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PERCEPÇÃO DE BARREIRAS DA CARREIRA: ESTUDO COM ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS COM INCAPACIDADE

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PERCEPÇÃO DE BARREIRAS DA CARREIRA: ESTUDO COM ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS COM INCAPACIDADE

Inês Gonçalves & Paulo Cardoso

Universidade de Évora – Departamento de Psicologia inescp.goncalves@gmail.com

Este estudo teve como objectivo analisar a percepção de barreiras ao desenvolvimento da carreira em Universitários portadores de incapacidade. Participaram 19 estudantes de 4 estabelecimentos de Ensino Superior Português, com idades compreendidas entre os 19 e os 45 anos. Responderam a uma entrevista semi-estruturada que avaliava a percepção de barreiras e de sistemas de apoio ao seu desenvolvimento da carreira no passado, no presente e no futuro. Os resultados evidenciam que algumas das barreiras da carreira percebidas tendem a persistir nos três momentos em que a avaliação foi feita. Outras são específicas a esses momentos. Os tipos de apoio ao desenvolvimento da carreira mais referidos foram as pessoas significativas e as ajudas pedagógicas. Os resultados são discutidos quanto às suas implicações para a investigação e a prática do desenvolvimento da carreira desta população.

Palavras Chave: Percepção de Barreiras da Carreira, Incapacidade, Sistemas de Apoio

Perception of Career Barriers: A research with university students who have inabilities

Abstract

The aim of this research is to analyze a perception of barriers to career developing for university students who have inabilities. Nineteen students, ranging from 19 to 45 years of age, belonging to different institutions of Higher Education, participated in this study. A semi-structured interview was used to assess career barriers and support system to their career development. The results reveal that some career barriers persist in the three career development moments assessed. Participants consider significant people and pedagogical assistances support the most important forms of support to their career development. The results are discussed regarding to their relevance to research and career development practice.

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1- INTRODUÇÃO

Existe alguma complexidade na definição do conceito de deficiência. Segundo Mashaw e Reno (1996 cit. por Burkhauser & Houtenville, 2003) a adequação de qualquer definição de deficiência depende da finalidade para a qual é utilizada. Na perspectiva médica, “deficiência representa qualquer perda ou anormalidade da estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatómica” (Secretariado Nacional de Reabilitação, 1995a p.35). Por outro lado, a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), aponta para a importância dos factores ambientais quanto à sua influência no grau de incapacidade e na funcionalidade, com consequências na participação social das pessoas. Uma vez que a incapacidade também depende do contexto em que o indivíduo está inserido, este conceito torna-se mais abrangente que o de deficiência que remete para um foco na pessoa. Estas razões levaram-nos, neste estudo, a optar pelo conceito de incapacidade para caracterizar a população estudada.

No ensino superior português a população portadora de incapacidade é minoritária, possivelmente reflectindo a realidade social mas também as maiores dificuldades que estes estudantes poderão ter no acesso a estudos superiores. Neste sentido, algumas investigações revelam obstáculos que os alunos portadores de incapacidade, mesmo diplomados, enfrentam para obter um emprego. Isto é, o facto de serem licenciados não os coloca em pé de igualdade com os seus colegas sem incapacidade (Enright, Conyers & Szymanski, 1996).

Procurando clarificar as especificidades do desenvolvimento da carreira desta população, este estudo foca-se na avaliação da percepção de barreira da carreira e de sistemas de apoio ao desenvolvimento da carreira de estudantes universitários portadores de incapacidade. A matriz conceptual é a perspectiva desenvolvimentista da carreira (Super,1990) e a perspectiva Sócio-Cognitiva da Carreira (Lent, Brown, & Larkin, 1984).

A perspectiva desenvolvimentista justifica-se pela análise que fazemos à percepção de barreiras em diferentes momentos do seu desenvolvimento de carreira, esperando que tais representações assumam especificidades resultantes do desenvolvimento psicossocial do individuo e das diferentes tarefas de desenvolvimento que vão confrontando. Este modelo, ao considerar a carreira como envolvendo o ciclo de vida e os múltiplos papéis que os indivíduos aí representam (Super, Savickas &

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Super, 1996; Super & Sverko, 1995) remeteu para a necessidade de procurar entender como barreiras e apoios nos diferentes papéis podem limitar ou facilitar o desenvolvimento de carreira dos participantes neste estudo.

Por sua vez, a teoria Sócio Cognitiva da Carreira (Lent, Brown, & Larkin , 1984) também é relevante para fundamentar a abordagem feita à percepção de barreira de pessoas com incapacidade. Neste quadro conceptual a adoptamos a definição de barreiras da carreira como, ” acontecimentos ou condições, no interior do sujeito ou no seu meio ambiente, que lhe tornam difícil progredir na carreira. As barreiras não são inultrapassáveis, podendo ser superadas, embora com diferentes graus de dificuldade em função da natureza da barreira e das características específicas de cada um” (Swanson & Woitke, 1997 p.446). Isto é, a ênfase nas características individuais influenciando a percepção de barreiras remete para a consideração das expectativas de auto-eficácia na avaliação se determinado acontecimento é ou não uma barreira da carreira e para o entendimento dos processos pelos quais os indivíduos lidam com as barreiras da carreira (Lent, Brown & Hackett, 2000). A relevância dos conceitos de auto-eficácia e de expectativas de resultado na explicação dos processos pelos quais os indivíduos persistem ou sucumbem face às dificuldades próprias da existência humana tem levado a perspectiva sócio-cognitiva a ser muito considerada na teorização e na prática do desenvolvimento de carreira de populações em maior risco de segregação no mercado de trabalho tendo em conta a sua raça/etnia, cultura, género, estatuto sócio-económico, religião, orientação sexual e estado de incapacidade (Lent, 2005).

2.MÉTODO

2.1. Participantes

Participaram 19 estudantes, sendo 8 da Universidade de Évora, 3 da Universidade de Coimbra, 4 do Instituto Politécnico de Setúbal e 4 da Universidade de Lisboa. Destes, dois participantes eram trabalhadores estudantes. Os participantes tinham idades compreendidas entre os 19 e os 45 anos (M = 26, D. P = 7 ). Destes, 11 eram do género feminino e 8 do género masculino. Os alunos entrevistados frequentavam os seguintes cursos: Psicologia (10), Gestão (3), Ciências da Educação (1), Geografia (1), Engenharia de sistemas de informação (1), Engenharia mecânica (1), Terapia da Fala (1) e Fisioterapia (1). Considerando o tipo de incapacidade, 7 tinham

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incapacidade visual (IV), 7 com incapacidade motora (IM), 2 com multi-deficiência (MD), 2 com paralisia cerebral (PC) e 1 participante com incapacidade auditiva (IA).

2.2. Instrumentos

Aplicou-se uma entrevista semi-estruturada, fundamentada na revisão de literatura sobre percepção de barreiras (Cardoso, 2006; Cardoso & Ferreira Marques, 2008; Lent, Brown, & Hackett, 2000; Swanson, & Tokar, 1991; Luzzo, & Hutcheson, 1996) e num estudo piloto visando testar a validade facial da mesma. As perguntas atenderam à matriz conceptual da investigação quanto a considerarem a natureza específica (espaço e tempo) das barreiras da carreira. Neste sentido, as questões foram elaboradas com a intenção de permitirem uma avaliação de experiências de carreira no passado, presente e futuro. Questionava-se: 1) “No seu passado que barreiras teve que ultrapassar, para chegar onde está na sua carreira (curso/ profissão)?; 2) “Actualmente que barreiras têm que ultrapassar para seguir a sua carreira (curso/ profissão)?; 3) “No futuro que barreiras acredita que terá de ultrapassar para atingir as suas aspirações de carreira?.”; 4) “Tendo em conta a sua deficiência, que barreiras à sua carreira têm encontrado ou espera vir a encontrar como, específicas dessa incapacidade, para o desenvolvimento da sua carreira?” e 5) “Que ajudas/apoios têm beneficiado/ou espera vir a beneficiar para ultrapassar as barreiras da sua carreira?”

2.3. Procedimentos

Contactaram-se os núcleos e gabinetes de apoio ao estudante das respectivas escolas para identificar potenciais participantes. Estes serviços de apoio ao estudante enviavam por correio electrónico o pedido de participação no estudo, onde se informava acerca dos objectivos da investigação, tipo de questões a colocar, o método de registo da informação (entrevista gravada) e o contacto dos investigadores. Os interessados em participar deixavam o seu contacto para posterior contacto do investigador a combinar a realização da entrevista. Neste primeiro contacto, os participantes eram esclarecidos sobre os pormenores da tarefa a realizar, referiam-se os objectivos do estudo e pedia-se o consentimento para o registo/gravação da entrevista. Na entrevista, o anonimato dos participantes foi garantido evitando referir o nome do participante durante a entrevista. A identificação dos participantes fez-se pelo número da ordem de realização das entrevistas e pelas siglas referentes ao tipo de incapacidade. Com alguns participantes a modalidade de entrevista sofreu algumas alterações em função do tipo de incapacidade.

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Numa aluna portadora de multi-deficiência adaptou-se o tipo letra (Verdana, tamanho 28, e impressa em papel) para que o participante conseguisse ler as perguntas e assim pudesse responder. Outra entrevista foi respondida através de um computador portátil pois o participante tinha grandes dificuldades de verbalização. As perguntas foram colocadas na ordem pré-estabelecida no guião de entrevista. Nalguns casos em que os participantes se emocionavam ao relatar as suas experiências, era respeitado o ritmo de resposta e adaptava-se a sequência das questões às necessidades da pessoa.

2.4. Procedimentos de análise

As respostas foram analisadas pela metodologia de análise de conteúdo. Após a primeira categorização das respostas, feita pelo investigador principal, realizou-se uma segunda análise focada nas categorias e subcategorias em que havia maiores dúvidas quanto à codificação. Nesta fase da análise participaram um estudante a finalizar o curso de Mestrado em Psicologia, a investigadora e um docente, especialista em comportamento vocacional. Procurava-se obter o consenso entre os avaliadores a fim de garantir maior objectividade na codificação e definição das categorias e subcategorias de barreiras da carreira e de sistemas de apoio ao desenvolvimento da carreira.

3. RESULTADOS

Relativamente ao passado identificaram-se 12 tipos de barreiras da carreira:

Falta de técnicos especializados – refere-se a barreiras que resultam da falta de técnicos com formação específica para apoiar nas dificuldades dos participantes; • Limitações no material pedagógico - refere-se a barreiras relativas à falta de

materiais específicos para os alunos portadores de deficiência e dificuldade de acesso a materiais;

Dificuldades em sala de aula - refere-se a dificuldades no acompanhamento do conteúdo das aulas e à posição dentro da sala de aula;

Mobilidade – barreiras relacionadas com dificuldades de deslocação dentro da Universidade, entre os diferentes edifícios da mesma e com dificuldades de acesso aos transportes públicos;

Barreiras arquitectónicas: Refere-se às diferentes barreiras físicas impeçam os acessos a determinados edifícios;

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Falta de preparação dos agentes educativos – refere-se a barreiras relacionadas com atitudes pouco positivas face à integração de pessoas portadoras de incapacidade e com processos de inclusão pouco claros. Está também relacionado com a falta de preparação dos professores em receber alunos portadores de incapacidade.

Incompreensão da incapacidade por colegas e professores - refere-se à não-aceitação da incapacidade pelos colegas de trabalho, desvalorização das dificuldades, insensibilidade aos direitos dos alunos portadores de incapacidade.  Dificuldades vocacionais – prende-se com barreiras relacionadas com as restrições

de alternativas vocacionais;

Desconhecimento do meio envolvente - refere-se a barreiras relativas ao desconhecimento do espaço Universitário e desconhecimento dos colegas. • Falta de apoio - referente a barreiras relativas ao afastamento familiar e à falta

de apoio nas adaptações às condições de avaliação em contexto Universitário; • Baixa auto-estima – prende-se com medo da reacção dos outros, vergonha,

não-aceitação da própria incapacidade e insegurança na relação com o outro;

Discriminação – relativo a barreiras resultantes de diferentes formas de discriminação tais como na progressão da carreira, discriminação em entrevistas de selecção, rejeição dos colegas, estigmatização e preconceito.

Deste conjunto, o tipo de barreira mais referida relativamente ao passado é a Discriminação. Depois são as barreiras relativas a dificuldades em sala de aula, barreiras arquitectónicas, falta de preparação dos agentes educativos, incompreensão face à sua incapacidade por colegas e professores e baixa auto-estima.

Relativamente ao presente foram identificadas 11 barreiras da carreira:

Limitações no Material pedagógico – são barreiras relativas à falta de materiais adaptados às necessidades dos alunos, às dificuldades de acesso a material pedagógico e dificuldades de acesso a tecnologias;

Dificuldades económicas – este tipo de barreiras prende-se com os poucos recursos económicos e o preço elevado das propinas no ensino superior;

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Barreiras arquitectónicas - refere-se às diferentes barreiras físicas que possam existir que impeçam os acessos a determinados locais e também a barreiras arquitectónicas em local de trabalho;

Mobilidade - refere-se a dificuldades de deslocação dentro da instituição que frequenta, nomeadamente, entre os diferentes edifícios da mesma e no acesso aos transportes públicos;

Falta de apoio - está relacionado com a falta de estruturas de apoio na escola e com a perda de apoios estatais;

Incompreensão da incapacidade pelos professores – relativo a barreiras resultantes da falta de sensibilidade na comunicação para com o aluno, insensibilidade, descrença nas capacidades dos alunos e falta de interesse por parte dos professores;

Discriminação – são barreiras relativas à rejeição dos professores, na sala de aula, relativamente a alunos portadores de incapacidade;

Dificuldades em sala de aula – refere-se a barreiras relacionadas com dificuldades em visualizar o quadro e com dificuldades em comunicar com os professores;

Dificuldades no exercício do trabalho - refere-se a barreiras relativas a falta de adaptação da avaliação do desempenho em locais de trabalho e a dificuldades no desempenho das funções;

Baixa auto-estima – prende-se com a experiência de sentimentos de inferioridade e insegurança na relação com o outro;

Dependência – barreira relativa ao sentimento de dependência física face a outrem.

Deste grupo de barreiras relativamente ao presente, as mais focadas estão em cinco categorias: 1) Limitações de material pedagógico, 2) Barreiras arquitectónicas, 3) Mobilidade, 4) Incompreensão da incapacidade pelos professores e 5) Falta de apoio.

Para o futuro, foram identificadas 9 tipos de barreiras da carreira:

Dificuldades na entrada no mundo do trabalho – são barreiras relacionadas com dificuldades em conseguir emprego;

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Limitações no material de trabalho – relativos a barreiras resultantes da falta de equipamentos que facilitem a comunicação no local de trabalho.

Discriminação no acesso ao trabalho - referente a discriminação em processos se selecção, falta de abertura das empresas, não-aceitação do mercado de trabalho.

Discriminação no local de trabalho – trata-se de formas de discriminação relativas à aceitação no local de trabalho pelos colegas, discriminação por superiores hierárquicos e/ou discriminação na progressão da carreira.

Limitação nas escolhas profissionais – refere-se a barreiras resultantes da de restrição de alternativas de carreira;

Barreiras arquitectónicas – relativo a barreiras físicas devido às características arquitectónicas dos edifícios;

Incompreensão da incapacidade pelos professores - está relacionada com a falta de sensibilidade dos professores face à incapacidade;.

Baixa auto-estima – relativo a dificuldades na relação com o outro e com falta de confiança.

Dependência física - barreira relativa ao sentimento de dependência física face a outrem resultante do agravamento da incapacidade.

Neste domínio temporal, as categorias que se encontram mais representadas por unidades de análise são: Dificuldades de entrada no mundo do trabalho e a Discriminação no acesso ao trabalho.

Relativamente aos apoios ao desenvolvimento da carreira de que os participantes mais têm beneficiado, identificaram-se 7 tipos de apoio:

Apoios pedagógicos - está relacionado com apoios nas aulas, das estruturas escolares e dos professores;

Adequação das formas de avaliação – refere-se à adaptação dos exames nacionais às necessidades dos alunos e adaptação dos testes escolares;

Apoio dado pelas Universidades – relativo ao apoio dos núcleos de apoio ao estudante, bolsas de estudo e motorista dos serviços de acção social;

Apoio de pessoas significativas – refere-se ao apoio dado pelos amigos, familiares e colegas de trabalho;

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Apoio das tecnologias – refere-se ao apoio resultante do acesso a novas tecnologias (e.g. softwares, internet);

Apoio de entidades sociais – refere-se aos apoios de instituições que ajudam pessoas portadoras de incapacidade;

Apoio psicológico – refere-se ao apoio decorrente de ajuda psicológica.

Os apoios referidos com maior frequência foram: apoio de pessoas significativas, apoios pedagógicos, apoio de entidades sociais e apoios dados pela instituição de ensino superior frequentada.

Barreiras da carreira: passado, presente e futuro

Relacionando a percepção que os participantes têm das barreiras da carreira no passado, no presente e no futuro, verifica-se que algumas tendem a manter-se nestes três momentos. Estão nesta condição as barreiras relativas a limitações de material pedagógico, discriminação, baixa auto-estima e as barreiras arquitectónicas.

As últimas estão muito relacionadas com dificuldades de acessos a diferentes locais da escola ou ao local de trabalho. Relacionado com esta categoria estão também as barreiras de mobilidade, só referidas para o passado e para o presente, este tipo de barreiras prende-se com dificuldades no acesso a transportes públicos e com as deslocações pelo próprio.

Só considerada no passado e no presente está a categoria falta de apoio. Neste caso, os participantes destacam a falta de estruturas de apoio na instituição que frequentam. Em ambos os domínios temporais, os alunos percepcionam falta de estruturas de apoio na Universidade, como uma barreira. Em níveis de ensino inferiores ao Universitário, parece existir um suporte directo em relação aos apoios. No ensino superior, este apoio parece não ser tão directo, levando a que estes, tenham de ser mais proactivos. Este aspecto pode ser apontado como uma barreira por não haver uma mediação, ou seja, parece não existir uma preparação para a diferença e para as exigências que estes vão encontrar ao ingressarem no ensino superior. Por outro lado, também parece não existir um acolhimento personalizado por parte das instituições universitárias a estes alunos.

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incompreensão por colegas e professores enquanto que para o presente só destacam incompreensão dos professores. As barreiras sentidas pelos alunos, parecem mostrar o quanto é importante que ocorra uma boa relação entre pares e entre professor aluno. Ambicionam ser valorizados, para adquirirem a auto-confiança necessária e assim expressar os seus interesses de forma a conseguirem implementar os seus projectos de vida. Rao (2004 cit. por Pires, 2007) afirma que atitudes negativas por parte dos docentes para com os alunos, podem influenciar a sua auto-estima e por sua vez, boas relações entre professor-aluno são um excelente contributo para melhores condições dentro da sala de aula. Os professores parecem ter uma importância elevada para estes alunos, não só pelo apoio que podem prestar, mas também parecem ter um papel que denota alguma valorização e segurança aos alunos.

Finalmente, existem barreiras que apenas são referidas num domínio temporal, podendo indicar que foram superadas ou que foram exclusivas daquela fase de desenvolvimento da carreira. Nesta condição estão as dificuldades vocacionais, só são referidas para o passado e as dificuldades económicas devidas ao preço elevado das propinas, referidas para o presente. Ainda para o presente surge como barreira a dificuldade no exercício do trabalho.

Só especificas ao futuro, são esperadas dificuldades na transição para o mundo de trabalho e as limitações nas escolhas profissionais.

4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Os resultados evidenciam que ao longo do desenvolvimento da carreira os participantes tendem a considerar as barreiras arquitectónicas, as limitações no material pedagógico, diferentes formas de discriminação e a baixa auto-estima como as barreiras mais persistentes. Se as barreiras arquitectónicas e as limitações no material pedagógico são mais específicas a esta população, as relativas à auto-estima e à discriminação tendem a ser comuns às barreiras esperadas por outras populações em risco de exclusão social (Cardoso & Moreira, 2009; Lente et al, 2000). Este conjunto de resultados não só aponta para o muito a fazer, nas diferentes instituições de ensino, em diferentes níveis de escolaridade, para que sejam criadas condições de equidade no acesso à formação por parte das pessoas portadoras de incapacidade mas também revelam o impacto que a condição de incapacidade tem na auto-imagem dos indivíduos, com implicações em diferentes dimensões da vida em geral e da carreira em particular.

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Algumas das barreiras esperadas pelos participantes neste estudo prendem-se com a transição do Ensino Secundário para o Ensino Universitário. Esta transição coloca desafios que vão desde a necessidade de obter resultados que permitam o acesso ao curso desejado até à adaptação ao novo contexto educativo. Assim, uma das implicações destes resultados tem a ver com apontarem para a importância de, nos dois níveis de ensino se preparar esta transição através de práticas de aconselhamento de carreira apoiando a construção e implementação do projecto de carreira do aluno, no Ensino Secundário, e, no Ensino Superior, a continuidade do aconselhamento de carreira através de práticas de acolhimento e mentoria destes alunos.

Como os resultados evidenciam, o desenvolvimento de carreira destes alunos também é facilitado por um maior investimento na melhoria das condições de mobilidade, na possibilidade de acesso a materiais pedagógicos adaptados e por intervenções que minimizem o efeito de atitudes discriminatórias e promovam a igualdade de oportunidades no desenvolvimento de carreira.

O acesso a ajudas técnicas é outro importante contributo à integração social e académica e, consequentemente, contribuindo para sentimentos de autonomia, de pertença e de auto-confiança (Pires, 2007). Esta mudança também se deverá estender ao contexto profissional através da sensibilidade dos empregadores à problemática da incapacidade. De facto, a investigação tem sugerido que os alunos com incapacidade estão legitimamente preocupados com a sua transição para o mundo do trabalho após concluírem o ensino superior (Penn & Dudley’s 1980, Illinois 1948, DeLoach 1992, cit. por Enright, Conyers & Szymanski, 1996), o que é corroborado nesta investigação. No mesmo sentido, DeLoach (1992, cit. por Conyers, Koch, & Szymanski, 1998) verificou que universitários portadores de incapacidade esperavam maiores dificuldades de acesso ao primeiro emprego e maiores problemas de mobilidade profissional do que seus colegas sem incapacidade.

Outra barreira muito persistente prende-se com a baixa auto-estima dos participantes, possivelmente potenciada pela condição vivida mas também pela influência das múltiplas barreiras referidas. Na construção da sua carreira, os alunos com incapacidade vivem frequentemente sentimentos de baixa auto-estima e de falta de confiança nas suas capacidades para vencer (Enright, Conyers & Szymanski, 1996; Harrington, 2003), o que pode maximizar a percepção de barreiras e consequentemente todo o processo de construção da carreira. De facto, a investigação sobre percepção de

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percepção de barreiras (Brown, Reedy, Fountain, Johnson & Dichiser, 2000; Cardoso & Ferreira Marques, 2008; Lent, Browm, Brenner, Chopra, Davis, Talleyrand & Suthakaran., 2001; Luzzo & McWhirter, 2001). Assim, é importante que a intervenção com estas pessoas considere a minimização do efeito de baixas expectativas de auto-eficácia, de crenças irracionais e de sentimentos negativos que se constituem como importantes barreiras internas ao sucesso académico dos alunos com incapacidade (Fichten,1998; Soresi, Nota, Ferrari & Solberg, 2008). Não é possível acreditar no futuro sem que se acredite em si, pelo que promover a auto-estima destas pessoas é condição fundamental na ajuda à construção do seu projecto de vida.

Quanto aos apoios, é notória a importância das pessoas significativas, nomeadamente a família e os amigos. São estas as pessoas mais próximas (no espaço e nos afectos). Note-se que em casos de maior incapacidade a expectativa deste apoio faltar é vivido com grande angústia. A propósito um dos participantes referia “Penso como é que vou conseguir viver sozinha. Nunca vou poder viver sozinha porque irei sempre precisar de ajuda de alguém.” (participante, #11, futuro, IM).

Depois das pessoas significativas, o facto dos participantes considerarem como outros apoios importantes os resultantes da disponibilização de apoios pedagógicos e sociais oferecidos pelas instituições de ensino frequentadas evidencia que algum caminho está a ser percorrido no sentido de facilitar a igualdade de oportunidades nessas instituições.

O presente estudo procura dar um contributo para o entendimento das especificidades do desenvolvimento da carreira da população estudada, esperando que os resultados obtidos sirvam de indicadores para implementar medidas que facilitem a igualdade de oportunidades desta população, contribuindo assim para a sua inclusão social. Enquanto estudo exploratório, é apenas um primeiro passo no caminho de uma compreensão mais completa do desenvolvimento de carreira destas pessoas. Nesse sentido, seria importante utilizar os resultados obtidos para desenvolver uma medida da percepção de barreira, dirigida a esta população, com solidez psicométrica que permitisse investigações com amostras mais vastas e a obtenção de resultados que caracterizassem de forma mais ampla a realidade estudada.

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