquitectura até à obtenção do Diploma em Arquitetura, baseado em fontes primárias que integram o processo de estudante na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, arquivado na atual Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa. Tendo sido um Homem de vários ofícios, neste capítulo aborda-se os

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diferentes cargos e atividades desenvolvidas, onde se destaca os cargos de professor exercido na Escola onde cursara, o de arquiteto na Comissão das Construções Hospitalares, onde fez carreira, e o estabelecimento do seu próprio atelier em Lisboa, como trabalhador independente, o que lhe permitiu projetar um número significativo de obras por todo o país, incluindo as dos Açores. Por último, a finalizar este capítulo, relata-se uma série de estórias partilhadas pela família, gostos e viagens, de modo a melhor caracterizar a personalidade de Read Teixeira, o Homem da gravata branca, excêntrico, proativo, com bom gosto e de forte e vincada personalidade.

O segundo capítulo, mais generalista, incide sobre o contexto, espacial e temporal, insular, entre 1900 e 1970, abordando temas da História da Arquitetura que se consideram fundamentais para a compreensão e caracterização da obra arquitetónica de Eduardo Read Teixeira. Sem esse conhecimento, não seria possível elaborar-se um trabalho dessa natureza. Deste modo, está estruturado em dois subcapítulos.

O primeiro subcapítulo, aborda o contexto insular, incidindo sobre a cultura arquitetónica praticada pela sociedade micaelense, até aos anos 40, nomeadamente, o estilo Neoclassicismo, a Art Déco e o primeiro Modernismo Radical. Baseado em fontes bibliográficas e webgráficas, começa por refletir e evidenciar o gosto pela arquitetura neoclássica enraizado na sociedade micaelense, que imperava deste oitocentos, após o advento do Liberalismo e a extinção das Ordens Religiosas. Fruto da riqueza da laranja e do gosto da elite micaelense, deste período, destaca-se inequivocamente o Paço do Barão da Fonte Bela, o Palácio de Sant’Ana e o Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada. Mais tarde, já no início século XX, após o surgimento dos novos setores industriais e comerciais e a consequente emancipação da burguesia, de formação e gosto um tanto duvidoso e pouco refinado, aparece um número significativo de edificações, de menor escala, também ao gosto tradicional. Neste período, em menor número, também surgem algumas edificações que sofrem influências do continente e do exterior, ao nível das formas e da estética. Também na primeira metade do século XX, surgiram outras influências arquitetónicas que importa conhecer e refletir com rigor, precisamente para se poder proceder a uma correta análise ao percurso e obras de Read Teixeira. Em particular, o Coliseu Micaelense, que se destaca, não só pela sua arquitetura, mas também pelo que representa na sociedade micaelense, a Casa Dr. Lúcio Agnelo Casimiro da autoria de Raul Lino e, sobretudo, o Modernismo Radical da obra de Manuel António de Vasconcelos, pela proximidade e eventual contemporaneidade.

O segundo subcapítulo, redigido com base em fontes primárias, bibliográficas e webgráficas, aborda também o contexto insular, mas, a partir dos anos 40, incidindo sobre as profundas

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transformações urbanísticas, a introdução do estilo Nacionalista e a afirmação do modernismo. Neste período, quando o arquiteto Eduardo Read Teixeira já estava a exercer a profissão, após a conclusão do Curso Especial de Arquitectura, a cidade de Ponta Delgada sofre profundas alterações. Numa primeira fase, o Anteplano de Urbanização do arquiteto urbanista João António de Aguiar, de 1946, dentro dos ideais do Estado Novo e das avenidas do Barão Haussmann, de Paris, que representou uma mudança decisiva no desenvolvimento da cidade e na forma de pensar a cidade. A cidade, que até então crescia de forma natural, quase empírica, determinada pelas necessidades e interesses espontâneos de cada época, passa a ser previamente planeada. Paralelamente, a obra da avenida Infante D. Henrique, do mesmo autor, prevista no Anteplano e concluída em 1952, introduz profundas alterações à cidade, inclusive com a criação de zonas de aterros, onde, nas décadas seguintes, foram edificadas um conjunto significativo de obras em estilo Nacionalista. Os primeiros a serem construídos, foram os Edifícios que simetricamente ladeiam da Praça Gonçalo Velho, construídos entre 1950-52, projetados pelo arquiteto municipal Francisco Quintanilha, que causou grande polémica à dada da sua construção. É tanto que, naquela altura, mereceu duras críticas por parte da sociedade micaelense, onde se destaca o arquiteto João Correia Rebelo (1923-2006), considerado um arquiteto moderno nos Açores, que os considerava uma réplica do desenho Pombalino da Praça do Comércio de Lisboa. Inclusive, produziu o único manifesto a nível nacional contra a arquitetura tradicionalista do Estado Novo. De igual modo, pela afirmação da modernidade nos Açores, também se analisa neste subcapítulo a obra do arquiteto João Correia Rebelo, por ser contemporânea à do arquiteto Read Teixeira.

Mas, a pertinência desta abordagem exaustiva ao contexto regional, prende-se com o facto da obra do arquiteto Eduardo Read Teixeira, projetada e edificada para e nos Açores, respetivamente, evidenciar claramente duas fases distintas, sendo a primeira marcada pela vontade e pela imposição do regime da época e a segunda pela afirmação da modernidade, conforme se identifica e caracteriza analiticamente no capítulo que se segue. Considera-se fundamental e pertinente o conhecimento explanado no presente capítulo, para que se possa contextualizar a obra do arquiteto Eduardo Read Teixeira no espaço e no tempo, assim como, extrair conclusões em comparação com o pioneiro do modernismo nos Açores, o engenheiro químico Manuel António de Vasconcelos, e o famoso arquiteto João Correia Rebelo, considerado o mais fiel aos princípios do modernismo internacional, em contexto insular. O terceiro e último capítulo, aborda o cerne da questão: inventariar, caracterizar e analisar as obras arquitetónicas do arquiteto Eduardo Read Teixeira, de modo a contribuir para a História da Arquitetura insular e valorizar o Património Cultural edificado do século XX, nos Açores.

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Com base, sobretudo, na preciosa informação primária (requerimentos, ofícios, memórias descritivas e peças desenhadas), o presente capítulo está estruturado em três subcapítulos. O primeiro subcapítulo, identifica e caracteriza os primeiros projetos elaborados pelo arquiteto Eduardo Read Teixeira, para os Açores. No início dos anos 40, em pleno Estado Novo, onde, no território regional, ainda prevalece o gosto pela arquitetura neotradicionalista ou em estilo neoclassicismo, há dois projetos que evidenciam um conjunto de características que mostram a vontade do jovem e recém-formado arquiteto Eduardo Read Teixeira querer fazer arquitetura Moderna e o gosto pela arquitetura Contemporânea: o Asilo para Raparigas de Ponta Delgada (1941, 1.ª versão) e a Casa Deodato Soares (1942-43), na Av. Gaspar Frutuoso. Simultaneamente, deste período, salienta-se o Cine Jade (inaugurado em 1942), também em Ponta Delgada, não pela sua arquitetura, cujo projeto se desconhece, mas por ter sido um local de encontro de extrema importância para a afirmação literária modernista, contribuindo inequivocamente para uma mudança de mentalidades da própria sociedade micaelense. Segundo as palavras proferidas de Álamo de Oliveira, «naquele tempo, a palavra “Modernismo”, nos Açores, ainda cheirava a enxofre e pronunciá-la era como anunciar a 8.ª praga do Egito»3. Realidade esta extensível a outras áreas da cultura Açoriana, tal como a da própria arquitetura.

O segundo subcapítulo, identifica e caracteriza os projetos e obras do arquiteto Eduardo Read Teixeira produzidas ao longo da década de 40, também para os Açores. Com programas e escalas muito variadas, destacam-se sobretudo os Postos Agrícolas e os Miradouros (projetados em 1943 e 1944), não só pela quantidade, mas, sobretudo, pela linguagem arquitetónica4 que apresentam. Apesar dos muitos outros projetos e obras de construção, ampliação e remodelação de Asilos e Fábricas, são os Postos e os Miradouros que melhor espelham como o arquiteto Eduardo Read Teixeira, tal como grande parte dos seus colegas, se submeteu ao estilo Nacionalista, do Regime autoritário. Contudo, a meados da década de 40, o arquiteto Eduardo Read Teixeira depara-se com a suspensão de todos os trabalhos que lhe haviam sido adjudicados, por parte do novo presidente da Comissão Executiva da Junta Geral do Distrito Autónomo de Ponta Delgada, embora, poucos anos depois, tenha retomado as relações profissionais com aquela Junta Geral. Desta forma, este subcapítulo surge em

3 Cf. BETTENCOURT, 2012.

4 Linguagem arquitetónica é a expressão que se refere ao conjunto dos elementos formais, materiais e espaciais

que dão à composição arquitetónica um ordenamento sintático, morfológico e semântico. Ou seja, é o léxico da gramática da arquitetura, objeto com expressão artística, que, com base em novos ideais de vida, ganha novas interpretações refletindo-se nas novas construções. No entanto, há que ter também em consideração que, quando nos referimos a uma linguagem arquitetónica, tanto nos podemos referir a edifício, como objeto individual, ou a um conjunto de obras de um ou mais autores.

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consenso com o primeiro subcapítulo do capítulo anterior. Sem aquelas informações, não se poderiam retirar as conclusões que aqui se apresentam.

Por fim, o terceiro e último subcapítulo, aborda a libertação e a afirmação da obra do arquiteto Eduardo Read Teixeira por uma linguagem própria e em prol da arquitetura modernista. Igualmente, se identifica e caracteriza os projetos e obras edificadas da autoria de Read Teixeira, a partir dos anos 50, onde se destaca o Edifício dos Infectocontagiosos do Hospital da Horta (1950-52?), o Edifício das Termas do Varadouro (inaugurado em 1954), o Monumento à Virgem Nossa Senhora (construído em 1958 e reconstruído em 1970), na Horta, a Igreja de S. José (1960-67), na freguesia da Ribeira Chã do concelho da Lagoa, e a Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada (cerca de 1965), devido, sobretudo, às influencias da arquitetura internacional, provavelmente por intermédio do arquiteto Carlos Ramos, e ao cunho identitário introduzido com a repetição de elementos e a plasticidade que caracterizam a sua obra. Simultaneamente, também se identifica e caracteriza os Planos de Urbanização projetados para a cidade de Ponta Delgada. Para finalizar, procura-se responder de forma clara e inquestionável à questão inicial: será que Eduardo Read Teixeira foi um arquiteto Moderno nos Açores?

Na conclusão, de forma articulada, procura-se apresentar a síntese das ideias relevantes que traduzem a vida e obra do arquiteto Eduardo Read Teixeira, devidamente fundamentadas, tendo em consideração que os objetivos iniciais da presente dissertação visam: elaborar uma monografia; inventariar, caracterizar e analisar as suas obras, particularmente as realizadas em território insular; e valorizar o Património Cultural edificado do século XX nos Açores. Desta forma, é necessário situar a obra de Read Teixeira no tempo e no espaço, pelo que há questões (co)relacionadas com a História da Arquitetura que necessariamente tiveram que se ter em consideração. Sem este conhecimento não seria possível compreender a sua obra, nem mesmo a contextualizar. De igual modo, apresenta-se a resposta à questão inicialmente formulada, que foi o mote de partida do presente estudo e que faz jus ao título da presente dissertação: Eduardo Read Teixeira (1914-1992), um Arquiteto Moderno nos Açores.

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Eduardo Read Teixeira (1914-1992), um Arquiteto Moderno nos Açores

1. A identidade: o contexto familiar, a formação e o percurso profissional.

Eduardo Read Henriques Teixeira nasceu às 6h20 do dia 28 de fevereiro de 1914, na rua Doutor Bruno Tavares Carreiro, na freguesia de S. Sebastião da cidade de Ponta Delgada5. Read Teixeira era filho legítimo de João Cândido Teixeira (1887-1968), natural da freguesia da Matriz da cidade da Horta, ilha do Faial, maçon e filho de maçon6, advogado, juiz municipal do Julgado do Nordeste e, mais tarde, administrador do concelho de Ponta Delgada, e de Maria Luísa Read Henriques Teixeira (1888-1971), natural da freguesia da Fajã de Cima da cidade de Ponta Delgada, doméstica7.

Por conseguinte, Read Teixeira descende de uma família da nobreza local e de uma família inglesa – os Read8.

A família Read é originária de Oxford9, pertencente ao condado de Oxfordshire, Inglaterra, que possuía o direito de usar Tartã (ou Kilt)10. Veio para a ilha de São Miguel através do cônsul britânico, William Harding Read (1774-1839)11.

William Harding Read, natural de Portsmouth, Inglaterra, filho de William Read e Mary Elisabeth Price, era também conhecido por Guilherme Harding Read. Casou, em primeiras

5 FAUL. Certidão de Nascimento emitida pelo Registo Civil de Ponta Delgada, de 22 de agosto de 1934.

6 João Cândido Teixeira, advogado, natural da Horta, foi apelidado com o nome de Darwin pela loja maçónica Fiat Lux, de Lisboa (o autor identifica-o como sendo natural da ilha Terceira, mas provavelmente trata-se de um

erro), e com o nome Balzac pela loja Companheiros da Paz, em Ponta Delgada, cuja existência decorreu entre 1902 e 1935. Era filho de Francisco Xavier Teixeira, natural da Horta, também maçon. Saiu da loja Amor da

Pátria para ser um dos fundadores da loja Luz e Caridade, onde exerceu o cargo de orador, cuja atividade

decorreu entre 1877 e 1915. Cf. LOPES, 2008.

7 Erradamente, o filho Fernando Teixeira refere na genealogia por ele elaborada que «foi atribuído o nome de

"Maria Luísa Teixeira" a uma rua na freguesia da Fajã de Cima, concelho de Ponta Delgada, Açores, junto da casa onde viveu e faleceu». José Andrade, no seu livro intitulado Ruas com Rosto – Dicionário Biográfico da

Toponímia de Ponta Delgada, Volume I – Freguesias Citadinas: São Pedro, São Sebastião São José e Santa Clara, publicado pela Câmara Municipal de Ponta Delgada, em 2015, esclarece que «Maria Luísa Teixeira (...)

nasceu a 27 de outubro de 1913, em Ponta Delgada. Concluiu o Curso de Parteira, na Faculdade de Medicina do Porto, em 1944, exercendo esta função cerca de 50 anos, por conta própria, na Clínica de Santo André e na Clínica do Bom Jesus, sendo assim responsável por largas centenas de partos».

8 O filho Fernando Teixeira elaborou a árvore genealógica, com mais de 1400 membros da família, onde destaca

D. Afonso Henriques, rei de Portugal, Guilherme I, rei de Inglaterra, Fernando I, rei de Leão e Castela, Hugo I, rei da França, Carlos Magno, Imperador Romano-Germânico, entre outros. Sobre o nome Read, refere que teve outras derivações: Rhead, Reid, Reed. Contudo, face ao caráter mítico desta genealogia, recorreu-se, sempre que possível, a outras fontes que se consideram mais credíveis, designadamente a obra de Rodrigo Rodrigues,

Genealogias de São Miguel e Santa Maria. 9 Cf. MOTTA, 1956.

10 Segundo o filho Fernando Teixeira, o Tartã (ou Kilt) – tecido quadriculado, parecido com xadrez, com padrões

de linhas de cores diferentes, usado no traje típico escocês –, corresponde a um padrão característico da família e é o equivalente a um brasão.

11 Na genealogia do filho Fernando Teixeira, é atribuída a William Harding Read o ano de nascimento de 1775.

(1) Fátima Sequeira Dias, sem ter certezas, refere que nasceu em 1974. (2) (1) Cf. GENEALLn, [s.d.].

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núpcias, com Mary Kenyon (c. 1770), sem geração, e, em segundas núpcias, com Louisa Mitchell Meredith (c. 1780), viúva de seu irmão John Read (1780-1828)12, com quem teve um filho, Eugénio de Vila Flor de Sá Sartorius Harding Read13. Foi oficial da marinha inglesa14. Como oficial da Royal Navy, participou na Batalha de Trafalgar15. Tomou posse do cargo de cônsul-geral dos Açores, segundo patente de 16 de março de 181116. «Ao longo da segunda década de oitocentos, interveio ativamente junto das autoridades locais a fim de consentirem o aumento das quantidades exportadas de cereais e gado, quer para o arquipélago da Madeira, quer para o reino com vista ao abastecimento do exército britânico em luta contra o domínio napoleónico. No período entre 1800 e 1829, foi um dos maiores exportadores micaelenses, tendo sido responsável pela exportação de mais de 150 mil caixas de laranja para o Reino Unido. Com os lucros desta especulação, construiu uma mansão na atual rua Luís Soares de Sousa, na cidade, e uma quinta senhorial – a quinta da Bela Vista, na Abelheira, arredores da cidade [na freguesia da Fajã de Baixo]»17. Nesta quinta, entre junho e agosto de 1829, escondeu o futuro marquês Sá da Bandeira18 e o irmão. Em 1932, recebeu D. Pedro IV e a sua comitiva. Ainda em vida, recebeu o louvor do governo português pela planta da ilha que terminou em 1805 e, após alguns contratempos durante a governação miguelista, o governo liberal concedeu-lhe, a 10 de dezembro de 1832, a mercê de cavaleiro da Torre e Espada19. O

12 Na genealogia do filho Fernando Teixeira, é referido que John Read morreu no naufrágio da George Daysh,

em 1821. (1) Fátima Sequeira Dias refere que John Read «morreu, em 1828, a bordo do navio que o trazia para São Miguel (...)». (2) O mais provável é que a embarcação George Daysh não tenha naufragado, até porque o filho chegou ao destino, à cidade de Ponta Delgada.

(1) Cf. GENEALLi, [s.d.]. (2) Cf. SEQUEIRA DIAS, [s.d.].

13 Eugénio de Vila Flor de Sá Sartorius Harding Read, nascido em 1832, recebeu esses nomes em homenagem ao

conde de Vila Flor e futuro marquês de Sá da Bandeira e ao almirante Sartorius – liberais ao serviço de D. Pedro IV, que estiveram em São Miguel antes do desembarque no Mindelo. Idem.

14 Reza a tradição que William Harding Read «enquanto oficial da marinha inglesa, participou no apresamento

de uma galeota espanhola repleta de ouro, tendo-lhe cabido de presa o equivalente a 40.500$000 rs. Insulanos».

Idem.

15 José Manuel Fernandes, em Arquitetura Contemporânea dos Açores, atribui erradamente ao bisavô de

sobrenome Read a participação na batalha de Trafalgar, como oficial da marinha inglesa.

«A Batalha de Trafalgar foi uma batalha naval que ocorreu entre a França e Espanha contra o Reino Unido, em 21 de outubro de 1805, na era napoleônica, ao largo do cabo de Trafalgar, na costa espanhola.»

Cf. WIKIPÉDIAj, [s.d.].

16 Na qualidade de cônsul-geral dos Açores, William Harding Read auferiu «mil libras por ano, mercê «de suas

costumadas intrigas» contra Guilherme Brander, o cônsul britânico então em exercício, conforme a acusação expressa na representação dos comerciantes britânicos residentes em São Miguel – André Adam, John Nesbitt, Diogo Cockburn, Simão Keir, Guilherme Brander Júnior, Diogo Grant Christie – datada de 30 de julho de 1810». Cf. SEQUEIRA DIAS, [s.d.].

17 Idem.

18 O tenente Bernardo Sá Nogueira foi um «grande prosélito do liberalismo, mais tarde agraciado com o título de

Marquês de Sá da Bandeira, em sinal de reconhecimento régio pelos relevantes serviços prestados à Pátria». Cf. AAVV., Homenagens de Rua, 2003.

19 Se durante o governo absolutista, William Harding Read salvou alguns liberais, já durante o governo liberal

salvou do linchamento popular o antigo capitão-geral dos Açores, o miguelista Sousa Prego, e o seu ajudante. Cf. SEQUEIRA DIAS, [s.d.].

(28)

seu nome foi atribuído à rua Cônsul Read, na Fajã de baixo20. Considerado um «Homem de bem, foi providencial para a sua família»21, assim como, «uma figura do mais elevado relevo intelectual e moral da sociedade do seu tempo»22. Além de ter casado com a viúva de seu irmão John Read, criou os seus 3 filhos23. Um deles, era o bisavô de Read Teixeira, William Harding Read Jr. (1821-1897)24.

William Harding Read Jr., natural de Portsmouth, Inglaterra, veio em criança para Ponta Delgada na companhia do pai25, John Read, que vinha para ocupar o cargo de vice-cônsul britânico, em São Miguel26. Em 1828, com a morte do seu pai, durante a viagem a bordo do navio George Daysh, acabou por estudar nesta ilha e ser educado pelo seu tio, o cônsul inglês William Harding Read27. Quando se tornou cidadão português, passou a chamar-se Guilherme Read Cabral, tendo adotado o apelido do 1.º conde e 1.º marquês de Tomar, António Bernardo da Costa Cabral28, casado com a sua irmã Louisa Mitchell Meredith Read, a marquesa de Tomar29. Guilherme Read Cabral fez uma carreira burocrática nas Alfândegas, tendo sido diretor das Alfândegas do Funchal, Horta e Ponta Delgada. Tornando-se um especialista em

20 João Carlos Macedo na cerimónia de homenagem a atribuição do seu nome à rua Cônsul Read, na Fajã de

baixo, cita a obra de Luís Bernardo Leite Ataíde, intitulada Etnografia, Arte e Vida Antiga dos Açores, vol. I, que se refere ao cônsul Read como sendo «uma figura do mais elevado relevo intelectual e moral da sociedade do seu tempo», pois aliava a «uma vasta cultura das ciências, ao conhecimento de várias línguas e à sua particular predileção palestras e pela música (...) os mais aprimorados requintes de uma fina educação, recebendo em sua casa por forma tão franca, tão gentil e cordial que em cada conviva contava um amigo dedicado». Sobre a Bela Vista, Macedo volta a citar a obra de Luís Ataíde, onde escreveu: «A amenidade do ambiente, à tristeza das fendidas ruínas, vinha juntar-se a reminiscência de alguns factos históricos que ao encanto do meio físico traziam a poesia de trechos da vida antiga de um período agitado fortemente pelas paixões políticas».

CF. AAVV., Homenagens de Rua, 2003.

21 Cf. SEQUEIRA DIAS, [s.d.].

22 CF. AAVV., Homenagens de Rua, 2003.

23 Também «acolheu as suas duas irmãs solteiras» e «recebeu uma sobrinha órfã».

«Sá da Bandeira descreveu-o como bondoso, delicado e amável e como proprietário de uma biblioteca com livros excelentes e de um soberbo jardim». Cf. SEQUEIRA DIAS, [s.d.].

24 Cf. LEITE, 2001. 25 Idem.

26 Cf. SEQUEIRA DIAS, [s.d.]. 27 Cf. LEITE, 2001.

28 António Bernardo da Costa Cabral (1803-1889) «foi um político português que, entre outros cargos e funções,

foi deputado, par do Reino, conselheiro de Estado efetivo, ministro da Justiça e Negócios Eclesiásticos, ministro do Reino e presidente do Conselho de Ministros. Defensor da Revolução de setembro de 1836, a sua conduta política evoluiu num sentido mais moderado e, depois de nomeado administrador de Lisboa, foi o principal obreiro da dissolução da Guarda Nacional. Durante o seu primeiro mandato na presidência do ministério, num período que ficaria conhecido pelo Cabralismo, empreendeu um ambicioso plano de reforma do Estado, lançando os fundamentos do moderno Estado português. Considerado um valido da rainha D. Maria II, apesar das suas origens modestas, foi feito conde de Tomar e depois elevado a marquês de Tomar. Foi uma das figuras mais controversas do período de consolidação do regime liberal, admirado pelo seu talento reformador, mas vilipendiado e acusado de corrupção e nepotismo por muitos. Foi obrigado a exilar-se em Madrid na sequência da Revolução da Maria da Fonte, mas voltaria poucos anos depois, demonstrando uma extraordinária capacidade de recuperação e persistência, a ocupar a chefia do governo. A figura preponderante deste estadista na política portuguesa durante a primeira fase da monarquia constitucional permite afirmar que em torno dela girou toda a política de consolidação institucional do liberalismo que caracterizou o reinado de D. Maria II. Foi, a partir de 1841, Grão-Mestre da Maçonaria». Cf. WIKIPÉDIAd, [s.d.].

(29)

matéria alfandegária, escreveu várias obras sobre estes assuntos30. Entre 1893 e 1894, foi governador civil do distrito da Horta, numa época difícil no tocante ao abastecimento de cereais, o que o levou a publicar uma «proclamação justificativa»31. Foi Comendador da Ordem de Cristo e Cavaleiro da Torre-Espada. No campo literário, fez parte da geração romântica de Ponta Delgada, que se desenvolveu em volta de António Feliciano de Castilho32. Acabou por ficar associado ao Grémio do Trovador, cujas origens estão precisamente na Sociedade dos Amigos da Letras e das Artes, liderada por Castilho33. Também colaborou assiduamente para a Revista dos Açores, principalmente como poeta34. Foi o autor da letra do Espirito Santo35. Fazendo parte da elite micaelense do seu tempo, foi também um dos sócios fundadores do Clube Micaelense36, fundado a 14 de janeiro de 185737.

Assim, a origem da família de Read Teixeira, estabelecida em São Miguel, é indissociável destas duas personalidades: o Alfandegário William Harding Read Jr., que adotou o nome Guilherme Read Cabral quando se naturalizou português, e, sobretudo, o cônsul inglês William Harding Read, também conhecido como Guilherme Harding Read.

Porém, o parente mais famoso de Read Teixeira será porventura o seu primo norte-americano, o aviador Albert Cushing Read (1887-1967)38, natural de Lyme, New Hampshire, oriundo de

30 Obras Principais:

- Breves considerações sobre a simplificação do serviço das Alfândegas, seu pessoal e protecção ao comércio

do distrito de Ponta Delgada. Ponta Delgada, Tip. Manuel Corrêa Botelho, 1870;

- Compêndio de Legislação fiscal. Ponta Delgada, Tip. Manuel Corrêa Botelho, 1890; - Proclamação aos habitantes do distrito da Horta, Horta, Tip. Hortense, 1893; - Glórias e primores de Portugal, Lisboa, Tip. Ed. Alcino Aranha (s.d.);

- No interior da terra e nas profundezas do mar, Ponta Delgada, Tip. Elzeveriana, 1897. Cf. LEITE, 2001.

31 Idem. 32 Idem.

33 Cf. MACHADO, 2007: 12.

34 William Harding Read Jr., no campo literário, foi um romancista que não saiu da mediocridade e um poeta

menor. Também foi tradutor. Cf. LEITE, 2001.

35 Placa toponímica existente na freguesia do Livramento, concelho de Ponta Delgada. 36 Cf. MACHADO, 2007: 79.

37 Idem: 15.

38 Albert Cushing Read (1887-1967) formou-se em 1907 na U.S. Naval Academy, em Annapolis. Em 1915, foi

nomeado aviador naval, recebendo o brevê n.º 24. Entre 8 e 31 de maio de 1919, com o posto de capitão-tenente, «comandou uma tripulação de 5 militares a bordo do hidroavião NC-4, numa viagem que faria daquele aparelho o primeiro avião a atravessar pelos seus próprios meios o Oceano Atlântico (...). O voo comandado por Read partiu de Rockaway Beach, Long Island e demorou 23 dias - e 6 amaragens - até chegar a Plymouth, na Inglaterra, na costa europeia do oceano Atlântico. Depois do seu regresso aos Estados Unidos da América, após o histórico voo de 1919, Read afirmou: Em breve será possível voar um avião à volta do Mundo a uma altitude

de 60 000 pés a 1 000 milhas por hora». Graças ao seu feito, a 3 de junho de 1919, foi feito Comendador da

Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito de Portugal. Alguns anos depois, foi instrutor de voo, formando pilotos navais durante a II Guerra Mundial. Também recebeu a Medalha de Serviço Distinto da Marinha, a Medalha NC-4, a Cruz da Força Aérea, a Legião do Mérito, a Medalha de Ouro do Congresso e o Quadro de Honra da Aviação Nacional. (1) Segundo o filho Fernando Teixeira, autor de um livro (2) sobre a travessia do atlântico no NC4, de 1919, feita pelo seu primo, o capitão Albert Read, durante a viagem ele parou nas cidades da Horta e de Ponta Delgada. O avião tinha uma dimensão considerável, superior a um Aribus A320.

Referências

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