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Metodologias de ensino e repertório nas filarmónicas de Valpaços

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Academic year: 2021

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Palavras-chave

Banda Filarmónica, metodologias de ensino e repertório.

Resumo Este estudo procura dar a conhecer as metodologias de ensino da Música e o repertório executado por três Bandas Filarmónicas do concelho de Valpaços. Durante as minhas vivências no meio Filarmónico, verifiquei que surgem muitas vezes comentários pouco apropriados relativamente ao trabalho desenvolvido pelas Bandas Filarmónicas do Alto Trás-os-Montes, nomeadamente no que concerne às metodologias de ensino da música, bem como à falta de variedade de géneros musicais.

Para a elaboração deste trabalho, no que respeita às metodologias de ensino da música nas Bandas Filarmónicas, é feita uma revisão da literatura com o propósito de verificar qual a metodologia adoptada pelas Bandas contempladas no presente estudo. Quanto ao repertório, foi escolhido um número significativo de maestros portugueses, que construíram um modelo de repertório nos diferentes géneros. Procurou-se, de seguida, confrontar o repertório destas Bandas Filarmónicas do concelho de Valpaços com o escolhido por aquele conjunto de maestros.

As principais conclusões mostram que há uma coexistência de métodos utilizados, desde o modelo tradicional até ao mais actual. Verifica-se também que há uma diversidade de repertório executado relativamente aos géneros musicais e que as Bandas de Carrazedo de Montenegro e Valpaços estão mais em conformidade com o repertório escolhido pelo conjunto dos dezasseis maestros portugueses. A Banda de Vilarandelo, apesar de executar um repertório variado, pratica um menor número de obras escolhidas pelo conjunto dos maestros.

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keywords Philharmonic Band, teaching method and repertoire.

Abstract The purpose of this study is to show the teaching methods and repertoire of music performed by three Valpaços’ Philharmonic Bands. During my experiences in the Philharmonic environment, I have noticed that there are often inappropriate comments on the work developed by Alto Trás-os-Montes Bands, particularly as regards the methods of teaching music as well as the lack of variety of musical types.

This study examines, as far as the Philharmonic Bands’ teaching methods is concerned, the literature available in order to establish the methodology adopted by the Bands covered in this work. As far as the repertoire it was chosen a significant number of Portuguese conductors, who built a repertoire model. Based on this the repertoire of Valpaços’ Philharmonic Bands was confronted with the one chosen by those set of conductors.

The key findings showed that there is a coexistence of methods, from the traditional to the most updated. It was also observed that there is a diversity of the repertoire performed for musical genres and that the Carrazedo of Montenegro and Valpaços Bands are more in line with the repertoire chosen by all the sixteen Portuguese conductors. The Vilarandelo Band, despite running a varied repertoire, performed a smaller number of works chosen by all the conductors carried out in this study.

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Índice

Pág. Lista de quadros --- 11 Lista de gráficos --- 12 Lista de figuras --- 13 Lista de siglas --- 13 Introdução --- 15

Capítulo I – Enquadramento Teórico 1 - As Bandas Filarmónicas em Portugal --- 20

2 - As Bandas Filarmónicas no Alto Trás-os-Montes --- 25

3 - Metodologias de ensino/aprendizagem nas Bandas Filarmónicas --- 28

3.1 - Modelo Tradicional de ensino --- 31

3.2 - Fase de transição entre modelos de ensino --- 32

3.3 - Novas ideias, novas metodologias --- 33

4 - A Escolha do Instrumento Musical --- 33

5 - A Educação Musical nas Bandas Filarmónicas --- 35

6 - O Repertório --- 38

6.1 - Características do Repertório --- 39

6.1.1 – Marcha de Rua e de Procissão --- 40

6.1.2 – Marcha de Concerto --- 41

6.1.3 – Abertura --- 43

6.1.4 – Fantasia --- 44

6.1.5 – Obra Ligeira --- 45

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Capítulo II - Contextualização e caracterização do Campo

1 - O Município de Valpaços --- 50

1.1 - Ensino Genérico --- 54

1.2 - Ensino Vocacional da Música na Região --- 55

2 - As freguesias que albergam as sedes das Bandas Filarmónicas do Concelho --- 59

2.1- Carrazedo de Montenegro --- 59

2.1.1 - A Banda Musical de Carrazedo de Montenegro --- 61

2.1.2 – Historial --- 61 2.1.3 – O Maestro --- 62 2.1.4 – Constituição da Banda --- 64 2.1.5 – O Repertório --- 65 2.1.6 – Serviços em 2009 --- 67 2.1.7 – Fotos da Banda --- 69 2.2 – Sonim --- 70

2.2.1 – A Banda Musical de Sonim --- 71

2.2.2 – Historial --- 71 2.2.3 – O Maestro --- 72 2.2.4 – Constituição da Banda --- 72 2.2.5 – O Repertório --- 73 2.2.6 – Serviços em 2009 --- 75 2.2.7 – Fotos da Banda --- 75 2.3 – Valpaços --- 76

2.3.1 – A Banda Municipal de Valpaços --- 77

2.3.2 – Historial --- 77

2.3.3 – O Maestro --- 78

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2.3.5 – O Repertório --- 80

2.3.6 – Serviços em 2009 --- 83

2.3.7 – Fotos da Banda --- 84

2.4 – Vilarandelo --- 85

2.4.1 – A Banda Musical da Casa do Povo de Vilarandelo --- 86

2.4.2 – Historial --- 86 2.4.3 – O Maestro --- 88 2.4.4 – Constituição da Banda --- 89 2.4.5 – O Repertório --- 90 2.4.6 – Serviços em 2009 --- 93 2.4.7 – Fotos da Banda --- 94

Capítulo III – Metodologia de Investigação 1- Pressupostos Metodológicos --- 96

2- Amostra --- 98

3 – Modelo de Recolha de Dados --- 100

4 – Técnica de Recolha de Dados --- 101

4.1 – Questionário --- 103

5 – Técnica de Análise de Dados --- 116

Capítulo IV – Apresentação e Discussão dos Dados 1 – Representação das Obras Consideradas Favoritas Pelo Conjunto dos Dezasseis Maestros --- 119

2- Representação dos Maestros das Bandas do Concelho de Valpaços --- 129

Conclusão --- 140

Referências Bibliográficas --- 145

Referências Legislativas --- 148

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11 Lista de Quadros

Quadro 1 - Bandas Filarmónicas do Alto Trás-os-Montes que estão inscritas na FTDBF--- 27

Quadro 2 – Número de habitantes por freguesia do concelho de Valpaços --- 51

Quadro 3 – Ligações ao concelho de Valpaços pela Rede Nacional de Estradas --- 53

Quadro 4 - Escolas de Música públicas em Portugal do ensino vocacional--- 55

Quadro 5 - Distância em Kms da sede das Bandas Filarmónicas até às escolas do ensino vocacional --- 58

Quadro 6 - Constituição da Banda Musical de Carrazedo de Montenegro no ano de 2009 --- 64

Quadro 7 Repertório utilizado pela Banda Musical de Carrazedo de Montenegro no ano de 2009 --- 65

Quadro 8 Serviços a efectuar no ano de 2009 pela Banda Musical de Carrazedo de Montenegro --- --- 67

Quadro 9 - Constituição da Banda Musical de Sonim no ano de 2009 --- 72

Quadro 10 - Repertório executado pela Banda Musical de Sonim no ano de 2009 --- 73

Quadro 11 - Serviços a efectuar pela Banda Musical de Sonim no ano de 2009 --- 75

Quadro 12 - Constituição da Banda Municipal de Valpaços no ano de 2009 --- 79

Quadro 13 - Repertório utilizado pela Banda Municipal de Valpaços no ano de 2009 --- 80

Quadro 14 - Serviços a efectuar no ano de 2009 pela Banda Municipal de Valpaços --- 83

Quadro 15 - Constituição da Banda Musical da Casa do Povo de Vilarandelo no ano de 2009 - 89 Quadro 16 - Repertório utilizado pela Banda Musical da Casa do Povo de Vilarandelo no ano de 2009 --- 90

Quadro 17 - Serviços a efectuar pela Banda Musical da Casa do Povo de Vilarandelo no ano de 2009 --- 93

Quadro 18 - Designação dos respondentes (16 Maestros portugueses) --- 99

Quadro 19 - Caracterização dos respondentes (Maestros de três Bandas Filarmónicas do concelho de Valpaços) --- 99

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12 Quadro 21 - Obras consideradas favoritas pelo Conjunto dos dezasseis Maestros portugueses

--- --- 119

Quadro 22 - Representações dos Maestros relativamente à formação musical dos seus executantes --- 131

Quadro 23 - Representações dos Maestros relativamente às obras mais executadas nos últimos dez anos --- 134

Quadro 24 - Representações dos Maestros relativamente às obras mais executadas na actualidade --- 135

Quadro 25 - Representações dos Maestros relativamente às obras introduzidas nos últimos dois anos --- 136

Quadro 26 - Representações dos Maestros relativamente às obras melhor executadas pela Banda --- 137

Quadro 27 Representações dos Maestros relativamente às obras com maior impacto no público --- 138

Lista de Gráficos Gráfico 1 - Bandas Filarmónicas existentes em Portugal --- 24

Gráfico 2 - Marchas de Procissão favoritas pelo conjunto dos dezasseis Maestros portugueses-122 Gráfico 3 - Marchas de Rua favoritas pelo conjunto dos dezasseis Maestros portugueses --- 123

Gráfico 4 - Marchas de Concerto favoritas pelo conjunto dos dezasseis Maestros portugueses--124

Gráfico 5 - Aberturas favoritas pelo conjunto dos dezasseis Maestros portugueses --- 125

Gráfico 6 - Fantasias favoritas pelo conjunto dos dezasseis Maestros portugueses --- 126

Gráfico 7 – Obras Ligeiras favoritas pelo conjunto dos dezasseis Maestros portugueses --- 127

Gráfico 8 – Rapsódias favoritas pelo conjunto dos dezasseis Maestros portugueses --- 128

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13 Lista de Figuras

Figura 1 – Primeiras lições do livro de solfejo „Freitas Gazul‟ --- 32

Figura 2 - Lições intermédias do livro de solfejo „Freitas Gazul‟ --- 32

Figura 3 - Marcha de Rua „Manuel Joaquim de Almeida‟ do compositor português C. Marques -- 40

Figura 4 - Marcha de Procissão „Transfiguração‟ do compositor português Amílcar Morais --- 41

Figura 5 - Marcha de Concerto „Hispânico‟ do compositor português Nuno Osório --- 42

Figura 6 - „Ross Roy‟, Abertura para Banda do compositor Holandês Jacob de Haan --- 43

Figura 7 - Fantasia „Cassiopeia‟ do compositor português Carlos Marques --- 44

Figura 8 - Arranjo do compositor português Luís Cardoso da obra ligeira da Banda Pop Rock portuguesa „Xutos e Pontapés‟ --- 45

Figura 9 - Rapsódia „Cantares Poveiros‟ de Afonso Alves, sobre temas populares da Póvoa de Varzim --- 46

Figura 10 - Enquadramento geográfico do concelho de Valpaços --- 50

Figura 11 - Abordagem Qualitativa/Qualitativa --- 96

Lista de siglas

CM – Conjunto dos dezasseis maestros portugueses

M1 – Maestro da Banda Musical de Carrazedo de Montenegro M2 – Maestro da Banda Municipal de Valpaços

M3 – Maestro da Banda Musical da casa do Povo de Vilarandelo PSP – Polícia de Segurança Pública

FTDBF – Federação Transmontano Duriense de Bandas Filarmónicas ESPROARTE – Escola Profissional de Arte de Mirandela

BMCM – Banda Musical de Carrazedo de Montenegro

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14 GNR – Guarda Nacional Republicana

EFG – Escola de Formação de Guardas

APEM – Associação Portuguesa de Educação Musical

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INTRODUÇÃO

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Introdução

As Bandas Filarmónicas em Portugal têm contribuído significativamente para o ensino da música no nosso país. Agostinho Gomes diz-nos que estas instituições “têm sido locais privilegiados de aprendizagens múltiplas, de convívio, de recreação e lazer das comunidades onde estão inseridas, para além de espaços de actividade expressiva e educativa musical” (Gomes, 2007).

Este trabalho procura dar a conhecer as metodologias de ensino da Música em três Bandas Filarmónicas do concelho de Valpaços, bem como o repertório executado pelas mesmas. O interesse nesta temática prende-se com o facto de surgirem muitas vezes comentários depreciativos sobre a qualidade e o nível das Bandas Filarmónicas do Alto Trás-os-Montes no que concerne às metodologias de ensino adoptadas e ao facto de o repertório executado carecer de variedade de géneros musicais. Pretende-se, assim, perceber os fundamentos destas críticas, dando a conhecer as metodologias de ensino da música nestas Bandas Filarmónicas e relacionar o repertório executado com o escolhido por um conjunto de maestros portugueses que se mostraram disponíveis para colaborar neste trabalho.

Esta escolha relaciona-se também com o meu percurso profissional uma vez que, desde muito cedo, comecei a tocar em Bandas Filarmónicas, deparando muitas vezes com comentários menos apropriados e mesmo pejorativos em relação às mesmas, às suas metodologias e ao repertório por elas executado. Parece-nos que as pessoas ainda olham para as Bandas como um parente pobre das orquestras, mas elas tendem a afirmar-se no meio musical do nosso país. Há cada vez mais um leque variado de músicos e maestros que saem das escolas de música, conservatórios, academias, escolas superiores e universidades, que dão o seu contributo para uma melhoria da qualidade musical das Bandas Filarmónicas.

Desta forma, pretendo dar a conhecer um pouco da sua essência, no que respeita a metodologias de ensino da música e repertório executado, dando assim um pequeno contributo para que as pessoas olhem para as Bandas Filarmónicas e vejam instituições credíveis que dão formação, na maioria das vezes gratuita, a

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17 um variado número de crianças, jovens e adultos, sendo um importante marco na socialização das mesmas.

Tendo em conta um referencial empírico, de facto, constatamos que as Bandas do Alto Trás-os-Montes, e em geral do interior do país, estão ainda aquém da qualidade musical da maioria das Filarmónicas provenientes de regiões mais povoadas e com melhores recursos humanos e financeiros.

Tendo como base a experiência musical vivenciada nesta região, reconhecemos que ainda há muito trabalho para fazer nestas instituições, uma vez que os recursos humanos e financeiros são escassos, fruto de uma região que está fortemente afectada pela despovoação. Porém, reconhecemos também que o trabalho realizado nos últimos anos nestas instituições tem sido muito meritório, crendo que estas colectividades estão numa fase de melhoria e diversidade do seu repertório e metodologias de ensino da música. Novas metodologias tendem a ser utilizadas, nomeadamente as novas didácticas contempladas nas teorias de vários autores de destaque, como Carl Orff, Kodaly ou Dalcroze.

Desta forma, pretendemos dar a conhecer as metodologias de ensino da música em três Bandas Filarmónicas do concelho de Valpaços e comparar o repertório executado por estas com aquele que uma amostra de um conjunto de maestros portugueses considera preferíveis em cada género.

Neste sentido, a investigação está centrada nas seguintes interrogações: - Qual é o método de ensino da música utilizado em três Bandas Filarmónicas do concelho de Valpaços?

- Qual o repertório utilizado?

- Estará este repertório em conformidade com o repertório preferido e consequentemente utilizado por uma amostra significativa de maestros portugueses?

Para encontrar resposta a este conjunto de questões, optámos por seleccionar um conjunto de maestros portugueses, aos quais questionámos sobre o repertório preferido/utilizado. Entrevistámos maestros de três Bandas do concelho de Valpaços a fim de desvendarmos qual o método de ensino da música utilizado e qual o repertório executado.

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18 Na tentativa de dar resposta às questões enunciadas, foi esta dissertação organizada da seguinte forma:

- Capítulo I - (Enquadramento Teórico) - No primeiro capítulo, far-se-á a apresentação do estudo e uma revisão da literatura no que concerne às metodologias de ensino/aprendizagem da música, bem como algumas questões sobre repertório nas Bandas Filarmónicas.

- Capítulo II - (Contextualização e caracterização do campo) – Neste capítulo proceder-se-á à exploração da área de investigação, bem como à caracterização de cada uma das Bandas envolvidas no presente estudo.

- Capítulo III - (Metodologia da Investigação) - O terceiro capítulo é dedicado quer a questões metodológicas gerais, quer à metodologia específica relativa ao estudo. Apresentaremos os pressupostos metodológicos em que nos baseámos, bem como todo o processo de recolha e tratamento de dados. Será também identificada e caracterizada a população alvo desta investigação, os procedimentos e as técnicas de tratamento dos dados.

- Capítulo IV- (Apresentação dos dados) - Por fim, analisaremos os dados e retiraremos as principais conclusões do estudo realizado, bem como os contributos e limitações do mesmo. Procederemos, ainda, ao delineamento de propostas para outros estudos.

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I – ENQUADRAMENTO

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1 - As Bandas Filarmónicas em Portugal

Verifica-se que existe um consenso quanto ao conceito de Banda que, no essencial, se constitui como um grupo musical de instrumentos de sopro, aerofones (que em Portugal não utiliza normalmente a gaita-de-foles), de percussão de pele, membranofones, e percussão de madeira e de metal ou seja, idiofones de altura definida e indeterminada, podendo, também, no caso das Bandas Sinfónicas, incluir cordofones, violoncelos, contrabaixos e ainda piano e harpa. Na actualidade, também se utiliza este termo como referência a grupos do pop-rock, „jazz e dance‟ (Goléa e Vignal, 1999 citado por Gomes, 2007).

Já o termo „Flarmónica‟ vem do grego phílo „que ama‟ e harmonia „combinação de sons‟. Uma Banda Filarmónica é para Gomes uma “uma sociedade de amadores de música” (Gomes, 2007 Citando Vieira, 1899).

Estas instituições musicais são responsáveis por “150 anos de educação musical no nosso país, e fizeram-na sem a ajuda do Estado, que durante muito tempo foi alheio a um verdadeiro programa de alfabetização musical. Até ao 25 de Abril de 1974 estas sociedades foram os conservatórios do povo e não se pense que a sua vocação ficava só pela prática musical. O teatro, o desporto e até a instrução primária foram alguns dos seus contributos para a evolução global do país. Nos meios rurais onde a escola tardava em chegar era na Banda que se aprendia a ler, a escrever e contar. Pelas Bandas Filarmónicas passaram, e ainda passam, alguns dos melhores músicos de sopro do país. Depois de as frequentarem, ficam aptos a evoluir para outros patamares nos conservatórios ou nas escolas superiores de música” (Gomes, 2007).

Apesar de já terem existido Bandas em Portugal antes da revolução liberal, o grande impulso destas colectividades verifica-se após este acontecimento. Assim, a partir da primeira metade do século XIX, desenvolveram-se alguns acontecimentos que foram determinantes em termos sociais e culturais. O país encontrava-se em rotura financeira e social e percebia-se que era urgente a sua reconstrução, ganhar novo alento e estimular o progresso. É durante este período que se desenvolve a ideia de organização do tempo de lazer e se reconhece a

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21 importância da formação e da educação. Com estes novos valores, verifica-se uma série de mudanças que acabam por estimular o surgimento de organizações de carácter colectivo. Foi com o Liberalismo que se concederam novos direitos aos cidadãos, nomeadamente o direito de reunião e o de associação, contribuindo para a expansão do movimento associativo. É fundada uma série de colectividades, como as associações de cultura e recreio, onde se desenvolvem actividades de valorização sociocultural e onde se promove o ensino escolar de forma a reduzir os índices de analfabetismo, o ensino da música, de ofícios e do desporto. Uma das características do associativismo é o facto de ser exercido e praticado tanto pelos grupos de elite como pelas classes menos favorecidas, podendo assim fazer parte tanto da vida das populações urbanas como da vida das populações rurais.

Desta forma, surgiram também associações ligadas às Bandas Filarmónicas, conhecidas também por Bandas de Música ou por Bandas Civis, que são descritas como “um conjunto de instrumentistas de sopro e percussão, amadores, associados em colectividades a partir de meados do século passado no nosso país, que actuam com fardas mais ou menos próximas das militares, numa grande diversidade de acontecimentos públicos, profanos ou religiosos” (Lameiro, 1997, citado por Russo, 2007).Daí que, quando pensamos nas Bandas Filarmónicas do ponto de visto musical, verificamos que estas têm a singularidade de estarem relacionadas com as práticas associadas à música tradicional, à música estritamente erudita e também à música religiosa, como acompanhamento de procissões e execução de cantos religiosos nas celebrações litúrgicas. Verificamos também a afinidade existente entre este tipo de agrupamento e as Bandas Militares, principalmente no que respeita à utilização do uniforme, à execução de marchas militares em desfile e em concerto, bem como à semelhança que existe na constituição do próprio agrupamento. Porém, as Bandas Filarmónicas desempenham uma função mais popular, uma vez que “são protagonizadas pelo povo, e são ao mesmo tempo uma instituição portadora de uma prática musical, de uma cultura e de uma identidade que pode difundir-se pelos grupos sociais, não eruditos” (Russo, 2007). Segundo esta autora, as Bandas Filarmónicas “asseguravam a maioria das funções musicais presentes e

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22 necessárias aos festejos. Actualmente algumas dessas funções já são desempenhadas por outros grupos musicais, ou pelas novas tecnologias que permitem a amplificação sonora de música gravada. No entanto, ainda se reservam algumas funções que são estritamente desempenhadas pelas filarmónicas, como a participação na missa, (…) tendo as Filarmónicas merecido, por parte da Igreja, diferentes posicionamentos, umas vezes mais tolerantes, outras vezes mais inibidores relativamente à sua actividade e à sua presença nas cerimónias religiosas” (Russo, 2007).

Já após a Implantação da República surgiram novas ideias bem como os primeiros partidos políticos. Desta forma, as Bandas de Música e os movimentos associativos em geral ganham novo ímpeto que se mantém até ao momento em que é instaurado o regime do Estado Novo na década de trinta. Este novo regime vai impedir o funcionamento de uma sociedade democrática, o que leva à demolição de todo o associativismo. Desta forma, as Bandas Filarmónicas “foram perdendo elementos e tiveram de se adaptar às novas normas impostas pela ditadura que promovia grandes medidas de controlo, só podendo realizar-se aquilo que era autorizado pela censura” (Idem, ibidem). Também com a Guerra Colonial, durante as décadas de 50 e 60, muitas Bandas Filarmónicas perderam muitos dos seus elementos, uma vez que “muitos deles eram obrigados a cumprir serviço militar nas colónias portuguesas. Este facto reduziu também de forma substancial o número de Bandas em Portugal” (Idem, ibidem).

A Revolução de 25 de Abril de 1974 veio instaurar o regime democrático no nosso país, o que se reflectiu também no aumento do número de associações, nas quais se incluem as Bandas Filarmónicas. Foi também por esta altura, mais precisamente a partir dos finais dos anos 80, que as mulheres começaram a integrar estes agrupamentos. Sobre esta temática, Mota refere que “o aspecto em que as Bandas mais ganharam, com a democratização do sistema político, foi a mudança de mentalidades. Essa mudança permitiu não só o rejuvenescimento acentuado dos seus intérpretes e maestros, mas sobretudo uma mudança na sua constituição com a entrada, primeiro de forma tímida e, actualmente, de forma mais significativa, de mulheres. Este momento foi fundamental, até pela forma como o próprio público vê as Bandas, agora já não apenas como formações

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23 essencialmente constituídas por homens, mas como uma instituição formadora de um espírito salutar de convivência e divulgação artística, em que a barreira de género se vai progressivamente diluindo” (Mota, 2009).

Porém, como refere Russo, “após esta década de grande intensidade cultural, que contribuiu para a revitalização das Filarmónicas, voltámos, na viragem para o século XXI, a uma espécie de regressão no que toca ao interesse e envolvimento dos jovens e da sociedade em geral pelos movimentos associativos e, por sua vez, pelas Filarmónicas, que muitas vezes não conseguem fazer face aos novo desafios da sociedade, onde imperam novas estratégias de sociabilidade que são, muitas vezes, mais apelativas que a aprendizagem de um instrumento musical ou o ensaio da Banda numa sexta-feira à noite” (Russo, 2007).

Por outro lado, já em pleno Século XXI, as Bandas Filarmónicas beneficiam muito com a proliferação das Academias de Música, Conservatórios e com grande quantidade de cursos superiores na área da música com especializações em instrumentos de sopro e percussão. Como refere Mota, as Bandas beneficiaram, em primeiro lugar, do “envio para formação especializada de alunos das suas escolas e, em segundo lugar, por receberem das Academias jovens músicos, sem qualquer ligação anterior às Bandas” (Mota, 2009). Relativamente aos cursos de música do ensino superior, a mesma autora defende que estes vieram “proporcionar a muitos jovens, cuja ligação à música tinha nascido precisamente nas Bandas Filarmónicas, uma formação especializada de nível superior” (Idem, Ibidem).

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24 Gráfico 1 - Bandas Filarmónicas existentes em Portugal.

O gráfico 1 mostra-nos, num total de 653 Bandas Filarmónicas existentes em Portugal, o número total destas colectividades por distrito e por ilha. Verificamos que o distrito de Lisboa, num total de 2.124.426 habitantes, é o que alberga um maior número de Bandas, com um total de 69, seguindo, com 50 Bandas cada, os distritos de Aveiro com 714.000 habitantes e Viseu com 395.000. As regiões do país que mais carecem deste tipo de agrupamento são as Ilhas do Corvo e Porto Santo com apenas uma Banda Filarmónica cada. A população destas duas ilhas também é escassa, tendo a Ilha do Corvo apenas 425 habitantes e a Ilha de Porto Santo 4.388. Em Portugal continental, o distrito de Viana do Castelo, com apenas 12, é aquele que possui menos Bandas Filarmónicas, tendo num total 251.000 habitantes. De referir ainda que o distrito de Vila Real, ao qual pertence o concelho de Valpaços, acolhe 23 Bandas Filarmónicas, num total de 219.000 habitantes.

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2 - As Bandas Filarmónicas no Alto Trás-os-Montes

O Alto Trás-os-Montes é constituído pelos distritos de Bragança e Vila Real, sendo neste último que se situa o concelho de Valpaços. As Bandas Filarmónicas desta região do país estão constituídas em Federação, uma vez que permanece uma consciência das suas afinidades regionais, socioeconómicas e culturais, como nos expõe o texto da direcção da Federação Transmontano Duriense de Bandas Filarmónicas1 (FTDBF).

Digníssimos Filarmónicos:

As Bandas Filarmónicas são o principal movimento cultural e de ensino musical em Trás-os-Montes e Alto Douro. A sua acção tem repercussões, no ensino musical a nível Local, Municipal, Regional, Distrital ou Nacional. Embora, o ensino musical das nossas Filarmónicas não seja o melhor, devido à falta de condições e de recursos, na verdade os grandes Músicos Portugueses têm as suas Raízes nas Bandas Filarmónicas. Porém as Escolas de Música Estatais e Particulares são quem mais beneficiam, com um trabalho que teve um início bem mais humilde e de sacrifício. Falar de Bandas Filarmónicas, é sinónimo de dificuldades com que as mesmas se debatem no dia-a-dia, vivendo um período de grande apreensão devido à falta de instrumentos, de fardas, de pessoas especializadas no ensino musical, como também a falta de estruturas dignas de uma Associação Recreativa e Cultural. Estas, são fundamentais, para o ensino musical, para a ocupação dos tempos livres dos jovens e dos menos jovens, como também o ponto de encontro dos sócios e amigos que enriquecessem tão nobre arte. Acção, que é cada vez mais isolada e preocupante. As Bandas de Música sobrevivem com apoios, pouco significativos e sistematizados do Poder Local, divergindo de Autarquia para Autarquia, sem o devido reconhecimento da influência que estas têm no meio, quer na integração Social quer na Cultural. Estando o INATEL integrado na União Europeia de Música, e na Confederação

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26 Internacional de Sociedades Musicais, daí o esforço para o associativismo, a qual teve um papel fundamental para a criação da federação. Para os quais, as bandas de música trasmontano-durienses devido também à falta de informação não se têm preocupado, com a filiação em associações internacionais e isso tem-lhes sido prejudicial. A criação da Federação Trasmontana Duriense de Bandas Filarmónicas surge como uma necessidade, há muito sentida pelos Dirigentes das Bandas, que é a existência de um Órgão que, no plano Regional e não só, trate de assuntos específicos das Filarmónicas, sendo esta um interlocutor aos mais diversos níveis dos seus problemas e aspirações. A Federação tem um papel fundamental na sua Região, na orientação e informação dos programas culturais, Nacionais e Comunitários. Para a qual nós nos comprometemos na tentativa de reunir esforços e consensos, com a finalidade de trazer a dignidade que as Bandas de Música merecem. Há bastante trabalho de base a fazer quer no campo musical e associativo, como também e se possível chegarmos a um consenso no que diz respeito a algumas Festas ou Romarias que são demasiado penosas e anti-pedagógicas para quem toca um instrumento, sujeitando-se ao mando de toda a gente para que a Banda possa sobreviver. Aqui não se trata de cultura ou tradição mas sim de má formação. A Cultura e as Tradições também se reconstroem e ao serem reconstruídas que sejam bem alicerçadas e mais Humanas.

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27 O Quadro 1 mostra-nos as Bandas Filarmónicas do Alto Trás-os-Montes que estão inscritas na FTDBF.

Bandas Filarmónicas Federadas Concelho Data da Fundação

Banda Filarmónica Sambadense Mirandela 1919

Banda Filarmónica do Brinço Macedo de Cavaleiros 1885

Banda de Música de Sanguinhedo Vila Real 1925

Banda de Música da Portela Vila Real 1840

Associação Recreativa e Musical de Saborosa

Sabrosa 2ª Metade do séc. XIX Banda Musical da Casa do Povo de

Vilarandelo

Valpaços 1830

Associação Cultural e Recreativa e Musical da Banda de Música de Carlão

Alijó 1990

Banda de Música de Couto de Dornelas Boticas 1924

Banda de Música do Pontido Vila Pouca de Aguiar 1765 Banda Musical de Carrazedo de

Montenegro

Valpaços 1987

Associação Recreativa e Cultural da Banda de Música de Freixo de Espada à Cinta

Freixo de Espada à Cinta 1993

Banda Marcial de Murça Murça 1870

Banda Musical de Loivos Chaves 1826

Banda de Música de Izeda Bragança 1895

Associação Banda 25 de Março Macedo de Cavaleiros 1911

Banda de Música de Vila Verde da Raia Chaves 1860

Associação Filarmónica Vilarinhense Carrazeda de Ansiães 1904 Associação Cultural e Recreativa da Lousa Torre de Moncorvo 1964 Sociedade Filarmónica Felgarense Torre de Moncorvo *

Banda de Música de Mateus Vila Real 1810

Banda de Música de Parafita Montalegre 1800

Banda de Música de Vila Flor Vila Flor *

Banda de Música Flaviense “Os Pardais” Chaves 1925

Banda dos Bombeiros Voluntários de S. Mamede de Riba Tua

Alijó 1799

Associação Filarmónica Mirandesa Miranda do Douro * Associação Cultural e Recreativa de Pinela Bragança 1904

Banda da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Mogadouro

Mogadouro 1864

Banda da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vimioso

Vimioso 1945

Banda de Música de Nogueira Vila Real *

Banda de Música de Outeiro Seco Chaves 1999

Banda Municipal de Alfândega da Fé Alfândega da Fé *

Banda Musical da Casa do Povo de Sonim Valpaços Final do século XIX Fonte: FTDBF * Data da fundação desconhecida

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28 Num total de 41 Bandas Filarmónicas no Alto Trás-os-montes, 32 são federadas e importa realçar que a Banda Municipal de Valpaços é a única do concelho que, até à data da realização do presente estudo, não consta da lista da FTDBF.

3 - Metodologias de ensino/aprendizagem nas Bandas Filarmónicas

O ensino da música nas Bandas Filarmónicas é uma actividade indispensável para a formação de instrumentistas que garantam a continuidade deste tipo de colectividade.

As Bandas Filarmónicas desempenham, assim, um papel preponderante no processo de ensino /aprendizagem da música em Portugal. “As suas escolas de música (…) têm sido os primeiros locais de aprendizagem musical de muitos músicos do nosso país” (Vasconcelos, 2004).

Estas instituições, como meio de educação, são de grande importância, não só ao nível da formação musical dos seus aprendizes, mas também ao nível da sua relação interpessoal e integração social dos seus elementos. No entanto, apercebe-se que existe um preconceito relativamente ao trabalho desenvolvido por elas, traduzindo-se, muitas vezes, em comentários menos agradáveis relativamente ao seu nível e qualidade musical.

Actualmente encontramos nas grandes orquestras sinfónicas músicos de sopro e percussão que iniciaram os seus estudos, ou participaram, num determinado período das suas vidas, nas Bandas Filarmónicas. Os aprendizes que recebem as suas primeiras lições de música na escola através da Banda Filarmónica “podem no futuro exercer dentro da sociedade, um papel importante, digno, como músicos instrumentistas, maestros, compositores, professores ou ainda acumulando diversas funções dentro da área musical” (Nascimento, 2003 citado por Ferraz, 2006). Quando o aluno inicia a aprendizagem musical no seio da Banda Filarmónica, o seu senso de cooperativismo passa a ser praticado, uma vez que numa organização musical desta natureza o trabalho em grupo é essencial.

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29 De facto, “o trabalho colectivo revela a constante necessidade de adaptar-se ao outro, tarefa que não adaptar-se mostra de simples realização. O bom convívio social requer que os indivíduos se adaptem à vida comunitária, observando limites, respeitando-se mutuamente, agindo de forma ponderada, com discernimento e integridade. São características que desenvolvemos a todo o momento, em qualquer meio de convívio, na própria aprendizagem musical, em qualquer contexto. Convém observar que certas características evidenciadas no trabalho com Bandas Filarmónicas mostram-se de relevante análise e consideração” (Alves, 1999 citado por Ferraz, 2006) .

António Saiote, prestigiado clarinetista português, salientando a importância das Bandas Filarmónicas no panorama musical português, afirma que “a Banda é mais que uma Banda. Substitui a orquestra em locais onde dificilmente esta chegaria. Por outro lado, tem uma enorme importância na formação cívica dos jovens. Eu aprendi a vida cívica numa Banda Filarmónica. Na Banda aprende-se disciplina, aprende-se a respeitar uma Bandeira, a respeitar horários e muitas outras coisas de grande utilidade para a formação pessoal do jovem (…). O facto da Banda poder marchar confere-lhe uma versatilidade tal que se adapta a qualquer circunstância. É o maior veículo de propaganda que há”.2

Ainda sobre o preconceito que gira em torno das Bandas Filarmónicas, António Saiote diz que “a elite musical não reage bem à questão das Bandas Filarmónicas. O nosso país é extremamente preconceituoso por mentalidade. É um pouco como se diz: „dá uma farda a um porteiro e ele vai ser mais importante que o presidente da câmara‟. Há músicos que chegam à orquestra e olham „de cima para baixo‟ em relação às Bandas, de onde vieram. Há pouco sentido de classe. Quem perde com isso são os músicos das orquestras (…). Neste momento, a música em Portugal ainda não existe como um todo. Esse é o problema. Quando existir, para todos os músicos, ficamos com uma força tremenda. O nosso problema é o individualismo”.

Acérrimo defensor das Bandas Filarmónicas e de quem é capaz de levar um projecto avante com determinação, empenho e ousadia, António Saiote

2

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30 nos, desta forma, o seu pensamento sobre a música amadora nas Bandas Filarmónicas:

“Nos países latinos creio que infelizmente separamos demasiado cedo o conceito de amador e profissional na origem etimológica de que amador é aquele que ama, profissional é aquele que faz disto a sua profissão. Demasiadas vezes confundidos amador com diletante, ou mal preparado, ou mal formado, e profissional com aquele que ama, que é bem preparado, e que é bem formado. Acredito que há um grande erro nesta definição. Com efeito, conheci amadores altamente preparados, formados, e com o mais alto espírito profissional, quer dizer, dedicados à causa, altamente disciplinados, cumpridores de horários, de regras, e com o alto nível de compreensão de que a arte só se atinge quando o talento é suportado por uma grande disciplina. Conheço profissionais que têm exactamente estes defeitos. Assim, quando alguém é limitado, não sabe o que está a fazer, e é inconsciente, prefiro chamar-lhe diletante, viva ele da música ou não. Todos aqueles que procuram fazer o melhor, que se dedica todos os dias, e que altamente disciplinados se empenham em nome da arte, esses são os amadores, vivam da música ou não” (Faria, 2009).

Também António Victorino d‟Almeida, conceituado compositor português, atribui muita importância ao papel de „escola‟ nas Bandas Filarmónicas, as quais são capazes de “transmitir um pouco de humanidade numa altura em que as pessoas estão cada vez mais isoladas”3

.

Segundo Maria João Vasconcelos, existem dois modelos de ensino da música nas escolas das Bandas Filarmónicas: o modelo tradicional e outro que apareceu na década de 80 e que foi adoptado pela maioria das Bandas somente no final da década de 90. Entre estes dois modelos assistiu-se a uma fase de transição a partir de meados da década de 70 (Vasconcelos, 2004).

Esta autora considera que tradicionalmente era o regente que ensinava a tocar todos os instrumentos. A partir da década de 80, o sistema de ensino praticado em algumas Bandas passa por um processo de transformação, podendo mais recentemente observar-se uma tentativa de imitação do modelo

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31 adoptado pelos conservatórios de música. Actualmente, no universo das Bandas Filarmónicas, “coexistem várias formas organizacionais de escolas de música, desde o modelo tradicional de ensino até outros mais modernos. Contudo, o objectivo principal é sempre o mesmo: preparar músicos o mais rapidamente possível para que se juntem à banda como elementos activos” (Idem, Ibidem).

De seguida iremos apresentar como a autora caracteriza os dois modelos de ensino/aprendizagem da música no seio das Bandas Filarmónicas, bem como a fase de transição entre ambos:

3.1 – Modelo Tradicional de ensino

Ao desenvolver um estudo onde o aluno passa a ser meramente pensante, acredita-se não haver condições de assimilar a matéria se o professor não relatar todas as explicações necessárias para o desenvolvimento da mesma. É importante entender e aceitar o professor como aquele que coordena e indica a busca de soluções para as questões e dúvidas. O professor é, assim, o transmissor dos conteúdos inerentes ao processo ensino/aprendizagem.

A ideia de que o educador é o sujeito conduz os educandos à memorização mecânica do conteúdo transmitido. Além disso, o relato transforma os alunos em „vasilhas‟, em recipientes prontos a serem „enchidos‟ pelo educador. Os alunos serão considerados melhores, quanta maior capacidade tiver de „encherem‟ os recipientes com os seus „depósitos‟. Desta forma, a educação torna-se um acto de depositar, onde os educandos são os depositários e o educador o depositante (Freire, 1972).

Este modelo tradicional de ensino esteve em vigor até finais dos anos 90 e era o regente que ensinava todos os instrumentos musicais, bem como os conhecimentos necessários à sua execução. O regente era aqui a figura central de todo o processo, uma vez que era ele que dirigia a Banda nos ensaios e actuações públicas e escolhia o repertório que a Banda executava. Este modelo de ensino era praticamente direccionado para a leitura da notação musical e para a execução instrumental. Os alunos começavam por ter aulas individuais de solfejo e o objectivo primordial era que ele decorasse o nome das notas e a duração das figuras e pausas. A formação musical era elementar e reduzia-se a

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32 esta prática, existindo alguns livros que marcaram a aprendizagem musical, como por exemplo o livro de solfejo de Freitas Gazul e o Traité Pratique du Rythme Mesuré de Fontaine.

Figura 1 – Primeiras lições de solfejo do livro Freitas Gazul. Aqui podemos constatar um tipo de exercício em carrocel, dirigido e inscrito numa pedagogia tipo bancária (idem, ibidem). A Figura 2 abarca uma série de lições de solfejo que, depois de sabidas, permitia ao aprendiz iniciar o instrumento musical.

Figura 1 Figura 2

3.2 – Fase de transição entre modelos de ensino

Apesar de na década de 80 o ensino do solfejo e do instrumento passar a ser aplicado pelos músicos das Bandas Filarmónicas que obtiveram os conhecimentos musicais necessários, o que é certo é que alguns dos aspectos relatados no modelo tradicional de ensino ainda se mantêm nos dias de hoje.

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33 Porém, a grande mudança que se efectivou nesta fase de transição é o facto de o maestro ser o professor e estes músicos os monitores. O trabalho de ambos é idêntico, mas verifica-se que o maestro é a pessoa que tem o poder de tomar as principais decisões. De facto é o maestro que avalia as capacidades do aprendiz nas suas fases mais importantes, tais como o seu ingresso na Banda e a sua progressão dentro do respectivo naipe. Tem, por exemplo, o poder de decisão de passar o instrumentista de 3º para 2º ou de 2º para 1º trombone. Também cabe ao maestro a decisão de uma eventual mudança do músico para outro naipe, por necessidade da Banda, e mesmo a escolha dos monitores.

3.3 – Novas ideias, novas metodologias

Este novo modelo surge quando se verifica que a aprendizagem do solfejo não pode ser desfasada da prática instrumental. Deste modo, verifica-se que os aspirantes a instrumentistas necessitam o mais rapidamente possível de ter contacto com o instrumento que a Banda lhe faculta, isto por questões de motivação do aprendiz. De facto, este factor revela-se a maior transformação nesta nova fase de aprendizagem, uma vez que o solfejo e a prática instrumental se desenvolvem agora em simultâneo. Verifica-se também que, com a entrega do instrumento logo nas primeiras aulas, o aprendiz ganha mais cedo outro estatuto perante a sua família, amigos e companheiros. É-lhe fornecido um instrumento musical de valor significativo. Em troca, é-lhe pedido e de certo modo exigido que aprenda a tocá-lo, a fim de poder integrar o colectivo de músicos da Banda, beneficiando também das suas vantagens e prazeres (Vasconcelos, 2004).

4 - A Escolha do Instrumento Musical

O instrumento musical, fornecido gratuitamente pela instituição, é entregue ao aluno “assim que este atingisse a lição número 100 e a escolha deste era feita pelo regente e baseada nas necessidades da Banda, e nas características fisionómicas do aprendiz” (Vasconcelos, 2004). Em alguns casos era tido em consideração as ascendências familiares e a oferta de um instrumento para um aprendiz específico por parte de um mecenas. Porém, a palavra final cabia

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34 sempre ao regente. “Quando o aprendiz fosse capaz de executar algumas marchas do repertório da Banda, estava apto para ingressar na mesma” (Gomes, 2007).

No entanto, o aprendiz necessita de experimentar vários instrumentos, seja ele de bocal, palheta ou percussão para assim se identificar com o que mais o atrai, uma vez que, ao tocar o instrumento o aprendiz terá um grande prazer e satisfação pessoal. Muitos são os motivos que levam o aprendiz à escolha do seu instrumento. Alguns consideram o seu formato interessante e outros sentem-se encantados pelo som que o instrumento emite. Quando alguém da família como o pai ou o irmão tocam algum instrumento, isto pode ser um factor de grande influência, pois vai desencadear o desejo no aprendiz em querer tocar como eles.

Todavia é muito importante que o aluno tenha um primeiro contacto com os vários instrumentos, para que a sua opinião seja formada em relação aos mesmos e possa então fazer a sua escolha. Ao experimentar um determinado instrumento, ele diverte-se, mas com algumas dificuldades, pois não consegue emitir o som adequado. No entanto, não desanima, procura sim informar-se com os responsáveis e procurar a forma correcta para que o som seja emitido.

Um problema que se apresenta é a falta de instrumentos musicais para as necessidades dos alunos. Muitas vezes, isto acaba por impor aos alunos a escolha de um determinado instrumento que é pouco procurado como a tuba ou bombardino. Porém, a vontade de integrar a Banda é tão grande que acabam por aceitar aprender um instrumento imposto. Contudo é um grande risco que o maestro da Banda corre, uma vez que esta atitude pode causar no aprendiz uma frustração e decepção que se pode reflectir no seu futuro musical. Portanto, temos que ter um cuidado especial com estes alunos. O acompanhamento tem que ser rigoroso e, caso se verifique alguma frustração, o maestro terá que estar atento para o incentivar a prosseguir ou então parar com aquele instrumento e esperar por outro mais motivador para o aprendiz.

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35

5 - A Educação Musical nas Bandas Filarmónicas

Numa Banda Filarmónica geralmente o ensino da Educação Musical é desenvolvido de formas diferentes, dependendo da formação e da visão de cada maestro e professor. Muitas vezes verificamos que, mesmo antes de o aluno começar com o solfejo, há uma pressão enorme para que este comece a desenvolver-se com o instrumento, uma vez que é o objectivo primordial deste tipo de ensino. Face às necessidades da Banda criar músicos que integrem o mais rapidamente as suas fileiras, as metodologias de ensino tornam-se muitas vezes pouco adequadas por não existir uma estrutura de trabalho em contexto educacional, mas sim uma prioridade de ensinar meramente ao aluno a execução do instrumento.

Uma testemunha deste tipo de prática é Patrícia4 que nos relata desta forma como foram os seus primeiros passos na aprendizagem musical da Banda Filarmónica:

“É verdade, o meu „bichinho da música‟ começou muito pela influência do meu pai. Às sextas-feiras à noite, lá ia eu assistir aos ensaios. Gostava tanto de ouvir, do convívio entre todos (…). Um dia quando o meu pai disse se queria aprender, não hesitei. Eu e mais alguns meninos fomos então para a sede da Junta da Freguesia com o maestro da Banda. Ainda me lembro, nas primeiras aulas de estar a passar todo o conteúdo do quadro negro. Ena! Tanta informação de uma só vez e nós a „absorver‟ tudo! O que era uma semínima, uma mínima, a duração, o que era a música, timbre, ritmo (…) e tudo de uma só vez, ao mesmo tempo que começava a dar as primeiras notas no clarinete, pois o maestro já me tinha dito que era o instrumento mais adequado às meninas mais pequenas e que a Banda rapidamente precisava de músicos nesse naipe. Ensinaram-me as posições e depois deram-me logo a marcha de procissão „Nª Sr. Mãe dos Homens‟ depois o „Vinho do Porto‟5

.

Quando me disseram para ir para os ensaios gerais com o clarinete foi uma alegria. Fiquei super contente (…). No início não conseguia acompanhar, não

4

Os nomes utilizados são fictícios, para salvaguardar a identidade dos entrevistados. 5

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36 tocava nada, perdia-me nos compassos, olhava para os colegas à frente, enfim… mas depois com o tempo e com o estudo fui melhorando, de dia para dia. Também foi boa a ajuda que recebi de um clarinetista, vinha ajudar a Banda em alguns serviços, era fantástico, e ajudava-me também. Foi com ele que dei um pequeno salto na música. A partir daqui, e passado mais ou menos um ano de aprendizagem, entrei para a Banda e passei, muito com a prática e experiência a tocar todas as obras do repertório”.

Temos também verificado que a prática da observação e imitação é muito usual e torna-se bastante eficiente. Muitas vezes um aluno que não sabe ler uma partitura, observa a digitação de outros elementos e, por imitação, começa a tocar a música que está a ser ensaiada. Esta é uma prática tão usual nos músicos principiantes que aqueles que já passaram por esta fase, quando sentem que estão a ser observados pelo colega passam a manusear o instrumento de modo a facilitar a visualização das notas que estão a ser tocadas por ele. Ambos trocam conhecimentos musicais desde cedo, demonstrando com esta atitude a interacção socializadora que existe dentro deste tipo de organização musical.

Diogo toca trombone e também passou por esta fase. Diz-nos que depois do solfejo “calhou-me o trombone e não percebia nada daquilo. Como o maestro não tocava trombone, de vez em quando trazia um amigo que nos dava algumas aulas, mas achei o instrumento muito difícil. Lembro-me que muitas vezes, já a tocar nos ensaios e festas com a Banda, tinha que olhar para o lado e ver a posição que o colega estava a dar no trombone para o tentar imitar e não tocar outras notas que não estavam na partitura. Quando tínhamos só acompanhamento ainda conseguia, mas quando eram passagens mais difíceis e o trombone tinha melodia, a coisa começava a complicar. Mesmo assim, com o tempo a gente foi-se habituando e agora já noto que há aprendizes que olham para mim e tentar imitar a posição que eu estou a dar no trombone”.

Muitas vezes o aprendiz quer tornar-se o mais rapidamente possível igual ao seu ídolo, que normalmente é o solista do seu naipe ou mesmo o maestro, tornando-se o seu maior exemplo e a sua maior motivação, pois o aprendiz acha que se alguém toca dessa forma ele também é capaz, e isto serve-lhe como alvo como meta a atingir, uma vez que ele tenta procurar a conquista de poder tocar

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37 como o seu colega. Pedro viu na Banda e no seu maestro a possibilidade de ir mais longe no universo musical:

“Foi engraçada a forma como comecei a aprender música na Banda. Éramos muitos miúdos de uma pequena aldeia e o maestro vinha à escola primária todos os sábados ter connosco para nos ensinar. Ele tocava trompa e gostava muito de o ouvir. Gostava de ser como ele e quando me perguntou que instrumento gostava de tocar não hesitei e disse que era o mesmo que ele. No início foi muito difícil porque acho que a trompa é um instrumento muito complicado tecnicamente. Os harmónicos estão todos muito próximos e muitas vezes pensava que estava a dar uma nota e saía outra. Mas gostava daquele som, do som que o maestro tirava, e tinha que o conseguir mais cedo ou mais tarde. Inicialmente começámos logo a utilizar o instrumento ao mesmo tempo que o solfejo. Tenho amigos que diziam que o solfejo era uma seca e que só depois de saber bem a lição número 100 é que nos davam o instrumento. Mas a minha aprendizagem foi diferente. Ganhámos maior motivação com o instrumento e o solfejo ao mesmo tempo. Havia ainda miúdos muito novinhos a quem o maestro dava uma flauta de bisel porque lhes era mais fácil tirar som. Lembro-me que o nosso maestro fazia alguns exercícios práticos adequados a cada instrumento o que nos ajudou muito em termos de técnica e mesmo a nível do solfejo. Os exercícios que ele fazia eram adequados ao grau de dificuldade de cada aluno e de cada instrumento isso ajudou imenso e rapidamente conseguimos tocar as marchas de procissão e de rua, o que nos levou também a ingressar na Banda. Hoje agradeço muito à Banda e ao maestro por estar a estudar trompa no ensino vocacional e de estar a pensar concorrer ao curso superior de trompa”.

Segundo estes testemunhos, pensamos que a tarefa coerente do educador é “desafiar o educando com quem comunica e a quem comunica, produzindo assim a compreensão dessa comunicação interpessoal. Assim, o pensamento correcto é dialéctico e não polémico” (Freire, 2002).

O maestro e professores da Banda Filarmónica têm que estar atentos à interacção dos seus alunos, pois é através dela que a aprendizagem se torna eficaz. Todos os seres humanos têm a necessidade de aprender algo de novo, assim como passar as informações aprendidas para outras pessoas.

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38 Na maior parte dos casos, na execução do instrumento, aprende-se pelo que soa e não pelo que está escrito. A escrita é, muitas vezes, relegada para segundo plano. A notação musical convencional é um código extremamente complicado, e para o dominar são necessários anos de treino. Enquanto não se consegue dominá-la, “é impossível sentir segurança e o ideal, o que precisamos, é de uma notação que pudesse ser aprendida em dez minutos, após os quais, a música voltasse ao seu estado original, como som” (Schafer citado por Ferraz, 1992).

6 - O Repertório

Com o aparecimento das Bandas Militares e das Bandas Civis (Bandas Filarmónicas), verifica-se um desenvolvimento destes organismos musicais que estão ordenados em dois grupos: as Bandas Militares, que integram exclusivamente músicos profissionais e que têm por principal missão os serviços de carácter militar, como paradas, tatus militares, concertos, guardas de honra, juramentos de bandeira, entre outras cerimónias oficiais; e as Bandas Filarmónicas, que integram músicos maioritariamente amadores e efectuam serviços direccionados para servir as populações em que se inserem, nas suas necessidades de carácter popular, lúdico, de entretenimento e religioso.

Mais recentemente, em Portugal, temos observado o aparecimento de grupos de músicos amadores e profissionais que constituem as chamadas Bandas Sinfónicas. Este tipo de agrupamento é mais vocacionado para concertos ao ar livre ou em recinto fechado, participando também em festivais e concursos de Bandas Sinfónicas e Orquestras de Sopros.

Todos estes agrupamentos têm apresentado repertório variado. Desde as tradicionais marchas de desfile, também designadas marchas de rua, a um repertório com uma tendência mais sinfónica, como transcrições de peças orquestrais de compositores dos períodos Clássico e Romântico da história da música. Muitas são as Bandas que integraram ou integram ainda no seu repertório transcrições de obras de Mozart, Wagner ou Tchaikovsky. Por outro lado, executam obras compostas especificamente para Banda por compositores do século XX, como Gustav Holst, Jacob de Haan, Alfred Reed, Duarte Pestana,

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39 entre outros. As rapsódias sobre temas populares portugueses são também uma constante no repertório destes agrupamentos musicais.

Em Portugal o movimento filarmónico está em franca expansão, uma vez que muita gente jovem, instrumentistas, maestros e compositores, com boa preparação académica, estão a contribuir para que esse movimento se actualize e, desde logo, o público olhe para as Bandas com uma postura idêntica como o faz para as orquestras.

6.1 - Características do Repertório

Como acabámos de ver, o repertório das Bandas é variado e divide-se em repertório de rua e de concerto. O repertório de rua tem um carácter mais marcial, são marchas relativamente simples de tocar, uma vez que têm que ser executadas em andamento, tendo, por isso, um ritmo muito constante. “As marchas de rua são tocadas com a Banda em formatura e a marchar, sem grande rigor técnico e interpretativo, de carácter jubiloso; as marchas de procissão são de carácter solene e sóbrio, com andamentos lentos e em compasso 2/2. O início da marcha faz-se não pela indicação directa do maestro, mas pelo rufar da caixa” (Mota, 2009).

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6.1.1 – Marcha de Rua e de Procissão

Figura 3 – Marcha de Rua “Manuel Joaquim de Almeida” do compositor português Carlos Marques.

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41 Figura 4 – Marcha de Procissão “Transfiguração” do compositor português Amílcar Morais.

Para os concertos, as obras têm um grau de dificuldade maior e requerem um maior empenho do ponto de vista técnico e interpretativo. Elas são divididas, segundo a autora, em:

6.1.2 - Marcha de Concerto

É mais elaborada e expressiva do que a Marcha de Rua. As Marchas de Concerto podem ser „Marchas Sinfónicas‟, também denominadas „Grandes Marchas‟ ou „Pasodoble‟.

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42 Figura 5 – Marcha de Concerto “Hispânico” do compositor português Nuno Osório.

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6.1.3 - Abertura

É sobretudo um arranjo do repertório sinfónico ou operático para Bandas Filarmónicas. Muitas vezes é um trecho de uma ópera, suites, poemas sinfónicos ou andamentos de sinfonias que nas Bandas adquirem o nome de Aberturas. Estas são obras de grande interesse para o público, pois são obras que são também executadas por grandes orquestras. São alguns exemplos o „Barbeiro de Sevilha‟ e „Guillaume Tell‟ de Rossini; „1812 – Tomada de Moscovo‟ e „Capricho Italiano‟ de Tchaikovsky ou mesmo a „Tannhauser‟ e „Rienzi‟ de Wagner.

Figura 6 – „Ross Roy‟, Abertura para Banda do compositor Holandês Jacob de Haan.

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6.1.4 - Fantasia

De âmbito mais lato, não há uma característica marcante. Dir-se-á que não tem os mesmos recursos performativos, dificuldade e duração das Aberturas. É normalmente uma peça original para Banda, algumas de compositores portugueses, alguns ainda no activo. Incluem-se nestas as bandas sonoras de filmes que, nos últimos anos, têm vindo a ser um repertório muito utilizado pelas Bandas.

Figura 7 – Fantasia „Cassiopeia‟ do compositor português Carlos Marques.

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6.1.5 - Obra Ligeira

Com a intenção de cativar novos públicos e motivar os músicos, principalmente os mais jovens, estas peças são, geralmente, obras da música comercial transpostas para Banda, ou compilações e arranjos de músicas de grupos marcantes da música Pop/Rock estrangeira ou portuguesa (ex. Beatles, Queen, ABBA, Xutos & Pontapés, Quinta do Bill…). Estas obras têm permitido, por um lado, a entrada de alguns instrumentos que não eram muito convencionais nas Filarmónicas, como a bateria e os teclados digitais e, por outro, proporcionado um certo espectáculo, com partes cantadas ou em que os músicos se levantam para a execução de solos do seu instrumento ou naipe.

Figura 8 – Arranjo do compositor português Luís Cardoso da obra ligeira da Banda Pop Rock portuguesa „Xutos e Pontapés‟.

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6.1.6 - Rapsódia

Compilação de música popular ou folclórica portuguesa, organizadas de forma a ter uma variedade de andamentos, normalmente intercalando momentos mais rápidos com outros mais lentos. O andamento no início deve ser rápido e o último vivíssimo. Os andamentos têm nomes de peças ou danças tradicionais portuguesas, como Fado, Fandango, Vira, Chula, Marcha e outros.

Figura 9 – Rapsódia „Cantares Poveiros‟, sobre temas populares da Póvoa de Varzim. Este arranjo foi composto pelo compositor português Afonso Alves.

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47 Sobre o repertório executado, Patrícia refere prontamente que as obras que mais a motiva são as de carácter mais festivo e alegre, em detrimentos das transcrições das grandes obras sinfónicas:

“Havia umas que gostava mais do que outras. Aquelas que eram mais complexas em termos de execução e que não conseguia ultrapassar as dificuldades não me davam tanto entusiasmo no início. No entanto, lembro-me de uma obra chamada „Beatles in Concert‟ que era alucinante tocar, talvez pelo facto de a melodia já estar nos nossos ouvidos, pela facilidade de execução, pelo facto de ser, na altura, e já lá vão uns quinze anos, uma obra na moda”.

Pedro partilha da mesma opinião e diz que o repertório que mais gosta de interpretar é obras de música ligeira, de grupos musicais actuais, como „Quinta do Bill‟, „Xutos e Pontapés‟, „Abba‟, „Queen‟, entre outras:

“Claro que as grandes obras de concerto têm muito valor pela sua dificuldade técnica e por ocuparem já o seu lugar no repertório das Bandas Filarmónicas. Obras como „1812‟ ou „Guilherme Tell‟ são bastante aliciantes de tocar pelo valor que têm e pelo facto de serem compostas por figuras célebres da história da música. No entanto prefiro as obras de música ligeira, pois estamos a tocar com maior descontracção e os arraiais são para isso mesmo”.

Diogo corrobora as palavras dos seus colegas e diz que se sente mais atraído pela música ligeira, mas esta tem que ocupar o seu lugar num programa de concerto e ser executada mais cuidadosamente:

“É obvio que gosto mais de tocar obras ligeiras, dão mais entusiasmo e acabamos por nos divertir ao executar algumas delas. No entanto, penso que as Bandas não devem exagerar na execução deste tipo de obras, uma vez que a descontracção dos músicos pode pôr em causa a qualidade da interpretação. Já ouvi Bandas que, ao tocarem este tipo de repertório, baixaram muito o nível de execução, quando comparadas com a execução de uma transcrição de obra sinfónica. Estas requerem maior concentração e maior preocupação na ligação com os restantes naipes”.

A escolha do repertório é da responsabilidade do Maestro, segundo a “exequibilidade em termos técnicos, a possível receptividade do público, a

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48 capacidade de obter determinadas partituras e, obviamente, o gosto pessoal” (Mota, 2009).

Estas narrativas surgem na sequência de uma metodologia de investigação sustentada pelo inquérito narrativo que, segundo Judit Bell, é um método que “usa a recolha e o desenvolvimento de histórias quer como forma de recolha de dados, quer de estruturar um projecto de investigação. Os inquiridos expressam-se muitas vezes contando uma história ao investigador” (Bell, 2004). Desta forma, cremos que estas histórias nos ajudam a compreender o contexto do nosso estudo.

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49

II – CONTEXTUALIZAÇÃO E

CARACTERIZAÇÃO DO

CAMPO

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50

1 - O Município de Valpaços

Figura 10 – Enquadramento geográfico do concelho de Valpaços

O concelho de Valpaços está situado no interior norte de Portugal continental, mais propriamente na NUT III do Alto Trás-os-Montes6 integrando o distrito de Vila Real. Este concelho é delimitado a Norte pelo concelho de Chaves, a Leste pelos concelhos de Mirandela e Vinhais, a Sul pelo concelho de Murça e, finalmente, a Oeste pelo concelho de Vila Pouca de Aguiar. Situa-se ainda a Leste da Serra da Padrela, entre-os-rios Torto e Caldo. A área territorial do concelho é de 553,5 Km 2, estando repartida por 31 freguesias: Água Revés e Crasto, Alvarelhos, Argeriz, Barreiros, Bouçoais, Canaveses, Carrazedo de Montenegro, Curros, Ervões, Fiães, Fornos do Pinhal, Friões, Lebução, Nozelos, Padrela e Tazém, Poçacos, Rio Torto7, Sanfins, Santa Maria de Émeres, Santa Valha, Santiago da Ribeira de Alhariz, S. João de Corveira, S. Pedro de Veiga do Lila, Serapicos, Sonim, Tinhela, Vales, Valpaços, Vassal, Veiga do Lila e Vilarandelo. Nos Censos de 2001, o concelho tinha 19.512 habitantes e, em 2004, apresentava 19.154 habitantes. O quadro 2 mostra-nos o número de habitantes

6No que diz respeito à Nomenclatura das Unidades Territoriais (NUT‟S), é de salientar que o concelho de Valpaços se insere no Norte e Alto Trás-os-Montes, correspondendo à NUT II e III respectivamente.

7

Segundo Gomes, em Rio Torto existiu uma Banda e os seus instrumentos estão na Casa de Trás-os-Montes em Lisboa (Gomes, 2007).

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51 por freguesia, perfazendo o total actualizado, em 2008, de 15.244 habitantes no concelho.

Quadro 2

Freguesia Número de

Habitantes

Água Revés e Castro 527

Alvarelhos 393 Argeriz 458 Barreiros 365 Bouçoais 392 Canavezes 344 Carrazedo de Montenegro 765 Curros 364 Ervões 405 Fiães 369 Fornos do Pinhal 446 Friões 411 Lebução 439 Nozelos 363 Padrela e Tazém 364 Possacos 453 Rio Torto 462 Sanfins 421

Santa Maria de Émeres 465

Santa Valha 523

Santiago de Ribeira de Alhariz 487

(50)

52

S.Pedro de Veiga do Lila 414

Serapicos 383 Sonim 517 Tinhela 456 Vales 466 Valpaços 1052 Vassal 621 Veiga do Lila 749 Vilarandelo 858 Total 15244

Quadro 2 (Cont.) Fonte: Câmara Municipal de Valpaços

Do património arquitectónico do concelho de Valpaços, destacamos a ponte romana do Arquinho sobre o rio Rabaçal; as pontes medievais de Vale de Casas e de Valtelhas; a Capela de S. Caetano, em Água Revés; as igrejas matrizes de Fiães, Friões, Valpaços, Santa Valha, Poçacos, Vilarandelo, Lebução e Carrazedo de Montenegro; o Santuário de Nossa Senhora da Saúde, em Valpaços; o Solar dos Morgados Pimentéis, em Rio Torto; e o Solar e Capela dos Morgados Pinto Leite, em Valpaços.

As romarias que mais se destacam no concelho são a de Santa Bárbara, no segundo fim-de-semana de Agosto, em Carrazedo de Montenegro; a Nossa Senhora da Saúde, no primeiro fim-de-semana de Setembro, em Valpaços; o Senhor dos Aflitos, no último domingo de Julho, em Sonim e o Senhor dos Milagres, a 14 de Setembro, em Vilarandelo. O feriado municipal ocorre a 6 de Novembro.

A nível de artesanato, destacam-se a ferraria, a latoaria, a cestaria, a alfaiataria e os bordados. A agricultura é das principais actividades económicas do concelho. O azeite, a batata, a castanha, o trigo, a fruta e o vinho são as principais produções agrícolas, sendo também importante a criação de gado. O turismo também é outra actividade económica importante neste concelho,

Referências

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